Louis
R. Torres
Um
ex-baixista de uma famosa banda de rock revela a principal fonte da Música
Cristã Contemporânea. Não é uma história agradável.
India,
uma dançarina que excursionava com a banda de rock que eu participei no
passado, caiu ao chão com um baque surdo. O cântico africano que estávamos
tocando, havia produzido seu efeito. Ela agora estava convulsionando e
espumando.
Após
as convulsões e outros sintomas anormais, India respirou fundo e quedou-se
imóvel. Alguns minutos se passaram; ela voltou a si, mas sem poder falar. Ela
estava, aparentemente, em um transe. Pegou uma caneta e escreveu uma mensagem
de alerta sobre a viagem que estávamos planejando.
Algumas
vezes, quando tocávamos este cântico africano, após passar pelo mesmo quadro
convulsivo, India voltava de seu transe falando com uma voz estranha e
diferente da sua.
Conhecendo
a forma que India reagia a este cântico africano, tocávamos a música apenas
para nos divertirmos com as reações dela. Somente após me tornar cristão, foi
que percebi dois fatos a respeito da experiência dela: primeiro, o quão sádicos
nós fomos ao explorar a fraqueza dessa garota desafortunada, e segundo, o que
India experimentava era uma possessão demoníaca.
Conforme
estudei música e seus poderosos efeitos nas pessoas, minha atenção se voltou
para os poliritmos (ou sincopes complexas) que eu costumava tocar com tanto
entusiasmo. O estudo dos doutores Bird e Brekenridge (ver Adventists Affirm,
Primavera 1998 pp. 17 e 18) revelou que os poliritmos típicos do Rock, Jazz e
Blues e outros estilos desse tipo de música, causaram desordens nos neurônios
de cobaias de laboratório. Mas o que o estudo não pôde revelar foram as implicações
espirituais desse tipo de música.
A
experiência de India não foi isolada. Milhares de pessoas tem sido vitimadas
pela música polirítmica. A história revela que o uso de ritmos sincopados, com
sua habilidade para alterar estado de consciência, descendem do Egito antigo. É
no Egito antigo que os historiadores encontraram a origem da música de
percussão sincopada e seus usos. Nos templos, os sacerdotes utilizavam
intencionalmente síncopes complexas para induzir transes e outras
perturbações[1].
Os
primeiros percussionistas aprenderam a induzir respostas psicológicas, desde
êxtases e alucinações até convulsões e estados de inconsciência.[2]
Essa
forma de adoração pagã foi, com o passar do tempo, transportada para a África
Central, onde fincou raiz em Duhomy, conhecido hoje como Republica Democrática
do Congo.[3] Duhomy (ou Congo) se tornou o centro da religião vodu. Os
participantes eram impulsionados pelas batidas rítmicas. Na dança do ventre,
ombros, nádegas, barriga e tórax eram separadamente ou simultaneamente
sacudidos ou contorcidos, ou movimentados de alguma forma.[4]
Através
do comércio de escravos, essa música de adoração ao demônio, com sua batida
ininterrupta, foi transportada para a ilha de Hispaniola, no Caribe. Ali,
novamente, fincou raízes. Hoje, o vodu continua a ser praticado no Haiti, que
ocupa o terço oeste da ilha de Hispaniola, e na Republica Dominicana, que ocupa
o restante da ilha.
Com
a continuidade do tráfico de escravos, esse ritmo foi levado para os Estados
Unidos, e New Orleans se tornou o lar para o "rufar" dos tambores e a
dança extravagante que o acompanhava. Os turistas brancos foram avidamente
atraídos.
Ao
mesmo tempo, enquanto os poliritmos egípcios estavam adentrando no sul da
América, um outro tipo de música tinha estado a desbravar seu caminho através
do Atlântico para o norte do país. Europeus brancos, desejosos de escapar da
perseguição religiosa, trouxeram sua música para a Nova Inglaterra, juntamente
com sua religião.
Mas
a música branca era diferente. Enquanto a música pagã era baseada em poliritmos
e dedicada à adoração de deuses demoníacos, os europeus trouxeram uma música
composta de harmonia e melodia. Sua música melódica simples era usada para
adorar o Deus verdadeiro.
A
música cristã européia havia sido, por séculos, escrita e dominada pela igreja
católica, que procurou alcançar a forma mais pura possível de música. A
respeito da música católica a Sra White observou que "O culto da Igreja
Romana é um cerimonial assaz impressionante... O ouvido também é cativado. A música
é excelente. As belas e graves notas do órgão, misturando-se à melodia de
muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e naves ornamentadas de
colunas, das grandiosas catedrais, não podem deixar de impressionar a mente com
profundo respeito e reverência". O Grande Conflito p. 566.
A
música cristã européia avançou em direção a oeste e sul dos EUA. Enquanto isso,
no sul, a música para adoração vodu estava sofrendo uma mutação. Embora muitos
escravos tivessem se tornado cristãos, outros escravos mantiveram suas crenças
e práticas pagãs. Muitas de suas práticas pagãs foram oprimidas pelos brancos,
mas seus ritmos continuaram a ser utilizados. Quando expostos à música branca,
muitos destes escravos detestaram o que parecia a eles como uma música com carência
de ritmo. Entretanto, essa exposição à música branca teve seu efeito. Com o
passar do tempo, escravos e ex-escravos começaram a misturar a pulsação rítmica
tradicional [da música pagã[*]] com a melodia e harmonia [da música cristã
européia]. Esta mistura tomou forma própria e passou a ser conhecia como
"gospel". Atualmente, o gospel está bastante envolvido com, e se
tornou parte, da experiência espiritual negra americana.
No
campo secular, os instrumentos de sopro europeus (oboé, clarinete, etc) começaram
a produzir novos sons ao caírem nas mãos dos negros americanos. Esses novos
sons eram freqüentemente criados como um grito contra a opressão [da
escravidão] branca.
O
poeta e escritor negro, LeRoi Jones, observou certa vez que os intérpretes
[negros] faziam com que os instrumentos soassem deliberadamente
"amusicais", o mais não-branco possível, numa reação à delicadeza e
legitimidade que estavam se misturando a música instrumental negra.[5]
Desta
nova transformação surgiram novos estilos musicais como o "rhythm",
"blues" e "jazz". A música branca também passava por
transformações no norte, onde as "big bands" introduziram novos
ritmos aos salões de dança brancos. "Boogie woogie" e outras músicas
similares se tornaram a ordem do dia. As mulheres eram arremessadas, rodopiadas
e giradas, obedecendo a ditadura do tambor.
De
volta ao sul, a nova, amalgamada, música negra geralmente estava restrita a
distritos da "luz vermelha" [N.T. – Distritos de reputação duvidosa];
entretanto a Grande Depressão obrigou-a a subir o Rio Mississipi. Os artistas
negros, impossibilitados de continuar a viver no sul, se mudaram para os
distritos da "luz vermelha" no norte do país, especialmente em Saint
Louis e Chicago.[6]
Na
arena religiosa, o gospel começou a chamar atenção de alguns brancos. Pessoas
como Elvis Presley, que costumava freqüentar apresentações de corais gospel de
negros, ficou impressionado com o balanço do novo ritmo.[7]
Ao
mesmo tempo, novamente no norte, um novo estilo musical estava surgindo. Em
meados dos anos 50 o R&B (rhythm & blues) tornou-se bastante popular,
não apenas entre os negros das cidades, mas também com os adolescentes e jovens
brancos. Imediatamente, os músicos brancos adaptaram os métodos e o vocabulário
do R&B aos seus próprios interesses. Em Chester, Pennsylvania, um grupo
musical branco, chamado Bill Haley and the Comets (no qual toquei baixo
elétrico por algum tempo), adotou o novo ritmo o que lhe rendeu o título de
"O Pai do Rock and Roll". Impulsionado pelo filme "Blackboard
Jungle", a versão de Bill Haley para "Rock around the clock"
tornou-se instantaneamente um sucesso entre a juventude branca. Promovido por
Allan Freed, disc jockey de Cleveland, Ohio, o novíssimo rock and roll
tornou-se a norma entre a juventude americana. Ele se espalhou rapidamente para
muitos paises, e, hoje, sua batida incessante é sentida mundialmente. Um tipo
de música capaz de transcender a todas as culturas.
O
Surgimento da "Música Cristã Contemporânea".
Durante
a década de 50 e começo dos anos 60, muito dos músicos de rock que haviam
crescido nos bancos da igreja incorporaram o novo estilo às suas performances.
Sua música pseudo-religiosa, com suas batidas de fundo, foram introduzidas em
canções seculares. A música "You saw me crying in the Chapel" cantada
por Elvis Presley, "My Prayer" pelos Platters, "People Get
Ready, There’s a Train That’s Coming" do grupo Impressions (cujo cantor
principal era Curtis Mayfield, um cantor gospel de Chicago), e "He"
dos Righteous Brothers, cada uma delas alcançou o primeiro lugar nas paradas de
sucesso. Mais tarde, "God Bless You, Please, Mrs. Robinson, Jesus Loves
You More Than You Can Know", de Simon and Garfunkle, e "To Everything
Turn, Turn, Turn"(baseado em Eclesiastes, capítulo 3) do grupo Birds,
todas bastante populares, tornaram-se repertório de muitas boates e
danceterias. Lembro-me de ter cantado ou tocado estas canções à noite, em
bares, boates e danceterias cheias de fumaça de cigarro, bebidas alcoólicas e
dançarinas de strip tease.
No
começo dos anos de 70, um fenômeno bastante sinistro começou a acontecer. Uma
enxurrada dessa musica pretensamente "religiosa" começou a aparecer
dentro das igrejas cristãs. Embora seja verdade que os pentecostais já usavam
música sincopada em seus cultos de adoração há algum tempo, produzindo reações
não muito diferentes das obtidas pelos Egípcios antigos, o estilo de adoração
pentecostal não era considerado aceitável pelas igrejas tradicionais. Entretanto,
assim como o movimento carismático penetrou nas igrejas tradicionais, assim
também ocorreu com a música pentecostal.
Por
algum tempo a Igreja Adventista do Sétimo Dia foi bem sucedida em manter essa
"batida" fora de seus limites. A Conferência Geral agiu prontamente,
publicando orientações para a seleção de música apropriada (ver Adventists
Affirm, Primavera de 1998, pp. 59-64) [N.T.- Clique aqui para ver o documento
emitido pela Conferência Geral]. Mas a besta bateu ainda mais forte na porta da
igreja – e conseguiu uma maneira de entrar na igreja através do uso play-backs
e através do apelo "cultural" dessa música.
Satanás
é astuto. Ele sabia que a bateria usada no rock and roll não seria aceita no
púlpito da igreja, ele a colocou lá através de um cassete/cd de play-back. Ele
acostumou as pessoas ao seu som e finalmente atingiu seu objetivo de colocá-la
fisicamente dentro do templo.
E,
embora o termo "cultura" significasse refinar e enobrecer, Satanás
fez com que ele passasse a significar tudo o que é rude e grosseiro, coisas
que, sob as absurdas restrições do politicamente correto, ninguém pode julgar!
Práticas estranhas, que a Bíblia condena como tradições vãs e idólatras, o que
inclui a música usada para preparar pessoas para orgias nos templos [pagãos do
Egito antigo], produzindo êxtase e alucinações oferecidas a deuses demoníacos,
são agora chamadas de música de Deus, que ninguém é capaz de reprovar!
A
música de Satanás "deu a volta por cima" – e foi assim que a Música
Cristã Contemporânea chegou onde está hoje.
É
uma cena nada agradável, não é?
Medite
sobre isso - vendo sob a ótica do Grande Conflito entre Cristo e Satanás, será
possível que seja apropriado adorar a Cristo usando a música de Satanás?
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Tradução:
Fábio Araújo Martins - Janeiro de 2005
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Notas:
[*]
Todos os termos entre [colchetes] são de autoria dos editores do Música Sacra e
Adoração e não constam do original em inglês.
[1]
Pennethorne Hughes, Witchcraft (Londres: Longman Green, 1965), p. 23; citado em
Ismael Reed, Mumbo Jumbo (Nova Iorque: Doubleday, 1972), p. 191.
[2]
Michael Segell, "Rhythmitism", Americam Health, Dezembro de 1988, pp.
19, 37.
[3]
Marshall Stearn, The Story of Jazz (Nova Iorque: Oxford University, 1956), p.
20.
[4] Louis
and Carol Torres, Notes on Music (St. Marie’s, ID: LMN Publishers, 1993), p. 36
[5]
The Sun Herald (Australia), 19 de Março de 1989, p. 148.
[6]
Andre Francis, Jazz (Nova Iorque: Grove Press, 1960), p.56.
[7]
"How Blacks Invented Rock and Roll", Ebony, Janeiro de 1997, p. 56.
[8]
William J. Shaffer, Rock Music (Minneapolis: Augsburg Publishing, 1972), p. 15.
[9]
Veja Segell, "Rhythmitism", pp. 58-60.
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Fonte:
Adventists Affirm. Vol 13, Nº 1. Spring, 1999, pp. 17-20.
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