Teologia

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

LIVROS APÓCRIFOS

Ozeas C. Moura 

Por que nas versões católicas da Bíblia o livro de Daniel tem os capítulos 13 e 14? M. Gonçalves

Para os protestantes, os acréscimos dos capítulos 13 e 14 ao livro de Daniel fazem parte da literatura apócrifa, que foi adicionada pela Igreja Católica, no Concílio de Trento (1545-1563), ao material canônico do Antigo Testamento. Por sua vez, os católicos chamam essa literatura de deuterocanônica, pois defendem sua inspiração e acréscimo posterior à coleção de livros do Antigo Testamento.

Os apócrifos que constam nas versões da Bíblia católica foram produzidos no período intertestamentário (425 a.C. a 120 d.C) e são os seguintes: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, além de acréscimos ao livro de Ester e de Daniel. No caso desse último, o capítulo 13 narra a história de Susana e a participação do adolescente Daniel no julgamento dela, enquanto que o capítulo 14 relata Daniel explodindo um dragão, que representava o deus Bel, e destruindo o templo dessa divindade.

Especificamente sobre os acréscimos ao livro de Daniel, vê-se que há boas razões para não considerá-los inspirados, e sim como fábulas. No caso de Daniel 13 podem ser apontados dois problemas. O primeiro é o anacronismo (diferença de tempo) entre a adolescência de Daniel e o julgamento de Susana. A história dela pressupõe que os judeus estivessem em Babilônia há muito tempo, visto que o marido de Susana já era homem que morava numa casa com jardim e fonte, riqueza improvável para um judeu nos anos iniciais do cativeiro, tempo esse em que Daniel ainda era aluno da escola real. A segunda inconsistência é a dificuldade de provar que adolescentes participassem de julgamentos, como o que livrou Susana do apedrejamento.

Quanto ao acréscimo do capítulo 14, vê-se nitidamente seu caráter de fábula, pelas seguintes razões: (1) a falta de referências históricas de que Daniel tivesse destruído o templo do deus Bel; (2) o caráter estranho do relato da explosão de um dragão, mediante uma receita ainda mais bizarra, feita de piche, gordura e pelos; e (3) a contradição sobre a razão de Daniel ter sido lançado na cova dos leões. Ele foi punido por ter sido leal a Deus (Dn 6:5), e não por ter destruído o templo de Bel.

Em relação aos demais livros considerados apócrifos pelos protestantes, existem razões de sobra para não considerá-los inspirados. Eles ensinam, por exemplo, que: (1) dar esmola purifica o doador de seu pecado (Tb 2:8, 9; Eclo 3:30); (2) é possível expulsar demônios com feitiçaria (Tb 6:8, 18); (3) a alma é imortal (Br 3:4; Sb 3:1-4); (4) pode-se orar e fazer sacrifício pelos mortos (2Mc 12:40-46); (5) vingança, crueldade e egoísmo são atitudes não condenáveis (Jt 9:2; Eclo12:5, 6; 33:27; 42:4). Além disso, nem Jesus nem os apóstolos citaram esses livros, certamente porque não os consideravam inspirados. Aliás, nem os autores dos apócrifos reivindicaram inspiração para seus escritos (2Mc 15:37-39).

OZEAS MOURA, doutor em Teologia Bíblica, com especialização em Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

PR. TED WILSON RESPONDE SOBRE MÚSICA

Feliz Sábado, amigos! Foi uma alegria ao meu coração ver milhares de homenagens postadas há algumas semanas, em honra à lenda da música adventista do sétimo dia, Del Delker [N.T. – falecida em 31/01/2018]. Através do seu ministério de música, ela tocou os corações de milhões ao redor do mundo por mais de sete décadas e continuará a fazê-lo através de suas numerosas gravações. Hoje, em nosso Perguntas & Respostas, discutimos o tema da música e alguns princípios básicos. Muitas perguntas têm sido enviadas a mim sobre este tópico, duas das quais aparecem abaixo.

Perguntas:

“Há diretrizes sobre qual o tipo de músicas que podem ser tocadas nas igrejas adventistas? Muitos estão usando bandas de rock com contrabaixos e guitarras elétricas. É como se a igreja fosse mais parecida com um café ou um concerto pop/rock. Qual é o seu ponto de vista acerca da música adventista do sétimo dia? – John, da Indonésia

“Como devo lidar com as letras repetitivas e o volume doloroso da música nas igrejas adventistas em toda a América hoje? Eu vou à igreja para dar a Deus meu culto, mas a música é prejudicial. – Karen, dos Estados Unidos

Resposta:

A música tem uma maneira de alcançar a própria alma do nosso ser, muitas vezes expressando o que nós mesmos não conseguimos colocar em palavras. Como alguém disse uma vez, “a música é como os sentimentos soam”.

Como cristãos, a adoração também é fundamental para a nossa experiência com Deus e, durante milênios, a música forneceu um poderoso meio para o povo de Deus adorá-lo. A música desempenha ainda um papel vital no céu, onde os seres celestiais elevam suas vozes em louvor ao Criador (ver Apocalipse. 4, 5 e 15).

Talvez uma das razões pelas quais as discussões sobre adoração e música podem se tornar muito exaltadas emocionalmente – e até mesmo voláteis – é porque são questões que nos tocam muito profundamente.

Alguns dizem que a escolha da música é simplesmente uma questão de gosto pessoal, ou de condicionamento cultural. Outros acreditam que há um elemento moral na música e que nem todos os estilos musicais são aceitáveis ​​para Deus.

No documento de diretrizes votado pela Igreja, intitulado “Filosofia Adventista do Sétimo Dia com Relação à Música”, lemos:

“A música não é moral nem espiritualmente neutra. Pode nos levar a alcançar a mais exaltada experiência humana, pode ser usada pelo príncipe do mal para degenerar e degradar, para suscitar a luxúria, paixão, desesperança, ira e ódio.

“A mensageira do Senhor, Ellen G. White, nos aconselha continuamente a elevar nosso conceito a respeito da música. Ela nos diz: ‘A música, quando não abusiva, é uma grande bênção; mas quando usada erroneamente, é uma terrível maldição.’ ‘Corretamente empregada, … [música] um dom precioso de Deus, destinado a erguer os pensamentos a coisas altas e nobres, a inspirar e elevar a alma.'” (https://musicaeadoracao.com.br/29000/filosofia-adventista-do-setimo-dia-com-relacao-a-musica/)

Não é segredo que, ao longo das últimas três décadas, a música mudou dramaticamente em muitas igrejas, academias e universidades adventistas e em eventos patrocinados pela igreja adventista em todo o mundo. O que teria sido considerado um sacrilégio nas igrejas adventistas há poucas décadas, agora pode ser considerado comum, e até mesmo preferível, em muitos lugares.

O movimento “Louvor e Adoração” (L&A), apresentando música cristã contemporânea (MCC), com suas bandas de estilo rock e músicos se balançando, assumiu a tarefa de “levar os adoradores à presença de Deus”. Este tipo de música enfatiza os sentimentos e se concentra mais nos artistas (“Equipe de Louvor”) do que no canto congregacional.

Este movimento não afetou apenas a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Embora suas raízes tenham surgido no Pentecostalismo, L&A e MCC se infiltraram em praticamente todas as igrejas cristãs.

Aqueles que têm a coragem de levantar suas preocupações sobre esse tipo de música e essa forma de culto que estão entrando na igreja são frequentemente rotulados como “legalistas” ou pior, são acusados ​​de estar expulsando os jovens e são envergonhados a ponto de se calarem.

No entanto, é interessante que, em muitas igrejas não adventistas, esse tipo de “adoração” e música esteja em declínio. Em um artigo intitulado “3 Reasons Contemporary Worship IS Declining, and What We Can Do to Help the Church Move On,” (3 Razões Por Que a Adoração Contemporâneo ESTÁ Declinando e O Que Podemos Fazer Para Ajudar a Igreja a Avançar), o autor e músico Jonathan Aigner escreve:

“A adoração contemporânea é um movimento instável e não teológico. Ser completamente contemporâneo exige uma lealdade servil ao novo, ao atual, ao que faz sucesso, ao que é legal e ao comercial. Requer uma rejeição completa do velho, ultrapassado, que não é atual, que não é legal e que não gera dinheiro … Esta constante necessidade de se reinventar é uma tarefa extremamente difícil para qualquer igreja, e poucas, além das maiores e mais ricas, podem fazer isso de maneira contínua com algum sucesso” (http://bit.ly/CCMdecline).

Como o remanescente de Deus, o movimento dos últimos dias, precisamos considerar cuidadosamente o que significa “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14: 7).

No livro de Apocalipse, temos o privilégio de contemplar a própria sala do trono de Deus. Lá ouvimos os quatro seres viventes proclamando: “Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (Apocalipse 4: 8). Vemos os vinte e quatro anciãos lançando suas coroas diante do trono de Deus, dizendo: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas” (Apocalipse 4:11).

Como então nós, seres mortais, deveríamos nos aproximar do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores? Que tipo de música Lhe trará honra e glória através da adoração?

O salmista nos diz no Salmo 96: 1 “cantai ao Senhor um cântico novo “, e lembra-nos que “grande é o Senhor, e digno de louvor, mais temível do que todos os deuses. Porque todos os deuses dos povos são ídolos, mas o Senhor fez os céus. Glória e majestade estão ante a sua face, força e formosura no seu santuário. … Adorai ao Senhor na beleza da santidade; tremei diante dele toda a terra … porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos com a sua verdade” (versículos 4-6, 9, 13).

É muito importante que permitamos que o Espírito Santo guie nosso pensamento ao invés de permitir que as tendências culturais e musicais contemporâneas influenciem nossos próprios estilos musicais e rumos. Isso se aplica, quer estejamos falando sobre preferências pessoais de música ou sobre música usada para adoração.

Deus nos convida a nos entregarmos completamente a Ele e Ele nos usará para influenciarmos outros para Ele. É muito importante que busquemos encontrar as respostas de Deus às perguntas sobre música na Bíblia, no Espírito da Profecia, através da oração e permitindo que o Espírito Santo impressione nossas mentes.

Em referência a Del Delker novamente, é interessante analisar por que sua música e a de muitos outros músicos centrados em Cristo tiveram influências tão poderosas e positivas sobre outros e quais princípios sustentaram essas apresentações musicais. Em minha opinião, esses princípios são eternos e podem ser aplicados hoje. Gostaria de destacar algumas observações pessoais que podem nos ajudar a entender o que Deus pretende que experimentemos com a música:

·  Como adventistas do sétimo dia precisamos viver a música espiritual que cantamos. É muito importante que nós, pessoalmente, modelemos a mensagem que cantamos ou apresentamos mostrando nosso amor por Cristo e que isso seja verdade em nossa música, para que o “eu” e o orgulho não sejam vistos, mas apenas Jesus.

·  As letras das músicas que usamos devem ter um forte conteúdo bíblico e religioso que fale ao coração. As letras devem ter um conteúdo religioso substancial, e não simplesmente repetir algumas palavras, vez após vez. As letras devem ser claras com uma mensagem completamente inspirada na bíblia.


·  As composições musicais que tocamos, cantamos ou ouvimos devem ser melodiosas e cuidadosamente arranjadas. A música não deve ter elementos de natureza não bíblica, inapropriadamente “mundana” ou estilo “rock”. Devem elevar-nos para o céu e apontar para Deus e não para nós. O Espírito da Profecia possui alguns conselhos maravilhosos sobre a música e sua influência [N.T. – ver o livro Música – Sua Influência na Vida do Cristão, disponível em https://musicaeadoracao.com.br/50066/musica-sua-influencia-na-vida-do-cristao/] incluindo o uso de bateria (sobre a qual falaremos em um próximo Perguntas & Respostas, uma vez que é uma pergunta que sido enviada).

·  Nossa música deve falar ao coração e à mente e deve ser equilibrada de acordo com instruções e conselhos da Bíblia e do Espírito de Profecia. Deve ser uma música que “edifique a fé”.

Que Deus dê a cada um de nós um entendimento melhor sobre como a música – dependendo dos princípios que embasam a música e a letra – pode destruir nossas vidas espirituais ou nos edificar em nosso relacionamento com Deus.




quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

O QUE ELES VIRAM EM SUA CASA?

Ricardo André

Ao longo da história da monarquia em Israel e Judá, diversos reis surgiram e reis caíram. De acordo com as narrativas dos livros de Reis e Crônicas, alguns desses reis foram maus, outros foram bons. As sagas dos reis são definidas pelo que eles fizeram em termos de fidelidade a Deus, mantendo-se longe do paganismo e da idolatria, fazendo ou não fazendo o que era reto aos olhos dEle.

Nesse desfile real, em um momento importante na história moral de Israel e após seguidas falhas de reis que agiram com maldade, um novo rei aparece em cena, Ezequias que é descrito na Bíblia como alguém que “fez o que era reto perante o Senhor” (2 Rs 18:3). Ele foi um dos bons reis de Judá. Reinou por vinte e nove anos, de 716/715-687/686 AC. Era filho de Acaz, e nasceu em torno do ano de 751 a. C., morreu em 698, portanto aos 53 anos de idade.

O livro de 2 Reis menciona grandes realizações de seu reinado: recuperou muito do território e das riquezas que haviam sido perdidos e libertou Judá da tirania de potências estrangeiras a quem pagavam tributos. Ainda mais significativo, Ezequias restaurou a verdadeira adoração a Deus, destruindo os ídolos e os altares que estavam espalhados pela nação. Ele também destruiu a serpente de bronze que Moisés fizera no deserto (Números 21:8-9). Àquela altura, as pessoas estavam queimando incenso e a adorando (2 Reis 18:04). Verdadeiramente, Ezequias realizou grandes coisas e “houve grande alegria em Jerusalém” (2 Crônicas 30:26).

A Primeira Grande Crise Enfrentada por Ezequias

Enquanto as coisas estavam indo bem para o rei, um profeta entrou na história. Isaías teve acesso ao rei, a quem visitava frequentemente com mensagens de Deus. Em uma ocasião, por exemplo, Ezequias foi ao templo completamente perturbado porque os assírios estavam marchando contra ele com um exército de 185 mil homens e ameaçavam destruir Judá. Numa época tão perigosa, Ezequias voltou-se para o templo para orar e esperar pela palavra de Deus, e a palavra veio por intermédio de Isaías. Sua mensagem era simples e direta: “Não tenha medo” (2 Reis 19:6). Uma grande crise pede um grande milagre, e assim foi! Deus tomou toda a situação em Suas mãos e cumpriu prontamente Sua promessa de defender Jerusalém (2 Rs 19:35-37; 2 Cr 32:21 e 22; Is 37:36-38). No Final da história, o rei assírio, Senaqueribe, não conseguiu entrar em Jerusalém. “Então, saiu o Anjo do Senhor e feriu no arraial dos assírios a cento e oitenta e cinco mil” (Is 37:36).

“Se Senaqueribe tivesse vencido Jerusalém, ele teria deportado a população de tal maneira que Judá teria perdido sua identidade, como aconteceu a Israel do Norte. Então, sob certo aspecto, não teria havido povo judeu de quem o Messias poderia nascer. A história deles teria acabado ali mesmo. Mas Deus manteve viva a esperança” (Lição da Escola Sabatina, 2º Trimestre de 2004, p. 83).

Deus ainda hoje opera milagres em favor da Sua igreja. Ele opera milagres em nossa vida também.

A Maior Prova de Ezequias

No ano de 701 AC, Ezequias fou acometido de uma doença mortal. Dessa vez, a mensagem não era boa. “Ponha em ordem a sua casa”, Isaías advertiu, “pois você vai morrer; não se recuperará” (2 Reis 20:1). Ezequias começou a chorar como uma criança. “Lembra-te, Senhor, como tenho Te servido com fidelidade e com devoção sincera. Tenho feito o que Tu aprovas.” Como se Deus precisasse ser lembrado! Incrivelmente, antes que Isaías tivesse deixado o pátio intermediário, Deus respondeu a Ezequias: “Ouvi sua oração e vi suas lágrimas; Eu o curarei... Acrescentarei quinze anos a sua vida” (v. 5-6).

Deus havia respondido, mas Ezequias queria mais segurança: “Qual será o sinal de que o Senhor me curará e de que de hoje a três dias subirei ao templo do Senhor?” Isaías respondeu: “O sinal de que o Senhor vai cumprir o que prometeu é este: você prefere que a sombra avance ou recue dez degraus na escadaria?” Embora Ezequias estivesse doente, não era tolo. “É fácil a sombra avançar dez degraus”, disse o rei a si mesmo. Então, pediu ao profeta para a sombra voltar dez degraus. Foi o que aconteceu.

Deus ouviu a oração de Ezequias, curando-o de sua enfermidade e lhe dando mais 15 anos de vida. Ele recebeu uma bênção dupla: não só o prolongamento da vida, como também saber a extensão deste prolongamento. Ele pôde se dedicar inteiramente aos seus projetos, políticos e familiares, conhecendo de antemão o tempo que tinha para tal. Ele teve uma vida normal e chegou, depois disto, a ter um filho, Manassés.

A resposta a Ezequias não decorreu de suas virtudes, mas porque orou profundamente. Ele buscou tão-somente a Deus. Ele confiou tão-somente em Deus. Ela derramou todo o seu ser diante de Deus. Foi sua oração que o salvou. Sua vida reta fez com que procedesse assim. Se fosse um ímpio, buscaria outros caminhos, reclamaria de Deus. Deus ouve a nossa oração (Is 38: 5-7).

Caro amigo, Deus também sabe das suas dores, das suas aflições, das suas ansiedades. Nada passa despercebido diante dos olhos de Deus. Deus viu as lágrimas de seu filho Ezequias. Deus vê as suas também!

O Teste de Gratidão de Ezequias

A doença e a cura de Ezequias se tornaram notícia de primeira página. Não poderia ser diferente! Afinal, além da doença do rei, havia algo inédito e inexplicável: o milagre da sombra retroceder. Até mesmo os reis das nações distantes ficaram impressionados. Um deles, Merodaque-Baladã, rei de Babilônia, enviou emissários com cartas e um presente. “Ezequias recebeu em audiência os mensageiros e mostrou- lhes tudo o que havia em seus armazéns: a prata, o ouro, as especiarias e o azeite finíssimo, o seu arsenal e tudo o que havia em seus tesouros. Não houve nada em seu palácio ou em seu reino que Ezequias não lhes mostrasse” (2 Rs 20:13). E os babilônios voltaram para casa com uma ótima notícia, mas nem uma palavra sobre Aquele que é a razão das boas notícias.

Isaías retornou. “O que esses homens disseram? De onde vieram?” “De uma terra distante”, Ezequias respondeu, “da Babilônia”. “O que eles viram em seu palácio?”, perguntou Isaías. “Viram tudo em meu palácio”, exclamou Ezequias. “Não há nada em meus tesouros que eu não lhes tenha mostrado.”

Então disse Isaías a Ezequias: “Ouça a palavra do Senhor: Um dia, tudo o que se encontra em seu palácio, bem como tudo o que os seus antepassados acumularam até hoje, será levado para a Babilônia. Nada restará, diz o Senhor. Alguns dos seus próprios descendentes serão levados, e eles se tornarão eunucos no palácio do rei da Babilônia” (versos 16-17).

A leitura da repreensão profética provoca uma certa indignação. Por que Isaías não veio antecipadamente para instruir Ezequias sobre a melhor forma de se relacionar com os babilônios? Por que esperar até depois de terem ido embora? Isaías poderia ter dito: “Ezequias, alguns babilônios estão chegando. Eu sei que às vezes você é orgulhoso e um pouco arrogante, mas não vá mostrar seu tesouro, isso seria muito perigoso!” Por que Isaías não o avisou?

A resposta é encontrada em 2 Crônicas 32. Depois de relatar todas as grandes realizações do rei Ezequias, começando no versículo 23, o cronista se refere à doença do rei e relata que um milagre aconteceu, embora a natureza exata desse milagre não seja especificada. Então, por que Isaías não avisou Ezequias sobre a visita? O versículo 31 esclarece: “Mas quando os governantes da Babilônia enviaram uma delegação para perguntar-lhe acerca do sinal miraculoso que havia ocorrido no país, Deus o deixou, para prová-lo e para saber tudo o que havia em seu coração.”

Os príncipes da Babilônia vieram para saber mais sobre as obras maravilhosas de Deus, mas o rei Ezequias lhes mostrou suas próprias obras, seu tesouro e suas realizações. Um dos visitantes da Babilônia tomou notas cuidadosas. Os babilônios um dia voltariam para se enriquecerem com os tesouros de Jerusalém!

Ezequias, em um momento de orgulho pessoal, perdeu uma oportunidade única em sua vida. “A visita desses mensageiros do governante de tão distante terra dava a Ezequias a oportunidade de celebrar o Deus vivo. Quão fácil lhe teria sido falar-lhes de Deus, o sustentador de todas as coisas criadas, por cujo favor sua própria vida tinha sido poupada, quando todas as outras esperanças haviam desaparecido. Que momentosas transformações poderiam ter ocorrido, caso esses pesquisadores da verdade, vindos das planícies da Caldeia, fossem levados ao conhecimento da suprema soberania do Deus vivo.” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 344).

É curioso perceber que, a maior prova de Ezequias não foi no campo de batalha, mas no leito da doença. Sua recuperação miraculosa em resposta a uma oração desesperada o levou a deixar de glorificar a Deus quando foi visitado pelos embaixadores de Babilônia, que queriam ouvir sobre a maneira bondosa como Deus procedera com ele. Ao contrário, Ezequias exibiu suas riquezas reais, perdendo assim uma oportunidade dada por Deus para testemunhar sobre a salvação (I Rs 10:1-24). Ezequias se arrependeu, mas o resultado do seu erro devastou a nação (Is 38, 39).

Ellen G. White afirma que “a visita dos embaixadores a Ezequias foi um teste de sua gratidão e devoção” (Profetas e Reis, p. 346). Infelizmente, Ezequias não passou no teste. No auge de sua popularidade e poder, ele não viveu de acordo com os benefícios que ele recebeu (II Crônicas 32:25). Isso é típico de atitudes das pessoas hoje em dia. Eles logo se esquecem das abundantes misericórdias de Deus. Alguns cristãos não vivem de forma diferente dos incrédulos. Muitas vezes também enfrentamos adversidades e dificuldades, recebemos a intervenção de Deus para nos ajudar a superá-los, e depois, de forma ingrata, esquecemos dEle, como fez Ezequias e aqueles nove leprosos que foram curados e esqueceram de voltar para agradecer a Jesus (Lc 17:11-19). Como Ezequias e esses nove leprosos, nós não vivemos de acordo com os benefícios que recebemos de Deus.

Amigo, tudo o que temos foi dado por Deus. Porém, hoje o problema se repete. A maioria esquece que, se estamos vivos agora é apenas pela graça de Deus. Atribuem os milagres silenciosos do Criador à sorte ou coincidência. É comum ouvirmos estas frases: “Hoje por sorte não fui atropelado por um carro.” “Que sorte que meu filho teve hoje, conseguiu um bom emprego.” Para nós, cristãos, não existe “sorte”. O que acontece são milagres silenciosos de Deus! As Sagradas Escrituras não dão base para a crença de que as coisas acontecem por acaso. O próprio Jesus foi claro ao mencionar que nada acontece sem o conhecimento do Pai, e Ele é tão preciso que “até os cabelos da cabeça estão contados” (Mt 10:30). Então, por que chamar de sorte as bênçãos de Deus e azar os desafios que Ele nos permite enfrentar? Se “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28), por que definir como azar o que acontece de negativo e sorte o que ocorre de positivo quando todas são ações divinas para moldar o caráter e proporcionar salvação?

A escritora cristã Ellen G. White aprofundou essa visão, destacando que “frequentemente os homens oram e lamentam por causa das perplexidades e obstáculos que os confrontam. Mas é propósito de Deus que eles enfrentem perplexidades e obstáculos e, se mantiverem firme até o fim o princípio de sua confiança […] terão êxito ao lutar com perseverança contra dificuldades aparentemente insuperáveis, e com o êxito virá maior alegria” (Olhando Para o Alto, p. 119). Ela vai mais longe: “A aflição e adversidade podem causar tristeza, mas é a prosperidade que representa maior perigo para a vida espiritual” (Profetas e Reis, p. 24). O que parece perda pode se tornar ganho e o que parece ganho pode acabar em perda.

Ezequias viveu os seus quinze anos de graça, mas perdeu a oportunidade de dar um grande testemunho de sua fé e do seu Deus aos visitantes de Babilônia.

O que os outros veem em sua casa? O que eles vão ver em sua vida? Será que eles vão ouvir uma ladainha de suas realizações? Será que eles vão ver seus troféus e aquisições? Ou eles vão ver o poder de Deus em transformar a vida? Como testemunhamos de Deus aos outros? Falamos das bênçãos recebidas da parte de Deus, ou mostramos as riquezas que Deus nos concedeu? Deus tem que ser a prioridade em nossa vida, e devemos testemunhar de Suas bênçãos a todos os que nos cercam. Devemos aproveitar todas as oportunidades que Deus coloca diante de nós. Temos sido uma influência positiva na vida das pessoas que se associam a nós?

“(...) Se por nosso exemplo ajudamos a outros no desenvolvimento de bons princípios, damos-lhes capacidade para fazer o bem. Por seu turno eles exercem a mesma benéfica influência sobre os outros. Assim centenas e milhares são ajudados pela nossa influência por nós despercebida. O verdadeiro seguidor de Cristo fortalece os bons propósitos de todos aqueles com quem entra em contato. Diante de um mundo incrédulo e amante do pecado, ele revela o poder da graça de Deus e a perfeição do Seu caráter” (Idem, p. 348).

Caro amigo leitor, que a cada dia sejamos moldados pelo evangelho, para que nossa vida transformada possa dar testemunho da mais radical mudança que ocorreu em nossas vidas. O evangelho nos transforma em perdidos em salvos, e essa salvação vai produzindo transformações visíveis às pessoas que nos rodeiam. Elas querem ver se a certeza da salvação eterna, da nossa filiação com Deus irá impactar nossa forma de viver aqui e agora.




terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

ARREBATAMENTO SECRETO NÃO TEM BASE BÍBLICA

Felipe Lemos

Teólogos adventistas explicam qual é o conceito do arrebatamento de acordo com a visão bíblica a respeito da volta de Jesus
  
Dentro da chamada visão dispensacionalista, muitos acreditam na ideia do arrebatamento secreto. Tema tem sido explorado no cinema e na TV (Foto: Shutterstock)

O ensino do arrebatamento secreto parece ser bastante popular entre grande parte de seguidores de igrejas evangélicas no mundo. No Brasil, não há pesquisas sobre crenças religiosas que possam reforçar esse conceito. Mas uma verificação realizada pelo Pew Research com alguns líderes evangélicos mundiais sinaliza para uma vasta aceitação desse tipo de crença.

Em 2011 foi publicado um relatório com resultado de uma avaliação que ouviu a opinião de líderes de vários continentes, dos quais 74% estavam empregados por igrejas ou organizações religiosas, e 51% eram ministros ordenados. Pelo menos 61% dos participantes da pesquisa afirmaram que acreditam no arrebatamento da igreja antes da chamada grande tribulação, deixando os não crentes em sofrimento na Terra. A doutrina consiste na ideia de que a segunda vinda de Jesus terá duas fases. A primeira, em que ocorreria um suposto arrebatamento secreto em que muitas pessoas (salvas) desapareceriam subitamente. E, ainda de acordo com essa ideia de origem dispensacionalista (leia mais aqui e aqui sobre dispensacionalismo), depois disso Jesus voltaria com os arrebatados para reinar sobre a Terra durante mil anos.

O tema tem voltado a ganhar força nos últimos anos por conta de algumas produções cinematográficas (como o filme Apocalipse, de 2014) e da recente telenovela chamada Apocalipse, onde a abordagem ocorre novamente. Teólogos adventistas são unânimes em explicar que, apesar de popular, a crença no arrebatamento não possui base bíblica. O teólogo e arqueólogo Rodrigo Silva, apresentador do programa Evidências, da TV Novo Tempo, e colunista do Portal Adventista, fala do assunto em um vídeo. “Essa não é uma doutrina claramente encontrada na Bíblia. Desde que o apóstolo João escreveu o Apocalipse, até o ano de 1830, ninguém jamais falou dela. Tivemos 1.800 anos de cristianismo sem ninguém sequer ouvisse falar do tal arrebatamento secreto”, afirma Silva.

Outro teólogo, Samuel Bachiochi, em artigo intitulado Arrebatamento secreto: fato ou ficção?, comenta que “a crença de que a Igreja será arrebatada súbita e secretamente antes da grande e final tribulação é conhecida como pré-tribulacionismo. Sua origem é em geral identificada por volta dos anos da década iniciada em 1830. John N. Darby, pregador anglicano que se tornou fundador dos Irmãos de Plymouth”.

O teólogo e professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Vanderlei Dorneles, diz que essas correntes de interpretação deslocam as profecias de Daniel e Apocalipse para o fim dos tempos, fazendo parecer que elas nada podem revelar acerca da história, mas somente daquele período. “Isso foi feito para desviar o foco do poder religioso apóstata da Idade Média, revelado na figura do “chifre pequeno” (conforme Daniel 7) e da “besta” tipo-leopardo (de Apocalipse capítulo 13), visões aplicadas a esse poder desde os grandes reformadores”, assegura.

Visão bíblica

Rodrigo Silva explicou, no vídeo divulgado nesta semana, que o termo arrebatado, mencionado por Paulo em I Tessalonicenses 4:17 não tem nenhuma relação com algo secreto. Vanderlei Dorneles esclarece que, em Apocalipse 1:7 é dito que, quando Jesus se manifestar em Sua segunda vinda, “todo olho o verá”. Ele argumenta que não haverá qualquer separação entre as pessoas antes da vinda de Cristo. “Apocalipse 6:16 diz que, no momento de sua manifestação em glória, os ímpios todos vão sucumbir, ficarão tão aterrorizados que desejarão eles mesmos a morte. Mas há uma pergunta que se levanta: No “dia da ira” de Deus, “quem poderá subsistir?” (Apocalipse 6:17). Então a resposta vem no capítulo 7 e versículo 14: O grupo dos salvos vivos por ocasião da volta de Cristo são apresentados como aqueles que “vieram da grande tribulação”. Ou seja, os salvos são arrebatados ao Céu ao final da grande tribulação e não antes dela”, explica.

Dorneles explica, ainda, que o próprio Jesus dá suficiente informação a respeito do arrebatamento. Citando o texto dos evangelhos, como Mateus 24:29-31 e 25: 31-33, o teólogo afirma que “a separação entre os bons e os maus ocorrerá só no momento da Sua vinda, não havendo qualquer margem para um grupo arrebatado antes do outro.”

Assista ao vídeo com a explicação apresentada pelo doutor Rodrigo Silva:



A ORIGEM DA MENTIRA DO ARREBATAMENTO SECRETO

Sérgio Santeli*

A Reforma Protestante abalou os fundamentos do Romanismo pregando e ensinando as profecias de Daniel e Apocalipse, usando o historicismo como base hermenêutica de interpretação. Todos os grandes teólogos conservadores então concordavam que as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse se cumpriram através da História. Para contra-atacar a Reforma Protestante e tentar neutralizá-la o Romanismo criou a Ordem dos Jesuítas, e muito cedo incumbiu o sacerdote jesuíta Francisco Ribera de criar uma nova linha de interpretação profética cujo cumprimento das profecias apocalípticas se dará no futuro (Futurismo). O chifre pequeno de Daniel 7 e 8, a besta de Apocalipse 13, e o anticristo de 2 Tessalonicenses 2:3, 4, 8, 9 não mais representariam Roma papal.

Nos dois séculos seguintes essa teoria se infiltrou no Protestantismo pela influência de grandes universidades européias como a de Oxford. Famosos líderes do mundo protestante adaptaram essa corrente de interpretação em sua visão profética de Daniel e Apocalipse. Samuel Roffey Maitland (1792-1866), James Todd, William Burgh e, principalmente, John Nelson Darby (1800-1882) contribuíram para estabelecer as bases do Futurismo profético, agora chamado de Dispensacionalismo entre os protestantes.

Darby fez três viagens aos Estados Unidos nas quais pregava de forma ousada as ideias do Dispensacionalismo profético. Segundo creem, as profecias escatológicas do Antigo Testamento devem ser interpretadas literalmente. Se o texto bíblico diz que Israel irá possuir a terra prometida para sempre, então significa exatamente isso, ao pé da letra.

Em uma de suas viagens aos Estados Unidos, Darby influenciou um advogado chamado Cyrus Scofield, o qual, após converter-se, se tornaria ministro ordenado da Igreja Congregacional. Sua obra, a Bíblia de Referência de Scofield (1909), foi a responsável pela popularização do Dispensacionalismo profético nos Estados Unidos e em vários outros países que mais tarde a traduziram.

A partir da década de 1990, outro lançamento também contribuiu para a popularização dessa teoria entre os evangélicos: a série de livros de ficção religiosa Left Behind (Deixados Para Trás), dos autores Tim LaHaye e Jerry Jenkins.

Somando tudo isso, o resultado é que hoje mais de 80% do mundo protestante acredita no Dispensacionalismo (Futurismo profético) em lugar do Historicismo da Reforma Protestante. Como desfazer esse conflito? Ditos protestantes que não seguem os ensinos dos Reformadores?

Acreditar que as profecias do Antigo Testamento só podem se cumprir de forma estritamente literal significa ignorar o uso que os próprios autores inspirados do Novo Testamento fazem do texto bíblico. Mateus, por exemplo, vê o cumprimento profético de Oseias 11:1 (que, primariamente, se refere a Israel) no retorno de Jesus do Egito com Seus pais após a morte de Herodes (2:15). Claramente, para Mateus, Israel era um tipo de Cristo, logo temos um cumprimento tipológico e não literal da profecia.

O mesmo ocorre com o evangelista Lucas, quando afirma que “assim está escrito” que “o Cristo havia de ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (24:46). Na mente de Lucas, Israel também é um tipo de Cristo. Por isso ele faz uma aplicação tipológica de Oseias 6:1 e 2 (originalmente feita para Israel). Mais uma vez o autor bíblico não faz uma aplicação estritamente literal.

Ainda em outro exemplo, em Mateus 2:23, o autor inspirado usa a palavra “profetas” (plural) para expressar o que vários textos proféticos teriam profetizado: “Ele será chamado Nazareno [grego Natzrati].” Acontece que não há nenhuma profecia do Antigo Testamento sobre isso que possa ser aplicada literalmente a Jesus. O autor bíblico vê um cumprimento pelo sentido, por causa da palavra hebraica netzer em Isaías 11:1: “Do tronco de Jessé sairá um rebento [netzer].” Outros profetas também falaram disso (Jr 23:5, 33:15; Zc 3:8 e 6:12). Para todos os efeitos, a aplicação feita por Mateus está longe de ser literal.

Portanto, sustentar que todas as profecias do Antigo Testamento têm que se cumprir de forma estritamente literal é violar o próprio entendimento que os autores do Novo Testamento possuíam. Logo, o Dispensacionalismo não passa no teste bíblico.

E o que dizer dessa teoria do arrebatamento secreto extraída pelos dispensacionalistas de Mateus 24:40 e 41? Ela se sustenta pela Bíblia? Uma leitura atenta do contexto de Mateus 24 já é suficiente para extrair três razões contrárias a essa teoria:

1. Jesus alertou explicitamente contra qualquer um que ensinasse que Seu retorno seria secreto: “Portanto, se vos disserem: Eis que Ele está no deserto, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa, não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do Homem” (v. 26, 27).

Alguém já viu um relâmpago aparecer de forma secreta?

2. Jesus declarou explicitamente que o mundo inteiro seria testemunha do Seu retorno: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder [grego dynamis, de onde vem a palavra “dinamite”] e muita glória.”

3. Jesus descreveu explicitamente o destino dos que serão deixados para trás: “Assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do Homem… veio o dilúvio e os levou a todos” (37-39). Ou seja, os que forem deixados para trás serão destruídos “como foi nos dias de Noé”. Não haverá segunda chance. Esse é um grande engano que o inimigo disseminou dentro do protestantismo graças a essa doutrina dispensacionalista do arrebatamento secreto (ver Hb 9:27, 28).

Sendo assim, a corrente futurista de interpretação profética (incluindo o Dispensacionalismo dentro do Protestantismo) carece de fundamento bíblico. Só nos resta a confiança do Historicismo defendido pelos Reformadores.

Você está pronto para os últimos eventos deste mundo? Falta muito pouco para Jesus voltar nas nuvens do céu. “Naquele dia se dirá: Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará” (Is 25:9).

Quem viver verá…

*Sérgio Santeli é pastor em São Bernardo do Campo, SP

Bibliografia:

Dwight K. Nelson, Ninguém Será Deixado Para Trás, Casa Publicadora Brasileira.

Hans K. LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia, Unaspress.

João Alves dos Santos, Dispensacionalismo e suas implicações doutrinárias.


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

MORRE ÍCONE DA MÚSICA ADVENTISTA MUNDIAL

                                    Del Delker faleceu aos 93 anos de idade (Foto: Reprodução / YouTube)

Por Felipe Lemos

A cantora norte-americana Del Delker, que cantava também em português e espanhol, foi participante nos primeiros programas de rádio adventistas

Em 1924, a Igreja Adventista do Sétimo Dia era uma organização com pouco mais de 238 mil membros ao redor do mundo. Os tempos eram muito diferentes, já que havia se passado apenas seis anos da Primeira Guerra Mundial, mesmo ano em que o futuro ditador alemão Adolfo Hitler era condenado por uma tentativa frustrada de tomar o poder na região da Baviera. Nesse ano, nascia, em Java, no estado norte-americano de Dakota do Sul, a contralto adventista Ardella V. Delker, mais conhecida como Del Delker, participante do conhecido programa de rádio A Voz da Profecia (nos Estados Unidos), cantando ao lado dos integrantes do The King’s Heralds (projeto precursor do ministério desenvolvido no Brasil pelos Arautos do Rei). Ela faleceu nesta quarta-feira, 31, aos 93 anos, na cidade de Porterville, Estado da Califórnia, Estados Unidos.

Alguns fatos são interessantes no ministério desenvolvido por Del Delker. Ela ingressou no programa de rádio em 1947 e, ao longo do tempo, ficou conhecida pela interpretação de hinos tradicionais cristãos como Under His Wings e Day by Day ou hoje clássicos, a exemplo de I Will Pilot Thee, The Night Watch e He Touched Me, muitos deles presentes no Hinário Adventista e conhecidos, de forma geral, em todo o mundo evangélico tradicional.

O presidente mundial adventista, pastor Ted Wilson, escreveu na sua página do Facebook “que nossos músicos adventistas do sétimo dia hoje e cada um de nós se concentrem nas características encantadoras da abordagem gentil e emocionada do Del Delker, que levou muitas pessoas à sala do trono dos céus”. O doutor em Musicologia, Joêzer Mendonça, explica que Del Delker havia participado de programas de rádio adventistas pioneiros no Brasil. Ela cantou solos em português, ou acompanhando o quarteto brasileiro Arautos do Rei. “Note a expressividade e a elegância do canto de Del Delker”, comentou.

Ouça a interpretação do Hino Foi Assim, em português, na voz de Del Delker

 Legado

Em uma biografia publicada na web, baseada inclusive em trechos de um livro sobre a cantora publicado em 2002, escrito por Kenneth Wade, chama a atenção a versatilidade e a dedicação à música de Del Delker. Apesar de sua mãe já ser adventista, a cantora só passou a ser membro da Igreja depois de assistir a reuniões relacionadas ao programa adventista chamado The Quiet Hour (A Hora Tranquila), que existia naquela época. Logo depois, integrou o quarteto adventista. Consta que ela cantava em pelo menos quinze idiomas diferentes.

De acordo com Joêzer Mendonça, ainda nos anos 1980, ela fez parceria em campanhas de evangelismo com o músico Hugh Martin, então recém-convertido ao adventismo e autor da melodia do clássico natalino Have Yourself a Merry Christmas. Em 2001, Martin tocou piano para a regravação dessa música feita por Del Delker, desta vez, com o título Have Yourself a Blessed Christmas.

O jornalista e pastor Amilton Menezes, ex-diretor da Rede Novo Tempo de Comunicação, lembra que cresceu ouvindo os hinos interpretados por Del Delker. Ele, inclusive, criou nos anos 90 um programa de rádio chamado Redescobrindo, que era veiculado na Rádio Novo Tempo, em que eram tocadas músicas cantadas por ela, como Minha mão em tua mão, Gente triste, Transmitir, entre outras. “Delker marcou a vida de gerações e sua positiva influência só será mensurada na eternidade”, afirma.

Assista Del Delker entoando hinos em espanhol:




Nota do Blog:

Desculpem o saudosismo (sou uma pessoa muito saudosista), mas falar da cantora Del Delker é fazer uma agradável viagem de volta a um passado glorioso da música sacra adventista. Embora não tenha vivido no tempo do laçamento dos primeiros LP's dela, ouvir suas músicas para mim traz bonitas recordações, um tempo muito bom na minha vida. Ouvi a primeira vez as músicas belíssimas e inspiradoras de Del Delker em meados dos anos 1980, cantando com os Arautos do Rei. O LP “Del Delker e Arautos do Rei” é inesquecível. Amo ouvir esse álbum, com destaque para as músicas “Minha Mão em Tua Mão”, “Transmitir” e “Gente Triste”. Escuto esse é outros CD’s dos Arautos do Rei de formações antigas quase todos os sábados, pela manhã, logo que acordo.  

Era um tempo muito bom na música cristã adventista, tempo de pureza mesmo, tempo em que se cantava música sacra pra louvor e adoração a Yahweh Deus. Não havia parafernália produzindo sons barulhentos como as músicas de hoje. Não havia trejeitos e caretas.

O falecimento de Del Delker, cantora com uma voz contralto incrível e singular, deixa um vazio na música sacra adventista mundial.

Certamente, quando eu chegar no céu, após a volta de Jesus, Del Delker é uma das pessoas de quem quero conversar longamente, lá eu também vou saber cantar e poderei entoar com ela, entre outras canções, "Minha Mão em Tua Mão" e "Foi Assim". (Ricardo André)