Teologia

quarta-feira, 31 de julho de 2019

DANIEL 2 E A MISSÃO DE DEUS NA HISTÓRIA


Estátua do sonho do rei retratada no segundo capítulo de Daniel é discutida há muito tempo, inclusive por Isaac Newton. (Foto: Youtube/Amazin Prophecies)

Isael Costa
  
 “Este é o sonho; também a sua interpretação diremos na presença do rei. Daniel 2:36”


Como aponta Collins, poucos livros têm influenciado tanto a história do Ocidente como o livro de Daniel o faz.[1] Evidentemente isso deve tanto à sua beleza quanto à riqueza e desafios literários, mas, também, a sua abrangência profética. O conteúdo do livro é de todo cativante e envolvente, marcado por narrativas e profecias e, em alguns momentos mesmo, a combinação desses gêneros em episódios específicos como é o caso do capítulo 2. Mesmo em um primeiro contato, é comum ao leitor da Bíblia ser atraído pela habilidosa combinação existente entre o drama narrativo e sonho apocalíptico no referido texto.

Este artigo pretende salientar os meios da revelação de Deus à Nabucodonosor, o monarca pagão. Ou seja, pretende analisar o fenômeno do sonho profético e a forma de sua linguagem a fim de destacar a intenção de salvação divina em relação ao referido rei. Serão levantadas informações que demonstrarão o ambiente da revelação familiares ao monarca e que apontam, assim, o objetivo essencial de Deus para com Nabucodonosor, seu público alvo em primeira instância, e semelhantemente à humanidade posterior a ele.

Contexto do sonho

O conteúdo do capítulo como um todo foi provocado por causa de um sonho comunicado a Nabucodonosor. A agitação inicial já evidencia o caráter de como os sonhos eram considerados quanto a comunicações dos deuses na cultura antiga. É sabido que babilônios e egípcios habitualmente os registravam nos chamados livros dos sonhos,[2] estes já agregados com algumas diretrizes interpretativas.

Combinadas as informações referentes ao sonho em Daniel 2 nota-se que este se tratou de um sonho ocorrido pelo menos duas vezes na mesma noite. [3] Os versículos 1 e 2 informam o sonho nas formas singular e plural, enquanto o versículo 29 sugere o sonho como algo de uma ocasião, isto é, enquanto o rei estava no seu leito. O fato da exigência de Nabucodonosor quanto à revelação e significado do sonho testifica da impressão de mal presságio que ele provocou em sua mente. Portanto, o quadro como um todo pressupunha tanto o envolvimento quanto a inescapável necessidade de divindades para a resolução do fato ocorrido.

Daniel é introduzido a Nabucodonosor e passa a fazer a exposição do sonho enigmático de uma estátua constituída de múltiplos metais. A imagem é atingida em seus pés de modo fulminante por uma rocha, a qual, por sua vez, torna-se uma montanha ocupando toda a terra. Segundo Festugière, o uso de uma estátua para designar o destino de uma nação era algo natural principalmente no Egito[4], o que implica Nabucodonosor já estava familiarizado com o tipo de informação. Isso torna mais significante a observação “dizei-me o sonho e saberei que me podeis da a interpretação”. Tal exigência sugere ele lembrava parte do sonho, mas não o suficiente para uma clara compreensão do sentido e, também, o seu receio de ao mencionar suas parcas recordações receber uma interpretação enganosa e mesmo conspiradora por parte dos seus interpretes, conforme o versículo 9.

Veja estudo completo em vídeo sobre Daniel 2:



 Interpretação do sonho e suas implicações hoje

A exposição do sonho por Daniel é imediatamente seguida pela interpretação. O conteúdo, portanto, é explicado para descrever a história do mundo em uma sucessão de reinos. Estes reinos que, ao seu fim, serão totalmente destruídos e substituídos por um reino de origem celeste que jamais passará. O conteúdo elabora uma exposição e interpretação profética da história desde os dias de Daniel até o estabelecimento do reino de Deus na segunda vinda de Jesus. Tendo, deste modo, a sucessão de metais cumprimento histórico na sequência imperial: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. Esta é uma proposta tradicionalmente percebida por intérpretes judaicos[5], rabinos e pais apostólicos[6]. E da mesma forma, a interpretação o foi na reforma protestante[7] como, também, o tem sido por teólogos adventistas e outros conservadores[8].

Algo também digno de nota é o conceito de apresentar a história em termos de quatro impérios ou eras. Isto constituía prática familiar nas literaturas clássicas e antigas. Neste segmento, é interessante perceber a similaridade da distribuição metálica que se acha em Daniel 2 e a que se nota em Erga kaí Hemérai (“Trabalhos e os Dias”), um poema épico de Hesíodo, escritor grego, datado do oitavo século a. C. Nele, são apontadas cinco eras, sendo que quatro são representadas por ouro, prata, bronze e ferro[9]. Desde o acadiano podemos encontrar a chamada Profecia Dinástica[10] material, que permeia do segundo ao terceiro século a. C. Nela, tem-se a disposição da história como sendo regida por quatro reinos sucessivos: a Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia.

Dentre outros exemplos é ainda válido mencionar os Oráculos Sibilinos (4:49-104), os quais remontam provavelmente ao segundo século a.C. em que se encontra proposta semelhante de quatro impérios, os assírios, medos, persas e macedônios. Referindo-se ao ambiente cultural que girava em torno de Nabucodonosor, ainda se pode refletir o elemento a grande pedra que atinge os pés da estátua destruindo-a de todo. É possível que o rei tenha entendido isto como uma realidade semelhante ao que se acha no épico de Gilgamés.

Em tal épico, num dado momento, é informada a vinda de Enkidu representado como um meteoro. No entanto, ele aterrissa aos pés de Gilgamés e se torna como que um companheiro de regência. Só que a manifestação da rocha no sonho de Nabucodonosor não viria para sugerir regência conjunta, mas o estabelecimento de um reinado independente e eterno.

Embora Nabucodonosor tenha reagido de modo imediatamente favorável à Daniel no final do capítulo 2, o desafio ao reino de Babilônia fora estabelecido e este reino passaria conforme propôs o profeta de Deus. Como tem sido apontado por alguns, o monarca babilônico pode ter alimentado seu ego e expectativas e reagido contrário à esta revelação, mesmo baseado na Profecia de Uruk. A profecia fala de um rei sábio e justo que sucederia a quatro com lamentáveis administrações e seria um rei favorável à Uruk levando de volta para ela a estátua de Istar que se encontrava em Babilônia. Este rei teria um filho cujo reinado se estabeleceria para sempre e este filho tem sido visto como Nabucodonosor. [11]

Que o conhecimento disso pode ter motivado a Nabucodonosor a reagir em oposição ao revelado por Deus é uma considerável possibilidade. De qualquer modo, sua reação contrária ao revelado no sonho é notória no capítulo 3, no erguer de uma estátua toda de ouro, visto ser esse o metal referido ao seu reino no sonho. A reação fica de todo óbvia, Babilônia não seria só a cabeça, mas todo o corpo também.

Reconhecer soberania de Deus ou não

Estes dados de modo claro revelam versões paralelas àquela disposta pelo profeta Daniel em seu livro, versões que o povo pagão ser apegava como sendo verdades. Restava, portanto, a Nabucodonosor fazer uma escolha entre o caldeirão de crenças e culturas pagãs comuns de seus dias ou reconhecer a soberania do Deus de Daniel. O modo como a revelação chega a Nabucodonosor demonstra um Deus que vai ao humano em seu próprio ambiente, e o faz avidamente intentando alcançá-lo.

O sonho de Daniel 2 não apela apenas a Nabucodonosor por um decisivo posicionamento de fé à revelação do Deus bíblico, mas a todo aquele que independente de sua época se defronte com esta revelação. Deste modo, o conteúdo bíblico, mesmo o de caráter apocalíptico, como é o caso de Daniel 2, revela a natureza salvífica e de defesa de sua mensagem, seu conteúdo constitui a apresentação não de uma opção da verdade ao lado de tantas outras, mas a manifestação absoluta da verdade em sua essência, realidade que se revela infalível ao longo da história.

Referências:

[1] Collins, John Joseph, Peter W. Flint, and Cameron VanEpps. The Book of Daniel: Composition and Reception. Vol. 1. Leiden: Brill, 2002.

[2] Walton, John, Mark W. Chavalas, and Victor Harold Matthews. Old Testament. Leicester: Inter-Varsity, 2000.

[3] Doukhan, Jacques. Secrets of Daniel: Wisdom and Dreams of a Jewish Prince in Exile. Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Association, 2000.

[4] André J. Festugière, La révélation d’Hermès Trismégiste (Paris, 11950), t. 1. pág. 92-93.

[5] Josefo (Antiquites X. 208-10 ); 4 Esdras 11:1-35; 12:1-30; 2 Baruque 39:3-7.

[6] Irineu, Against Heresies, livro 5, cap. 26, em ANF, 1:553-55; Holbrook, Frank B. Symposium on Daniel: Introductory and Exegetical Studies. Washington, D.C: Biblical Research Institute, 1986.

[7] LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Ftíith of Our Fathers vol. 2, (Washington, DC, 1940): p.267-68

[8] Joyce Balwin, Daniel (Downer’s Grove, IL, 1978), p. 93; John Walvoord, Daniel (Chicago, 1971), p. 76; e Leon Wood, Daniel (Grand Rapids, 1973), p. 74.

[9] Hesíodo (os trabalhos e os Dias pág. 109-180)

[10] Edição com comentários por A. K. Grayson, Babylonian Historical-Literary Texts, Toronto Semitical Texts and Studies 3, Toronto 1975.

[11] Walton, John, Mark W. Chavalas, and Victor Harold Matthews. Old Testament. Leicester: Inter-Varsity, 2000.











ANTES E DEPOIS DA FÉ


Ruben Aguilar*

Entenda o princípio, o fundamento e a permanência da lei na dinâmica da salvação

Nos textos do Antigo Testamento, a justificação é apresentada por meio de um processo que demandava a realização de ritos e cerimônias ilustrativas (Lv 1–7; 16) que apontavam para o ministério e sacrifício de Jesus. A ênfase desse processo estava no cumprimento da lei, ou da Aliança (Êx 24:8), que tinha como elemento essencial o sacrifício do cordeiro (Êx 12:5; Is 53:7). Isso, porém, não anulava o papel da fé na dinâmica da salvação. Após a morte, ressurreição e ascensão de Cristo, as leis cerimoniais alusivas a Seu ministério deixaram de vigorar, uma vez que a sombra se encontrou com a realidade. Assim, o ensino do Novo Testamento passou a destacar o papel da fé necessária para uma pessoa ser justificada.

Entretanto, ao longo dos séculos, o cristianismo, ou melhor, o catolicismo, criou práticas religiosas com as quais originou o dogma da salvação pelas obras. No século 16, após o surgimento da Reforma, a fé se tornou a virtude exaltada para obter a justificação (sola fide): “o homem é justificado pela fé” (Rm 3:28), anulando a vigência da lei: “ninguém será justificado por obras da lei” (Rm 3:20).

A rigor, porém, o conceito sola fide padece de uma anomalia doutrinária, por eliminar a vigência da lei. Em sua definição, a lei não exerce função eficiente na justificação, mas mantém seu fundamento ou origem, e seu papel como princípio de toda existência. Este artigo, portanto, confirma a manifestação da fé como fundamento da justificação: “justificados, pois, mediante a fé” (Rm 5:1). Além disso, reflete a afirmação apostólica de que “sem lei não há pecado” (Rm 7:8), e pretende situar a lei em sua condição como princípio de toda existência, e seu fundamento como dom de Deus, vigente antes da fé e depois dela. A justificação não depende da lei, mas é inerente a ela. Sem lei não há vida, e vida eterna.

O FUNDAMENTO DA LEI

Emitir um conceito sobre algo abstrato como a lei é uma tarefa limitada, em virtude da dificuldade de se exprimir com precisão o significado do termo. Daí a razão pela qual há dezenas de conceitos sobre ela, alguns mais identificados com suas finalidades. Em síntese, podemos conceituar a lei como norma ou conjunto de normas que orientam o comportamento das pessoas.

Como norma, a lei pode ser elaborada sobre o fundamento da razão individual, do consenso de uma sociedade organizada ou, no caso das nações constituídas, da vontade do poder legislativo. Quando a lei visa ao bem-estar integral das pessoas, seu fundamento reside na vontade de Deus, independentemente de se originar como fruto da razão individual ou do consenso social. Em essência, eles refletem a lei divina, de onde também procede sua autoridade, quer os envolvidos em sua formulação reconheçam ou não a existência de Deus (Rm 13:1, 2). Assim, podemos afirmar que o fundamento da lei está na vontade divina.

Estudos científicos afirmam que tudo na natureza está sob a regência de leis. Os elementos minerais, incluindo os corpos estelares, estão sujeitos aos princípios das leis físicas e químicas. Os seres dos reinos vegetal e animal, além de serem regidos pelas leis mencionadas, seguem as leis biológicas. Considerando o comportamento de todos os seres do Universo, pode-se concluir que há dois tipos de leis: as leis naturais, aplicadas aos minerais, vegetais e animais, e as leis morais, aplicadas de forma singular e exclusiva ao ser humano, escritas na mente e no coração (Jr 31:33).

Cabe aqui um esclarecimento quanto à posição da raça humana na classificação dos reinos. De acordo com suas características físicas, ela é classificada como pertencente ao reino animal. Contudo, o ser humano tem outros atributos que nenhum outro ser da natureza possui, os atributos mentais e espirituais, que determinam a manifestação de qualidades morais. Por isso, a raça humana deve ser classificada como uma espécie distinta do reino animal.

Em síntese, ao tratarmos do fundamento, tanto da lei natural quanto da moral, deve-se afirmar que o fundamento de ambas é a vontade de Deus. Ellen White corrobora essa afirmação ao dizer que “a lei de Deus é uma expressão da natureza divina […] o fundamento do Seu governo no Céu e na Terra” (Caminho a Cristo, 2017, p. 59). Do Senhor irradiam as leis que regem os atributos, os princípios e as propriedades que todos os seres do Universo manifestam.

A LEI E A EXISTÊNCIA

A criação foi o sublime ato divino, incompreensível à mente humana, pelo qual todo Universo veio a existir. A Bíblia revela esse fato sem acrescentar detalhes, afirmando que Deus falou e todas as coisas foram criadas (Sl 33:6; 148:5). Conforme foi apresentado na seção anterior, há leis que regem o comportamento ou a manifestação de princípios, propriedades e atributos dos seres do Universo. Assim, é possível afirmar que existe uma relação íntima entre a “observância da lei” e a existência de todos os seres encontrados na natureza.

Ao longo do tempo, o estudo das características dos seres da natureza fundamentou a edificação das ciências. Parte desse estudo se propõe a identificar as leis que regem o Universo conhecido. Portanto, “fazer ciência” é descobrir ou enunciar leis e aplicá-las. Pela ciência, sabemos que a luz deve sua existência à observância de muitas leis. Por exemplo, ela depende das leis como a da irradiação eletromagnética, da natureza ondulatória, da velocidade, da frequência das ondas, da radiação espectral e do comprimento da onda. A constância dessas leis na produção da luz possibilita o estudo dos fenômenos luminosos. A omissão ou não cumprimento de qualquer uma dessas leis determinará a extinção da luz.

Aceitando a relação entre lei e existência, podemos presumir que, na criação, Deus elaborou essas leis antes de ordenar: “haja luz” (Gn 1:3). Semelhantemente, procedeu assim ao criar tudo o mais no Universo. Primeiro, elaborou as leis; depois, ordenou a existência de todas as coisas. Sobre a soberania divina na natureza, Ellen White afirma: “Desde as estrelas, que em seus inexplicáveis trajetos através do espaço percorrem, século após século, os caminhos a elas designados, até o minúsculo átomo, as coisas da natureza obedecem à vontade do Criador” (Caminho a Cristo, P. 86).

No caso da humanidade, além de estar sujeita às leis naturais, ela também é regida por valores morais e espirituais, baseados na lei de Deus. Sem as leis morais, o ser humano não poderia existir como pessoa; seria só mais uma espécie do reino animal. Assim, é possível afirmar que a existência da pessoa humana, à imagem do Criador, depende da vigência da lei moral.

 A PERMANÊNCIA DA LEI

A relação entre lei e existência é vital para qualquer ser do Universo. Isso também se aplica à relação da pessoa humana com a lei moral. Enquanto o ser humano existe, a lei moral está vigente, gravada no coração, mesmo para gentios ou descrentes (Rm 2:14, 15).

Em sua essência, a lei natural possui os seguintes atributos: universalidade, obrigatoriedade, validade absoluta e causalidade. Isso quer dizer que ela está imposta a todos os seres criados (universalidade), deve ser cumprida (obrigatoriedade), não pode ser afetada (validade absoluta) e, caso seja anulada, causa a extinção do ser (causalidade).

A lei moral também tem esses atributos, e eles se aplicam à relação entre ela e o ser humano. Contudo, na lei moral, o atributo da obrigatoriedade possui um elemento diferenciado, o livre-arbítrio (Gn 2:16, 17). O Criador estabeleceu que a observância da lei moral fosse um ato de livre escolha humana. A frase usada por Deus “da árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2:17) refere-se metaforicamente à lei moral. Ellen White favorece essa interpretação ao dizer que a “desobediência desconsiderada [de Adão e Eva] era a transgressão da imutável e santa lei de Deus” (Caminho a Cristo, p. 32). Paulo também ecoa esse conceito ao apresentar, em paralelo, os resultados da desobediência de Adão e da obediência de Cristo (Rm 5:19).

A queda da humanidade no Éden levou à efetivação do plano da salvação, cuja essência reside na morte substitutiva de Cristo, no lugar do transgressor da lei (Gn 3:15; Rm 3:24). A aceitação do sacrifício mediante a fé determina a revogação da pena, justificando, assim, o pecador (Gl 2:16; 3:11). Desse modo, a vigência da lei é anterior à manifestação da fé. Dito de outra maneira, no processo da justificação, a lei precede à fé.

Por sua vez, Paulo declara enfaticamente que ninguém é justificado pelo cumprimento da lei (Rm 3:20), embora ela tenha seu papel no processo da redenção, conforme reflete a orientação de Cristo ao jovem rico: “Se queres, porém, entrar na vida [eterna], guarda os mandamentos” (Mt 19:17). A lei moral é expressão do caráter de Deus e de Sua vontade para o homem (Êx 20:1-17), “por conseguinte, a lei é santa e o mandamento, santo, justo e bom” (Rm 7:12). Considerando sua origem divina, a lei é perfeita, e quem a praticar “esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg 1:25). Sem lei, o homem ficaria privado da noção do bem, pois é pela lei que vem o conhecimento do mal (Rm 3:20). O propósito ou finalidade da lei é conduzir o homem a Cristo (Rm 10:4). A lei, sendo espiritual, ajuda o homem carnal a praticar o bem (Rm 7:14-22). A ética cristã, alicerçada na prática de “levar as cargas uns dos outros”, é o cumprimento da lei (Gl 6:2).

Por fim, é importante lembrar o que Jesus afirmou em relação à lei: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5:17, 18). Portanto, a lei permanece após a fé.

Para alcançar a vida eterna, o homem pecador precisa de uma declaração de justiça, obtida gratuitamente pela graça divina (Rm 3:24), uma vez que ninguém é justificado por obras ou méritos próprios (Rm 3:20). Os méritos da justificação são atribuídos ao ministério de Cristo e à Sua morte vicária (Rm 5:6, 9). Portanto, a salvação é mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 3:22). Essa verdade já se encontrava no Antigo Testamento (Hc 2:4); porém, foi realçada no Novo Testamento (Rm 1:17). Contudo, as Escrituras indicam que a justificação pela graça mediante a fé não afeta a validade da lei.

Em suas duas formas de expressão, natural e moral, a lei encontra seu fundamento na vontade de Deus. Ela tem origem Nele, reflete Seu caráter e, como tal, manifesta Sua perfeição e eternidade (Mt 5:18). Além disso, foi elaborada e definida antes mesmo da existência de qualquer coisa no Universo. A lei natural estabelece os princípios, atributos e propriedades que todo ser criado por Deus manifesta. Assim, ela determina a existência de todo ser. A lei moral, à semelhança da lei natural, também foi elaborada por Deus, antes de o ser humano ser criado à Sua imagem. O conteúdo da lei moral orienta como as pessoas podem se relacionar com Deus e com seus semelhantes, podem amar a Deus e ao próximo, pois, “destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22:40). Além disso, as Escrituras apresentam uma relação de leis alimentares, higiênicas, pedagógicas, sociais, entre outras, que, pelo seu propósito, devem ser consideradas como extensões da lei moral. Finalmente, o apóstolo Paulo, visualizando essa relação, recomenda glorificar “a Deus no vosso corpo” (1Co 6:20); ou seja, observar a lei moral e sua extensão para o bem-estar da própria pessoa.

*RUBEN AGUILAR, doutor em Arqueologia, é professor emérito de Teologia do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)

(Este artigo foi publicado originalmente na edição de maio-junho da revista Ministério)



sexta-feira, 26 de julho de 2019

OS ADVENTISTAS FORAM CHAMADOS PARA PREGAR O “EVANGELHO ETERNO”, NÃO O “EVANGELHO COACHING”


Ricardo André

Recentemente participei de um encontro com cristãos adventistas e, depois, num outro momento, de um culto num templo adventista, em Lagarto, Sergipe. As programações desses dois eventos foram excelentes, mas a pregação para mim, foi triste demais, pois ao invés de ver a exposição das Sagradas Escrituras mediante a pregação da Palavra ouvi uma palestra motivacional. Logo percebi nitidamente que as “pregações” proferidas nessas duas reuniões religiosas não passaram de meros “coaching”, prática que atualmente se tornou um modismo nas igrejas evangélicas, e lamentavelmente tem enredado um número incontável de pastores e pregadores leigos adventistas. Mas, o que é o coaching? Quais são os perigos que essa prática representa para a vida cristã e para nossa identidade como a Igreja Remanescente da profecia bíblica?

Antes de analisarmos essa temática da “Teologia do Coaching” à luz das Sagradas Escrituras, é importante dizer que os pregadores adventistas que adotam tal prática no púlpito são pessoas que merecem nosso profundo respeito, pois são cristãos sinceros, e estão usando essa metodologia acreditando estar ajudando outros crentes a se desenvolverem espiritualmente e se aperfeiçoarem pessoalmente, não percebendo o erro que representa alinhar a mensagem bíblica a vãs filosofias e psicologias humanas. Todavia, nosso amor as verdades do evangelho de Jesus nos leva a apontar os diversos equívocos e os perigos dessa teologia para a igreja. Foi João Calvino, o grande reformador que, no momento de crise para a igreja da Reforma, enviou uma carta a Margarida de Navarra, que dizia: “Um cachorro ladra quando o seu dono é atacado”. E eu seria um covarde se visse a Igreja de Deus ameaçada e guardasse silêncio, sem dar sinal.

O que é o Coaching?

“Coaching” é um termo em inglês que, de acordo com o Portal Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), “é um processo definido como um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras. A metodologia visa a conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. Como se vê, o coaching se utiliza de diversas ciências e técnicas para auxiliar as pessoas e empresas a alcançarem suas metas, no desenvolvimento acelerado. Coaching virou febre no meio evangélico e em algumas igrejas adventistas. Hoje, é cada vez mais comum nos cultos vê-se uma pregação que é um mero coaching. Neste tipo de pregação, Deus vira um mero propiciador para me dar tudo aquilo que preciso ter nas áreas da minha vida. Se meus negócios não prosperam, basta eu colocar Deus como “parceiro”, que tudo irá prosperar. Se sou uma pessoa sem amigos e retraído, basta colocar Deus na coisa, que amanhã serei o homem mais “descolado” que existe.

Nessa pregação, geralmente, pegam-se dois ou três versículos bíblicos, mais dois ou três extratos do Espírito de Profecia (se o pregador for adventista) para se dizer que há uma base bíblica, e praticamente é só. O resto são apenas dicas de como posso melhorar minha vida, como posso realizar meus sonhos, alcançar o sucesso, a partir de proposições, que, no fundo, são meros sensos comuns de uma sociedade de consumo como a nossa, no estilo “fast-food”.

Em resumo, é uma pregação nitidamente individualista e antropocêntica, onde dificilmente o pregador vai confrontar os ouvintes a partir dos valores do Reino de Deus. Fica parecendo uma mera pregação “paz e amor”, “pregação coberta com açúcar”, feita sob medida, parecida com muitos destes livros rasos de autoajuda que se vendem aos montes nos nossos dias.

Indubitavelmente, a “teologia Coaching” é uma nova roupagem da enfraquecida Teologia da prosperidade, doutrina religiosa que desde seu surgimento, no final do século XIX, nos EUA, mobilizou (e ainda mobiliza) milhares de pessoas em todo o mundo a “exigir”, “reivindicar” ou “determinar” ao Espírito Santo que lhes conceda o sucesso material (riqueza) ou a cura de sua doenças. Não obstante não possuir nenhuma base bíblica, os pregadores da teologia da prosperidade ensinam que o crente jamais deveria ser pobre ou ficar doente, pois doença e pobreza estariam sempre relacionadas à falta de fé. Acontece que nos últimos anos essa teologia vem perdendo espaço. Isso deve-se, em grande parte, a exposição nas mídias sociais dos escândalos dos líderes que defendem essa teologia, que dá ênfase no dinheiro. A disputa ostensiva no mercado da fé pelos líderes das principais igrejas neopentecostais no Brasil, bem como o conhecimento de suas grandes fortunas oriundas da exploração comercial da fé nos cultos em seus templos contribuíram para a teologia da prosperidade perder força no Brasil e no mundo. Contudo, lamentavelmente, ela ainda faz muitas vítimas devido à falta de conhecimento das Sagradas Escrituras de muitos “crentes”. Mas, aos poucos, parte deste comportamento teológico está sendo substituído pela teologia do "coaching".

As contradições da Teologia do coaching

Ao se analisar as “frases de efeitos” e as técnicas empregadas pelos coach cristãos percebe-se claramente as contradições dessa teologia com as Sagradas Escrituras. De maneira que tais pregações nada tem que ver com a graça salvadora de Deus. Apontamos abaixo algumas dessas contradições.

1) A teologia coaching é antropocêntrica onde o foco é o homem e suas realizações pessoais.

Nas “pregações” coaching geralmente se fala coisas do tipo: Quer casar? Quer ser feliz? faça isso…Quer ser um empresário de sucesso? Quer ser um bom profissional? Faça aquilo… quer alcançar seus sonhos? Então faça isso...  Exatamente como fazem as propagandas de xampu: “faça isso e você obterá aquilo”. Note que o foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. Fé essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços dirigidos. Como se vê, a teologia coaching possui o mesmo teor antropocêntrico da Teologia da Prosperidade. Essa é uma teologia mais sutil, que parece mais humilde, mas na verdade transborda soberba ainda maior do que a Teologia da Prosperidade.

A analogia entre as duas teologias nos permite ver que em ambas o homem é o centro. A Teologia da Prosperidade propõe uma barganha com Deus crendo que Ele efetuará milagres para benefício material e espiritual do homem. Ao passo que a Teologia do Coaching eliminou a barganha ao deixar Deus de longe, mas passou a ter no próprio homem a força “milagrosa” para seu benefício material e espiritual. Enfim, temos na Teologia da Prosperidade que ainda há uma certa dependência de Deus e seu agir sobrenatural, enquanto na Teologia do Coaching o homem declarou sua independência. O relacionamento de barganha foi substituído para o relacionamento de plateia.

É preciso que se entenda que a autêntica pregação cristã e fiel é cristocêntrica. Em 1 Coríntios 2:2 Paulo escreveu: “Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado” (NVI). O apóstolo Paulo apresentava Cristo em todas as suas pregações. Ele não forçava nem adulterava o texto para pregar Cristo, mas o fazia porque o Senhor é encontrado, direta ou indiretamente, em toda passagem bíblica. O centro das Escrituras é Cristo e seu sacrifício. Todo o desenvolvimento da revelação se deu mediante este cerne, Jesus.

Pregação cristocêntrica não diz respeito a um método, meramente, mas a uma interpretação correta, centrada em Deus, e não no homem. E para se interpretar corretamente o texto inspirado, cristocentricamente, é necessário que se recorra, naturalmente, ao Deus Espírito Santo.

Ellen G. White fala exatamente dessa centralidade de Cristo em nossos sermões: “Exaltai a Jesus, vós que ensinais o povo, exaltai-O nos sermões, em cânticos, em oração. Que todas as vossas forças convirjam para dirigir ao "Cordeiro de Deus" (João 1:29) almas confusas, transviadas, perdidas. Exaltai-O, ao ressuscitado Salvador, e dizei a todos quantos ouvem: Ide Àquele que "vos amou e Se entregou a Si mesmo por nós". Efés. 5:2. Seja a ciência da salvação o tema central de todo sermão, de todo hino. Seja manifestado em toda súplica. Não introduzais em vossas pregações coisa alguma que seja em suplemento a Cristo, a sabedoria e o poder de Deus. Mantende perante o povo a Palavra da vida, apresentando Jesus como a esperança do arrependido e a fortaleza de todo crente. Revelai o caminho da paz à alma turbada e acabrunhada, e manifestai a graça e suficiência do Salvador” (Evangelismo, p. 185).

2) Não se fala em pecado, de arrependimento nem de tomar nossa cruz a cada dia

Em alguns cultos onde são proferidos sermões coaching não se fala mais de pecado, de vida eterna, de tomar nossa cruz a cada dia diante do fardo da vida, de se compadecer com os mais necessitados. Esquece-se que o Evangelho não é um “oba-oba”. Por isso, o próprio Jesus nos adverte que “estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida!” (Mt 7:14, NVI). Ao fazer esta declaração, Cristo claramente não tentou esconder a verdade. O caminho que conduz a vida eterna é estreito, não porque seja difícil encontrá-lo, mas porque é difícil trilhá-lo. Envolve sacrifício e renúncia diariamente do eu. E muitos não estão dispostos a renunciar o eu, os desejos carnais, os prazeres mundanos e o pecado. Há muita coisa boa nas boas novas. Há muitas bênçãos, mas Jesus também disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Marcos 8:34, NVI). Tomar nossa cruz significa matar nossos desejos carnais, morrer para nós mesmos e viver buscando cumprir a vontade de Deus em nossa vida em detrimento da nossa. Jesus está deixando claro que segui-Lo requer uma abnegação tão forte, capaz até mesmo de enfrentar as mais duras perseguições, dores, dificuldades e coisas parecidas por amor a Ele. De forma prática, tomar a sua cruz é viver no dia a dia fazendo as escolhas certas (que agradam a Deus) sem se importar com as consequências negativas (muitas vezes muito difíceis e dolorosas) que podem vir sobre nós, devido à resistência dos inimigos. Mas o Evangelho é tão fantástico que nos mostra que quando matamos nosso eu, crucificando nossa carne, na verdade não morremos, mas recebemos vida de Cristo. Ele passa a viver em nós. “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20, NVI), disse o apóstolo Paulo. Mas, essa mensagem do evangelho de negar a si mesmo não faz parte da teologia coaching adotada pelos diversos pastores e pregadores leigos adventistas, cujo foco é o sucesso e o poder. Tais coach se utilizam de argumentos de autoajuda, e muitas vezes, do poder do pensamento positivo como se fosse o evangelho.

3) Possui o objetivo de motivar pessoas

Os praticantes dessa técnica esquecem que as Escrituras devem ser a única e exclusiva forma de consolo, conforto, exortação, admoestação e motivação para o cristão. A própria Bíblia afirma:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16, 17, NVI).

“Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança” (Romanos 15:4, NVI).

Foi para trazer as bênçãos da instrução, da paciência e consolação que “o Deus de paciência e consolação” (Rm 15:5) fez com que as Sagradas Escrituras fossem escritas e preservadas até hoje. Estudar seus ensinos e aplicá-los em nossa vida nos ajuda a enfrentarmos com confiança as vicissitudes da vida, a tensão e o estresse. A Bíblia Sagrada também exorta-nos: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1 Pedro 5:7). De acordo com o texto sacro, Deus não quer que levemos o fardo da ansiedade em nosso peregrinar neste mundo. Ele quer que entreguemos a Ele, pois está disposto a levá-lo e dar-nos a paz de espírito que necessitamos. Ellen G. White declara: “A paz de Cristo, a paz de Cristo – dinheiro não a pode comprar; [...] ela é um dom de Deus (Testemunhos Seletos, v. 1, p. 579). Portanto, Cristo Jesus e Sua Palavra são suficientes para trazerem paz, alegria, ânimo, consolo, motivação, confiança e felicidade. Não precisamos de palestras motivacionais ou de livros de autoajuda. Basta corrermos para os braços de amor de Jesus e estudarmos Sua Palavra internalizando os princípios nelas contidas encontraremos poder para vencer a ansiedade, o medo e o fracasso.

Em resposta à pergunta sobre a recomendação de um livro de autoajuda feita no jornal Chicago Tribune ao Billy Graham, o famoso evangelista norte-americano, dá a sua resposta infalível: “eu gostaria de recomendar a você o maior livro ‘autoajuda’ já escrito: a Bíblia! Ela vai dizer, antes de tudo, que Deus criou você e Ele te criou com uma finalidade. O propósito é você conhecê-lo, viver pra Ele e fazer dele o centro e o fundamento de sua vida”.

O grande evangelista enfatiza, porém, que a Bíblia é diferente dos livros do gênero autoajuda. “Cada livro de autoajuda vai apenas lhe dar as ideias do autor, mas a Bíblia te dará a sabedoria de Deus sobre como viver” distingue Billy Graham.

“Finalmente, a Bíblia vai lhe dizer como viver! E, não apenas seguindo um conjunto de regras, mas pedindo a Deus para guiá-lo. Não depende das palavras falíveis dos homens. Mas pela fé voltar para Cristo e aceitá-Lo como seu Salvador e professor e guia” conclui. Ele está certo.

Portanto, ao empregar essas técnicas motivacionais, pastores e pregadores leigos, infelizmente, tem substituído de forma velada, a suficiência de Cristo e das Escrituras.

4) Promove falsa espiritualidade

Nas pregações coaching o apelo pode ser até espiritual, mas ainda assim ouve-se assaz frases do tipo “como ser o melhor marido”, “como atrair e fidelizar pessoas para o reino”, “alcançando sucesso através da fé.” “Homens e mulheres vencedores”. Tudo isso travestido de espiritualidade. O pano de fundo é o despertar no cliente (crente) o desejo material. Em vez de expor as Escrituras, muitos coach cristãos fazem de suas pregações palestras motivacionais confundindo evangelho com empreendedorismo e Cristo com um guru motivacional. Urge um retorno urgente às Escrituras onde Cristo é o centro das mensagens. E, estas levem os adoradores a uma experiência mais profunda com Cristo. As mensagens pregadas em nossas igrejas devem levar os crentes a conhecerem melhor a Jesus. “Quero conhecer a Cristo”, afirmou o apóstolo Paulo (Filipenses 3:10). A maior ambição do apóstolo dos gentios era conhecer a Jesus. A palavra grega para “conhecer” denota conhecimento íntimo. Conhecer a Cristo mais do que uma percepção intelectual, envolve afeição e compromisso também.

Ellen G. White explica o que significa conhecer a Jesus, ao declarar: “Embora conheçamos a Cristo em certo sentido, que Ele é o Salvador do mundo, conhecê-Lo significa mais do que isso. Precisamos ter conhecimento e experiência pessoais em Cristo Jesus – um conhecimento experimental de Cristo, do que Ele é para nós e do que somos para Cristo. Essa é a experiência de que todos necessitam” (Este Dia com Deus [MM 1980], p. 211). Infelizmente, as “pregações” coaching proferidas nos púlpitos de várias de nossas igrejas não possuem essa abordagem. Antes, estão “visando à conquista de grandes e efetivos resultados, com foco em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”.

Mas quantos que foram submetidos a teologia coaching já se arrependeram de seus pecados e conhecem realmente Jesus?

Então, como saber que você não está recebendo um “evangelho coaching” do seu pastor ou de um pregador leigo? Você deve estudar a Bíblia com a orientação do Espírito Santo. Você precisa procurar por si mesmo.

Fomos chamados a pregar o Evangelho Eterno

Em razão da cultura coaching ter invadido nossos arraiais, penso que devemos prementemente refletir acerca de nossa identidade como igreja remanescente e seu papel, os perigos que a teologia coaching representa, bem como reafirmar nossas crenças, sob pena dela a cada dia perder sua identidade.

Cremos que o Adventismo do Sétimo Dia é um movimento profético, suscitado por Deus num tempo específico para restaurar e proclamar algumas verdades distintivas. Discursando a Seus discípulos, Jesus declarou que um sinal do fim seria a proclamação do evangelho a todo o mundo (Mt 24:14), cujo cumprimento é descrito em Apocalipse 14. Com isso é indicado que, no tempo do fim, Deus enviará aos habitantes da Terra Sua mensagem de advertência, descrita simbolicamente pelo voo dos três anjos pelo meio do céu proclamando o evangelho eterno “aos que moram sobre a Terra” (v. 6). Esta mensagem profética, de alcance mundial (“cada nação, e tribo, e língua, e povo” – Ap 14:6) deve ser proclamada pelo povo remanescente de Deus no tempo do fim. Os adventistas do sétimo dia creem que têm esta mensagem para o mundo encontrada em Apocalipse 14:6-12.

O Adventismo é visto como um movimento singular por causa de três características distintas. Nenhuma outra igreja alega ter tais características, mesmo antes de a Igreja Adventista ter sido fundada oficialmente, em 1863.

Essas características específicas definem os adventistas como o único povo em quem podem ser encontradas:

1. Raízes proféticas, ou históricas, preditas em Apocalipse 10.

2. Identidade profética definida em Apocalipse 12.

3. Mensagem profética e missão indicadas em Apocalipse 14.

Os adventistas não alegam ter tais características devido a uma atitude de exclusividade religiosa ou jactância. O fato não é que os Adventistas do Sétimo Dia são “melhores do que”; ao contrário, são “diferentes de” outras igrejas.

Sobre esse ponto, muitos anos atrás, Ellen White escreveu: “De certo modo muito especial, os adventistas do sétimo dia foram postos no mundo como vigilantes e portadores de luz. A eles foi confiada a última advertência para um mundo que perece. Sobre eles está brilhando a maravilhosa luz vinda da Palavra de Deus. Foi-lhes dada uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Não há outra obra de tão grande importância. Não devem permitir que nada mais lhes absorva a atenção” (Testemunhos Para a Igreja, v.9, p. 19).

“Essas três mensagens angélicas correspondem à resposta divina aos extraordinários enganos satânicos que varrem o mundo antes do retorno de Cristo (Ap 13:3, 8, 14-16). Imediatamente em seguida ao último apelo divino dirigido ao mundo, Cristo retorna para efetuar a colheita (Ap 14:14-20)” (Nisto Cremos, p. 227).

Ora, se somos a Igreja Remanesce de Apocalipse 12:17, cuja missão profética é proclamar o evangelho eterno descrito em Apocalipse 14:6-12, então, cabe-nos o privilégio e a responsabilidade de, em nossas pregações, chamar a atenção do mundo para o Juízo final, o santuário celestial e o ministério intercessor de Cristo e restaurando a observância do verdadeiro dia de repouso, o sábado do sétimo dia. Estes e outros ensinos a eles ligados constituem a verdade presente, uma verdade para os últimos dias; mensagem oportuna, confiada ao povo do advento. São essas mensagens que temos que pregar “em tempo e fora de tempo” (1Tm 4:2). Logo, não fomos suscitados por Deus para pregar um “evangelho coaching”, que trata a igreja como um negócio, o evangelho como um tipo business e o crente um cliente que deve ser motivado a encontrar o caminho da felicidade seguindo regras e uma disciplina ditadas pelos coach cristãos, que em nada glorifica nosso Deus eterno e soberano.

Conclusão

A teologia do Coaching é maléfica e distante do cristianismo bíblico que leva o homem a negar a si mesmo, humilhar-se diante de Deus e depender dele em tudo.

Ter sucesso profissional e conquistar riquezas não é pecado em si, mas isso não pode ser um dos pontos centrais de nossa fé cristã tampouco de nossas pregações. Infelizmente na teologia do coaching, o Deus que é adorado é o próprio homem.

Precisamos de um retorno premente às Escrituras onde Cristo é o centro das mensagens. Eu suplico ao meu Deus que abra nossos olhos para que vejamos os perigos que representa introduzir a disciplina coaching em nosso meio. Que ao término de cada sermão, os crentes adventistas possam estar mais perto de Jesus, que a pregação bíblica e cristocêntrica prevaleça em todas as nossas reuniões de culto. Onde Deus for adorado, que ali tenhamos sempre o melhor, para o melhor: nosso compassivo Deus.

Caro leitor, é seu desejo ser cheio do Espírito Santo e ter uma mensagem não coaching em sua vida e em sua igreja? Vamos encorajar um ao outro a sermos verdadeiros cristãos estudando a Bíblia por nós mesmos, para sabermos o que constitui ter um relacionamento com o Senhor e sermos salvos. Você sabe se está recebendo o puro, não adulterado e potente combustível da verdade de Deus? Muitos serão enganados por luzes brilhantes e promessas de riqueza, mas poucos vão estudar por si próprios na Palavra e serem mudados. Qual deles é você?
















terça-feira, 23 de julho de 2019

SÁBADO: UM DIA DE LIBERDADE*


Luís Carlos Fonseca

“E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado.” Marcos 2:27

INTRODUÇÃO

Deus deixou o Sábado para todos usufruírem o descanso semanal. Este dia deve ser reservado para a libertação da ansiedade e stress acumulados durante a semana. Prevendo o esquecimento das pessoas, Deus disse: “Lembra-te do dia do sábado para o santificar.”

Como Jesus via o Sábado? Muitas pessoas veem somente aquilo que lhes interessa ver quanto à atitude de Cristo para com o sétimo dia. Induzidas pelo erro, alguns crêem que Jesus ignorou ou transgrediu, deliberadamente, o mandamento do Sábado. Na verdade, o Sábado é mencionado quase cinquenta vezes nos quatro Evangelhos, mais que nos cinco primeiros livros da Bíblia! Por isso, temos muitos registros históricos da atitude de Cristo para com o Sábado.

O exemplo dos discípulos, que colheram espigas no sábado, mostra que o quarto mandamento constitui na liberdade que este dia proporciona aos seguidores de Cristo. A ação dos discípulos de colher espigas no sábado é particularmente importante neste assunto. Jesus profere uma declaração fundamental. “O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” Marcos 2:27.

A ação dos discípulos de colher o cereal infringia o conjunto de leis judaicas derivadas de costumes e tradições detalhista e casuística, que proibia  colher, debulhar, crivar e moer no Sábado. Jesus veio;  reformou e restaurou à posição correta tal como designado na criação, onde o sábado foi feito para toda a humanidade e não apenas especificamente para Israel, como é reivindicado pelo judaísmo atual e da época de Cristo. Durante a criação, a vontade de Deus era, que o Sábado cumprisse o propósito de servir de descanso, liberdade e bênção para humanidade!

No exemplo de hoje vemos que Jesus Cristo compreendeu e explicou a verdadeira intenção do Sábado, ou seja, que foi criado para ser um dia de repouso dos afazeres cotidianos, sendo uma bênção e um benefício para toda a humanidade! Amém?

Muitas curas foram efetuadas no sábado para mostrar que este dia era dia de colocar em liberdade os cativos. Longe de anular o sábado, Jesus demonstrou que o sétimo dia é uma ocasião apropriada para ajudar e confortar aqueles que necessitam. O mandamento do Sábado não instruía ao povo sobre o que se devia fazer nesse dia, mas sim sobre o que não se devia fazer. Jesus esclareceu o que era aceitável a Deus: “Portanto, é lícito, dentro da lei de Deus, fazer bem nos sábados” Mateus 12:12.

A tradição judaica tinha ido muito além do mandamento de Deus, que ordena não trabalhar, e criado muitas regras que restringiam até mesmo as atividades básicas da vida, algo que jamais foi intenção de Deus.

Temos aproveitado o dia de sábado para usufruirmos as bênçãos de Deus, a devida liberdade que devemos receber e para ajudar o próximo em suas necessidades?

MANÁ SUFICIENTE

Este é o texto principal para hoje e mostra a importância que Deus deu à quantidade de maná recolhida em cada dia! “Esta é a palavra que o Senhor tem mandado: Colhei dele cada um conforme ao que pode comer, um ômer por cabeça, segundo o número das vossas almas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda. E os filhos de Israel fizeram assim; e colheram, uns mais e outros menos. Porém, medindo-o com o ômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que colhera pouco; cada um colheu tanto quanto podia comer.” Êxodo 16:16-18.

Deus deu o maná no deserto: “Eis que vos farei chover pão dos céus…” Ex. 16:4, mas a proposta era uma prova, e não uma bênção: “… para que eu o prove se anda em minha lei ou não”. Com a promessa veio algumas determinações: “… o povo sairá, e colherá diariamente a porção para cada dia…”, e o povo foi reprovado.

Após ser resgatado do Egito e transcorrer dois meses e quinze dias, o povo de Israel murmurou contra Moisés e Arão no deserto. Não consideraram a benevolência divina em dar-lhes liberdade e esperança de uma nova terra. Em vez de avançarem pelo deserto em busca da terra que manava leite e mel, lembraram do Egito com vontade de comerem do alimento que recebiam na condição de escravos.

O milagre do pão a fartar no deserto não mudou a compreensão do povo, e sentiram fastio do maná. Desejosos de outro alimento, lembraram do alimento do Egito. Ora, se lhes foi prometido uma terra onde manava leite e mel, porque não desejaram entrar na terra prometida? Por que tinham de lembrar da terra do Egito? Ora, o povo comia todos os dias o maná, e passaram a indagar: “Quem nos dará carne a comer?” Num. 11:4

Na história do maná aprendemos que devemos obedecer Deus em todos os pontos. O ponto de obediência consistia em, na sexta feira, apanharem porção em dobro para que no sábado não se apanhasse nada. O povo falhou no teste, mas Cristo Jesus obedeceu e não caiu em tentação. Depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, Jesus teve fome. O diabo aproveitou-se do momento, e propôs a Cristo: “Prove que você é o Filho de Deus e dá ordem que estas pedras transformem-se em pães”.

Um milagre, por mais maravilhoso que seja, não prova que o homem é filho de Deus, antes somente a palavra de Deus é que demonstra quem verdadeiramente é o seu Filho: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mateus 3:17. Deus manda os Seus filhos descansarem, confiarem, e não prová-lo. Ora, Cristo estava descansado na proteção de Deus, e utilizou a palavra de Deus para rebater a proposta do diabo.

O milagre do maná demonstra que a salvação só é possível através da fé. “No sexto dia, o povo colhia dois gômeres para cada pessoa. Os príncipes foram apressadamente informar a Moisés do que se havia feito. Sua resposta foi: "Isto é o que o Senhor tem dito: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar, ponde em guarda até amanhã." Assim fizeram, e acharam que ficara inalterado. E Moisés disse: "Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não haverá." Êxo. 16:23, 25 e 26.

“Deus exige que Seu santo dia seja observado hoje de maneira tão sagrada como no tempo de Israel. A ordem dada aos hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de Jeová. Deve fazer-se do dia anterior ao sábado um dia de preparação, a fim de que tudo possa estar em prontidão para as suas horas sagradas. Em caso algum devemos permitir que nossas ocupações usurpem o tempo santo. Deus determinou que se cuidasse dos doentes e sofredores; o trabalho exigido para lhes proporcionar conforto é uma obra de misericórdia, e não é violação do sábado; mas todo o trabalho desnecessário deve ser evitado. Muitos descuidadamente deixam até o princípio do sábado pequenas coisas que poderiam ter sido feitas no dia de preparação. Isto não deve ser assim. O trabalho que é negligenciado até o início do sábado, deve ficar por fazer-se até que haja passado este dia. Esta maneira de proceder pode auxiliar a memória daqueles que são imprudentes, e torná-los cuidadosos no fazerem seu trabalho nos seis dias a isto destinados.” Patriarcas e Profetas, 295 e 296

DUAS RAZÕES PARA O SÁBADO

Compare os dois textos e veja como eles se complementam entre si: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” Êxodo 20:8-11.

“Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor teu Deus. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; por isso o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado.” Deuteronômio 5:12-15

O sábado mostra que Deus é o Criador e Redendor da raça humana: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar”, é a testemunha de fé que Deus é Criador. Testifica de Cristo, e da salvação que Ele proveu para nós através de Sua morte na cruz. Testifica que é Seu poder que nos cria para sermos uma nova pessoa. Ele nos elevou e nos capacita a viver diariamente “em novidade de vida” Rom 6:1, 11. Ele é Aquele que nos santifica, e “Aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória” Judas 24, 25.

Apenas Deus pode tornar uma pessoa santa. “…guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o Senhor, que vos santifica”.

Existe uma obra especial que Deus faz nos crentes quando colocam à parte seus próprios negócios e atividades, e focalizando no Senhor Jesus Cristo, “Lembram do dia de sábado, para o santificar”.

O sábado da criação nos diz: “Não estamos sozinhos” “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus… Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” Heb 4:9, 14

A independência de Deus é o maior pecado da atualidade e resulta no pecado. A independência de Deus rompeu a linha de comunicação que Adão e Eva tinham com Deus. Resultou na decadência e morte. É a causa de todo mal. Cristo através de Sua vida e morte Se tornou o novo “meio de contato”. Agora, como nosso Sumo Sacerdote, “também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus” Heb 7:25. E o sábado é um meio de lembrar a redenção de Cristo!

Guardar o mandamento do sábado, em Cristo, é uma questão de fé em Cristo. As pessoas precisam conhecer a bênção do descanso do Sábado de Deus. Quando participamos do Sábado de Deus o descanso de torna um sinal da nossa fé em Deus, e da nossa dependência dEle, como Criador, Redentor e Salvador da raça humana.

E existe uma obra especial que Deus faz nos crentes quando colocam à parte seus próprios negócios e atividades e focalizando no Senhor Jesus Cristo, “Lembram do dia de sábado, para o santificar”. Amém?

UM DIA DE IGUALDADE

Deus Se alegra com a família que guarda o sábado. Neste dia, trabalho secular é cessado e a família tem garantido o seu dia especial com Deus. A paz, a alegria e o amor mútuo são manifestados em gestos de carinho, alegrando o coração do Criador que, por Sua vez, faz chover bênçãos sobre cada filho obediente.

O mandamento do sábado dá direitos iguais para todas as pessoas. Empregados e patrões podem descansar neste dia. Até os animais recebem o descanso. Veja o mandamento: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou.” Êxodo 20:8-11.

Grandes bênçãos estão envolvidas na observância do sábado, e a vontade divina é que esse dia seja para nós de profundas alegrias. Grande júbilo presidiu à instituição do sábado. Contemplando com satisfação as coisas que criou, Deus declarou "muito bom" tudo quanto tinha criado. Gên. 1:31. O céu e a terra vibravam então de alegria. "As estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam." Jó 38:7. Amém?

Assim como o sábado foi o sinal que distinguiu Israel quando saiu do Egito para entrar em Canaã, é, também, o sinal que deve distinguir o povo de Deus que sai do mundo para entrar no repouso celestial. O sábado é um sinal de afinidade entre Deus e o Seu povo, sinal de que este honra Sua lei. É o distintivo entre os fiéis súbditos de Deus e o transgressor.

Os sábados cerimônias apontavam para o futuro sacrifício do Messias e ocorriam em dias e períodos variados. Eram realizadas grandes festas religiosas e todo o povo era envolvido para manter viva na memória o Messias que deveria vir para oferecer a libertação definitiva do pecado. Lembrando apenas que o sábado do sétimo dia jamais foi substituído pelos sábados cerimoniais.

No dia de sábado os israelitas deviam descansar dos seus trabalhos e dar o mesmo dia de descanso para os seus servos e animais. Esta era uma cessação completa de trabalho. Qualquer trabalho que estivessem fazendo devia ser parado por um dia inteiro, a cada semana. O dia de sábado foi estabelecido para que as pessoas e animais pudessem descansar dos seus trabalhos e começar de novo depois do descanso de um dia. Um ponto importante a ressaltar é que tinha que ser o sábado e não um dia qualquer entre os sete dias da semana.

O descanso sabático envolvia cessar atividades físicas para se ter uma comunhão pleno com Deus e com a família. Não há nenhum outro descanso sabático além de Jesus. Só Ele satisfaz os requisitos da lei e oferece o sacrifício que expia o pecado, conforme Hebreus 4. Ele é o plano de Deus para que cessemos o trabalho de nossas próprias obras. Que não nos ousemos a rejeitar este único Caminho de salvação, conforme João 14:6. Amém?

UM DIA DE CURA

Encontramos sete curas realizadas por Cristo no sábado, estando cinco relatadas em Lucas e duas em João. Ver os milagres em Lucas 4:33, 38-39; 6:6-10; 13:10-17, 14:2-4; João 5:5-10 e 9:1-14. Alguns pontos estão claros ao examinarmos tais relatos. Vejamos: 1) Sempre que Jesus curava no dia de sábado, mas por fazer isso Ele era acusado de ser um transgressor do quarto mandamento. Ver o mandamento em Êxodo 20:8-11.

2) A defesa de Jesus era realizada de maneira enfática. Ele se defendia das acusações; como se Ele estivesse querendo provar aos fariseus que Ele não estava transgredindo o sábado, e o que Ele estava fazendo era lícito fazer aos sábados; o bem.  E de fato, Ele os convencia de que não estava transgredindo, tanto é que os Seus acusadores ficavam em silêncio.

3) Jesus não Se considerava um transgressor do Sábado. Muito pelo contrário, Ele colocava a guarda do sábado em um nível superior ao dos judeus. Ele Se declarava Senhor do Sábado. Marcos 2:27 e 28. Ver também Mateus 12:12.

Lembremos que o sábado é apenas um mandamento que está abaixo de Cristo e do homem, mas não é porque o homem e Cristo são superiores ao sábado, ele pode ser transgredido. O mandamento “honrar pai e mãe" está abaixo do pai e da mãe, mas nem por isso pode ser desobedecido. Percebeu?

Por que os judeus questionavam as curas no dia do sábado sendo que eram defensores dos cuidados dos animais neste dia? Porque para eles curar era uma espécie de trabalho, mas para Deus curar é fazer o bem. Os judeus legalistas eram mesquinhos, desumanos e desprovidos de qualquer misericórdia. É até irónico! Eles eram capazes de tirar uma ovelha que caísse num precipício, para evitar prejuízo material, mas não queriam que Jesus estendesse a mão para curar doentes e pecadores no dia de sábado. Incrível, não é?

Porque os judeus, nunca para Deus, curar era uma espécie de trabalho. Como pode? Você tem razão em questionar a maneira como eles guardavam o mandamento. Eram mesquinhos!  Em Lucas 13:15 Cristo chama os judeus de hipócritas quanto à guarda do sábado. Por que? Porque eles pretendiam guardá-lo, mas haviam colocado tradições, regras e mandamentos sobre o sábado que o próprio Deus jamais colocou. Quem quer que examine, hoje, os livros de ensinos e tradições dos judeus; Mishnáh, Talmud e outros, perceberá as incríveis distorções do mandamento sabático. Em suas leis podiam socorrer um animal no dia de sábado, e porque criticavam Jesus por curar nesse dia?

Jesus é o Senhor do sábado porque Ele criou o sábado. Ver Gênesis 2:2, e deu-o como mandamento no Sinai. Ver Êxodo 20, e o ratificou com Sua vida aqui. Jesus jamais transgrediu aquilo que Ele mesmo estabeleceu. O significado do sábado, como guardá-lo hoje, como distingui-lo dos demais dias é um dever de todo o homem temente a Deus! A compreensão e a prática desse mandamento só são alcançadas em plena comunhão com Cristo, o Senhor do Sábado, e disposição humilde em aceitar as verdades da Palavra de Deus. Que Deus nos capacite para guardarmos o mandamento do sábado no espírito e não na letra da lei

DESCANSO SABÁTICO PARA A TERRA

Deus tomou explícitas providências quanto a recuperação da terra, ao tratamento dos pobres e dos estrangeiros. Deus disse assim: “Disse o Senhor a Moisés, no monte Sinai:   Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando entrardes na terra, que vos dou, então, a terra guardará um sábado ao Senhor.   Seis anos semearás o teu campo, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos.   Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha.  O que nascer de si mesmo na tua seara não segarás e as uvas da tua vinha não podada não colherás; ano de descanso solene será para a terra.   Mas os frutos da terra em descanso vos serão por alimento, a ti, e ao teu servo, e à tua serva, e ao teu jornaleiro, e ao estrangeiro que peregrina contigo; e ao teu gado, e aos animais que estão na tua terra, todo o seu produto será por mantimento.” Levítico 25:1-7

O ano sabático era comemorado após 6 anos de plantio e no ano seguinte a terra descansava. O objetivo era dar um descanso para a terra, levar o povo a reconhecer as providências divinas, incentivar a sociabilidade e a educação. Existem dois tipos básicos de sábado: o sábado do sétimo dia e os sábados cerimoniais.

Os dias de descanso cerimoniais anuais, em conjunto com o festival de ciclo anual, não estavam relacionados aos sábados do sétimo dia ou ao ciclo semanal. Cada um desses outros sábados, ou dias de descanso, tinham uma data fixa para serem celebrados e assim caíam em dias diferentes da semana a cada ano. Eram, portanto, propriamente chamados sábados anuais, em contraste com os sábados semanais. O sábado do sétimo dia continua vigente porque é eterno. Portanto, aquele que não guarda o quarto mandamento está em plena desobediência!

Veja este comentário inspirado sobre o ano sabático: “A observância do ano sabático devia ser um benefício tanto para a terra como para o povo. O solo, ficando sem ser cultivado durante um ano, produzia mais abundantemente depois. O povo estava livre dos trabalhos apertados do campo; e, conquanto houvesse vários ramos de trabalhos que podiam ser efetuados durante este tempo, todos podiam se dedicar a maior lazer, o qual oferecia oportunidade para a restauração de suas capacidades físicas para os esforços dos anos seguintes. Tinham mais tempo para a meditação e oração, para se familiarizarem com os ensinos e mandados do Senhor, e para a instrução de sua casa....

“No ano sabático, os escravos hebreus deviam ser postos em liberdade, e não deviam ser despedidos de mãos vazias. A instrução do Senhor foi: “Quando o despedires de ti forro, não o despedirás vazio. Liberalmente o fornecerás do teu rebanho, e da tua eira e do teu lagar; daquilo com que o Senhor teu Deus te tiver abençoado lhe darás.” Deut. 15:13 e 14” Patriarcas e Profetas, 531 e 532.

Após sete anos sabáticos, isto resultava no ano 49, vinha o ano jubileu, que era o ano 50. Nesse ano eram devolvidas as terras e tudo mais como já estudamos.

ESTUDO ADICIONAL E COMENTÁRIOS DA LIÇÃO 3 (3º trimestre de 2019) SÁBADO: UM DIA DE LIBERDADE

O sábado deve ser um dia de alegria e de bênçãos! O sábado foi instituído para ser um dia de restauração emocional, física e espiritual dos filhos de Deus. Deus também deseja que aproveitemos esse dia para estendermos a nossa influência aos nossos amigos, parentes e vizinhos, fazendo-lhes o bem.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia reconhece o sábado como sinal distintivo de lealdade a Deus. Ver Êx 20:8-­11; 31:13-­17; Ez 20:12, 20, cuja observância é pertinente a todos os seres humanos em todas as épocas e lugares, ver Isaías 56:1-7; Mac 2:27. Quando Deus “descansou” no sétimo dia da semana da criação, Ele também “santificou” e “abençoou” esse dia, Gên 2:2, 3, separando-o para uso sagrado e transformando-o em um canal de bênçãos para a humanidade. Aceitando o convite para deixar de lado seus “próprios interesses” durante o sábado, ver Isa 58:13, os filhos de Deus observam esse dia como uma importante expressão da justificação pela fé em Cristo, conforme Heb 4:4-11.

A observância do sábado é enunciada em Isaías 58:13, 14 nos seguintes termos: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor.”

No sábado somos convidados a fazermos o bem: “Se era lícito a David satisfazer a fome comendo do pão que fora separado para um fim santo, então era lícito aos discípulos prover a sua necessidade colhendo umas espigas nas sagradas horas do sábado. Ademais, os sacerdotes no templo realizavam maior trabalho no sábado que em outros dias. O mesmo trabalho, feito em negócios seculares, seria pecado, mas a obra dos sacerdotes era realizada no serviço de Deus. Estavam praticando os ritos que apontavam ao poder redentor de Cristo, e seu trabalho achava-se em harmonia com o desígnio do sábado. Agora, porém, viera o próprio Cristo. Os discípulos, fazendo a obra de Cristo, estavam empenhados no serviço de Deus, e o que era necessário à realização dessa obra, era direito fazer no dia de sábado.” O Desejado de Todas as Nações, 285.

“O sábado não se destina a ser um período de inútil inatividade. A lei proíbe trabalho secular no dia de repouso do Senhor; o labor que constitui o ganha-pão, deve cessar; nenhum trabalho que vise prazer ou proveito mundanos, é lícito nesse dia; mas como Deus cessou Seu labor de criar e repousou ao sábado, e o abençoou, assim deve o homem deixar as ocupações da vida diária, e devotar essas sagradas horas a um saudável repouso, ao culto e a boas obras. O ato de Cristo em curar o enfermo estava de perfeito acordo com a lei. Era uma obra que honrava o sábado” O Desejado de Todas as Nações, 207.

*Comentário da Lição da Escola Sabatina, Lição 3 (3o Trim/2019).