Teologia

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

SEM UM PROFETA VIVO

Como a Igreja Adventista procurou ajustar-se à obra de Ellen White após sua morte

Em 8 de dezembro de 1925, Willie C. White escreveu alegremente para sua filha Ella May White Robinson: "O melhor de tudo é que a Comissão da Conferência Geral 'se deparou' e declarou (sem registro) que a questão da impressão de testemunhos [manuscritos] pertencia aos curadores... Sexta-feira, 20 de novembro, a Comissão da Conferência Geral libertou os curadores."1

Com estas palavras, Willie White proclamou uma nova era para Ellen G. White e para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mas essa nova era não veio sem uma batalha prolongada e às vezes amarga sobre o lançamento da obra da Sra. White, a natureza da sua inspiração e a atitude da Igreja em relação aos seus escritos. Uma análise desse conflito oferece hoje à Igreja Adventista do Sétimo Dia alguns insights altamente valiosos.

Por mais de dez anos após a morte de Ellen White, o exato papel e propósito dos escritos de Ellen White foram controversos. A questão de como resistir sem um profeta vivo desafiou uma igreja que sempre confiou na disponibilidade imediata de um profeta. Assim, após a morte da Sra. White, seguiu-se um debate dentro do Adventismo quanto ao papel preciso de Ellen White e seus escritos.

O debate centrou-se principalmente na autoridade dos seus escritos, algo semelhante à controvérsia modernista/fundamentalista que então ocorria fora do Adventismo relativamente à autoridade e inerrância das Escrituras.2

Ellen G. White morreu em 16 de julho de 1915. Dentro de um ano, a versão final de Profetas e Reis foi concluída. Feito isso, surgiu a questão quanto ao propósito do pessoal em Elmshaven. Na maioria dos dias, Willie White compunha sozinho a equipe e após o estabelecimento do Ellen G. White Trust, ele tinha muito pouco para fazer. Embora sua mãe tenha declarado especificamente que Willie foi "comissionado" para ser responsável por seus escritos, surgiu uma divisão entre os curadores sobre que material deveria ou não ser publicado. AG Daniells, entre outros líderes religiosos, opôs-se à publicação de quaisquer novos materiais. Embora Daniells mais tarde concordasse que Ellen White havia providenciado a publicação de materiais não publicados sob circunstâncias adequadas, ele e a maioria dos outros líderes em Washington se opuseram a Willie White e àqueles que queriam que tudo fosse disponibilizado.

A POSIÇÃO E AÇÕES DE CLAUDE HOLMES

A publicação de novo material tornou-se plataforma de lançamento para novas controvérsias. Daniells e outros usaram as palavras do próprio Willie White para limitar o papel de Willie no lançamento de qualquer material novo. Apenas três meses após a morte de sua mãe, Willie escreveu que sua mãe lhe disse: "Enquanto eu viver, quero que você faça tudo o que puder para acelerar a publicação de meus escritos na língua inglesa, e depois que eu morrer, quero que você trabalho para sua tradução e publicação em línguas estrangeiras."3 À luz disto, durante quase uma década, Daniells e outros lembraram a Willie White que o trabalho de maior importância era a tradução dos escritos de Ellen White para tantas línguas quanto possível.

Alguns alegaram que o interesse próprio foi a razão pela qual Daniells e outros não quiseram publicar material não publicado. Dizia-se que estes testemunhos não publicados continham fortes críticas dirigidas tanto a AG Daniells como a WW Prescott. Este conflito interno atingiu a raiz da controvérsia sobre o uso de Ellen White e dos seus escritos e levantou a questão de qual o papel que os escritos pessoais de um profeta deveriam desempenhar num mundo em que ela já não estava presente.

Para pessoas como Claude Holmes, funcionário da Review and Herald e autoproclamado especialista em Ellen White, e JS Washburn, pastor/evangelista e defensor vocal do Espírito de Profecia, esses testemunhos pessoais foram de vital importância.

Em 1917, enquanto Daniells estava em viagem ao Extremo Oriente, Claude Holmes obteve acesso ao cofre da Associação Geral, que continha cópias encadernadas dos testemunhos não publicados. Holmes era bem conhecido na Conferência Geral como um índice humano dos escritos da Sra. White. Convencido de que os manuscritos não publicados continham informações vitais contra seus oponentes na controvérsia "diária", Holmes procurou a munição necessária para combater Daniells e Prescott.

Quando Daniells voltou, a Conferência Geral exigiu que Holmes devolvesse todas as cópias feitas dos testemunhos ou seria demitido. Holmes admitiu ter feito sete cópias dos testemunhos não publicados. Mas ele e outro destinatário recusaram-se a devolver as cópias. Holmes perdeu o emprego na Review,4 e mudou-se para Oak Park, Illinois, mas manteve contato com vários indivíduos, amigos e inimigos, pelo resto da vida.5

A CONFERÊNCIA DE 1919

Holmes e outros que acreditavam que Daniells e Prescott procuravam acabar com o Espírito de Profecia encontraram garantia de que estavam certos no Conselho de Professores de Bíblia e História, realizado em Takoma Park, Maryland, após a Conferência Bíblica de 1919. Numa série de mesas redondas, AG Daniells e outros líderes da Associação Geral, juntamente com professores adventistas de Bíblia e História, apresentaram uma visão dos escritos de Ellen White que era totalmente inaceitável para homens como Claude Holmes.

Durante uma extensa sessão de perguntas e respostas em 30 de julho, AG Daniells defendeu sua posição sobre o Espírito de Profecia: "Não quero dizer uma palavra que destrua a confiança neste dom para este povo. Não quero criar dúvidas, Não quero de forma alguma depreciar o valor dos escritos do espírito de profecia."6 Ainda assim, ele achava importante colocar os escritos de Ellen White num contexto.

Embora Daniells afirmasse a exatidão dos escritos de Ellen White, sua aparente ou percebida falta de apoio à importância dos “Testemunhos” deixou espaço para dúvidas. Quando WW Prescott questionou Daniells sobre o uso do Espírito de Profecia como uma “autoridade pela qual resolver questões históricas”, o afastamento de ambos os homens da ortodoxia pareceu completo.

"Pelo que entendi", disse Daniells, "a irmã White nunca afirmou ser uma autoridade em história, e nunca afirmou ser uma professora dogmática em teologia... e como eu entendi, onde a história que se relacionava com a interpretação da profecia era clara e expressiva, ela a inseriu em seus escritos; mas sempre entendi que, no que lhe dizia respeito, ela estava pronta para corrigir na revisão as declarações que ela achava que deveriam ser corrigidas.7 Mais tarde, quando pressionado sobre esse assunto, Daniells disse: “Nunca entendi que ela colocasse infalibilidade em citações históricas”. HC Lacey respondeu: "mas há quem o faça."8

Lacey destacou o que muitos na Conferência Bíblica entenderam quando ele disse sobre o Espírito de Profecia: “Seu valor para nós não está mais na luz espiritual que ele lança em nossos próprios corações e vidas do que na precisão intelectual em questões históricas e teológicas? ... a prova final do espírito de profecia não é o seu valor espiritual e não a sua exatidão histórica?" Daniells concordou.

Parece que Willie White também concordou. Ele escreveu um ano depois: “Não era plano ou propósito de minha mãe escrever livros que deveriam ser usados ​​para corrigir a história e a cronologia; o objetivo de seus livros é trazer à tona os grandes fatos relativos ao plano de redenção, e ela usou dados históricos citações para ilustrar o caráter da controvérsia."9

Mais tarde, Daniells disse: "Digo-lhes uma coisa: uma grande vitória será obtida se tivermos um espírito liberal, de modo que tratemos os irmãos que divergem de nós nas interpretações dos Testemunhos da mesma maneira cristã como os tratamos quando eles divergem" sobre a interpretação da Bíblia."10

ME Kern moveu o debate de 1919 para cobrir a natureza da inspiração: “A irmã White foi uma profetisa assim como Jeremias foi, e que com o tempo seu trabalho aparecerá como o de Jeremias, de falar e talvez de escrever algo que foi, como Paulo disse, por sua própria autoridade. Eu me pergunto se, naquela época, as pessoas não tinham dificuldade em diferenciar entre o que era do Senhor e o que não era. WH Wakeham sugeriu que os jovens universitários “aceitaram os Testemunhos em todo o país e acreditam que cada palavra idêntica que a Irmã White escreveu deveria ser recebida como verdade infalível”. GB Thompson acrescentou: “Não ensinamos a verdade e colocamos os Testemunhos num plano onde ela diz que não se sustentam. Reivindicamos mais por eles do que ela”.11

HOLMES E WASHBURN DEPOIS DE 1919

Para Claude Holmes e JS Washburn, as declarações de Daniells e outros na conferência de professores eram uma heresia modernista. Holmes escreveu um panfleto" Temos um 'Espírito de Profecia' infalível?" no qual ele perguntava: "Um me diz que seus livros não estão em harmonia com os fatos históricos, outro que ela está errada cientificamente, outro ainda contesta suas afirmações teologicamente e outro questiona sua autoria, e outro desacredita seus escritos gramaticalmente e retoricamente. Sobrou alguma coisa? Se todas essas afirmações forem verdadeiras, quanto Espírito de Profecia a igreja remanescente possui?"12

O problema de Holmes com a posição de AG Daniells, WW Prescott e outros líderes da igreja centrava-se em diferentes perspectivas a respeito da natureza inerente do Espírito de Profecia. Numa carta a Willie White em 1926, Holmes declarou sua posição: "Adoro os escritos de sua mãe. Eles são todos escrituras para mim."13 Assim como os fundamentalistas lutaram pela inerrância das Escrituras, Holmes lutou para defender o que considerava ser as Escrituras.

Holmes e Washburn sentiram que era seu dever defender a integridade do Espírito de Profecia. Holmes escreveu: “A própria honra de Deus está em jogo na integridade de seu mensageiro”. Ciente da natureza precária de sua posição, ele continuou: “Vários me disseram: 'Oh, você está fazendo da Sra. White um papa.' Eu respondo: 'Nunca!' Eu não diminuiria a dignidade e autoridade da mensageira de Deus colocando-a no mesmo nível de um Papa. Ela está muito acima e superior a qualquer Papa... A infalibilidade dos Papas não significa que eles sejam inspirados." E foi ainda mais longe: “A irmã White é inspirada, tanto quanto qualquer profeta bíblico, e suas revelações não se limitam a questões morais”.14 É óbvio que a posição de Holmes sobre o Espírito de Profecia baseava-se num fundamento muito diferente daquele da maioria dos presentes na Conferência Bíblica de 1919.

O CALOR DO DEBATE

O debate sobre quem realmente sabia como se relacionar com os escritos de Ellen White incluía mais do que apenas perspectivas teológicas. Em uma resposta de carta aberta concordando com Have We An Infallible Spirit of Prophecy?, JS Washburn desencadeou um ataque contundente a WW Prescott. “Seu ensino”, escreveu ele, “era como um eco triste do passado, uma voz vinda do túmulo. Não tinha o tom da mensagem dos Adventistas do Sétimo Dia, mas era como o ensino de alguns dos líderes populares modernos evangelistas." Para Washburn, Prescott desviou-se do Adventismo ortodoxo e aceitável.

Depois de ouvir uma das apresentações de Prescott, Washburn disse-lhe: "Você abriu a porta para uma enxurrada de ensinamentos novos e estranhos. E alguns dos professores podem ter ido mais longe do que você. Mas você foi a fonte da nova teologia." Washburn observou que Prescott foi embora sem apertar sua mão: "Lamento muito que ele tenha mostrado tamanha falta de caridade cristã, mas o que mais poderia ser esperado de alguém cujos ensinamentos fizeram do colégio um ninho de críticas superiores, descrença nos testemunhos e infidelidade real."15

Washburn escolheu frases de efeito da batalha fundamentalista contra o modernismo e as usou em suas próprias batalhas dentro da Igreja Adventista. Nas suas cartas a Holmes e a vários líderes adventistas, Washburn atacou tanto os funcionários da Associação Geral como o departamento religioso do Washington Missionary College, pelas suas posições “liberais”. Suas preocupações variavam desde questões específicas sobre o “cotidiano” até questões teológicas mais amplas relacionadas ao uso da “alta crítica” nos estudos bíblicos.16

O que Holmes, Washburn e outros temiam era que a Igreja minimizasse a força do Espírito de Profecia. Assim, eles tentaram conter essa maré através de ataques contra aqueles que consideravam seus oponentes. Ao produzirem “compilações” dos escritos de Ellen White, eles esperavam assegurar que “a mensagem” passaria despercebida pelos canais oficiais da igreja.

Numa carta a FM Wilcox, Daniells disse: "Homens como JS Washburn e Claude Holmes estão travando uma guerra tão violenta contra alguns de nós, homens, que devemos ser extremamente cuidadosos para que muitos de nosso povo não tenham sua fé em nós totalmente abalada. Eu acabei de ler as cartas abertas de Washburn ao irmão MacGuire. Para mim, elas não são absurdas, mas sim diabólicas em espírito.17 Holmes e Washburn, mesmo depois de grande parte da sua agenda se ter tornado política de facto da Igreja, continuaram a travar a batalha até à sua morte.

A POSIÇÃO ASSUMIDA PELA CONFERÊNCIA GERAL

Enquanto a batalha das Conferências Bíblicas e dos folhetos se travava na costa leste americana, Willie White travou a sua própria batalha pela relevância no oeste. De um modo importante, a luta de Holmes e Washburn para divulgar todos os escritos de Ellen White unificou-os com Willie White. Um ano após a morte de Ellen White, numa série de cartas a AG Daniells e outros, Willie White lamentou a falta de apoio que a Comissão da Associação Geral deu para promover publicações aprovadas, dizendo: "Nos anos anteriores, quando qualquer livro novo era publicado, era feito dos escritos da Mãe, nossos líderes notaram isso e disseram uma boa palavra sobre isso. Eu me pergunto se seria pedir demais de você dizer uma palavra em seu favor, ou fazer uma citação dele em alguns de seus artigos ... À medida que vou de um lugar para outro e falo sobre isso aos nossos ministros, descubro que muitos deles não sabem que tal livro existe."18

Embora Willie White possa ter simplesmente procurado encontrar um papel no conflito e Holmes e Washburn lutassem pelo princípio da inerrância, a posição da Comissão da Conferência Geral era muito menos certa. Embora muitos tivessem fortes convicções sobre o uso dos escritos da Sra. White, a forma como lidaram com o conflito não parecia ser guiada por qualquer ideologia definida. Ironicamente, muitos dos que estavam mais próximos de Ellen White em seu trabalho enquanto ela ainda estava viva foram os que mais lutaram para restringir futuras divulgações de seus escritos.

Em 1921, AG Daniells escreveu a Willie White: "Não creio que você obterá o consentimento dos irmãos para usar esses manuscritos não publicados, a menos que possam examiná-los e obter alguma evidência forte que lhes seja dada para contrariar as profundas convicções que sustentam toda essa questão."19 Concordando que o bem pode advir da publicação de alguns manuscritos anteriormente não publicados, “sob supervisão e restrições adequadas”, Daniells concluiu: “Os irmãos que não têm clareza quanto à publicação de manuscritos não publicados não são incrédulos no Espírito de Profecia. São homens verdadeiros, que têm o bem-estar e o triunfo desta causa tão seriamente no coração como qualquer outro que viva."20

Embora a questão dos manuscritos não publicados possa ter desempenhado um papel na relutância da Comissão da Conferência Geral em “libertar” Willie White, existe outra possibilidade importante. Muitos acreditavam que o “cânon” dos escritos de Ellen White deveria ser encerrado. Respondendo à declaração de Willie White de que se sentia "extremamente angustiado quando penso na minha parte na responsabilidade de ocultar esta luz ao povo",21 Daniells explicou a posição da Comissão da Conferência Geral referindo-se a "quatro dos administradores, e o sentimento pronunciado por parte de nossos irmãos na Comissão da Associação Geral, que compreenderam, desde a morte da Irmã White, que aquilo que ela mesma não fez com que fosse publicado não seria publicado pelos curadores." No entanto, Daniells pareceu então abrir ligeiramente a porta quando concluiu dizendo: "parece-nos que antes de fazer isto, deveríamos ter uma discussão justa e aberta de toda a questão por parte dos nossos líderes. Devemos manter a fé neles até um novo entendimento pode ser alcançado."22

UMA NOVA COMPREENSÃO

O que seria esse novo entendimento ficou claro em uma carta de 19 de novembro de 1925 que Willie White recebeu de BE Bedoe "Em nome do Comitê". Nesta carta, Bedoe refere-se ao testamento da Sra. White e às instruções que ela deixou pessoalmente de que “os curadores deveriam assumir todas as responsabilidades neste assunto”. Estas foram as palavras que “libertaram” Willie White para avançar em seu trabalho.

O que causou esta atitude liberalizada em relação à divulgação da obra de Ellen White pela Comissão da Associação Geral ainda não está claro. Embora os fundamentalistas fora do Adventismo parecessem ficar cansados ​​da luta que se seguiu ao julgamento de Scopes,23 dentro do Adventismo parece que Daniells e aqueles que procuraram incutir uma visão moderada-progressista dos escritos de Ellen White também se cansaram da batalha.

AG Daniells sugeriu a mudança de humor em uma carta de 22 de julho de 1925, quando disse: "Acho que lhe disse que minhas opiniões sobre esta questão foram um pouco modificadas nos últimos anos."

Embora nunca tenham aderido publicamente à forte linguagem de inerrância e infalibilidade que Claude Holmes e JS Washburn continuaram a proclamar pelo resto de suas vidas, a década de 1940 encontrou pouco desconforto dentro da Igreja Adventista com a ideia de um “cânone” cada vez maior de Ellen G. Escritos de White. O ponto alto da abertura à discussão do seu papel foi a Conferência Bíblica de 1919. Desde então, embora se separe da corrente principal do debate modernista/fundamentalista sobre as Escrituras, o adventismo continua a lutar com os argumentos básicos desse debate dentro do contexto exclusivamente adventista, mesmo no que se refere aos escritos de Ellen White.

 

Referências:

1. WC White para Ella May Robinson, 8 de dezembro de 1925 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

2. Sobre as questões centrais envolvidas no debate modernista-fundamentalista, ver George M. Marsden, Fundamentalism and American Culture: The Shaping of Twentieth-Century Evangelicalism: 1870-1925 (New York: Oxford University Press, 1980), 160.

3. Willie C. White para “Querido amigo”, 20 de outubro de 1915 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

4. Atas do Comitê da Conferência Geral, 27 de março de 1917 (Silver Spring, Maryland: Arquivos da Conferência Geral).

5. LeRoy E. Froom. Arquivos de referência, anos 1920-30, pasta Claude E. Holmes, (Silver Spring, Maryland: Arquivos da Conferência Geral).

6. AG Daniells, “O Uso do Espírito de Profecia em Nosso Ensino da Bíblia e da História”, Reimpresso em Spectrum: The Journal of the Association of Adventist Forums , julho de 1979, 27.

7. Ibid., 34.

8. Ibid., 38.

9. WC White para WJ Harris, 9 de dezembro de 1920 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

10. “O Uso do Espírito de Profecia em Nosso Ensino da Bíblia e da História”, 43.

11. Ibidem.

12. Holmes, temos um 'espírito de profecia' infalível? 1º de abril de 1920, CE Holmes Document File 352 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate), 8.

13. Holmes para WC White, 31 de outubro de 1926.

14. Holmes, temos um 'espírito de profecia' infalível? 10.

15. JS Washburn, The Startling Omega e sua verdadeira genealogia. Arquivo de documento JS Washburn de 1920 242 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate), 1,3.

16. Ibidem.

17. Ibidem.

18. WC White para AG Daniells, Carta, 3 de agosto de 1916 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

19. Ibidem.

20. AG Daniells para WC White, Carta, 22 de julho de 1925 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

21. WC White para AG Daniells, Carta Número 1, 5 de maio de 1925 (Silver Spring, Maryland: Ellen G. White Estate).

22. AG Daniells para WC White, Carta, 22 de julho de 1925.

23. Marsden, 191.

 

FONTE: Revista Ministry Magazine, dezembro 2000.

 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

ALÉM DAS LUZES

Wellington Barbosa*

Resgatando o verdadeiro significado do Natal

Aos poucos, o cenário vai se transformando. Lâmpadas coloridas iluminam a fachada de casas e prédios, as vitrines dos shopping centers e dos centros populares de compras são decoradas com caixas de presente vermelhas fechadas com laços dourados e, em lugar de destaque, pinheiros decorados de diferentes tamanhos quase se tornam onipresentes. Mesmo em meio a uma onda histórica de calor no Brasil, imitações de flocos de neve e pelúcias de ursos polares e renas ocupam com naturalidade os espaços públicos. Como protagonista da festa, surge a figura de um senhor idoso, simpático e com um saco de presentes, que cativa a atenção de crianças e adultos dispostos a enfrentar filas para tirar fotos ou receber, ao menos, alguma guloseima. Diante desse quadro festivo, alguns suspiram com ar de nostalgia: “Ah, o Natal!”

Discretamente, ou nem tanto, luzes, cores, cheiros e sabores encobriram o sentido da data comemorada em dezembro. Recursos periféricos e coadjuvantes criados ao longo do tempo assumiram o centro das festividades, e o verdadeiro Protagonista da história, para muitos, ficou relegado ao segundo plano. E isso, para mim, é sintomático. Se Jesus tem sido esquecido no período em que tradicionalmente as pessoas deveriam relembrar Seu nascimento, o que dizer dos demais meses do ano? Isso ajuda a explicar as condições em que a humanidade se encontra. O apóstolo Paulo afirmou que nos últimos dias viveríamos tempos difíceis, pois os seres humanos seriam “egoístas, avarentos, orgulhosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, convencidos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo forma de piedade, mas negando o poder dela” (2Tm 3:1-5). Um retrato diametralmente oposto àquilo que representa a pessoa de Cristo e que descreve em essência aquilo que vemos no cotidiano.

O problema é que de tanto ver notícias que espelham essa descrição, ou até mesmo conviver com elas, temos sido anestesiados. Para muitos, o que deveria ser anormal para um cristão já não é mais, e a vida segue seu curso indiferente às condições estranhas aos planos de Deus. A mensagem do Salvador tem sido apreciada como peça literária que satisfaz por sua beleza e profundidade, mas isso não significa que lhe tenha sido permitido transformar o coração. O apelo apostólico em Romanos 12:2 é enfático: “E não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”

Mente renovada. Quando isso acontece, logo já não somos nós que vivemos, mas Cristo vive em nós (Gl 2:20), e agora, nossa vida naturalmente passa a demonstrar publicamente as virtudes do Salvador. Tornamo-nos verdadeiros imitadores de Deus (Ef 5:1) e encarnamos os valores de Seu reino. Humildade, mansidão, justiça, misericórdia, pureza e coragem contrastam com soberba, ira, injustiça, intolerância, impureza e covardia. Em um mundo insosso e escuro, nossa presença dá sabor e ilumina (Mt 5:3-16).

Longe da superficialidade com que muitos encaram as festividades do fim de ano, precisamos nos voltar para o motivo da principal comemoração. É tempo de refletir sobre o que significa o nascimento de Cristo em uma perspectiva pessoal. Ele nasceu para que tivéssemos vida plena (Jo 10:10) e reproduzíssemos essa plenitude na vida de outros (Jo 7:38). Se as pessoas e a comunidade ao nosso redor não são impactadas com nossa presença nem abençoadas com nosso testemunho, algo está errado. Que o Natal seja um ponto de virada em nossa jornada, e o novo ano se torne a oportunidade de continuar escrevendo uma história melhor.

 

*WELLINGTON BARBOSA é editor da Revista Adventista

 

FONTE: Editorial da Revista Adventista de dezembro/2023

 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

O PRIMEIRO PRESENTE DE NATAL


 Ricardo André

Nos aproximamos do Natal. Particularmente, amo o Natal! Para mim, é o período do ano que mais gosto. A época do Natal é encantador. Na minha vida e história ele tem um significado muito importante, pois é uma época do ano em que minha família se reúne, nos reencontramos, renascemos um para o outro, estamos ali sendo luz na vida do outro. Mais que isso, o Natal é uma data bem marcante para mim, sobretudo, porque é um tempo de celebrar o maior acontecimento da história, o nascimento de Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:1, 14; 1Tm 3:16). Essa história sempre me impressiona e me emociona, porque como diz a escritora cristão Ellen G. White, “a história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as ‘profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus’”.1 Então, gostaria de apresentar uma reflexão sobre este extraordinário acontecimento.

No Natal as pessoas são tomadas pelo espirito de generosidade, que os impulsiona a dar presentes aos familiares e amigos próximos. Trocamos presentes em nossas comemorações natalinas familiares, o que, em si, não está errado. Parece não haver dúvidas de que essa prática de dar presentes se inspirou no presente dos magos do Oriente. Nesse caso, os magos poderiam ser considerados os verdadeiros autores da ideia. Em outras palavras, o primeiro presente de Natal teria sido ouro, incenso e mirra, e os magos seriam os primeiros doadores (Mt 2:1, 11).

Quem eram os magos do oriente?

Quem eram esses magos do Oriente? As Sagradas Escrituras não dão maiores informações quanto a estes homens, segundo a tradição eram três porque trouxeram três presentes para o Senhor, mas a verdade é que a Palavra não fala nada sobre isso. Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “esses “magos” não eram magos no sentido como hoje se entende essa palavra. Eles eram nobres de nascimento, educados, ricos e influentes. Eram os filósofos, os conselheiros do reino, instruídos em toda sabedoria do antigo Oriente. Os “sábios” que foram em busca do Cristo recém-nascido não eram idólatras; eram homens retos e íntegros (...). Eles estudavam as Escrituras hebraicas e ali encontraram uma clara exposição da verdade. Em particular, as profecias messiânicas do AT chamaram sua atenção e, entre elas, as palavras de Balaão: “uma estrela procederá de Jacó” (Nm 24:17). É provável que também conhecessem e entendessem a profecia de tempo de Daniel (Dn 9:25, 26), e chegaram à conclusão de que a vinda do Messias estava próxima (...).  Na noite do nascimento de Cristo, uma luz misteriosa apareceu no céu e se tornou uma estrela brilhante que persistia no céu ocidental (...). Impressionados com seu brilho, os magos consultaram outra vez os rolos sagrados. Ao buscarem compreender o significado dos escritos sagrados, foram instruídos em sonho a partir em busca do Messias”2. Provavelmente, aqueles magos eram astrólogos oriundos da Pérsia. Mas o que era aquela estrela? Seria a estrela resultado de um fenômeno natural ou da providência divina? O que era a estrela? De acordo com a Biblioteca Bíblica, “todas as tentativas de se explicar a estrela como um fenômeno natural são inadequadas dada a razão dela conduzir os magos de Jerusalém até Belém e então permanecer sobre a casa. Antes, foi uma manifestação especial dada por Deus, primeiro quando apareceu indicando o fato do nascimento de Cristo, e depois quando reapareceu sobre Jerusalém e guiou os magos ao lugar certo. Considerando que foi registrada uma revelação direta para os magos (v. 12), nada há de improvável em aceitar uma revelação direta desde o começo para emprestar significado à estrela”.3

A escritora cristã Ellen G. White afirma que aquela misteriosa luz brilhante “não era uma estrela fixa, nem um planeta, e o fenômeno despertou o mais vivo interesse. Aquela estrela era um longínquo grupo de anjos resplandecentes, mas isso os sábios ignoravam. Tiveram, todavia, a impressão de que aquela estrela tinha para eles significado especial. Consultaram sacerdotes e filósofos, e examinaram os rolos dos antigos registros. A profecia de Balaão declarara: "Uma Estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel." Núm. 24:17. Teria acaso sido enviada essa singular estrela como precursora do Prometido? Os magos acolheram com agrado a luz da verdade enviada pelo Céu; agora era sobre eles derramada em mais luminosos raios. Foram instruídos em sonhos a ir em busca do recém-nascido Príncipe”.4

Um presente para Jesus

A grande diferença entre o presente dos magos e os de hoje, é que os magos deram para Jesus, e não para os amigos. Presentes geralmente são dados para o dono da festa, e para os magos o Dono da festa era Jesus. Ele era o próprio Natal.

Foi por isso que vieram de tão longe. Não era nada cômodo viajar mais de 650 km, desde a Mesopotâmia,5 por caminhos desconhecidos, atravessando desertos, e sem informações precisas a respeito da viagem. Além disso, tinham que viajar à noite, para poderem seguir a estrela. Se vieram de camelos, o que é mais provável, tinham que trazer, além da bagagem normal, toda a alimentação para os camelos durante a viagem. Provavelmente trouxeram também vasilhas com água, tendo em vista a travessia do deserto. Tudo isso representava um grande trabalho e muitos sacrifícios. Contudo, para aqueles homens nobre e sábios, valia qualquer sacrifício para levar os presentes para o Dono da festa. Eles tinham a consciência de que o menino nascido em Belém merecia mais do que isso. Assim pensavam e agiam.

Os magos procuraram prever tudo o que seria necessário para a viagem. Entretanto, o que eles jamais previam, também aconteceu. Emocionados, avistaram Jerusalém. Desceram o monte das Oliveiras e entraram na cidade. Como a estrela parou sobre o templo e desapareceu, ficaram meio confusos. “Ansiosos, dirigem os passos para diante, esperando confiantemente que o nascimento do Messias fosse o jubiloso assunto de todas as bocas. São, porém, vãs suas pesquisas. Entretanto na santa cidade, dirigem-se ao templo. Para seu espanto, não encontram ninguém que parecesse saber do recém-nascido Rei. Suas perguntas não despertavam expressões de alegria, mas antes de surpresa e temor, não isentos de desprezo.”6

Na cidade, a indiferença foi a mesma, nenhum sinal de novidade. Para grande decepção dos magos, não havia festa de Natal em Jerusalém. Aos poucos, a cidade ficou sabendo dos estranhos visitantes. Os líderes judeus sentiram-se ofendidos. Como poderia Deus indicar o nascimento do Messias aos pagãos e não a eles? "E levaram o povo a considerar o interesse em Jesus como excitação fanática. Aí começou a rejeição de Cristo pelos sacerdotes e rabis”.7

Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém” (Mt 2:3, NVI). Ante a notícia de que nascera um possível rival, Herodes desconfiou de que os sacerdotes estivessem planejando um golpe de Estado para tomar-lhe o trono. Irado, ordenou-lhes que pesquisassem, nas profecias, onde seria o nascimento do Messias. Só assim os magos ficaram sabendo que Jesus nascera em Belém. Após uma audiência com Herodes, reiniciaram a viagem.

“Sozinhos partiram os magos de Jerusalém. Caíam as sombras da noite quando saíram das portas, mas, para sua grande alegria viram novamente a estrela, e foram guiados a Belém.”8 Avistaram a cidade e entraram.

Para surpresa deles, a estrela parou em cima de uma casa comum. Os magos pararam à distância, e esperaram que a estrela prosseguisse até um palácio. Mas a estrela não prosseguiu.

“Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2:11, NVI). Finalmente os magos acharam o Dono da festa, e fizeram a festa para Ele. Quanta vontade de dar um presente de Natal! Quanta vontade de dar para Jesus! Quando aqueles sábios orientais viram o menino Jesus reconheceram sua divindade e, prostrando-se diante Dele, O adoraram, diz a narrativa bíblica. Tinham percorrido uma enorme distância e driblado todo tipo de perigos para cultuar o Rei dos judeus. O recorte da cena dos magos com Cristo e Seus pais evidencia senso de adoração. O enfoque não eram e nunca deveriam ser os presentes e tudo o que foi criado em torno disso para consolidar o consumismo e fortalecer tradições completamente dissociadas da história bíblica, a exemplo da figura do Papai Noel, símbolo do natal comercial. O foco era Jesus, o adorado, porque simplesmente é Deus.

A casa de Jesus onde os magos o visitaram

Agora, vamos abrir um parêntese para uma pequena discussão teológica. Que casa era essa em que os magos encontraram a Jesus? Estamos acostumados a ver imagens em que os magos aparecem no estábulo, ao lado da manjedoura. Os presépios em nossos dias, comumente colocam na cena do nascimento de Jesus, a presença dos magos, adorando juntamente com os pastores o menino Jesus. Afinal, a visita ocorreu no estábulo ou na casa? O evangelista Mateus afirma que eles entraram "na casa" (Mt 2:11), e não numa estrebaria. Obviamente, essa não era a noite do nascimento de Jesus, “mas depois que Jesus nasceu” (Mt 2:1, NVI). A partir daí, pode-se concluir que após o nascimento de Jesus, seus pais já estavam morando numa casa e que ele não era mais um recém-nascido numa manjedoura. Logo, essa visita dos magos a Jesus aconteceu depois de vários dias, semanas ou até meses do nascimento de Dele e também após a visita dos pastores descrita por Lucas 2. A visita ocorreu muito provavelmente após a consagração de Jesus no templo de Jerusalém. Se a visita ocorreu após a apresentação no templo, Jesus teria pelo menos 40 dias de idade9, pois “a lei levítica estipulava que o tempo de “impureza” da mãe se tivesse um menino era de 40 dias, se tivesse uma menina, era de 80 dias [...]. Durante esse período ela deveria permanecer em casa e não deveria participar das práticas religiosas públicas. [...] A ida ao templo ocorreu antes da visita dos magos, porque, depois disso, José e Maria não se atreveriam a visitar Jerusalém. Além disso, deixaram Belém e foram ao Egito quase que imediatamente após a visita dos magos (ver Mt 2:12-15)”10    

Seguindo essa linha de pensamento, alguns afirmam que Jesus já teria a idade de um ou dois anos, já que Herodes mandou matar os meninos dessa idade. Esta posição parece forte, se levarmos em conta que o evangelho de Mateus afirma nitidamente que o Rei Herodes inquiriu sobre “o tempo exato em que a estrela tinha aparecido” para os magos (Mt 2:7, NVI). Note que o texto diz claramente que Herodes procurou saber sobre o “tempo exato”, não por alto ou mais ou menos, mas com exatidão. Com isso, ele veio a conhecer a idade de Jesus. Assim, se Jesus nasceu quando "a sua estrela apareceu" no leste, pode-se concluir que quando os magos o visitaram ele poderia estar ainda com até 2 anos de idade. Herodes deve ter esperado o retorno dos magos por alguns dias ou semanas, e então, quando percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos (Mt 2:16). Se os magos tivessem visitado Jesus recém-nascido, Herodes não teria colocado a idade da criança próximo aos dois anos de idade. Repetimos: Ele calculou essa idade com base nas informações que recebeu dos magos.

De fato, Ellen G. White afirma que no dia em que Jesus nasceu, os magos ainda estavam no Oriente, e viram “uma luz misteriosa nos céus, naquela noite em que a glória de Deus inundara as colinas de Belém. Ao desvanecer-se a luz, surgiu uma luminosa estrela que permaneceu no céu.”11 Até que investigassem os tratados de astronomia, consultassem sacerdotes e filósofos, e pesquisassem as profecias hebraicas, levou um bom tempo. Depois, “foram instruídos em sonhos a ir em busca do recém-nascido Príncipe"12, e gastaram outra temporada entre os preparativos e a viagem propriamente dita. Isto explica a demora até o encontro com Jesus.

Quanto a casa onde Jesus recebeu a visitas dos magos, a Bíblia Sagrada não revela que casa era essa. Há quem diga que tratava-se de uma hospedaria, uma vez que, com o fim recenseamento não mais haveria excesso de hóspedes. Outros dizem que tratava-se de uma casa alugada por José após o nascimento de Jesus. Todas essas posições são possíveis, e dificilmente se poderá saber ao certo o que ocorreu. Seja qual for a casa ou a época, o importante é que Jesus recebeu, dos magos, um presente de Natal.

Um presente para nós

O primeiro presente de Natal, porém, não foi o presente dos magos. Naquele primeiro Natal, antes de os magos chegarem a Belém, outro Presente estava sendo dado por Deus para nós, e o presente era o próprio Jesus. Ele é o verdadeiro Presente de Natal.

Ao passo que os magos se sacrificaram para dar um presente para Jesus, Deus estava sacrificando-Se para dar um presente para nós. E que Presente! Deus condescendeu em tornar a humanidade o centro das atenções do Natal, dando-nos o que de mais precioso havia no Céu - Seu próprio Filho. Nosso para sempre, Ele veio como um menino “que nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9:6, NVI). Quem pode negar que esse foi o mais extraordinário evento na história terrestre, o maior presente de Deus para a humanidade? Ele entrou neste mundo para aproximar-Se de nós, mostrar-nos o amor de Deus e dar-nos vida eterna. “Ao tomar a nossa natureza o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade."13

Após receber o Presente de Deus, o homem passou a ser a única criatura do Universo a ter parentesco com a Divindade, o que ele não possuía nem mesmo antes do pecado. Nem os anjos possuem esse parentesco. Não existe, por exemplo, nenhum anjo que seja também Deus. Existe, porém, um homem que é Deus, ou seja, o homem possui um Irmão entre as três Pessoas da Divindade. E isto nós ganhamos de presente no Natal. O Dono da festa fez a festa para nós.

O nosso presente para Jesus

E nós, para quem estamos fazendo a festa no Natal? Geralmente desejamos "boas festas e feliz Natal " para muita gente. E é bom que assim seja. Mas o que entendemos por "boas festas"? Para as crianças, a festa é boa quando recebem muitos presentes. E não somente para elas. Para Jesus também, por incrível que pareça. Ou Jesus não gosta de presentes? Óbvio que sim. O problema é que quase nunca Ele recebe um presente de Natal.

Não há nenhum erro em dar presentes para os amigos e familiares. O erro está em nos esquecermos de que Jesus é o Dono da Festa. “Muitos oferecem presentes aos seus amigos terrestres, mas não têm nada para dar a Jesus, o seu Amigo do Céu, que lhes dá todas as bênçãos. Não devia ser assim. Devemos dedicar a Ele o melhor do que possuímos, o melhor do nosso tempo, dos nossos recursos e do nosso amor. Podemos também dar a Cristo, quando damos nossas ofertas para confortar os pobres e anunciar aos pecadores o Salvador. Deste modo podemos ajudar a salvar aqueles por quem Ele morreu. Estas são dádivas que Jesus aceita e abençoa.”14

Para Jesus, a festa é boa quando Lhe damos Seu presente predileto. É um presente tão desejado que Ele chega a pedi-lo: “Meu filho, dê-me o seu coração” (Pv 23:26, NVI). Esse é o melhor presente para Jesus. Durante esse período natalino, o maior presente que podemos apresentar a Jesus é um coração receptivo, somos nós mesmos. Não importa quão insignificante seja nossa vida, é a intenção pura e o gesto de fé que Lhe agradam. Os magos deram tudo de si, e, junto com o presente, levaram o próprio coração. Jesus espera o nosso presente. Não gostaria você de desejar "boas festas e feliz Natal" para Jesus? Curvemo-nos e adoremo-Lo neste natal!

Feliz Natal para todos e todas!!!

Referências:

1. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 48.

2. Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [Tatuí: CPB, 2014], v. 5, pág. 293.

3. Interpretação de Mateus 2; Biblioteca Bíblica digital. Disponível em < https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/11/interpretacao-de-mateus-2.html> Acesso em 11 de dezembro de 2023.

4. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 60.

5. Francis D. Nichol, obra citada, p. 293.

6. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 60, 61.

7. Idem, pág. 63.

8. Idem, p. 60.

9. Francis D. Nichol, obra citada, p. 296.

10. Francis D. Nichol, obra citada, p. 770.

11. Ellen G. White, obra citada, p. 60.

12. Idem.

13. Idem, p. 25.

14. Ellen G. White, Vida de Jesus [Tatuí: CPB, 1987], p. 29, 30.

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A GUERRA DE ISRAEL CONTRA OS PALESTINOS É UM SINAL DO FIM DO MUNDO?

Ricardo André

O mundo acompanha com perplexidade a guerra entre Israel e os palestinos da Faixa de Gaza, iniciada em 07 de outubro, com o ataque dos soldados do Hamas (grupo político que governa a Faixa de Gaza desde 2007) contra israelenses, matando mais de mil judeus e sequestrando mais de 200 deles, provocando uma resposta assimétrica do Estado de Israel, liderado pelo Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu, contra os palestinos. O Ministério da Saúde controlado pelo Hamas informou que mais de 11 mil palestinos já foram exterminados em Gaza até o dia 10 de novembro; a Cisjordânia relatou 183, enquanto autoridades israelenses registraram cerca de 1.200 mortes.

Diante desse cenário horroroso de guerra entre israelenses e palestinos, muitos cristãos são levados a perguntar: É possível ver alguma implicação escatológica no conflito entre Israel e palestinos? Há alguma base bíblica para dizer que esse conflito atual aponte para a volta de Jesus? O status final da cidade de Jerusalém é importante para o povo de Deus? E mais: Por que os evangélicos no Brasil defendem e apoiam cegamente o Estado israelense e suas políticas de expropriação dos palestinos dos seus territórios e extermínio dos mesmos? O uso de símbolos como a estrela de Davi ou a bandeira de Israel em eventos evangélicos no Brasil se tornou comum nos últimos anos.

Importante dizer, que esse apoio é baseado numa concepção religiosa equivocada. Os líderes evangélicos confundem o povo de Deus histórico, a nação de Israel do Velho Testamento da Bíblia Sagrada, com o Estado moderno de Israel, com a política sionista, ou seja, creem que Israel étnico ainda permanece como povo escolhido de Deus, conservando privilégios especiais e tendo lugar destacado nas profecias bíblicas. Os líderes neopentecostais e mesmo de igrejas protestantes históricas enxergam Israel como uma espécie de “relógio do fim do mundo”. É a falsa ideia de que Israel de hoje é uma espécie de “sinal divino” para o cristianismo. Eles acreditam que os eventos que ocorrem na cidade de Jerusalém possuem significados proféticos, são sinais do fim do mundo. Essa corrente teológica bastante popular entre as igrejas evangélicas é chamada de dispensasionalismo.

Segundo o dispensacionalismo (um sistema de interpretação profética incompatível com o que os Adventistas do Sétimo Dia entendem das profecias), antes do fim do mundo, Deus faria com que o seu povo voltasse para a terra prometida (a Palestina), isso seria um sinal. A criação do Estado de Israel em 1948, é entendida por essa corrente como sinal de que o fim do mundo está próximo. Ou seja, o relógio do apocalipse teria sido disparado a partir da criação do Estado de Israel, e seria necessário os cristãos prestarem assaz atenção em tudo o que acontece nesse local.  Tim LaHaye chegou a afirmar o seguinte: “Chamo a reuniões dos cinco milhões de judeus que regressaram à Terra Santa e o fato de constituiírem uma nação em nossa geração [1948] de ‘o sinal infalível’ da chegada do fim dos tempos” (citado em Ninguém Será Deixado Para Trás, CPB, p. 57). É óbvio que isso não está em harmonia com a evidência bíblica. As Sagradas Escrituras mencionam diversos eventos na esfera social, religiosa, econômica e na natureza que apontam para o fim do mundo, como a pregação do evangelho no mundo (Mt 24:14), a aparição de falsos profetas e falsos cristos (Mt 24:4, 5), a decadência moral da humanidade (2 Tm 3:1-5), entre outros. Mas nada diz sobre o retorno dos judeus a Jerusalém como sinal do fim do mundo.

Ainda segundo essa corrente teológica, em Jerusalém, os judeus retomarão à área do antigo templo e o reconstruirão, reinstituindo a prática dos rituais e sacrifícios do Antigo Testamento; por esse tempo, a Igreja será arrebatada secretamente, e 144 mil judeus se converterão a Cristo, compondo o povo de Deus na Terra. O anticristo, que será uma figura literalmente anticristão e de grande carisma e estratégia político-militar, terá entrado em acordo com o povo judeu tão-somente para engambelá-lo e se apoderar do templo, transformando-o em quartel-general. A partir dali governará o mundo e levará a humanidade à angustia final, que se estenderá por três anos e meio. Ao fim desse período, Jesus retornará. Nesse dia, haverá o grande Armagedom, a batalha final entre a luz e as trevas, entre Deus e seus anjos por um lado, e o Diabo e seus demônios por outro lado. Ao cabo, Cristo vencerá e acabará com o anticristo e estabelecerá, na Terra, o Seu reino milenar.

Como os adventistas consideram tudo isso? Pura fantasia! Não passa de especulações desprovidas de sólido fundamento e que resultam em sérias distorções da verdade bíblica. Não há base bíblica para sustentar a teoria de Israel como o “relógio do fim do mundo”. Não negamos que o atual conflito entre judeus e palestinos é um sinal do fim, mas apenas cumprindo o que Jesus predisse, que nos últimos dias haveria guerras e rumores de guerras (Mat. 24:6 e 7), isto é, desentendimento e conflitos generalizados. Assim como as duas guerras mundiais e outros conflitos locais que ocorreram ao longo do século XX e XXI, a guerra entre israelenses e palestinos são cumprimentos da profecia de Jesus proferido no seu famoso sermão profético registrado em Mateus 24. Ele predisse: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino [...]” (Mt 24:6,7, NVI). Portanto, todas as guerras que ocorreram e aquelas que ainda estão ocorrendo apontam para o fato de que a história está avançando para o seu ponto final, e nos lembra que Jesus está prestes a voltar. Ele predisse: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino [...]” (Mt 24:6,7, NVI).

Portanto, não acreditamos que haja alguma importância, para o povo de Deus, no “status final” de Jerusalém, desde que esta cidade perdeu, ao ser Cristo rejeitado pelos judeus, qualquer status distintivo, isto é, que a diferencie das outras cidades da Terra. Até porque quando o Israel étnico, a nação escolhida, rejeitou a Cristo como o Messias, Ele proferiu estas tristes palavras: “Portanto eu lhes digo que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino” (Mt 21:43). Com essas palavras Cristo quis dizer que Israel étnico ou literal deixaria de ser o povo escolhido de Deus, que após a Sua crucifixão, “a igreja cristã, constituída dos que criam no Salvador e aceitavam o Seu Evangelho, tornou-se herdeira das promessas feitas a Abraão e seus descendentes. Gálatas 3:7,8, 16 e 29; Romanos 9 e 11. Os cristãos são agora ‘raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus’ (1 Pd 2:9)” (Consultoria Doutrinária [CPB, 1979], p. 79). Portanto, a igreja cristã é o Israel espiritual constituído por pessoas oriundas de todos os povos (inclusive judeus convertidos ao Senhor Jesus). Ao escrever sua carta aos gálatas, o apóstolo Paulo se refere nitidamente ao “Israel de Deus”, como “um grupo mais amplo do que o Israel étnico (Gl 6:16), refere-se a Isaque como representando os gentios da Galácia (4:28) e a todos os que pertencem a Cristo como descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (93:29)” (Interpretando as Escrituras: descubra o sentido dos textos mais difíceis da Bíblia [CPB, 2019], p. 290).

Nessa mesma linha de pensamento, Ellen G. White, pioneira e profetisa adventista, escreveu: “Aquilo que Deus propôs realizar em favor do mundo por intermédio de Israel, a nação escolhida, Ele executará afinal por meio de Sua igreja na Terra hoje. Ele arrendou Sua vinha "a outros lavradores", isto é, ao Seu povo que guarda o concerto, e que fielmente dá "os seus frutos". Jamais esteve o Senhor sem verdadeiros representantes na Terra e que fazem do interesse de Deus o seu próprio interesse. Essas testemunhas do Senhor são contadas entre o Israel espiritual, e em relação a eles se cumprirão todas as promessas do concerto feitas por Jeová a Seu antigo povo” (Profetas e Reis, p. 713 e 714).

Em Romanos 11, o apóstolo fala do chamado que Deus faz a igreja para despertar o Israel natural (LARONDELLE, Hans K. Israel e a Igreja. Ministry Magazine, setembro de 1981). Deus não rejeitou os judeus (Romanos 11:1-2), pois Cristo morreu na cruz também por eles. Haverá muitos convertidos entre os judeus nos tempos finais, e eles farão parte do Israel de Deus. Cremos profundamente também que há, de fato, um plano divino para os judeus, quanto à sua participação na fase final da pregação da tríplice mensagem angélica ao mundo (o que pode ser referido como a obra do quarto anjo, ou anjo de Ap 18). Conforme a profecia de Ap 13, pouco antes da volta de Jesus, a besta de dois chifres, que emerge da terra, representada pelos EUA, renunciando os princípios de liberdade religiosa, irá impor o sinal da besta papal, a observância do domingo como dia de guarda, por meio de leis. Tal medida intolerante acarretará a perda da liberdade dos observadores do sábado, que será seguida pelas nações do mundo. Ao perceber a gravidade da questão provocada pela agitação da questão dominical, muitos judeus se converterão a Cristo e aceitarão a verdade e desempenharão um papel importante na grande arrancada final da proclamação do Evangelho, com seus talentos e recursos.

Na efervescência da discussão, em que o sábado é ponto de controvérsia, os judeus participarão de maneira significativa, levantando-se para proclamar a importância do dia sagrado.

Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “Haverá muitos conversos entre os judeus, e esses conversos ajudarão a preparar o Caminho do Senhor, e fazer no deserto caminho direto para o nosso Deus. Judeus conversos hão de ter parte importante a desempenhar nos grandes preparativos a serem feitos no futuro para receber a Cristo, nosso Príncipe. Nascerá uma Nação em um dia. Como? Por homens que designou se converterem à verdade” (Evangelismo, p. 579).

“Há entre os judeus alguns que, como Saulo de Tarso, são poderosos nas Escrituras, esses proclamarão com maravilhoso poder a imutabilidade da lei de Deus. O Deus de Israel fará que isto suceda em nossos dias” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 339).

Portanto, acreditamos, inclusive, que Deus tenha em reserva muitos “Saulos de Tarso” para o momento estratégico e propício. Mas isso não significa qualquer privilégio étnico dos judeus, que os defina como “nação” de Deus e torne o conflito entre judeus e palestinos mais relevante que outros conflitos no mundo.

O “Israel de Deus” ou o Israel espiritual está alicerçado sobre Cristo e tem de produzir frutos. Os mesmos frutos missionários que Deus esperava de Israel étnico. Porque o povo de Deus não mudou, continua sendo aquele que dá fruto. É composto daqueles que creem e obedecem, e que executam a missão. Judeus e gentios integrados em Cristo pela fé Nele participarão da advertência final descrita em Apocalipse 18. E o farão mediante o recebimento do Espírito Santo, prometido pelo Salvador aos que Lhe obedecem (Atos 1:8; 5:32). Quando a última advertência for dada ao mundo, o Senhor virá para buscar seu povo fiel para levá-lo para o Céu (Mt 24:14; Jo 14:1-3). Lá ficarão durante mil anos. No fim do milênio, o Senhor destruirá para sempre Satanás e aqueles que aderiram a sua rebelião (Ap 20:1-14). O Universo ficará livre do pecado. E então Deus recriará a Terra para que seja o lar eterno dos salvos (Ap 21:1-5).

“O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. Daquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 678).