Teologia

domingo, 28 de fevereiro de 2021

MARXISMO CULTURAL: O ENGANO POR DETRÁS DO CONCEITO


 Ricardo André de Souza*

Em 1938 deveria ocorrer eleições presidenciais no Brasil. A Constituição Federal determinava que Getúlio Vargas cumpriria seu mandato e não poderia se candidatar à reeleição. Vargas, porém, pretendia permanecer no poder. Para que isso fosse possível, em fins de 1937, o serviço secreto do Exército brasileiro noticiou a descoberta de um documento contendo um plano atribuído a um judeu comunista, de nome Cohen, o Plano Cohen, que tencionava acabar com o regime democrático no Brasil e a tomada do poder pelos comunistas.

No programa de rádio Hora do Brasil, o suposto plano foi anunciado e lido para seus ouvintes. Também foi divulgado nos jornais, causando insegurança na população. Estava concretizado o desejo golpista do presidente: se o perigo vermelho ameaçava o Brasil, Vargas não poderia deixar o governo. De acordo com as notícias, o plano seria executado mediante greves gerais, manifestações populares, incêndios de prédios públicos, saques, depredações e atentados contra a vida de autoridades civis e militares.

Todavia, “o plano, como se soube depois, era falso e foi concebido pelo oficial integralista Olímpio Mourão Filho”.1 E foi, com base nessa fraude e em nome do combate ao “perigo comunista”, que o presidente Getúlio Vargas solicitou imediatamente ao Congresso autorização para decretar o estado de guerra pelo prazo de 90 dias, durante o qual a polícia prendeu grande número de adversários de Getúlio Varga. Estava pronto o cenário para que Vargas desse o golpe e instaurasse a Ditadura do Estado Novo, que foi desfechado em 10 de novembro de 1937. A fraude do Plano Cohen só foi revelada após a extinção do Estado Novo, em 1945, quando o general Góes Monteiro a denunciou e isentou-se de qualquer culpa no caso.

Treze anos depois desse episódio no Brasil, em fevereiro de 1950, o senador norte-americano Joseph McCarthy, visando impressionar a opinião pública e conseguir votos para reeleger-se, blefou publicamente: disse que tinha uma lista contendo mais de 200 comunistas que trabalhavam no Departamento de Estado estadunidense. A verdade era que a lista não existia. Ao registrar a fala nos anais do Senado, usou outro número, 57. Em outras ocasiões, disse 81. E assim por diante. A denúncia, ampliada e divulgada pelos jornais, inaugurou uma verdadeira cruzada anticomunista nos Estados Unidos, conhecida como “caça aos comunistas”.

A sombra da conspiração comunista evocada por McCarthy manteria a sociedade americana sob tensão – e provocaria diversas injustiças – por muitos anos. O minúsculo Partido Comunista foi colocado na ilegalidade; os jornais, a televisão e o cinema sofreram uma devassa; e centenas de pessoas que trabalhavam nesses meios de comunicação foram presas sob acusação de serem comunistas, tendo suas carreiras destruídas. Até Charles Chaplin, o criador do personagem Carlito, foi denunciado e perseguido pelo macarthismo, sendo obrigado a se exilar.

A política de “caça aos comunistas” foi justificada por teorias da conspiração inventadas pelo senador McCarthy há 70 anos, nos EUA, e no Brasil há 83 anos, pelo Presidente Vargas. Porém, a criação de teorias da conspiração para fins escusos e com consequências nocivas para a sociedade pode ser observada nos dias atuais no mundo, inclusive no Brasil. Elas podem ser definidas “como crenças explicativas utilizadas para compreender as ações de grupos ou organizações que se unem em um acordo secreto e tentam atingir um objetivo oculto, sendo este percebido como ilegal ou malévolo”2.

Temos percebido que a direita no Brasil, nos últimos anos, vem falando frequentemente sobre um suposto “marxismo cultural” que está em processo de desenvolvimento no Brasil. As redes sociais têm sido inundadas por uma enxurrada de textos e vídeos produzidos por diversos líderes religiosos, padres e pastores alinhados à direita política, alertando cristãos contra os perigos do suposto “marxismo cultural” para a vida cristã e para a sociedade, reproduzindo, desse modo, o discurso da direita reacionária.  Afinal, que coisa é essa que cristãos de todos os matizes chamam de “marxismo cultural”? Existe realmente esse movimento?

Este artigo consiste justamente em uma análise cuidadosa acerca da gênese, desenvolvimento, alcance e principais postulados do suposto marxismo cultural, e visa determinar o quanto ele realmente representa uma vertente do pensamento marxista - ou trata-se somente de mais uma teoria da conspiração. Essa perspectiva traz à lembrança o pensamento do matemático e filósofo britânico Clifford (1845-1879), que em seu ensaio de 1876, A Ética da Crença, acertadamente escreveu que “é sempre errado, para qualquer um e em qualquer lugar, acreditar em algo com base em evidência insuficiente”.3 Clifford defende que acreditar em algo para o qual não temos provas ou argumentos é imoral e ilegítimo. Comumente, aqueles que advogam as teorias da conspiração são incapazes de provar suas alegações, ou seja, suas evidências são insuficientes. Desse modo, como afirma o cientista político Michael Barkun, o conspiracionismo torna-se "uma questão de fé em vez de prova".4 Passados 144 anos, o imperativo de Clifford talvez tenha se tornado um requisito civilizacional de sobrevivência.

A Origem e desenvolvimento da teoria de um “Marxismo Cultural”

Foi na década de 1990 que se construiu a teoria do marxismo cultural, quando o desconhecido norte-americano chamado Michael Minnicino, a partir de uma leitura distorcida dos pensadores da Escola de Frankfurt, os quais propunham um modelo de marxismo que pudesse ser uma alternativa à revolução violenta, a partir da análise do contexto social e cultural das sociedades industriais, escreveu o artigo New Dark Age: Frankfurt School and ‘Political Correctness’ (A Nova Era das Trevas: Escola de Frankfurt e o "Politicamente Correto"), publicado na revista Fidelio do Schiller Institute, edição de 1992. Nesse artigo, Minnicino delineia o suposto plano desse grupo de dissidentes do marxismo para a tomada do poder pelos comunistas. Segundo Minnicino, a estratégia primária dos filósofos da Escola de Frankfurt consistia na destruição da cultura ocidental, marcada pelos valores judaico-cristãos, e essa eliminação ocorreria por meio de ataques culturais que desprezariam os valores do cristianismo, da família cristã e da nação, abrindo espaço para uma nova visão de mundo e um sistema de controle, envolvendo liberação sexual e um declínio moral e estético. Embora não tenha empregado a expressão “marxismo cultural”, ele foi o primeiro entre os ideólogos das teorias conspiratórias a associar a Escola de Frankfurt ao politicamente correto e à “decadência dos valores tradicionais”, estratégia operada por intelectuais judeus contra os valores do Ocidente cristão. Ele afirmou:

“Um deles foi liderado por Georg Lukács, um aristocrata húngaro, filho de um dos principais banqueiros do Império Habsburgo. Treinado na Alemanha e já um importante teórico literário, Lukács tornou-se comunista durante a Primeira Guerra Mundial, escrevendo ao entrar para o partido: "Quem nos salvará da civilização ocidental?" Lukács estava bem preparado para a tarefa do Comintern: ele fora um dos comissários da cultura durante o breve Soviete húngaro em Budapeste em 1919; na verdade, os historiadores modernos vinculam a brevidade do experimento de Budapeste às ordens de Lukács exigindo educação sexual nas escolas, fácil acesso à contracepção e o afrouxamento das leis de divórcio - tudo isso repugnou a população católica romana da Hungria. Fugindo para a União Soviética após a contra-revolução, Lukacs foi levado para a Alemanha em 1922, onde presidiu uma reunião de sociólogos e intelectuais de orientação comunista. Esta reunião fundou o Instituto de Pesquisa Social. Durante a década seguinte, o Instituto elaborou o que se tornaria a operação de guerra psicológica de maior sucesso do Comintern contra o Ocidente capitalista”.5

Minniciano afirma ainda que “a tarefa da Escola de Frankfurt era, então, primeiro, minar o legado judaico-cristão por meio de uma ‘abolição da cultura’ (Aufhebung der Kultur no alemão de Lukács); e, segundo, determinar novas formas culturais que aumentariam a alienação da população, criando assim uma ‘nova barbárie’”.6

A narrativa desenvolvida por Minnicino denuncia nitidamente a natureza conspiratória da mesma. Quem ler todo o seu artigo, logo perceberá tratar-se de uma teoria da conspiração, pois narra um plano maquiavélico dos marxistas para tomar o poder. Podemos, então, afirmar que esse texto tornou-se a gênese da teoria da conspiração “Marxismo cultural”. Desde a época de sua publicação, pessoas ligadas aos setores mais conservadores da direita estadunidense da época passaram a discutir o termo e disseminar a teoria. Embora a teoria tenha se originado nos Estados Unidos durante a década de 1990, ela entrou no discurso dominante na década de 2010 e é promovida globalmente. Hoje, essa teoria da conspiração é promovida por políticos de direita, líderes religiosos fundamentalistas, comentaristas políticos na mídia impressa e televisiva e terroristas da supremacia branca nos EUA.

Mas, foi o terrorista norueguês de extrema direita Anders Behring Breivik, de 32 anos, que matou oito pessoas com um carro-bomba em Oslo, e horas depois, na ilha de Utoeya, fuzilou 69 jovens, em 2011, quem primeiro trouxe o termo "marxismo cultural" à atenção do mundo. Em sua declaração de fé, num manifesto de mais de 1500 páginas, batizado de An European Declaration of Independence (Uma Declaração Europeia de Independência), é quase inteiramente dedicada à promoção do conceito. Numa leitura rápida do seu texto percebe-se claramente tratar-se de um jovem perturbado e tomado por delírios de grandeza. “Sempre levarei comigo a certeza de ser um campeão do conservadorismo cultural, talvez o maior da Europa desde 1950”,7 diz o atirador em seu manifesto. “Sou um dos muitos destruidores do marxismo e, assim, um herói da Europa, salvador de nosso povo e da cristandade. Um exemplo perfeito que deveria ser copiado, aplaudido e celebrado. Saberei que fiz tudo para deter o genocídio cultural e demográfico dos europeus e reverter a islamização da Europa.”8

De fato, essa teoria conspiratória serviu de inspiração para uma série de outros ataques desde então, realizados por terroristas da supremacia branca nos Estados Unidos da América e por isso ganhou projeção internacional, a exemplo do suposto atirador no ataque a uma sinagoga em Poway, Califórnia, na primavera de 2019, que matou um e feriu outros três.

Coube ao escritor William S. Lind e ao político Paul Gottfrie, autointitulados paleoconservadores norte-americanos, batizarem essa teoria conspiratória de “Marxismo cultural”. Segundo William S. Lind, “o marxismo cultural é um ramo do marxismo ocidental, diferente do marxismo-leninismo da antiga União Soviética. É comumente conhecido como “multiculturalismo” ou, menos formalmente, politicamente correto. Desde o início, os promotores do marxismo cultural sabiam que poderiam ser mais eficazes se ocultassem a natureza marxista de seu trabalho, daí o uso de termos como “multiculturalismo”. O marxismo cultural começou não na década de 1960, mas em 1919, imediatamente após a Primeira Guerra Mundial. A teoria marxista previu que, no caso de uma grande guerra europeia, a classe trabalhadora em toda a Europa se levantaria para derrubar o capitalismo e criar o comunismo. Mas quando a guerra veio em 1914, isso não aconteceu. Quando finalmente aconteceu na Rússia em 1917, os trabalhadores de outros países europeus não apoiaram. O que deu errado? De forma independente, dois teóricos marxistas, Antonio Gramsci na Itália e Georg Lukacs na Hungria, chegaram à mesma resposta: a cultura ocidental e a religião cristã tinham cegado tanto a classe trabalhadora para seu verdadeiro interesse de classe marxista que o comunismo era impossível no Ocidente até que ambos poderia ser destruído. Em 1919, Lukács perguntou: "Quem nos salvará da civilização ocidental?" Naquele mesmo ano, quando se tornou vice-comissário da cultura no efêmero governo do bolchevique Bela Kun, na Hungria, um dos primeiros atos de Lukács foi introduzir a educação sexual nas escolas públicas da Hungria. Ele sabia que, se pudesse destruir a moral sexual tradicional do Ocidente, ele teria dado um passo gigantesco para destruir a própria cultura ocidental”.9

O religioso e político conservador Paul Michael Weyrich, cofundador da “Free Congress Foundation” e colega de William Lind, tinha aversão ao “Politicamente correto” ou o “marxismo cultural”. Em 16 de fevereiro de 1999, ele publicou uma “Carta aos Conservadores”, na qual descreve o Marxismo cultural como um esforço deliberado para minar "nossa cultura tradicional, ocidental, judaico-cristã".10

Em síntese, os intelectuais e religiosos de direita, entendem que o “marxismo cultural” representa uma ação conjunta de governos e instituições para demolir os valores do Cristianismo e impor um relativismo cultural, bem como leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, além de um controle estatal da economia e da cultura que implantaria o comunismo paulatinamente, sem a necessidade de uma revolução armada da classe trabalhadora, como previa o velho Marx. Logo, o “marxismo cultural” é inimigo do Cristianismo. Ainda segundo eles, a televisão, os livros escolares, as universidades, as músicas, a arte em geral, e toda a educação, assim como a justiça e a estrutura do Estado, estariam sendo alterados microscopicamente para, depois de um tempo de modificações acumuladas, promover um momento ideal para a revolução comunista, que dessa vez seria silenciosa e sem derramamento de sangue. É a partir dessas ideias enganosas que a direita mobiliza os cristãos em torno dos seus objetivos e os atrai para seu campo político.

Os principais proponentes da teoria no Brasil

Em vez de rastrear todos os teóricos do Marxismo cultural no Brasil, vou me concentrar em dois dos principais proponentes dessa teoria da conspiração: Olavo Luiz Pimentel de Carvalho e Paulo Ricardo de Azevedo Júnior. O primeiro é um influenciador digital, autoproclamado filósofo, que já foi astrólogo. É um ícone da direita brasileira. Atualmente reside em Richmond, Virgínia, nos EUA. Se abeberou de fontes norte-americanas, adotando a concepção de que era necessário combater o “marxismo cultural”, tornando-se, desse modo, o principal expoente da aludida teoria. Não somente isso. Olavo de Carvalho tornou-se peça essencial na formação gradual da extrema direita no Brasil contemporâneo, desde que fundou em 1998 o blog Sapientiam Autem Non Vincit Malitia e que suas ideias foram expandidas principalmente pelo Orkut e pelo site Mídia sem Máscara. Ele oferece aulas on line para doutrinar seus seguidores e torná-los soldados na cruzada contra o suposto marxismo cultural. O segundo é um padre católico, extremamente conservador, escritor e professor do Instituto Bento XVI, da Diocese de Lorena (São Paulo). Possui posições políticas alinhadas a direita e reproduz em seu canal de Youtube as teorias conspiratórias do autointitulado filósofo Olavo de Carvalho.

A partir das publicações deles, pastores e padres conservadores alinhados à direita política passaram a divulgar essa teoria conspiracionista nas igrejas e nas redes sociais. Além deles, diversos sites da direita também começaram a disseminar a teoria, a exemplo do Instituto Mises Brasil. Os jornalistas Felipe Moura Brasil, Reinado Azevedo e Rodrigo Constantino, ícones da direita brasileira, também tornaram-se divulgadores do marxismo cultural.

Segundo Olavo de Carvalho, em seu artigo de 08 de junho de 2002, intitulado “Do Marxismo Cultural”, escrito em sua coluna no jornal O Globo, “um cérebro marxista nunca é normal. O filósofo húngaro Gyorgy Lukacs, por exemplo, achava a coisa mais natural do mundo repartir sua mulher com algum interessado. Pensando com essa cabeça, chegou à conclusão de que quem estava errado não era a teoria: eram os proletários. Esses idiotas não sabiam enxergar seus “interesses reais” e serviam alegremente a seus inimigos. Estavam doidos. Normal era Gyorgy Lukács. Cabia a este, portanto, a alta missão de descobrir quem havia produzido a insanidade proletária. Hábil detetive, logo descobriu o culpado: era a cultura ocidental. A mistura de profetismo judaico-cristão, direito romano e filosofia grega era uma poção infernal fabricada pelos burgueses para iludir os proletários. Levado ao desespero por tão angustiante descoberta, o filósofo exclamou: ‘Quem nos salvará da cultura ocidental?’”11

Olavo ainda afirma que esta foi uma sacudida que os próprios socialistas tomaram, após se depararem com a impossibilidade da revolução comunista internacionalista. “Stálin recomendava que os partidos comunistas ocidentais recrutassem, antes de tudo, milionários, intelectuais e celebridades do ‘show business'12, assevera ele sem apresentar uma única fonte. É improvável que Stálin tenha feito essa “recomendação”, pois como comunista acreditava que a única força social capaz de construir o socialismo era a aliança da classe operária, não desta com os milionários (a burguesia). É o que se depreende, por exemplo, do seu panfleto Sobre os fundamentos do leninismo, escrito em maio de 1924, onde ele se expressa da seguinte maneira:

“A ditadura do proletariado surge não sobre a base da ordem burguesa, mas no processo da sua demolição, depois da derrubada da burguesia, no curso da expropriação dos latifundiários e dos capitalistas, no curso da socialização dos meios e dos instrumentos essenciais de produção, no curso da revolução violenta do proletariado. A ditadura do proletariado é um Poder revolucionário que se apoia na violência contra a burguesia.”13

Seja dito de passagem, que Josef Stálin desde a sua juventude “carregava dentro de si um ódio feroz contra a [...] burguesia”.14 Assim sendo, não faz sentido Olavo atribuir a ele a “recomendação” aos socialistas para recrutarem os milionários para a causa socialista se ele os odiava. É mais provável ser isso mais uma invencionice do Olavo de Carvalho.

À semelhança do americano Minnicino e dos membros da “Free Congress Foundation”, Olavo de Carvalho aponta o filósofo marxista Antonio Gramsci e a revolução cultural, Marcuse, Adorno e Max Horkheimer (dirigentes da Escola de Frankfurt a partir de 1931) e a própria Escola de Frankfurt, como os que lançaram as bases do Marxismo cultural, sendo, portanto, responsáveis pela destruição da cultura ocidental, único objetivo de tais pensadores. Ainda segundo Olavo, “Como [a Escola de Frankfurt] não falava em revolução proletária nem pregava abertamente nenhuma truculência, a nova escola foi bem aceita nos meios encarregados de defender a cultura ocidental que ela professava destruir”.15

A partir de suas ideias estapafúrdias, o “filósofo” inspirou a guerra cultural levada a cabo aos trancos e barrancos pela tropa bolsonarista instalada em Brasília. Foi exatamente em função dessa "guerra cultural", que o presidente Jair Bolsonaro nomeou Ricardo Veléz Rodrigues e depois Abraham Weintraub para o Ministério da Educação, Ernesto Araújo para Ministério das Relações Exteriores. Todos discípulos de Olavo de Carvalho. Foram colocados estrategicamente nessas pastas para fazerem a guerra contra a Educação, considerados por eles aparelhados pela esquerda, e contra os países socialistas ou progressistas que mantém relações comerciais com o Brasil, a exemplo da China.

De acordo com o padre Paulo Ricardo de Azevedo, o “Marxismo cultural é um movimento ideológico que pretende implantar a revolução marxista. Não através dos meios armados ou de uma movimentação de violência, mas por meio da transformação da cultura ocidental. Na verdade, o Ocidente é uma cultura que está toda baseada, desde o tempo dos antigos filósofos gregos, principalmente depois do Cristianismo, na espiritualidade.”16

Ainda segundo o padre, “o marxismo cultural, no Brasil, já conseguiu a hegemonia cultural e da mídia. Pela política da dominação de espaços, já dominaram a classe falante (jornalistas, cineastas, psicólogos, padres, juízes, políticos, escritores) que é formada no pensamento do marxismo cultural. Não existe nenhuma universidade brasileira que seja exceção... principalmente as católicas. Tudo isso é fruto de um descaso histórico dos conservadores, que permitiu que o marxismo cultural tomasse conta das universidades. Em qualquer curso universitário é possível constatar tal realidade através de um ódio frontal e fundamental ao cristianismo, aos valores cristãos e mais especificamente ao catolicismo tradicional”.17

Importante ressaltar que, quando o PT chegou ao Governo Federal, em 2002, com a eleição do Lula para presidente da República, percebeu-se nitidamente que o discurso da teoria conspiratória se intensificou. A partir de então tornou-se comum pastores e padres conservadores alardearem que existia um plano maquiavélico por trás do governo do PT, uma escalada alternativa para a sociedade comunista que seria pautada em pequenas mudanças gradativas na cultura e nas instituições ao invés da tomada do poder à força, modelo de implantação do comunismo supostamente fracassado no século passado.  Por conta disso, o PT e a esquerda passaram a ser demonizados pela direita obtusa e obcecada, bem como por muitos cristãos que se tornaram presas fáceis desse engodo. Neste contexto, muitas vezes, os petistas ou simpatizantes do partido, ao defenderem políticas sociais, escutaram de muitos cristãos que “isso é influência da praga do marxismo cultural”. Isso porque os cristãos influenciados por essa teoria consideravam (e ainda consideram), que ser de esquerda era quase um crime, e diziam que, com as políticas sociais implementadas pelos governos do PT, “a ditadura comunista estava sendo implantada no Brasil”. Até a política de desarmamento implementada pelo governo Lula, em 2003, baseada no Estatuto do Desarmamento, foi acusada pelos teóricos da conspiração de ser parte desse plano. Alguns diziam que o governo do PT queria desarmar a população para impor sua dominação e permanecer no poder. Isso tornou-se uma paranoia.

Historicamente o marxismo sempre causou pavor e ódio nos setores conservadores do empresariado, sobretudo entre os setores conservadores das igrejas cristãs em todo o mundo, desde que ele fora idealizado pelos pensadores alemães Karl Marx e Friedrich Engels. Em todo o mundo, os governos capitalistas de direita, apoiados por esses setores conservadores da sociedade perseguiram os adeptos do socialismo e aqueles que possuíam ideias marxistas durante vários momentos da história. No Brasil, em junho de 1922, três meses após sua fundação, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi fechado, pelo governo de Epitácio Pessoa, passando a atuar na ilegalidade e tendo vários de seus membros presos. Continuou funcionando na clandestinidade durante o Governo Vargas e durante a Ditadura civil-militar (1964-1985). Com o retorno da democracia, os partidos de inspiração marxistas obtiveram o direito de atuar livremente no Brasil, mas a direita reacionária logo tratou de criar uma estratégia discursiva para instaurar um ambiente de terror psicológico: importaram dos Estados Unidos a teoria do marxismo cultural e passaram a disseminá-la através das redes sociais, conquistando a simpatia de muitos cristãos reacionários. Dessa forma, virou moda chamar de marxismo cultural qualquer coisa que seja feita pelos pobres. Então, para a direita conservadora, falar de Bolsa Família, cotas raciais, ascensão social e aumento do poder aquisitivo das classes menos favorecidas é um modo de implementar a revolução socialista, falar de investimentos sociais é algo inaceitável. Defender a igualdade de direitos entre homens e mulheres, ser contra a redução da maioridade penal, defender os Direitos Humanos é coisa do “marxismo cultural”. As aulas de história são doutrinação marxista, simplesmente pelo fato de que na aula de história terá assuntos relacionados ao socialismo. Esses conservadores ignoram o fato de que, não há como falar do século XX sem falar das revoluções socialistas.

Importante destacar que, foi com base nessa narrativa, que esse mesmo grupo de cristãos conservadores - representados pela “Bancada Evangélica” (também chamada de “Bancada da Bíblia”) no Congresso Nacional - queriam aprovar o Projeto de Lei 7180/14, do movimento Escola Sem Partido, que tramitava desde 2014, e arquivado em dezembro de 2018. O famigerado Projeto versava exatamente sobre essa suposta “doutrinação” dos professores sobre os alunos, bem como as discussões de gênero. Além desse, outros 10 projetos que tratavam da mesma matéria foram anexados a este, entre os anos de 2015 a 2018. Todos esses projetos propunham a proibição ao Ministério de Educação (MEC) “distribuir livros às escolas públicas que versem sobre orientação à diversidade sexual de crianças e adolescentes” e “proibir a doutrinação política, moral, religiosa ou ideologia de gênero nas escolas”.

Não dando-se por vencido, o advogado Miguel Nagib, líder do movimento Escola Sem Partido (ESP), usou para escrever a chamada “versão 2.0” do anteprojeto do movimento, a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL/DF) assina o “novo” projeto de lei 246/19 que tramita na Câmara sobre o tema. A aludida deputada apresentou esse projeto no seu primeiro dia de trabalho na Câmara.

Importante dizer que a narrativa de que os professores das Ciências Humanas “doutrinam aluno sob sua tutela”, em detrimento dos conteúdos, não passa de um discurso falacioso sem qualquer correspondência com a realidade. É preciso ficar claro que professor não doutrina, professor ensina. Doutrinação era o que o nazismo e o fascismo faziam: pegar uma criança e educar quase num processo de lavagem cerebral até ele entrar nas Forças Armadas e servir à pátria. Não é o que vemos aqui no Brasil.

A imensa maioria dos professores em nosso país acredita que a principal missão da escola é formar cidadãos, e não apenas ensinar os conteúdos científicos. E formar cidadãos pressupõe a ideia de despertar o senso crítico para que o estudante tenha uma visão política e crítica sobre a realidade. E, a atitude socialmente crítica é emancipação. Ela combate e rompe com o desenvolver enciclopédico e elitista das escolas tradicionais. Educar é analisar as realidades e a nossa sociedade, selecionando aquilo que é urgente para ser conhecido, discutido, problematizado. Se analisar criticamente as realidades é um problema, que possamos subverter a lógica do pensamento único.

Como professor há 22 anos na escola pública de ensino, tenho o entendimento de que a escola deve ser um ambiente de prática libertadora, onde todos que constituem a comunidade escolar podem se colocar, se contrapor, a partir da pluralidade de temas – com respeito às minorias e de combate a todo tipo de discriminação, seja de etnia, gênero, orientação sexual, religião. Ocorre que não é o que estabelece o Projeto de Lei de "Escola Sem Partido", que é mais apropriado denomina-lo de "Lei da Mordaça", porque é exatamente isso que esse projeto pretende fazer, impedir o professor de desenvolver o pensamento crítico no ambiente escolar.

Quando esses integrantes do movimento Escola Sem Partido, que também disseminam a teoria da conspiração marxismo cultural, defendem que a escola precisa ser “neutra” em relação a todas as questões, demonstram nítido desconhecimento tanto do papel da escola quanto da natureza do conhecimento com o qual ela lida. Eles ignoram que é a ideia da convivência múltipla, diversa, que caracteriza a sociedade humana, principalmente a nossa. Ocorre que essa é também uma sociedade que tem preconceito. Como a escola sabe que a sociedade brasileira tem forte discriminação de gênero e de raça, tem desigualdade social, é preciso que ela trabalhe isso. Ao tocar numa questão racial na sala de aula, o professor não está racializando a sociedade brasileira, como dizem os integrantes do movimento Escola Sem Partido. Existe racismo no Brasil. E a escola tem que trabalhar uma educação que seja antirracista. Ela tem que contribuir para que as pessoas respeitem as diferenças, respeitem o outro.

Voltando ao tema do marxismo cultural. Ao analisar essa postura contrária de muitos cristãos, aqui no Brasil, no que se refere as políticas sociais para as minorias, percebe-se claramente que eles querem imitar a ala ultraconservadora da direita cristã dos Estados Unidos. Eles não entendem, por exemplo, que políticas sociais e para minorias que eles chamam de “marxismo cultural” são de caráter socialdemocrata, corrente política e econômica que ganhou muito espaço na Europa Ocidental capitalista, em países como França, Holanda, Espanha, Suécia e Áustria, depois da Segunda Guerra Mundial.

Ao invés de propor a destruição do capitalismo, a social democracia busca implementar políticas econômicas a fim de amenizar os efeitos desse sistema perverso. Tais políticas baseiam-se nas teorias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), que entre outras coisas, defendia a intervenção do Estado na economia, a fim de implantar políticas econômicas que garantissem o pleno emprego dos trabalhadores. O primeiro país a adotar um programa socioeconômico inspirado nas ideias de Keynes foram os EUA como uma estratégia de superação da Grande Depressão, programa conhecido por New Deal (Novo Acordo). Por adotar as ideias Keynesianas de apoio aos desempregados – como na instituição do salário mínimo -, as ações do New Deal é considerada por muitos estudiosos como precursoras do Estado de bem-estar social, uma perspectiva política e econômica na qual o Estado promove a manutenção de um regime de pleno emprego e o aumento da renda dos trabalhadores, o que resultariam em aumento da demanda interna, crescimento econômico e melhora das condições sociais. Fato é que, o keynesianismo e o Estado de bem-estar social implementado, respectivamente, nos EUA e nos países da Europa Ocidental não tornaram esses países em comunistas, uma vez que esses sistemas sócio-econômicos são completamente distintos. E a diferença fundamental é que o Estado de bem-social é implementado dentro do capitalismo, sem a sua supressão, enquanto que o comunismo é implantado a partir da abolição da propriedade privada, ou da destruição do capitalismo.

Os adventistas e o marxismo cultural

O mundo evangélico é sempre um campo fértil para o desenvolvimento de teorias conspiratórias. Impressiona-nos a facilidade que eles têm de acreditar em teorias da conspiração. Indiscutivelmente, uma das razões que permitem a circulação de ideias conspiracionistas entre evangélicos está relacionada a crença no fim do mundo, ou seja, como os cristãos (especialmente evangélicos) acreditam que um dia a história chegará ao seu ponto final, eles tendem a acreditar mais nas teorias de conspiração. Durante a década de 1990, muitas teorias conspiratórias se disseminaram no meio evangélico, entre elas, a da “Nova Era” (não negamos a existência do movimento, mas os crentes fizeram uma paranoia dele), crente não podia comprar camisetas de marcas com certos símbolos, não podia comprar produtos de certas marcas. Quem não se lembra do boato que circulava dizendo que o dono da “Procter and Gamble”, empresa multinacional norte-americana de produtos de cuidados pessoais e higiene, teria ido ao “Jô Soares”, ou “Faustão”, ou algum outro programa, dependendo da variação do boato, onde ele teria dito que a empresa estava a serviço de Satanás e que iria destruir o cristianismo? Os crentes procuravam “Nova Era” em tudo.

Durante a implantação da tecnologia do “código de barras”, aquela “etiqueta” hoje onipresente nos produtos de supermercado que o operador de caixa encosta num sensor e já aparece o preço na tela do computador, muitas igrejas evangélicas orientaram seus membros a boicotar os produtos que tivessem o código de barras porque isto seria a “marca da besta”. Diziam que o computador reconhecia como “666”. Vimos muitos crentes com medo, na época, de pegar produtos com códigos de barras, até que o boicote ficou insustentável e essa paranoia perdeu sua força.

E muitas outras teorias de conspiração já pudemos acompanhar entre igrejas e indivíduos evangélicos que abraçam estas teorias de maneira as vezes fanática e paranoica. Ouvimos muitas vezes crentes dizendo que há uma conspiração illuminati para dominar o mundo e implantar a Nova Ordem Mundial, crentes dizendo que demônios em forma de répteis controlavam os bancos do mundo, crentes dizendo que o “Foro de São Paulo” organiza exércitos comunistas para fazer guerra civil no Brasil, crentes bolsonaristas dizendo que a China criou o corona vírus com apoio da ONU e outras instituições globalistas para usar a COVID-19 como arma biológica e forçar os países do Ocidente a aderir a quarentena/lockdown, iniciando um experimento mundial de preparação para um futuro governo comunista internacional, e assim por diante.

Agora a teoria de conspiração adotou uma plataforma mais secular: A política. Vinte e nove anos após o fim da “Guerra Fria”, que dividiu o mundo em “Capitalistas e Socialistas”, lideranças e idealistas evangélicos ressuscitam a paranoia de parte da segunda metade do século 20 e combatem o “comunismo”. Com isso vemos uma união contra a conspiração do “comunismo”, ou “marxismo cultural”, que segundo os ideólogos, é a estratégia atual empregada pelos comunistas para tomar o poder, grupos evangélicos historicamente conflitantes, como calvinistas e pentecostais, batistas e luteranos, evangélicos e católicos, entre outros, grupos que às vezes nem se consideram como irmãos entre si, se unem para dividir palcos, palanques, púlpitos e altares para se defenderem contra a conspiração da vez, fazendo isso sem amor pelo próximo, mas querendo neutralizar e combater o próximo, em nome de teorias da conspiração.

Impressiona-nos mais ainda ver que os adventistas, que sempre foram vistos como um grupo dentre os cristãos mais sensatos e racionais, embarcando nessa paranoia, acreditando em notícias e histórias falsas e sendo por elas influenciadas, depois que foram arrastados pela “onda bolsonarista”. À semelhança de vários pastores evangélicos, diversos pastores adventistas, bem como muitos membros leigos, há muito mergulharam de cabeça no estudo desse assunto, tendo como fonte o autodeclarado filósofo Olavo de Carvalho. Vez por outra via-se algumas produções em forma de textos e vídeos alertando os crentes adventistas dos “perigos” do marxismo cultural.

Mas, foi somente recentemente que a teoria foi incorporado ostensivamente no discurso de alguns líderes adventistas que ocupam posições mais elevadas na Obra, como é o caso do Pastor Rafael Rossi, Líder de Comunicação da IASD para a América do Sul. Recentemente, ele realizou um seminário virtual para departamentais de jovens e desbravadores acerca desse polêmico assunto. Nos parece que a referida palestra foi realizada para alertar os pastores departamentais de jovens dos “perigos” da influência desse suposto Marxismo cultural na igreja. Na realidade, a palestra é uma nítida reação de um pequeno grupo de pastores alinhados à direita política, inconformados com a constatação da existência de vários fieis adventistas espelhados pelo Brasil que possuem concepções políticas de esquerda. O vídeo foi postado no YouTube, que logo viralizou nas redes sociais, que sem um motivo claro foi posteriormente removido da plataforma.

Curiosamente, no vídeo, o aludido pastor informa que há um grupo de estudos na Divisão Sul-Americana (DSA), e que o mesmo estudou o tema Marxismo Cultural, e parece-nos que a palestra foi fruto do “estudo” desse grupo. Ocorre que, o Pr. Rossi quando apresentou o conceito e os postulados do “Marxismo cultural” não citou sequer uma fonte, em que se baseou para explicar o marxismo cultural. Ele não apresentou uma obra ou artigo científico de valor acadêmico tratando sobre o Marxismo cultural.

Uma vez que os grupos ligados a direita política, inclusive os bolsonaristas são disseminadores dessa teoria conspiratória, o vídeo do Pr. Rossi escancara o alinhamento político desse grupo de pastores idealizadores da palestra com a direita, bem como sua crença na teoria conspiratória.

Em outubro passado, o Dr. Rodrigo Silva, pastor e apresentador do Programa “Evidências”, da TV Novo Tempo, numa palestra no Canal do UNASP no You Tube deixou nítido a influência dessa teoria no seio do adventismo no Brasil, ao afirmar: “[...] Quando você diz: “a igreja tem que entender que tomar a causa da mulher, do negro e do homossexual não é marxismo”. Leiam Bauman. Na forma como está sendo colocada é marxismo. Ponto! É marxismo! Eu não concordo com aquele filósofo do presidente lá, o Olavo de Carvalho. Muitas coisas que ele fala é muito arrogante. [...] Eu discordo de Olavo de Carvalho em muitos pontos, mas a expressão “marxismo cultural ela tem fundamentação teórica, sim, senhor! Está ali. Estude isso. E a igreja está atenta para isso, para não perder a sua identidade”18. Para uma análise desse discurso enviesado do Dr. Silva veja o artigo Breve Análise do Discurso Controverso do Dr. Rodrigo Silva.

É lamentável ver alguns pastores adventistas tornarem-se olavistas, aterrorizadores de plantão, tentando convencer os incautos de que tudo à nossa volta é conspiração comunista. Eles são obreiros remunerados para transformar os servos de Deus em neuróticos, “caçadores de bruxas”.

Ekkehardt Mueller, diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica na sede mundial da IASD, afirmou claramente que “não condescendemos com teorias da conspiração e não as proclamamos publicamente. Elas não podem ser comprovadas. A necessidade de se retratar ou a comprovação de que estavam erradas podem causar prejuízos à causa de Deus”.19 Que os pastores envolvidos na disseminação dessa teoria da conspiração perceba esse risco de desencadear graves prejuízos a igreja, e avaliem se vale a pena insistir nisso.

Marxismo Cultural não existe

Apesar de todo o aranzel da incrível teoria do “marxismo cultural”, permanece inalterável esta verdade: Ele não existe e nunca existiu. Embora reconheçamos que há partidos e movimentos sociais no Brasil, cuja pauta consiste na defesa de leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, não acredito que isso faça parte de um plano maquiavélico de dominação da cultura que levará paulatinamente a implantação do comunismo. Seja dito de passagem, que leis que favorecem o casamento homoafetivo e o aborto foram aprovados nos EUA e em alguns países da Europa Ocidental. No entanto, esses países continuam capitalistas, e não há nenhuma tendência no sentido desses países adotarem o socialismo por conta dessas mudanças. Logo, essa é uma teoria fantasiosa que só existe no mundo fechado dos reacionários. Isso não passa de mito, pelas seguintes razões:

1) Não se pode denominar esse suposto movimento de Marxismo. Diversos teóricos de direita, liberais e antimarxistas apontam que o marxismo cultural é uma espécie de fantasma inexistente utilizado para atacar a esquerda. Um deles é Gary North, economista neoliberal e membro do Instituto Mises, uma das instituições de pesquisa sobre economia liberal - portanto de direita - com maior representatividade na atualidade.

North escreveu: “Qualquer indivíduo que considere que marxismo cultural é marxismo não entende nada de marxismo.  No entanto, tal postura é muito comum em círculos conservadores.  Trata-se de um grande erro estratégico porque representa, acima de tudo, um erro conceitual. O coração, a mente e a alma do socialismo marxista ortodoxo é um só: o conceito de determinismo econômico. Marx argumentou que o socialismo é historicamente inevitável porque haverá uma inevitável transformação do modo de produção da sociedade. Ele argumentou que o modo de produção é a subestrutura de uma sociedade, e que a cultura geral é a superestrutura. Segundo ele, as pessoas se apegam a uma visão específica das leis, da ética e da política de uma sociedade somente por causa de seu comprometimento a um modo específico de produção. Se esse modo de produção for alterado, o apego das pessoas às leis, à ética e à política será alterado. [...] Essa posição de Marx ganhou vários defensores exatamente porque ela era puramente econômica/materialista. Marx criou uma teoria que descartava a necessidade de qualquer explicação histórica; no fundo, era uma teoria que se baseava na ideia de que ideias não são fundamentais para a transformação da sociedade. Marx acreditava que a arena decisiva da luta de classes é o modo de produção, e não a batalha das ideias. Ele via as ideias como um desdobramento secundário do modo de produção. Sua visão era essa: ideias não têm consequências significativas. Retire esse postulado do marxismo, e o que sobra não mais será marxismo. É por isso que sempre me espanto quando vejo analistas conservadores aceitando a ideia de marxismo cultural”.20

Como North apontou, para Marx, a dialética ocorre da infraestrutura (a base material e concreta da sociedade) para a superestrutura, num processo histórico de mudanças. As mudanças ocorrem no campo da economia, que produzem as mudanças no campo das ideias, do direito e da política. Portanto, não são as ideias que causam as transformações sociais, mas as condições materiais dos homens é que produzem as suas ideias e o seu modo de agir na sociedade. Ele acreditava que a história é movida a partir da luta de classes, dos conflitos entre as forças produtivas e as relações de produção. Ele enxerga que as classes sociais têm interesses diferentes e que é o embate entre elas que faz girar o mundo.

Sobre isso, Marx afirmou: “A história de todas as sociedades até nossos dias é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e aprendiz; em resumo, opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta, ora aberta, ora oculta - uma guerra que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta”21

Há na história um clássico exemplo que ilustra muito bem isso: o modo de produção feudal. A nobreza medieval tinha a propriedade da terra e todas as outras estruturas foram criadas a partir da propriedade da terra pela nobreza. Quem estudou feudalismo sabe muito bem disso. Mas, surgiu uma outra classe, a burguesia. Após as Cruzadas, ela foi se fortalecendo, acumulando riqueza ao longo dos séculos através do comércio, até chegar os séculos XVI e XVII e, especialmente ao século XVIII, quando esta ocupa um lugar de destaque na sociedade. Como ela possuía dinheiro, capital, fez aliança com o rei e financiou-o, que deu um golpe na nobreza. Quando chega o século 18, a burguesia já tem acesso à tecnologia, adquire todo aparato industrial, compra as máquinas. Agora temos uma síntese, que é uma nova sociedade, a sociedade capitalista, moderna, industrial e urbana. Essa nova síntese aconteceu por causa dessa tensão entre os opostos. Para Marx, portanto a dialética não se deu no campo das ideias, mas, primeiro no campo das condições materiais da existência, que vão repercutir no campo das ideias, da política e da moral.

Assim, para a teoria marxista, a luta de classes seria “o motor da história”. É ela que impulsiona a história, desencadeando os processos históricos. Marx considera que todas as mudanças históricas fundamentais são causadas pela luta de classes. Portanto, o marxismo percebe a luta de classes como meio para o fim dessa exploração, bem como para a instituição de uma sociedade onde os produtores de riqueza seriam os detentores de sua produção. Em outras palavras, a classe trabalhadora destruiria o capitalismo por meio da revolução armada, tomando para si os meios de produção e o governo, suprimindo a burguesia e os seus meios de hegemonia e manutenção do poder, que constituem os conjuntos chamados infraestrutura e superestrutura, e construiria uma nova sociedade, na qual as terras e as empresas pertenceriam à coletividade. Tudo seria de todos, e os frutos, distribuídos de acordo com o trabalho de cada um. Ninguém teria condições de explorar o seu próximo. Sendo, então, uma sociedade sem classes, justa e igualitária, em que toda a propriedade seria comum, cada indivíduo teria liberdade para exercer qualquer tipo de ofício e suas necessidades seriam asseguradas pela comunidade. Ele chamou essa sociedade de socialista, que por último, evoluiria para o comunismo.

Conforme declarado por North, um antimarxista, não há qualquer conspiração marxista que vise implantar o socialismo por meio de uma revolução cultural. Portanto, Marxismo cultural não passa de pura invencionice e simplismo ideológico do discurso reacionário.

A verdade é que, as mudanças culturais ocorridas no mundo ocidental estão mais relacionadas com a contracultura, que começou a partir de meados da década de 1960, nos EUA (que disseminou a máxima "sexo, drogas e rock'n roll" entre os jovens) do que com o marxismo. O movimento contracultura surgiu para questionar normas e padrões estabelecidos socialmente. Mas, os movimentos de contracultura questionaram não só os padrões de comportamento social, como também a religião, a sexualidade, as instituições sociais (como a família, o casamento, a Igreja, a escola, o Estado, a polícia, o exército e o trabalho) e os padrões estéticos.

Não obstante existirem jovens nesse período que sonhavam com a revolução socialista, como é o caso do intelectual e militante socialista Tariq Ali, que participou altivamente, nos anos 1960 e 1970, do movimento da contracultura, o movimento de contracultura, em geral, não era necessariamente vinculado ao marxismo. Foi nesta década que surgiu o movimento hippie, que incitou milhares de jovens a cultuarem o amor livre, o desprendimento das convenções e o desenvolvimento de um mundo alternativo ao sempre tão criticado “sistema”. Os hippies não sonhavam com uma revolução socialista como a russa, chinesa ou a cubana, e preferiam preferia “paz e amor” para transformar o mundo, em vez da guerrilha. Seus heróis não eram Lênin, Mao ou Che Guevara, mas Gandhi, sábios chineses antigos e gurus indianos. À época a contracultura era mais um produto dos Rolling Stones, os Beatles, The Doors e de outras bandas norte-americanas que do Marxismo. Por exemplo, entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, aconteceu em uma fazenda na cidade de Bethel, no estado de Nova York, o famoso Woodstock Music and Art Fair (Feira de Música e Arte Woodstock), que foi um festival de música. Os cerca de 500 mil jovens que compareceram ali, se reuniram para ouvir música rock, cantar, namorar, fumar, tomar banho pelado no rio, entre outras atividades. Até onde sabemos, nem os organizadores do evento nem os cantores que se apresentaram eram militantes marxistas ou comunistas.  Portanto, é um erro histórico tentar rastrear a contracultura ao marxismo.

2)  A narrativa construída por Olavo de Carvalho e outros teóricos da direita a respeito do marxismo cultural é eivada de inverdades. Estes comumente afirmam que a referida estratégia, ou seja, a da dominação pela cultura, nasceu das análises culturais da Escola de Frankfurt e do filósofo marxista Antonio Gramsci com seu conceito de hegemonia cultural. No entanto, nem Gramsci, nem Marcuse pensaram sequer em uma maneira de aplicar o marxismo cultural. Estes não deixaram em nenhuma de suas obras um plano concatenado de tomada do poder pelos comunistas a partir da destruição dos valores judaico-cristãos do Ocidente. Isso é, como já demonstramos, uma narrativa construída por Minniciano a partir de extratos das obras desses pensadores marxistas, e depois reproduzidas por outros ideólogos em várias partes do mundo ocidental. Até porque criticar de forma incisiva aspectos da cultura burguesa que favorece o capitalismo não significa que isso em si seja um plano de tomada do poder.

Afirmar que Lukács e Gramsci acreditavam que a estratégia para se chegar ao socialismo era a dominação cultural é falsa. Vale ressaltar que ambos eram comunistas. Eles jamais negaram a revolução armada, nem disseram que a revolução aconteceria única e exclusivamente pelo meio cultural. Isso é antimaterialista e, pior, pode cair no campo do idealismo. Na realidade, Gramsci propõe como estratégia a médio e longo prazo uma “guerra de posição” (a disputa pela hegemonia mantida pelo Estado burguês), em cenários adversos e marcados pela iniciativa histórica dos adversários, para a construção de uma hegemonia pela via do consenso (revolução passiva) antes de alcançar o nível de domínio coercitivo, ou seja, a tomada do poder pela revolução armada. Embora nos Cadernos do Cárcere ele tenha defendido a construção da contra-hegemonia pelos trabalhadores na sociedade, ele nunca ignorou “guerra de movimento”, que fora típica dos bolcheviques. Ele acreditava que a insurgência e possibilidade de uma revolução só ocorre no momento em que os trabalhadores e trabalhadoras na sociedade civil estiverem organizados em negar a ideologia dominante, ao reconhecer que a existência da sociedade civil não garante plena liberdade de ação. É o que se depreende da leitura de um de seus artigos do L’Ordine Nuovo, Socialismo e Fascismo, de abril de 1921. Ele escreveu:

“A ação sindical de defesa, a constituição de organismos e de experimentos socialistas em regime burguês, a conquista de um número cada vez maior de postos nos organismos através dos quais os burgueses governam a sociedade, nada disso basta hoje, nada disso tem mais serventia. É preciso fazer algo diverso se não quisermos ser esmagados e perder tudo. É preciso que os operários, os trabalhadores de todas as categorias tornem-se dominadores de toda a sociedade, que tenham o poder e o exerçam através de novas instituições, capazes de dar à sociedade uma nova forma e uma férrea disciplina de ordem e de trabalho para todos. É preciso que todas as demais lutas se subordinem àquela que visa a conquista do poder, à criação do novo Estado dos operários-camponeses”.22 Quando ele afirma aqui que todas as demais formas de lutas da classe trabalhadora devem estar submetidas “àquela que visa a conquista do poder, à criação do novo Estado dos operários-camponeses”, ele está se referido nitidamente à revolução socialista propugnada por Marx e Engels.

É fato que, Georg Lukács, Antonio Gramsci e a grande maioria dos escritores marxistas criticam a cultura burguesa, porém, não vejo algo de ruim nisso. A cultura burguesa é, indubitavelmente, uma cultura classista, machista, racista, que jamais deve ser a cultura de uma sociedade socialista idealizada por Karl Marx, que na perspectiva do pensamento marxista ela faz parte da superestrutura, cuja mudança radical ocorre quando o modo de produção capitalista é alterado.

3) Não há estudos acadêmicos que apoiem essa teoria da conspiração ou algo semelhante, simplesmente porque ela não existe. Ela não tem base em fatos e não há nenhum movimento intelectual com esse nome. A Escola de Frankfurt, comumente apontada pelos teóricos da direita como a que lançou as bases do marxismo cultural, era, na verdade, um grupo relativamente pequeno de estudiosos marxistas, etnicamente judeus, que desenvolveram uma abordagem interdisciplinar crítica ao capitalismo. Por conta desses teóricos terem sido judeus, alguns ao abordarem a temática do “marxismo cultural” acusam seus ideólogos de antissemitas. Esses estudiosos da Escola de Frankfurt procuraram entender por que a revolução socialista preconizada pelo pensamento marxista tradicional ainda não havia acontecido na Europa Ocidental, onde parecia ter sido bloqueado por forças incluindo nacionalismo, burocracia, consumismo e fascismo. Entre os nomes associados à Escola de Frankfurt estão Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Walter Benjamin, LeoLowenthal, Franz Neumann e Otto Kirchheimer. Quando os nazistas chegaram ao poder, a Escola de Frankfurt trocou a Alemanha pelos Estados Unidos e se restabeleceu em Nova York na Columbia University. O "Instituto de Pesquisa Social" da Escola de Frankfurt existe até hoje (agora localizado novamente na Alemanha), e o movimento intelectual mais amplo que foi fundado é conhecido como “Teoria Crítica”, a qual “desejava transpor a sua teoria contracorrente ao que se escrevia no meio académico então, na primeira metade do século XX, para as pessoas e para aquelas a quem cabia viver e produzir vida”23. Embora alguns membros da Escola de Frankfurt tivessem influência, alguns livros de Erich Fromm e Herbert Marcuse foram influentes em alguns ativistas da Nova Esquerda na década de 1960 - as teorias da conspiração do "marxismo cultural" exageram muito a influência e poder da escola.

Além disso, não existe um campo acadêmico conhecido como “Marxismo Cultural”. Ressalte-se que os estudiosos da Escola de Frankfurt são chamados teóricos críticos, não marxistas culturais. Estudiosos em vários outros campos que muitas vezes são colocados na categoria de "Marxista cultural", como pós-modernistas e estudiosos feministas, também não chamam seus campos de estudo de marxismo cultural, nem compartilham uma simetria ideológica perfeita com a Teoria Crítica. O termo “cultural” aparece muito ocasionalmente na literatura de vários teóricos marxistas contemporâneos, mas não há um padrão de usá-la para apontar especificamente para a Escola de Frankfurt – um filósofo marxista conhecido por sua análise da cultura contemporânea e da pós-modernidade, o americano Frederic Jameson, por exemplo, usa o termo, mas seu uso do termo "cultural" refere-se a sua estética, não a um compromisso específico com a Escola de Frankfurt. Em resumo, o marxismo cultural não existe. Ele não é apenas uma teoria da conspiração, mas não há movimento intelectual com esse nome.

Conclusão

Diante do exposto, o chamado “marxismo cultural”, representa uma teoria enganosa. Não passa de um expediente conspiratório patético e infundado. Mesmo assim, tem ganhado adeptos entre multidões enormes de pessoas que leem a revista Veja, apoiam Bolsonaro, MBL ou seguem canais de gente com posições políticas desequilibradas como Olavo de Carvalho, o metaleiro de extrema direita Nando Moura e o padre Paulo Ricardo.

A narrativa do marxismo cultural, que é de natureza direitista, cumpre as funções de demonizar a esquerda, bem como de arregimentar os cristãos em torno dos projetos da direita no Brasil. Nesses últimos cinco anos, essa teoria foi empregada estrategicamente pelos líderes religiosos (católicos e evangélicos) no Brasil para demonizar a esquerda e arregimentar os cristãos em torno de candidatos ligados à direita política, inclusive elegendo Bolsonaro presidente da República. Durante a campanha eleitoral de 2018, para presidente, os pastores e padres conservadores orientavam os fiéis a não votarem no candidato do PT, porque este representava o marxismo cultural, que pretendia destruir os valores da família, queria ensinar as crianças nas escolas a serem LGBTQIA+, por meio do suposto “Kit gay”, entre outros impropérios.

A fim de evitar o engano das teorias da conspiração, os cristãos precisam prementemente acatar a recomendação do profeta messiânico:

“O Senhor me advertiu firmemente de que não pensasse como todos os outros. Disse ele: “Não chame tudo de conspiração, como eles fazem; não viva com medo do que eles temem. Considere o Senhor dos Exércitos santo em sua vida; é a ele que você deve temer. Ele é quem deve fazê-lo estremecer; ele o manterá seguro […]’” (Isaías 8:11–14, NVT).

 

*Ricardo André de Souza é pedagogo, professor de História da Educação Básica das Redes Municipal e Estadual de Sergipe.

REFERÊNCIA:

1. JÚNIOR, Alfredo Boulos. História sociedade & cidadania. 2ª ed. São Paulo: FTD: 2015, p. 726.

2. REZENDE, Alessandro Teixeira. Teorias da conspiração: significados em contexto brasileiro. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2019000101001#B02

3. CLIFFORD, William K. A Ética da Crença. 1879, trad. de Desidério Murcho, p.70.

4. BARKUN, Michael (2003). A Culture of Conspiracy: Apocalyptic Visions in Contemporary America. University of California Press, p. 7. In: Wikipédia, A enciclopédia livre.

5. MINNICINO, Michael. New Dark Age: Frankfurt School and ‘Political Correctness’. Disponível em: < https://archive.schillerinstitute.com/fid_91-96/921_frankfurt.html> Acesso em: 10 de out. 2020.

6. Idem

7. Manifesto completo de Anders Behring Breivik “2083 - Uma Declaração Europeia de Independência”. Disponível em: <https://publicintelligence.net/anders-behring-breiviks-complete-manifesto-2083-a-european-declaration-of-independence/> Acesso em: 15 de out. 2020.

8. Idem

9. LIND, William S. O que é o marxismo cultural? Disponível em: <http://www.marylandthursdaymeeting.com/Archives/SpecialWebDocuments/Cultural.Marxism.htm> Acesso em: 10 de out. 2020.

10.WEYRICH, Paul Michael. “Carta aos Conservadores de Paul M. Weyrich”. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20000411172504/http://www.nationalcenter.org/Weyrich299.html> Acesso em 20 de out. 2020.

11. CARVALHO, Olavo de. Do Marxismo Cultural. Disponível em: < http://www.olavodecarvalho.org/semana/06082002globo.htm> Acesso em 09 de out 2020.

12. Idem

13. STALIN, Joseph. Sobre os Fundamentos do Leninismo. Disponível em <https://www.marxists.org/portugues/stalin/1924/leninismo/cap04.htm> Acesso em 25 de jan 2021.

14. DOROTHY, HOOBLER, Thomas. Os Grandes Líderes: Stalin. São Paulo: Editor: Juan Carlos Chacon Friori. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 12.

15. CARVALHO, Olavo de. Do Marxismo Cultural. Disponível em: < http://www.olavodecarvalho.org/semana/06082002globo.htm> Acesso em 09 de out 2020.

16. AZEVEDO, Paulo Ricardo de. O Marxismo Cultural e a Igreja do Brasil. Disponível em: https://www.espacojames.com.br/?cat=1&id=6526. Acesso em: 15 de out 2020.

17. AZEVEDO, Paulo Ricardo de. A infiltração do marxismo cultural no Brasil. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/aulas/a-infiltracao-do-marxismo-cultural-no-brasil> Acesso em: 16 de out 2020.

18. Maratona Espiritual: Adventismo em tempos líquidos. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=pULZq8Wtt8s> Acesso em: 20 de out 2020.

19. Revista Adventista, agosto 2020, p. 15.

20. NORTH, Gary. Marxismo Cultural é um paradoxo. Disponível em: <https://www.mises.org.br/article/1896/marxismo-cultural-e-um-paradoxo> Acesso em: 18 de out 2020.

21. MARX, Karl. O Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Editora Martin Claret, 2010, (Col. A Obra Prima de Cada Autor), p. 45.

22. GRAMSCI, Antonio. Cartas do Cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro, v. 2, p. 62.

23. BRANDÃO, Lucas. A escola de Frankfurt e a Teoria Crítica. Disponível em: <https://www.comunidadeculturaearte.com/a-escola-de-frankfurt-e-a-teoria-critica/> Acesso em: 25 de jan de 2021.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

COMO SUPERAR A DOR DA PERDA DE UM ENTE QUERIDO?

Pr. Mark Finley

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Mat. 5:4.

Embora não haja uma receita rápida que dê solução para a excruciante dor causada por uma perda irreparável, conselheiros cristãos dão pelo menos três princípios fundamentais que podem apressar a cura emocional. Ei-los:

1. Desabafe. Encontre alguém com quem você possa falar de seus sentimentos. Tristeza é sempre a resposta natural a uma perda. No Antigo Testamento, perdas trágicas eram normalmente acompanhadas por choro e lamentos dramáticos. Na sociedade moderna, demonstrações públicas de pesar geralmente são vistas como impróprias. Porém, encontrar um ombro amigo no qual chorar, expressar a dor e compartilhar sentimentos são partes vitais no processo de superação.

2. Entenda o ciclo do pesar. Poucas semanas após o 11 de setembro de 2001, falei com uma mulher que perdera esposo naquele dia. Ela mencionou que inicialmente negara o fato. Não queria acreditar que o marido estava em um dos aviões que caíram e ficou irada com a companhia aérea. Então, foi abatida pelo desânimo. Negação, desânimo e, muitas vezes, culpa são emoções normais nessas circunstâncias. Tais emoções nem sempre vêem na mesma ordem, mas, geralmente, elas emergem. Se estivermos preparados, poderemos lidar com elas assim que aparecerem.

3. Aceite a realidade. Nem sempre Deus interfere para impedir o mal, mas Ele ainda está no controle. Vivemos em um mundo onde coisas ruins acontecem a pessoas boas. Na guerra entre o bem e o mal ocorrem muitas baixas. Embora ainda permita que o mal siga seu curso, Ele está em meio ao sofrimento. Está presente para consolar os que choram, para animar os desanimados, fortalecer os fracos e para dar esperança ao desalentado.

Em meio à dor, pela fé, podemos segurar a Sua mão, deixar que Sua luz penetre a escuridão que nos envolve, e que Suas promessas tragam alento ao nosso coração. Podemos, sim, esperar por dias melhores.

 

Mark Finley, Sobre a Rocha [MD 2006], p. 59.