Teologia

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

LÍDERES DA IGREJA ADVENTISTA VOTAM DECLARAÇÃO “UMA HUMANIDADE”


 Por Agência Adventista Sul-Americana de Notícias

Declaração sobre racismo, sistema de castas, tribalismo e etnocentrismo foi votada por Comissão Administrativa da Associação Geral da Igreja Adventista.

Um documento que aborda racismo, sistema de castas, tribalismo e etnocentrismo foi votado pela Comissão Administrativa da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos.

O documento original (em inglês) está disponível aqui. Abaixo, veja na íntegra o teor da declaração:

Uma humanidade: uma declaração das relações humanas abordando racismo, sistema de castas, tribalismo e etnocentrismo

O dever moral de declarar os princípios bíblicos no tratamento de outros seres humanos tornou-se fundamental à medida que o mundo reconhece cada vez mais o flagelo persistente da injustiça racial, dos conflitos tribais e da intolerância nos sistemas de castas sofrido por milhões de pessoas em todas as sociedades e regiões do mundo. Deus “de um só homem fez todas as nações para habitarem sobre a face da terra” (Atos 17:26), e Jesus nos ensina a amar nosso próximo como a nós mesmos (Mateus 22:39).

A Igreja Adventista do Sétimo Dia reconhece a importante responsabilidade de tornar seus compromissos e compaixão claros para um mundo que espera palavras e ações em harmonia com os ensinamentos de Jesus. Nosso compromisso flui de nossa missão de pregar o Evangelho de Jesus Cristo a “cada nação, tribo, língua e povo” (Apocalipse 14:6), em nosso mundo turbulento, pois reconhecemos que apenas Cristo pode mudar o coração humano.

Os adventistas do sétimo dia estão comprometidos com as verdades bíblicas imutáveis que revelam que os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:27). Com base no relato da criação no livro de Gênesis, acreditamos na igualdade imutável e dada por Deus para todas as pessoas em todos os tempos, lugares e circunstâncias. Todos nós descendemos de Adão e Eva, nossos ancestrais originais, que fazem de toda a humanidade uma só família (Gênesis 3:20). Mesmo os trágicos resultados da escolha humana de se rebelar contra Deus não apagaram as relações duradouras entre todos os seres humanos. As distinções de raça, etnia, casta e tribo são usados para segmentar e dividir pecaminosamente a unidade fundamental que Deus desejou que os seres humanos experimentassem com Ele e uns com os outros.

Mantemos nossa fidelidade aos princípios bíblicos de igualdade e dignidade de todos os seres humanos diante das tentativas históricas e contínuas de usar cor da pele, lugar de origem, casta ou linhagem percebida como um pretexto para um comportamento opressivo e dominador. Essas tentativas são uma negação de nossa humanidade compartilhada, e deploramos toda agressão e preconceito como uma ofensa a Deus. Todavia, reconhecemos que muitos membros de nossa igreja mundial falham em defender essa verdade bíblica sobre a igualdade de todas as pessoas.

Ao contrário dos ensinamentos e do exemplo de Jesus, alguns crentes absorveram ideias pecaminosas e desumanizantes sobre a valorização racial, tribal, de casta e étnica que levaram a práticas que prejudicam e ferem a família humana. Essas maneiras de pensar e as práticas delas decorrentes enfraquecem as próprias verdades que nos comprometemos a viver e a ensinar. Pedimos desculpas por não termos falado ou agido com ousadia sobre esses assuntos no passado.

Os adventistas do sétimo dia são membros de uma igreja global e diversa e estão comprometidos em ser agentes de paz e reconciliação na sociedade, mostrando e defendendo a verdade bíblica sobre nossa ancestralidade compartilhada. “Porque o amor de Cristo nos constrange” a considerar as pessoas do ponto de vista dEle e a ser Seus “embaixadores” neste mundo dividido com a “palavra da reconciliação” (II Coríntios 5:14, 19, 20). Apoiaremos e cuidaremos dos marginalizados e maltratados por causa de sua cor, casta, tribo ou etnia (Mateus 25:40).

Acreditamos que aqueles que abusam dos outros devem, de acordo com os princípios bíblicos, ser devidamente levados à justiça e, por fim, enfrentarão o julgamento divino (Eclesiastes 12:14; Hebreus 9:27). Vamos ensinar e exortar que a verdade de Deus sobre as origens humanas e a igualdade, conforme ensinadas na Bíblia, são a base mais sensata de todas as relações humanas.

Deus coloca uma responsabilidade especial sobre aqueles que responderam à Sua graciosa salvação para todos (Gálatas 3:28) para demonstrar nosso compromisso com a igualdade, a justiça e a responsabilidade em todas as relações humanas. Deus criou cada pessoa única, e Sua poderosa influência em nossas vidas resulta em uma celebração das diferenças que respeitosamente valoriza a herança humana e cultural de cada pessoa. Reconhecemos que a solução final para os pecados de racismo, sistema de castas, tribalismo e etnocentrismo é a transformação de vidas e relacionamentos individuais por meio de Cristo e Seu poder salvífico. Aceitamos e abraçamos nosso compromisso cristão de viver, por meio do poder do Espírito Santo, como uma igreja que é justa, atenciosa e amorosa, baseada nos princípios bíblicos.

Deus convida a todos, de todos os lugares, a se unirem à igreja remanescente descrita na profecia bíblica (Apocalipse 12:17) na proclamação do evangelho eterno que se concentra na justiça de Jesus Cristo incluída nas três mensagens angélicas (Apocalipse 14:6-12). Essas mensagens devem ser dadas a “cada nação, tribo, língua e povo” culminando com o breve retorno de Cristo (Apocalipse 14:6,14). Ansiamos por um novo céu e uma nova terra, quando “não haverá mais dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4).

 

FONTE: Notícias Adventistas

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O HOMEM QUE NÃO TEVE FUNERAL E O SENTIDO ESCATOLÓGICO DE SUA EXPERIÊNCIA

Ricardo André

Quero nesse artigo refletir acerca de um personagem enigmático das Sagradas Escrituras. A história impressionante e incomum desse homem está repleto de lições espirituais, e está registrada no quinto capítulo do livro de Gênesis. Nele, também encontra-se registrada a existência das primeiras gerações de vida humana na Terra. Esse capítulo é chamado de o livro das gerações de Adão. Possui um ciclo natural e repetitivo, onde o ancestral gera um filho, vive um tempo e morre. O ciclo se repete em Adão, Sete, Enos, até o sétimo na lista, chamado Enoque. Essas pessoas superaram em longevidade e capacidade qualquer pessoa conhecida hoje em dia. Os antediluvianos não tem comparação. Somos como crianças, quando comparados com suas habilidades. Eles arrasariam os recordes olímpicos, apagariam todas as realizações intelectuais e anulariam todos os recordes de desenvolvimento.

Mas a despeito de tudo isto, havia o terrível problema do pecado. Seu canceroso crescimento havia se espalhado por todos os lugares. Os gigantes físicos e mentais produziram pecadores gigantescos. Eles mergulharam em iniquidade tão profunda que excede nossa compreensão. Era uma época de ceticismo e rebelião espiritual.

No meio deste cenário viveu um homem cuja escolha racional para seguir outra direção foi recompensada à altura.

Quando o pecado parece mais atrativo do que a justiça, quando ações pecaminosas apresentam mais encanto do que a integridade e a pureza, é tempo de retirar-se por algum tempo para ver as possibilidades de alguma coisa melhor. Precisamos compreender realmente o impacto total da escolha de Enoque.

Quem foi esse homem que andou com Deus e, após 365 anos na Terra, foi trasladado para a vida eterna? Que estilo de vida possuía para dar à humanidade a esperança de que a temível maldição da morte não segurará para sempre todos nós em suas gélidas garras?

Quem foi Enoque?

Sabemos tão pouco a respeito desse homem. No registro de Gênesis, ele é descrito como aquele que “andou com Deus; e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado” (Gn 5:24, NVI). Ele é a sétima geração desde Adão e pai de Matusalém, que viveu 969 anos. Antes do nascimento do seu filho, Enoque amou, temeu e obedeceu a Deus. Mas depois experimentou um relacionamento ainda mais íntimo com o Senhor. Não morreu. Ele nunca celebrou seu 366º aniversário, nem esteve presente em seu funeral. Foi trasladado sem morrer para o Céu. Além desse registro de Gênesis, Enoque é mencionado, rapidamente, em apenas dois outros lugares na Bíblia Sagrada. O livro de Hebreus nos diz que “pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; "ele já não foi encontrado porque Deus o havia arrebatado", pois antes de ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus” (Hb 11:5, NVI). No livro de Judas lemos que Enoque profetizou o julgamento iminente do Senhor sobre os ímpios (Jd 14, 15).

Provavelmente o arrebatamento de Enoque aconteceu “relativamente poucos anos após a morte de Adão” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 513), e não foi secreto. Ellen White afirma que sua trasladação foi presenciada por alguns, tanto justos como ímpios. “Na presença de justos e ímpios Enoque foi removido deles. Aqueles que o amavam pensaram que Deus pudesse tê-lo deixado em algum de seus lugares de retiro, porém, depois de procurarem diligentemente por ele, e sendo incapazes de achá-lo, disseram que não se acharia mais, porque Deus o tomara” (História da Redenção, p. 59).

“A lembrança desse evento notável sobreviveu na tradição judaica (ver Eclesiástico 44:16), no registro cristão (Hb 11:5; Jd14) e até em fábulas pagãs. O apócrifo livro de Enoque descreve o patriarca exortando seu filho e todos os seus contemporâneos, advertindo-os do juízo vindouro. A obra judaica Livro dos Jubileus diz que ele foi levado ao paraíso, onde escreveu o juízo de todos os homens. Lendas árabes o apresentam como o inventor da escrita e da aritmética. Sua partida deve ter exercido grande impressão sobre os contemporâneos, a julgar pela extensão em que sua história foi divulgada entre as gerações posteriores. A vida exemplar de Enoque, com seu glorioso clímax, ainda testifica da possibilidade de viver num mundo ímpio sem pertencer a ele” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 234).

“Enoque Andou com Deus”

A característica mais marcante de Enoque, o único crente antediluviano a ser trasladado para o Céu ser passar pela morte, é o fato de que, em meio a uma geração perversa, “andou Enoque com Deus” (Gn 5:24). Isso aconteceu, como falamos no início, nos dias que antecederam o dilúvio, período em que homens e mulheres extremamente inteligentes mergulharam de cabeça numa vida de violência e imoralidade, utilizando seu poder criativo para inventar novas expressões do mal. Em meio a essa geração, Enoque se manteve afastado. Ele escolheu a Deus; Deus tornou-Se seu melhor amigo. Diz Ellen White que “o Senhor amava a Enoque porque ele firmemente O seguia, aborrecendo a iniquidade, e fervorosamente buscava conhecimento celestial, para fazer Sua vontade com perfeição. Ele anelava unir-se ainda mais estreitamente com Deus, a quem temia, reverenciava e adorava” (História da Redenção, p. 59).

Nas Sagradas Escrituras encontramos revelações muito sinceras sobre os defeitos de grandes homens de Deus, a exemplo de Abraão, Isaque, Jacó, Davi, Moisés, entre outros. Todavia, acerca de Enoque não encontramos nenhuma referência desabonadora, embora, como ser humano, ele tivesse “intuição de sua própria fraqueza e imperfeição” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 85). E por fim Deus lhe concedeu a suprema demonstração de Sua graça. Levou Enoque para habitar com Ele.

Como Enoque conseguiu alcançar tamanha grandeza espiritual? Ellen G. White responde: “O andar de Enoque com Deus não foi em arrebatamento de sentidos ou visão, mas em todos os deveres da vida diária. Não se tornou um eremita, excluindo-se inteiramente do mundo; pois que tinha uma obra a fazer para Deus no mundo. Na família e em suas relações com os homens, como esposo e como pai, como amigo, cidadão, foi ele um servo do Senhor, constante, inabalável. [...] Enoque [...] passava muito tempo na solidão, entregando-se à meditação e oração” (Idem).

A vida de Enoque é, sem dúvida, um exemplo para os crentes de todas as épocas. Nosso andar com Deus não deve ser alcançado através de experiências místicas ou afastamento da sociedade, “mas em todos os deveres da vida diária”. Em meio à correria desenfreada da vida moderna, precisamos encontrar tempo para ficar a sós com Deus, entregando-nos à meditação e a oração e, então, voltar ao convívio social, refletindo a imagem divina obtida nesses momentos de comunhão.

Nestes últimos dias, Deus também olha para a terra e vê um mundo cheio de “homens mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,” como descrito em 2 Timóteo 3:1-5. Ele nos convida a andar com Ele. Andar com Deus é andar em justiça e integridade! Ser justo e íntegro é não aceitar ou praticar a parcialidade, a adulteração, a corrupção. Quer que sejamos “irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp 2:15). No meio deste mundo maligno podemos ter o testemunho de que andamos com Deus e que agradamos a Deus.

Fazemos isso renunciando às nossas próprias concupiscências e desejos, motivados pelo amor para servir a Deus em obediência à Sua vontade. Nós podemos ser aquelas pessoas que são descritas em Colossenses 3 que buscam as coisas que estão acima, e rejeitam tudo o que vem deste mundo.

Significado escatológico da trasladação de Enoque

Segundo Ellen G. White, a transladação de Enoque para o Céu possui um significado escatológico. Ele é um tipo do fiel povo de Deus que será trasladado no último dia. Ela escreveu:

Enoque, separando-se do mundo, e gastando muito de seu tempo em oração e comunhão com Deus, representa o leal povo de Deus nos últimos dias, que se há separar do mundo. A injustiça deverá prevalecer em terrível extensão sobre a Terra. Os homens se dedicarão a seguir toda imaginação de seu corrupto coração e levar a cabo sua enganosa filosofia e rebelião contra a autoridade dos altos Céus.

O povo de Deus separar-se-á das práticas injustas dos que os rodeiam e procurará a pureza de pensamentos e santa conformidade com Sua vontade, até que Sua divina imagem seja refletida neles. Como Enoque, estarão se preparando para a trasladação ao Céu. Enquanto se esforçam para instruir e advertir o mundo, eles não se conformarão ao espírito e costumes dos descrentes, mas os condenarão por meio de seu santo procedimento e piedoso exemplo. A trasladação de Enoque para o Céu, pouco antes da destruição do mundo pelo dilúvio, representa a trasladação de todos os justos vivos da Terra antes da sua destruição pelo fogo. Os santos serão glorificados na presença daqueles que os odiaram por sua leal obediência aos justos mandamentos de Deus” (Idem, p. 60, 61).

A experiência de Enoque é aquela da qual necessitamos hoje. Todas as pessoas que hoje servem a Deus com o coração cheio de alegria e fé, anda com Ele diariamente serão levadas para o lar eterno quando o Senhor Jesus voltar em glória e majestade (Jo 14:1-3).

Caro amigo leitor, se você está passando agora por um tempo difícil e precisa de encorajamento, lembre-se de que Enoque passou por frustrações semelhantes. O mundo se havia tornado corrupto, à medida que o pecado se espalhava como uma lepra mortal. Mas, em meio a tudo isso, Enoque permaneceu fiel a Deus. Se você está desanimado e acha que talvez Jesus não lhe ouça as orações, ou se você é tentado inclusive a duvidar a iminência do retorno de Cristo para pôr fim aos problemas deste mundo, quero garantir que seus sentimentos não alteram a verdade das preciosas promessas na Palavra de Deus. Jesus é confiável. Coloque nEle a sua fé. Ele o fará vitorioso agora e lhe dará a confiança de que você precisa. Por que não expressar-Lhe sua gratidão neste momento?

terça-feira, 15 de setembro de 2020

CINCO PROVAS HISTÓRICAS DA PASSAGEM DE JESUS POR ESTE MUNDO


 

Fernando Jorge*

Eu li, no número 450 da revista Época, as seguintes linhas de Hildeberto Aquino:

“Jesus é a maior ilusão da humanidade, à custa da qual oportunistas se locupletam. De sua efetiva existência, não há uma só prova cabal, científica, irrefutável. Tudo se resume a intencionais conjecturas com o propósito de iludir e oprimir os incautos e deles sugar até a última gota da consciência…e de dinheiro”.

Para o Hildeberto Aquino, portanto, Jesus é uma criação dos vigaristas. Um personagem inventado por alguém que apenas quiz causar a alienação de todos nós e arrancar dinheiro dos crédulos, dos ingênuos, dos trouxas…Hildeberto pertence a família dos “Novos Ateus”, da qual fazem parte o filósofo americano Daniel Dennet e o zoólogo britânico Richard Dawkins. Ambos em 2006, lançaram manifestos dedicados a contextar a existência de Deus.

Agora vamos revelar como de fato Jesus Cristo existiu (e ainda existe), desmintindo a afirmativa do materialista Hildeberto Aquino.

Prova Histórica Nº 01

A bela Bíblia sagrada. Ela não é apenas um livro religioso, é também um magnífico livro histórico. Tudo que apresenta sobre Jesus Cristo, a Palestina, o Egito, a Assíria, o Império Romano, as regiões do Oriente, os seus reis, os seus profetas, os apóstolos, tudo tem o cunho da verdade.

Prova Histórica Nº 02

O texto do historiador judeu Flávio Josefo, da época de Cristo. Ele evocou a incomparável figura deste no capítulo terceiro do volume XVIII da obra Antiguidades judaicas.

Reproduzo aqui o texto:

“Entretanto existia, naquele tempo, um certo Jesus, homem sábio…Era fazedor de milagres…ensinava de tal maneira que os homens o escutavam com prazer…Era o Cristo, e quando Pilatos o condenou a ser crucificado, esses que o amavam não o abandonaram e ele lhes apareceu no terceiro dia…”

Como estamos vendo, o historiador Flávio Josefo mencionou, inclusive, a ressurreição do Verbo Divino!

Prova Histórica Nº 03

O texto de Públio Cornélio Tácito, um dos maiores historiadores da Antiguidade (56-57 AC), na parte XV dos seus Anais:

“Nero infligiu as torturas mais refinadas a esses homens que sob o nome comum de cristãos, eram já marcados pela mais merecida das infâmias. O nome deles se originava de Cristo, que sob o reinado de Tibério, havia sofrido a pena de morte por um decreto do procurador Pôncio Pilatos”

Comentário do grande historiador inglês Edward Gibbon (1737-1794) sobre esta evocação do autor de Dialogus de Oratoribus:

“A crítica mais cética deve respeitar a verdade desse fato extraordinário e a integridade desse tão famoso texto de Tácito.”

Prova Histórica Nº 04

A carta do procônsul Plínio, o jovem (62-114, após JC), enviada ao imperador Trajano. Eis dos trechos da carta:

“…maldizer Cristo, um verdadeiro Cristão não o fará jamais…cantam (os cristãos) hinos a Cristo, como a um Deus…”

Prova Histórica Nº 05

Um trecho do capítulo XXV do livro quinto da obra Vitae Duodecim Caesarum (Os doze césares), escrita pelo historiador romano Suetônio (cerca de 70-130 d.C.). Nesse trecho do capítulo no qual evoca o imperador Tibério, ele assim menciona o Nazareno:

“Expulsou de Roma os judeus, que instigados por um tal Chrestus (Cristo), provocavam frequentes tumultos.”

Estas cinco provas históricas, citadas por nós, destroem totalmente a infeliz declaração de Hildebrando Aquino, que garantiu que “não há uma só prova cabal, científica, irrefutável”, da passagem de Jesus por este mundo. Hildeberto, você tem autoridade para invalidar as informações da Bíblia, os textos dos historiadores Flávio Josefo, Suetônio e Cornélio Tácito, do procônsul Plínio, o jovem? Você despreza a opinião do insigne historiador inglês Edward Gibbon sobre o escrito de Tácito, onde este se refere a Jesus Cristo?

Por favor, Hildeberto, leia mais, estude mais, adquira mais conhecimentos. Não desrespeite a nossa fé com afirmativas absurdas, insensatas, nascidas de uma profunda carência de cultura.

 

*Fernando Jorge é membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e autor do Livro “Lutero e a Igreja do Pecado”, cuja 7º edição foi lançada pela Editora Novo Século.

 

FONTE: https://setimodia.wordpress.com/2009/11/25/cinco-provas-historicas-da-passagem-de-jesus-por-este-mundo/

 

domingo, 6 de setembro de 2020

O MUNDO VIVE A ÚLTIMA NOITE DA HISTÓRIA

Ricardo André

Na linguagem bíblica, a “noite” constitui um símbolo do pecado que permeia o mundo. “Olhe! A escuridão cobre a terra, densas trevas envolvem os povos [...]”, sentenciou o profeta Isaías (Is 60:2, NVI).

Vivemos agora a última noite da História. Em meio às densas sombras desta hora escura, convivem a violência, a irracionalidade e o vício. Recentemente, o Brasil ficou chocado ao tomar conhecimento do resultado do inquérito sobre o assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal evangélica, também pastora e cantora gospel, Flordelis (PSD/RJ), acusada da autoria. Com detalhes sórdidos, amplamente divulgados nas mídias, a narrativa em torno do crime é digna de um folhetim e não é objeto desta reflexão.

As pessoas assassinas estão matando outras sem precisarem de muitos motivos. Mata-se por motivos fúteis, irrelevantes ou banais. São moradores em situação de rua queimados por “brincadeira”, brigas entre vizinhos, discussões no trânsito e desentendimentos familiares que resultam em morte. A violência no Rio de Janeiro, cujas favelas são dominadas pelo narcotráfico e pelas milícias, são a grande preocupação de governos, a ponto de, vez por outra, invadirem as favelas com a polícia ou o exército para prenderem os criminosos.

Nos últimos dias, tomamos conhecimento também da criança do Espírito Santo, que ficou grávida aos 10 anos, resultado de estupro praticado pelo próprio tio, que a abusava desde os 6, que adquiriu o direito de ter sua gravidez interrompida, o que foi alvo de protestos de religiosos fanáticos.

A sociedade parece estar totalmente impregnada de cobiça, lascívia, luxúria e para satisfazer seus desejos animalescos cometem os crimes mais hediondos. O mundo está chocado. “Ele era um cidadão exemplar”, “um bom vizinho”, “um homem honesto, “uma mulher decente, pastora”, mas por detrás dos bastidores viviam uma vida dupla, de aparência, de falso moralismo.

Vivemos essa escuridão na escravidão de milhares de pessoas aos vícios da bebida e das drogas. Vemos a escuridão na grande concentração da riqueza nas mãos de poucos (menos de 1% da população mundial), enquanto milhões vivem na pobreza e passando fome, não tendo como comprar produtos de primeira necessidade em quantidade suficiente e não tendo acesso a serviços públicos decentes como hospitais, escolas e justiça. Grande parte da renda dos ricos é obtida pela exploração dos pobres. E isto é uma ameaça para a paz entre os habitantes da cidade. Isto também é treva. Segundo o documento O Vírus da Fome: como o coronavírus está potencializando a fome em um mundo faminto lançado pela Oxfam (uma confederação internacional com mais de 3000 membros que estuda e luta contra a pobreza no mundo), “até 12 mil pessoas podem morrer por fome diariamente, até o final de 2020, devido às consequências da pandemia de covid-19”. O documento revela também como 122 milhões de pessoas podem ser levadas à beira da fome este ano como resultado dos impactos sociais e econômicos causados pela pandemia de coronavírus. O risco maior se concentra em 10 países: Iêmen, República Democrática do Congo (RDC), Afeganistão, Venezuela, Sahel da África Ocidental, Etiópia, Sudão, Sudão do Sul, Síria e Haiti”.

Vemos as trevas espirituais no número crescente de falsas igrejas, que estão pregando um evangelho falso e enganando a população, disputando o mercado da fé. Estão para extorquir a população pobre oferecendo a ela prosperidade. Mas além disso, provocando também o descrédito do evangelho exatamente por causa dessa busca desenfreada de dinheiro, por um lado, e da falta de mudança na vida, por outro. É evangelho falso porque só quer o dinheiro das pessoas e porque não muda ninguém. Muitos líderes dessas igrejas vendem Deus para obter dividendos políticos, para elegerem candidatos evangélicos. Diversas igrejas se transformaram em “agências políticas”, com uma lógica de ascensão ao poder, misturando religião com política. O Pastor Everaldo Pereira é um exemplo disso. Já foi candidato a Presidente da República em 2014 e é presidente nacional do PSC. No dia 28 de agosto, ele e seus dois filhos, Filipe Pereira e Laércio Pereira, foram presos acusados de corrupção na saúde do estado do Rio de Janeiro. A Bíblia nos alerta: “Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem” (2 Co 11:14,15). Vejam só: o príncipe da escuridão disfarçando-se de anjo de luz!

Atualmente, o mundo está em pavoroso com a Covid-19, que se propagou rapidamente pelo mundo inteiro. Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 11 de março, pandemia de Covid-19, doença causada justamente pelo novo coronovírus. Milhares de pessoas já morreram no mundo e outros milhões estão infectadas pelo vírus.

As perspectivas para a humanidade são angustiantes. O prognóstico atual para o futuro da humanidade tem tirado o sono das principais autoridades políticas da Terra. A exaustão dos recursos naturais tais como petróleo e água, o aumento da emissão de gases poluentes na atmosfera, a degradação do ambiente em alta escala anunciam um quadro apocalíptico para o planeta.

A humanidade vem transpondo, no decorrer dos séculos, graves problemas que ameaçam sua subsistência, tais como: guerras mundiais, pestes, ameaças terroristas, entre outros. Mas tudo isso é incomparável a uma situação de pane na conjuntura econômica mundial.

Ellen G. White escreveu: “Envolta, como está, nas trevas do pecado, aflição e padecimento, toda a Terra precisa ser iluminada com o conhecimento do amor de Deus. [...] A escuridão deve desaparecer diante dos brilhantes raios do Sol da Justiça” (Parábolas de Jesus, p. 418).

Goethe, o mais notável dentre os poetas alemães, estando em seu leito, nos estertores da morte, balbuciou em forma solene: “Luz... desejo mais luz... uma pouco mais de luz!” Os que o acompanharam naqueles momentos dramáticos, abriram as janelas uma a uma, e a luz solar penetrou abundante, iluminado aquele quarto escuro.

É noite escura, espessa e quase impenetrável. Como o poeta alemão, multidões estremecidas pelo medo, angústia e perplexidade, pedem luz, um pouco mais de luz, em meio a esta densa escuridão espiritual. Este é o momento de levar ao mundo o brilho fulgurante de Cristo. “Assim pois a glória de Deus deve brilhar mediante Sua igreja na noite de trevas espirituais, soerguendo os oprimidos e confortando os que choram” (Idem, p. 417).

Os cristãos são luzeiros neste mundo escuro

Em face do panorama sombrio que caracteriza o mundo atual, somos instados pelo profeta: “Levanta-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do SENHOR vai nascendo sobre ti” (Is 60:1, ACF).

Jesus também ordenou-nos: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16, NVI). Que desafio para todos os cristãos de todas as épocas! Jesus nos desafia a deixarmos nossa luz brilhar. A Bíblia afirma que Jesus veio ao mundo como a luz da vida (Jo 1:4, 5; 8:12), e aqueles que O recebem em sua vida e creem em Seu nome tornam-se luzeiros neste mundo. Como cristãos, precisamos iluminar esse mundo tenebroso com a luz de Cristo. Precisamos iluminar o mundo com a mensagem de esperança da breve volta de Jesus, que porá um fim a todo sofrimento humano, pois virá para estabelecer Seu reino de paz e felicidade eterna (Dn 2:44).

Mas, a condição para que possamos ser luzes aqui neste mundo é a de estarmos unidos com Cristo, a Fonte de Luz. “Os cristãos são postos como luminares no caminho para o Céu. Cumpre-lhes refletir sobre o mundo a luz que de Cristo sobre eles incide. Sua vida e caráter devem ser de molde a que outros possam obter por seu intermédio uma justa concepção de Cristo e Seu serviço” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 115).

Caro amigo leitor, todos os dias Deus lhe dá a oportunidade de testemunhar em favor dEle. Que privilégio! E testemunhar é pregar contra as injustiças e opressões que existem em nossas cidades. Testemunhar é também agir para mitigar as dores do nosso povo de todas as maneiras possíveis. Pregar o evangelho é lutar contra todo tipo de vícios, aos quais não podemos ser simpáticos nem indiferentes. É lutar para arrancar das garras do crime todos aqueles em nosso redor que estão envolvidos com ele, mesmo os que estão nas prisões.

Oração: Querido Deus e bom Pai que estás no Céu, ajuda-me a ser Tua luz no mundo em trevas. Põe-me em contato hoje com alguém que necessite ter um vislumbre do Teu amor. E então dá-me sabedoria para ser a Tua luz de maneira mais eficaz.

 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

A IGREJA ADVENTISTA É PROFÉTICA OU APENAS UM PROJETO HUMANO?


 

Wilson Borba*

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem raízes proféticas.  Por que Jesus não voltou em 1844, se o cálculo da profecia dos 2300 dias proféticos de Daniel 8:14 estava correto? O equívoco dos cristãos mileritas e de nossos pioneiros não foi nos cálculos, mas na natureza do acontecimento ao final dos 2300 dias-anos.  Naquele ano, Cristo não veio à Terra, mas iniciou a segunda fase do seu ministério no Santuário que está no Céu (Apocalipse 11:19; Hebreus 8:1; 9:1, 2), o que envolve a purificação desse Santuário em um juízo investigativo pré-advento (Daniel 8:13, 14; 7:9-10, 13-14, 22; Hebreus 9:23, 27-28). [1]

Daniel recebera instrução de selar seu livro (Daniel 12:4, 9). É coerente esperar que o livrinho aberto conforme Apocalipse 10:1, 2 seja o livro de Daniel, e que uma parte selada até o tempo do fim é a profecia dos 2300 dias-anos (Daniel 8:26, 27). O grande desapontamento ao final dos 2300 anos de Daniel 8:14 foi predito (Apocalipse 10:9, 10). Assim como o livrinho foi doce na boca do profeta, nossos pioneiros experimentaram a doçura de pregar a breve volta de Jesus. E, como o livrinho foi amargo no estômago do profeta, eles experimentaram grande amargura quando Jesus não regressou. Logo, “…a profecia de Apocalipse 10 se concentra no momento em que é feita a proclamação dos v. 6 e 7, a saber de 1840 a 1844.” [2]

Em Apocalipse 10:1, 2, o Anjo forte cujo rosto era como o sol é o próprio Senhor Jesus Cristo glorificado. [3] Ele apresenta-se com um livrinho aberto, jurando que já não haveria mais krónos, isto é, tempo (v. 5, 6). “Demora” é uma tradução equivocada. Esse tempo, “…não é o fim do tempo da história deste mundo, nem do tempo da graça, mas do tempo profético que precederia o advento de nosso Senhor. Ou seja, o povo não terá outra mensagem de tempo definido. Após o fim desse período que vai de 1842 a 1844, não pode haver um esboço definido de tempo profético. O mais longo cômputo chega ao outono do ano de 1844.” [4] Apocalipse 10:1-11, em conexão com Daniel 12:5-10, 8:14 e 9:24-27 é uma clara evidência de que são proféticas as raízes da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Como é crucial sabermos que não somos um acidente eclesiológico moderno, mas um movimento originado e guiado por Deus! A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma missão profética mundial. O Anjo de Apocalipse 10 apresenta-se com um pé na terra e outro no mar, denotando que haveria um movimento mundial (vs. 8), e seria necessário um projeto de missão global envolvendo as nações do mundo (vs. 11; 14:6). [5] A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma identidade profética. “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17).

Esse capítulo menciona a origem do grande conflito entre Cristo e Satanás (Apocalipse 12:7-9), a guerra sistemática do dragão contra os seguidores de Cristo (Apocalipse 12:13; 2 Coríntios 11:2), e o surgimento da igreja remanescente (12:17), após o término dos 1260 dias proféticos (12:6, 14). Tomando em conta que um dia em profecia equivale a um ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6,7), aquele período de perseguição do fiel povo de Deus totalizou 1260 anos, que se cumpriu nos 1260 anos de supremacia papal (538-1798). Portanto, após 1798 surgiria esta Igreja fiel aos mandamentos de Deus. Já o Testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia (Apocalipse 19:10), ou seja, a manifestação do verdadeiro dom profético nesta Igreja remanescente (Apocalipse 22:9). Por sua obediência e fidelidade, esta é a única Igreja que atrairá a ira final de Satanás. [6]

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma tríplice mensagem profética mundial. Por mais de 150 anos esta Igreja tem pregado a tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12. A primeira mensagem contém um apelo global para temer a Deus, e adorar o Criador, no contexto do juízo. Já a segunda mensagem apresenta a queda de Babilônia e, a terceira, o conflito contra a besta. Esta Igreja guarda os mandamentos de Deus como resultado da fé em Jesus (Apocalipse 14:12). Amigo, você crê de coração que as raízes, missão, identidade e mensagem dos Adventistas do Sétimo Dia estão na profecia apocalíptica? Se sua resposta é sim, ore por esta Igreja. Preserve sua identidade profética. Apoie-a, e se envolva totalmente em sua missão profética. Igualmente, pregue fielmente sua mensagem profética, pois Jesus em breve voltará!

 

*Wilson Borba é docente e diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama).

 

[1]Clifford Goldstein, 1844: uma explicação simples das principais profecias de daniel (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000; William H. Shea, Daniel (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2010).

[2]Comentário bíblico adventista do sétimo dia, filipenses a apocalipse, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), 7: 882.

[3]Ibíd., “Comentários de Ellen G. White”, 1084.

[4]Ibíd., 1085.

[5]Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009), 340.

[6]Angel Manuel Rodríguez, ed., Toward a Theology of the Remnant (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2009).

 

FONTE: https://noticias.adventistas.org/pt/coluna/wilson-borba/igreja-adventista-do-setimo-dia-e-profetica-ou-apenas-um-projeto-humano/

 

 

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MARXISMO: ADOTÁ-LO PRESSUPÕE ABSORVER O ATEÍSMO?


Ricardo André

No dia 30 de agosto de 2020, um grupo de cristãos adventistas, de diversas partes do Brasil, realizaram virtualmente o I Encontro de Adventistas Progressistas “Marxismo, Política e Fé: Encontros e Desencontros”. O evento teve como objetivo iniciar o processo de discussão entre eles sobre o pensamento do filósofo alemão Karl Marx, denominado de Marxismo, considerando as contradições e proximidade entre as ideias dele e os valores cristãos.

O evento contou com a palestra do Prof. Dr. Romero Junior Venâncio Silva, professor de Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, que discutiu, entre outras coisas, sobre sua “experiência com a obra de Marx e dos marxistas sem ser ateu”. Os participantes ficaram encantados com a palestra enriquecedora. Depois, seguiu-se um interessante debate. Em um dado momento, um jovem marxista presente ao encontro (não era adventista), meio surpreso ao ver cristãos discutirem honestamente o marxismo, fez uma intervenção para comentar a respeito da natureza materialista do marxismo, destacando a contradição de se crer num Deus que criou o universo com o marxismo, que é, em essência, ateu.

Dois dias depois do evento, ele trava o mesmo debate num grupo de Whatsapp, onde faz a interessante e intrigante indagação: “Como religiosos conseguem assimilar uma teoria materialista que nega a existência concreta de qualquer sobrenatural, atribuindo essas como subprodutos das relações sociais de produção entre homens? Um outro jovem marxista também presente ao encontro foi contundente, de forma sarcástica sugere que a melhor forma de equacionar a questão é “deixar a igreja”. Ele escreveu no chat: “Adventista progressista estudando marxismo? Mais fácil deixar a igreja, né?”

Importante dizer que esse debate é recorrente. Apesar de Marx, Engels, Lenin e todos os marxistas que são referência para o debate ideológico se afirmarem materialistas, ateus, a dúvida persiste entre os que lutam pelo socialismo e querem uma sociedade justa e solidária, porém sem negar a existência de Deus. Então, é possível um cristão adotar ideias marxistas sem negar a religião, sem “deixar a igreja”? Para ser marxista precisa necessariamente ser ateu? O que Marx escreveu sobre a religião? Defendia ele a supressão dela? Queremos refletir nesse artigo exatamente sobre essas questões elencadas por esses dois jovens marxistas.

Marx e a religião

Indubitavelmente, Karl Marx era materialista, ou seja, para ele, não há nada além da matéria e da energia; não há Deus (ou deuses) e não há ações sobrenaturais. Portanto era ateu. Para ele, Deus e a religião não passavam de meras projeções humanas. Afirmou que a religião havia sido inventada como uma forma de reagir contra o sofrimento e a injustiça do mundo, os pobres e oprimidos tinham criado a religião para imaginar que teriam uma vida melhor após a morte. Servindo como uma forma de “ópio”, uma maneira de escapar da realidade. Portanto, para ele, o ateísmo é um postulado evidente. Tanto é assim que ele escreveu: “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração, assim como o espírito de estados de coisas embrutecidos. Ela é o ópio do povo.” (“Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, ed. Boitempo, p. 145). Ele ainda vislumbrava a possibilidade do desaparecimento do sentimento religioso com a eliminação da alienação, numa sociedade despojada da exploração do homem pelo homem e livre do trabalho alienado.

Nesse aspecto, marxistas e cristãos estão em campos opostos. Enquanto se percebe toda uma ontologia que se encontra à base do marxismo, de que não há um Deus que criou o mundo, os cristãos acreditam na existência de um Deus amoroso, que criou os seres humanos e todas as coisas por meio do poder de Sua palavra (Gn 1:1; Jo 1:1-4).

Para o cristão não há, é claro, nenhum argumento final e racional que possa provar, por si mesmo, a existência de qualquer coisa no âmbito espiritual. Daí em diante, é a fé! Ele deposita a sua confiança nas Sagradas Escrituras – não na mera observação humana – como a expressão máxima da verdade. “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hebreus 11:3).

Quando a disciplina da ciência se abre para algo mais do que aquilo que é meramente materialista, então as respostas invisíveis para as principais questões começam realmente a entrar no foco. Foi nestas palavras que o apóstolo Paulo escreveu: “Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2 Coríntios 4:18).

Podemos, então, provar a existência de Deus? Não, somos incapazes de prová-la. Mas, também a ciência não pode refutá-la. A questão de capital importância é: Para onde apontam as evidências? Temos evidências suficientes para crer em Deus. O rei Davi declarou: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19:1, NVI). E o próprio Deus nos desafia: “Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso?” (Is 40:26, NVI). Se “os céus declaram a glória de Deus e o firmamento proclama a obra das Suas mãos”, como canta o salmista, então o estudo do Céu [no sentido espiritual], dos céus e da natureza, iluminará a nossa compreensão do próprio Deus, de Seu caráter, bondade e poder.

Por exemplo, nos últimos 20 anos, cada vez mais evidências da astronomia, da astrofísica e de diferentes campos da biologia sugerem fortemente que muitas estruturas complexas no universo físico e biológico devem ter sido projetadas. A complexidade do Universo e da vida, bem como a exata adequação do nosso Universo para a vida ganhou admiração de cientistas e levou muitos deles a comentar que ele parece ter sido projetado por um ser inteligente. O mundo também deve ter sido planejado sabiamente para que a vida existisse. A variação de temperaturas deve ser compatível com a vida. Por isso, a distância do Sol, a velocidade de rotação e a composição da atmosfera devem estar em equilíbrio. Muitos outros detalhes do mundo devem ter sido cuidadosamente projetados. Na verdade, a sabedoria de Deus é revelada no que Ele criou.

A convicção de que Deus é o Autor da criação e a crença na racionalidade de Deus levaram muitos cientistas em séculos passados – e ainda levam muitos no presente – à cuidadosa observação e experimentação, a fim de compreenderem a estrutura e o funcionamento do mundo criado. A revista Diálogo Universitário v. 7, Nº 3, de 1995, traz uma interessante matéria sobre diversos cientistas do passado e do presente que foram e são cristãos, a exemplo de Werner von Braun. Ele era “alemão, o engenheiro de foguetes, foi diretor do Centro Marshall de Vôo Espacial na década de 60. No prefácio de um livro ele diz: “Acho tão difícil compreender um cientista que não reconhece a presença de uma razão superior atrás da existência do Universo como compreender um teólogo que nega os avanços da ciência. E certamente não há razão científica pela qual Deus não pode reter a mesma relevância em nosso mundo moderno que Ele tinha antes de começarmos a perscrutar sua criação com telescópio, ciclotron e veículos espaciais”. [...] Num livro recente, 60 cientistas de renome, incluindo 24 que receberam o prêmio Nobel, responderam a perguntas sobre ciência e Deus. Um deles é Arthur Schawlow, professor de física na Universidade de Stanford, e detentor do prêmio Nobel em 1981. Ele diz: ‘Parece-me que quando confrontado com as maravilhas da vida e do Universo, a gente precisa perguntar por que e não apenas como. As únicas respostas possíveis são religiosas.... Acho necessidade de Deus no Universo e em minha própria vida’” (p. 8-10).

As descobertas na natureza levam os ateus a concluírem que o acaso, os longos períodos de tempo e a seleção natural são capazes de produzir qualquer coisa, ao passo que os cristãos podem concluir que a causa final de tudo é o Deus Criador.

Em relação a fala de Marx acerca da religião, para não se incorrer em erros de descontextualização das afirmações, se faz mister conhecer o contexto político em que estava inserido o jovem Marx para entender essa afirmação tão incisiva contra a religião. À época, a religião na Alemanha estava a serviço do Estado. E a elite dominante instrumentalizava a religião para conformar as pessoas (os dominados) a diferentes formas de opressão política e/ou econômica. Os líderes religiosos ensinavam os fiéis a se conformarem com a pobreza e a miséria, com aquela ordem vigente, marcada pela exploração capitalista, impedindo desse modo que o povo se organizasse para reivindicar melhores condições de vida, melhores salários. Esse alinhamento político das igrejas cristãs com as classes socialmente dominante levou Karl Marx e outros socialistas a considerarem a religião como adversárias ideológicas dos trabalhadores. Por conta da sua condição de instrumento de conformação (e por consequência, de sujeição), a religião foi, então, metaforicamente caracterizada por Marx como um ópio, um mecanismo de alienação dos dominados. Portanto, quando Marx disse que “a religião era o ópio do povo”, ele se referia a essa religião criada pela elite social, alienante, que levava (e leva) o povo à aceitação das desigualdades e à passividade diante das injustiças. Penso que se as igrejas da Alemanha daquele período não estivessem a serviço da burguesia e estivesse do lado dos oprimidos, talvez Marx não teria formulado essa declaração.

Em seu artigo “A religião é o ópio do povo”, publicado no Blog Ativismo Protestante, o filósofo e poeta Felipe Catão torna mais clara essa frase de Marx e seus desdobramentos, à luz de seus contextos histórico, social e político:

"O ópio, naquele século, era um narcótico que a Companhia Britânica das Índias Orientais contrabandeava às toneladas da Índia para a China, com a intenção de contrabalancear o comércio entre o Reino Unido e a China. O interesse pelos produtos chineses (chá, seda, porcelana) era enorme, ao passo que os chineses pareciam se interessar por único produto – o ópio. A menção ao ópio é como uma metáfora, pois o cerne da questão é a exploração dos mais pobres pelos mais ricos – nesse caso, os chineses (mais pobres), o Reino Unido (mais ricos). Para Marx, a religião servia para aliviar a vida dos explorados, que se apegavam a ela como uma compensação (o sofrimento religioso compensa o sofrimento real). Havendo um sociedade sem exploradores e explorados, a religião deixaria de existir, segundo Marx. A proposta de Marx era para que a classe operária saísse do seu entorpecimento e rompesse com o círculo de exploração do seu trabalho, e que reivindicasse o que era seu de direito: o controle do seu trabalho e a posse de seus frutos como propriedades legítimas; que abandonassem a felicidade ilusória, proporcionada pela religião, e tomassem posse da felicidade real. E isso somente poderia ser conquistado com a luta de classe e com a revolução. De outro modo, os ricos e poderosos jamais iriam renunciar ao seu papel de explorador. Colocando a frase (“a religião é o ópio do povo”) dentro do seu contexto histórico-sócio-político, a crítica de Marx visava atingir as religiões dominantes de então, que não só comungavam, mas colaboravam diretamente com as classes dominantes e com os exploradores da classe trabalhadora. Religiosos exaltavam e enalteciam a experiência religiosa como a realização fundamental terrena do ser humano, negando a eles o direito à luta de classes e a prática revolucionária, como que condenando a classe operária às privações sem o direito de aspirar à vida digna.”

Duas análises são relevantes a partir dessa concepção filosófica de Marx acerca da religião:

1) Marx não odiava e nem defendia a perseguição a religião

Não obstante seu ateísmo, Marx não defendia a perseguição a religião e tampouco aos religiosos. Ao contrário, ele condenou e combateu, inclusive apoiando a luta dos judeus por direitos civis e políticos, na Alemanha de sua época. É o que se depreende de sua obra pouco conhecida pelo grande público “Sobre a Questão Judaica”, escrita em 1843 e publicada em Paris no ano de 1844. Marx escreveu esse texto como um contraponto as duras críticas que seu amigo Bruno Bauer fazia aos judeus na Alemanha, nas obras “A questão judaica” e “A capacidade dos judeus e dos cristãos hodiernos para se tornarem livres”. À época, os judeus haviam perdido seus direitos políticos e civis.

Bauer, em seu livro, afirma que os judeus da Alemanha só conseguiriam a emancipação política se eles abrissem mão de sua religião. Ele aponta que o sofrimento dos judeus era culpa deles mesmos, pois eles se negavam a renunciar ao judaísmo. Então, vem Marx, através de “Sobre a Questão Judaica” e diz que essa posição de Bauer é equivocada, que não se deveria perder tempo com a questão religiosa, mas com a luta pela emancipação política. Sendo assim, a emancipação política não deve libertar o homem de sua religião e sim lhe dar o direito e a liberdade à religião. Dessa forma, a religião não é um obstáculo à emancipação dos judeus.

É evidente que, quando Marx escreveu essa obra tinha apenas 25 anos de idade, e ainda não tinha desenvolvido sua perspectiva revolucionária, mas estava a caminho. Todavia, mesmo depois de desenvolvido as ideias do socialismo científico, em suas obras posteriores não se vê ódio de Marx a religião, tampouco orientações no sentido de perseguir os cristãos ou outros grupos religiosos, como muitos religiosos e intelectuais reacionários propalam. Isso só mostra a má intenção, no vale tudo para demonizar a esquerda. Portanto, nos países em que se implementaram o sistema socialista, como na Rússia e nos países do Leste Europeu, em que houve perseguição aos cristãos, foi sem sombra de dúvida, equívocos cometidos por esses governos, destituídos de fundamento marxista. Embora Marx visse a religião como “ópio do povo”, não está implícito aí a destruição da religião e perseguição aos adeptos dela.

Ainda que Marx equivocadamente previsse o desaparecimento da religião com o fim da exploração do homem pelo homem, ou com a construção do socialismo, não estava com isso, determinando que o Estado socialista eliminasse pela força a religião. Ainda que Marx percebesse o uso da religião pela classe dominante para fazer as pessoas a aceitarem a miséria, ele pregava a eliminação da dominação da classe burguesa, não da religião. O entendimento dele era que, com o fim da desigualdade social e da exploração capitalista o homem não sentiria mais necessidade da religião no sentido de encontrar nela alento, pois a miséria deixaria de existir. Ela ia desaparecer naturalmente. Portanto, a perseguição a religião nas ditaduras burocráticas stalinistas da Rússia e do Leste Europeu no século passado representou um crasso erro dos governos daqueles países. Não se pode chama aquelas experiências de comunismo. Elas estavam a anos-luz do comunismo idealizado por Marx.

2) Adotar o marxismo como uma abordagem metodológica para entender o funcionamento da sociedade capitalista não pressupõe adotar o ateísmo

Embora Marx tivesse uma concepção negativa da religião, isso não significa a impossibilidade de um cristão adotar o marxismo como método de análise da sociedade a fim de compreendê-la. Como concepção filosófica que norteia setores do movimento popular e social, em que muitos cristãos estão engajados, o marxismo não tem dono. Ele não pertence somente aos marxistas ateus. É ciência e método, portanto pode e deve ser estudado por todos, religiosos ou não, e não apenas aos marxistas vinculados a uma visão de mundo materialista.

Retomando a questão que o jovem marxista levantou: “Como religiosos conseguem assimilar uma teoria materialista que nega a existência concreta de qualquer sobrenatural?” Diríamos que, se se definir o marxismo apenas como um materialismo (abstrato e metafísico) é impossível um cristão ser um marxista. É impossível essa assimilação. Mas, se se defini-lo como uma filosofia política ou como uma filosofia da práxis, do qual fala Gramsci, uma filosofia que visa o desenvolvimento das potencialidades humanas rumo a construção de uma nova sociedade, é possível um cristão ser um marxista. A partir do momento que um cristão progressista enxerga a sociedade capitalista a partir da concepção desenvolvida por Marx, está adotando o marxismo como instrumento analítico, ainda que essa adesão seja limitada ou restrita, pois não adere ao materialismo, que é inerente ao marxismo. Naturalmente, os marxistas ortodoxos dirão que esse cristão não é marxista, uma vez que a ontologia está na base do marxismo. Importante ressaltar que, o marxismo não se reduz apenas ao aspecto ontológico, mas é também uma doutrina econômica, social e política, cujos pressupostos são válidos e podem ser perfeitamente apreendidos pelos cristãos.

Cabe aqui uma importante fala do Prof. Dr. Venâncio Romero dita no Encontro de Adventistas Progressistas: “A teoria do conhecimento marxista ela é ateia mesmo. É um fato histórico. Agora em nenhum momento Marx disse que para me ler tem que ser ateu, para ser socialista tem que ser ateu. [...] Agora isso não impede em momento algum do marxismo ser o que eu chamo de mediação sócio-analítica para eu ler o mundo. Entende agora? Veja, para professar minha fé eu tenho os evangelhos, eu tenho a Bíblia. Para ler o mundo eu tenho a Bíblia e uma mediação sócio-analítica chamada marxista. O marxismo é mediação sócio-analítica para ler o mundo, não é para tirar a minha fé. Minha fé não deve nada ao marxismo. Eu não dependo do marxismo para eu ter fé ou perder a fé. Quem depende do marxismo para ter fé ou perder a fé é porque, de fato, nunca teve”.

Há muitos cristãos que empregam o método marxista para compreender a história, as relações sociais, bem como uma arma do pensamento e da ação indispensável na luta contra a exploração capitalista e para ajudar na construção de uma sociedade mais justa, uma vez que muitos deles são engajados em partidos de esquerda e/ou nos movimentos sociais, sem necessariamente absorver o materialismo ou o ateísmo.

Há uma outra questão, que decorre paralelamente desta, que queremos destacar: o fato do Marxismo ontologicamente ser ateu, isso não significa a impossibilidade de diálogo entre os cristãos e os marxistas a partir de pontos convergentes. Todo marxista quer uma sociedade igualitária, justa, fraterna, socialista. Da mesma forma os cristãos politicamente progressistas querem a mesma sociedade livre da exploração e da opressão. E, a sociedade socialista deve ser laica e garantir a mais ampla liberdade de opinião e de crença. Como disse o Prof. Dr. Romero Venâncio na palestra com os cristãos adventistas, “um socialismo que massacre os cristãos não é socialismo. O socialismo  que persegue cristãos falhou. [...] Um comunismo que não respeite a dimensão simbólica da religião pra mim não é comunismo. É outra cosia. [...] Um comunismo de verdade jamais será um perseguidor de cristãos, de cristãos não, de nenhuma religião [...], porque, acima de tudo, o comunismo é laico. Eu defendo o comunismo laico, não um comunismo ateu. Não tem sentido. Ateísmo de Estado, isso é um absurdo! Ateísmo de Estado é como Teocracia. Eu estou fora! Teocracia também não defendo. Estado religioso sou contra e como também sou contra o Estado ateu. Isso não é compatível com a obra de Marx”. Nessa perspectiva, os marxistas ateus não deveriam desenvolver uma atitude antirreligiosa, como comumente se observa. Inclusive, alguns marxistas apontam diversas desvantagens nesta postura antirreligiosa, entre elas o abismo colossal que há entre os marxistas e cristãos, quando poderiam ser aliados no combate as injustiças e as desigualdades sociais.

Embora Marx tenha negado a existência de Deus e a religião como forma de ligação com esse Deus, reconhecemos a contribuição do marxismo, como método de análise, na produção de conhecimento filosófico, histórico e sociológico na atualidade. Indubitavelmente, Marx foi um pensador de máxima envergadura, brilhante em suas análises e que revolucionou o pensamento filosófico, rompendo barreiras e desvelando a forma de organização de nossa sociedade. O conjunto de suas análises do modo de produção capitalista continuam válidas. Afinal, o sistema capitalista permanece, e como consequência, permanece também ainda hoje a exploração das camadas mais pobres pelas camadas mais ricas da sociedade. Suas ideias continuam inspirando aqueles que acreditam que é possível construir um mundo melhor, livre da exploração capitalista.

Todavia, como cristãos, não podemos endossar todas as formas de pensar e escrever de Marx, ainda que a essência de suas ideias seja boa e bem fundamentada cientificamente. A Bíblia Sagrada não sugere censura. Ela recomenda o discernimento espiritual. É o que recomenda o apóstolo Paulo: “Examinem tudo, fiquem com o que é bom” (1Ts 5:21, NTLH). Ao encorajar o livre exame das coisas, Paulo acrescenta um conselho: o de ficar com o que é bom. É exatamente o que os cristãos progressistas fazem em relação ao marxismo, examinam seus postulados e suas ideias. Aquilo que não é bom, por conflitar com sua cosmovisão, que é baseada na Bíblia Sagrada, lançam-no fora. Porém, aquilo que é bom no marxismo abraçam, sem, contudo, abandonar um ponto sequer da fé.

A religião como criação divina

Diferentemente do que pensava Marx a respeito da religião, as Sagradas Escrituras revelam que a religião tem sua origem em Deus, o Criador. Em Eclesiastes 3:11, Salomão fala de forma enfática que “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim”. Segundo o texto bíblico, na criação, Deus colocou no coração do homem a eternidade, algo eterno, algo maior do que tudo que pensamos ou fazemos ou planejamos. O que significa isso? Isso quer dizer que, como Deus pôs no coração do homem o anseio pelo infinito, logo as coisas finitas não podem em toda a sua plenitude preencher o coração do homem. Isto é notório na sociedade como um todo. De acordo com as Sagradas Escrituras, fomos feitos à imagem de Deus (Gn 1:26, 27). Logo, fomos dotados por Deus de uma faculdade espiritual. Nascemos com o desejo nato de adorar alguém ou a algo. Por isso, que em todas as civilizações antigas que temos conhecimento possuem um traço em comum: a religião. Desde as comunidades mais primitivas até as sociedades mais desenvolvidas, todas tinham religião, (e até hoje as nações e regiões se fundam em princípios religiosos, mesmo que minimamente) sejam elas cultos e divinizações dos elementos da natureza ou religiões organizadas com deuses complexos. No nosso entendimento, isso representa uma clara evidência de que o homem é um ser essencialmente espiritual. Temos uma necessidade interna de nos relacionarmos com Deus, implantada nele pelo próprio Deus. Se o homem consciente e persistentemente, não cultivar esta profunda espiritualidade resultará num vazio do coração humano.

Indubitavelmente, uma “insatisfação divina” permeia a experiência humana, o que nos leva a indagar se existe alguma coisa capaz de satisfazer a busca do homem pela satisfação dos desejos do seu coração. O ser humano está numa constante busca pela realização. Há em nós uma sensação de incompletude. Isso é inegável. Esse fenômeno é um fato conhecido e discutido desde o início da história da filosofia. Platão, um dos grandes filósofos gregos da antiguidade, em um de seus diálogos (Górgias, 492b-d) compara os seres humanos a jarros que estão vazando. De algum modo, estamos sempre incompletos. Podemos despejar coisas nos recipientes de nossa vida, mas há algo que impede que o jarro fique cheio. Estamos sempre parcialmente vazios e, por esse motivo, temos uma consciência profunda de falta de completude e de felicidade.

Aristóteles, discípulo de Platão, afirmou que “Todos os homens aspiram à vida feliz e à felicidade, esta é uma coisa manifesta”. O fato a ser observado é que a felicidade e satisfação pessoal é a grande aspiração do ser humano. Porém esse desejo não é o problema, mas o fato dos homens buscarem nos lugares errados.

O avanço científico e tecnológico não resolveu, nem resolverá jamais, o problema existencial do ser humano – essa sensação de que sempre há algo faltando, mesmo depois de termos concretizado nossos sonhos. Sempre queremos mais e queremos coisas diferentes. Parece-nos então que nada que seja finito é capaz de satisfazer o profundo anseio que sentimos dentro de nós. Muitos se matam, e muitos outros estão sofrendo de depressão, stress, insônia, alcoolismo. Hoje há fobias de todos os tipos. A ansiedade é um mal generalizado. Isso tudo claramente aponta para um sentimento de vazio no ser humano.

“Nas profundezas da alma humana se acha implantada a inquietação pelo futuro. Essa percepção do infinito no tempo e no espaço produz insatisfação com a natureza transitória das coisas desta vida. É o plano de Deus que o homem perceba que o atual mundo material não constitui o centro de sua existência. Ele se acha ligado a dois mundos: fisicamente a este mundo, mas mental, emocional e psicologicamente ao mundo eterno” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 3, 1075).

Certa vez, Santo Agostinho escreveu que cada um de nós tem dentro de si um espaço vazio deixado por Deus. Você pode tentar preencher esse vazio com qualquer coisa que existe no mundo, mas nunca vai conseguir, pois é imenso, infinito como Deus, e só Ele pode preencher. Ele escreveu: “Criaste-nos para Ti, e nosso coração permanece intranquilo até que encontre paz em Ti”.

Os seres humanos têm tentado de tudo, na ânsia de preencher esse vazio cavado por Deus. Diz C. S. Lewis: “O que Satanás pôs na cabeça de nossos primeiros pais foi a ideia de que eles poderiam ser como Deus, como se fossem independentes e tivessem vida em si próprios; que eles poderiam inventar algum tipo de felicidade sem Deus. E dessa tentativa infrutífera surgiu quase tudo na história humana – riqueza, pobreza, ambição, guerras, prostituição, classes, impérios, escravidão – a longa e terrível história do homem tentando achar outra coisa, menos Deus, para fazê-lo feliz. E por que isso nunca deu certo? É porque Deus nos criou, nos inventou, um como um fabricante inventa uma máquina. Se um veículo é fabricado para ser movido a óleo diesel, ele não vai funcionar direito com outro combustível. E Deus criou a máquina humana para se mover nEle. Ele é o combustível que nos faz agir, o alimento do qual precisamos para nos nutrir. Não há outro”.

A resposta para o vazio não é encontrada em nós mesmos tampouco no ateísmo, porque como disse o personagem do escritor russo de pequenas estórias, Fyodor Mikhaylovich Dostoyevsky, Príncipe Mishkin, na obra O Idiota: “O ateísmo não proclama nada”. O preenchimento do vazio existencial não é encontrada no dinheiro. Podemos conquistar fortunas incalculáveis, e ainda que fosse possível conquistar o mundo todo, restaria sempre a ânsia de novas e maiores aquisições, nessa sede insaciável de preencher o vazio infinito do coração. O magnata Rockfeller disse: "Juntei milhões, mas eles não me trouxeram felicidade". Não é encontrada no poder. Alexandre, o Grande chorava após derrubar seus inimigos e dizia desconsolado: "Não há mais mundos para conquistar". Não é encontrada nos prazeres terrenos. O escritor pornográfico Lord Byron disse antes de morrer: "Tudo que me restou agora foram vermes, câncer e ressentimento". Por outro lado, Deus tem preenchido milhões de pessoas no correr da História, entre as quais eu me incluo.

Muitos povos achavam que eram espertos demais para precisar de Deus. Pensavam que poderiam preencher esse vazio infinito com poder, diversão, sexo ou malas cheias de dinheiro. Mas nunca conseguiram.

Amigo, talvez você esteja lutando com dúvidas a respeito da existência de Deus. Suas dúvidas são a fonte de um continuo desejo de conhecer a Deus e estar em harmonia com Ele. Como o homem na narrativa do evangelho clame: "Eu creio; ajuda-me a vencer minha incredulidade!" (Marcos 9:24). Talvez você também sinta dentro de si esse vazio. Não perca tempo e esforço tentando preenchê-lo com trabalho, estudo, consumismo, filosofias, sexo, divertimentos, relacionamentos pessoais, viagens. Você poderá conseguir distrair-se por algum tempo, mas quando a sua máquina começar a engasgar e a tossir, por ter usado combustível errado, você vai ter de parar e pensar que a única solução é nEle viver, se mover e existir (At 17:28).

Para além do “ópio” de Marx, nossa religação com Deus é a chave para o mistério dos mistérios, o significado da vida. Deus é o Criador da vida, por isso é Ele que dá sentido à vida. Deus nos criou para Seu louvor (Isaías 43:20-21). Ele nos formou de maneira especial, para mostrar Sua glória e Seu amor através de nós. Esse é o grande sentido da vida. A satisfação plena é produto da segurança absoluta e da paz interior que só Deus pode dar. Só um Deus infinito pode preencher, com o Seu amor, o espaço infinito do coração humano. E esta conquista espiritual está ao alcance de todos os que, reconhecendo a sua insuficiência, aceitam o presente que o Céu oferece – a vida eterna, através de Jesus Cristo: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23).

Ocorre que o Senhor não invade nosso coração, Ele espera um convite para entrar e fazer moradas. Em Apocalipse 3:20 diz: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.

Quando detectamos o vazio de nossa alma, tentamos preenchê-lo de todas as formas, mas somente somos saciados quando Jesus entra em nosso coração. É Ele que quer saciar a sede de nossa alma. Quando Ele entra em nosso coração nos sentimos supridos, saciados, felizes, prontos para qualquer boa obra.

Quer as pessoas aceitem ou não; todos precisam de Jesus. Jesus está batendo à porta do nosso coração; se abrirmos, Ele entrará e equilibrará nossa alma e a paz que excede todo entendimento invadirá nossa vida para sermos plenos nEle.

Caro amigo leitor, que tal começar a buscar a Deus hoje? Que tal largarmos dessa vida miserável que o mundo oferece, vida vazia e eu sei que uma vida longe de Deus é vazia, uma vida de aparência e buscarmos aquilo que é eterno. Que adianta preservar uma vida nessa terra, umas amizades, uns prazeres terrenos e perder a vida eterna? Perder a herança que Deus nos deixou?

Não existe vida sem Deus, não tem, não é viver com Deus ou viver sem Deus, é viver. Com Deus você vive, sem Deus você não vive, simples. Ele é tudo o que você tem e precisa, sem Ele você não tem nada.

Deus abençoe sua vida!