Teologia

sábado, 4 de janeiro de 2014

BREVE HISTÓRICO DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA - CENTRAL DE LAGARTO

Ricardo André de Souza1

I - Introdução

O presente artigo consiste em uma breve análise sobre a gênese e o desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade de Lagarto, como uma das mais importante igreja protestante em atividade na cidade, pontuando as ações empreendidas pela supracitada igreja num esforço pelo estabelecimento e consolidação da mesma. Para tanto incorpora-se ricas informações coletadas das Revistas Adventistas da época do surgimento e estabelecimento da igreja, bem como da memória de alguns filhos e, principalmente, dos netos de alguns pioneiros citados neste artigo. Importante ressaltar que, a escassez de publicações na área e a limitação das pesquisas existentes fazem com que alguns fatos e personagens citados neste artigo não sejam identificados e datados de forma precisa.

O interesse pelo tema surgiu por três razões fundamentais: Em primeiro lugar, pela constatação da completa ausência de uma obra que relatasse de forma panorâmica a história dos adventistas do município de Lagarto, sob a ótica dos próprios adventistas. Segundo, porque reconhecemos a importância de conhecermos nossa história denominacional. Infeliz é o povo que perde a memória de suas origens. Nas palavras do polímata francês Gustave Le Bon, “o povo que perde a noção de seu passado, isto é, da sua história, das suas crenças, dos seus ideais, perde a sua alma e está fadado à decadência e ao desaparecimento”. Acreditamos piamente nesse pensamento. Se a história vivida e contada pela primeira geração de pioneiros for registrada, ela se manterá e não se perderá com o tempo. Ademais, quem valoriza sua história transmite um legado de fé e experiências com Deus às gerações posteriores. Hoje somos inspirados por aquilo que os pioneiros vivenciaram ao caminhar com Deus e pela confiança que manifestaram na providência divina. Por fim, acreditamos que olhar para o passado ajuda a entender melhor nossa identidade como adventistas.

Vejamos como tudo começou. 

 II – A Origem do Adventismo em Lagarto

A história da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Lagarto teve início em 1930, com a chegada de dois colportores da Missão Baiana, hoje Associação Bahia, denominados de Generoso de Oliveira e José Seabra. Colportores são missionários que divulgam a mensagem adventista por meio da página impressa. Importante dizer que muito antes dos pastores ordenados chegarem à América do Sul, foram os colportores que prepararam o caminho para a chegada do adventismo nesse território. “Depois que os colportores despertaram interesse suficiente nos ensinos adventistas e relataram a existência de um número considerável de guardadores do sábado, os líderes da igreja começaram a enviar pastores ordenados para batizar os conversos e organizar igrejas” (Floyd Greenleaf, Terra de Esperança: O crescimento da Igreja Adventista na América do Sul, CPB, p. 36).  Ao aportarem aqui, esses colportores pioneiros encontraram um grupo de 25 cristãos sinceros observadores do sábado que estavam estudando com afinco as Sagradas Escrituras e o livro denominacional Estudos Bíblicos. Tal grupo era constituído por membros da Igreja Presbiteriana dos Povoados Jenipapo, Urubutinga e da cidade. Ao perceberem a sede desses fiéis cristãos em conhecer melhor a Bíblia Sagrada, logo iniciaram com eles uma série de estudos bíblicos. Para isso organizou-se duas escolas sabatinas. Uma no Povoado Jenipapo (chamado a época de arraial de Jenipapo), constituído por dezenove irmãos e era dirigida por Severo e Josefa. A outra foi organizada na sede do município, formada por dez pessoas e dirigida por Antônio Silveira Dias, Seu Antônio de Berilo (1912-1998), antigo comerciante de Lagarto, e proprietário da extinta loja “A Primordial”, que ficava localizada na Praça Filomeno Hora, no centro da cidade. Mais detalhes sobre a biografia de seu Antônio de Berilo são apresentados no último tópico desse artigo.

Um dos capítulos mais belos, emocionantes e significativos da história da Igreja Central de Lagarto é, indubitavelmente, o dos seus fundadores ou "Pioneiros da Fé". Longa seria a lista desses primeiros e dedicados membros da Igreja Central caso pudéssemos arrolar com felicidade todos os seus nomes mas, sendo isso impossível, limitamo-nos a fazer menção apenas daqueles pioneiros em que aparecem nas fontes documentais. As pesquisas acerca da chegada do Adventismo em Lagarto indicam que os primeiros adventistas foram os seguintes irmãos: Severo Francisco dos Santos, Josefa (ambos do Jenipapo), Antônio Dias Silveira e sua esposa Maria Dias Silveira, Sabino de Melo, Cassimiro da Fraga Pimentel, Maria Dias Araújo, conhecida como “Caçula” (irmã de Antônio S. Dia) e Pedro Loiola.

Severo dos Santos era presbiteriano e ministrou uma série de estudos bíblicos a sua vizinha dona Josefa, que era católica. Quando ela já estava quase convencida de tudo, inclusive do batismo por imersão, um outro crente presbiteriano lhe empresta dois livros adventistas Nossa Época e Rei Vindouro. Por meio dessas obras descobre a verdade do sábado, e logo passou a dialogar sobre o assunto com seu instrutor bíblico, o que gerou muitas discussões entre eles, pois Severo dos Santos resistia aceitar a verdade do sábado. Um dia, após uma discussão entre eles, ela lhe disse: “Fique com o seu domingo, que eu ficarei com o meu sábado”. Mais tarde, durante uma visita à sede do município para fazer compras na loja de seu Berilo, ele recebeu do filho do comerciante, Antônio Silveira Dias, alguns folhetos adventistas e o livro Estudos Bíblicos, da Casa Publicadora Brasileira. Severo, que até então havia resistido em aceitar a mensagem adventista, leu os livros, foi impactado pelas mensagens e reconheceu o sábado como o dia do Senhor. Logo em seguida foi ter com dona Josefa para contar-lhe de sua convicção a respeito do sábado. Ambos, alegraram-se na verdade do sábado. Os três, Severo, dona Josefa e Antônio Dias se uniram para trabalhar na seara do Senhor e organizaram o primeiro grupo de adventistas no Jenipapo e em Lagarto.

Entusiasmado com a nova luz a respeito do sábado, Severo dos Santos passou a pregar a mensagem adventista a seus amigos presbiterianos no povoado Urubutinga, e alguns deles aceitaram com alegria os ensinamentos, deixando sua igreja e tornando-se adventistas. Foi justamente desse grupo que surgiu a Escola Sabatina na vila de Jenipapo, em junho de 1933, que mencionamos acima.

Foi com essas primeiras reuniões e estudos bíblicos realizados e batismos que o adventismo fincou a bandeira do “evangelho eterno” em solo lagartense.  Esses irmãos, tornaram-se as “primícias” do Rebanho do Senhor em Lagarto. Eles formaram o primeiro núcleo do adventismo em Lagarto. Representam portanto a gênese do movimento adventista nesta cidade. A eles pertence uma história fascinante!

De acordo com o Livro de Atos da Igreja Adventista Central de Lagarto, posteriormente, outros conversos são acrescidos a este primeiro núcleo, a exemplo de Nicolau Tolentino Dias (irmão de seu Pedro Dias dos Santos e ancião da Igreja, que apreciava visitar os interessados e amigos da igreja) e sua esposa Elvira Dias, Pedro Dias dos Santos, Maria de Lourdes Dias, José Timóteo, Antônio de Mirena, José de Cassimiro ou Zezé de Cassimiro, como era era conhecido, porque era filho do pioneiro Cassimiro da Fraga Pimentel, José Andrade, José Lotério e Manuel Silveira. Esses pioneiros fizeram um excelente trabalho desbravando os campos e preparando o solo lagartense para a chegada dos pastores. Alguns dos primeiros  pastores adventistas que vieram a Lagarto eram alemães e norte-americanos que trabalhavam no Brasil, e vieram atendendo o anseio desses crentes que desejavam receber um ministro, para lhes pregar o Evangelho de Jesus Cristo.

Assim, em junho de 1933, o Pastor evangelista do Rio Grande do Sul, José Rodrigues dos Passos (1902-1987), chegou a cidade, fez visita a alguns interessados na “Verdade Presente” e organizou uma série de reuniões evangelísticas durante quinze dias auxiliado por doze irmãos de Aracaju, cujos nomes desconhecemos. Relatos dão conta de que essa conferência foi um sucesso, contando com a frequência de mais de 400 ouvintes, inclusive com a presença do intendente, o senhor Rosendo Barreto Machado, e outras autoridades da cidade. O padre da cidade tentou impedir o trabalho, primeiro proibindo as pessoas de alugar casas ao Pastor José Passos e sua equipe, e depois ameaçando os fiéis de excomunhão caso participassem das conferências. Contudo, a perseguição não amedrontou aquelas pessoas, que destemidamente foram assistir as reuniões evangelísticas. À semelhança da maior parte das cidades brasileiras, Lagarto é uma cidade, cujos moradores professam predominantemente a religião católica e, por isso, com frequência encontram-se relatos históricos de intolerância religiosa, por parte do clero e seus fiéis, contra missionários protestantes e evangélicos. Ao fim de quinze dias de trabalho, em 01 de julho, quatro preciosas almas foram batizadas. Foi o primeiro batismo realizado em Lagarto. Os registros apontam que o referido Pastor permaneceu aqui até 1939.

Por conta do crescimento do adventismo, nesse tempo, o pároco da cidade Jason Barbosa Coelho, iniciou uma forte perseguição aos novos crentes do advento, a fim de fazê-los desistir da nova fé que abraçaram. “O padre estava tão inconformado que juntou um grupo de católicos e até ameaçaram de morte aqueles colportores”. (Revista Adventista, junho de 1933). Não obstante a forte oposição sofrida pelo padre da cidade, os cristão adventistas permaneceram firmes na mensagem e prosseguiram ensinando a “Verdade Presente” a outros com determinação. O sucesso em meio a condições tão negativas apenas os inspirava a buscar alvos ainda mais ambiciosos, que os possibilitaria alcançar vitórias ainda mais elevadas.

Mas foi somente a partir do ano de 1939 que a Missão Baiana da Igreja Adventista do Sétimo Dia - instituição responsável pela gestão da obra adventista nos estados da Bahia e Sergipe - voltou seu olhar com determinação para Lagarto. A partir desse ano a Igreja não parou de crescer.  Nesse ano, doze novos crentes foram acrescentados ao rebanho do Senhor por meio do santo batismo. A cerimônia foi oficializada pelo pastor argentino Daniel Féder (1905-2006). Em 1940, o pastor Germano Paulo Streithorst (1889-1979), imigrante alemão e diretor na Missão Bahia de 1937 a 1939, realizou o batismo de mais quatro preciosas almas. Posteriormente, no mesmo ano o Pastor John Lewis Brown (1888-1972), imigrante norte-americano, primeiro presidente da Missão Baixo Amazonas (1927-1928), ao visitar a cidade de Lagarto batizou mais quatro irmãos. Entre 1933 e 1941, a nascente igreja de Lagarto realizou seus cultos sempre em residências. Relatos dão conta de que esses novos crentes adventistas tiveram enormes dificuldades para encontrar um salão adequado para alugar para a realização dos cultos. De maneira que eles deliberaram construir um Templo para que eles pudessem adorar ao Senhor Jesus dignamente.

III – A Construção do Primeiro Templo

Em janeiro de 1941, foi lançada a pedra fundamental da primeira Igreja Adventista. A construção da Igreja levou nove meses para ser concluída. Aquele grupo de pioneiros “empreenderam uma campanha, entre membros da igreja e amigos, para arrecadar os meios para a construção. Receberam alguns donativos de materiais. Os irmãos e amigos dedicaram seu tempo aos trabalhos de edificação, e estes continuaram progredindo. Ao cabo de nove meses a construção estava terminada. Foi lindamente pintada por dentro e por fora, colocados dizeres e cortinas e, num lugar conveniente, um novo e belo relógio. No pátio da entrada, de um e outro lado, foram plantadas palmeiras. Em dezoito de outubro do ano findo, tudo estava em perfeita ordem para a inauguração. Para esse ato, a igreja foi belamente ornamentada com ramos e flores”. (Pr. J. L. Brown. Revista Adventista, janeiro de 1942, p. 13).

Relatos dão conta de que o terreno em que foi construído a Igreja Central teria sido comprado ao um senhor por nome Pedro Macário, que ao saber que seria construído uma igreja de crente ali, por preconceito religioso, que era muito forte a época, desistiu de vender. Ocorre que a documentação do terreno já havia sido passado para o nome da Igreja Adventista, logo a venda não pode mais ser desfeita.

No dia 18 de outubro de 1941, num sábado, foi inaugurado o primeiro templo adventista de Lagarto, na rua Zacarias Júnior, 447. Anos mais tarde passaria a ser a Igreja Central de Lagarto. De acordo com o relato do Pr. J. L. Brown, “no sábado em que se se realizou a consagração, o edifício da igreja estava superlotado. Nas reuniões noturnas, o prédio não podia acomodar o povo. Mais de trezentas pessoas ficavam do lado de fora, em pé, para ouvir a palavra de Deus. Foi tão grande o interesse despertado, que se tornou necessário uma breve série de conferências para levar a verdade presente às pessoas que a almejavam”. (Idem). Por conta do enorme interesse das pessoas na “verdade presente”, o Pastor Paulo Simon Seidl (1911-1997), então secretário departamental da Missão Baiana, permaneceu em Lagarto por mais alguns dias para continuar aquelas reuniões evangelísticas na igreja. Ao final dessa série pregações evangelísticas, treze pessoas estavam preparadas para serem batizadas e muitas outras interessadas nas verdades do evangelho eterno.

Outro relato muito significativo está relacionado a essa conferência do Pr. Paulo S. Saidl. Entre os que foram batizados como fruto das conferências públicas do Pastor Paulo Seidl, está um senhor muito católico que não queria ter nada com os adventistas, cujo nome não foi identificado nos registros. Certo dia, ao passar temeroso perto do salão de reuniões ouviu umas palavras que despertou-lhe o interesse. Neste dia o pregador Seidl desafiava os presentes a mostrar um texto bíblico que provasse a guarda do domingo. Quem o fizesse ele daria um conto de réis. Objetivando desmoralizar o pastor Seidl e abocanhar o conto de réis oferecido, o senhor passou a investigar as Sagradas Escrituras emprestada por um padre da cidade parente seu. Como escreveu o Pastor J. L. Brown, “De posse das Escrituras, começou, em casa, a procurar os textos. Nunca havia manuseado a Bíblia, mas logo deu com a palavra “sábado através de todo o Volume. Pediu ao irmão que o auxiliasse. Não encontrando outro dia de guarda senão o sábado, e notando que este estava nos mandamentos designado como o dia do Senhor, devolveu o Livro ao dono, tomou estudos bíblicos do pregador adventista e aceitou completamente a mensagem”(Revista Adventista, janeiro de 1942, p. 13). Esse senhor e seu irmão, bem como as esposas de ambos foram batizados na Igreja Adventista Central de Lagarto no dia da inauguração da mesma. Conforme depoimento de alguns irmãos, o Pastor Paulo Seidl foi o primeiro pastor da igreja de  Lagarto, permanecendo ali até 1944. Na realidade, a liderança da Missão Baiana nomeou o Pastor Paulo S. Seidl para servir no distrito pastoral de Sergipe, e foi o único pastor adventista do estado de Sergipe por três anos. À época, Sergipe se constituía num único distrito (Ata da Missão Bahia26 de junho, 1938, voto no. 074-38). Portanto, não havia ainda o distrito de Lagarto. De acordo com a Revista Adventista, janeiro de 1942, ele foi substituído pelo Pastor Ciro Passos Cunha.

A partir de então, os crentes adventistas do sétimo dia, movidos por espírito missionário, começaram a expandir a presença adventista na cidade e povoados mediante diversas atividades, a exemplo de conferências públicas, classes bíblicas, distribuição de literaturas entre outros. Condições adversas foram superadas, barreiras derrubadas, e a mensagem do advento chegou vitoriosamente em diversos povoados de Lagarto e outras cidades vizinhas. A partir da Igreja Central surgiram diversas outras igrejas, que transformou-a na sede do Distrito de Lagarto.

Em 2000, o Distrito é dividido em dois: O primeiro Distrito da Central de Lagarto e o segundo, Distrito Lagarto I. A obra adventista continuou crescendo, de modo que, em 2008 surge um terceiro, o Distrito da Brasília. Hoje a Igreja de Lagarto conta com quase 30 igrejas e grupos distribuídos entre seis distritos pastorais e quase 3.000 membros.

A obra adventista em Lagarto avançou a passos largos. Por volta de 1944, os adventistas estabeleceram a Escola Adventista de Lagarto. Inicialmente a escola funcionava em salões alugados. Posteriormente, fora instalada ao lado da Igreja, e oferecia o ensino primário, como meio de alcançar o público com a mensagem do “evangelho eterno”, bem como conservar a juventude na igreja. 

A escola de Lagarto era uma das 15 escolas estabelecidas na União Este Brasileira. O Pr. Paulo S. Seidl relata que, durante os meses de março, abril e maio desse mesmo ano, visitou “os queridos irmãos do distrito Sul da Bahia e em Sergipe”. Naquele tempo os meios de locomoção mais rápidos e seguros eram o cavalo, a mula ou o burro. Sobre sua viagem a Bahia e Sergipe, ele escreveu: “Fiz nestas viagens mais de 170 léguas a cavalo”. Conta ainda que, no dia 22 de maio, assistiu a “um ótimo programa dedicado às mães, na escola de Lagarto, que deixou excelente impressão no espírito da grande assistência, principalmente pela sua simplicidade e o espírito religioso que o caracterizou” (Revista Adventista, setembro de 1944, p. 23, 24). Em 1958, a diretora da escola era a Professora Elvira Portela. 

Por não oferecer uma estrutura física adequada, e em virtude da igreja local não possuir recursos financeiros para a construção de uma nova escola com um prédio moderno e amplo a curto prazo, a Missão Sergipe-Alagoas, através do então Presidente Jurandir Reis, resolveu encerrar as atividades na instituição de Lagarto, em dezembro de 2003, após longos 60 anos. Enquanto existiu foi ela uma bênção para centenas de crianças de Lagarto, que por lá passaram.

IV – A Construção do Segundo Templo

Em 2004, a Igreja Central contava com quase 400 membros. O prédio não comportava mais essa quantidade. Os cultos de sábados eram realizados em dois horários. O primeiro realizava-se às 08h00 e o segundo às 10h30. Em razão do crescimento e da necessidade de instalações mais amplas, o Pastor Ubirailson Moura, então Distrital da Igreja Central, juntamente com a liderança da mesma deliberaram pela demolição do Templo antigo e construção de um novo Templo mais amplo e moderno, no mesmo local. Durante três anos de intensas obras, as reuniões e cultos foram realizados sem conforto e com muitos sacrifícios num galpão velho adaptado, cedido por um empresário da cidade e ex-prefeito de Lagarto, senhor José Rodrigues dos Santos, conhecido como Zezé Rocha.

No dia 07 de julho de 2007, a Igreja Central de Lagarto tem início uma nova fase: a IASD Central de Lagarto reabre suas portas em um prédio amplo e moderno, com capacidade para acomodar 360 pessoas, o qual passou a ser a nossa nova casa de oração e adoração. No dia da inauguração, sábado à tarde, houve uma passeata dos adventistas dos dois distritos do Colégio Nossa Senhora da Piedade até ao novo Templo onde seria inaugurado. Um palanque foi montado, onde falaram, respectivamente, os presidentes da União Nordeste Brasileira (UNeB) e da Missão Sergipe-Alagoas (MSA), Pastor Geovane Queiroz e Jurandir Reis, respectivamente. Também fez uso da palavra o então distrital Pastor Wesley Lopes Vaz. Mais que uma referência arquitetônica no coração da cidade, a nova igreja é um lugar de esperança para Lagarto e região. O novo Templo foi projetado com os seguintes objetivos: Construir, na parte superior, um santuário para 360 pessoas e, na parte inferior, instalações adequadas para os Departamentos da igreja e para o funcionamento das classes da Escola Sabatina das crianças, juvenis e adolescentes.

À propósito, lembramos que o atual prédio da igreja foi projetado pelo arquiteto irmão Marcelo Souza Maia, de Brasília (DF) e construído pelo engenheiro Nicanor Modesto, sob a coordenação do Pastor Ubirailson Moura, então pastor da igreja, com o apoio dos anciãos, Anselmo Carvalho de Melo, José Batista Santos, Marcelino Antônio Barbosa da Silva, e demais oficiais da Igreja, a exemplo do jovem Adilson Dória, então Diretor de Patrimônio da Igreja, que na fase final da construção assumiu o comando.

Esta é, pois, a história parcial da Igreja Central de Lagarto. Muitos outros acontecimentos tiveram lugar na história e muitos outros personagens participaram destes acontecimentos, contudo não foi possível fazer menção a eles. Assim, pedimos desculpas e também parabenizamos a todos estes que foram os pioneiros desta Obra Santa, e temos plena convicção que se não os mencionamos aqui por nossa falha ou por falta de fontes documentais, Cristo no Céu tem os seus nomes escritos no Livro da Vida.

Agradecemos a Deus pelo trabalho realizado por todos esses fiéis fundadores da Igreja Central de Lagarto, ou seja, por todos esses "pioneiros da fé", tributando a cada um deles o nosso apreço e respeitoso reconhecimento, pelo inspirador testemunho de fé e dedicação que nos legaram, rogando a Deus que nos ilumine e inspire a prosseguir o trabalho que eles iniciaram com o mesmo zelo e consagração que caracterizaram suas vidas. Nossa alegria suprema é o fato de sermos um com nossos irmãos de todo o mundo acerca da “bendita esperança” da breve volta de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. E com grande fé nesse glorioso evento podemos dizer confiantes e agradecer, porque “Ate aqui nos ajudou o Senhor”.

V - Breve biografia dos pioneiros adventistas de Lagarto

Neste tópico destacamos de forma sucinta a história de alguns pioneiros do movimento adventista em Lagarto, os quais com intenso fervor e fé inabalável participaram na fundação e desenvolvimento da IASD em Lagarto.

Antônio Silveira Dias (1912-1998)

Quando pesquisamos a história da Igreja Adventista na cidade de Lagarto nos anos que precederam a construção do primeiro templo, descobrimos a figura fascinante de um piedoso homem e fervoroso cristão: Antônio Silveira Dias. Foi um dos primeiros adventistas de Lagarto na década de 1930. Ele alegrava-se em estudar minuciosamente as Sagradas Escrituras, bem como em pregar o “evangelho eterno” em um “alto-falante”, um tipo de sistema radiodifusão existente na década de 1940. Através de distribuição de folhetos que tratavam sobre o sábado e de outros temas bíblicos, bem como através de debates religiosos em que ele corajosamente se envolvia, numa época em que havia muito preconceito dos católicos contra os protestantes, buscava difundir a verdade presente. Costumava dizer para seu filho, Marcos Antônio Dias, um pensamento icônico da sua determinação e coragem em pregar o evangelho: “Se quiserem me levar a uma fogueira em praça pública, não tem problema. Eu não tenho medo de perder a vida por Cristo!”. O texto bíblico que o animava era Apocalipse 14:7, seu versículo preferido. Sua dedicação e esforço no trabalho evangelístico foi essencial para a fundação da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Lagarto.

Antônio S. Dias veio a existência na cidade de Lagarto numa época em que os padres e a Igreja Católica exerciam forte influência na vida das pessoas. O historiador lagartense Floriano Fonseca registra que “Lagarto fora uma terra de padres durante muitas décadas, inclusive nasceu em torno de uma igreja Católica”. (FONSECA, Floriano Santos. Herdeiros e Deserdados do Cabaú: apontamento para o estudo de História de Lagarto, vol 2, p. 36). Isso explica os diversos relatos de perseguições e preconceito contra os missionários protestantes que chegaram aqui no início do século XX. Seu pai, Berilo Silveira Dias, um antigo comerciante e membro da Igreja Presbiteriana, e sua piedosa mãe Josefa de Oliveira Dias, celebrando o nascimento do seu filho, ocorrido no dia 12 de outubro de 1912, jamais poderia imaginar que Deus haveria de usá-lo como instrumento para ajudar no estabelecimento do adventismo em Lagarto.

Além dele, seus pais tiveram mais outros sete filhos, quais sejam: Israel Silveira Dias, conhecido como “Dó”, Dulce Silveira Dias, Heroína Silveira Dias, Risoleta Silveira Dias, conhecida como "Rosa de Tenente Correia”, Berilo Dias Filho, conhecido como “Belo”, Maria Dias Araújo, conhecida como “Caçula” e Elvino Silveira Dias. Antônio Silveira trabalhou arduamente para abrir uma loja que denominou de "A Primordial ", localizada na Praça Filomeno Hora, centro da cidade. Certamente, seu desempenho na administração da loja, desenvolveu nele o espírito de iniciativa, independência e liderança, que o qualificaram para o trabalho de pregação que o Senhor Jesus lhe reservou.

Não obstante ter recebido uma educação escolar limitada, conseguiu acumular com o passar dos anos uma admirável soma de conhecimento, mediante incansável leitura de livros, notadamente a Bíblia e os livros da Casa Publicadora Brasileira, editora adventista. Gostava de ler bastante sobre a Reforma Protestante do século XVI para entender, inclusive, a hostilidade dos católicos aos protestantes em seu tempo. Foi assim que Antônio S. Dias, embora carente de erudição teológica, obteve êxito em liderar, pela graça de Deus, o primeiro grupo de estudos da Bíblia Sagrada ou grupo de Escola Sabatina na cidade, na década de 1930, quando não havia ainda Igreja Adventista organizada.

Em 1944, casou-se com a senhorita Maria Dias Silveira, com 32 anos de idade. Antônio de Berilo e Maria Dias começaram assim sua história de amor. Como fruto dessa união nasceram quatro filho: Ghislene Mary Dias Mello, Davison Silveira Dias, Marcos Antônio Silveira Dias e Najla Ivana Dias Koch. Essa história se tornou pioneira da obra adventista na cidade de Lagarto. Pode-se afirmar seguramente que a família Dias exerceu papel fundamental no desenvolvimento da igreja, bem como foi presença marcante na liderança da igreja nas primeiras décadas da fundação da igreja. Tinham o único propósito de que eles fossem instrumentos de Deus na pregação do evangelho, pois eles criam que essa obra deveria ser feita nos dias em que viviam.

No lar um pai dedicado. Amava a esposa e os filhos. “Um bom provedor, nada deixava faltar. Ele gostava de nos levar para passear. E eu me sentia muito feliz”, recordou sua filha Ghislene M. D. Mello. Como se vê, para além de provedor, ele tinha uma relação afetiva e próxima com os filhos. Preocupado com a educação religiosa e formação profissional dos filhos, ele enviou-os aos colégios adventistas a fim receberem uma educação de qualidade e integral, baseada em princípios cristãos, que os preparassem não somente para serem bons profissionais nesta vida, mas a se prepararem para serem cidadãos do Céu. Seu esforço valeu a pena, pois todos os seus filhos permanecem na igreja e são bons profissionais.

Na década de 1930 conheceu a mensagem adventista, e entregou sua vida a Jesus através do Batismo, realizado pelo Pastor Paulo Simon Seidl (1911-1997), então secretário departamental da Missão Baiana. Depois de ter aceitado a fé adventista, Antônio Dias, trabalhou para que outros também a conhecessem, a qual chegou a diversos de seus familiares. Seu amor por Jesus e por Sua obra o motivou a contribuir financeiramente, com liberalidade, na construção do primeiro templo adventista, em 1942, e da Escola Adventista, em 1944.

Durante anos Antônio S. Dias e seus irmãos oraram a Deus para que sua mãe dona Josefa e sua irmã Heroína S. Dias se tornassem adventistas através do batismo. Deus ouviu as orações dos irmãos Dias. E, num sábado chuvoso do dia 31 de maio de 1958, foram batizadas pelo Pastor Newton Gomes. Antônio S. Dias teve a grande alegria de ver também sua filha Ghislene Mary Dias Mello e sua cunhada Noeme Dias se batizarem nesse mesmo dia.

Era uma pessoa mansa, honesta e honrada. “Eu nunca vi o meu pai erguendo a voz, bravo nem gritando. Nunca!, destaca sua filha Ghislene. Não vivia atacando os outros. Dialogava com católicos e evangélicos a respeito das suas crenças, mas sempre com muito respeito a elas. Segundo seu filho, Davison Silveira Dias, na sua loja “atendia a todos com distinção, chamando a todos de irmão”. Amava as crianças. Sempre que via uma criança dava um cheiro na cabeça. Gostava de agradar seus clientes presenteando-os com xícaras. Eram os “mimos” que ele escolheu para oferecer aos seus clientes e ganhar um sorriso verdadeiro em troca. Tinha um senso de humor e gostava de ri muito nalgumas coisas que falava. A melhor indicação de que Antônio S. Dias tinha um senso de humor seja um incidente que aconteceu com ele. Certo dia, ele penteou os cabelos e esqueceu o pente preso nos cabelos. Andou o dia inteiro com o pente na cabeça. Quase ao findar do dia, alguém na rua falou para ele:

- “Moço tem um pente no seu cabelo”.

Meio desconcertado, tirou o pente da cabeça, e disse em tom de brincadeira:

- “Tabaréu é terrível! Andar o dia todo com um pente enganchado no cabelo”.  E pôs-se a ri dele mesmo.

O nobre caráter do irmão Antônio S. Dias é atestado por todos os familiares e amigos que conviveram com ele. Era amado por todos. Sua vida honesta e dedicada ao serviço de Deus exerceu forte influência na vida das pessoas com quem ele mantinha contato. Tanto é assim que, por meio de seu testemunho, seus irmãos tornaram-se adventistas através do batismo. Segundo seu filho Marcos Antônio S. Dias, cerca de 1000 a 1500 pessoas tornaram-se cristãs adventistas por meio de suas pregações.

Aos 86 anos, o vigor cedia lugar à fadiga e a enfermidade paulatinamente minava-lhe o corpo cansado. Sua nora Lenise Dias recorda que ele “nunca murmurava de dor. Quando abria a boca sempre era para louvar e glorificar o nome de Deus”. Não obstante as aflições e dores resultantes da senectude, não tirou-lhe a esperança da breve volta de Jesus que o acompanhou até a sua morte.

Seu filho Marcos Antônio, sua nora Lenise Dias e um funcionário da Farmácia do Marcos estavam reunidos junto ao seu leito, na manhã do dia 23 de novembro de 1998, quando alquebrado pelas mãos dos anos e do diabetes, Antônio S. Dias afinal descansou no Senhor. A inexorável passagem do tempo jamais poderá apagar o extraordinário trabalho desse corajoso pregador do evangelho de Jesus Cristo. Dois anos depois, sua esposa Maria Dias Silveira faleceu, em 08 de dezembro de 2000. Permaneceu firme na esperança da breve volta de Jesus.

José Timóteo de Oliveira (1921-2019)


José Timóteo de Oliveira, à semelhança de outros co-fundadores do adventismo em Lagarto, não desfrutou as vantagens de uma esmerada educação formal, mas aplicando-se com entusiasmo e disciplina ao estudo e à investigação da Sagradas Escrituras e das literaturas denominacionais, acumulou um respeitável conhecimento acerca dos ensinos bíblicos, suficiente para transmiti-los aos seus contemporâneos. Era um homem assaz simples, um lavrador. Não obstante sua formação educacional ser extremamente limitada, nele cumpriu-se mais uma vez as palavras sacras: “Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes [...] para que ninguém se vanglorie diante dele” (1 Co 1:27, 29, NVI).

José Timóteo nasceu no dia 24 de maio de 1921, na cidade de Lagarto, Sergipe. Em 26 de setembro de 1942, casou com a senhora Antônia Rodrigues de Oliveira (1919-1998). Do casamento nasceram-lhe 11 filhos. Três morreram logo que nasceram. Os oito que sobreviveram foram: Antônia de Oliveira, Nelson Timóteo Oliveira, Benjamin Timóteo Oliveira (in memorian), Carmelita Rodrigues Oliveira, Moisés Timóteo Oliveira, Eunice Timóteo Oliveira, Abraão Timóteo Oliveira e Paulo Timóteo Oliveira.

Recebeu estudos bíblicos de Maria de Lourdes Dias e Maria Dias Araújo, conhecida como “Caçula”. Após os estudos, decidiu unir-se com entusiasmo e devoção a Igreja Adventista do Sétimo Dia, através do batismo. Convicto da mensagem de saúde que a Igreja Adventista do Sétimo Dia promove ao redor do mundo, o irmão José Timóteo torna-se vegetariano aos 25 anos.

Simples, sereno e despretensioso pregou a muitas pessoas, através de estudos bíblicos sistemáticos. Ele tinha paixão em pregar o evangelho eterno. “Quando tinha contato com as pessoas ele falava de Jesus. Não perdia uma oportunidade de falar sobre a Salvação. Por várias vezes o vi conversando com as pessoas evangelizando-as. Ele gostava muito de andar a pé, e por onde passava falava do Salvador. Isso marcou muito minha mente. Ele foi um grande exemplo de um homem que viveu para falar de Jesus e ajudar o próximo”, destacou seu neto Anderson Souza.

Seu texto bíblico preferido era João 14:1-3, que fala do retorno de Jesus, esperança que moveu toda a sua jornada cristã. Recitava esse texto de memória.

Além de missionário, o irmão José Timóteo, durante anos serviu a IASD Central de Lagarto como diácono e professor de Escola Sabatina.

Aos 98 anos, após um ministério pleno de realizações de mais de 70 anos, a chama da sua existência se apagou em 02 de agosto de 2019, deixando na igreja central em sua família, um vazio, que em vida soube preencher com o fervor com que executou as tarefas que lhe foram confiadas. Para seus filhos e filhas a honestidade, o bom testemunho cristão e fidelidade em tudo que fazia, é o maior legado deixado pelo irmão José Timóteo.

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Ricardo André de Souza1, é professor de História das Redes públicas Estadual e Municipal de Lagarto e foi ancião da IASD Central de Lagarto.

 

 FONTES

Manuscrita/Impressa

Revista Adventista, junho de 1933, p. 13.

Revista Adventista, setembro de 1933, p. 16 e 17.

Revista Adventista, janeiro de 1942, p. 12 e 13.

Revista Adventista, setembro de 1944, p. 24.

Revista Adventista, janeiro de 1945, p. 10.

Revista Adventista, outubro de 1958, p. 27.

Livro de Atos da IASD Lagarto Central

Ata da Missão Bahia, 26 de junho, 1938, voto no. 074-38.

UNB – Centro Nacional da Memória Adventista. Disponível em: <http://www.unasp-ec.com/memoriadventista/enciclopedia/2/unb.htm> Consultado em 10 de outubro de 2012.

FILHO, José Morais. O Adventismo em Lagarto: Origem e Desenvolvimento (1928-1960). Monografia – Faculdade José Augusto Vieira (FJAV), 2010.

 

 

 

 

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