Teologia

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

ENFRENTANDO 2021 COM CORAGEM!


Ricardo André

O ano de 2020 está terminando. Ele foi um ano muito difícil para a humanidade, que foi surpreendida pelo surgimento do corona vírus causador da Covid-19. O mundo ficou em pavoroso com esta doença, que se propagou rapidamente pelo mundo inteiro. Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 11 de março, pandemia de Covid-19. Milhares de pessoas já morreram no mundo e outros milhões estão infectadas pelo vírus. Essa doença obrigou os governos do mundo todo a adotar medidas restritivas, a fim de conter a disseminação do vírus, como o distanciamento social, fechamento do comércio, das igrejas, escolas, faculdades, locais de eventos, entre outros. Essas medidas, por sua vez, gerou falências de centenas de pequenas empresas, desemprego e fome. Perdemos amigos e ente queridos, não somente pela Covid-19, mas por outras doenças, bem como por acidentes. Há tão pouco tempo festejamos a entrada do Ano Novo, e nem imaginávamos que iríamos enfrentar esse turbilhão de problemas e dificuldades. E, os prognósticos são de que essa crise sanitária e econômica se prolongará pelo ano 2021.

Certamente, muitos de nós ao longo desse ano vivemos momentos de desapontamentos e reveses; sentimo-nos sós em nossa luta contra o pecado. Viveu momentos de tormento, agonia e dor. É possível que tivemos a tentação de desistir.  

Há razões para renovarmos nossa esperança e certezas? Tenho uma mensagem para você, já que começamos a pensar em um Ano Novo.

Lemos em Êxodo7:14-17: “Disse o Senhor a Moisés: "O coração do faraó está obstinado; ele não quer deixar o povo ir. Vá ao faraó de manhã, quando ele estiver indo às águas. Espere-o na margem do rio para encontrá-lo e leve também a vara que se transformou em serpente. Diga-lhe: O Senhor, o Deus dos hebreus, mandou-me dizer-lhe: Deixe ir o meu povo, para prestar-me culto no deserto. Mas até agora você não me atendeu. Assim diz o Senhor: Nisto você saberá que eu sou o Senhor: com a vara que trago na mão ferirei as águas do Nilo, e elas se transformarão em sangue” (NVI)

Este é o encontro de Moisés com Faraó no momento da primeira praga, e este encontro se dá as margens do rio Nilo, “aonde o rei costumava dirigir-se. Sendo o transbordamento do Nilo a fonte dos alimentos e riqueza para todo o Egito, era o rio adorado como um deus, e o monarca ia para ali diariamente a fim de render as suas devoções” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 265). Diz o texto sacro que naquela manhã as águas de todo o Egito foram transformadas em sangue.

O encontro memorável no rio Nilo

O local deste encontro com Faraó, o rio Nilo, era muito significativo para Moisés: Podemos imaginar que ele olha para aquele rio e começa a trazer à sua memória a sua própria história: “Há oitenta anos atrás eu era um bebezinho e minha mãe na esperança de me salvar me colocou dentro de um cesto de junco e eu fui salvo pela filha de Faraó que tinha o costume de se banhar nesta praia fluvial.”

Aliás, seja dito de passagem, que Moisés gostava de recordar fatos históricos. Basta ler o livro de Deuteronômio 1:1-6 quando ele dirige o primeiro discurso ao povo no final do êxodo e pouco antes da ocupação da terra de Canaã. O texto diz assim: Estas são as palavras ditas por Moisés a todo o Israel no deserto, a leste do Jordão, na Arabá, defronte de Sufe, entre Parã e Tofel, Labã, Hazerote e Di-Zaabe. Em onze dias se vai de Horebe a Cades-Barnéia pelo caminho dos montes de Seir. No quadragésimo ano, no primeiro dia do décimo primeiro mês, Moisés proclamou aos israelitas todas as ordens do Senhor acerca deles. Isso foi depois que ele derrotou Seom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, e em Edrei derrotou Ogue, rei de Basã, que habitava em Asterote. A leste do Jordão, na terra de Moabe, Moisés tomou sobre si a responsabilidade de expor esta lei: O Senhor, o nosso Deus, disse-nos em Horebe: "Vocês já ficaram bastante tempo nesta montanha”.

E então ele começa a trazer à memória daquele povo os episódios da sua história, amarrando o passado com o presente e preparando os ouvintes para o futuro glorioso que Deus haveria de dar.

E agora Moisés está diante do Rio Nilo e a sua memória é acionada e o filme da sua vida começa a se desenrolar: Talvez ele tenha se lembrado da mãe hebréia, da mãe egípcia (ou seja a mãe natural e a mãe adotiva): de Joquebede (tia de seu pai) e da princesa (filha de Faraó). Talvez tenha se lembrado daquele caudal enorme de cultura palaciana que recebeu por fazer parte da elite que governava o país mais progressista e poderoso da época.

Talvez tenha se lembrado de suas lutas íntimas antes de ter a coragem de abdicar as glórias do Egito e os prazeres transitórios do pecado, para perfilar com os seus irmãos oprimidos. Talvez, naquela manhã, diante do rio Nilo ele traz a memória aquela estranha arte de ver o invisível e de contemplar à distância o galardão que Deus costumava distribuir com os que vivem pela fé. É por isso que Hebreus 11:27 nos diz: “Foi pela fé que Moisés saiu do Egito, sem ter medo da raiva do rei, e continuou firme, como se estivesse vendo o Deus invisível (NTLH).”

Talvez ele tenha se lembrado da sua impetuosidade não domesticada que o fizera matar o egípcio que estava espancando um de seus parentes distantes. Talvez tenha se lembrado da incompreensão dos hebreus; se lembrado dos quarenta anos passados não na metrópole, mas na terra de Midiã, onde se casara, onde se tornara pai de dois meninos e onde trabalhara como pecuarista. Talvez tenha se lembrado do estranho fenômeno da sarça que se queimava e não se consumia e daquele tremendo e decisivo encontro com Deus no monte Horebe, quando a vocação esquecida voltara à tona de modo irreversível.

Eu acredito amigo que todas essas lembranças se elucidavam porque Moisés estava ali à margem do rio Nilo e agora, à espera de Faraó, oitenta anos depois de ter sido descoberto pela princesa. E acredito que o seu coração se encheu de gratidão e de determinação!

Nós temos muitas razões para agradecer a Deus pelo ano 2020, apesar das tragédias! Recebemos muitas bênçãos de Deus ao longo desse ano, que tentar descreve-las seria como explicar como é ser feliz! E, felicidade a gente não explica, a gente sente e acaba transmitindo aos outros. Por isso o Salmista se expressa assim no capítulo 126:1 “Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho” (NVI). Só o fato de estarmos vivos é uma grande bênção! O Senhor e Salvador em nossos momentos de aflições e tristezas estava "à distância de apenas uma prece" e que cada anjo no Céu aguardava Sua ordem para encorajar-nos e dar-nos força para superarmos as decepções e sofrimento e atingirmos o "topo da montanha".

Ainda que tenhamos perdidos alguns amigos e entes queridos neste ano, temos a esperança bíblica de que um dia, o Senhor virá. Então, veremos nossos queridos que foram arrebatados pela morte. E o melhor: veremos a face Daquele que nos sustentou em meio às mais duras provas da vida. Que alegria será!

Ao adentrarmos no novo ano precisamos possuir a mesma confiança que tinha Ellen G. White expressa em suas palavras finais, três meses antes de descansar no Senhor: “Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos ministrou no passado” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 443).

Mas como podemos esquecer? Você sabe o que estou dizendo. É fácil esquecer aquilo que Deus fez no passado quando algumas novas provações nos sobrevêm. Os israelitas se esqueceram vez após vez, e nós também. Se parar para relembrar a maneira como Deus atuou em sua vida no passado, com certeza você também terá motivos para confiar, e muito que agradecer ao Senhor nesta hora. Moisés teve muitas lutas e dificuldades, mas quando ele coloca tudo isso na balança, naquele momento em que ele olha os oitenta anos que se passara, ele verifica que tinha muito que agradecer ao Senhor.

Portanto, tome tempo para relembrar! Fazer isso traz uma bênção dupla. Primeira, lembramos daquilo que Deus tem feito em nossa vida. Segunda, mostra-nos que, se Deus já o fez antes, pode fazê-lo de novo. Isso nos dá muita coragem e força para enfrentar o que vier.

Eu convido você, neste momento especial quando vamos inaugurar um novo ano, a terceira década do século XXI, a trazer à sua memória aquilo que te dá esperança e saber que você pertence a um Deus de amor, e que você pode confiar, descansar e esperar nEle, e declarar que o Deus a quem você serve nunca falhou e nunca falhará!!!

A história de John N. Andrews

John Nevins Andrews (1829-1883), foi o mais influente erudito da IASD em sua fase inicial. Esteve intimamente associado com Tiago e Ellen White na liderança da Igreja Adventista e em sua obra evangelística. “Nascido em Poland, Maine, John ‘encontrou o Salvador’ em fevereiro de 1843 e começou a observar o sábado do sétimo dia alguns anos depois. Ele conheceu os White quando o casal visitou Paris, Maine, em setembro de 1849. Durante essa visita, os White repreenderam firmemente o fanatismo que prevalecia entre alguns adventistas. Foi nesse contexto que o jovem Andrews exclamou: ‘Eu trocaria mil erros por uma verdade’” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 322). Era um profundo estudioso das Sagradas Escrituras. Quando adulto, sabia ler a Bíblia em sete idiomas e afirma ser capaz de recitar o Novo Testamento de cor. Sua vida foi de constante aprendizado até sua morte precoce de tuberculose, aos 54 anos, em 1883.

Em 1850, John começou a trabalhar como pastor. Em cinco anos, porém, encontrava-se “completamente esgotado” por causa dos estudos intensivos e da agenda cheia. Depois de perder a voz e prejudicar sua visão, foi trabalhar na fazenda de seus pais, para recuperar a saúde. Em 1861, publicou a primeira edição de seu livro mais conhecido, The History of the Sabbath and the First Day of the Week (A História do sábado e do primeiro Dia da Semana).

Em 1867, tornou-se o terceiro presidente da Associação Geral dos ASD. No dia 14 de setembro de 1874, em companhia de seus filhos, Charles e Mary (sua esposa havia falecido de um AVC, em 18 de março de 1871) tomou um navio de Boston para Liverpool, Inglaterra, em rota para a Suíça, como o primeiro missionário oficial da igreja em terras estrangeiras. Ellen G. White escreveu que eles haviam enviado “o homem mais capaz de todas as nossas fileiras” (Ct 2a, 1878).

Em 1878, infelizmente, sua filha Mary contraiu tuberculose e morreu “logo depois de chegar ao sanatório de Battle Creek para tratamento” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 323). Em uma carta, datada de 5 de dezembro de 1878, dirigida ao Pastor J. N. Andrews, quando o caminho parecia acidentado e íngreme, quando trabalhava na Europa, logo após a morte de sua filha Mary, Ellen White escreveu: “Tu achas que se não fosse essa grande perda serias um homem relativamente feliz. Mas pode ser que a própria perda de tua filha neste mundo seja para ti, e não somente para ti mas para muitos na Suíça, algo que contribua para a salvação de almas. [...] O Senhor te ama, meu prezado irmão. Ele te ama. ‘Os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a Minha misericórdia não se apartará de ti. E a aliança da Minha paz não será removida'. Is 54:10’. ‘Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’. Rm 8:28. Se teus olhos pudessem ser abertos, verias teu pai celestial inclinando-Se sobre ti com amor, e se pudesses ouvir-Lhe a voz, isso se daria em tons de compaixão por ti, que estás prostrado em sofrimento e aflição. Firma-te em Sua força; há descanso para ti que estás cansado” (Este Dia com Deus [MM 1980], p. 346).

“‘Mary, querida e preciosa criança, descansa’, escreveu Ellen White ao pai dela. ‘Pelos olhos penetrantes da fé, você pode antever [...] sua Mary junto à mãe e aos outros membros da família atendendo ao chamado do Doador da vida e saindo do seu cárcere, triunfantes sobre a morte’ (Carta 71, 1878)” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 324).

Não é de surpreender que o Senhor nos tem dito que, assim como entregamos nossas vidas a Ele, "através das mais maravilhosas operações da divina providência, montanhas de dificuldades serão removidas e lançadas no mar." (Ellen G. White, Profetas e Reis, pág. 223).

Caro amigo leitor, avante! Você pode enfrentar 2021 com coragem!

 

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O BEBÊ DE BELÉM, UM PRESENTE PARA SEMPRE


 Ricardo André

Não há nada mais emocionante na vida de um casal do que o nascimento de um filho. Minha esposa e eu ficamos realizados e felicíssimos com o nascimento de nosso filho Martin Luther King S. Souza. Ele é o presente de Deus para nós.

Deus também ficou muito contente com o nascimento do Seu Filho. Os coros angelicais anunciaram Sua chegada aos pastores que cuidavam do seu rebanho. “Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:10,11, NVI). Os pastores e os magos do Orientes proclamaram o seu nascimento. As profecias dos antigos profetas feitas séculos atrás apontavam para o nascimento do Messias.

O evangelho de Mateus informa que os magos guiados por uma “estrela” encontraram o bebê nascido na manjedoura em Belém ofereceram-Lhe presentes. “Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2:11). O ouro é um presente para um rei. Ele representava todos os nossos bens materiais. No Natal, reconhecemos: “Senhor, todas as minhas posses são Tuas. Tu és o rei dos reis e o meu Rei”.

O incenso é um presente para um sacerdote. Ele era usado pelos sacerdotes no antigo santuário. No natal, nos ajoelhamos e declaramos: “Jesus, Tu és o meu Sacerdote. Tu intercedes por mim. Tu apresentas Tua justiça perfeita diante de todo o Céu, em lugar do meu enorme fracasso”.

A mirra é um presente para quem está para morrer. É um perfume antigamente utilizado nos serviços fúnebres. No Natal, reconhecemos: “Jesus, Tu és o meu Salvador. Tu és o inocente Bebê que nasceu e o meu Redentor que morreu por mim”.

A melhor maneira de celebrar o Natal

A melhor coisa a respeito da época do Natal é seu espírito de dar. Por um breve período, pessoas que passam o resto do ano pensando somente em si mesmas se detém para lembrar-se de um amigo, de um parente, de um ente querido. Muitos demonstram solidariedade aos mais pobres arrecadando e doando roupas calçados, alimentos e brinquedos. Tal atitude está em consonância com a orientação de Ellen G. White, que afirmou: “As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar” (O Lar Adventista, p. 482).

Podemos nesta época do ano presentear nossos familiares e amigos e as pessoas carentes, mas devemos priorizar Jesus, que é a razão do Natal, é o centro da festa. “Irmãos e irmãs, enquanto vocês estão planejando dar presentes uns aos outros, desejo lembrar-lhes nosso Amigo celestial, para que não passem por alto Suas reivindicações. Ele Se agradará se mostrarmos que não O esquecemos” (Idem, p. 480).

Sempre, porém, que o ato de dar não constitui mera formalidade ou o cumprimento de uma obrigação, sempre que homens e mulheres dão, movidos por um coração de amor e solicitude, o pulso humano bate um pouco mais depressa. Dar genuinamente nos eleva para mais perto de Deus, nos conduz para fora de nosso eu restrito e nos concede um vislumbre de uma vida mais elevada.

Quando damos com sinceridade, refletimos em certa medida o caráter de Deus. Ele é o Doador celestial, que envia Sua luz solar e a chuva sobre justos e injustos, que cuida das aves do céu e adorna os lírios do campo. Disse Jesus: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7:11, NVI).

O supremo Dom do Doador celestial foi Seu próprio Filho. Ele esvaziou o Céu de seu mais precioso tesouro, vertendo a Si mesmo na dádiva do Bebé de Belém. Aquele que Se deleita em ajudar a humanidade, que Se alegra em conceder-nos libertação e paz, concedeu-nos a Pérola de grande preço.

Estejamos bem certos do seguinte: Quando "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito" (S. João 3:16), isso foi um presente genuíno. Ele não O emprestou para nós por uns trinta anos, chamando-O então de volta ao domínio celestial e deixando-nos desolados. Um presente é para sempre. Pelo mistério da encarnação, Deus, em Jesus Cristo, está eternamente ligado à humanidade. A Divindade e a humanidade acham-se unidas pelo vínculo mais estreito.

"Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruina produzida pelo pecado. Era o intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. 'Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito'. S. João 3:16. Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua natureza humana” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 25).

Nesta época do Natal, ao darmos e recebermos presentes, façamos uma pausa para recordar o eterno Dom de Deus, Jesus! Esse é um período próprio para comemorar e rejubilar pelo eterno presente que o pai celeste nos deu. Ao darmos presentes para os outros, não deixemos de partilhar também esse Dom! O Natal provê uma excelente oportunidade para relembrar à raça humana que a Criança que nasceu em Belém está vindo logo (Hb 10:37).

O Significado do Natal

Não há qualquer informação a respeito do dia do nascimento de Jesus. Em face de não termos muita informação bíblica a respeito da data (dia e mês) do nascimento de Jesus, e toda evidência histórica indicar que o 25 de dezembro está relacionado com o culto Romano ao Sol Invencível (Latin, Sol Invictus), o renascimento do sol, que era celebrado nesta data.  Data incorporada pela Igreja Católica durante a Idade Média, para celebrar o nascimento de Jesus. Por conta disso, alguns poderiam julgar oportuna a pergunta: Como Igreja Adventista do Sétimo Dia, temos razões ou justificativas para comemorar o Natal, sendo esta uma festividade de fundo pagão e que honra a autoridade de Roma? Não seria melhor se abolíssemos de nosso meio as programações natalinas?

Tendo em mente o verdadeiro significado do Natal, penso que como igreja fazemos bem em observá-lo. Afinal, o nascimento de Cristo não foi um fato, uma realidade? E esse fato não é até agora o maior e mais sublime acontecimento da História? Não encerra ele a mais doce e mais preciosa mensagem de amor e esperança para cada ser humano? Não constitui o mais poderoso e comovente apelo ao coração humano, ao falar eloquentemente do amor que veio para salvar, enobrecer e glorificar Suas pobres criaturas caídas em pecado? Então, por que não relembrar o nascimento de Cristo? Ao fazê-lo, expressamos como igreja, nosso gesto de simpatia e sociabilidade humana e cristã, ao mesmo tempo em que demonstramos equilíbrio e senso de oportunidade referente àquilo que promove o bem.

Reconhecemos, não obstante, que a sociedade professamente cristã de todo o mundo, no espírito e na prática desvirtuou o Natal, secularizou-o, materializou-o, adulterou seu significado. Para a imensa maioria das pessoas do mundo o Natal tornou-se uma época para o consumo, para gastança, comercialização, bebedice, vendas altas e negócios lucrativos (onde o chamado "espírito do Natal" se impõe não para honrar a Cristo, mas para vender mercadorias). Nas sociedades capitalistas, consumistas, compradores nos shopping e em lojas populares se aglomeram em volta de balcões abarrotados, torturando o cérebro a fim de imaginar quais os presentes que devem ser comprados para amigos que já possuem mais do que necessitam. Uma data tão especial tem sido ofuscada por ideologias capitalistas e campanhas publicitárias, que só concentram o seu olhar para o consumo. É Jesus que nasce, mas quem é lembrado é o papai-noel. São os presentes materiais que ganham mais destaques do que o nascimento do Redentor.

Em tudo isso, em todas essas coisas, não se fala nem se medita na pessoa de Jesus. Não se cogita acerca do propósito para o qual Ele nasceu. Não se procura captar o fato maravilhoso de que Ele veio para revelar o amor, a boa vontade e os pensamentos de paz do Pai, para com Seus pródigos e caídos filhos. Nossa missão é trabalhar para que não haja o esgotamento da comemoração desta data tão importante do calendário cristão, adoração ao Deus que expressou o seu amor pela humanidade enviando o Seu filho Jesus! Esse é o verdadeiro sentido do Natal!

O cântico dos anjos na anunciação aos pastores foi: "Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens"; no entanto, que contraste a realidade que o mundo apresenta hoje! Os homens de boa vontade se tornam cada vez mais raros, a paz se encontra a cada dia mais distante, e os homens buscam sua própria glória, em vez da de Deus.

Corações não se admiram do amor sacrificai do Pai, ao entregar Seu único filho para salvar inimigos; espíritos não se assombram ao considerar as profundezas a que Cristo desceu, renunciando à alteza, à glória e à majestade, para tornar-Se homem, a fim de redimir o que se perdera; e muitos não se sensibilizam com a simplicidade, a pobreza, a abnegação e a humildade manifestas pelo Filho de Deus e Filho do homem.

Tudo isso deixa claro que o Natal só tem sentido quando, de maneira individual, cada um faz do seu coração uma manjedoura para o Salvador, de tal forma que, como Lutero, possa chegar a dizer: "Tu, Senhor, és minha justiça, e eu sou o Teu pecado; tomaste o que era meu, e me deste o que era Teu. O que não foste Te tornaste, para que eu fosse o que não era."

Este é o verdadeiro significado do Natal. Busquemo-lo em nossa experiência.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

QUAL A POSIÇÃO OFICIAL DA IGREJA ADVENTISTA SOBRE VACINAÇÃO?


 Ricardo André

Considerada uma das mais importantes conquistas da medicina, responsáveis pelo desaparecimento de várias e graves doenças, as vacinas são, no entanto, atualmente, alvo de um movimento opositor. Esse movimento já está atuando contra a vacina que irá imunizar contra a Covid-19. A partir do momento em que uma pessoa não se vacina, coloca-se em risco toda uma população. Segundo, os especialistas em saúde pública, as consequências desses movimentos antivacinas podem ser desastrosas, com aumento da morbidade e da mortalidade, não somente de crianças, mas também da população adulta. Portanto, vacinas são garantias para nossas vidas e para vida dos outros. Faz tempo. Vacina é evolução. O resto é teoria da conspiração e fake news.

Impressiona-nos saber que muitos adventistas em diversas partes do país estão embarcando nesse movimento irresponsável e, mesmo antes de iniciar o programa de imunização, já estão manifestando sua vontade de não serem vacinados contra a Covid-19. Tal postura além de representar um negacionismo inconsequente vai na contramão da posição oficial da igreja, que em 2015 aprovou DECLARAÇÃO favorável ao programa de imunização, recomendando inclusive, os membros a se vacinarem. Como cristãos, tomamos decisões baseadas nos princípios delineados nas Sagradas Escrituras, e não há nenhum princípio bíblico que apoie tal decisão. Similarmente, ninguém pode se estribar no Espírito de Profecia para negar ser vacinado.

Leia abaixo a íntegra do Documento:

IMUNIZAÇÃO

A Igreja Adventista do Sétimo-Dia dá forte ênfase à saúde e ao bem-estar. A ênfase adventista na saúde é baseada na revelação bíblica, nos escritos inspirados de E. G. White (cofundadora da Igreja) e na literatura científica revisada por pares. Assim sendo, encorajamos a imunização/vacinação responsável, e não temos nenhuma razão religiosa ou baseada na fé para não incentivar nossos seguidores a participar de forma responsável de programas de imunização preventiva e protetora. Valorizamos a saúde e a segurança da população, o que inclui a manutenção da “imunidade de rebanho”.

Não somos a consciência de cada membro da igreja e reconhecemos as escolhas individuais. Essas são exercidas pelo indivíduo. A escolha de não ser imunizado não é e não deve ser vista como o dogma nem como a doutrina da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

FONTE: Adventista.org

domingo, 6 de dezembro de 2020

SE “O SALÁRIO DO PECADO É A MORTE” (RM 6:23), POR QUE ADÃO E EVA MORRERAM E SATANÁS E OS ANJOS MAUS NÃO?


 Alberto R. Timm*

 A Bíblia não declara explicitamente por que Adão e Eva acabaram morrendo depois de certos anos de vida, enquanto Satanás e os demais anjos maus continuam vivos até hoje. Existem, porém, alguns conceitos bíblicos que nos ajudam a entender essa questão. Devemos reconhecer, inicialmente, que Deus é “o único que possui imortalidade” inerente em Si mesmo (I Tm 6:16), e que Ele concedeu imortalidade condicional aos seres criados. Isso significa que os anjos, bons ou maus, não são imortais por si mesmos.

A existência pecaminosa de Satanás e os anjos maus, bem mais longa do que a de Adão e Eva, deve-se basicamente ao fato de os seres angelicais terem sido criados com atributos e habilidades superiores aos dos seres humanos (ver Hb 2:7). Os anjos são seres espirituais (Hb 1:14) com grande poder (Sl 103:20) e que se locomovem em alta velocidade (Ez 1:14; 10:20; Dn 9:21-23), sem serem detidos por barreiras físicas (At 12:1-11). Embora Satanás e seus anjos sejam seres pecaminosos (Ap 12:7-10; I Jo 3:8), eles ainda retêm grande parte do seu poder (Ef 6:12; I Pe 5:8). Satanás pode se transformar até mesmo “em anjo de luz” (II Co 11:14). Mas os seres humanos não foram criados com essas características.

Além disso, Lúcifer (o nome de Satanás antes de se rebelar contra Deus) tornou-se o autor do pecado (Is 14:12-15; Ez 28:12-19), passando a acusar o próprio Deus de ser injusto em Seu trato com as criaturas (ver Gn 3:1-5). A crise entre Deus e Lúcifer intensificou-se a ponto de haver “peleja no Céu” entre Cristo e os seus anjos, de um lado, e Lúcifer e os seus anjos, do outro (Ap 12:7-9). Deus poderia ter destruído imediatamente os anjos rebeldes, mas, se o fizesse, as demais criaturas do Universo passariam a servi-Lo por temor, sem compreenderem a verdadeira natureza do pecado que ainda estava em sua fase embrionária. Deus preservou a existência de Satanás a fim de tornar evidente, ao longo da história humana, a falsidade de suas acusações (ver Ap 12).

No Jardim do Éden, Satanás, na forma de uma serpente, disse a Eva que ela e Adão não morreriam (Gn 3:4; Ap 12:9). É evidente que essa declaração não passava de uma mentira e de uma contradição direta da advertência divina contida nas palavras “certamente morrerás” (Gn 2:17). Como Satanás e seus anjos haviam pecado e continuavam vivos, ele pode ter imaginado que o mesmo ocorreria com Adão e Eva. Afinal de contas, até então não se havia concretizado plenamente o princípio de que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23), pois a morte ainda não era conhecida. Ela se tornaria conhecida com a morte do primeiro animal sacrificado (Gn 3:21) e do homicídio de Abel (Gn 4:8).

O relato bíblico diz que Adão, apesar do seu pecado, viveu 930 anos (Gn 5:5). Lúcifer, que também pecou, continua existindo, mas seu fim já está predeterminado. Ele e seus anjos serão lançados no “lago de fogo e enxofre” (Ap 20:10; ver Mt 25:41; Jd 6), que os consumirá completamente, não deixando deles “nem raiz nem ramo” (Ml 4:1; Ap 20:9).

O período de existência dos seres humanos pode variar significativamente, como mostram as genealogias bíblicas (Gn 5:1-32; 11:10-32) e a experiência prática da vida. O fato de Deus ter concedido uma existência bem mais longa a Satanás e seus anjos não significa que eles sejam imortais em si mesmos e que nunca deixarão de existir. Satanás, seus anjos e todos os ímpios serão completamente destruídos quando o mundo voltar finalmente à sua perfeição original (ver Ap 21:1-5).

*Alberto R. Timm é diretor associado do Patrimônio Literário de Ellen G. White na sede mundial da IASD.

FONTE: Revista Sinais dos Tempos, julho/agosto de 2003, p. 30.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

ABIGAIL, UMA MULHER INTELIGENTE QUE PROMOVEU A CULTURA DA PAZ


 Ricardo André

Queremos neste artigo meditar sobre um episódio marcante na vida de uma mulher fantástica, de nome Abigail, que viveu nos tempos do Antigo Testamento. Embora tivesse casada com um homem perverso, era cheia do Espírito de Deus. Ela soube lidar com circunstâncias muito difíceis com muita sabedoria e humildade. Ela é, indubitavelmente, uma pessoa que deve ser imitada. Sua história está registrada no livro de 1 Samuel 25. Nela, encontramos relevantes lições para nós que vivemos no século XXI. Tais lições com certeza nos ajudarão nas mais diversas situações da nossa vida.

Nabal, um rico perverso

Davi e seus homens estavam fugindo de Saul. Enquanto se refugiaram no deserto de Parã, eles se encontraram com os pastores e os animais de um rico proprietário chamado Nabal. Em vez de se aproveitarem dos animais, Davi e seus homens protegeram os pastores e animais. Finalmente, chegou a primavera. Nos tempos bíblicos, comumente esse era o tempo da tosquia das ovelha. As 3.000 ovelhas de Nabal produziam bastante lã, muito provavelmente a maior fonte de sua renda. Esse período de prosperidade financeira produzia um espírito festivo no ar, e Nabal deveria estar de bom humor e feliz. Sabendo disso, Davi enviou dez de seus homens para pedir uma doação de alimento, em reconhecimento de sua parte na proteção do rebanho de Nabal durante o inverno.

Contudo, em resposta à mensagem cortês de congratulações de Davi, e seu pedido de provisões, Nabal insolentemente sugeriu que Davi era um inútil que não merecia bondade, muito menos uma recompensa. Ele afirmou: “Quem é esse tal de Davi?, perguntou-lhes Nabal. Quem esse filho de Jessé pensa que é? Hoje em dia, há muitos servos que fogem de seus senhores. Devo pegar meu pão, minha água e a carne dos animais que abati para meus tosquiadores e entregar a um bando que vem não se sabe de onde?” (1Sm 25:10-11). Com essas palavras, Nabal deixou muito nítido que pensava ser Davi um ninguém. Em sua mente Davi era tão insignificante que não valia a pena perguntar de onde vinha nem o que fazia.

Ao negar provisões a Davi e enviar os dez homens de Davi de mãos vazias Nabal estava, deveras, confirmando o significado de seu nome, que é “tolo” e “sem juízo” (Comentário Bíblico Adventista, v. 2, p. 617). O tolo e mesquinho avarento Nabal, não somente recusou partilhar sua fartura, mas ainda insultou os mensageiros de Davi. Os servos de Nabal reconheceram que seu senhor era “um homem tão cruel que ninguém consegu[ia] conversar com ele” (1Sm 25:17, NVT).

Quando Davi ouviu o relato, se sentiu profundamente ofendido, sua pressão sanguínea se elevou ao chamejante ponto de vingança. Ele e 400 de seus homens mais capazes partiram imediatamente para eliminar Nabal e toda a sua população de servos do sexo masculino (1Sm 25:13).

Abigail, inteligente pacificadora

No meio dessa irascível cena entrou uma mulher de grande encanto, cujas palavras e procedimento calmos salvaram sua casa de destruição certa e guardaram o futuro rei de manchar temerariamente as mãos com sangue inocente. As Sagradas Escrituras dizem que Abigail era uma mulher “inteligente e bonita” (1Sm 25:3), e seus atrativos evidenciavam-se em sua alma porque ela havia escolhido a paz. Me impressiona a Bíblia, que fora escrita numa cultura que inferiorizava a mulher, destacar a capacidade intelectual de Abigail. Ela destaca que Abigail era “inteligente e bonita”, exatamente nessa ordem. Isso é assaz importante. É como quisesse dizer que a mulher deve ser valorizada não pelo seu corpo, como é comum hoje na cultura ocidental, mas pela sua capacidade intelectual.

Essa qualidade de Abigail me faz pensar sobre a posição da mulher em nossa sociedade atual. Ora, se a mulher tem a mesma capacidade intelectual do homem, ela pode e deve ocupar os mesmos espaços historicamente ocupados por eles, inclusive ocupando cargos de direção em empresas. Já vemos isso hoje, mas os indicadores divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em março de 2018, mostram que o caminho a ser percorrido para a igualdade de gênero permanece longo e tortuoso. Embora representem pouco mais da metade (51,7%) dos trabalhadores brasileiros, somente 37,8% delas estão em cargos gerenciais existentes no Brasil. No que se refere a remuneração, apesar da melhora nos últimos anos, uma mulher ainda recebia 76,5% do rendimento dos homens em 2016.

Voltemos a Abigail. Ela só não se deu bem no amor. Não sabemos ao certo como ela pode casar com um brutamonte cruel e mesquinho, como Nabal. Provavelmente seu casamento com Nabal tenha sido arranjado, como era comum nos tempos bíblicos, e em muitas partes do mundo hoje. E então ela não teve escolha a esse respeito.

Uma das mais difíceis de todas as relações humanas é apaziguar a ira. As palavras podem ser muito incitantes. Às vezes parece impossível desviar as pessoas que estão obcecadas pela ira e inclinadas à vingança. Todavia, Abigail fez exatamente isto.

Ao ser informada por um servo do tratamento mau do seu marido dispensado a Davi, Abigail ficou preocupada com a sua casa e com os seus. Ela sabia que dessa vez Nabal havia ido longe demais e colocado em risco a vida dele, a vida dela, da família e de todos os servos. Sem contar nada para seu marido, imediatamente preparou um banquete para Davi e seus homens e foi se encontrar com o guerreiro e seu bando. Note que, ao invés de atear fogo sobre a confusão, ela joga água. Quando encontrou-se com Davi, prostrou-se diante dele e se dirigiu a ele como se já fosse rei. “Eu, tua serva, não vi os rapazes que meu senhor enviou” (v. 25). Por outras palavras, tentava dizer: “Se eu os tivesse visto, tentaria usar a minha influência para evitar este problema”.

 “Nada tendo de ostentação ou orgulho, antes cheia da sabedoria e amor de Deus, Abigail revelou a força de sua devoção para com sua casa, e esclareceu a Davi que o procedimento indelicado de seu marido de nenhuma maneira fora premeditado contra ele como uma afronta pessoal, mas que tinha simplesmente sido a explosão de uma natureza infeliz e egoística” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 666).

O seu apelo, baseado no caráter de Deus e no Seu soberano poder, deixou Davi desarmado. Uma das mais reveladoras características dessa culta e refinada mulher estava em não pretender nenhum mérito por arrazoar calmamente com Davi procurando desviá-lo de seu desejo de vingança. Ao contrário, deu a Deus todo o louvor e glória. Davi aceitou a reprovação com louvor a Deus pelo sábio conselho de Abigail. “Bendito seja o Senhor, o Deus de Israel, que hoje a enviou ao meu encontro. Seja você abençoada pelo seu bom senso e por evitar que eu hoje derrame sangue e me vingue com minhas próprias mãos. De outro modo, juro pelo nome do Senhor, o Deus de Israel, que evitou que eu lhe fizesse mal, se você não tivesse vindo depressa encontrar-me, nem um só do sexo masculino pertencente a Nabal teria sido deixado vivo ao romper do dia". Então Davi aceitou o que ela havia lhe trazido e disse: "Vá para sua casa em paz. Ouvi o que você disse e atenderei o seu pedido" (1Sm 25:32-35). Em lugar de ser impaciente e manter o rancor, permitiu que as palavras calmas e respeitosas de Abigail influenciassem seu coração.

“De manhã, quando Nabal estava sóbrio, sua mulher lhe contou todas essas coisas; ele sofreu um ataque e ficou paralisado como uma pedra. Cerca de dez dias depois, o Senhor feriu a Nabal, e ele morreu” (1Sm 25:37,38). A princípio Abigail escondeu de Nabal, sobre como as coisas se resolveram com Davi. A intenção era boa, o resultado por sua vez, não foi bom para seu marido.

Quando ela contou, ele ficou tão estressado que provavelmente tenha tido um Acidente Vascular Cerebral (AVC), porque a Bíblia afirma que ele “ficou paralisado como uma pedra”. Ao saber disso, Davi louva a Deus e pede Abigail em casamento, ela diz: Sim! (v. 39-42). Daí em diante vai viver uma novidade de vida. Deus, em sua infinita bondade lhe concede um recomeço. De uma mulher casada com um homem tolo e mau, ela se tornou a esposa do rei Davi. E eu fico a pensar em como tudo mudou para ela, e sobre a forma inteligente e sábia com a qual ela venceu sua crise.

As lições da vida de Abigail

A experiência de Abigail de lidar com dois homens difíceis ilustra como a beleza interior da personalidade, impregnada da graça e atmosfera do Céu, pode intervir em circunstâncias difíceis e influenciar outros para o bem. Nos nossos dias há muitas pessoas que promovem a discórdia, confusão, o ódio e a violência. Já pensou se Abigail fosse uma mulher insensata e incendiária, teria incentivado Nabal a “tomar satisfações” com Davi. O resultado seria o de muitas vidas inocentes desperdiçadas. Ellen G. White compara sua piedade com o “perfume de uma flor, [que] exalava de seu rosto, de suas palavras e ações, sem que disso ela se apercebesse” (Idem, p. 667). Como cristãos, somos chamados por Jesus a rodear-nos a nós mesmos e aos outros com a inspiração edificante que vem das flores. E podemos fazer isso sendo bondosos, piedosos e pacificadores. Em nossos relacionamentos interpessoais no lar, na escola, na Faculdade, em nossa vizinhança, na igreja ou em qualquer meio social em que estivermos inseridos, quando houver atritos e tensões, não precisamos alimentar a violência. Devemos iniciar um ciclo de paz e vida. Não façamos guerra em nossa casa ou em nosso ambiente de trabalho.

Vivemos num mundo dividido, com muros, cercas, polarização política, classes sociais, raças, culturas e riquezas, que nos separam uns dos outros. E, é justamente nesse mundo dividido, impregnado pelo ódio, que somos chamados a sermos pacificadores. “Felizes os que promovem a paz, pois serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9), disse Jesus. Vejam como esse texto na Nova Tradução na Linguagem de Hoje ficou com expressões bem mais abarcantes e eternas: “Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará como seus filhos”. Segundo Jesus, os pacificadores são mais felizes, pois verão o Deus da paz e viverão no eterno reino da paz. Portanto, façamos a paz com nosso semelhante! O teólogo William Barclay disse que “em cada homem há uma tensão; cada homem é uma guerra civil em marcha”.

Caro(a) amigo(a) leitor(a), a única maneira de qualquer um dentre nós se tornar um verdadeiro pacificador como Abigail consiste em termos a paz de Deus em nosso interior, aquela que advém quando, como disse Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20). Não quer você abrir seu “coração” para que Cristo entre e viva em você, e promova mudanças radicais em sua vida? Faça isso agora!

Deus te abençoe ricamente!

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A ORAÇÃO E O SIGNIFICADO DA VIDA


 Você já imaginou se suas orações não passassem de apenas um diálogo consigo mesmo, uma projeção de suas vontades e desejos, uma invenção de sua imaginação febril? Você já pensou se orar fosse um ato irracional e ridículo, pois Deus conhece tudo? Você fica frustrado quando vê que suas orações não são respondidas? Você já se sentiu insatisfeito com Deus porque Ele não atendeu aos seus pedidos?

Essas e outras perguntas surgem em nossa mente quando refletimos sobre o mistério da oração. E, a menos que entendamos o que a Palavra de Deus diz a respeito disso, essas perguntas não terão respostas.

Que tragédia seria passar pela vida sem qualquer indicação de por que seguimos por um caminho ou para onde o caminho nos leva! A jornada da vida já é válida por si mesma. No entanto, essa jornada tem um significado! As Santas Escrituras nos ensinam sobre a relação que existe entre o ato de orar e o significado da vida.

ORAÇÃO: O CHAMADO E A RESPOSTA

A Bíblia nos ensina que orar é uma resposta inspirada da criatura para com o chamado e as promessas do Criador. “E desse mesmo modo – pela nossa fé – o Espírito Santo nos ajuda em nossos problemas diários e em nossas orações. Nem mesmo sabemos por quais devemos orar, nem orar como devemos; o Espírito Santo, porém, ora por nós com tal sentimento que não pode ser expresso em palavras” (Romanos 8:26 – Bíblia Viva). O que significa “resposta inspirada”? Será que Deus chama e também responde? De que maneira a oração pode ser um chamado e uma resposta ao mesmo tempo?

Para responder a essa pergunta, vamos voltar à origem da humanidade. O livro de Gênesis nos diz que, depois da queda, Adão e Eva foram dominados pelo medo e se esconderam da presença de Deus – pelo menos eles achavam que podiam se esconder. O Criador, porém, seguia os passos de Suas criaturas. Ele os buscou onde estavam: “Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: ‘Onde está você?’” (Gênesis 3:9). Deus pro- curou estar mais próximo da humanidade. Foi Ele que pronunciou a primeira palavra na consciência de Adão e Eva. Ele “chamou Adão”. E Adão respondeu: “Ouvi Teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi” (verso 10).

Foi o chamado de Deus e a respostas a esse chamado que tornou possível a primeira conversa entre o Criador e a criatura após a queda. Mas, nessa conversa, não temos ainda uma oração, nem mesmo em sua forma embrionária. Por quê? Por causa da atitude de Adão: ele fugiu de Deus e estava com medo. Ele reconheceu sua situação e respondeu ao chamado de Deus. Contudo, essa não era uma forma de resposta que inicia um relacionamento com Deus.

Esse, porém, não foi o fim do encontro: a resposta de Adão não foi um impedimento para Deus; ao contrário, fez com que Deus respondesse com amor, para dar a ele uma solução ao seu problema. Qual foi a resposta divina para a nudez da humanidade representada pelo primeiro casal? A Bíblia assim nos diz: “O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher” (Gênesis 3:21).

Assim, desde o princípio, as Escrituras nos dizem três coisas sobre o nosso relacionamento com Deus: Primeiro, começa com um chamado amoroso de Deus a nós, pois o relacionamento é, fundamentalmente, um anseio divino. Em segundo lugar, As Escrituras nos dizem que nossa tendência natural é fugir de Deus. Adão respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi.” Ficar com medo de Deus é o nosso pior inimigo! Terceiro, Deus é o Único que oferece as respostas para os nossos temores, os quais nos fazem fugir da vida. Deus satisfaz à nossa necessidade de nos sentirmos protegidos, afastando de nós vergonha de nos sentirmos nus.

A oração inicia o relacionamento com Deus. Ela é tanto o chamado que Deus faz ao nosso coração, como a resposta às nossas mais profundas necessidades humanas. É também a nossa resposta, inspirada por Deus, e o chamado que inspirou essa resposta. A oração verdadeira é uma busca e uma resposta divina em nosso coração. Em cada coração humano! Tendo em vista que a oração não é uma questão confessional, não é também a herança de qualquer tradição religiosa. Você não precisa ser judeu, cristão, hindu, muçulmano, xintoísta ou budista para receber o chamado de Deus em sua consciência e responder a ele da maneira apropriada. O chamado está lá, no profundo do ser, em cada pessoa. Está em nossa consciência porque somos criaturas humanas. Está também no ateu que, ao negar a Deus, pronuncia o Seu nome. Deus é a origem da nossa existência, e a oração é o chamado e a resposta que dá significado à vida.

O chamado de Deus está no profundo do nosso ser, mas como uma verdade que podemos ignorar, como um chamado que também podemos ignorar. A verdade de Deus não é “algo” que deva ser “lembrado” e trazido à luz pelo simples raciocínio. A verdade de Deus é um chamado sempre presente, que pode ser rejeitado (ver Hebreus 3:15).

Portanto, a oração é, antes de tudo, a expressão de um sentimento de amor. É o primeiro apelo de Deus à humanidade. E é também a resposta humana inspirada pelo Espírito Santo que corresponde a esse sentimento com outro sentimento de amor.

Assim, se na oração, tudo vem de Deus, qual é a participação humana? O que dizer a respeito das orações de súplica e de confissão?

SILÊNCIO PERANTE DEUS

O livro de Salmos nos ajuda a entender o profundo significado da oração e a responder à questão da função humana na oração. Ele nos auxilia a entender em que consiste o ato da oração e como invocar a presença de Deus no coração. No Salmo 37:7, Davi nos diz: “Descanse no Senhor e aguarde por Ele com paciência”. E o Salmo 46:10 (ARA) nos reafirma esse sentimento: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus.” “Aquietai-vos” é um chamado para ficarmos em silêncio e nos voltarmos para Deus como a Fonte de todas as respostas. O silêncio diante de Deus coloca em nossas mãos o doce fruto da esperança, pois nos oferece a oportunidade de entrar em um relacionamento de confiança com o Criador, de conhecê-Lo verdadeiramente. Ellen White assim escreveu: “Precisamos ouvir individualmente Sua voz a nos falar ao coração. Quando todas as outras vozes silenciam e em sossego esperamos perante Ele, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus, Ele nos manda: ‘Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus’ (Salmo 46:10). Somente assim se pode encontrar o verdadeiro descanso. E é essa a preparação eficaz para todo trabalho que se faz para Deus. Por entre a turba apressada e a tensão das febris atividades da vida, a alma que assim se refrigera será circundada por uma atmosfera de luz e paz. A vida exalará fragrância, e há de revelar um divino poder que atinge o coração dos homens.”

A oração começa com o silêncio, não com nossas palavras. Não com nossos desejos e necessidades. Devemos fazer silenciar nossos desejos e necessidades para começar a ouvir Deus. O importante não é pedir o que pensamos que necessitamos ou desejamos, mas pedir clareza para captar o que nossa razão não pode compreender e o que nossa mente finita não consegue alcançar – mais precisamente, a presença da luz de Deus em nossa vida (ver João 8:12).

A vida requer que constantemente façamos decisões, e nós buscamos a Deus para obter as respostas. Algumas vezes, em meio ao desespero! E muitas vezes nós não as encontramos porque exigimos muito de nosso raciocínio limitado. Não deveríamos pensar em como explicar nossos desejos a Deus ou fazer com que Ele entenda as nossas orações, pois, mesmo que deixe- mos de apresentar todos os nossos desejos a Ele e nos conformemos com as nossas dores e problemas, ainda assim, não conseguiremos conhecer a Deus. Portanto, vamos primeiramente pedir humildade a Deus para que a Sua presença possa ser sentida em nosso coração! Essa presença divina destrói o que está represado em nossa mente e nos traz paz e lucidez! Esse momento da eternidade em nosso coração é o que Jesus prometeu quando afirmou: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12). Debaixo dessa luz, nossas decisões serão sábias, e o tempo vai confirmar isso.

Portanto, não se trata de Deus satisfazer os nossos desejos ou de atender aos nossos pedidos, mas de que Ele Se torna evidente no profundo do nosso ser! Essa luz está presente na oração correta, que não dá, nem pede explicação de nada, mas que suplica para que Deus Se explique através de nós!

Quer isso dizer que não devemos pedir a Deus por necessidades específicas? De modo nenhum. Isso significa que nEle está a origem de tudo o que necessitamos ou pedimos! Deus tem diante dEle todos os nossos desejos. Sem a luz de Deus, não sabemos o que pedir, nem compreendemos nossas verdadeiras necessidades (ver Romanos 8:26). A promessa é certa e segura: “O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as Suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Filipenses 4:19 – itálico acrescentado).

A ENCARNAÇÃO E A ORAÇÃO

Se a oração representa um relacionamento entre o Criador e a criatura humana, como esse tipo de relacionamento é expresso na vida? Como Deus conhece os anseios mais profundos do coração do crente que ora?

A chama da oração não é consumida na alma daquele que ora. Orar não somente faz com que estejamos abertos para Deus, como também para aqueles que estão ao nosso redor. A oração não é um solilóquio, isto é, ela não é um diálogo consigo mesmo, com um objeto ou com um ser incapaz de falar. Não se trata de conversar com uma planta ou um animal para expressar os sentimentos em meio à solidão. O ato de orar encontra sua expressão máxima quando se transforma em ação, quando se torna uma obra de amor em favor dos outros.

O amor é a expressão divina mais sublime que há no mundo. A verdadeira oração sai do coração como uma flecha atirada em direção a Deus e que se dirige ao coração do próximo. Não é essa a maior manifestação da presença de Deus entre os seres humanos? Quem mais, a não ser Deus, pode nos impelir a nos movermos para fora de nós mesmos e irmos em busca do que é bom para os outros? Somente o Criador, em cuja imagem e semelhança fomos criados, Esse mesmo Ser, que é o Originador da nossa própria existência, pode nos impelir a ajudar nossos semelhantes.

Desse modo, concluímos que o amor, como a expressão mais sublime e concreta de uma oração, c, consequentemente, entre a oração e o significado da vida.

*Ricardo Bentancur, PhD pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, é pastor e atua como diretor de Publicações Internacionais na Pacific Press Publishing Association, Nampa, Idaho, EUA.

NOTAS E REFERÊNCIAS

https://www.the-philosophy.com/plato-theory-knowledge.

Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), p. 363.

 

FONTE: Revista Diálogo Universitário

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O DOM PROFÉTICO E ELLEN G. WHITE


Preparando-se para o encontro com Cristo
Todos os adventistas do sétimo dia aguardam ansiosamente o tempo em que Jesus virá, para levá-los ao lar celestial que foi preparar para eles. Naquela terra maravilhosa, não haverá mais pecado, decepções, fome, pobreza, doenças e morte. Quando o apóstolo João contemplou os privilégios que esperam os fiéis, exclamou: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus […] Agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é”. 1 João 3:1, 2.

O objetivo de Deus para Seu povo é torná-lo semelhante a Jesus no caráter. Desde o início era plano de Deus que os membros da família humana, criados à Sua imagem, desenvolvessem caracteres semelhantes ao Seu. Para cumprir esse propósito, nossos primeiros pais no Éden recebiam instruções diretamente de Cristo e dos anjos. Mas após Adão e Eva pecarem, eles não mais puderam falar livremente com os seres celestiais dessa maneira.

A fim de a família humana não ser deixada sem guia, Deus escolheu outros meios de revelar Sua vontade a Seu povo; um deles era por intermédio dos profetas. Deus disse a Israel: “Então, disse: Ouvi, agora, as Minhas palavras; se entre vós há profeta, Eu, o Senhor, em visão a ele, Me faço conhecer ou falo com ele em sonhos”. Números 12:6.

É propósito divino que Seu povo seja informado e iluminado, conhecendo e compreendendo não apenas os tempos em que vive, mas também o futuro. “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas”. Amós 3:7. Isso diferencia o povo de Deus, os “filhos da luz” (1 Tessalonicenses 5:5), do povo do mundo.

A obra do profeta inclui muito mais do que apenas fazer predições. Moisés, o profeta de Deus que escreveu seis livros da Bíblia, escreveu muito pouco acerca do que aconteceria no futuro. Sua obra é descrita por Oséias em seu mais amplo sentido: “Mas o Senhor, por meio de um profeta, fez subir a Israel do Egito e, por um profeta, foi ele guardado”. Oséias 12:13.

O profeta não é alguém designado por seus semelhantes, nem nomeia a si mesmo. A escolha de uma pessoa para ser profeta é inteiramente da alçada divina. Homens e mulheres têm, de tempos em tempos, sido escolhidos por Deus para falar por Ele.

Esses profetas, homens e mulheres escolhidos por Deus como canais de comunicação, falaram e escreveram aquilo que Deus lhes revelara em santa visão. A preciosa Palavra de Deus inclui suas mensagens. Através desses profetas, os membros da família humana têm sido levados à compreensão do conflito que se desenrola, a guerra entre Cristo e Seus anjos e Satanás e seus anjos. Recebemos entendimento acerca desse combate nos dias finais da história terrestre, e dos meios providos por Deus para cuidar de Sua obra e aperfeiçoar o caráter de Seu povo.

Os apóstolos, os últimos escritores da Bíblia, nos deram um quadro claro dos eventos dos derradeiros dias. Paulo escreveu acerca dos “tempos perigosos”, e Pedro advertiu sobre os escarnecedores que andam segundo suas próprias concupiscências, perguntando: “Onde está a promessa de Sua vinda?” A igreja, nesse tempo, estará em guerra, pois João viu a Satanás “pelejar com os restantes da sua descendência” O apóstolo João identificou os membros da igreja dos últimos dias, “a igreja remanescente”, como aqueles que “guardam os mandamentos de Deus” (Apocalipse 12:17), considerando-os como a igreja guardadora dos mandamentos. Essa igreja remanescente também teria “o testemunho de Jesus”, que é “o espírito de profecia”. Apocalipse 19:10. Paulo declarou que a igreja que está esperando ansiosamente a volta de Cristo, não ficaria privada de nenhum dom. 1 Coríntios 1:7, 8. Ela seria abençoada com o dom do testemunho de Cristo.

Está claro, então, que no plano de Deus a igreja dos últimos dias teria em seu meio, quando viesse à existência, o Espírito de Profecia. Quão lógico é que Deus falasse a Seu povo nos últimos dias da história terrestre, assim como o fez com Seu povo em tempos de necessidade especial nos séculos passados.

Quando essa igreja da profecia — a Igreja Adventista do Sétimo Dia — viesse à existência, em meados do século dezenove, uma voz seria ouvida entre nós, dizendo: “Deus me mostrou em santa visão.” Essas palavras não eram jactanciosas, mas a expressão de uma mocinha de 17 anos que havia sido chamada para falar em nome de Deus. Durante setenta anos de fiel ministério, essa voz foi ouvida guiando, corrigindo, instruindo. E é ouvida ainda hoje através de milhares de páginas escritas pela mensageira escolhida do Senhor, Ellen G. White.

A visão do Grande Conflito entre Cristo e Satanás

Um pequeno prédio escolar de uma vila da região oriental da América do Norte estava lotado de homens e mulheres que, numa tarde de domingo, em meados de Março de 1858, haviam-se reunido para uma cerimônia. O Pr. Tiago White oficiou a cerimônia fúnebre de um jovem e pregou um sermão. Quando ele terminou de falar, a Sra. White sentiu-se impressionada a dizer umas poucas palavras aos enlutados. Ela se levantou e falou por um ou dois minutos e então fez uma pausa. O povo a olhava para captar as próximas palavras de seus lábios. Nesse momento, as pessoas ficaram um pouco sobressaltadas com a exclamação de “Glória a Deus!”, repetida por três vezes com crescente ênfase. A Sra. White estava em visão.

O Pr. White falou ao povo acerca das visões da Sra. White. Ele explicou que as visões lhe haviam sido dadas desde que ela era uma jovenzinha de dezessete anos. Disse-lhes que, embora seus olhos estivessem abertos e parecesse que contemplava alguma coisa à distância, ela estava totalmente inconsciente do que se passava ao seu redor e nada sabia do que lhe estava sucedendo. Ele se referiu a (Números 24:4, 16), onde lemos de alguém “que ouve os ditos de Deus, o que tem a visão do Todo-Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos”.

Ele explicou às pessoas que sua esposa não respirava enquanto em visão. Então, se voltou para (Daniel 10:17) e leu a experiência do profeta em visão: “Porque, quanto a mim, não me resta já força alguma, nem fôlego ficou em mim.” O Pr. White, em seguida, convidou àqueles que quisessem para vir adiante e examinar a Sra. White. Ele sempre permitia tais exames e ficava feliz quando havia um médico presente para examiná-la durante a visão.

Quando as pessoas chegavam perto, viam que a Sra. White não respirava, todavia, seu coração continuava batendo normalmente e a cor de sua face era natural. Foi trazido um espelho e colocado diante de seu rosto, mas nenhuma umidade acumulou-se em sua superfície. Então trouxeram uma vela, acenderam-na e a puseram bem perto de seu nariz e boca. Mas a chama continuava ereta, sem qualquer oscilação. As pessoas podiam ver que ela não respirava. Ellen andava pela sala, movimentando graciosamente seus braços enquanto proferia breves exclamações acerca do que lhe estava sendo revelado. Como Daniel, ela primeiramente sofria a perda da força natural; então, era-lhe concedido poder sobrenatural. Daniel 10:7, 8, 18, 19.

Durante duas horas a Sra. White permaneceu em visão. Em duas horas ela não respirou. Então, quando a visão chegou ao fim, ela tomou uma profunda inspiração, deteve-se por cerca de um minuto, inspirou novamente e logo estava respirando com toda a naturalidade. Ao mesmo tempo, ela começou a reconhecer o ambiente, tornando-se consciente do que ocorria ao seu redor.

Alguém que via frequentemente a Sra. White em visão, a Sra. Martha Amadon, fez a seguinte descrição:

“Em visão, seus olhos ficavam abertos. Não havia respiração, observavam-se, porém, graciosos movimentos dos ombros, dos braços, das mãos, que expressavam aquilo que ela via. Era impossível para qualquer pessoa impedir os movimentos de suas mãos e braços. Ela repetidamente proferia apenas palavras ou articulava frases que transmitiam a natureza da visão que estava tendo, quer do Céu quer da Terra.

“Sua primeira palavra em visão era ‘Glória”, soando, no princípio, muito próxima, e então diminuindo pouco a pouco, parecendo mui distante. Isso se repetia algumas vezes. […]

“As pessoas presentes não eram afetadas pela visão; nada causava temor. A cena era solene e calma. […]

“Quando a visão chegava ao fim e ela perdia de vista a luz celestial, retornando, por assim dizer, à Terra, exclamava com um longo suspiro ao retomar sua respiração natural: ‘E-S-C-U-R-I-D-Ã-O’. Então, mostrava-se abatida e sem forças.”

Mas precisamos retornar à nossa história da visão de duas horas no edifício da escola. Posteriormente, a Sra. White escreveu sobre essa visão:

“Muito do que eu havia visto dez anos antes, com referência ao grande conflito dos séculos entre Cristo e Satanás, foi repetido e fui instruída a escrever.”

Pareceu-lhe, na visão, estar presente e testemunhando as cenas que surgiam diante dela. Era como se estivesse no Céu, onde assistiu à queda de Lúcifer. Então, observou a criação do mundo e viu nossos primeiros pais em seu lar edênico. Viu-os ceder às sugestões da serpente e perder seu lar paradisíaco. Em rápida sucessão ela contemplou o desenrolar da história bíblica. Testemunhou a experiência dos patriarcas e profetas de Israel, a vida e morte de nosso Salvador Jesus Cristo e Sua ascensão ao Céu, onde está ministrando como nosso Sumo Sacerdote desde então.

Depois viu os discípulos saindo para espalhar a mensagem do evangelho até os confins da Terra. Rapidamente passou diante dela a apostasia e a Idade Escura. Então viu a obra da Reforma, onde homens e mulheres nobres, com risco da própria vida, defenderam a verdade. Daí a Sra. White foi levada às cenas do Juízo que se iniciou no Céu em 1844, prosseguindo até nossos dias. Foi, em seguida, transportada para o futuro e contemplou a vinda de Cristo nas nuvens dos céus. Testemunhou as cenas do milênio e a Terra renovada.

Com essas claras apresentações diante de si, a Sra. White, após retornar à sua casa, dedicou-se a escrever o que havia visto e ouvido durante a visão. Cerca de seis meses mais tarde, um pequeno volume de 219 páginas saiu do prelo com o título O Grande Conflito Entre Cristo e Seus Anjos e Satanás e Seus Anjos.

Esse livro foi recebido com entusiasmo, pois retratava vividamente a experiência que estava diante da igreja e desmascarava os planos de Satanás, expondo a maneira pela qual ele tenta iludir a Igreja e o mundo com vistas ao último conflito terreno. Quão gratos a Deus ficaram os adventistas porque Deus lhes estava falando.

A narrativa do grande conflito, feita de forma resumida no pequeno volume Spiritual Gifts (Dons Espirituais), foi mais tarde republicada na segunda parte do livro Primeiros Escritos, o que ainda hoje pode ser visto nessa obra.

Mas como a Igreja cresceu e o tempo passou, o Senhor, em muitas visões posteriores, ampliou a história do grande conflito e lhe acrescentou maiores detalhes, e a Sra. White o reescreveu entre 1870 e 1884, em quatro volumes, com o título The Spirit of Prophecy (O Espírito de Profecia). O livro A História da Redenção apresenta as mais importantes partes do grande conflito, extraídas desses livros. Esse volume, publicado em muitos idiomas, revela às pessoas o que foi mostrado nas visões do grande conflito. Mais tarde, nos cinco volumes da série “Conflito dos Séculos” (Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, O Desejado de Todas as Nações, Atos dos Apóstolos e o Grande Conflito), a Sra. White apresentou em minuciosos detalhes toda a história do conflito entre o bem e o mal.

Esses volumes, que acompanham a narrativa bíblica desde a criação até a era cristã e daí até o final dos tempos, trazem grande luz e encorajamento. São obras que têm ajudado os adventistas do sétimo a se tornarem “filhos da luz” e “filhos do dia”. Vemos nessa experiência o cumprimento da promessa: “Certamente, o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas”. Amós 3:7.

Escrevendo sobre como a luz chegou até ela, a Sra. White disse: “Mediante a iluminação do Espírito Santo, as cenas do prolongado conflito entre o bem e o mal têm sido abertas à autora dessas páginas. De tempos em tempos, me tem sido permitido contemplar o desenrolar, nas diferentes épocas, do grande conflito entre Cristo, o Príncipe da Vida, o Autor de nossa salvação, e Satanás, o príncipe do mal, o autor do pecado, o primeiro transgressor da Santa Lei de Deus. […] À medida que o Espírito de Deus me ia revelando à mente as grandes verdades de Sua Palavra, e as cenas do passado e do futuro, era-me ordenado tornar conhecido a outros o que assim fora revelado, delineando a história do conflito nas eras passadas, e especialmente apresentando-a de tal maneira a lançar luz sobre a luta do futuro, em rápida aproximação.”

Como a luz era dada ao profeta

Na experiência passada dos filhos de Deus, como temos visto, o Senhor disse a Seu povo como Ele Se comunicava com eles através dos profetas. “Se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele Me faço conhecer ou falo com ele em sonhos”. Números 12:6.

Dissemos anteriormente que a visão de 1858 sobre o grande conflito foi acompanhada de certos fenômenos físicos. Alguém poderia logicamente perguntar por que as visões eram dadas dessa maneira. Indubitavelmente, era para estabelecer a confiança do povo e garantir-lhes que o Senhor estava falando ao profeta. Não era comum a Sra. White referir-se detalhadamente à sua condição enquanto em visão, mas em certa ocasião ela disse: “Essas mensagens nos foram dadas para confirmar a fé de todos, para que possamos ter confiança do Espírito de Profecia nestes últimos dias.”

À medida que a obra da Sra. White se desenvolveu, ela pôde ser testada quanto aos seus resultados. “Por seus frutos os conhecereis.” Mas leva tempo para o fruto se desenvolver e o Senhor, no início, deu evidências vinculadas à concessão das visões, que ajudaram o povo a crer.

Entretanto nem todas as visões foram dadas em público, acompanhadas por notáveis fenômenos físicos. O Senhor prometeu comunicar-Se com os profetas também através de sonhos. Números 12:16. Eram sonhos proféticos tais como os que Daniel teve. Ele declarou: “No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um sonho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o sonho e relatou a suma de todas as coisas”. Daniel 7:1.

Ao contar sobre o que lhe foi revelado, Daniel disse muitas: “Eu vi em visões da noite”. De modo semelhante, na experiência de Ellen White, as visões lhe foram dadas quando sua mente estava em repouso durante as horas da noite. Seus escritos freqüentemente fazem a declaração introdutória: “Nas visões da noite algumas coisas me foram claramente apresentadas.” Repetidamente Deus falou ao profeta mediante sonhos proféticos. Podem surgir questões concernentes ao relacionamento entre um sonho profético ou uma visão noturna e um sonho comum. Em 1868, a Sra. White escreveu a respeito:

“Há muitos sonhos que derivam dos fatos ordinários da vida, e com os quais o Espírito de Deus nada tem que ver. Há também sonhos falsos, como há falsas visões, que são inspirados pelo espírito de Satanás. Os sonhos do Senhor, porém, são classificados em Sua Palavra no mesmo nível que as visões, e são, como estas, o fruto do Espírito de Profecia. Esses sonhos, se forem levadas em conta as pessoas que os tiveram e as circunstâncias em que foram dados, trazem em si mesmos a prova de sua autenticidade.”

Certa vez, quando a Sra. White já estava bem idosa, seu filho, o Pr. W. C. White, procurando dados para ajudar aqueles que estavam menos informados, fez-lhe uma pergunta: “Mamãe, a senhora tem falado seguidas vezes sobre assuntos que lhe foram revelados à noite. A senhora fala de sonhos nos quais a luz é derramada. Nós todos sonhamos. Como a senhora sabe que Deus lhe está falando por meio de um sonho?”

Ela respondeu: “Porque o mesmo anjo mensageiro que fica a meu lado instruindo-me sobre as visões da noite, também está comigo falando-me nas visões do dia.” O ser celestial referido era, outras vezes, chamado de “o anjo”, “meu guia”, “meu instrutor”, etc.

Não havia qualquer confusão na mente do profeta, nenhuma questão referente à revelação dada durante as horas da noite, pois as circunstâncias que a cercavam tornavam claro que era uma instrução vinda de Deus.

Outras vezes, as visões foram dadas enquanto a Sra. White estava orando, falando ou escrevendo, sem nenhum aviso prévio, a não ser uma breve pausa se ela estivesse falando ou orando publicamente. Ela escreveu certa vez:

“Enquanto em fervorosa oração, perdi a noção de tudo o que se passava ao meu redor: o ambiente se encheu de luz e ouvi uma mensagem dirigida a uma assembleia que parecia ser a da Associação Geral.”

Das muitas visões dadas à Sra. White durante seu extenso ministério de setenta anos, a mais longa durou quatro horas e a mais curta apenas um breve momento. Frequentemente elas duravam meia hora ou um pouco mais. Porém, não se pode estabelecer uma regra que se aplique a todas as visões, por isso Paulo escreveu: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas […]”. Hebreus 1:1.

A luz era dada ao profeta mediante visões, mas ele não as escrevia enquanto em transe. Sua obra não era de cunho mecânico. Exceto em raras ocasiões, o Senhor não lhe dava as palavras exatas a empregar, nem o anjo guiava a mão do profeta para registrá-las. Com sua mente iluminada pelas visões, o profeta falava ou escrevia as palavras que comunicavam luz e instrução ao povo, de forma oral ou escrita.

Podemos perguntar como a mente do profeta era iluminada, como ele obtinha a informação e instrução que devia comunicar ao povo? Assim como nenhuma regra pode ser estabelecida para a concessão das visões, da mesma forma nenhuma norma pode ser fixada para orientar a maneira como o profeta recebe a mensagem inspirada. No entanto, em cada caso havia uma experiência real que fazia indelével impressão na mente do profeta. Do mesmo modo que o que vemos e experimentamos faz impressão mais profunda em nossa mente do que aquilo que ouvimos, assim também as representações aos profetas, nas quais eles pareciam testemunhar acontecimentos dramáticos, realizam impressões mais duradouras e profundas em seu pensamento. A Sra. White escreveu: “Minha atenção é frequentemente dirigida a cenas que ocorrem na Terra. Às vezes sou levada para o futuro distante e me é mostrado o que vai acontecer. Então, mais uma vez, são-me reveladas coisas que aconteceram no passado.”

Disso se torna evidente que Ellen White via esses eventos ocorrerem como se fosse uma testemunha ocular. Eles eram reapresentados a ela em visão e assim causavam profunda impressão em sua mente.

Outras vezes parecia-lhe estar verdadeiramente tomando parte na cena apresentada, parecendo-lhe sentir, ver, ouvir e atender, quando, em realidade, não o estava; mas sua mente era profunda e indelevelmente impressionada. Sua primeira visão (apresentada no próximo capítulo deste livro) é um exemplo disso.

Noutras ocasiões, enquanto em visão, a Sra. White parecia estar presente a reuniões, em casas ou instituições localizadas em lugares distantes. Tão vívida era essa sensação de presença em tais encontros, que ela poderia relatar em detalhes as ações e palavras ditas por várias pessoas. Certa vez, enquanto em visão, Ellen White teve a sensação de estar sendo levada para uma visita a uma de nossas instituições médicas, passando por quartos e vendo tudo o que ocorria. Sobre essa experiência, ela escreveu:

“As conversas frívolas, o gesticular leviano e o riso sem sentido feriam dolorosamente o ouvido […] Fiquei atônita ao ver a complacência com os ciúmes, e ouvi palavras invejosas, conversas inadequadas que fariam corar os anjos de Deus.”

Depois foram mostradas condições mais agradáveis na mesma instituição. Ela foi conduzida a quartos “dos quais provinha uma voz de oração. Que som bem-vindo!” Uma mensagem de instrução foi redigida com base nessa visita à instituição, e nas palavras do anjo que parecia guiá-la através dos diferentes departamentos e quartos.

Com frequência, era enviada luz à Sra. White em vívidas representações simbólicas. Uma delas é claramente descrita nas seguintes sentenças extraídas de uma mensagem pessoal enviada a um destacado obreiro que era visto como estando em perigo:

“Certa ocasião, você me foi representado como um general montado num cavalo e empunhando uma bandeira. Alguém veio e tomou a bandeira de suas mãos, a qual trazia o lema: ‘Os mandamentos de Deus e a fé de Jesus’, e que estava sendo pisoteada. Vi você cercado por homens que o estavam prendendo ao mundo.”

Houve circunstâncias também em que visões diferenciadas e contrastantes eram apresentadas à Sra. White — uma ilustrando o que ocorreria se certos planos ou políticas fossem seguidos e, em outra visão, os resultados de outros planos e políticas. Uma excelente ilustração a respeito pode ser encontrada na referência à localização da fábrica de alimentos saudáveis em Loma Linda, na região oeste dos Estados Unidos. O diretor e seus assessores estavam planejando construir um grande edifício próximo aos prédios principais do sanatório. Enquanto os planos eram preparados, a Sra. White, a quilômetros de distância, teve duas visões numa só noite. A respeito da primeira visão, ela conta: {CI 14.6}

“Foi-me mostrado um grande edifício onde muitos alimentos eram preparados. Havia também prédios menores próximos à padaria. Ali ouvi altas vozes discutindo o trabalho que estava sendo feito. Não houve acordo entre os obreiros e a confusão se instalou.”

Então ela observou um aflito diretor em suas tentativas de arrazoar com os obreiros em busca de harmonia, e que os pacientes ouviram por acaso essas disputas e “lamentavam que uma fábrica de alimentos devesse ser estabelecida naqueles belos terrenos”, tão próxima do hospital. “Então apareceu Alguém em cena e disse: ‘Tudo isso está acontecendo a fim de dar a vocês uma lição objetiva, para que possam ver o resultado da implementação de certos projetos.”

Em seguida mudou-se a cena e ela viu a fábrica de alimentos a “certa distância do sanatório, na estrada que dava para a via férrea”. Ali os trabalhos eram dirigidos de maneira humilde e em harmonia com os planos divinos. Poucas horas após a visão, a Sra. White estava escrevendo aos obreiros de Loma Linda, e isso liquidou a questão sobre o local onde a fábrica de alimentos deveria ser construída. Houvesse o plano original sido executado, teríamos tido sérios problemas em anos posteriores, com um enorme edifício comercial vizinho ao sanatório. Assim se pode ver que, de variadas maneiras, a mensageira do Senhor recebeu informação e instrução através de visões diurnas e noturnas.

Através da iluminação da mente o profeta falava ou escrevia, dando a mensagem de instrução e informação ao povo. Nesse trabalho, a Sra. White era auxiliada pelo Espírito do Senhor, mas não havia controle mecânico. Ela era deixada livre para escolher as palavras com que transmitir a mensagem. Nos primeiros anos de seu ministério, ela declarou:

“Se bem que eu seja tão dependente do Espírito do Senhor ao escrever minhas visões como ao recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas mesmo, a menos que sejam as que me foram ditas por um anjo, as quais eu sempre ponho entre aspas.”

Como os escritores bíblicos, a Sra. White às vezes preferia, sob a direção do Espírito Santo, escolher a linguagem de outros autores, especialmente quando apreciava seu fraseado e expressões.

A vida e a obra da Sra. Ellen G. White

Ellen G. Harmon e sua irmã gêmea nasceram em 26 de Novembro de 1827, em Gorham, Maine, na região nordeste dos Estados Unidos. Quando estava com nove anos de idade, Ellen sofreu um acidente causado pelo golpe de uma pedra lançada por uma colega imprudente. Um grave ferimento no rosto quase lhe custou a vida e deixou-a num estado de fraqueza tal que não pôde continuar os estudos.

Com onze anos, ela entregou o coração a Deus. Aos catorze, foi batizada por imersão no mar e recebida como membro da Igreja Metodista. Juntamente com outros membros de sua família, ela frequentou as reuniões adventistas em Portland, Maine, aceitando totalmente os pontos de vista sobre a proximidade do segundo advento de Cristo apresentados por Guilherme Miller e seus associados.

Certa manhã, em Dezembro de 1844, enquanto estava orando com outras quatro mulheres, o poder de Deus repousou sobre ela. Inicialmente Ellen perdeu a noção das coisas terrenas; então, numa representação figurativa, ela testemunhou a viagem do povo do advento para a cidade de Deus e a recompensa dos fiéis. Com temor e tremor essa adolescente de dezessete anos relatou essa e outras visões aos crentes de Portland. E quando havia oportunidade ela contava a visão a grupos de adventistas no Maine e estados vizinhos. Em Agosto de 1846, Ellen Harmon casou-se com Tiago White, um jovem pastor adventista. Por cerca de trinta e cinco anos sua vida esteve intimamente ligada à do marido em diligente obra evangelística, até sua morte em 6 de Agosto de 1881. Eles viajaram intensamente pelos Estados Unidos pregando e escrevendo, planejando e realizando, organizando e administrando.

O tempo e a experiência têm provado quão amplos e firmes foram os fundamentos lançados por Tiago, Ellen White e seus companheiros, e quão sábia e eficazmente edificaram. Eles deram início, entre 1849 e 1850, à obra de publicações entre os adventistas observadores do sábado, participando do desenvolvimento organizacional da Igreja mediante um sólido sistema financeiro, em fins da década de 1850. Isso culminou com a organização da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, em 1863. O ano de 1866 marcou o início de nossa obra médica e a grande obra educacional da denominação teve seu começo no início da década seguinte. O plano de reuniões campais anuais foi desenvolvido em 1868 e, em 1874, os adventistas do sétimo dia enviaram seu primeiro missionário além-mar.

Todo esse desenvolvimento foi guiado pelos muitos conselhos verbais e escritos que Deus deu ao povo mediante Ellen White.

A maior parte das primeiras comunicações foi redigida em forma de cartas pessoais ou através de artigos publicados no Present Truth, nossa primeira publicação regular. Não foi senão em torno de 1851 que a Sra. White lançou seu primeiro livro de 64 páginas intitulado A Sketch of the Christian Experience and Visions of Ellen G. White (Um Esboço da Experiência Cristã e Visões de Ellen G. White).

Com início em 1855, foi publicada uma série de panfletos numerados, cada um deles com o título de Testimony for the Church (Testemunho Para a Igreja). Eles disponibilizavam as mensagens de instrução e correção que. de tempos em tempos, Deus enviava a Seu povo. Para atender à contínua demanda por tal instrução, os primeiros trinta panfletos foram republicados em 1885 em forma de quatro livros encadernados. Com o acréscimo de outros volumes, que surgiram entre 1889 e 1909, completou-se a coleção de nove volumes conhecidos como Testemunhos Para a Igreja.

Os White tiveram quatro filhos. O mais velho, Henry, viveu até os dezesseis anos; o mais novo, Herbert, faleceu com três meses de idade. Os dois filhos do meio, Edson e William, viveram até à maturidade, empenhados na obra da denominação adventista do sétimo dia.

Atendendo ao pedido da Associação Geral, a Sra. White viajou à Europa no verão de 1885. Ali ela despendeu dois anos no fortalecimento da recente obra naquele continente. Morando em Basiléia, Suíça, ela viajou intensamente através da Europa Central, do Norte e do Sul, assistindo às reuniões gerais da Igreja.

Quatro anos depois de sua volta aos Estados Unidos, a Sra. White, com sessenta e três anos de idade e em resposta a outra solicitação da Associação Geral, viajou para a Austrália. Ali trabalhou por nove anos, ajudando a iniciar e desenvolver a obra, especialmente nos setores médico e educacional. Em 1900, retornou aos Estados Unidos, indo residir na região oeste do país, em Santa Helena, Califórnia, onde ficou até sua morte em 1915.

Durante o longo tempo de serviço de sessenta anos na América do Norte e dez anos no exterior, ela teve cerca de duas mil visões que, mediante incansáveis esforços voltados ao aconselhamento de indivíduos, igrejas, reuniões públicas e sessões da Associação Geral, contribuíram grandemente para o desenvolvimento deste grande movimento. Mas isso não completou a tarefa de apresentar a todos as mensagens que ela recebeu de Deus.

Seus escritos somam cerca de cem mil páginas. As mensagens procedentes de sua pena chegavam às pessoas através de comunicações pessoais, artigos semanais nos periódicos denominacionais e em seus muitos livros. Os temas tratavam de história bíblica, experiência cristã, saúde, educação, evangelismo e outros tópicos de cunho prático. Muitos de seus livros estão impressos nos principais idiomas do mundo, e milhões de seus exemplares já foram vendidos. Somente o livro Caminho a Cristo vendeu cerca de 50 milhões de exemplares em 127 idiomas, entre 1892 e 1990.

Com a idade de oitenta e um anos, a Sra. White cruzou o continente americano pela última vez, para assistir à sessão da Associação Geral de 1909. Os restantes seis anos de sua vida foram despendidos na conclusão de sua obra literária. Próxima ao fim da existência, ela escreveu: “Seja minha vida poupada ou não, meus escritos falarão continuamente e sua obra irá avante enquanto o tempo durar.”

Com indômita coragem e plena confiança em seu Redentor, ela faleceu em sua casa, na Califórnia, no dia 16 de Julho de 1915, e foi sepultada junto ao esposo e filhos, no cemitério de Oak Hill, em Battle Creek, Michigan.

A Sra. White era apreciada e honrada por seus companheiros de obra, pela Igreja e os membros de sua família, como mãe devotada e uma obreira diligente e incansável. Ela nunca teve um cargo oficial na Igreja. Era tida pela Igreja e por si mesma como “uma mensageira” com uma mensagem de Deus para Seu povo. Nunca pediu aos outros que cuidassem dela e nunca usou seu dom para a obtenção de vantagens financeiras ou popularidade. Sua vida e tudo quanto possuía foram dedicados à causa de Deus.

Por ocasião de sua morte, o editor de um semanário popular, o The Independent, em sua edição de 23 de Agosto de 1915, concluiu seus comentários sobre a vida fecunda da Sra. White com estas palavras: “Ela foi absolutamente honesta em sua crença nas revelações que recebeu. Sua vida foi digna delas. Ela não exibia nenhum orgulho espiritual e jamais buscou interesses pecuniários. Viveu e fez a obra de uma legítima profetisa.”

Poucos anos antes de sua morte, a Sra. White criou um conselho de depositários formado por líderes da Igreja, a quem deixou seus escritos com o encargo de serem responsáveis por seu cuidado e publicação contínua. Com escritórios na sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, essa comissão promove a publicação continuada dos escritos de E. G. White em inglês, e estimula sua circulação, no todo ou em parte, em outros idiomas. Eles também têm publicado numerosas compilações de artigos e manuscritos, em harmonia com a instrução da Sra. White. É sob a autoridade dessa comissão que o presente volume é levado a público.

A Sra. White como os outros a conheceram

Conhecendo a experiência incomum da Sra. White como mensageira do Senhor, alguns têm perguntado: Que tipo de pessoa ela era? Será que enfrentava os mesmos problemas que nós? Era rica ou pobre? Ela sorria?

A Sra. White era mãe extremosa e dedicada dona de casa. Era uma anfitriã cordial, hospedando frequentemente membros da Igreja em sua casa. Era uma vizinha prestativa, uma mulher de profundas convicções, de disposição agradável, gentil em maneiras e palavras. Em sua experiência não havia lugar para uma religião melancólica, infeliz e acabrunhada. As pessoas se sentiam à vontade em sua presença. Talvez a melhor maneira de familiarizar-se com a Sra. White seja reconstituir o ambiente doméstico de 1859, o primeiro ano em que ela escreveu um diário.

Descobrimos que os Whites viviam nos arredores de Battle Creek, numa pequena casa de campo situada num grande terreno com jardins, algumas árvores frutíferas, uma vaca, algumas galinhas e um lugar para seus filhos trabalharem e brincarem. A Sra. White, nessa época, estava com trinta e um anos de idade. Tiago White tinha trinta e seis. Seus filhos estavam com quatro, nove e doze anos de idade.

Em seu lar havia uma jovem cristã contratada para ajudar nas tarefas domésticas, pois a Sra. White estava frequentemente longe de casa, ocupada em pregar e escrever. Entretanto, ela assumia as responsabilidades do lar como cozinhar, limpar, lavar e costurar. Nalguns dias, ela ia até a casa publicadora onde tinha à disposição um lugar calmo para escrever. Noutros dias, podia ser encontrada no jardim plantando flores e vegetais e, às vezes, trocando plantas florais com os vizinhos. Estava determinada a tornar seu lar o mais agradável possível para sua família, a fim de os filhos poderem considerar o lar o lugar mais desejável de se estar.

Ellen White era uma compradora cuidadosa e seus vizinhos adventistas ficavam felizes quando iam às compras com ela, pois sabia o preço das coisas. Sua mãe havia sido uma mulher muito prática e ensinado lições valiosas às filhas. Ela aprendeu que saía mais caro comprar coisas malfeitas do que mercadorias de boa qualidade.

O sábado era o dia mais agradável da semana para os filhos. A família assistia aos cultos na igreja e, se o Pr. White e a Sra. White estavam livres de compromissos com pregações, a família se assentava junta durante o culto. No jantar havia um prato especial que não era preparado noutros dias; daí, se o dia estivesse propício, a Sra. White caminhava com os filhos pelos bosques ou as margens do rio, observando as belezas da natureza e estudando as obras de Deus. Se o dia estivesse chuvoso ou frio, ela os reunia junto à lareira da casa e lia para eles, citando frequentemente materiais reunidos aqui e ali, enquanto fazia suas viagens. Algumas dessas histórias foram posteriormente impressas em livros, para que outros pais pudessem contá-las aos filhos.

A Sra. White não estava bem de saúde nessa época e desmaiava algumas vezes durante o dia, mas isso não a impedia de prosseguir com suas tarefas domésticas, bem como com a obra para o Senhor. Poucos anos mais tarde, em 1863, ele teve uma visão referente à saúde e aos cuidados com os enfermos. Foram-lhe mostradas em visão as roupas mais adequadas para usar, o alimento para ingerir, a necessidade de exercício e repouso, bem como a importância da confiança em Deus, a fim de manter o corpo vigoroso e saudável.

A luz provinda de Deus concernente ao regime alimentar e à nocividade dos alimentos cárneos contrariava frontalmente a opinião pessoal da Sra. White, que julgava a carne essencial à saúde e à produção de energia. Com a luz da visão a iluminar sua mente, ela instruiu a moça que a ajudava a preparar os alimentos para a família a pôr sobre a mesa apenas alimentos integrais compostos de cereais, vegetais, nozes, leite, creme e ovos. Havia também abundância de frutas. Nessa ocasião, a família White passou a adotar uma dieta essencialmente vegetariana. Em 1894, Ellen White baniu completamente a carne de sua mesa. A reforma de saúde foi uma grande bênção para a família White, como tem sido para milhares de famílias adventistas espalhadas pelo mundo.

Após a visão da reforma de saúde, em 1863, e a adoção de métodos naturais de tratamento de enfermos, os Whites eram constantemente chamados por seus vizinhos, quando doentes, para lhes ministrar tratamentos. O Senhor abençoou muito esses esforços. Outras vezes, os enfermos eram levados para o lar dos Whites e cuidados com carinho até sua plena recuperação.

A Sra. White desfrutava períodos de relaxamento e recreação nas montanhas, em algum lago ou em mar aberto. Durante a meia idade, enquanto vivia perto da Pacific Press, no norte da Califórnia, ela decidiu dispensar um dia para repouso e recreação. A Sra. White, sua família e o pessoal do escritório, foram convidados a unir-se ao grupo de obreiros da casa publicadora, convite que aceitaram prontamente. Seu marido estava no Leste a serviço da Organização. Numa carta que ela lhe enviou encontramos a narrativa dessa experiência.

Depois de saborear um almoço composto de alimentos integrais na praia, o grupo todo saiu para um passeio de barco pela baía de São Francisco. O capitão da embarcação era membro da Igreja e todos desfrutaram uma tarde muito aprazível. Então foi sugerido irem para alto-mar. Contando essa experiência, Ellen White escreveu:

“As ondas se elevavam e éramos lançados fortemente para cima e para baixo. Eu estava encantada, mas não tinha palavras para expressar. Era grandioso! Os borrifos de água nos respingavam. O vento era forte além da Golden Gate; eu nunca havia experimentado nada igual em minha vida.”

Então ela observou os vigilantes olhos do capitão e a prontidão da tripulação em obedecer-lhe as ordens, e comentou:

“Deus retém os ventos em Suas mãos. Ele controla as águas. Somos meras partículas nas vastas e profundas águas do Pacífico; todavia, anjos dos céus foram enviados para guardar essa pequena embarcação enquanto singrava pelas ondas. Oh, as maravilhosas obras de Deus! Quão além de nossa compreensão! Num relance, Ele contempla os mais altos céus e os mares.”

A Sra. White, desde o início, havia assumido uma atitude de contentamento. Certa vez ela perguntou: “Vocês já me viram desalentada, melancólica, lamuriosa? Tenho uma fé que proíbe tal coisa. É a concepção equivocada do verdadeiro ideal do caráter e serviço cristãos que conduz a essa conclusão.

[…] Um serviço sincero e espontâneo a Jesus produz uma religião luminosa. Aqueles que seguem a Cristo bem de perto não ficam desanimados.”

Noutra ocasião, ela escreveu: “Em alguns casos, a ideia adotada é que a alegria não é compatível com a dignidade do caráter cristão, mas isso é um erro. O Céu todo é alegria.” Ela descobriu que se você sorrir, receberá sorrisos em troca; se você proferir palavras bondosas, terá em retorno também palavras carinhosas.

Entretanto, houve momentos em que ela sofreu grande tribulação. Certa ocasião, isso ocorreu logo após chegar à Austrália para ajudar no trabalho local. Ela se encontrava muito doente fazia quase um ano e sofria intensamente. Estava confinada à cama, durante meses, e só podia dormir umas poucas horas por noite. Acerca dessa experiência, ela escreveu a uma amiga:

“Quando me senti desamparada, lamentei ter viajado tanto. Por que não fiquei na América? A que custo me encontrava na Austrália? Com frequência eu poderia ter enterrado minha face nos lençóis e chorado copiosamente. Mas não podia me dar ao luxo de verter lágrimas. Eu dizia a mim mesma: ‘Ellen G. White, o que você quer? Você não veio para a Austrália porque sentiu ser seu dever ir aonde a Associação achasse melhor? Essa não foi sua decisão?’

‘Sim’, eu dizia.

‘Então por que você se sente quase abandonada e desanimada? Não é esse o trabalho do inimigo?’ Eu dizia: ‘Sim, acho que sim.’

“Depois disso enxuguei minhas lágrimas rapidamente e disse: ‘É o bastante. Jamais voltarei a olhar para o lado escuro. Quer viva ou não, confio minha vida Àquele que morreu por mim.’

“Eu cria que o Senhor faria bem todas as coisas e durante os oito meses de desamparo, não tive qualquer desalento ou dúvida. Agora vejo aquela situação como parte do grande plano do Senhor para o bem de Seu povo aqui neste país, para os da América do Norte e meu próprio bem. Não posso explicar por que ou como, mas creio. E sou feliz em minha aflição. Confio em meu Pai celestial. Não duvidarei de Seu amor.”

Quando a Sra. White morou em sua casa na Califórnia, durante os últimos quinze anos de sua vida, embora estivesse mais idosa, tomou interesse pelo trabalho de uma pequena fazenda e no bem-estar daqueles que a auxiliavam em suas atividades. Geralmente ocupava-se em escrever, começando logo após à meia-noite, quando ia dormir cedo. Se o dia houvesse sido agradável e seu trabalho o permitisse, ela saía para um breve passeio pelo campo, parando para conversar com alguma mãe que eventualmente encontrasse no jardim ou na porta de uma casa pela qual passasse. Algumas vezes ela percebia a necessidade de alimentos e roupas e então ia para sua casa e apanhava o necessário para suprir as carências. Anos depois de sua morte, ela era ainda lembrada pelos vizinhos do vale onde viveu, como uma pequena mulher de cabelos brancos, que sempre falava com ternura de Jesus.

Quando ela morreu, tinha pouco mais do que as necessidades e confortos básicos da vida. Ela era uma cristã adventista do sétimo dia confiante nos méritos de seu ressurreto Senhor e tentava fazer fielmente a obra que o Senhor lhe designara. Assim, com confiança no coração, ela chegou ao fim de uma vida plena e coerente com sua experiência cristã.

Mensagens que transformaram vidas

Um evangelista estava realizando uma série de reuniões em Bushnell, Michigan. Logo após um batismo, todavia, ele deixou o povo sem alicerçar devidamente os crentes na mensagem. Aos poucos as pessoas foram se desanimando e alguns retomaram seus maus hábitos. Finalmente a igreja tornou-se tão pequena que dez ou doze membros que restaram decidiram que não deveriam mais continuar se reunindo. Logo após se dispersarem do que achavam ser a última reunião, chegou o correio e entre a correspondência encontrava-se a Review and Herald (Revista e Arauto). Na seção “Roteiro” havia uma notícia dando conta de que Tiago e Ellen White estariam em Bushnell para as reuniões, em 20 de Julho de 1867. Faltava apenas uma semana para isso. As crianças foram enviadas para chamar o povo de volta, aqueles que estavam no caminho de sua volta para casa. Ficou decidido que se preparasse um lugar no bosque e se convidasse os vizinhos, especialmente os membros afastados.

No dia 20 de Julho, um sábado, os Whites vieram até o bosque onde sessenta pessoas se haviam reunido. O Pr. White falou pela manhã. À tarde, a Sra. White se levantou para falar, mas após a leitura de seu texto, ela parecia perplexa. Sem qualquer comentário adicional, fechou a Bíblia e começou a falar ao povo de modo muito pessoal.

“Nesta tarde, estou diante de vocês olhando a face daqueles que me foram mostrados em visão, dois anos atrás. Enquanto os vejo, sua experiência me vem claramente à memória e tenho uma mensagem para vocês da parte do Senhor.

“Há esse irmão que está próximo ao pinheiro. Não posso chamá-lo pelo nome, pois ainda não fomos apresentados, mas seu rosto me é familiar e sua experiência está bem vívida diante de mim.” Então ela falou àquele irmão sobre sua apostasia. Ela o encorajou a voltar e caminhar com o povo de Deus.

Em seguida, volvendo-se para uma mulher noutra parte do auditório, disse: “Essa irmã assentada perto da irmã Maynard, da igreja de Greenville; não sei dizer o seu nome porque não me foi dito, mas dois anos atrás seu caso me foi apresentado em visão e estou familiarizada com sua experiência.” Em seguida, a Sra. White a animou.

“Há aquele irmão atrás do carvalho. Não tenho condições de chamá-lo por nome, pois não o vi ainda, mas seu caso está claro para mim.” Então ela falou com ele, revelando seus mais íntimos pensamentos e abriu perante o auditório a experiência daquele homem.

Passando de um para outro, ela se dirigiu à congregação, falando do que lhe havia sido mostrado em visão, dois anos antes. Depois de a Sra. White concluir seu sermão, falando não apenas palavras de reprovação, mas também de animação, ela assentou. Alguém do grupo se levantou e disse: “Gostaria de saber se aquilo que a irmã White nos disse nesta tarde é verdadeiro. O Pastor e a Sra. White nunca haviam estado aqui antes; eles não estão familiarizados conosco. A Sra. White nem mesmo sabe o nome da maioria de nós e, todavia, ela vem aqui esta tarde e nos diz que dois anos antes recebeu uma visão na qual nossos casos lhe foram mostrados e então nos fala pessoalmente, um por um, expondo diante de todos nossa vida e nossos mais íntimos pensamentos. Tudo isso é verdade, em cada caso? Ou a Sra. White cometeu alguns erros? Eu gostaria de saber.”

Uma por uma as pessoas se manifestaram. O homem que estava junto ao pinheiro ficou em pé e disse que a Sra. White havia descrito seu caso melhor do que ele mesmo poderia fazê-lo. Ele confessou seu procedimento desobediente. E manifestou a decisão de voltar e continuar junto com o povo de Deus. A mulher sentada junto à irmã Maynard, da igreja de Greenville, também confirmou. Disse que a Sra. White tinha narrado sua vida melhor que ela teria feito. O homem junto ao carvalho disse que a irmã White havia apresentado seu caso de modo muito mais exato do que ele mesmo poderia expressar. Confissões foram feitas e os pecados foram abandonados. O Espírito de Deus desceu e houve um reavivamento em Bushnell.

 O Pastor e a Sra. White voltaram no sábado seguinte, quando foi realizado um batismo e organizada a igreja de Bushnell.

O Senhor amava Seu povo em Bushnell, assim como faz com todos aqueles que nEle esperam. “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”. Apocalipse 3:19. Esse texto deve ter sido lembrado por alguns dos presentes. Quando o povo viu o próprio coração assim como o Senhor o vê, compreendeu sua verdadeira condição e desejou mudar de vida. Esse é o real propósito de muitas das visões dadas à Sra. White.

Logo após a morte de Tiago White, em 1891, a Sra. White foi morar perto do Healdsburg College. Várias moças moravam em sua casa enquanto freqüentavam a escola. Era costume naquele tempo usar uma redezinha simples na cabeça para manter o cabelo assentado durante o dia. Certo dia, ao passar pelo quarto da Sra. White, uma das moças viu uma rede de cabelo muito bem feita, exatamente como a que ela estava querendo conseguir. Pensando que o objeto poderia estar perdido, ela o apanhou e pôs em cima de seu baú. Pouco depois, quando se vestia para sair, a Sra. White sentiu falta de sua redezinha. À noite, com a família reunida, a Sra. White perguntou sobre sua rede desaparecida, mas ninguém deu qualquer indicação de saber onde ela estava.

Um dia e pouco depois, quando a Sra. White estava passando pelo quarto daquela moça, uma voz lhe disse: “Abra aquele baú.” Como o baú não lhe pertencia ela não quis abri-lo. Na segunda ordem, ela reconheceu a voz como de um anjo. Quando ela ergueu a tampa do baú, viu por que o anjo lhe havia falado. Quando todos da casa se reuniram novamente, a Sra. White perguntou outra vez sobre a redinha, afirmando que ela não poderia ter desaparecido por si mesma. Ninguém disse nada e assim a Sra. White não prosseguiu com o assunto.

Poucos dias mais tarde, enquanto a Sra. White estava descansando de sua tarefa de escrever, foi-lhe dada uma brevíssima visão. Ela viu a mão de uma das moças deixar cair uma rede de cabelo sobre a lâmpada a querosene. Quando a rede tocou a chama, consumiu-se imediatamente numa labareda. Aí terminou a visão.

Ao a família se reunir, a Sra. White mais uma vez tocou no assunto do desaparecimento da rede, mas não houve confissão e ninguém parecia saber de seu paradeiro. Pouco depois, a Sra. White chamou aquela jovem e contou-lhe sobre a voz e o que ela havia visto no baú; então falou sobre a curta visão na qual vira uma rede de cabelo sendo queimada sobre uma lâmpada. Ao receber essa informação, a moça confessou ter apanhado a rede e a queimado com receio de ser descoberta. Ela acertou a questão com a Sra. White e com Deus.

Podemos pensar que essa era uma coisa insignificante para o Senhor Se preocupar: apenas uma rede de cabelo. Mas era uma questão de muito maior importância do que o valor de um objeto roubado. Estava envolvida uma jovem, membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela achava que tudo estava bem, e não percebia os defeitos de seu caráter. Não viu o egoísmo que a levou a roubar e enganar. Quando compreendeu quão importantes são as coisas pequenas e que Deus se interessou em dar uma visão à Sua ocupada mensageira aqui na Terra sobre uma rede de cabelo, essa moça começou a ver as coisas sob sua verdadeira luz. Essa experiência foi o momento decisivo de sua vida.

Essa é uma razão por que as visões foram dadas à Sra. White. Embora muitos dos testemunhos escritos pela Sra. White tenham aplicações bastante específicas, eles apresentam princípios que atendem às necessidades da igreja em cada lugar do mundo. A Sra. White deixou claro o propósito e o lugar dos testemunhos nestas palavras:

“Os testemunhos escritos não se destinam a comunicar nova luz; e sim a gravar vividamente na alma as verdades da inspiração já reveladas. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra Divina, mas poucos de vós obedecem a essa luz. Não se trata de apresentar outras verdades; mas, pelos Testemunhos, Deus simplificou importantes verdades já reveladas. […] Os testemunhos não foram dados para depreciar a Palavra de Deus, mas para exaltá-la e atrair as mentes para ela a fim de que a bela simplicidade da verdade possa impressionar a todos.” {CI 24.3}

Durante toda sua vida a Sra. White manteve a Palavra de Deus diante do povo. Ao encerrar seu primeiro livro, declarou:

“Recomendo, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de sua fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos ‘últimos dias’; não para estabelecer uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica.”

A visão que não podia ser contada

Durante uma série de reuniões em Salamanca, Nova York, em Novembro de 1890, na qual a Sra. White fez algumas palestras públicas para grandes audiências e ficou muito fraca, tendo contraído uma severa gripe em meio à viagem para lá. Após uma das reuniões, ela foi para seu quarto desanimada e doente. Desejava derramar seu coração perante Deus e suplicar misericórdia, saúde e forças. Ajoelhou-se ao lado de uma cadeira e, contando o que se passou, disse:

“Eu não tinha ainda proferido uma palavra, quando a sala pareceu encher-se de uma luz suave e prateada e me foram removidos o desapontamento e o desânimo. Fiquei cheia de conforto e esperança — senti a paz de Cristo.”

Então, Ellen recebeu uma visão. Após a visão, não quis dormir ou descansar. Ela fora curada e sentia-se recuperada.

Uma decisão precisava ser tomada pela manhã. Iria ela para o lugar onde as próximas reuniões deveriam ocorrer ou voltaria para seu lar em Battle Creek? A. T. Robinson, que dirigia a obra, e William White, filho da Sra. White, foram até seu quarto para saber a resposta. Eles a encontraram já vestida e bem de saúde. Ela estava pronta para sair e lhes contou acerca da cura. Falou-lhes sobre a visão e disse: “Gostaria de dizer-lhes o que me foi revelado na noite passada. Em visão, parecia-me estar em Battle Creek e o anjo mensageiro disse: “Siga-me.” Então ela hesitou. Não podia recordar-se da visão. Por duas vezes tentou contá-la, mas não se lembrava do que lhe fora mostrado. Nos dias que se seguiram, ela escreveu a respeito. Isso tinha relação com os planos que estavam sendo feitos para o periódico de liberdade religiosa, então chamado American Sentinel (Sentinela Americana).

“À noite, como que pude penetrar em várias reuniões e lá ouvi palavras proferidas por homens influentes que se o American Sentinel removesse a expressão “Adventista do Sétimo Dia” de suas colunas e nada dissesse sobre o sábado, os grandes homens do mundo iriam financiá-lo: ele se tornaria popular e faria uma grande obra. Isso parecia muito atrativo.

“Vi que seus rostos brilhavam e eles passaram a trabalhar no propósito de transformar o Sentinel num sucesso popular. Toda a questão foi apresentada por homens que necessitavam da verdade na mente e no espírito.”

Claramente o que ela viu era um grupo de homens discutindo a política editorial do periódico. Quando a reunião da Associação Geral foi aberta, em Março de 1891, a Sra. White foi convidada a falar cada manhã aos obreiros, às cinco e meia, e dirigir-se à assembleia de quatro mil pessoas reunidas no sábado à tarde. Seu texto para o sábado à tarde foi: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.” Todo o sermão foi um apelo aos adventistas do sétimo dia para que falassem abertamente sobre as distintivas características de sua fé. Por três vezes durante a reunião ela começou a falar da visão de Salamanca, mas foi impedida. Os eventos da visão simplesmente desapareceram de sua memória. Então ela disse: “Acerca disso, terei muito a dizer mais tarde.” Ela completou seu sermão em cerca de uma hora e o encontro foi encerrado. Todos notaram que ela era incapaz de rememorar a visão.

O presidente da Associação Geral aproximou-se dela e perguntou-lhe se faria abertura da reunião da manhã.

“Não”, ela respondeu, “estou cansada; eu já dei meu testemunho. Vocês devem fazer outros planos para a reunião da manhã.” E assim se fez.

Quando a Sra. White voltou para sua casa, disse aos membros da família que não assistiria à reunião da manhã, que estava cansada e iria repousar. Em seguida, foi dormir e, no domingo de manhã, os planos foram traçados.

Naquela noite, após o encerramento da sessão da Associação Geral, um pequeno grupo de homens reuniu-se em um dos escritórios do prédio da Review and Herald. Na manhã seguinte, estavam presentes à reunião representantes da casa publicadora que editavam o American Sentinel e também representantes da Associação de Liberdade Religiosa. Eles se reuniram para discutir e solucionar uma questão preocupante — a política editorial do American Sentinel. A porta foi fechada e todos concordaram que ela não se abriria até que o problema fosse resolvido.

Pouco antes das três da madrugada de domingo, a reunião se encerrou com um impasse, e a declaração da Associação de Liberdade Religiosa de que, a menos que a Pacific Press atendesse às suas exigências e retirasse as expressões “adventista do sétimo dia” e “sábado” de suas colunas, ela não mais poderia considerar esse periódico como órgão da Associação de Liberdade Religiosa. Isso significava acabar com a publicação. Eles abriram a porta e os homens foram para seus aposentos a fim de dormir.

Mas Deus, que nunca dormita ou tosqueneja, enviou Seu anjo mensageiro ao quarto de Ellen White às três horas daquela madrugada. Ela foi despertada e instruída a ir à reunião dos obreiros às cinco e meia, e ali apresentar o que lhe fora mostrado na visão de Salamanca. Ellen vestiu-se, foi até sua escrivaninha e apanhou o papel no qual ela havia feito o registro do que lhe fora mostrado em Salamanca. À medida que a cena lhe vinha à mente com clareza, ela a descrevia melhor.

 Os ministros estavam ainda se levantando da oração no tabernáculo, e a Sra. White foi vista vindo em direção à porta com um maço de manuscritos debaixo do braço. O presidente da Associação Geral dirigiu-se a ela:

“Irmã White”, disse ele, “estamos felizes em vê-la. A senhora tem uma mensagem para nós?”

“Realmente tenho”, ela respondeu e caminhou até a frente. Então recomeçou justamente onde havia parado no dia anterior. Disse que às três horas daquela madrugada havia sido despertada e instruída a ir até a reunião de obreiros às cinco e meia e aí apresentar o que lhe havia sido mostrado em Salamanca.

Ela disse: “Em visão, parecia-me estar em Battle Creek. Fui levada aos escritórios da Review and Herald e o anjo mensageiro ordenou-me: ‘Siga-me.’ Entrei numa sala onde um grupo de homens discutia acaloradamente certo assunto. Houve manifestação de zelo, mas não de acordo com o conhecimento.” Ela contou como estavam discutindo a política editorial do American Sentinel, e acrescentou: “Vi um dos homens apanhar um exemplar do Sentinel, ergue-lo acima de sua cabeça e dizer: ‘A menos que os artigos sobre o sábado e o segundo advento sejam retirados deste periódico, não podemos mais considerá-lo como um órgão da Associação de Liberdade Religiosa’.” Ellen White falou durante uma hora, descrevendo a reunião que lhe havia sido mostrada meses antes, e deu conselhos baseados nessa revelação. Então se assentou.

O presidente da Associação Geral não sabia o que pensar a respeito. Ele não havia ouvido falar de tal reunião. Porém, não precisaram esperar muito tempo por uma explicação, pois um homem se levantou no fundo da sala e começou a falar:

“Eu estive nesse encontro na noite passada.”

“Noite passada!” A Sra. White observou: “Noite passada? Eu pensei que essa reunião tinha ocorrido meses atrás, quando ela me foi mostrada em visão.”

“Eu estive nesse encontro na noite passada”, disse o homem, “e eu sou quem fez as observações sobre os artigos do jornal, erguendo-o acima de minha cabeça. Sinto muito dizer que eu estava do lado errado, mas aproveito esta oportunidade para colocar-me do lado certo.” Em seguida, assentou.

Outro homem levantou-se para falar. Era o presidente da Associação de Liberdade Religiosa. Note suas palavras: “Eu estive presente nessa reunião. Na última noite, após o encerramento da assembleia, alguns de nós nos reunimos em meu gabinete, nos escritórios da Review, onde estávamos de portas fechadas para discutir as questões e o assunto que nos foi apresentado nesta manhã. Ficamos ali até as três horas desta madrugada. Se eu começasse a dar uma descrição do que aconteceu e das atitudes daqueles que lá estavam, não poderia fazê-lo com tanta exatidão e correção como o fez a Sra. White. Vejo que eu estava errado e que a posição que tomei não era correta. Pela luz que nos foi comunicada nesta manhã, reconheço que estava equivocado.”

Outros falaram naquele dia. Cada homem que estava na reunião na noite anterior ficou em pé e deu seu testemunho, dizendo que Ellen White havia descrito pormenorizadamente a reunião e as atitudes daqueles que lá estavam. Antes que terminasse aquele encontro no domingo de manhã, o grupo da Liberdade Religiosa se reuniu e anulou a decisão tomada poucas horas antes.

Se a Sra. White não fosse impedida e houvesse relatado a visão na tarde de sábado, sua mensagem não teria servido ao propósito que Deus tinha em mente, pois a reunião ainda não teria acontecido.

De algum modo, os homens não teriam aceitado o conselho geral dado no sábado à tarde. Eles pensavam que sabiam mais. Talvez arrazoassem como alguns fazem hoje: “Bem, talvez a Irmã White não tenha entendido” ou “Estamos vivendo em tempos diferentes” ou ainda “Aquele conselho foi aplicado há muitos anos, mas hoje ele não se aplica.” Os pensamentos que Satanás sussurra em nossos ouvidos hoje são os mesmos com o quais tentou nossos pastores em 1891. Deus, em Seu tempo e a Seu modo, deixou claro que esta é a Sua obra; que Ele a estava guiando e guardando; Ele estava com Sua mão ao leme. Ellen White nos fala que Deus “tem frequentemente permitido que certas situações cheguem à crise, para que Sua interferência possa tornar-se marcante. Então Ele torna manifesto que há um Deus em Israel.”

Os Testemunhos e o leitor

Durante setenta anos, Ellen G. White falou e escreveu o que Deus lhe revelava. Muitas vezes os conselhos foram dados para corrigir aqueles que se desviavam da verdade bíblica. Outras vezes apontavam o rumo que Deus queria que Seu povo seguisse. Vários Testemunhos tratavam do modo de vida, do lar e da Igreja. Como os membros da Igreja receberam essas mensagens?

No início de seus trabalhos, os líderes examinaram sua obra para se assegurar de que a manifestação do dom de profecia era genuína. O apóstolo Paulo admoestou: “Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom”. 1 Tessalonicenses 5:20, 21. Os testes bíblicos de um profeta foram aplicados à obra da Sra. White. Sobre isso ela escreveu:

“Esta obra é de Deus ou não é. Deus nada faz em parceria com Satanás. Minha obra nos últimos trinta anos traz o selo de Deus ou o selo do inimigo. Não há meio-termo nesse assunto.”

A Bíblia nos fornece quatro testes básicos pelos quais o profeta deve ser examinado. A obra da Sra. White resistiu a cada um deles:

1. A mensagem do verdadeiro profeta deve estar em harmonia com a Lei de Deus e as mensagens dos profetas. Isaías 8:20.

Os escritos de Ellen G. White exaltam a Lei de Deus e sempre conduzem os homens e as mulheres à Bíblia em sua integralidade. Ela aponta para a Bíblia como a única regra de fé e prática e como a luz maior para a qual seus ensinos, “a luz menor” conduzem.

2. As predições do verdadeiro profeta devem ocorrer dentro de um contexto de condicionalidade. Jeremias 18:7-10; 28:9. Conquanto a obra da Sra. White seja muito semelhante à de Moisés, de liderar e guiar o povo, todavia ela escreveu de maneira profética acerca de muitos eventos a ocorrer. No início de nossa obra de publicações, em 1848, ela falou com respeito a como essa obra circundaria o mundo com luz. Hoje os adventistas do sétimo dia publicam literatura em mais de 200 línguas, num total avaliado em mais de 100 milhões de dólares por ano.

Em 1890, quando o mundo declarava que não haveria mais guerras e o milênio estava prestes a alvorecer, ela escreveu: “Aproxima-se a tempestade, e precisamos aprontar-nos para sua fúria. […] Veremos aflições por todos os lados. Milhares de navios serão arremessados para as profundezas do mar. Esquadras se submergirão, sendo sacrificados milhões de vidas humanas.” Isso se cumpriu nas duas guerras mundiais.

3. O verdadeiro profeta confessará que Jesus Cristo veio em carne, que Deus Se revestiu da carne humana. 1 João 4:2.

A leitura do O Desejado de Todas as Nações deixa claro que a obra de Ellen G. White foi passou nesse teste. Observe estas palavras:

“Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai. Poderia haver retido a glória do Céu, e as homenagens dos anjos. Mas preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai, e descer do trono do Universo, a fim de trazer luz aos que estavam nas trevas, e vida aos que estavam prestes a perecer. […]

“Cerca de dois mil anos atrás, ouviu-se no Céu uma voz de misteriosa significação, saída do trono de Deus: ‘Eis aqui venho.’ ‘Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste. […] Eis aqui venho (no rolo do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade’. Hebreus 10:5-7. Nestas palavras anuncia-se o cumprimento do desígnio que estivera oculto desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo, e a encarnar. […] Aos olhos do mundo, não possuía beleza para que O desejassem; e não obstante era o encarnado Deus, a luz do Céu na Terra. Sua glória estava encoberta, Sua grandeza e majestade ocultas, para que pudesse atrair a Si os tentados e sofredores.”

4. Talvez a prova mais importante do verdadeiro profeta seja encontrada em sua vida, obra e influência de seus ensinos. Cristo anunciou esse teste em Mateus 7:15, 16: “Por seus frutos os conhecereis.”

Ao vermos os frutos manifestados na vida daqueles que têm atendido aos conselhos do Espírito de Profecia constatamos que são bons. Os testemunhos têm produzido bons frutos. Quando olhamos para a igreja, sabendo que temos sido conduzidos por várias linhas de atividade por esses conselhos, temos de reconhecer que a obra da Sra. White foi mensurada por essa prova. A unidade de ensino nos escritos preparados num período de mais de setenta anos, também dá positivo testemunho da integridade do dom.

Provas práticas de um verdadeiro profeta

Além dessas quatro grandes provas bíblicas, o Senhor têm dado evidências que deixam claro que a obra possui Sua direção. Entre essas estão:

1. A oportunidade da mensagem. O povo de Deus acha-se em especial necessidade e a mensagem vem justamente a tempo de atendê-la, como aconteceu com a primeira visão dada à Sra. White.

2. A natureza prática de suas mensagens. A informação revelada à Sra. White nas visões era de cunho prático, atendendo a necessidades práticas. Observe o modo com que os conselhos do testemunho se aplicam de modo prático à nossa vida diária.

3. O elevado plano espiritual das mensagens. Elas não tratam de assuntos insignificantes ou comuns, mas de grandes e elevados temas.

4. A maneira como as visões foram dadas. Muitas das visões foram acompanhadas por fenômenos físicos já descritos aqui. A experiência da Sra. White em visão foi similar à dos profetas bíblicos.

5. As visões eram experiências definidas e não apenas impressões. Em visão, a Sra. White via, ouvia, sentia e recebia instrução de anjos. As visões não poderiam ser consideradas excitação ou imaginação.

6. A Sra. White não era controlada por aqueles que a cercavam. Para um homem ela escreveu: “Você acha que as pessoas podem influenciar minha mente. Se assim é, então não me pode ser confiada a obra de Deus.”

7. Sua obra foi reconhecida pelos contemporâneos. Tanto aqueles na Igreja que viveram e trabalharam com ela, como muitos outros que não pertenceram à igreja, todos a reconheceram como “a mensageira do Senhor”. Os mais íntimos tinham grande confiança em seu chamado e obra.

O quádruplo teste bíblico e as evidências adicionais anteriormente apresentadas nos garantem que a obra de Ellen G. White procede de Deus, e é digna de inquestionável confiança.

Os muitos livros de E. G. White estão cheios de conselhos e instruções de valor permanente para a Igreja. Quer esses testemunhos sejam de natureza mais geral quer dirigidos a famílias e indivíduos, eles nos são proveitosos hoje em dia. A esse respeito, a Sra. White diz: “Visto as advertências e instruções ministradas por meio de testemunhos a casos individuais se aplicarem com igual propriedade a muitos outros que não foram neles especialmente mencionados, pareceu-me um dever publicar esses testemunhos individuais em benefício da Igreja. […] Não conheço melhor meio de apresentar o meu modo de ver acerca dos erros e perigos gerais, bem como acerca dos deveres dos que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos, do que publicar estes testemunhos.” É uso errôneo dos testemunhos lê-los a fim de encontrar algum ponto no qual a condenação de um membro da Igreja possa encontrar base. Os testemunhos nunca devem ser usados como uma clava para obrigar algum irmão ou irmã a ver as coisas justamente como os outros as veem. Há assuntos que precisam ser deixados para o indivíduo resolver a sós com Deus.

Os conselhos deveriam ser estudados visando a encontrar os princípios básicos que se aplicam à nossa vida hoje. O coração humano é o mesmo em todo o mundo; os problemas de um são frequentemente os problemas de outro. Ellen White escreveu: “Na repreensão dos erros de um, Deus pretende corrigir a muitos.” “Ele torna claro os erros de alguns para que outros sejam assim advertidos.”

Próximo ao fim de sua existência, a Sra. White deu o seguinte conselho:

“Por meio de Seu Santo Espírito a voz de Deus nos tem vindo continuamente em advertências e instruções […] O tempo e a provação não anularam as instruções dadas […] As instruções dadas nos primeiros tempos da mensagem, devem ser conservadas como instruções dignas de confiança para se seguirem nesses seus dias finais.”

Os conselhos que se seguem foram extraídos de vários livros de E. G. White, mas principalmente dos três volumes dos Testemunhos Seletos, a edição mundial dos Testemunhos Para a Igreja, e representam as linhas de instrução entendidas como as mais úteis para a Igreja, em áreas onde as limitações dos membros da Igreja tornam impossível a publicação de mais que um único volume de tamanho moderado. A obra de selecionar e arranjar esses conselhos foi feita por uma grande comissão sob autorização do Conselho Administrativo dos Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White, a quem foi designada a responsabilidade de cuidar dos conselhos do Espírito de Profecia. As seleções são sucintas e restritas à declaração de princípios básicos práticos; assim uma ampla gama de assuntos foi incluída.

“Crede no Senhor, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos Seus profetas e prosperareis”. 2 Crônicas 20:20.

 

Depositários do Patrimônio Literário de Ellen G. White Washington, D.C. 22 de Julho de 1957. Revisado em 1 de Janeiro de 1990.