Teologia

domingo, 27 de março de 2016

AS BOAS NOVAS DA TUMBA VAZIA



Ricardo André

“Ele não está aqui; Ressuscitou” (Mt 28:6). Essas palavras triunfantes, ditas pelo anjo às mulheres, no domingo de manhã diante da tumba vazia de Jesus, são importantíssimas para nós, porque declaram, de modo inequívoco, que o poder da morte foi para sempre quebrado por Aquele que tem as chaves da morte e do sepulcro. O império da morte foi derrotado por Aquele que mergulhou nas profundezas do abismo e de lá retornou vitorioso.

A ressurreição de Cristo – uma verdade revolucionária

Os incrédulos de todas as épocas, entretanto, têm procurado achar outras explicações para a tumba vazia. A primeira delas foi dada pelos escribas e fariseus, que subornaram os soldados em guarda no sepulcro, para que divulgassem a notícia de que os discípulos haviam roubado o corpo de Jesus enquanto os guardas dormiam (Mt 28:11-15). Mas como poderiam os soldados saber isso se estavam dormindo?

Segundo a lei, os soldados que fossem encontrados adormecidos eram condenados à morte. Mas a história não diz que aqueles que falharam na guarda do sepulcro foram executados. Ademais, seria ridículo admitir que um grupo de pescadores amedrontados, sem armas, perplexos e confusos, ousasse surpreender os soldados romanos, violando a tumba de Jesus. E como violar a tumba, se uma pesada pedra havia sido colocada à sua entrada?

Se os discípulos tivessem roubado o corpo de Jesus, teríamos de acreditar em algo muito difícil do que a própria ressurreição, isto é, que o fenômeno moral do cristianismo e a pregação do evangelho pelos apóstolos brotou da fraude e da hipocrisia. Teríamos de crer que os apóstolos, tendo ocultado o corpo de Jesus em algum lugar, saíram com incontido entusiasmo e ousadia, prontos a sofrer perseguição e morte por amor do evangelho, pregando o Cristo ressurreto, sabendo que era tudo mentira.

Leon Tolstói escreveu seu grande e criativo romance Guerra e Paz sobre diversas famílias aristocráticas russas durante o tempo da guerra de Napoleão contra a Rússia, no início do século XIX. A história, em si, os personagens, sua vida, eram ficção. Ele criou tudo.

Agora, imagine Tolstói insistindo que essas pessoas, de fato, eram reais e que realmente haviam vivido e feito como ele havia escrito. Suponha também que as autoridades lhe ordenassem para de dizer ao povo que seus personagens eram reais, caso contrário ele seria preso e até morto. A menos que fosse louco, Tolstói pararia, você não acha? Por que morrer insistindo em divulgar uma história que ele havia criado e saber ser mentirosa?

De certo modo, este é o dilema dos críticos da ressurreição de Jesus: por que os escritores da Bíblia haveriam de criar a história de que Jesus havia ressuscitado se isso não houvesse acontecido? Não é porque eles haveriam de ficar ricos, populares ou bem-sucedidos promovendo essa história; ao contrário, eles enfrentaram ostracismo, perseguição, tortura, prisão e, em alguns casos, a morte. Por que passar por tudo isso com uma história criada propositalmente?

Após Sua ressurreição, Jesus apareceu numerosas vezes aos Seus seguidores. Evidentemente, Ele queria que tivessem uma forte convicção sobre quem Ele era e o que havia feito. E funcionou. De um grupo abatido, espalhado e assustado (Mt 26:56; Mc 14:50; Lc 24:17; Jo 20:19) eles se tornaram um grupo espiritualmente poderoso de homens e mulheres que proclamavam corajosamente a vida, a morte e a ressurreição de Jesus, o Messias de Israel e do mundo. Obviamente, eles criam que Jesus tinha ressuscitado, pois dedicaram o restante da vida a proclamar aquela verdade (I Co 15:3-6).

A escritora cristã Ellen G. White escreveu: Durante esses dias que Cristo passou com os discípulos, eles adquiriram nova experiência. Ao ouvirem o querido Mestre explicar-lhes as Escrituras à luz de tudo quanto acontecera, sua fé foi inteiramente firmada nEle. Chegaram ao ponto em que podiam declarar: ‘Eu sei em quem tenho crido’. II Tim. 1:12. Começaram a compreender a natureza e extensão de sua obra e a reconhecer que deveria proclamar ao mundo as verdades a eles confiadas. Os acontecimentos da vida de Cristo, Sua morte e ressurreição, as profecias que apontavam para esses acontecimentos, os mistérios do plano da salvação, o poder de Jesus para remissão de pecados – de todas essas coisas haviam eles sido testemunhas e deviam torna-las conhecidas ao mundo. Deviam proclamar o evangelho de paz e salvação mediante o arrependimento e o poder do Salvador” (Atos dos Apóstolos, p. 27).

Nossa esperança de ressurreição fundamenta-se na ressurreição de Cristo

A única explicação aceitável para a turma vazia é a ressurreição. E porque Ele ressuscitou, nossa esperança não é vã. O apóstolo Paulo afirma que sem a ressurreição, nossa fé é “vã” (I Co 15:17). Sem ela, tudo seria escuridão e morte. O desespero teria a palavra final, e nossa pregação seria loucura. Foi a ressurreição que projetou a igreja e levou o Novo Testamento a ser escrito. Ela confere credenciais à pregação. Confere poder para realizarmos obras de amor e compaixão em nome de Jesus Cristo. Se não cremos nela, não somos seus discípulos.

Além disso, a ressurreição é confortadora. Sem ela, na presença da morte, não veríamos significado em nada. O apóstolo Paulo afirma que Jesus é “as primícias dos que dormem” (I Co 15:20). Ele é o penhor da vida para todos os que adormeceram nEle. Esta é a confiança e nossa certeza, nossa fortaleza e refúgio. Tudo o que temos agora é um sono temporário; o castigo final, a punição eterna que o pecado traz já foi resolvido na cruz. Os redimidos, vivos ou falecidos, estão simplesmente esperando pela consumação do que Cristo fez por eles. Nossa ressurreição para a vida eterna é a consumação final. Ao depositar nossos queridos, amigos e parentes na sepultura, ainda podemos cantar o hino Porque Ele Vive, do HASD, 70:

1. Deus enviou Seu Filho amado
Para sofrer em meu lugar;
Na cruz morreu mas vivo agora está,
Pois ressurgiu e para sempre viverá.

Coro:
Porque Ele vive, posso crer no amanha;
Porque Ele vive, temor não há
Eu sei que minha vida não será mais vã,
Pois meu futuro em Suas mãos agora está.

2. Quão grato é viver com Cristo,
E desfrutar Seu doce amor,
E certo estar de Sua proteção,
Nos dias calmos ou nas horas de aflição.

3. E quando, enfim, chegar a hora
De aqui cessar o meu viver,
Não temerei, pois Cristo vivo está,
E eu viverei , pois, vida nova me dará.

As palavras de Cristo ressoam em meio à dramática realidade: “Porque Eu vivo, vós também vivereis” (Jo 14:19). Porque Ele vive, a morte não é o ponto final. Louvado seja Deus!

Após anunciar as mulheres que Jesus havia ressuscitado, o anjo disse: “Venham ver o lugar onde ele jazia. Vão depressa e digam aos discípulos dele: ‘Ele ressuscitou dentre os mortos (...)” (Mateus 28:6,7, NVI). Note especialmente que o anjo não disse apenas: “Venham ver”, mas também:  “Vão depressa e digam”. Portanto, caro amigo leitor, vá hoje, e conte a seus colegas de trabalho e de escola, aos seus familiares e a seu companheiro de ônibus ás boas novas da tumba vazia.


quinta-feira, 24 de março de 2016

A AGONIA E SOFRIMENTO NO GETSÊMANI QUE NOS DERAM SALVAÇÃO



Ricardo André

Na quinta-feira da Semana da Paixão, 13 de Nisan do Calendário judaico, terminara todo o trabalho pessoal e público de Jesus como Mestre itinerante. Iniciava agora sua caminhada em direção à cruz, para redimir a raça caída. O verdadeiro Cordeiro Pascoal estava para ser imolado (Jo 1:29; I Co 5:7).

À noite, consequentemente, já era 14 de Nisan, Jesus entrou no Horto do Getsêmani com os Seus três discípulos mais íntimos e pediu-lhes que orassem e vigiassem, para que não entrassem em tentação.  Ali, Jesus travou uma das batalhas mais dramáticas contra as hostes do mal. "Foi  ali que o misterioso cálice tremeu na mão de Cristo. Ali o destino de um mundo perdido ficou em jogo. Ele recusaria ser o penhor da raça humana? Satanás cercou a humanidade de Jesus com um horror de grande escuridão, tentando-O a pensar que Deus O havia abandonado".

"Os mundos não caídos e os anjos celestiais observaram com intenso interesse, à medida que o conflito se aproximava do fim. Satanás e sua confederação do mal, as legiões da apostasia, observavam com toda atenção essa grande grise na obra da redenção. Os poderes do bem e do mal aguardavam para ver que resposta seria dada à oração que Cristo repetiu por três vezes. em meio a essa crise terrível, quando tudo estava em jogo , quando o cálice misterioso tremeu na mão do Sofredor, os céus se abriram, uma luz brilhou em meio às trevas  tempestuosas da hora da crise, e um anjo que permanece na presença de Deus, ocupando a posição da qual Satanás caiu, apareceu  ao lado de Cristo. Que mensagem ele trouxe? [...] Disse-lhe que não precisaria tomar o amargo cálice, que não necessitaria carregar a culpa da humanidade?"

"O anjo não foi tirar o cálice da mão de Cristo, mas fortalecer o Salvador para que o tomasse, assegurando-Lhe do amor do Pai. Foi dar poder ao Suplicante divino-humano. O anjo apontou para os céus abertos, contando-Lhe acerca das almas que seriam salvas como resultado de Seus sofrimentos [...]. Deu-Lhe a certeza de que Seu Pai era maior e mais poderoso do que Satanás, que Sua morte resultaria na total derrota de Satanás e que o reino deste mundo seria dado aos santos, pois contemplaria a multidão dos remidos salvos, eternamente salvos" (Ellen G. White, Signs of the Times, 3 de junho de 1897; Citado em Meditações Diárias 2018, p. 158).

Ele sofre em agonia e dor, apegando-se ao Pai em oração. “Pai, se possível, passa de Mim este cálice” (Mt 26:35). O pensamento da cruz que O aguardava enchia-O de horror e medo. Tamanha foi sua angústia “que o Seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22:44). “Enquanto o Filho de Deus Se achava curvado no Getsêmani, em atitude de oração, a angústia de espírito que experimentava Lhe forçou dos poros um suor como grandes gostas de sangue. Foi ali que O circundou o horror de grandes trevas. Achavam-se sobre Ele os pecados do mundo. Ele estava sofrendo em lugar do homem, como transgressor da lei do Pai. Ali teve lugar a cena da tentação. A divina luz de Deus ia-Lhe fugindo ao olhar, e Ele passando às mãos dos poderes das trevas. Em angústia mental, jazia prostrado na terra fria. Experimentava o desagrado do Pai. Tomara dos lábios do homem culpado o cálice do sofrimento, e propusera-Se a bebê-lo Ele próprio, dando em troca ao homem a taça da bênção. A ira que devia ter caído sobre o homem, caía agora sobre Cristo. Foi ali que o misterioso cálice Lhe tremeu na mão” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, vol. 2, p. 203).

O coração de Cristo estava tão profundamente ferido de pesar que Ele já estava derramando Seu sangue pelos pecados da humanidade, mesmo antes de os cravos do Gólgota atravessarem Suas mãos. Bebeu o fel da nossa culpa e vergonha a fim de nos dar o néctar da Sua inocência e misericórdia. Por nós, esvaziou o cálice da ira a fim de oferecer em seu lugar o cálice da reconciliação.

A decisão que salvou o mundo

Jesus poderia abandonar este mundo à sua sorte e voltar para Seu trono de glória no Céu, mas por amor, sabendo que Seu sacrifício vicário era nossa única esperança, segue em frente, decidiu cumprir o plano de misericordiosa intervenção em nosso favor. Ele e o Pai haviam traçado esse plano muito antes que surgisse a necessidade (I Pedro 1:18-20; Ap 13:8). Misericórdia e amor infinitos estavam frente a frente com desenfreada maldade e ódio declarado.

“Três vezes proferiu essa oração. Três vezes recuou Sua humanidade do derradeiro, supremo sacrifício. Surge, porém, então, a história da raça humana diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores da lei, se deixados a si mesmos, tem de perecer. Vê o desamparo do homem. Vê o poder do pecado. As misérias e os ais do mundo condenado erguem-se ante Ele. Contempla-lhe a sorte iminente, e decide-Se. Salvará o homem custe o que custar de Sua parte. Aceita Seu batismo de sangue, para que, por meio dEle, milhões de almas a perecer obtenham a vida eterna. Deixou as cortes celestiais, onde tudo é pureza, felicidade e glória para salvar a única ovelha perdida, o único mundo caído pela transgressão. E não se desviará se Sua missão. Sua prece agora respira submissão: “Se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se a tua vontade”.

“Havendo tomado a decisão, cai moribundo no solo do qual se erguera parcialmente. Onde se achavam então os discípulos, para pôr ternamente as mãos sob a cabeça do desfalecido Mestre, e banhar aquela fronte, na verdade mais desfigurada que a dos outros filhos dos homens? O Salvador pisou sozinho o lagar, e do povo nenhum com Ele havia”.

“Mas Deus sofria com Seu Filho. Anjos contemplavam a agonia do Salvador. Viam seu Senhor circundado de legiões das forças satânicas, Sua natureza vergada ao peso de misterioso pavor que tudo O fazia tremer. Houve silêncio no Céu. Nenhuma harpa soava. Pudessem os mortais ter testemunhado o assombro das hostes angélicas quando, em silenciosa dor, observavam o Pai retirando de Seu bem-amado Filho os raios de luz, amor e glória, e melhor compreenderiam quão ofensivo é aos Seus olhos o pecado” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 692, 693).

Mesmo enquanto Cristo estava implorando por foças para salvar a humanidade culpada e perdida, um turbilhão de traição e deslealdade contra Ele estava ganhando ímpeto. Satanás se esforçava com todo o vigor para desencorajá-Lo, traído por Judas, que o vendeu por trinta moedas de prata, foi preso, abandonado por Seus discípulos, que fugiram com medo. Foi levado naquela noite de páscoa perante Anás e depois a Caifás, o sumo sacerdote, numa reunião noturna do Sinédrio, presidido por ele (Mt 26:57-59). Anás, querendo acusar a Jesus de sedição e formação de um grupo secreto de oposição ao poder romano dominante, como única forma de condená-Lo à morte, nada consegue. Permite que Jesus seja esbofeteado, cuspido e zombado. “Então Anás o enviou manietado”, ou seja, com as mãos atadas, “à presença de Caifás, o sumo sacerdote” (Jo 18:24).

Procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de O condenarem à morte (Mt 26:59). Entre muitas falsas testemunhas, duas acusaram-No de que “poderia destruir o santuário de Deus e reedificá-lo em três dias” (v. 61). Jesus permaneceu em silêncio, numa muda resposta de concordância e noutras vezes de negação. “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca (...) como ovelha muda perante os seus tosqueadores, Ele não abriu a boca” (Is 53:7).

Cristo morreu como nosso Substituto

Cristo morreu por nós, como nosso substituto, provando a morte por todas as pessoas. Era Ele o único sem pecado, mas Deus “fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós”. Ele “foi esmagado por causa de nossas iniquidades”,  as suas e as minhas. Apresentando-Se como voluntário para receber o “castigo” por nossos pecados, Ele foi “traspassado por causa das nossas transgressões”. Pelas Suas fatais feridas “fomos sarados” e recebemos vida eterna (Is 53:5, 6). Cristo não hesitou em pagar o supremo preço para redimir-nos. Se necessário, Ele estaria disposto a sofrer a morte eterna para que, mediante a Sua morte, encontrássemos nosso caminho para Deus. Cristo aceitou morrer em nosso lugar, recebendo a justa penalidade por nosso pecado e culpa. Foi por isso que Ele morreu – por você e por mim.

Querido amigo leitor, naquela quinta-feira, Judas, Anás, Caifás e muitos outros fizeram a escolha errada, desprezando a Jesus Cristo, Deus que se fez homem (Jo 1:1-3, 14), nosso Salvador. Pedro, embora cristão, servo de Deus falhou na hora da provação. Negou a Jesus, mas voltou-se para o Seu querido Senhor e se converteu.

Qual é a nossa escolha hoje? Embora falhos e vacilantes, podemos unir-nos a Pedro no arrependimento de nossos pecados. Converter-nos a Deus e seguir em frente, numa caminhada vitoriosa com Jesus.

Você deseja ser um fiel discípulo de Jesus? “Nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19). Ame aquele que sempre amou você.


terça-feira, 22 de março de 2016

A GLÓRIA DA CRUZ



Ricardo André

Estando em Corinto, Paulo foi informado de que nas igrejas da Galácia alguns judeus legalistas procuravam deliberadamente “transformar o Evangelho de Cristo” (Gl 1:7), confundindo os fiéis a aceitar um novo evangelho. Esses agitadores judaizantes persuadiam os crentes a observarem as leis cerimoniais, como a circuncisão, como meio de salvação. A falta deste sinal excluía a alguém da semente de Israel. Desse modo, a salvação passou a ser considerada como algo obtido apenas por merecimento, e não recebida como uma dádiva da graça. (Gl 5:3,4).

Os agitadores judaizantes se gloriavam da circuncisão, e se orgulhavam do grande número de gentios que foram capazes de conquistar. Se os judaizantes tinham sucesso em conseguir prosélitos, receberiam louvor e glória dos judeus ortodoxos. Seu propósito era evidentemente conseguir convencer piedosos compatriotas judeus de que, como cristãos, ainda eram bons judeus, e dessa forma conseguiriam o favor das autoridades judias! Demonstrando zelo pela lei, esperavam evitar a perseguição.

Mas, no final de sua carta ele registrou sua confiança inquebrantável naquilo que ele considerava o centro do evangelho: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gálatas 6:14). É impressionante! O apóstolo Paulo disse que orgulhava-se na CRUZ de Cristo. Que queria Paulo dizer quando ele se gloriava na cruz de Cristo?

 A Cruz – instrumento de Vergonha e Tortura Infernal

Nos dias contemporâneos de Cristo e mesmo depois, a cruz era evidentemente a pena mais ignominiosa e que inspirava maior angústia, como entre nós era a forca em outros tempos (Hb 12:2). Ser condenado à cruz era incorrer no escárnio e na maior desonra pública. Os sofrimentos da crucificação eram extremos, horrorosos e crudelíssimos. Tão terríveis eram que não é possível termos hoje uma ideia real. A cruz, enfim, era considerada um instrumento de vergonha e tortura infernal.

Era olhada com um sentimento de repulsa e horror. A crucificação constituía uma maldição (Gl 3:13; Dt 21:22 e 23). Passada que foi a morte de Cristo, os mais zelosos de Seus seguidores consideraram a cruz de modo inteiramente diferente. Paulo gloriava-se na cruz de Cristo, significando, por este modo, a expiação resultante da Sua morte no Calvário (Ef 2:16; Cl 1:20). Para o cristianismo a cruz não mais é um símbolo de ignomínia, vergonha e castigo. Antes, é um símbolo de vitória e perdão. De sacrifício e redenção. De sofrimento e alegria da salvação. Para a alma crente, a remoção da Cruz seria como o apagar do Sol, deixando o mundo mergulhado em trevas. Não que adoremos duas pranchas de madeira, mas ali nosso Senhor morreu e isto nos convida para sempre a considerar a ação salvífica de Deus.

Gloriar-se na cruz de Cristo significa confiar totalmente no que Deus está fazendo por meio do que Jesus fez por nós na cruz. É orgulhar-se no que Deus e Cristo conseguiram para nós no Calvário, que é a salvação. Centrando a salvação em Jesus Cristo e no que Ele fez por nós, o Senhor mudou o centro da atenção para fora de nós mesmos, que somos o problema, e o coloca em JESUS, a única solução. Percebendo nossa total incapacidade de fazer qualquer coisa para nos salvar, somos forçados a confiar em algo que está fora de nós, algo maior, mais santo e mais poderoso do que nós, que é, evidentemente, o “Senhor, Justiça Nossa”  (Jr 23:6).

A Cruz exclui totalmente qualquer coisa que você possa fazer para encontrar salvação. Somente Deus podia tornar a cruz de Cristo a rota para a vida. Se a salvação dependesse de qualquer coisa que pudéssemos fazer, o Filho de Deus, ao assumir a humanidade, vivendo como homem uma vida de perfeita obediência ao Pai, e então indo para a cruz, onde enfrentaria a ira divina contra o pecado, onde todos os pecados do mundo cairiam sobre Ele, onde Ele se tornaria pecado por nós, onde seria julgado e condenado em nosso lugar, onde morreria como substituto de todo o mundo – tudo isso ainda não seria suficiente? A simples ideia de comprar a nossa salvação por nossas obras, esforço debilita automaticamente em nossa mente tudo o que Deus realizou por nós. O que mais qualquer um de nós – isto é, qualquer pecador – pode fazer para completar o que foi feito por nós na cruz?

É loucura e confusão tentar acrescentar algo ao plano completo e perfeito de Deus com nossas ações meritórias, como se pudéssemos abater qualquer parte da nossa dívida moral como transgressores. Não temos qualquer justiça pela qual possamos gerar obras aceitáveis, muito menos compensar ou expiar nossa natureza decaída e nossas más ações. (Is 64:6). A tentativa de acumular justiça, mesmo que seja indiretamente, através dos méritos da criatura, é uma profanação e depreciação do sacrifício expiatório de Cristo. É demonstração de menosprezo pelo custo elevado da nossa salvação e pela natureza humanamente incurável do pecado.

O apóstolo Paulo afirma: “Pois é pela graça que sóis salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós é dom de Deus – não das obras, para que ninguém se glorie”. Ef 2:8 e 9. Por isso ele disse aos gálatas: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. A glória do cristão não está nas obras, porque elas nunca serão suficientes para nos salvar, a nossa glória está na cruz.

A Cruz Põe Fim a Velha Vida

Paulo também disse que se orgulhava no fato de que sua vida fora transformada pelo que acontecera na cruz: “(...) Pelo qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”. Quando Paulo aceitou a Cristo, a sua velha vida pecaminosa findou, foi crucificada. Ele diz: “Estou crucificado com Cristo”. Gl 2:20. Os prazeres pecaminosos do mundo não tinham mais espaço. Cristo e Sua pureza ocupavam agora a posição central na existência de Paulo. O poderoso significado da cruz transformou subitamente a vida dele. E nós também temos o privilégio de contemplar o fim judicial de toda a nossa vida pecaminosa na cruz de Cristo.

Transcrevo estas lindas e famosas palavras de Ellen G. White: “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nas quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia” ( O Desejado de Todas as Nações, p. 25).

É extremamente importante entender o que significa a cruz. Deus tomou sobre Si mesmo o castigo do pecado, que merecemos. “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53:5). Podemos usar diversas imagens, simbolismos ou metáforas para falar sobre a cruz, mas nunca devemos esquecer esta verdade fundamental: a substituição. Qualquer teologia que desmereça ou marginalize o aspecto substituinte do Calvário desmerece e marginaliza o centro do plano da salvação (ver também Rm 5:8; Gl 3:13). Sem a cruz e tudo o que ela envolve (inclusive a ressurreição), toda a humanidade, de uma forma ou de outra, enfrentaria só a condenação. Quando nós vamos a Jesus, Ele nos aceita como somos, perdoa-nos, por Sua graça, nossos pecados, implantando dentro de nós Sua natureza. Essa é a maravilhosa provisão do plano de salvação: nossos pecados não são apenas perdoados, a justiça de Jesus é creditada a nós como se fosse nossa! (Rm 3:25 e 26).

A partir desse momento começa a nossa experiência de vida com Jesus. Paulo escreveu esta experiência de maneira extraordinária: “Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” (Gl 2:20).

George Bennard era natural da cidade de Youngs Town, no Estado de Ohio, Estados Unidos. Perdeu o seu pai antes dos 16 anos de idade e logo depois entregou sua vida a Jesus. Trabalhou como um dos oficiais no Exército da Salvação e mais tarde entrou no ministério da Igreja Episcopal Metodista. Por muitos anos dedicou a sua vida ao evangelismo e a reavivamentos espirituais. E foi ao voltar de uma dessas reuniões em 1913, que ele escreveu um dos mais famosos e populares hinos do cristianismo: “Rude Lenho se Ergueu”.

Ele contou como escreveu o hino: “Recebi a inspiração um dia em 1913, quando me encontrava na cidade de Albion, Michigan. Comecei a escrever “A Velha e Rude Cruz”. Compus a melodia primeiro. A primeira letra que escrevi foi imperfeita. As palavras finais do hino foram colocadas no meu coração como uma respostas às minhas próprias necessidades”.

No dia 9 de outubro de 1958, com 85 anos de idade, Bennard trocou “sua cruz por uma coroa”. Perto de sua casa, na cidade de Reed City, em Michigan, está erguida uma enorme cruz de 3,5 metros de altura com as seguintes palavras: “ ‘Rude Lenho se Ergueu’, casa de George Bennard, compositor deste hino maravilhoso”. “Sim, eu amo esta mui rude cruz, té morrer eu a vou proclamar; té na glória, das mãos de Jesus, a coroa da vida ganhar”.

Disse alguém: “O que prendeu Jesus à cruz? Não foram os cravos, mas Seu maravilhoso amor por mim que conservaram Jesus na cruz do Calvário; que poderia tê-lo prendido lá para todos os meus pecados e vergonha suportar? Não foram os cravos, mas Seu maravilhoso amor por mim” (W. B. Knight, 3.000 Ilustrações, p. 213).

“Contemplem-nO pendurado na cruz durante aquelas horríveis horas de agoni, a ponto de os anjos velarem o rosto para ocultá-lo da horrorosa cena, e o Sol esconder sua luz, recusando-se a contemplá-la. Pensem nessas coisas e então perguntem: É o caminho demasiado estreito? Não, não” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos. Vol. 1, p. 82).

Caro amigo leitor, quando contemplamos Jesus morrendo na cruz por nós, passamos a amá-Lo e nossa vida nunca mais é a mesma. Ele nos dá uma alegria que nada poderá arrebatar. Portanto orgulhe-se sobre, exalte sobre, glorie-se na cruz de Cristo. Não quer você depor a sua velha vida de pecado aos pés da cruz, nossa única esperança, permitindo que o poder desta cruz transforme o seu viver? Para mim e para você a cruz de Cristo, deve ser símbolo de vitória e de alegria.