Assim como Lutero costumava dizer que pela doutrina
da justificação pela fé a Igreja [Protestante] fica de pé ou cai, para o
catolicismo uma declaração paralela seria dizer que pela correção da
interpretação da Transubstanciação, relacionada com a Eucaristia, a Igreja
também fica de pé ou cai.
Repetidas vezes líderes
católicos, inclusive o Papa, têm ressaltado a centralidade da Eucaristia para a
fé cristã, entendendo-se isso dentro da visão católica de que, na hóstia, o
corpo e o sangue de Cristo estão literalmente contidos.
O catecismo
católico declara que:
“A
presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura também
enquanto subsistirem as espécies eucarísticas. Cristo está presente inteiro em
cada uma das espécies e inteiramente em cada uma das partes delas, de maneira
que a fração do pão não divide o Cristo”. P. 380, # 1377.
Esta é
uma afirmação ousada, mas o que nos importa é verificar se conta com o devido
respaldo escriturístico.
As Palavras de Cristo Nem Sempre
Consideradas de Modo Completo
Vejamos
inicialmente o disputado texto de João, capítulo 6:
“Jesus, pois,
lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do
Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o
ressuscitarei no último dia. Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e
dá vida ao mundo”. (vs. 53, 54).
Embora
esta declaração pareça ensinar “canibalismo”, como alguns dentre Seus ouvintes
interpretaram literalmente (à semelhança de Nicodemos que também se espantou
com a declaração de Cristo sobre o “nascer de novo” em João 3:3), se lermos a
passagem detidamente à luz de seu contexto se perceberá o seu real sentido:
“Disseram-lhe,
pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão. E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da
vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem CRÊ EM MIM nunca terá sede”.
(vs. 53, 54)
É interessante
como Cristo introduz a cláusula de “nunca terá sede”, aparentemente fora de
contexto do que discute, pois nem sequer mencionou água. Ele o havia feito
antes, no diálogo com a mulher samaritana:
“. . . aquele que beber da
água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se
fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna” (João 4:14).
E também é
digno de nota o que o Mestre diz aos discípulos:
“Uma comida tenho para
comer que vós não conheceis. Então os discípulos diziam uns aos outros: Acaso
alguém lhe trouxe de comer? Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade
daquele que Me enviou, e completar a sua obra” (João 4:32-34).
Assim, temos
esses elementos a considerar do discurso global de Cristo, que não devem ser
postos à parte nessa discussão toda a água que dessedenta pela eternidade, e a
comida que Ele tem para comer. Em qualquer dos casos, não se trata de algo de
caráter material.
Agora, Ele usa
a ilustração do pão que desce do Céu e que quem o consome nunca terá fome,
inclusive fazendo um paralelo ao maná que caía no deserto. Não se vê em tal
declaração um paralelo com o contraste entre a água comum e a água da vida, no
diálogo com a samaritana?
Comer no Sentido Claramente Espiritual
O Senhor prossegue esclarecendo:
“Porquanto a
vontade daquele que Me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e
CRÊ NELE, tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia”.
Novamente
Jesus mostra que a vida eterna vem através de crer nEle. Quando os discípulos
murmuraram entre si sobre tais palavras, o Mestre esclareceu-lhes:
“O espírito é
o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse SÃO
espírito e SÃO vida” (João 6:63).
Jesus estava
falando em termos espirituais, não materiais, físicos. Se temos que nos apegar
à literalidade absoluta de Seus dizeres, então devemos também imaginar que as
palavras que Ele proferia viravam espíritos que saíam esvoaçando pelo céu com
vida própria!
Ele estava
obviamente explicando que espiritualmente toda vida deriva da fé Nele, não de
comer literalmente o Seu corpo.
Há uma regra
de interpretação bíblica que faz todo sentido: o Velho Testamento é explicado
pelo Novo, e os evangelhos são explicados pelas epístolas.
Realmente, sem
o Novo Testamento não teríamos compreensão do sentido de todas aquelas
cerimônias do culto israelita, nem compreenderíamos a expiação dos pecados, ou
o sentido de tantas profecias. Doutrinas caras aos cristãos ficariam ofuscadas,
como a Trindade, a ressurreição dos mortos, as operações do Espírito Santo, e
tantas outras coisas.
Pode-se dizer,
igualmente, que é pelas epístolas que entendemos melhor os atos e palavras de
Cristo.
Simbolismos claros e evidentes
Paulo é
indubitavelmente o grande teólogo e sistematizador da fé cristã. Assim, convém
atentar bem à sua exposição didática do sentido das palavras de Cristo na
cerimônia da comunhão, que ele “regula” para a comunidade cristã:
“Porque
eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai,
comei; isto é o Meu corpo que é partido por vós; fazei isto em MEMÓRIA DE MIM”
(I Cor. 11:24).
Isto se
harmoniza com o que Cristo estipulou:
“Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é
o novo testamento no Meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, EM
MEMÓRIA DE MIM”. Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este
cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:19,
20).
Nesta
última passagem temos mais uma reflexão muito importante: quando Cristo realiza
a primeira Ceia, Ele o faz no contexto da Páscoa, que era uma cerimônia que
recordava a saída do povo do Egito, quando se comia o Cordeiro Pascoal —
símbolo do próprio Cristo — e ervas amargas, representativas das dificuldades
que enfrentaram na saída do Egito (ver Núm. 9:2, 11).
Portanto,
temos aí um contexto claro de simbologia: Cristo fala sobre todos comerem do
pão e beberem do vinho, também como MEMORIAL do quebrar de Seu corpo e do
derramar do Seu sangue. Um detalhe, porém, que muitos deixam de perceber é que
naquele ato, nem o corpo de Cristo havia sido quebrado, nem o Seu sangue
derramado!
Ou seja, a
própria primeira Ceia JÁ É SIMBÓLICA. Isso é por demais óbvio. Os elementos
distribuídos representavam indiscutivelmente um evento futuro—a morte de
Cristo. Por que hoje a Ceia não teria também esse sentido simbólico do evento
passado? É “em memória” do acontecimento da paixão e morte de Cristo, tal como
a própria Páscoa era realizada em memória da saída do Egito.
Quando “ser” é representar
Cristo
declarou ser “o caminho, a verdade e a vida”, bem como “a luz do mundo”.
Claramente estas expressões indicam um sentido figurado.
Ele declarando-Se o
caminho não Se transformou fisicamente numa estrada a ser trilhada por Seus
ouvintes. Ao dizer que era “a luz”, não Se transformou num grande farol a
emitir luz para o mundo inteiro. Então, se Ele emprega o mesmo verbo “ser” para
ambos os casos (“este É o Meu corpo/“Eu SOU o caminho. . .”) pode-se
perfeitamente perceber o sentido figurado de tais expressões.
Essa é uma
forma hebraica de expressão que certamente se refletia no aramaico, falado por
Jesus, idioma que tem raízes no hebraico. Quando Moisés se referia ao pecado do
povo relacionado com o culto ao bezerro de ouro, assim se expressou:
“Então eu tomei o vosso pecado, o bezerro que
tínheis feito, e o queimei a fogo e o pisei, moendo-o bem, até que se desfez em
pó” (Deut. 9:21).
Logicamente não foi o pecado, mas aquilo que o representava, que Moisés
destruiu. Em reforço a isso podemos lembrar aos católicos que quando Jesus diz
que as Suas palavras SÃO espírito e SÃO vida (e o verbo ‘ser’ está claramente
definido no original grego, e duas vezes) logicamente não se entenderá que ao
Ele pronunciá-las elas saíam voando pelo espaço como espíritos literais, tendo
vida própria. Que o sentido aí é de “representa” revela-se indisputável, será
que não?!
Este ensino é
coerente com tudo o que consta nas Escrituras no que tange à mensagem do
evangelho: A vida eterna vem através de crer em Jesus Cristo, não por comer do
Seu corpo literal. É esse crer que opera novo nascimento, superação de fome e
de sede espirituais.
O Problema do Perdão--Sério Erro de Um Dogma
Discutível
Tenho
perguntado a católicos, numa hipótese absurda, mas para efeito didático: Se
Cristo cortasse um dedo da mão e desse para alguém comê-lo, que vantagens
espirituais adviriam desse processo de ingerir Sua carne? Quantos pecados
seriam perdoados dessa pessoa pelo simples ato de ingerir um pedaço do corpo
físico de Cristo? Ora, não disse o mesmo Cristo que “a carne para nada
aproveita”? Não incluiria isso Seu corpo terreno, mero envoltório do Verbo
divino ao se fazer carne e habitar entre nós (João 1:14)?
Houve um
católico num fórum que se “escandalizou” de eu empregar essa linguagem,
esquecido de que Jesus também falou em termos hipotéticos sobre a absurda
atitude de entrar no reino tendo arrancado olho ou mão (Mat. 5:29, 30).
Outro ponto a
ser considerado é a declaração seguinte do catecismo: “. . . a Eucaristia não
pode unir-nos a Cristo sem purificar-nos ao mesmo tempo dos pecados cometidos e
sem preservar-nos dos pecados futuros”. P. 385, # 1393.
E noutro
ponto: “. . . a Eucaristia nos preserva dos pecados mortais futuros”. P.
386, # 1395.
São mais
declarações ousadas, contudo, o que nos importa é—terão fundamentação bíblica?
A Palavra de
Deus nos assegura que a purificação dos pecados ocorre através, não de um rito,
mas do sangue de Cristo:
“. . . e
o SANGUE de Jesus, Seu Filho, nos PURIFICA de todo pecado”. 1 João 1:7.
Lemos no
Apocalipse: “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito
dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em Seu
sangue nos lavou dos nossos pecados” (Apo. 1:5).
Não
existe qualquer fundamento nas Escrituras ou na observação dos fatos de que
participar de um rito preserve alguém de pecar. Seria verdade que os católicos
que participam de tal rito ficam livres de cometer pecados? É isso o que
realmente se observa por todo o mundo? Ou não passa de uma mera teoria cujo
efeito é tornar as pessoas presas a um sistema religioso, na expectativa de que
as coisas funcionem como lhes ensinam?
O que as
Escrituras ensinam sobre o modo de preservar-nos de pecar é o que lemos no
Salmo 119:9-11: “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o
conforme a Tua palavra. Com todo o meu coração Te busquei; não me deixes
desviar dos Teus mandamentos. Escondi a Tua palavra no meu coração, para eu não
pecar contra ti”.
E no
Novo Testamento temos as palavras de Judas 24, 25:
“Ora, àquele que é poderoso para vos
guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a
Sua glória, Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade,
domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”.
Benefício aos Que Morreram?!
Finalmente,
mais ousada ainda, ou, talvez deva dizer, CHOCANTE, é a declaração seguinte do
catecismo: “O Sacrifício Eucarístico é também ‘oferecido pelos fiéis defuntos’
que morreram em Cristo e não estão ainda plenamente purificados, para que
possam entrar na luz e na paz de Cristo”.
E mais
adiante: “[Pelo] Sacrifício Eucarístico . . . a Igreja exprime sua comunhão
eficaz com o defunto”. P. 460, # 1689.
Pode-se ler a
Bíblia do Gênesis ao Apocalipse e não se encontrará uma só pista de que se pode
ajudar alguém que morreu através seja do rito que for. Não ocorre nenhum
exemplo de personagem bíblico recebendo Eucaristia em favor de algum morto.
Ademais, o ensino bíblico é de que “cada um de nós dará contas de SI MESMO a
Deus” (Rom. 14:12).
E como já
temos analisado noutros estudos, a própria crença na imortalidade inerente,
através de uma “alma imortal”, carece inteiramente de fundamento bíblico. Os
mortos não sabem de nada do que se passa entre os viventes e não podem ter
proveito algum com o que se faça “debaixo do sol”:
“Porque os
vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem
tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao
esquecimento. Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram,
e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do
sol” (Ecl. 9:5, 6).
Como se pode ver trata-se simplesmente de mais uma
falácia do catolicismo romano. São ensinos de homens que não encontram nenhum
respaldo na Palavra de Deus.
Autor: Azenilto Guimarães Brito, formado em
Teologia (IAE), Jornalismo (Cásper Líbero) e Letras (língua inglesa), com
mestrado nesse último campo pela Andrews University; é autor dos livros (pela
CPB) O Desafio das Drogas e O Desafio da Torre de Vigia; foi o tradutor
do livro do Dr. Samuele Bacchiocchi, Imortalidade ou Ressurreição? Atua
como tradutor oficial de notícias da Rede Adventista de Notícias da
Associação Geral para a língua portuguesa.
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