Teologia

sexta-feira, 26 de março de 2021

A CAMINHO DO ÉDEN – MAIS PERTO DO QUE NUNCA DE NOSSO DESTINO FINAL


Ellen G. White*

Hoje, a igreja é militante. Estamos enfrentando agora um mundo na escuridão de meia-noite, quase inteiramente entregue à idolatria. Mas está chegando o dia em que a batalha será travada, e ganha a vitória. A vontade de Deus deve ser feita na Terra assim como no Céu. Então, as nações não terão outra lei, exceto a do Céu. Todos farão parte de uma família feliz e unida, envolvida pelas vestes de louvor e gratidão – as vestes da justiça de Cristo. Toda a natureza, em seu maravilhoso encanto, oferecerá a Deus uma incessante homenagem de louvor e adoração. O mundo será inundado pela luz do Céu. […]

Precisamos ter uma perspectiva do futuro e das bênçãos do Céu. Coloquemo-nos no limiar da eternidade e ouçamos as alegres boas-vindas àqueles que nesta vida cooperaram com Cristo, reconhecendo como privilégio e honra sofrer por Sua causa. Ao se unirem aos anjos, eles lançam suas coroas aos pés do Redentor, exclamando: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. […] Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap 5:12, 13).

Salvos pela graça

Os remidos saúdam os que os conduziram ao grande Salvador, e todos se unirão no louvor Àquele que morreu para que os seres humanos pudessem viver à semelhança de Deus. O conflito está terminado. As tribulações e lutas chegaram ao fim. Cânticos de vitória enchem todo o Céu quando os remidos estão ao redor do trono de Deus. Unidos, em júbilo, entoam: “Digno é o Cordeiro, que foi morto” (Ap 5:12), e vive outra vez, como triunfante vencedor.

Você percebe a inspiração dessa visão? Já experimentou deixar sua mente se demorar nessa cena?1

A obra da redenção será concluída. Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus. A Terra, o próprio campo que Satanás alega ser seu, será não apenas redimida, mas exaltada. Nosso pequeno mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura na Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu, sofreu e morreu – aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, “com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus” (Ap 21:4, RC). E através dos séculos infindos, enquanto os remidos andam na luz do Senhor, hão de louvá-Lo por Seu inefável Dom – EMANUEL, “DEUS CONOSCO”.2

“Vi um novo céu, e uma nova Terra. Porque já o primeiro céu e a primeira Terra passaram” (Ap 21:1). O fogo que consome os ímpios purifica a Terra. Todo vestígio de maldição é removido. Nenhum inferno a arder eternamente conservará perante os resgatados as terríveis consequências do pecado.

Apenas uma lembrança permanece: nosso Redentor sempre levará os sinais de Sua crucifixão. Em Sua fronte ferida, em Seu lado, em Suas mãos e pés, estão os únicos vestígios da obra cruel que o pecado efetuou. Diz o profeta, contemplando Cristo em Sua glória: “Raios brilhantes saíam da Sua mão, e ali estava o esconderijo da Sua força” (Hc 3:4). Suas mãos, Seu lado ferido de onde fluiu a corrente carmesim, que reconciliou o homem com Deus – ali está a glória do Salvador, ali está “o esconderijo da Sua força”. […] E os sinais de Sua humilhação são a Sua mais elevada honra; através da eternidade os ferimentos do Calvário Lhe proclamarão o louvor e declararão Seu poder.

Éden restaurado

“A ti, ó torre do rebanho, monte da filha de Sião, a ti virá; sim, a ti virá o primeiro domínio” (Mq 4:8). Chegado é o tempo, pelo qual santos homens têm esperado com anseio desde que a espada inflamada vedou o Éden ao primeiro casal – tempo “para a redenção da possessão de Deus” (Ef 1:14). A Terra, dada originariamente ao homem como seu reino, traída por ele às mãos de Satanás, e tanto tempo retida pelo poderoso adversário, foi recuperada pelo grande plano da redenção. Tudo que se havia perdido pelo pecado foi restaurado. “Assim diz o Senhor […] que formou a Terra, e a fez; Ele a estabeleceu, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada” (Is 45:18).

O propósito original de Deus na criação da Terra se cumpre, quando ela é feita a eterna morada dos remidos. “Os justos herdarão a Terra e habitarão nela para sempre” (Sl 37:29).

Na Bíblia, a herança dos salvos é chamada de “pátria” (Hb 11:14-16). Ali o Pastor celestial conduz Seu rebanho às fontes de águas vivas. A árvore da vida produz seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações. Existem torrentes sempre a fluir, claras como cristal, e ao lado delas, árvores ondeantes projetam sua sombra sobre as veredas preparadas para os resgatados do Senhor. Ali as extensas planícies avultam em colinas de beleza, e as montanhas de Deus erguem seus altivos píncaros. Nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar.

A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar. “A morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor […] porque as primeiras coisas são passadas” (Ap 21:4). “Nenhum morador de Jerusalém dirá: Estou doente; porque ao povo que habita nela perdoar-se-lhe-á a sua iniquidade” (Is 33:24).

Deus habita entre nós

Ali está a Nova Jerusalém, a metrópole da Nova Terra glorificada, como “uma coroa de glória na mão do Senhor, um diadema real na mão do teu Deus” (Is 62:3). “Sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como cristal resplandecente.” “As nações andarão à sua luz; e os reis da Terra trarão para ela a sua glória e honra” (Ap 21:11, 24, RC). Diz o Senhor: “Exultarei por causa de Jerusalém, e Me alegrarei no Meu povo” (Is 65:19); “Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21:3, RC).

Na cidade de Deus “não haverá noite”. Ninguém necessitará de repouso nem o desejará. Não haverá cansaço em fazer a vontade de Deus e oferecer louvor a Seu nome. Sempre sentiremos o frescor da manhã, e sempre estaremos longe de seu fim. “Não necessitarão de lâmpada nem de luz do Sol, porque o Senhor Deus os alumia” (Ap 22:5). A luz do Sol será sobrepujada por um brilho que não é ofuscante e, contudo, suplanta incomensuravelmente o fulgor de nosso Sol ao meio-dia.

A glória de Deus e do Cordeiro inunda a santa cidade, com luz imperecível. Os remidos andam na glória de um dia perpétuo, independentemente do Sol.

“Nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro” (Ap 21:22). O povo de Deus tem o privilégio de manter franca comunhão com o Pai e o Filho. “Agora vemos por espelho em enigma” (1Co 13:12). Contemplamos a imagem de Deus refletida como que em espelho, nas obras da natureza e em Seu trato com os homens; mas então O conheceremos face a face, sem um véu protetor de separação. Estaremos em Sua presença, e contemplaremos a glória de Seu rosto.

A alegria dos salvos

Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e a compaixão que o próprio Deus plantou em cada um encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem “toda a família nos Céus e na Terra” (Ef 3:15) – tudo isso concorre para constituir a felicidade dos remidos.

Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá adversário cruel algum, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, serão ampliadas todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo.

Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão voo incansável para os mundos distantes – mundos que choravam de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma vida resgatada. Com indizível deleite, os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada, olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até a maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder.

E, ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, o coração dos resgatados vibrará com mais fervorosa devoção e, com tamanha arrebatadora alegria, dedilharão as harpas de ouro e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor.

“Ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre” (Ap 5:13, RC).

 

O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito júbilo, declaram que Deus é amor.3

 

*Ellen G. White (1827–1915) foi uma das pioneiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Os adventistas acreditam que ela exerceu o dom de profecia bíblico durante mais de 70 anos de ministério ativo.

 

Referências

1. The Adventist Review and Sabbath Herald, 17 de dezembro de 1908.

2. O Desejado de Todas as Nações, p. 26.

3. O Grande Conflito, p. 674-678.

sexta-feira, 19 de março de 2021

MAOMÉ FOI INFLUENCIADO PELA TRADIÇÃO JUDAICA E CRISTÃ?


 por Dominc Saint Pierre

Traduzido por Hugo Martins

Quem foi o profeta islâmico, Maomé? O que o inspirou? Como podemos nos relacionar com ele ou com sua mensagem? De uma perspectiva ocidental moderna, a pessoa, o idioma e a religião associados a Maomé podem parecer primitivos, desconhecidos e até intimidadores. E se houvesse pontes que permitissem a um pesquisador em busca de diálogo atravessar e se relacionar?

O objetivo desta pesquisa é fazer perguntas de nossa perspectiva religiosa ocidental que visam iluminar as semelhanças que podemos compartilhar com Maomé. Leitores casuais do Alcorão logo verão que existem temas, narrativas e personagens comuns que se originam nas escrituras do mundo judaico e cristão. Então, qual é a relação de Maomé com eles? Quais fontes judaicas ou cristãs ele conhecia? Alguma parte foi inserida no Alcorão? Proponho demonstrar que Maomé, o profeta do Islã, conheceu e aprendeu do Talmude Judeu e dos apócrifos cristãos, e, paulatinamente inseriu essas crenças orais em sua recitação, o Alcorão.

Ao investigar em detalhes quais fontes judaicas foram consideradas inspiradas por Maomé, deve-se estabelecer em qual idioma esses documentos estavam escritos. É consensual entre os estudiosos islâmicos que Maomé era chamado de “iletrado”, ou seja, analfabeto. Seu grau de aprendizado tem sido muito debatido. O que se sabe é que desde muito jovem aprendeu a falar e era um comerciante que viajava com frequência por toda a Península Arábica. Presume-se, em vista disso, uma compreensão do comércio e uma familiaridade com o diálogo intercultural. Acredita-se que uma forma antiga de árabe era usada em toda a Península Arábica durante a vida de Maomé. Essa língua era usada pela maioria dos habitantes, incluindo os nativos judeus e cristãos. Como Katsh relata:

A maioria dos Geonim (autoridades talmúdicas) na diáspora sob o governo de Ismael na Babilônia, Palestina e Pérsia falava árabe, e, da mesma forma, todas as comunidades judaicas naquelas terras usavam aquela língua. Quaisquer comentários escritos sobre a Bíblia, a Mishná e o Talmude, escreveram em árabe . . . pois todas as pessoas entendiam a língua (1980, Introdução p.10).

Esta afirmação é confirmada pela frase dos rivais de Maomé no Alcorão: “E eles dizem, as histórias dos antigos, ele lhas escreveu, então estas são lidas para ele de manhã e à noite” (Yusuf Ali, 2001, 25:5).

Esses antigos, como discutido posteriormente, são, de fato, referências do mundo judaico e cristão. Quem eram esses contemporâneos judeus de Maomé na Arábia do século 6 e 7? De acordo com Katsh, ao revisar os paralelos do Alcorão com a tradição talmúdica, ele descobriu:

O número considerável de histórias agádicas citadas nos escritos de Zamakhshari, Baidawi, Bukhari e Tabari atesta o fato de que os judeus árabes participaram ativamente da vida espiritual judaica, ergueram muitas sinagogas, escolas e outras instituições, e conseguiram firmar laços permanentes com os judeus da Palestina e da Babilônia (1980, Intro p.13).

A Agadá aqui, refere-se a uma parte homilética do Talmude, conforme estava sendo compilado, repleto de folclore, contos alegóricos, histórias homiléticas e exemplos de estudos judaicos do Tanakh. Os escritos dos autores citados são de prestigiosos estudiosos muçulmanos, reverenciados por suas revisões teológicas e comentários do Alcorão e dos Hadiths. Podemos, portanto, estabelecer que Maomé falava e dialogava com judeus de língua árabe que praticavam uma forma autêntica de judaísmo. Por meio de algum tipo de interação, seja comércio de mercadorias, diálogos ou intrigas, Maomé esteve inserido, e pela natureza de sua mente pesquisadora, expôs e aprendeu o judaísmo contemporâneo e o raciocínio talmúdico. Katsh novamente comenta:

Ele aprendeu bem suas lições; e quando uma comparação completa é feita do material corânico, de todos os tipos, com os atuais escritos judaicos em hebraico, podemos afirmar com ênfase que suas autoridades, quem quer que fossem, foram homens bem versados ​​na Bíblia, na lei oral e na Agadá (1980, Intro p.2).

É fácil presumir que Maomé não esteve apenas exposto às doutrinas e princípios do judaísmo de seu tempo, mas também era erudito e experiente no raciocínio talmúdico. É aqui que aprendemos a apreciar a profundidade de sua exposição ao referido raciocínio, e lha reconhecemos dentro do Alcorão:

Ao relacionar a versão corânica da história bíblica à fonte agádica, conforme indicado em nosso estudo, as discrepâncias desaparecem quase totalmente. Pois, surpreendentemente, as narrativas bíblicas são reproduzidas no Alcorão em uma notável forma agádica (Katsh, 1980, Intro p.5).

A partir disso, pode-se reconciliar a narrativa aparentemente contraditória dentro do Alcorão com a narrativa canônica. Como os contos da Agadá e do Talmude dificilmente são encontrados no Tanakh, propõe-se que tal disparidade foi intencional, não como um método para substituir ou anular a narrativa canônica, mas para suplementá-la e divulgá-la com um estilo judaico-árabe autêntico.

Então como ele interagiu com os antigos cristãos? Quais fontes ele teve acesso? A antiga Península Arábica oferece uma lente única para visualizar o antigo mundo cristão. É aqui, na antiga Arábia, que a maior parte do esforço da ortodoxia ocidental não conseguiu alcançar. Raramente as influências dos concílios católicos, e seus decretos, intencionaram a mente árabe; quando comparado ao ocidente ortodoxo, muitos cristãos ali formaram uma coleção de refugiados, párias, adeptos não ortodoxos e não convencionais. Na verdade, o termo “Nasara” usado no Alcorão cita esse testemunho ao descrever um tipo particular de cristão. Nas primeiras porções de Meca do Alcorão, vemos uma curiosa falta de diferenciação entre cristãos e judeus (Jomier, 1964). Este detalhe permite uma rejeição casual para o leitor comum, no entanto, sob escrutínio, revela um tipo muito particular de cristão que era difícil diferenciar dos judeus contemporâneos da época de Maomé. No Alcorão, temos uma demonstração desse estilo de cristão que aceitou a mensagem de Maomé, e, nas palavras deles, já lha estavam praticando: “E quando lhes é recitado, eles dizem: ‘Nós acreditamos nisso, pois é a Verdade de nosso Senhor: de fato, temos sido muçulmanos (nos curvando à vontade de Deus) muito antes’”(Yusuf Ali, 2001, 28:53)

Esta testemunha única descreve um povo que aparentemente não adotou a perspectiva ortodoxa ocidental de cristianismo, e, presumivelmente, era de uma forma isolada de Cristianismo. Acredita-se entre os estudiosos que esses cristãos eram da seita nestoriana. No entanto, há controvérsias: “Portanto, é precipitado imaginar como se referisse apenas os ortodoxos melquitas, jacobitas e nestorianos (por Nasara)” (Jomier, 1964). O exemplo de como esses cristãos afirmavam ser adeptos anteriores ou preditivos da mensagem de Maomé sugere que eles pertenciam a uma seita que compartilhava elementos do judaísmo e uma forma particular de unitarismo cristão. Ou seja, compartilhavam alguma forma de comunhão com práticas típicas do judaísmo, enquanto adotavam uma crença concordante na unidade de Deus, como judeus e Maomé professam. Como refugiados do expurgo ortodoxo ocidental de hereges nos séculos anteriores, este autor propõe que alguns dos cristãos árabes contemporâneos de Maomé são de origem judaico-cristã, não nestorianos. Sua inclinação para a adoção de dogmas heterodoxos e não-ortodoxos, e sua familiaridade com textos-fontes não-ortodoxos para inspiração religiosa é notável. Consequentemente, sabemos que a memorização e a recitação eram uma prática comum entre judeus e cristãos contemporâneos nos dias de Maomé. Desta maneira Maomé aprendeu; “A tradição oral do texto teve prioridade sobre a tradição escrita” (Jomier, 1964).

A maioria deles foi coletada em um estudo que coloca em paralelo os textos rabínicos ou apócrifos, e suas versões corânicas. (O arrependimento e o perdão de Adão, a pregação de Noé antes do dilúvio, Salomão e a rainha de Sabá, a infância de Maria, Jesus falando no berço, milagre de Jesus do pássaro de barro) (Jomier, 1964, p.59).

É certo que essas referências apócrifas foram adotadas no “manto agádico”, como mencionado anteriormente no Talmude, pela interação de Maomé e o “Nasara” contemporâneo.

Há muito a ser falado sobre esses poucos que afirmavam já serem versados ​​no Alcorão antes de Maomé propagá-lo. Infelizmente, não há nenhuma evidência se estes eram principalmente de origem judaica ou cristã. No entanto, o importante e consensual entre os estudiosos é:

“Mais uma vez, o que está sendo elogiado é a percepção escriturística, uma atitude ou aptidão espiritual que permite discernir o vindouro e o encerrar da revelação. Permanecer fiel em piedosa antecipação de seu cumprimento é o significado de adesão/perseverança. ” “Já Éramos Muçulmanos,” Qur’an 28:52-55 (McAuliffe, 1991) p.258.

Com base na noção que Maomé não foi apenas exposto à teologia judaica e cristã, mas também aprendeu seus métodos de interpretação, poder-se-ia perguntar se algum desses temas foi adotado em sua mente como mensagens autênticas de Deus. Bell propõe que suas adoções foram intencionais:

A chave para muitas coisas, tanto no Alcorão quanto na carreira de Maomé, reside, como espero mostrar, apenas em sua aquisição gradual de conhecimento do que a Bíblia continha e do que judeus e cristãos acreditavam . . .Devemos vê-lo emprestando conscientemente; e ele é muito franco sobre isso . . Podem ter sido originalmente de fora da Arábia, mas na época de Maomé faziam parte da cultura árabe (1968, p.68-69).

Este método de adoção e a natureza do conteúdo emprestado revelam o auspício do caráter de Maomé. Baseado nessas comparações, sua reputação é louvável por buscar sincera e apaixonadamente Deus e a verdade, com a coragem de se comunicar, aprender, familiarizar e compreender verdadeiramente as lições enfáticas dessas histórias de seus contemporâneos.

Relatando a adoção desses contos, Richard Bell declara: “Em qualquer caso, ele não hesitou em adotar, como sua própria crença, o que descobriu ser parte dessa revelação, ou de fato qualquer coisa que ele descobriu ser acreditada e relacionada a ele, por aqueles que seguiram a religião do Deus Único” (1968). Muitos estudiosos concordam que seu contato com esses temas e narrativas foi por meio do diálogo, obtido oralmente, e, em muitos casos, recitado para ele; “Maomé não está se identificando com judeus ou cristãos, mas coletando informações de qualquer fonte acessível, e obtendo-as frequentemente em terceira ou quarta mão, e não na primeira” (Bell, 1968).

A fim de apresentar a atração religiosa mais plausível de Maomé por essas fontes, devemos fazer concessões, por causa deste artigo, que seu personagem era um líder muito venerável, resiliente e devoto. Outras concessões são feitas em relação ao seu acesso aos textos canônicos. É muito difícil determinar se algum cânone, seja de precedência judaica ou cristã, estava disponível ao longo da vida de Maomé, seja em árabe ou outra língua. Isso apresenta dificuldade para o leitor moderno em se relacionar com ele, visto que, por gerações, tivemos um cânone comum de escrituras amplamente disponível. Notavelmente, essa séria incerteza lança dúvidas sobre a natureza das críticas posteriores de Maomé aos textos judaicos e cristãos. Bell fala abertamente, representando um consenso acadêmico: “Pelo que sabemos de seus métodos posteriores, é muito improvável que ele tenha usado qualquer fonte escrita. Ele se baseava em informações orais que lhes eram fornecidas em resposta às suas perguntas” (1968). Apesar de quaisquer questionamento quanto a tradição oral, está claro que Maomé tinha uma mente muito afiada e inquisitiva para concluir o Alcorão dentro das limitações de seu ambiente. Como Bell supôs, Katsh também relata que:

“Nosso estudo revela que Maomé (570–632 C.E.) bebeu consideravelmente de fontes judaicas. Ele tinha plena consciência da importância da religião judaica, e se baseava fortemente nela. Ele usou todas as fontes, a Bíblia, o Talmude, bem como os apócrifos. A tradição cristã também foi um material valioso para o desenvolvimento de sua nova estrutura” (1980, Intro p.4).

Revisando as questões desta pesquisa, Maomé foi influenciado pela tradição e textos judaicos ou cristãos? Em caso afirmativo, algum desses temas foi adotado no Alcorão? A evidência apresentada neste artigo sugere que Maomé esteve amplamente exposto a detalhes profundos da antiga mente judaica, e se tornou muito familiarizado com a prosa e o raciocínio talmúdicos, como é evidenciado por seu uso no Alcorão. Além disso, essa pesquisa também mostra que ele tinha, com certeza, não apenas um conhecimento, mas uma compreensão profunda de grande parte do compêndio heterodoxo de escritos dos primeiros apócrifos cristãos. O leitor astuto comparará detalhes entre o Alcorão e os escritos apócrifos anteriores, e encontrar adoções de narrativas quase literais no Alcorão.

Concluindo, o exercício de pesquisar as questões deste tópico; “Maomé foi influenciado pela tradição judaica e cristã?” tem sido uma tarefa extremamente gratificante. Revisar as obras de muitos estudiosos e expor-se à rica história e caráter de cada uma dessas religiões representadas deixou este autor com muito mais respeito e apreço por todas as partes. Este exercício apresentou Maomé sob uma nova luz: um estudante prestigioso e fervoroso em busca sincera por Deus, que admiravelmente encontrou, apesar das duras condições de sua educação, ambiente, cultura, tradição, e, presumivelmente, incapacitante falta de códices canônicos. Para alguém ler e se familiarizar com os métodos hermenêuticos tanto judaicos talmúdicos quanto cristãos, e amalgamar tamanho testemunho inspirador da unidade e zelo transformador para o único Deus verdadeiro é muito louvável. É com esse conhecimento que se pode atravessar pontes de entendimento para se relacionar com aqueles que compartilham de uma busca ardente pelo divino.

Este autor entende que a natureza e os detalhes da pesquisa e exposição apresentados neste artigo são totalmente subestimados e acenam para uma exposição inter-religiosa adicional. Estudos em andamento devem ter como objetivo abordar questões mais complexas como: Por que essas adoções específicas? E o que fazer com o resultado desses detalhes? Como as pontes de entendimento entre as religiões monoteístas podem ser reconciliadas ainda mais?

Referências

Bell, R. (1968). The Origin of Islam in its Christian Environment. (2ª e.). Londres. Frank Cass & Co. Ltd.

Jomier, J. (1964). The Bible and the Koran. New York, Desclee CO Inc.

Katsh A. I. (1980). Judaism in Islam: Biblical and Talmudic Backgrounds of the Koran and its Commentaries. (3ª e.). New York, Sepher-Herman Press.

McAuliffe, J. D. (1991). Quranic Christians: an analysis of classical and modern exegesis.

Cambridge. Cambridge University Press.

Yusuf Ali, A. (2001). The Holy Qur’an. (5ª e.). Hertfordshire. Wordsworth Editions Ltd.

 

FONTE: Estudos Adventistas

COMO LIBERTAR-SE DO SENTIMENTO DE CULPA?


 Ellen G. White*

O Sentimento de Culpa Prejudica as Forças Vitais

Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, sentimento de culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte. A Ciência do Bom Viver, pág. 241.

Como Libertar-se do Sentimento de Culpa

Esse sentimento de culpa tem de ser deposto aos pés da cruz do Calvário. O senso de pecaminosidade envenenou as fontes da vida e da verdadeira felicidade. Agora Jesus diz: Depõe tudo sobre Mim. Eu levarei teu pecado. Dar-te-ei paz. Não destruas por mais tempo teu respeito próprio, pois Eu te comprei com o preço do Meu próprio sangue. Tu és Meu, tua vontade enfraquecida Eu fortalecerei; teu remorso pelo pecado Eu removerei.

Portanto volve teu grato coração, tremendo de incerteza, e lança mão da esperança posta a tua frente. Deus aceita teu coração quebrantado e contrito. Ele te oferece livre perdão. Oferece-Se para te adotar em Sua família, e dá Sua graça para ajudar tua fraqueza, e o amado Jesus te conduzirá passo a passo, se tão-somente puseres tua mão na dEle e te entregares a Sua guia. Carta 38, 1887.

Jesus Pronuncia o Perdão

Satanás procura desviar nossa mente do poderoso Ajudador, para nos levar a ponderar sobre a degeneração de nossa alma. Mas ainda que Jesus veja a culpa Ele pronuncia o perdão; e nós não O devemos desonrar duvidando de Seu amor. Testemunhos Para Ministros, pág. 518.

Seu Amor Livra da Culpa

O amor difundido por Cristo por todo o ser, é um poder vitalizante. Todo órgão vital - o cérebro, o coração, os nervos - esse amor toca, transmitindo cura. Por ele são despertadas para a atividade as mais altas energias do ser. Liberta a alma da culpa e da dor, da ansiedade e do cuidado que consomem as forças vitais. Vêm com ele serenidade e compostura. Implanta na alma uma alegria que coisa alguma terrestre pode destruir - a alegria no Espírito Santo - alegria que comunica saúde e vida. A Ciência do Bom Viver, pág. 115.

O Maior Pecador Precisa do Maior Salvador

Se te julgares o maior dos pecadores, Cristo é justamente o de que careces - o maior Salvador. Ergue a cabeça e olha para fora de ti, para fora de teu pecado, para o Salvador erguido na cruz; fora da venenosa, peçonhenta picada da serpente, para o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Carta 98, 1893.

Ele Dá Descanso

Ele carregou o fardo de nossa culpa. Ele tomará o peso de nossos cansados ombros. Ele nos dará descanso. O fardo de cuidado e aflição, Ele o levará também. Convida-nos a lançar sobre Ele toda a nossa solicitude; pois traz-nos sobre o coração. A Ciência do Bom Viver, pág. 71.

 

*Ellen G. White (1827-1915) foi um escritora cristã norte-americana. Autora de grandes sucessos como Caminho a Cristo, O Desejado de Todas as Nações e O Grande Conflito, é uma das escritoras mais traduzidas e lidas do mundo.

 

FONTE: Trecho extraído do livro Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 451, 452.

segunda-feira, 15 de março de 2021

MORRE O PASTOR ELIAS AZEVEDO, ÍCONE DA MÚSICA SACRA ADVENTISTA BRASILEIRA


 por Ricardo André

Faleceu na manhã desta segunda-feira (15), aos 87 anos, em São Paulo, o pastor e músico Elias Reis de Azevedo, após um período de luta contra um câncer.

Segundo o site Hinos Tradicionais, o Pr. Elias Azevedo nasceu no ano de 1933 e foi pioneiro da música sacra adventista no Brasil. Em 1952, fundou o primeiro quarteto evangélico do Brasil: Harmonia.  Isso ocorreu dez anos antes dos Arautos do Rei, que foi formado em 1962. 

Juntamente com sua esposa, Zilda Azevedo, o grande amor de sua vida, compuseram e cantaram lindas canções gravadas pela GBM (Gravadora Boa Música), em São Paulo. No vídeo abaixo o irmão Elias Azevedo conta como ele começou a gravar suas músicas e como fundou a GBM: https://www.youtube.com/watch?v=tDKCAOZ3tz4

Foi casado com a cantora Zilda de Azevedo até o seu falecimento em 8 de março de 2000. Foram 20 anos de vida conjugal.

Legado

Junto com a sua esposa, Elias participou da produção de diversos discos musicais infantis.  Gravaram centenas de músicas para crianças e para todas as idades. Sua canção “Querido Jesus” entrou no Hinário Adventista do Sétimo Dia com o número 479, em 1996: 

Desculpem o saudosismo (sou uma pessoa muito saudosista), mas falar do casal Elias e Zilda Azevedo é fazer uma agradável viagem de volta a um passado glorioso da música sacra adventista. Ouvir suas músicas para mim traz bonitas recordações, um tempo muito bom na minha vida. Elas marcaram a minha adolescência. Ouvi a primeira vez as músicas belíssimas e inspiradoras de Zilda e Elias Azevedo em meados dos anos 1980, Os LP’s “Calma e Paz” e “Zilda e Elias Azevedo 25 Anos de Louvor” são inesquecíveis. Amo ouvir esses álbuns, com destaque para as músicas “Não há Amigo Igual a Cristo”, “Cada Momento”, “Queres ver Cristo Voltar?”, “Lar Feliz”, “Dia a Dia” e “Terra Feliz”. Ainda hoje escuto esses é outros LP’s da família pelo Youtube quase todas as sextas-feiras, à noite, logo após receber o sábado com a família. 

Era um tempo muito bom na música cristã adventista, tempo de pureza mesmo, tempo em que se cantava música sacra pra louvor e adoração a Yahweh Deus. Não havia parafernália produzindo sons barulhentos como as músicas de hoje. Não havia trejeitos e caretas.

O falecimento de Zilda Azevedo, em 2000, e agora do Elias Azevedo deixa um vazio na música sacra adventista no Brasil. Já sentimos muitas saudades do casal. Eles morarão para sempre em nossas saudades. Nos apegamos a promessa bíblica de que um dia eles juntamente com os salvos de todas as épocas erguerão do pó para receberem sua herança imortal.

Certamente, quando eu chegar no céu, após a volta de Jesus, o casal Elias e Zilda Azevedo são algumas das pessoas de quem quero conversar longamente, lá eu também vou saber cantar e poderei entoar com eles, entre outras canções, "Oh, Vale do Éden, Formoso" e "Terra Feliz".

Que nossos músicos adventistas do sétimo dia hoje e cada um de nós se concentrem nas características encantadoras da abordagem gentil, suave e emocionada do casal Elias e Zilda Azevedo, que levou muitas pessoas à sala do trono dos céus.

Vem, Senhor Jesus!

Ouça a interpretação do Hino “Queres Ver Cristo Voltar, nas vozes de Zilda, Elias Azevedo:

 
Ouça também a interpretação da linda música “Não Ando Só”:



sexta-feira, 12 de março de 2021

QUANDO AS COISAS NÃO DÃO CERTO


Ricardo André

Todo ser humano deseja uma vida melhor, prosperidade, um salário mais alto, harmonia na sua casa, paz interior, um trabalho que lhe satisfaça, que lhe dê alegrias e prazer de trabalhar, uma família feliz, entre outras coisas. Porém, por mais que nos esforcemos não conseguimos obter muitas dessas coisas que almejamos. Gastamos nosso tempo. Trabalhamos duro e mesmo assim, parece que nada acontece. Muitas vezes somos confrontados com a perda de um emprego, não conseguimos fazer a faculdade do sonho, o fim do casamento, conflito com os filhos, crise financeira, um diagnóstico de uma doença grave. Nessas ocasiões, muitas vezes, os amigos e irmãos de fé desaparecem. Então, somos tomados pelo sentimento de derrota quando vemos as coisas darem errado na nossa vida. Somos levados a indagar: por que as coisas não dão certo comigo? Por que, Senhor, tudo isso acontece comigo, apesar de ser um servo teu, buscar diariamente a Tua presença, querer o bem das pessoas, dos meus familiares, ser uma pessoa honesta, … Por que as coisas não dão certo? Por que, Senhor?

A história de Hannah More

Encontramos na história inicial do adventismo do sétimo dia o nome de Hannah More, uma moça em que as coisas não deram certo para ela. Hannah tinha uma excelente formação para a época. Possuía excelente potencial para contribuir para o adventismo. Ávida estudante da Bíblia, ela havia memorizado o Novo Testamento. Tinha experiência no trabalho cristão como professora, administradora de escola, missionária do Comitê Americano de Chamados a Missões estrangeiras, em meio às distantes tribos indígenas, em Oklahoma. Aos 31 anos, também serviu como missionária no oeste da África, no início de 1841, custeada pela Associação Missionária Norte-Americana.

Em 1862, ela conheceu o Pr. Sthephen Haskell que a encheu de bons livros adventistas, inclusive History of the Sabbath [História do Sábado], de John Andrews. Depois de voltar para a África, aceitou o adventismo por meio de leituras.

Rejeitada por sua antiga comunidade por causa do adventismo, “na primeira metade de 1867, viajou a Batle Creek, esperando encontrar emprego e um lugar para morar na crescente comunidade adventista. Contudo, chegou à cidade em um momento em que Ellen e Tiago White estavam ausentes em uma jornada de viagens, de modo que não conseguiu nem emprego nem um lugar para morar entre os membros da igreja. Alguns deles, a julgaram “fora de moda”. Tendo-lhe sido negado um lugar em Batle Creek, acabou aceitando o convite de uma colega da missão africana para morar com a família dela ao noroeste de Michigan” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 516).

Apesar de tudo, Hannah não desistiu de sua fé. Os White ao saberem dessa tragédia na vida de Hannah, começaram a se corresponder com ela, prometendo ajudá-la a se mudar para Batle Creek, mas isso não chegaria a acontecer. Hannah More adoeceu. Segundo a Enciclopédia Ellen G. White, ela adoeceu “provavelmente de insuficiência cardíaca congestiva e dificuldades respiratórias correlatas, e acabou falecendo em 2 de março de 1868” (Idem). Ellen G. White condenou de forma dura o tratamento mesquinho dado a Hannah pelos membros da igreja em Batle Creek, usando inclusive uma linguagem confrontadora, escreveu: “ela morreu como mártir de egoísmo e da cobiça dos professos guardadores dos mandamentos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 674).

Disse ainda que Hannah Morre “está morta, mártir do egoísmo de um povo que professa estar em busca da glória, honra, imortalidade e vida eterna” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 332).

Anos mais tarde, quando os adventistas tentavam introduzir-se no campo das missões estrangeiras, Ellen G. White escreveu: “Oh, quanto necessitamos de nossa Hannah More para ajudar-nos agora a chegar a outras nações! Seu vasto conhecimento de campos missionários nos daria acesso a outras línguas das quais não nos é possível agora aproximar. Deus trouxe essa dádiva [...] mas não a apreciamos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 407, 408).

A maneira mesquinha como foi tratada por seus irmãos adventistas e sua morte solitária no norte do Michigan levaram Ellen G. White a escrever um dos textos mais comoventes (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 666-679; v. 2, p. 140-144).

Quando somos confrontados por eventos e incidentes que nos causam profundas dores e sofrimentos, somos naturalmente levados ao desânimo e nossa ligação com Deus é fortemente abalada. Alguns amigos confortadores bem-intencionados podem oferecer suas próprias respostas: “Deus está lhe ensinando alguma coisa”, ou “seja grato pelo que você está enfrentando uma vez que este é o método de Deus para purificar você no fogo purificador”. Essa empatia é mais ofensiva do que útil. E também reencarna a heresia que Jesus combateu em Seu ministério: “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus” (João 9:1-3). Jesus é claro: A ninguém aqui está sendo “ensinada uma lição”.

Surpresas desagradáveis acontecem com todas as pessoas

Devemos aceitar o fato de que a vida é cheia de surpresas desagradáveis. Nós planejamos um casamento feliz, mas ele acaba em um amargo divórcio. Nós oramos e planejamos por crianças saudáveis, mas todos os anos milhares de pais dão à luz a bebês cujas deficiências criam um fardo ao longo da vida. Se aqueles que sofrem agarram-se à crença que Deus controla tudo o que lhes acontece, que estas coisas sempre estão de acordo com os planos de Deus, porque Deus planeja todas as coisas, elas são obrigadas a sentir que Deus as está alvejando, por algum propósito divino inescrutável. Um dia ouvi um irmão da igreja dizer: “Se Deus me envia uma doença debilitante, Ele deve ter uma razão, e eu devo tentar aprender qual é”.

A Bíblia não ensina que Deus envia danos ou bebês deficientes para certos pais para refiná-los através do sofrimento ou castigá-los por suas más ações. Nem todo sofrimento é uma correção de Deus. Pessoalmente não acredito que Deus planeja tudo o que acontece. Quando Jesus chamou Seus discípulos, Ele os avisou que teriam de enfrentar aflições, a perseguição e o sofrimento físico para a proclamação do evangelho (Mt 5;11, 12; 24:9; Jo 16:33). Ele não disse que todo e qualquer sofrimento que experimentariam indicaria “disciplina” de Deus para eles. Sofrer por amor do evangelho certamente refina nosso caráter e fortalecer-nos na obediência. Nós não estamos sendo punidos para sermos purificados; somos purificados porque somos perseguidos por causa de Cristo.

É possível que os infortúnios que nos sobrevêm ao longo da nossa jornada não sejam completamente compreendidos por nós nessa vida, mas precisamos confiar que “na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas tem lugar entre as nossas maiores bênçãos” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 474).

Penso que a melhor maneira de entender tudo isso, não é dizer: “Esta tragédia é uma parte do plano de Deus”, mas sim: “Agora que isso aconteceu, Deus tem um plano.” Se por minha própria imprudência ou algum acidente trágico acabo um tetraplégico, minhas esperanças (e esperança em Deus) para a minha vida não vão acabar, mas serão drasticamente alteradas. Deus trabalhará comigo e com minha família para nos ajudar a reconstruir a história da minha vida. Porque isso aconteceu, Deus me ajudará a desenvolver um plano e dar sentido à minha nova realidade.

Deus não precisa enviar o sofrimento para nos ensinar uma lição, porque Ele sabe que o sofrimento vai nos encontrar, não importa o que fazemos para evitá-lo. Não importa o que nos acontece, o plano final de Deus para nós não pode ser frustrado, o plano de Deus é restaurar-nos à vida novamente. Quando o apóstolo Paulo diz: “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28), Ele não está dizendo que tudo que nos acontece é bom porque Deus o enviou para a nossa edificação. Ele está dizendo que porque nós amamos e somos amados por Deus, todas as coisas, mesmo as tragédias têm o potencial para tecer uma teia de significado e bênção para nossas vidas. A sabedoria e o poder de Deus transformará a desordem em nossas vidas de forma que irá restaurar a nossa confiança de que tudo está em Suas mãos.

 O segredo infalível para vencer

O que fazer quando tudo está dando errado? Qual é o segredo? Não existe uma fórmula mágica. Muitos livros têm sido escritos a respeito do assunto, apresentando métodos e princípios. Porém, só existe um segredo e para ele chamo sua atenção. O segredo está em Apocalipse 12:11, que diz: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (NVI). “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro”. Esta frase é muito significativa. As Sagradas Escrituras estão afirmando aqui que os cristãos do passado, que sofreram perseguição, injúria e morte, venceram não pela própria força, mas “por causa do sangue do Cordeiro”. Ou seja, “com base no sangue” de Jesus vertido na cruz do Calvário. Ele venceu o pecado e Satanás na cruz e continua triunfando hoje e o vencerá definitivamente no fim da história. Pelo poder transformador do sangue de Jesus podemos também vencer a tentação, o pecado, superar a dor das perdas, das desilusões, frustrações, os infortúnios da vida, enfim. E ainda, por viver Jesus em nós, tornamo-nos testemunhas vivas para Ele. Em outras palavras, os filhos de Deus vencem por causa da vitória conquistada por Cristo no Calvário.

Existe uma declaração muito poderosa da escritora cristã norte-americana Ellen G. White sobre esse texto bíblico: "Todos quantos queiram podem ser vencedores. Esforcemo-nos fervorosamente para alcançar a norma colocada diante de nós. Cristo conhece nossas fraquezas, e a Ele devemos ir diariamente em busca de auxílio. Não nos é necessário obter força com um mês de antecedência. Devemos vencer dia a dia" (O Cuidado de Deus [MM 1995], p. 313).

Portanto, nosso grande segredo para vencer é apegar-nos a Cristo. Sim, na hora da crise, da angústia e da dor; quando tudo parece estar se desmoronando, quando tudo falha, é hora de buscarmos a Deus; é hora de nos apegarmos, pela fé, à mão de Jesus para superarmos os problemas e encontrar novos significados para eles. Quando tudo falha, quando nossa vida está um verdadeiro farrapo, não devemos desistir, pois temos a promessa da presença de Deus, motivando-nos, inspirando-nos, concedendo-nos poder. Devemos continuar até alcançar o lugar que Deus designou para nós. Lá encontraremos Jesus, o maior exemplo de resiliência e resistência ante o sofrimento. Diz a Bíblia a respeito dEle: “[...] Ele não deixou que a cruz fizesse com que ele desistisse. Pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz e agora está sentado do lado direito do trono de Deus” (Hb 12:2, NTLH).

Ainda que não consigamos fazer a faculdade do sonho, o emprego tão almejado, a restauração do nosso casamento, a cura de uma doença crônica, devemos permanecer fiel, confiando que os mesmos braços que foram pregados na cruz por nós em breve se estenderão para dar-nos as boas-vindas no Céu, concedendo-nos a herança imortal.

Conclusão

Qual é o seu problema? Desajuste com a família? Problemas financeiros? Falta de saúde física? Desilusão? Seus castelos ruíram? Tudo falhou para você? Você está aflito? Está desanimado? Sente-se fracassado? Ouça esta palavra de Cristo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28).

O Deus da Bíblia é o Deus que se fez carne. Ele se fez homem, ele é o Deus presente. Considere mais estas promessas bíblica: “Não tenha medo, pois estou com você; não desanime, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; com minha vitoriosa mão direita o sustentarei. Pois eu o seguro pela mão direita, eu, o Senhor, seu Deus, e lhe digo: ‘Não tenha medo, estou aqui para ajudá-lo” (Is 41:10, 13, NVT).

É preciso que se entenda que, embora aqui, muitas vezes, tudo falhe, nem tudo está perdido. “A impossibilidade humana indica a oportunidade de Deus. Portanto, é preciso compreender os caminhos do Onipotente” (Rodolpho Belz, Quando Tudo Falha, p. 1). Jesus é o melhor amigo, o companheiro certo, a nossa luz, a nossa rocha inamovível. Se tudo falhou em sua vida, entregue-se agora, incondicionalmente ao Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Gostaria de concluir essa reflexão com o lindo pensamento do Rodolpho Belz: “Há um poder acima de todos os poderes humanos. Há um nome acima de todos os nomes poderosos. Há um socorro quando todos os socorros de homens falham. Há uma salvação quando toda a ciência terrena se revela limitada. Há algo que o segura quando a tentação procura fazê-lo cair. Há uma felicidade que nenhum mortal com todos os seus prazeres pode lhe proporcionar. Há uma luz quando as trevas o rodeiam. Há um amor quando todos lhe devotam ódio. Tudo isso e muito mais você encontrará em Jesus. Quando tudo falha, Ele resolverá os seus problemas. Será sua luz na escuridão. Salvará você quando estiver perdido no oceano frio da vida. Ele lhe dará felicidade, e você sentirá o Seu amor. Ele lhe dará repouso, descanso e um eterno lar. Só Ele tem esse poder, porque Ele tem “todo o poder”. Você falará com Ele através da oração, como se fala a um amigo. Ouvirá Sua voz por meio das Sagradas Escrituras, a Bíblia. Aí terá a norma de sua vida e encontrará o caminho de volta ao eterno lar feliz. Amigo(a), quando tudo falha, Ele estará com você.”. (Rodolfo Belz, Quando Tudo Falha, p. 2)

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 7 de março de 2021

IGUALDADE ENTRE A MULHER E O HOMEM: O QUE DIZ A BÍBLIA?


 Ricardo André

Em muitas sociedades não há igualdade de Gênero. Infelizmente, o machismo, ato de preconceito que se opõe a igualdade de direito dos gêneros, se mostra ainda muito presente na sociedade atual e no mercado de trabalho. Esse machismo está evidenciado na simples observação da presença masculina em cargos mais altos nas empresas se comparada com a feminina (há muito mais homens do que mulheres), bem como no fato de que homens e mulheres não gozam das mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas. Os estudos confirmam que as mulheres trabalham mais na soma da jornada no emprego, nos cuidados da casa e da família; que as mulheres estudam mais e tem escolaridade mais elevada; que o cuidado dos filhos, dos doentes e dos idosos é de sua responsabilidade. Tudo isso é mais que os homens, mas elas ganham menos! Os estudos esmiúçam dados que, ano após ano, repetem que o problema é muito grave. Deveriam as mulheres terem os mesmos direitos que os homens? Homens e mulheres são iguais? O que dia a Bíblia Sagrada?

A perspectiva teológica da igualdade de gênero

Encontramos as respostas para essas questões no relato da criação, no livro de gênesis. Depois de haver criado tudo o que existe, no sexto dia da criação Deus criou o homem. Deu-lhe um trabalho para fazer: Devia dar nome a todos os animais da Terra. E entre eles, Adão não encontrou ninguém que fosse igual a ele. Estava só (Gn 2:19, 20). E Deus sábio e companheiro, resolveu seu problema de solidão, dando-lhe uma mulher. “Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" (Gênesis 2:18). Desde então, a solidão do homem foi resolvida com a companhia de uma mulher. No caso de Adão, deu-lhe a mulher por um ato criador, e aos homens após Adão, Deus dá por meio do casamento.

O fato de que Deus tenha dado a mulher, colocou a Adão, e a todos os homens, num status superior? O relato da criação de Eva, nada tem que assim o determine. Pelo contrário, destaca vários elementos que se referem à sua igualdade. Esta igualdade aparece no conceito de auxiliadora idônea, na própria criação de Eva e na união matrimonial.

Ao definir a mulher como auxiliadora idônea, Deus colocou duas ideias importantes para se entender a unidade dos dois. A palavra auxiliadora, em hebraico, nunca é usada para designar um ajudante subordinado. Refere-se a uma “ajudante”, “uma ajuda equivalente a Ele”, “sua contrapartida” (Lição da Escola Sabatina, 4º Trim. 2006, p. 33); por isso, até Deus se definiu como auxiliador do homem. E no texto onde isto aparece, sem negá-la, não fala de Sua superioridade, mas de Seu poder para auxiliar o ser humano. Nosso Deus tem poder e pode nos auxiliar, porque Ele “fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e que mantém a sua fidelidade para sempre! Ele defende a causa dos oprimidos e dá alimento aos famintos. O Senhor liberta os presos, o Senhor dá vista aos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos. O Senhor protege o estrangeiro e sustém o órfão e a viúva, mas frustra o propósito dos ímpios. O Senhor reina para sempre!” (Salmos 146:6-10, NVI). Deus é o auxiliador do ser humano porque está plenamente capacitado para ajudá-lo e quer fazer. O mesmo ocorre com a palavra idônea. Em hebreu significa equivalente, duplicado, parte oposta, complementar de outra, igual e adequado a. O comentário de rodapé da Bíblia de Estudo de Genebra afirma que “A expressão assume um relacionamento de complementaridade; o que falta a ele, ela supre, e vice-versa. Ambos compartilham da imagem de Deus” (p. 12). Portanto, a mulher, por determinação divina, está plenamente capacitada para auxiliar o homem como uma pessoa igual a ele.

Como se vê, o registro de Gênesis valoriza a mulher como igual, uma contraparte, uma parceira ou complemento em cuja companhia o homem encontrasse sua mais plena satisfação e com quem compartilhasse a imagem e semelhança de Deus. Infelizmente, em muitas sociedades, as mulheres são tratadas quase como escravas, com pouca dignidade e poucos direitos, um exemplo poderoso do que o pecado causou à raça humana.

A escritora cristão Ellen G. White afirmou: “Quando os maridos exigem completa sujeição de suas esposas, declarando que a mulher não tem voz ativa ou vontade na família, mas deve mostrar inteira submissão, estão colocando suas esposas numa posição contrária à Escritura. Interpretando desta forma a Escritura, violam o desígnio do casamento. Esta interpretação é utilizada simplesmente para que possam exercer governo arbitrário, que não é sua prerrogativa. Mas lemos em continuação: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a Si mesmo se entregou por ela." Efés. 5:25. Por que devem os maridos se irritar contra suas esposas? Se o esposo lhe descobriu erros e abundância de faltas, irritação de espírito não remedia o mal” (O Lar Adventista, p.116).

A criação de Eva também descreve sua igualdade com o homem. Como Deus planejou a criação do homem, também planejou a criação da mulher. Fez os dois de forma pessoal. Embora tenha usado uma parte do corpo do homem, este não participou da criação da mulher. Adão dormia enquanto Deus criava. Portanto os dois foram criados por um ato exclusivamente de Deus. Adão, ao receber Eva, reconheceu sua igualdade de constituição e sua igualdade de ser.

Diz Ellen G. White: “Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como seu igual, e ser amada e protegida por ele. Como parte do homem, osso de seus ossos, e carne de sua carne, era ela o seu segundo eu, mostrando isto a íntima união e apego afetivo que deve existir nesta relação. "Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta." Efés. 5:29. "Portanto deixará o varão a seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne." Gên. 2:24” (Patriarcas e Profetas, p.  46).

Havia uma diferença de sexo, certamente, mas Deus o fez assim não para criar separação ou desigualdade, mas para produzir unidade e multiplicação, pelo casamento.

Outra evidência de que a Bíblia trata homens e mulheres em igualdade é o fato de dizer que o marido deve cumprir seus deveres conjugais para com sua esposa da mesma forma que a esposa para com o marido, ao invés disso ser algo unilateral (como seria caso a esposa fosse considerada “propriedade” do marido). Tudo devia ser feito por mútuo consentimento, ao invés de valer o parecer somente do homem:

“O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os tente por não terem domínio próprio” (1 Coríntios 7:3-5)      

Tanto a mulher é santificada por meio do marido, quanto o marido era santificado por meio da mulher. Ambos eram considerados igualmente “sagrados”, aos olhos de Deus:

“Pois o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santos” (1ª Coríntios 7:14)      

O dever de amar a esposa era sempre ressaltado, e a obediência do filho era para com os “pais” (no plural), e não somente para com o homem da casa:

“Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura. Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor. Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem” (Colossenses 3:19-21)    

O mais impressionante é quando Paulo é mais específico e fala do tipo de amor que o homem deve ter para com a mulher. Paulo diz que o marido deve amar sua esposa da mesma forma que Cristo amou a igreja e se entregou por ela. Ou seja: até a morte. Da mesma forma que Jesus morreu por nós, temos que dar a vida pela nossa esposa, se for necessário. Este ensinamento profundo às vezes pode parecer chocante até para os nossos dias, então imagine naquela época! 

“Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos” (Efésios 5:25-28).

A Posição oficial da IASD

Em harmonia com as Sagradas Escrituras, em 29 de junho a 8 de julho de 1995, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na Sessão da Assembleia Geral em Utrecht, Holanda, aprovou a Declaração “Sobre os Problemas da Mulher”, onde reconhece a igualdade da mulher e a capacidade que ele possui de contribuir com a sociedade, a qual transcrevemos abaixo:

“Os adventistas do sétimo dia creem que todas as pessoas, homens e mulheres, são criadas iguais, à imagem de um Deus amoroso. Cremos que tanto os homens quanto as mulheres são chamados para desempenhar um papel importante no cumprimento da missão primária da Igreja Adventista: trabalhar juntos para o benefício da humanidade. Contudo, estamos dolorosamente conscientes de que em todo o mundo, em nações desenvolvidas e em desenvolvimento, condições sociais adversas frequentemente inibem a mulher de preencher o seu potencial dado por Deus.

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem identificado vários grandes problemas, bem documentados pela pesquisa, que com frequência impedem a mulher de dar valiosas contribuições à sociedade. O estresse, o ambiente e as crescentes demandas têm colocado a mulher em maior risco quanto aos problemas de saúde. A pobreza e os pesados encargos de trabalho não somente privam a mulher de sua capacidade de apreciar a vida, mas também prejudicam o seu bem-estar físico e espiritual. A violência familiar cobra um pesado tributo de suas vítimas.

“A mulher tem direito aos privilégios e oportunidades dadas por Deus e destinadas a cada ser humano – o direito à alfabetização, à educação, à adequada assistência médica, à tomada de decisões e à libertação do abuso físico, mental e sexual. Também salientamos que a mulher deve desempenhar um crescente papel na liderança e tomada de decisões tanto na Igreja quanto na sociedade.

“Finalmente, cremos que a Igreja cumprirá sua missão somente quando a mulher for habilitada para que possa atingir todo o seu potencial”.

Partindo do pressuposto de que as Escrituras Sagradas afirmam que homem e mulher foram criados iguais, oportunidades e situações de igualdade entre mulheres devem existir. Isso continua sendo um enorme desafio para as inúmeras sociedades, inclusive a sociedade brasileira. Um problemão que precisa ser relembrado e enfrentado cotidianamente.

Combater o machismo é um dever cristão

Não obstante a Bíblia Sagrada e a Igreja Adventista defenderem a igualdade entre homem e mulher, a cultura machista, na qual a sociedade está fundamentada, ainda é muito forte na igreja. Há maridos que exigem que suas esposas sejam empregadas domésticas, servas sexuais e as tratam como propriedades. Vale ressaltar que esse modelo violento de família não está presente somente na Igreja Adventista, mas em muitas outras igrejas cristãs. Existem alguns trechos das Sagradas Escrituras que muitos homens empregam para enfatizar a submissão feminina de maneira equivocada.  Basta vermos o que está escrito em Efésios 5:21-33.

Todavia, infelizmente o que vemos comumente são muitos religiosos se baseando, no que está escrito nos versículos de 22 ao 24:

“Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos” (NVI).

Acontece que eles esquecem de refletir no versículo anterior que diz: “Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Efésios 5:21, NVI). Portanto, a ordem bíblica de que tanto a mulher como o homem devem sujeitarem-se mutuamente.

O apóstolo Paulo continua sua exortação: “Maridos, amem suas mulheres, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável. Da mesma forma, os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo. "Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne". Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja. Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito” (Efésios 5: 23-33, NVI).

Observamos que há recomendações para ambas as partes e concluímos que, devido à má interpretação ou uso de pequenos trechos das Escrituras em benefício próprio, muitas mulheres em seus lares cristãos, tem sofrido com relacionamentos abrutalhados, autoritários e ditatoriais. E com muita frequência vemos estes casos culminarem em feminicídios, que deixam toda a sociedade estarrecida. Isso é um problema cultural e pecaminoso que Paulo não focaliza na sua carta aos efésios. A visão bíblica da submissão de forma alguma ensina uma posição ditatorial, autoritária e injusta nas relação conjugal, onde um exerce poder e o outro rasteja desamparado. Vamos separar essa palavra, sub/missão, e poderemos compreendê-la melhor. Cada um tem sua missão em um casamento, a da mulher é de auxiliadora do marido, mas será que alguém pode auxiliar a quem te fere e te machuca? É impossível! As mulheres que são vítimas de violência por parte de seus maridos não devem se calar, mas devem denunciar rapidamente à Polícia ou a outras entidades de proteção a mulher.

O homem que realmente teme a Deus, ama, cuida, protege e respeita a sua esposa e consequentemente terá ao seu lado alguém para auxiliá-lo a alcançar felicidade. Cremos que a família que está no coração de Deus, é aquela na qual mulheres não apanham, não são forçadas ao sexo e à subjugação marital. Acreditamos numa família na qual as mulheres são livres.

Como cristãos, devemos combater com veemência o machismo, pois ele é ofensivo a Deus, é um pecado por violar o princípio bíblico de igualdade de gênero, por agredir a dignidade da mulher, um ser criado a “imagem e semelhança” Dele (Gn 1:26, 27), e que portanto tem os mesmos direitos que o homem, em Jesus. (Gl 3:28).

Vale ressaltar que, desde o início da luta das mulheres, no século XIX, por mais oportunidades e liberdade, que elas vem obtendo importantes conquistas, a exemplo do sufrágio feminino, ou seja, o direito ao voto, bem como o acesso ao mercado de trabalho e a educação. Mas, a equidade - igualdade de oportunidades - ainda não foi alcançada. Muitas mulheres ainda sofrem pela violência de gênero, a violência por serem mulheres, e desigualdade no mercado de trabalho.

Portanto, a luta pela igualdade de gênero em nossa sociedade é um dever de todos, homens e mulheres. É preciso lutar para que a mulher receba salário igual a dos homens, quando homens e mulheres exercem a mesma função e são igualmente qualificados; é preciso ampliar o lugar de fala das mulheres em casa, nas reuniões de trabalho, considerando que opiniões de ambos os sexos são relevantes.