Teologia

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

FELIZ ANO NOVO


por Ellen G. White

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio. Salmos 90:12.

Acha-se agora no passado outro ano de vida. Abre-se um novo ano diante de nós. Que registro será o seu? Que escreverá cada um de nós em Suas páginas imaculadas? A maneira por que passamos cada dia que vem, decidirá. ...

Entremos no novo ano com o coração purificado da contaminação do egoísmo e do orgulho. Afastemos de nós toda condescendência pecaminosa, e busquemos tornar-nos fiéis, diligentes discípulos na escola de Cristo. Um novo ano descerra suas alvas páginas aos nossos olhos. Que escreveremos nós aí? [...]

Procurai começar este ano com justos desígnios e motivos puros, como seres responsáveis perante Deus. Conservai sempre em menteque os vossos atos estão passando diariamente à história pela pena doanjo relator. Encontrá-los-eis novamente quando o Juízo se assentare forem abertos os livros. [...]

Se nos ligarmos a Deus, a fonte da paz, da luz e da verdade, Seu Espírito fluirá por nosso intermédio como por um conduto, de modo a refrigerar e beneficiar a todos ao redor de nós. Este pode ser o último ano de vida para nós. Não o iniciaremos com refletida consideração? Não hão de a sinceridade, o respeito, a benevolência assinalar nossa conduta para com todos?

Não retenhamos coisa alguma dAquele que deu Sua preciosa vida por nós. [...] Consagremos todos a Deus a propriedade que Ele nos confiou. Acima de tudo, demo-nos nós mesmos a Ele como oferta voluntária. — The Signs of the Times, 7 de Janeiro de 1889.

Oxalá o início deste ano seja uma ocasião inesquecível — ocasião em que Cristo entre em nosso meio, e diga: “Paz seja convosco”. João 20:19. Desejo a todos, um feliz Ano Novo.

“Vivemos por atos, não por anos; por pensamentos, não respiração; Por sentimentos, não algarismos de um relógio. Devemos contar o tempo pelo pulsar do coração que bate Pelo homem, pelo dever. Vive mais aquele que Mais pensa, sente mais nobremente e procede melhor.” — The Review and Herald, 3 de Janeiro de 1882.

Nossa Alta Vocação [MM 1962], p. 16, 17

sábado, 28 de dezembro de 2019

SOMOS FARISEUS OU PUBLICANOS?


Ricardo André

No evangelho de Lucas está registrado uma poderosa parábola contada por Jesus durante Seu ministério terrestre que desafia você e eu a fazermos um saudável autoexame de consciência. A parábola descreve dois homens visitando o mesmo templo, ambos orando ao mesmo Deus. Mas algo entre os dois é completamente distinto. Neste estudo vamos conhecer o contexto, explicação, significado e as profundas verdades espirituais que a Parábola do Fariseu e o Publicano nos ensina.  Ao ler esse extrato do evangelho eu fiquei muito feliz porque acredito piamente que, se compreendermos plenamente essas verdades, elas serão capazes de mudar de forma concreta a minha vida e a tua também.

"Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. "Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’. "Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado" (Lucas 18:10-14, NVI).

Uma Parábola Impactante

Nos dias de Jesus os fariseus eram considerados entre os mais piedosos e religiosos de todos os judeus. Eram zelosos “pelo cumprimento estrito de todos os deveres religiosos prescrito pela Torah, ou ‘Lei de Moisés’ [...]. Sua ocupação era interpretar e aplicar ‘a lei’ a cada detalhe minuciosos e circunstância da vida. Nos tempos de Cristo, essa crescente lista de regras era conhecida como ‘a tradição dos anciãos’ (Mt 15:2)” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 495). Eles se orgulhavam por se acharem cumpridores da Lei e das tradições. Por outro lado, os publicanos por recolherem os impostos e taxas alfandegárias do povo para Roma eram estereotipados. Eram em sua esmagadora maioria “extorquiadores, que, com a conivência dos soldados romanos, pressionavam o máximo possível. Eram muito odiados. Ficavam alienados da sociedade, eram evitados ao máximo e quase nunca eram vistos no templo ou na sinagoga (Mt 11:19; 21:31). O judeu que se tornasse publicano era considerado um lacaio dos detestados romanos e traidor de Israel” (Ibdem, p. 1105). Eles eram vistos como a máfia dos seus dias. Então, você pode perceber, porque a conclusão de Jesus desta parábola, deixou seus ouvintes literalmente atordoados. Foi um exemplo escandaloso e politicamente incorreto sugerir que um publicano seria justificado e salvo, enquanto um fariseu estaria sem perdão e perdido. Mas Jesus transformou o sistema de classificação deles de ponta cabeça.

Segundo Ellen G. White, “o fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem os adoradores de Deus” (Parábolas de Jesus, p. 152). Logo, estes dois homens representam dois destinos opostos, os salvos e os perdidos, entre aqueles que vão à igreja hoje. Todo crente professo de hoje cai em um desses grupos. Um desses homens me representa. Um representa você.

Cada um de nós precisa pedir humildade e orientação ao Espírito Santo, ao considerar esta questão. Você pode estar pensando que é um publicano quando você é realmente um fariseu, ou vice-versa. Ou você pode ser um pouco dos dois. É importante estudarmos esta parábola, porque todos nós somos um desses homens, e queremos certificar-nos de ser aquele a quem Jesus perdoa.

Alguns pontos em comum entre o Fariseu e o Publicano

Estes homens tinham algumas coisas em comum.

1) Ambos acreditavam em Deus. Se você quer estar no grupo de salvos, isso é um bom começo! Mas acreditar em Deus não é o único critério para a salvação. “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem” (Tiago 2:19). Porque os demônios também acreditam que existe um Deus, deve haver algo mais para sermos salvos.

2) Os dois homens também iam à igreja. Isso também é importante se você quer estar no grupo dos salvos. Alguém certa vez disse corretamente que “se você não tem fé suficiente para ir à igreja uma vez por semana, não é provável que você terá fé suficiente para chegar ao céu para a eternidade”.

Às vezes as pessoas se desculpam por não ir à igreja, alegando que existem hipócritas lá. Mas eu digo, não se preocupem, pois há sempre espaço para mais um. Além disso, Jesus ia à igreja todos os sábados ainda que ela estivesse recheada de hipócritas, alguns dos quais o queriam até mesmo morto.

Outros reclamam que a igreja é chata. Mas é o propósito da igreja divertir ou adorar a Deus? E se a sua adoração não é satisfatória, ore a Deus para mudar seu coração. Mas vá à igreja. Jesus deu o exemplo, ensinando e adorando na igreja toda semana (Lucas 4:16).

3) Ambos oraram. Jesus diz em Lucas 18:1 que os homens devem “orar sempre”, e Paulo escreve que devemos “orar sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:17). Os salvos de verdade oram.

Assim vimos que ambos os homens acreditavam em Deus. Ambos iam à igreja. Ambos oravam. Creio que você também pratique esses hábitos da fé.

As diferenças

Os fariseus eram cumpridores da Lei, mas espiritualmente orgulhosos

Agora vamos considerar algumas de suas diferenças. Os fariseus usavam orgulhosamente sua piedade. Eles eram um elemento extremamente conservador de crentes que eram zelosos rem relação às Escrituras, a lei de Deus, e a pureza do culto a Yahawéh. Quando os judeus estavam em cativeiro na Babilônia, os profetas, lhes disseram que eles foram subjugados por causa de sua infidelidade a Deus. Em resposta, foi formada a seita dos fariseus, para que Israel não se permitisse ser influenciado pelas nações pagãs circunvizinhas. Meticulosos nos detalhes de sua religião, os fariseus sabiam que se Israel caísse na idolatria novamente, Deus poderia retirar para sempre a Sua proteção.

Portanto, este era geralmente um bom grupo de pessoas que eram apenas muito zelosas em sua crença de não se contaminarem por seu ambiente.

Infelizmente, muitos e talvez a maioria dos fariseus deixaram o seu zelo pela obediência apagar o seu amor por seus semelhantes. Jesus os repreendeu várias vezes por sua preocupação com o formalismo religioso, a religião exterior e sua maldade hipócrita. Nenhum aspecto da prática religiosa foi mais condenado por Jesus do que o farisaísmo: uma vida baseada no que é externo, no legalismo, no estilo de vida ostentoso e na hipocrisia, ao passo que pouca ou nenhuma atenção é dada ao amor, à misericórdia e à justiça. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” (Mateus 23:27).

Nesta parábola reveladora, o fariseu é um homem hipócrita. Portanto, Jesus advertiu: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lc 12:1). Hipocrisia na definição de Cristo, não é alguém que fica aquém dos ideais divino. Hipócrita é aquele que busca “visibilidade”, que troca o alvo de agradar a Deus pelo objetivo idólatra de ganhar aplauso humano. Como os fariseus, cuja religião era praticada visando ao louvor dos observadores, e não à glória de Deus.  Examine a si mesmo: Será que sou um fariseu? A parábola do fariseu e do publicano nos convida para que examinemos até que ponto deixamos o farisaísmo entrar em nossas vidas; até que ponto confiamos em nós mesmos e nossos esforços como agentes da nossa salvação; até que ponto nos damos o direito de julgar os outros, conforme os nossos critérios. Se você tem toque de fariseu em sua vida, cuidado!
                                                                                                                  
Os publicanos eram considerados traidores e corruptos.

O publicano, por outro lado, era a versão antiga de um coletor de impostos – apesar de serem bastante diferentes dos coletores de impostos de hoje. Quando os romanos conquistavam uma província, eles não falavam a língua e não conheciam a cultura da mesma, mas precisavam do imposto de renda. Então, ao invés deles mesmos recolherem os impostos, eles permitiram que os judeus obtivessem licenças para serem cobradores de impostos. Os cobradores de impostos eram necessários para acumular uma certa quantidade do imposto do seu distrito podendo manter um percentual sobre esse valor para si mesmos. Muitos deles exploravam a sua posição para extorquir grandes quantias para encher seus próprios bolsos. Zaqueu era fabulosamente rico, porque ele era um cobrador de impostos em Jericó (Lc 19:1-10).

Os publicanos eram odiados duplamente pelos judeus compatriotas. Primeiro, porque cobravam impostos extorsivos, e ninguém gosta disso. Segundo, porque esse imposto era destinado aos romanos opressores e pagãos. Assim, esses funcionários da fazenda eram considerados traidores do seu povo; e, para piorar, em geral, eles cobravam ágio, ou além do que deveriam, ficando com a diferença. Tudo isso os colocava numa situação oposta a dos fariseus, em termos de reputação. Os publicanos eram também conhecidos por manterem os bares abertos e estarem envolvidos em prostituição. Eles representavam a pior raça de pecadores.

Portanto, nesta parábola sobre duas pessoas que vão ao templo para orar a Deus, as pessoas naturalmente olhavam para os fariseus como os que estavam mais próximos de Deus. Eles consideravam os publicanos como sem esperança e abandonados por Deus. No entanto, Jesus conclui Sua parábola afirmando que o publicano “desceu para sua casa justificado”. Ele conseguiu o que tanto desejava, a paz repousou sobre ele. A pergunta que se impõe é: “Por que Cristo favoreceu o publicano e não o fariseu, meticuloso observador da Torá hebraica?”

Orações Peculiares e Postura

Uma distinção importante entre os dois homens foi a maneira que eles oraram. “O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo” (Lucas 18:11). Levantou-se, por si mesmo, na frente, afastados de todos, para não se contaminar. Em seguida, agradeceu a Deus por não ser como o publicano. Sua cabeça estava erguida, seus braços estavam esticados. Em última análise, ele não orava a Deus. Jesus é claro ao dizer que ele “dirigia uma oração a si mesmo”. Em outras palavras, o fariseu estava falando de si consigo mesmo. Seus elogios eram dirigidos ao seu próprio ego.

Mas a oração do publicano foi totalmente diferente. “O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13). O publicano estava humildemente com o pé atrás, nem sequer se atrever a levantar os olhos. Sua posição e comportamento revelam a atitude de alguém que, na presença de Deus, sente-se desqualificado. Ele permanece longe do altar (Lc 18:13) por sentir-se indigno. Não tem qualquer ilusão a seu respeito. Ele classificou-se a si mesmo como “o pecador”. O apóstolo Paulo também fez o mesmo quando escreveu: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15).

A oração do publicano expressa uma verdade presente em toda a Bíblia, declarando que a salvação, do início ao fim, pertence a Deus e é atribuída à sua misericórdia e graça (Salmo 51:1; Lucas 18:13; Efésios 2:8; Tito 3:5). O homem é incapaz de justificar-se a si mesmo. Sobre isso Ellen G. White escreveu: “Quem procura alcançar o Céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade. Não pode o homem salvar-se sem a obediência, mas suas obras não devem provir de si mesmo; Cristo deve operar nele o querer e o efetuar, segundo Sua boa vontade. Se o homem pudesse salvar-se por suas obras, teria ele algo em si mesmo, pelo qual se alegrar. O esforço que o homem faz em suas próprias forças para obter a salvação, é representado pela oferta de Caim. Tudo que o homem pode fazer sem Cristo é poluído pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que é operado pela fé é aceitável a Deus. Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, a alma faz progresso. Olhando para Jesus, autor e consumador de nossa fé, podemos prosseguir de força em força, de vitória em vitória; pois por meio de Cristo a graça de Deus operou nossa salvação completa” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 364).

O fariseu focava em se comparar com às outras pessoas. Mas ele não fazia no sentido positivo, como por exemplo, se comparando a homens íntegros como Jó, o profeta Elias, o profeta Jeremias, o profeta Daniel e tantos outros. Na verdade ele se comparava aos demais no sentido negativo, ou seja, ele afirmava não ser um ladrão, um injusto e um adúltero. Quando viu o publicano orando, também o incluiu em sua lista de desprezados. Sua auto-glorificação era à custa da miséria alheia.

Após se comparar com outras pessoas, o fariseu começou a exibir seus grandes feitos como cumpridor da Lei. Na verdade, como um bom fariseu, ele se esforçou para enfatizar que ele fazia ainda mais do que a Lei mandava. “Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Versículo 12). Note que ele dizia jejuar duas vezes por semana, enquanto a Lei exigia apenas um dia de jejum por ano, apesar de permitir o jejum voluntário em qualquer ocasião (Levítico 16:29). Os fariseus, por sua vez, instituíram a segunda-feira e a quinta-feira como dias de jejum. Muito provavelmente era disso que ele estava falando. Ele queria que as pessoas soubessem o que ele estava fazendo e dando para o Senhor. Ele proclamou a sua obediência à lei. Sua oração foi realmente de auto exaltação.

Em contraste, Cristo começou o Seu ministério dizendo: “Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens” (Mateus 23:5). Jesus diz que essa é toda a recompensa que terão (Mateus 6:2).

Esta parábola é importante para nós, mesmo hoje, porque ainda temos fariseus na igreja de hoje.

O problema com este fariseu foi que ele em momento algum reconheceu que tivesse quaisquer problemas ou pecados, e que, portanto, necessitasse de ajuda e arrependimento. Ao contrário disso, o fariseu parecia tentar mostrar para Deus o quanto ele era bom, e como Deus era privilegiado por ter alguém daquela qualidade orando diante dele. Na verdade ele tinha orgulho interior, estava orgulhoso de sua “bondade”. Não há nada mais perigoso para o verdadeiro cristianismo do que o orgulho espiritual. Como Ellen G. White apresenta: “Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável” (Parábolas de Jesus, p. 154). Isto que Ellen White escreveu expressa uma verdade, porque como ela mesmo afirmou, “o orgulho não sente necessidade alguma, e assim fecha o coração a Cristo e às infinitas bênçãos que veio dar” (Caminho a Cristo, p. 30).

Ainda de acordo com a Bíblia, a sua auto-justiça era inútil. “Se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20 NVI). Essa é a afirmação mais assustadora em todo o repertório de ideias de Jesus. Deve ter deixado Seus discípulos e demais ouvintes perplexos, chocados. Mais justos do que os fariseus – quem seria capaz de uma coisa dessas? Como já dissemos anteriormente, os fariseus ordenavam a vida meticulosamente em estrita obediência às regras escritas e não escritas de sua religião, e Jesus está nos dizendo que temos que fazer ainda mais? Impossível, talvez tenham ditos seus ouvintes.

Aqui, Jesus não está demonstrando a justiça dos fariseus, como um padrão. Em vez disso, Ele nos diz que devemos ir além do padrão deles para entrarmos no reino dos céus. Jesus “declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande importância, nada valia. [...] Todas as suas pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias humanas, e mesmo o cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam tornar santos. Não eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no caráter” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 53). Portanto, a justiça deles “era fruto de seus esforços para guardar a lei, segundo suas próprias ideias, e para seu benefício pessoal, egoísta” (Ibdem, p. 54), mas não a verdadeira justiça “que vem de Deus” (Rm 10:3).

“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 6:1).

Exige-se humildade fazer secretamente o bem aqui na terra, dar alguma coisa e não deixar ninguém saber a respeito. Isso nos ajuda a domar nosso espírito e revela a nossa motivação em fazer o bem: “Agimos para que os outros pensem que somos generosos? Será que realmente nos importamos com os que estamos a ajudar?

Em quem depositamos nossa confiança?

O fariseu exaltou suas próprias práticas religiosas em detrimento do seu vizinho. Ele confiou em suas próprias boas ações para torná-lo agradável a Deus. Ele não invocou os méritos de Cristo. Muitas pessoas de boa vontade fazem isso sem perceber. Certamente, o apóstolo Paulo desenvolveu sua teologia da “Justificação pela fé” baseado nesse ensino de Jesus contido nessa parábola. Ele afirmou enfaticamente: “Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à lei” (Rm 3:28). Ele estava falando da lei em seu sentido mais amplo do judaísmo. Por mais conscienciosamente que um judeu tentasse viver sob esse sistema, se deixasse de aceitar Jesus como o Messias, essa pessoa não poderia ser justificada. Se a pessoa fosse justificada por suas próprias ações, poderia se orgulhar disso. Mas quando é justificada porque Jesus é o objeto de sua fé, então, o crédito pertence claramente a Deus, que justifica o pecador. Ellen G. White escreveu: “Ninguém pode ser justificado por quaisquer obras próprias. Só pode ser liberto da culpa do pecado, da condenação da lei, da pena da transgressão, pela virtude do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo. A fé é a condição única de obter a justificação, e a fé abrange não só a crença mas também a confiança” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 389). Ela define Justificação de uma forma belíssima: “O que é justificação pela fé? É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si mesmo não pode fazer” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 456).

O fariseu mediu-se comparando-se aos outros e não com Deus. Faltava-lhe um espírito humilde e contrito. Ele não sentia necessidade de Deus e não fez nenhum pedido em sua oração. Seus agradecimentos não estavam agradecendo a Deus por ser Deus. Seus agradecimentos eram para si mesmo. Cinco vezes em sua oração ele disse: “Eu”. Foi um discurso totalmente centrado no eu.

Normalmente, mesmo a oração egocêntrica é feita para pedir alguma coisa. “Deus, faça isso por mim. Senhor, dá-me isso.” É correto orar sobre as nossas necessidades. Jesus mesmo diz para pedirmos a Deus nosso pão de cada dia (Mateus 6:11). Mas, muitas vezes pedimos coisas que não precisamos, perdendo fôlego que poderia ser gasto em oração pelos outros.

Notavelmente, o fariseu não fez nenhum tipo de pedido. Ele era tão hipócrita que ele acreditava que não precisava de nada. Ele desfrutava de um falso senso de retidão pessoal, a coisa que mais o desqualificava para o céu! C. S. Lewis disse, “Quando um homem está ficando melhor ele entende mais e mais claramente o mal que ainda resta nele. Quando um homem está ficando pior ele compreende a sua própria maldade cada vez menos”

Culto a si mesmo

O publicano e o fariseu ambos acreditavam em Deus, mas acontece que um estava adorando a si mesmo. O fariseu estava confiante em suas próprias obras para a salvação, o publicano pedia a misericórdia de Deus.

Isto não nos faz lembrar de dois outros homens, os irmãos Abel e Caim. Os dois trouxeram suas ofertas a Deus. Ambos oram, Caim está confiante em seu próprio trabalho, oferecendo o fruto da sua horta. Abel pede a misericórdia de Deus, trazendo um cordeiro e dependendo do sangue deste substituto para cobrir seu pecado. Quando vê sua auto-justiça sendo rejeitada por Deus, Caim despreza e mata o seu irmão (Gn 4:1-10). Veremos este mesmo cenário se repetir nos últimos dias.

Voltando ainda mais para trás, Lúcifer caiu na mesma armadilha. Ele ficou encantado consigo mesmo. O orgulho se transformou em culto voluntário, que gerou ciúme e assassinato.

Em Lucas 18:12, o fariseu lembrou o Senhor sobre suas boas obras, uma das quais era jejuar duas vezes por semana. Sendo que era requerido dos judeus que jejuassem uma vez por ano em uma das festas durante a páscoa.

Não há nada errado com o jejum. Na verdade, a maioria de nós deveria fazer mais do mesmo.

Não existe nada de errado com a oração, nem com dar algo a qualquer um. O problema é quando você faz essas coisas pela razão errada, esta é a diferença entre o publicano e o fariseu. Tem a ver com motivos.

Jesus ensinou: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque eles desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando” (Mateus 6:16). Seja bom! Ore! Jejue! Mas não faça isso para ser admirado. Pratique a religião sem se preocupar com os aplausos ou com a sua imagem. Basta Deus saber o que você está fazendo.

O fariseu exaltou-se a si mesmo aos olhos dos homens. Isto deu-lhe um sentimento de orgulho e valor, sim, mas ele não encontrava isso aos olhos de Deus. Quando ele quis saber o que a Lei significava e onde estava em relação a ela, olhou em volta e comparou-se a outros homens. Paulo aborda essa atitude fatal, dizendo: “Porque não ousamos classificar-nos, ou comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas estes que se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem entendimento” (2 Coríntios 10:12).

Nós sempre podemos encontrar alguém pior espiritualmente do que nós somos. O publicano não era provavelmente o pior pecador nas imediações, mas ele não se comparava aos outros homens. Ele não orou com uma perspectiva horizontal, mas sim, comparou-se a si mesmo à Deus e implorou por Sua misericórdia, porque ele viu que a diferença era enorme.

Devemos reconhecer nossa pobreza espiritual para recebermos o perdão de Deus

Isaías, na presença de Deus, disse: “Ai de mim” (Isaías 6:5). O fariseu, na presença do publicano, disse: “Eu não sou tão ruim assim.” Todos nós fazemos isso às vezes, anestesiamos nossa culpa, se conseguimos encontrar alguém para criticar. Nós recitamos ao Senhor as nossas virtudes e listamos as falhas dos outros, tentando convencê-Lo, ou convencer a nós mesmos, que não estamos tão mau assim.

Mas devemos parar de tentar elevar a nós mesmos agindo dessa forma. Fazer isso simplesmente não funciona. Ao contrário, devemos nos comparar a Jesus, tomando-o como nosso exemplo e padrão. Essa é a única forma de podermos ser verdadeiramente exaltados. “Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará” (Tiago 4:10).

Jesus disse: “Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).

Caro amigo leitor, quão relevante a parábola do fariseu e publicano proferida por Jesus é para você e para mim hoje, no final dos tempos. Temos de ser cuidadosos. Arrogância e falta de vontade em admitir que precisamos de salvação será um problema crônico no período final da igreja. Se não abandonarmos a presunção e a justiça própria, o Examinador de corações, como fez com o rei pagão Belsazar, fará o registro contra nosso nome: “Foste pesado na balança e achado em falta” (Daniel 5:27, NVI). Isso significa condenação eterna.

Por outro lado, são aqueles que vêm a Deus reconhecendo sua pobreza espiritual que encontram aceitação, perdão e vida eterna. “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). Nesse sentido Ellen G. White escreveu: “Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança, é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele. Qualquer que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam vossas circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois, fracos, incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande distância ao vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar do pecador. Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás intervém em altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e reivindicando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder” (O Maior Discurso de Cristo, p. 9).

Aqui algumas perguntas devem ser feitas: No dia de hoje, você se parece com o homem que foi para casa justificado ou com aquele que não alcançou perdão? Quando você olha para sua própria vida através do espelho das Escrituras quem você vê: o fariseu ou o publicano?

Certamente todos nós podemos nos ver de alguma forma através das palavras de Jesus na Parábola do Fariseu e o Publicano.

Que estas verdades das Sagradas Escrituras sejam plantadas no fundo de nossos corações. Que o Senhor ajude-nos a perceber a extensão da nossa necessidade dEle, bem como a estar dispostos a ser humilde de espírito.



quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

CRISTO — UM COM O PAI DESDE A ETERNIDADE




Ellen G. White*

Eis que a virgem… dará à luz um filho, e Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco). Mateus 1:23.

O brilho do “conhecimento da glória de Deus” vê-se “na face de Jesus Cristo”. Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai; era “a imagem de Deus”, a imagem de Sua grandeza e majestade, “o resplendor de Sua glória”. Foi para manifestar essa glória que Ele veio ao mundo. Veio à Terra entenebrecida pelo pecado, para revelar a luz do amor de Deus, para ser “Deus conosco”. Portanto, a Seu respeito foi profetizado: “Será o Seu nome Emanuel.” Isaías 7:14.

Vindo habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. Ele era a Palavra de Deus — o pensamento de Deus tornado audível. Em Sua oração pelos discípulos, diz: “Eu lhes fiz conhecer o Teu nome” — misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade — “para que o amor com que Me tens amado esteja neles, e Eu neles esteja”. João 17:26. Mas não somente a Seus filhos nascidos na Terra era feita essa revelação. Nosso pequenino mundo é o livro de estudo do Universo. O maravilhoso desígnio de graça do Senhor, o mistério do amor que redime, é o tema para que “os anjos desejam bem atentar”, e será seu estudo através dos séculos sem fim. Mas os seres remidos e os não caídos encontrarão na cruz de Cristo sua ciência e seu cântico. Ver-se-á que a glória que resplandece na face de Jesus Cristo é a glória do abnegado amor. À luz do Calvário se patenteará que a lei do amor que renuncia é a lei da vida para a Terra e o Céu; que o amor que “não busca os seus interesses” (1 Coríntios 13:5) tem sua fonte no coração de Deus; e que no manso e humilde Jesus se manifesta o caráter dAquele que habita na luz inacessível ao homem.

Contemplamos Deus em Cristo. Olhando para Jesus, vemos que a glória de nosso Deus é dar. “Nada faço por Mim mesmo” (João 8:28), disse Cristo; “o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai.” João 6:57. “Eu não busco a Minha glória”, (João 8:50), mas a “dAquele que Me enviou”. João 9:4. Manifesta-se nestas palavras o grande princípio que é a lei da vida para o Universo. Todas as coisas Cristo recebeu de Deus, mas recebeu-as para dar. Assim nas cortes celestes, em Seu ministério por todos os seres criados: através do amado Filho, flui para todos a vida do Pai; por meio do Filho ela volve em louvor e jubiloso serviço, uma onda de amor, à grande Fonte de tudo. E assim, através de Cristo, completa-se o circuito da beneficência, representando o caráter do grande Doador, a lei da vida.

*Ellen G. White (1827-1915), escritora norte americana, co-fundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, exerceu o ministério profético por 70 anos.

FONTE: Refletindo a Cristo [MM 1986], p. 07, de Ellen G. White

UM NOVO REMANESCENTE?


por Amin A. Rodor*

Como Deus vai administrar a crise final da Igreja

A Israel foram feitas, sob condições, promessas de que ele permaneceria como povo escolhido. Ao fracassar, Deus suscitou a Igreja cristã. Quando esta se tornou corrompida em doutrinas e práticas, Ele levantou os reformadores para se separarem e formarem o corpo protestante. Então, estes também falharam em avançar na luz que lhes foi concedida, e o Senhor suscitou o movimento adventista com uma missão especial para o fim da História. O modelo é consistente: até aqui os fiéis saíram do remanescente apostatado para constituírem um novo remanescente.

Quer isso dizer que o ciclo de chamado, apostasia e novo chamado continua aberto indefinidamente?

É precisamente aqui que o cenário do fim impõe uma nova dinâmica. Obviamente, esse ciclo deve ser quebrado em algum ponto; do contrário, por causa da natureza humana, ele ocorreria constantemente sem qualquer resolução final. Notemos que o fracasso de Israel ou da própria Igreja não tomou Deus de surpresa. A antecipação divina já fizera provisão para a tragédia da apostasia, tanto de Israel, da Igreja cristã, como da própria reforma protestante. Contudo, não existe qualquer provisão profética para um novo remanescente em substituição ao movimento adventista. Isso é evidente no Apocalipse (capítulos 3 e 12). Sete igrejas, e não mais, simbolizam a trajetória da Igreja através da Era Cristã. Laodicéia, a Igreja morna, o povo do juízo, com todos os seus defeitos e fraquezas, fecha o círculo. Qualquer outra conclusão significa estar em descompasso com o tambor da revelação.

Então, como tratará Deus com os problemas da Igreja, se não há provisão profética para um remanescente do remanescente? Para embaraço dos oponentes, Deus introduz aqui uma nova estratégia. O Senhor claramente delineou como Ele há de administrar a crise final da Igreja, mas Sua agenda, devemos entender, não inclui a probabilidade de um novo movimento separando-se dela. No passado, como foi visto, o chamado foi para que os fiéis se separassem do corpo apostatado. Mas esse processo – repetimos – não poderia continuar indefinidamente. Nas cenas finais da História, ao contrário das reformas tradicionais, são os infiéis, não os fiéis, que deixarão a Igreja. A sacudidura tomará o lugar do clássico chamado para sair. Esses dois métodos de separação devem ser claramente diferenciados e entendidos.

Método divino

“Haverá uma sacudidura da peneira. No devido tempo, a palha precisa ser separada do trigo. Por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos está esfriando. Este é precisamente o tempo em que o genuíno será o mais forte.”1 Haverá uma separação de nós por parte daqueles que não apreciaram a luz nem caminharam nela.

Qual o resultado final desse peneiramento? A palha, representando os infiéis e insinceros que presentemente são encontrados na Igreja, será separada do trigo, símbolo dos cristãos genuínos. O grupo classificado como “morno” (Apoc. 3:15 e 16), para constrangimento da Igreja, presente hoje em Laodicéia, há então de desaparecer para sempre, quer identificando-se com o “quente”, ou assumindo o grupo dos “frios”. A polarização é inevitável, e não poderia ser diferente!

Como um ato de sabotagem, o inimigo traz o joio para dentro da Igreja (Mat. 13:24-30, 36-43). “Enquanto o Senhor traz para a Igreja aqueles que são verdadeiramente conversos, Satanás, ao mesmo tempo, traz pessoas que não são verdadeiramente convertidas para a sua [da Igreja] comunhão.”2 Contudo, como Ellen White indica, esse estado de coisas há de sofrer uma alteração radical: “A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja.”3

Quem são os que deixarão a Igreja, sob a ação da sacudidura, identificados de forma geral sob as figuras do “joio”, “palha” e “mornos”? Ellen White, em seus vários escritos sugere uma ampla identificação: “os auto-enganados”, “os descuidados e indiferentes”, “os ambiciosos e egoístas”, “os que se recusam a sacrificar”, “os orientados pelo mundanismo”, “os que transigem e comprometem a verdade”, “os desobedientes”, “os invejosos e críticos”, “os fuxiqueiros, os que acusam e condenam”, “a classe conservadora superficial”, “os que não controlam o apetite”, “aqueles que promovem a desunião”, “os estudantes superficiais da Bíblia”, “aqueles que perderam a fé no dom profético”.4

Aqui, dois fatos são evidentes: primeiro, a ampla variedade do catálogo; e, segundo, todas as categorias estão hoje representadas na Igreja.

Ellen White estabelece ainda uma clara convergência entre esses dois aspectos, observando que, “ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência à verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário”.5

Novamente, a ênfase é colocada no fato de que são os infiéis que abandonarão a Igreja: “Logo o povo de Deus será testado por severas provações e uma grande proporção daqueles que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil. Em lugar de serem fortalecidos e confirmados pela oposição, ameaças e abusos, eles, covardemente, tomarão o lado dos oponentes. ... Permanecer em defesa da verdade e da justiça – quando a maioria nos há de abandonar – para lutar as batalhas do Senhor, quando os campeões serão poucos, esse será o nosso teste. Neste tempo devemos tirar calor da frieza de outros, coragem da covardia deles, e lealdade de sua traição.”6

A purificação da Igreja virá no tempo indicado, mas não através das reformas e reformulações inventadas e promulgadas pelos dissidentes. A Igreja será purificada afinal, mas o movimento será precisamente o inverso daquilo que aconteceu ao longo dos desdobramentos da História. Sairão os insinceros, enquanto os fiéis permanecerão na comunhão da Igreja. E exatamente por isso, não há provisão divina para um novo remanescente. Aqueles que hoje buscam pureza eclesiástica através da crítica e da acusação, e finalmente se afastam do corpo remanescente de Cristo, cometem um colossal erro de cálculo.

Enquanto aguardamos a resolução final da História e a purificação da Igreja, devemos lembrar-nos de que “Deus não deu a nenhum dos Seus servos a obra de punir aqueles que não dão ouvidos às Suas advertências e reprovações. Quando o Espírito Santo habita no coração, Ele guiará o agente humano a ver os seus próprios defeitos de caráter, a ter piedade das fraquezas dos outros, a perdoar como ele deseja ser perdoado. Será misericordioso, cortês e semelhante a Cristo”.7

Vitória assegurada

O caráter não é construído nas crises, mas é revelado por elas. Os frutos continuam sendo o grande teste da natureza da árvore e, certamente, se o Senhor não pode mudar nosso caráter, dificilmente Ele poderá mudar nosso destino final. Cada dia, nossa submissão ou rebelião à voz do Espírito está definindo as formas de nossa construção eterna. Ninguém precisa ser enganado pelas aparências. “Quando homens se levantam, pretendendo ter uma mensagem de Deus, mas em vez de combaterem contra os principados e potestades, e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam um falso esquadrão, virando as armas de guerra contra a igreja militante, tende medo deles. Não possuem as credenciais divinas. Deus não lhes deu tal responsabilidade no trabalho.”8

Falhará a Igreja? Independente de como os críticos e analistas do negativismo percebam a condição do remanescente de Deus, o Senhor está no controle. Fracasso de nossa parte em crer neste fato nos levará ao desencorajamento ou ao sentimento de que necessitamos “fazer justiça” com as nossas mãos. Essas, porém, são tentações que devem ser resistidas. “A Igreja pode parecer quase a cair, mas ela não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento – a palha separada do trigo precioso. Este é um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar.”9

O remanescente de Deus não fracassará, mesmo quando as aparências sugerem outra conclusão. Podemos afirmar tal convicção porque ela está ancorada em quatro fatos fundamentais: primeiro, Cristo é o cabeça da Igreja. Isso, evidentemente, não nos coloca além da possibilidade de fracasso individual. Segundo, não há qualquer provisão profética para um remanescente do remanescente. Tal certeza, entretanto, não deveria levar-nos a qualquer orgulho denominacional, acomodação ou falsa segurança na prática do pecado. Ao contrário, deve conduzir-nos à crescente submissão ao Senhor da Igreja. Terceiro, as vitórias da igreja, através das crises de sua história, crises e pressões que em sua violência e poder de ataque pareceram insuperáveis, dão-nos segurança de que as crises futuras serão administradas pela eficiência dAquele que não pode falhar.

Finalmente, o quadro profético do Apocalipse quanto à Igreja dos últimos dias, é esboçado em termos de vitória (Apoc. 14:1-5; 7:9, 10, 13-17). Não há nada incerto ou duvidoso quanto ao triunfo final da Igreja, ao enfrentar o mar tormentoso dos últimos eventos.

Segundo a tradição ligada ao Titanic, o navio considerado insubmergível pelo seu capitão, E. J. Smith, mas que fatalmente desceu para o seu mergulho sem retorno nas águas gélidas do Atlântico Norte, na madrugada de 15 de abril de 1912, no domingo seguinte à tragédia, na cidade de Southampton, de onde o navio havia saído alguns dias antes, e onde viviam muitas das vítimas daquele naufrágio, um pregador americano convidado para uma campanha evangelística, pregou um poderoso sermão sob o título “O navio que não pode afundar”.

O sermão, evidentemente, não era uma referência ao Titanic, mas a uma outra embarcação, de 1900 anos antes, também seriamente ameaçada pelas águas, cruzando o mar da Galiléia (Mat. 8:23-27). O único navio que não pode afundar, concluiu o pregador com extraordinário senso de propriedade, é aquele em que Cristo está presente. Essa é a única segurança da Igreja ao enfrentar a procela do mar aberto, nos instantes finais de sua jornada. Nossa garantia não se encontra na habilidade ou na perfeição dos homens, na suficiência ou na fortaleza da “embarcação”, mas na presença e autoridade dAquele a quem “os ventos e o mar obedecem” (v. 27).

Referências:

1. Ellen G. White, Eventos Finais, pág. 149.

2. Ellen G. White, Spiritual Gifts, vol. 2, pág. 284.

3. __________ , Carta 46, 1887, pág. 6.

4. Ver Testimonies, vol. 4, págs. 31, 89, 90 e 232; vol. 5, págs. 81, 211, 212 e 463; vol. 1, págs. 182, 187, 251 e 288; Primeiros Escritos, págs. 50 e 269; The Upward Look, pág. 122; Review and Herald, 08/06/1901; Testemunhos Para Ministros, pág. 112; Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 84.

5. Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 608.

6. Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 2, pág. 1.038.

7. Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 5, pág. 136.

8. ___________, Testemunhos Para Ministros, págs. 22 e 23.

9. ___________, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 380.

*Amin A. Rodor, Th.D., é professor e coordenador da Faculdade de Teologia do Unasp, Campus 2, Engenheiro Coelho, SP.

FONTE: Revista Adventista, novembro 2003, p. 8-10.

SERÁ QUE A IGREJA ADVENTISTA PERDEU O TÍTULO DE POVO ESPECIAL?


F.M.S. 
 
Ao longo da história da humanidade, sempre houve pessoas fiéis. Pouco mais de um século antes do Dilúvio, Deus viu que a raça humana estava sob forte ameaça de completo declínio espiritual e moral. Em face disso, Ele arquitetou um meio de escape: a arca. Entretanto essa grande embarcação só seria refúgio para os que fossem obedientes às advertências divinas. Como sabemos, apenas oito pessoas foram salvas da destruição avassaladora. Esse pequeno grupo era um remanescente composto de pessoas leais ao Senhor.

Séculos depois, Deus suscitou um povo especial, ao cumprir a promessa feita a Abraão de que ele seria pai de uma "grande nação" (Gên. 12:2).

Israel, no entanto, não cumpriu as condições para permanecer como povo escolhido. Devido a isso, Deus suscitou a igreja cristã. Mas, ao longo dos séculos, ela também se corrompeu com doutrinas e práticas pagãs. Surgiram, então, os reformadores, que se separaram da igreja dominante-cheia de tradições humanas-para formar o corpo protestante. Com o tempo, os protestantes falharam em seguir a luz que lhes fora concedida, tornando-se formais e semelhantes àqueles de quem se separaram.

Como as verdades ensinadas por Cristo e pelos apóstolos, estavam no esquecimento. Deus - cumprindo a profecia - suscitou o movimento adventista para restaurar os ensinos cristãos e para cumprir uma missão específica neste mundo. E as três mensagens angélicas (Apoc. 14:6-12) tornaram-se o núcleo da proclamação do "evangelho eterno" (verso 6) a um mundo ameaçado, de um lado, pelas teorias evolucionistas, e de outro, pelas falsas doutrinas da moderna Babilônia (verso 8).

Até aí, Deus seguiu um modelo coerente: "Os fiéis saíram do remanescente apostatado para constituir um novo remanescente". (Ver artigo "Um novo remanescente?", de autoria do Dr. Amin A. Rodor, na Revista Adventista de novembro de 2003, págs. 8 a 10). Entretanto, daí em diante, o ciclo apostasia e novo chamado foi substituído por outro método: a sacudidura ou peneiramento. Por quê? Porque a igreja que Deus suscitou, no século dezenove, não abre nem abrirá mão das verdades que lhe foram confiadas: o sábado, alei moral, a justificação pela fé, a condição do homem na morte, a doutrina do santuário, a volta de Jesus, as normas de saúde, os princípios educacionais, etc. O que tem havido e continuará ocorrendo, é a apostasia de membros desse movimento, sejam líderes ou leigos. A igreja, no entanto, não abrirá mão das doutrinas e princípios acima citados.

Obviamente, nem todos os que professam ser seguidores da mensagem adventista do sétimo dia fazem parte do povo escolhido. Há joio e palha juntos. E isso será assim até à ceifa final (Mat.13:30). Deus também conta com pessoas sinceras, que seguem a pequena luz a que tiveram acesso, embora estejam em outros movimentos religiosos. Cumpre-nos, portanto, a missão de ampliar-lhes a visão das verdades contidas na Palavra de Deus. Tais pessoas, no tempo oportuno, se unirão aos "que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12).

E o que Deus fará com os que, embora professem fazer parte do movimento adventista, insistem em adotar falsas teorias e costumes mundanos? Ele vai prová-los por meio da sacudidura. Esse é o método para a manutenção de um remanescente preparado para os eventos finais: imposição da lei dominical, perseguição, tempo de angústia, últimas pragas, etc.

"A sacudidura deve em breve acontecer para purificar a igreja." (Carta 46, 1887, pág. 6.) Portanto, a igreja será purificada, não rejeitada. Quem cairá fora da peneira? O Dr. Amin Rodor, no artigo mencionado, faz uma lista com base nos escritos de Ellen White: "O joio", "a palha", "os mornos", "os auto-enganados", "os descuidados e indiferentes", "os ambiciosos e egoístas", "os que se recusam a sacrificar", "os orientados pelo mundanismo", "os que não controlam o apetite", "aqueles que promovem a desunião". "os estudantes superficiais da Bíblia", "aqueles que perderam a fé no dom profético". (Ver Testemunhos para a Igreja, vol. 4, págs. 31,89,90 e 232; vol. 5, págs. 81,211 e 212; vol. 1, págs. 182,187,251 e 288; Primeiros escritos, págs. 50 e 269; The Upward Look, pág. 122; Review and Herald, 8/6/1901; Testemunhos Para Ministros, pág. 112; Mensagens Escolhidas, vol. 3, pág. 84.)

"Ao aproximar-se a tempestade, uma classe numerosa que tem professado fé na mensagem do terceiro anjo, mas não tem sido santificada pela obediência a verdade, abandona sua posição, passando para as fileiras do adversário." O Grande Conflito, pág. 608."
"Logo o povo de Deus será testado por severas provações e uma grande proporção daqueles que agora parecem ser genuínos e verdadeiros, provar-se-á metal inútil." Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 2, pág. 1.038.

"A igreja talvez pareça como prestes a cair, mas não cairá. Ela permanece, ao passo que os pecadores de Sião serão lançados fora no joeiramento - a palha separada do trigo precioso. Este é um transe terrível, não obstante importa que tenha lugar." - Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 380.

Como podemos ver, a igreja não perdeu nem perderá seu título. Prova? ela jamais abandonará a sã doutrina, muito embora milhares de seus membros venham a cair da peneira.

O remanescente, acrescido de pessoas sinceras e egressas de outros movimentos, será salvo.

FONTE: Revista Adventista, março 2005, p. 4.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NO PRIMEIRO NATAL DEUS TORNOU-SE UM DE NÓS


Ricardo André

Está chegando o Natal. Particularmente, amo o Natal! Na minha vida e história ele tem um significado muito importante, pois é uma época do ano em que minha família se reúne, nos reencontramos, renascemos um para o outro, estamos ali sendo luz na vida do outro. Mais que isso, o Natal é uma data bem marcante para mim, sobretudo, porque é um tempo de celebrar o maior acontecimento da história, o nascimento de Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós. Essa história sempre me impressiona e me emociona, porque como diz Ellen White, “a história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as ‘profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus’" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 48). Então, gostaria de apresentar uma reflexão sobre este extraordinário acontecimento.

Foi numa noite tão linda, serena e tranquila na pequena cidade camponesa de Belém da Judeia, “numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2:7), que Jesus nasceu, provavelmente “no outono do ano 5 a. C.” (Comentário Bíblico Adventista, p. 290). O dia e o mês não sabemos, pois os evangelhos omitiram esse detalhe do nascimento do Salvador, possivelmente para evitar a idolatria de uma data. Nesse sentido, Ellen G. White escreveu: “Ele [Deus] ocultou o dia preciso do nascimento de Cristo, para que o dia não recebesse a honra que devia ser dada a Cristo como Redentor do mundo – Aquele que deve ser recebido, em quem se deve crer e confiar como Aquele que pode salvar perfeitamente todos os que a Ele vêm. A adoração da alma deve ser prestada a Jesus como o Filho do infinito Deus” (O Lar Adventista, p. 477, 478).

Em seu evangelho o apóstolo João faz a mais extraordinária declaração neotestamentária a respeito da divindade de Jesus e de sua misteriosa encarnação há mais de dois mil anos: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. [...] Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:1, 14, NVI).

Na “Palavra”, descobrimos o verdadeiro significado do Natal: dar! Deus deu a Si mesmo tornando-se carne, uma pessoa como nós. Jesus deixou o Céu para fazer parte deste mundo corrupto e resgatar-nos do pecado, degradação e morte eterna. Deus Se tornou carne! Maria concebeu e “deu à luz um filho” (Mt 1:25, NVI). Não era um filho comum. Era Emanuel, Deus conosco (Is 7:14), um “Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:11, NVI).

Falando a respeito do propósito da vinda de Cristo ao mundo, a escritora cristã Ellen G. White afirma: “Cristo veio a fim de revelar Deus ao mundo como um Deus de amor, pleno de misericórdia, ternura e compaixão. A espessa escuridão com que Satanás se esforçara por circundar o trono da Divindade, foi dissipada pelo Redentor do mundo, e o Pai mais uma vez Se manifestou aos homens como a luz da vida. [...] Cristo declara-Se enviado ao mundo como representante do Pai. Em Sua nobreza de caráter, em Sua misericórdia e terna piedade, em Seu amor e bondade, Ele Se acha perante nós como a encarnação da perfeição divina, a imagem do Deus invisível” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 335, 336). Sim, ao vir viver conosco, Jesus nos mostrou como Deus realmente é. João escreveu uma das grandes verdades do Evangelho: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14, NVI). A festa do Natal celebra a encarnação dessa Palavra.

Por intermédio de Jesus, Deus desceu como “carne e viveu entre nós”. No Tabernáculo do Antigo Testamento, Deus visitava Israel no Lugar Santíssimo, para que pudesse “habitar no meio deles” (Êx 25:8). Depois, nos tempos do Novo Testamento, Deus através da encarnação “habitou entre nós”. A palavra grega para “habitou” é skenoõ, que significa literalmente “acampou-Se” ou “armou Sua tenda entre nós” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 994). “Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e vida divinos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 23). Logo, o Verbo Encarnado toma o lugar da antiga tenda como local da presença de Deus entre os homens. O evangelho natalino é convite para acolhermos a Palavra (o Verbo) que se tornou um ser humano e que veio construir sua tenda em nosso meio, e com quem as pessoas da época conviveram e a quem, através dos Evangelhos, podemos ver com nossos próprios olhos.

Os atos, ensinos e atitudes de Jesus são os atos, ensinos e atitudes de Deus, pois Ele é Deus. Aquele que é a Palavra estava com Deus. Cristo, “a Palavra”, existiu antes de visitar nosso mundo. O nome Cristo O designa como o Messias longamente esperado e plenamente Deus. Cristo “tornou-Se carne”. O nome Jesus refere-se a Ele como o bebê nascido em Belém de mãe humana. Assim Ele é plenamente homem. Cristo Jesus é completamente Deus e completamente homem. Deus Se tornou homem e viveu entre nós. “A união do divino com a natureza humana é uma das mais preciosas e misteriosas verdades do plano da redenção. É dela que fala o apóstolo Paulo nestas palavras: "Sem dúvida nenhuma, grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne." (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 2, p. 344).

Jesus, o Deus eterno, viveu conosco como ser humano. Experimentou as mesmas coisas que enfrentamos. Como menino, tinha irmãos com quem contender. Então, como homem, trabalhou como carpinteiro, com suor brotando de Sua testa e dor nos músculos. Após Seu chamado para o ministério, retornou à Sua cidade natal porque Se preocupava com Seus vizinhos e amigos. Mas eles não apreciaram Sua mensagem, arrastaram-nO a um penhasco nos arredores de Nazaré e tentaram jogá-lo lá de cima para mata-Lo (Lc 4:16-30).

Ao ser encarnado, Jesus entrou na história humana, e agora era um de nós – e não houve meio melhor de nos mostrar o quanto Deus nos ama do que tornando-Se um de nós e vivendo conosco, sentindo nossa angústia, curando nossas dores, partilhando nossa alegria e morrendo na cruz por nossos pecados. Ele enfrentou as mesmas tentações com as quais lutamos, só que com muito mais intensidade. Teve fome, sede e foi tentado por Satanás a ser alguém, a progredir na vida. Cristo passou pelo trauma de ver morrer um de seus melhores amigos. Junto de Seu sepulcro, “Jesus chorou” (Jo 11:35). O sofrimento O tocava profundamente, assim como acontece conosco.

De fato, Cristo “assumiu os riscos da natureza humana” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 226); entretanto, Sua humanidade foi perfeita. “Embora, como homem, pudesse haver pecado, não repousou sobre Ele nenhuma mancha de corrupção ou inclinação para tal; não possuía propensões para o pecado” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 994).

Mas não nos devemos esquecer nunca de que o Cristo humano era Deus conosco, “um Salvador”. Essa é a mensagem de Natal, “as boas novas de grande alegria” (Lc 2:10). Nasceu Emanuel! Ele pode mudar o coração das pessoas, ressuscitar os mortos e salvar-nos da condenação eterna. Mas fazer isso custou-Lhe a vida. Devemos sempre contemplar Belém à luz do Calvário – contemplar a esperança que a manjedoura e a cruz nos dão.

João ainda afirma que Jesus “veio para o que era Seu, e os seus não O receberam” (Jo 1:11). Que lástima! O mundo de então não O recebeu, hoje continua não havendo lugar para ele nas hospedarias do coração dos homens, posto que a sua presença é também incômoda para quem prefere a escuridão do egoísmo à luz da solidariedade. Mas, por isso mesmo ou tanto mais, é preciso anunciar que a Palavra, pela qual tudo o que existe foi feito, veio construir sua tenda entre nós. O mundo não está irremediavelmente perdido e sem rumo, pois o Natal nos recorda que Deus mesmo veio habitar conosco.

Espero que nesse dia, ao vislumbrarmos as luzes coloridas nas casas, ruas e praças das cidades, a árvore de Natal toda decorada com lâmpadas cintilantes e rodeadas de pacotes de presentes, não nos olvidamos do personagem principal do Natal, que veio transformar o coração humano – Jesus Cristo, o nosso Salvador!