Teologia

segunda-feira, 30 de março de 2020

ROCK PARA JESUS?


Leandro Dalla*

Dentro desse contexto da música rock e estilos correlacionados, faz-se necessária uma pergunta: é adequado oferecer Rock, e seus híbridos, como louvor e adoração ao Criador?

“Ninguém melhor do que Satanás conhece a maneira perfeita do tipo de louvor que Deus aceita, não podemos ser crianças em achar que ele não iria desvirtuar o louvor na igreja contra a qual ele veio fazer guerra, seria muita ingenuidade de nossa parte pensar assim.” Hilton Bastos. A Bateria e o Transe nos Rituais Xamânicos. Disponível em: http://musicaeadoracao.com.br/20131/a-bateria-e-otranse-nos-rituais-xamanicos.

“Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida.” Ellen G. White. Mensagens Escolhidas vol. 2, p. 38.

O argumento corrente é que misturar estilos populares com letra religiosa representa uma forma eficaz de atingir pessoas que, de outra forma, talvez jamais tivessem contato com o evangelho. Segundo alguns autores, para que a comunicação seja eficaz é preciso que o ouvinte compreenda o que está sendo dito. Partindo dessa ideia, acreditam que para alcançar um rockeiro é preciso pregar a mensagem de salvação em estilo rock. O mesmo se faria com os demais estilos populares como forma de alcançar os seus adeptos. Apesar de haver certa lógica nesse raciocínio, nem sempre a lógica humana é a lógica de Deus. E ainda que um método seja agradável ao homem, deve-se, em primeiro lugar, saber se é o método divino. Precisamos lembrar que estamos numa guerra espiritual, O Grande Conflito; e numa guerra quem estabelece as estratégias é o General, e não o soldado.

Imaginemos que um casal está prestes a se casar. O noivo traz uma linda aliança para a noiva. Porém, ao olhar para dentro da aliança de seu noivo, a noiva percebe que está gravado ali o nome de outra moça. Obviamente ela recusa o presente. O noivo explica:

– Sabe, este nome que está aqui é da minha ex-noiva. Eu comprei esta aliança para ela, mas terminamos o relacionamento. Guardei a aliança e agora estou dando a você. Além do mais, é só uma argola de metal que não me fará ser mais fiel ou menos fiel a você. Mas se o problema é o nome que está aí, não se preocupe; eu levo a um ourives, apago este nome e escrevo o seu.

A noiva responde:

– Não adianta mudar o nome que está aí, por três razões muito simples: 1) Eu sei que esta aliança não foi feita para mim; 2) Não é só uma argola de metal, mas tem uma história e uma experiência de vida por trás; 3) Essa aliança, por mais que tenha meu nome nela, te fará lembrar constantemente da sua ex-noiva.

Transferindo para o contexto da música de adoração a Deus, imagine que eu tenha passado muito tempo em um compromisso, consciente ou inconsciente, com o diabo. Nossa aliança se chamava Rock, por meio da  qual promovia tudo aquilo que é contra Deus e Suas leis. Em determinado momento, decido “terminar” com o diabo e começar um relacionamento novo, agora com Deus. Então pego a velha aliança e ofereço ao Senhor. Ele vê que ali não está escrito o Seu nome, mas o nome de outro. Então, explico:

– Sabe, Senhor, este nome que está aqui é do meu ex-senhor, mas terminamos o relacionamento. Guardei a música e agora estou dando ao Senhor. Mas é só uma música, ela não me fará ser mais fiel ou menos fiel a Ti, pois o importante é o meu coração. Mas se o problema é o nome que está aí, não se preocupe; eu mudo a letra e escrevo ‘Deus’.

Qual será a resposta de Deus? Exatamente a mesma da noiva:

– Não adianta mudar a letra, por três razões muito simples: 1) Eu sei que esta música não foi feita para mim; 2) Não é só uma música, mas tem uma história e uma experiência de vida por trás; 3) Essa música, por mais que tenha mudado a letra, te fará lembrar constantemente do seu ex-senhor.

Se nós, seres mortais, jamais aceitaríamos uma aliança nessas condições, por que o Deus Eterno, Santo, Justo, Todo-Poderoso tem que aceitar? Mudar a letra de uma música não muda o seu efeito.

Existem músicas que não são apropriadas para o ambiente de adoração ao Criador. Nosso Deus aceita somente música que nos santifique, nos enobreça e eleve nossas mentes a Ele. Nosso Deus não aceita uma música desgastada e mergulhada na sensualidade, na promiscuidade e na rebeldia contra Seus princípios. Não se oferece a alguém um presente que foi pego no lixo, muito menos ao Criador.

Muitos argumentam que usar a música popular na igreja seria a resposta ao “cântico novo” que a Bíblia recomenda (Sal. 96:1). Mas o texto bíblico não está relacionado à contemporaneidade nem à cronologia, mas a uma nova experiência, uma nova motivação, ainda que seja usado um cântico já conhecido. Além disso, não é preciso reflexão profunda para concluir que o Rock não tem absolutamente nada de novo.

Uma revista promotora da música contemporânea apresentou em um dos seus artigos o “credo do rockeiro cristão”, que diz: “Nós asseguramos que todas as músicas foram criadas iguais; que nenhum instrumento ou estilo de música é mau em si mesmo.” CCM Magazine, nov. 1988, p. 12.

Discordamos veementemente desta declaração e não nos surpreende ter partido de uma publicação que visa o desenvolvimento do “Rock Cristão”. A ideia de que não existe música má tem induzido milhões de pessoas a introduzirem seus estilos musicais preferidos no arraial do Senhor, enganando a si mesmas e aos outros, supondo que estão agradando e adorando ao Senhor, quando na realidade estão agradando e adorando a si mesmos.

Na capa de uma de suas edições, a revista Time apresentou uma pergunta: “Deus está morto?” No artigo que tratou deste assunto havia a seguinte observação:

“Os artistas da Música Cristã Contemporânea são idênticos aos artistas populares, exceto pela letra.” Time, vol. 87, n.14, 8 abr. 1966.

Quando citarmos Música Cristã Contemporânea (MCC ou CCM), não estaremos nos referindo a músicas produzidas na atualidade, uma vez que não é o ano de composição que determina se a música é ou não apropriada, mas nos referimos a um Movimento caracterizado pelo uso de ritmos populares com letras de temática cristã.

Por muito tempo temos presenciado em nossas igrejas a introdução de músicas populares que, não fossem as letras, não saberíamos se tratar de algo que pretende ser religioso. Em muitos casos, nem mesmo a própria letra nos permite identificar tratar-se de algo religioso.

Infelizmente, nos últimos anos, temos encontrado na Igreja Adventista do Sétimo Dia muitas músicas pseudocristãs, que têm obscurecido nossa identidade distintiva, se aproximando cada vez mais do mundo com o pretenso objetivo de atrair o mundo. Mas o que temos visto na prática é que o mundo tem atraído a igreja.

“Colocar o nome de Jesus na música rock não significa mudar sua natureza essencial. As pessoas estão tomando o que é basicamente inaceitável para os cristãos e trocando a etiqueta. Mas continua sendo tão mau como era antes. ... Não estamos somente falando do rock pesado, mas também do rock suave e música do tipo ‘boate’ que infelizmente tem sido ouvida em reuniões adventistas.” Pr. Ivay Araújo. Guia do Ministério da Música. União Sudeste Brasileira da IASD, p. 16.

Alterar a letra da música não muda o seu efeito. O Rock continuará sendo Rock e causando os mesmos efeitos físicos, mentais e espirituais, independentemente do que as palavras dizem. A música transmite uma mensagem em si mesma. A prova disso é que apreciamos músicas cantadas em vários idiomas que não compreendemos; e muitas vezes nem damos importância àquilo que está sendo dito.

“A maioria dos discos faz o seu impacto musicalmente em vez de por palavras. As palavras, se forem percebidas, penetram depois da música ter deixado sua marca.” Simon Frith, sociólogo inglês, graduado em Oxford e Universidade da Califórnia, professor de sociologia na Universidade Warwick – Inglaterra. Sound Effects, Youth, Leisure and the Politics of Rock and Roll, p. 14.

Qual é a posição oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia em relação a isso? Citamos o Manual da IASD:

“A música secular ou de natureza duvidosa nunca deve ser introduzida em nossos cultos. ... Toda melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou formas híbridas relacionadas, ou toda linguagem que expresse sentimentos tolos ou triviais, serão evitadas.” Manual da IASD, ed. 2015, pp. 97, 154.

Se o rock é comprovadamente um estilo concebido pelo diabo e para ele, sendo uma ferramenta poderosa para corromper o ser humano; se o Manual da IASD, o documento oficial mais importante que temos, afirma que o Rock não deve ser usado em nossos cultos e produções musicais por ser incompatível com os princípios da igreja, pergunta-se: por que ainda existe Rock na IASD? Quem, na realidade, está gerando conflitos? Quem está, de fato, causando divisão na igreja? Aqueles que defendem os princípios da música sacra e não se conformam com a música popular sendo acintosamente praticada em nosso meio, ou aqueles que sancionam e produzem música popular, desrespeitando abertamente os princípios estabelecidos por Deus para Sua igreja e as próprias diretrizes oficiais da IASD?

Vejamos o que orienta outro documento oficial da IASD:

“Certas formas de música como o jazz, o rock e outras formas híbridas semelhantes, são consideradas pela Igreja como incompatíveis com [os] princípios. ... [Esses estilos] são notórios em criar reações sensuais nas multidões. ... [O cristão] considerará músicas como blues, jazz, o estilo rock e formas similares como inimigas do desenvolvimento do caráter cristão.” Filosofia Adventista de Música. Documento Oficial da IASD. Votado e aprovado pela Associação Geral no Concílio Outonal de 1972, pp. 1201, 1203, 1206. Disponível em: http://documents.adventistarchives.org/Minutes/GCC/GCC1972-10b.pdf

É importante repetir que aqueles que optam impedir o uso do rock e seus híbridos nas igrejas, estão de fato agindo em perfeita harmonia com as normas oficiais da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Alguém poderia questionar: e se o Manual da IASD sofrer alterações, por meio das quais forem omitidas ou modificadas orientações claras e diretas como esta? Se isso acontecer, estaremos em terreno perigoso, quebrando um princípio bíblico anteriormente citado:

“Não removas os antigos limites que teus pais fizeram.” Provérbios 22:28, ACF.

Houve uma razão para que esta instrução fosse incluída no Manual da IASD e noutros documentos oficiais, e não se trata de questão administrativa passível de alterações ou de adaptações burocráticas; trata-se de princípios estabelecidos na Palavra de Deus que, quando não praticados, desencadeiam reais e sérias consequências no desenvolvimento espiritual da igreja. Por isso tais limites devem ser preservados e perpetuados, bem como outros que veremos mais adiante. Se o autor do Rock continua sendo o mesmo, se a estrutura e os efeitos do Rock continuam sendo os mesmos, se o Rock não mudou absolutamente nada, por que a igreja deveria mudar seu posicionamento oficial a respeito?

“Jamais derrube uma cerca sem saber a razão porque ela foi construída.” G. K. Chesterton, escritor, jornalista, historiador e teólogo britânico. Citado em Singapore Journal of Legal Studies, 2008, p. 347.

E qual é o pensamento do atual presidente mundial da IASD?

“Embora tenhamos diferentes culturas e perspectivas em relação à música, é importante que não permitamos que músicas contemporâneas e não religiosas se infiltrem na igreja, de modo que não vejamos nenhuma diferença entre o que ouvimos no rádio e na igreja.” Pr. Ted Wilson. Adventist World, set. 2011, pp. 8-10.

“Resistam aos estilos de adoração e música que estão mais centrados no entretenimento do que na humilde adoração a Deus. ... Não quero ofender a ninguém e esta é minha opinião pessoal, mas se a música soa como pertencendo a um concerto de rock ou uma casa noturna, ela deve permanecer lá [no concerto de rock e na casa noturna].” Pr. Ted Wilson. Pregação à Conferência Geral, 13 ago. 2011. Disponível em: http://perspectives.adventist.org/pt/sermoes/sermons/ go/2011-08-12/gods-remnant-church-finish-strong.

Nota-se que o pensamento do presidente, ainda que reconheça como sendo uma opinião pessoal, está fundamentado nas instruções oficias da IASD que são desdobramentos dos parâmetros existentes na Bíblia e no Espírito de Profecia.

“A posição de algumas pessoas que tentam fixar rumos, é que qualquer tipo de música serve, sempre que tenha um texto sagrado pode ser usada no serviço de adoração. Os meios de informação de massa têm condicionado o público com uma ‘dieta de ritmos de rock’, tentando mostrar que fora desse ritmo tudo é insípido e monótono. Há uma obsessão de vestir toda música para evangelização com alguma forma de ritmo de rock. ... Alguém escreveu o seguinte: ‘tem havido um considerável aumento da música para evangelização do tipo ‘jazz’ nas igrejas nos últimos anos. Isto é, em muitos aspectos, uma coisa diabólica’. O mínimo que isto pode fazer é colocar a igreja em contato com expressões musicais baratas, e de pouco valor artístico e espiritual. O importante neste ponto é que o mal aparece como se fosse bem e que parece natural que uma música barata e com letra trivial leve as pessoas ao descuido inconsciente e a pensamentos puramente sentimentais.” Pr. Ivay Araújo. Guia do Ministério da Música. União Sudeste Brasileira da IASD, p. 13.

Evidentemente há outros líderes em posições de destaque que defendem ideias contrárias. Diante disso, que decisão você tomará? A quem seguirá?

Vejamos o que nos diz a Palavra de Deus:

“Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.” 1 Coríntios 10:21, ARA.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro.” Mateus 6:24, ARA.

“Porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus, e o Senhor vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes Seu povo próprio.” Deuteronômio 14:2, ARA.

“Ser-me-eis santos, porque Eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus.” Levíticos 20:26, ARA.

“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o limpo.” Ezequiel 44:23, ARA.

O texto de Ezequiel 44 nos apresenta um ponto importante para o qual precisamos atentar seriamente. Ali é dito que alguém ensinará o povo. Quem? Muitos poderiam pensar que é Deus. Porém, o próprio Deus está dizendo que alguém ensinará. Todo o conhecimento para a construção e desenvolvimento de um caráter à semelhança de Jesus Cristo tem sua origem no Criador, mas Ele espera que o mesmo seja transmitido por meio de Seus servos, Seus líderes. Eles deverão ensinar o caminho que o povo deve seguir e Deus há de julgar-lhes as palavras, ações, decisões e omissões. “Se precisar de alguma melhora – e toda igreja precisa de melhoras – vai ter que começar com a liderança. ... Tudo levanta ou cai com a liderança.” Tim Fisher, mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 208.

Ainda no contexto da mistura sagrado/profano na música, que muitos desejam e defendem, o que nos diz o Testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 19:10)?

“Deus pronunciou uma maldição sobre aqueles que não fazem diferença entre as coisas comuns e as coisas santas. ... Deus requer hoje de Seu povo uma distinção tão grande do mundo, nos costumes, hábitos e princípios, como exigia de Israel antigamente. Se fielmente seguirem os ensinos de Sua Palavra, existirá esta distinção; não poderá ser de outra maneira. As advertências feitas aos hebreus contra o identificarem-se com os gentios, não eram mais diretas ou explícitas do que as que vedam aos cristãos adaptar-se ao espírito e costumes dos ímpios.” Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, pp. 257, 335.

Nossa música na IASD precisa ser diferente da música que é praticada no mundo. Pensemos nisso: proporcionaria verdadeira edificação espiritual a alguém oferecer-lhe aquilo que já lhe é conhecido e vivido no mundo?

A distinção que Deus espera de nós em relação ao mundo não é algo sutil, mas algo visível, claro e evidente. Deus requer de nós uma grande diferença em nossa maneira de falar, vestir, alimentar, relacionar, recrear e na maneira como utilizamos a música. Nosso Deus não deixaria as práticas musicais de fora de Suas preocupações, porque Ele em tudo quer pureza nos propósitos e nas realizações.

“A associação com as coisas do mundo no setor musical é considerada inofensiva por alguns observadores do sábado. Tais pessoas estão, porém, em terreno perigoso. É assim que Satanás procura desviar homens e mulheres, e dessa maneira tem ganho o controle de almas. Tão suave, tão plausível é o trabalho do inimigo que não se suspeita dos seus ardis, e muitos membros de igreja tornam-se mais amigos dos prazeres que amigos de Deus.” Ellen G. White. Mensagens Escolhidas vol. 3, p. 332.

O Espírito de Profecia foi muito específico ao citar a associação com o mundo, deixando clara a referência direta à música. O objetivo de Satanás é que aos poucos sejam feitas concessões, até que desapareça a distinção entre o povo de Deus e o mundo. Ele tem trabalhado dessa forma desde sua rebelião no Céu. A vontade de Deus é a santificação de Seu povo, a separação do mundo, o abandono do pecado. Mas Satanás tem induzido o povo a fazer exatamente o contrário:

“Antes se misturaram com os gentios, e aprenderam as suas obras.” Salmos 106:35, ACF.

Estar no mundo não é ser do mundo. Os filhos de Deus são aqueles que agem como “luz no mundo”, isto é, são diferentes, são incomuns nos conceitos e procedimentos. A tendência que hoje se vê é que cristãos nominais envolvem-se de tal forma com os valores do mundo, que é impossível ver a diferença entre uns e outros.

“Por que, então, trazer para dentro da igreja esse estilo de música, pervertida em sua origem por Satanás, para destruir a humanidade? A atitude de combatê-la não pode ser classificada de extremismo, quando se sabe do seu profundo comprometimento com o demonismo. ... No entanto, a pretensão de muitos, hoje, sob o disfarce da carência de uma evangelização profícua, é desprezar a música essencialmente divina. ... A realidade cotidiana prova com fatos que o rock não se presta para o louvor a Deus. O máximo que pode fazer é despertar a sensualidade da carne e extravasar instintos até então latentes nos indivíduos. Vamos, pois, retirar as nossas harpas dos salgueiros e entoar os cânticos de Sião (e não do mundo), à semelhança de Cristo, que, após cear com os seus discípulos e antes de partir para o Getsêmani, cantou [um hino] (Mat. 26:30). Sem dúvida, não foi uma dessas músicas de embalo travestidas de hino evangélico.” Geremias do Couto. A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, pp. 151-152.

A história de Noé nos fornece uma lição importante. A arca estava na água, mas não se podia permitir que a água entrasse na arca, pois ela afundaria. O cristão está no mundo, mas ele não pode permitir ser dominado pelos valores mundanos, pois haverá o naufrágio de sua fé.

“Como o povo evangélico no Brasil, em sua maioria, ouve pouca música sacra, e suporta diariamente a carga literária e musical impingida pelo rádio e televisão ... acaba aceitando o padrão mais frequente, que é o transmitido pelo rock. Daí, fica mais fácil aceitar música de finalidade religiosa com ritmo de rock.” Rolando de Nassau (prefácio). A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, p. 21

A história tem mostrado que, quando nos conformamos com as práticas do mundo, atraímos mundanos para a igreja; quando as normas são afrouxadas, atraímos aqueles que se opõem às normas; quando os princípios revelados na Bíblia são omitidos, atraímos aqueles que de fato não os aceitam. Tudo isso tem acarretado um resultado inverso daquele que supostamente se pretende. A igreja deixa de ser uma influência ao mundo, e o mundo passa a influenciar a igreja; a igreja deixa de ser uma referência para o mundo, e o mundo é que passa a ser a referência para a igreja. Esta nunca foi a vontade do Senhor.

“E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.” Deuteronômio 28:13, ACF.

Não somos superiores como indivíduos, mas Deus confiou a nós uma missão que não foi dada a outro povo. E as ações em desobediência aos princípios divinos nos colocam como “cauda” e não como “cabeça”; e o que se tem visto em muitos lugares é que pessoas estabelecem as normas e os padrões nas igrejas adventistas do sétimo dia sem considerar o “Assim diz o Senhor”. Isto é extremamente preocupante.

“A conformidade aos costumes mundanos converte a igreja ao mundo; jamais converte o mundo a Cristo.” Ellen G. White. O Grande Conflito, p. 509.

Quando o estilo de viver do mundo é imitado pelas pessoas nas igrejas, e no dia a dia da vida, permitindo que o mundo dite as regras, incorre-se no desagrado do Senhor. Os verdadeiros adoradores do Criador atraem a atenção para Ele; então as pessoas podem ver que vale a pena dispor-se a fazer renúncias conscientes e optarem entrar num processo de transformação individual.

Convencer indivíduos é radicalmente diferente de convertê-los, porque a conversão é obra sobrenatural do Espírito Santo. Deus tem uma advertência séria aos afoitos por imitar as modas do mundo:

“Se alguém sentir o desejo de imitar as modas do mundo e não controlá-lo de imediato, Deus prontamente deixará de reconhecê-lo como filho.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 1, p. 137.

Aquele que deseja seguir os métodos e as modas do mundo deve controlar essa tendência imediatamente e buscar em Deus, em Sua Palavra e no Espírito de Profecia os métodos corretos. E este princípio é aplicável, também, às nossas atividades na música de adoração.

“Há distinções claras e precisas a serem restauradas e expostas ao mundo. ... Se, em desafio às disposições divinas, for permitido ao mundo influenciar nossas decisões ou ações, o propósito de Deus será frustrado. ... Se a igreja vacilar aqui, por mais enganador que seja o pretexto apresentado para tal, contra ela haverá, registrada nos livros do Céu, uma quebra da mais sagrada confiança, uma traição ao reino de Cristo. ... A igreja tem que manter seus princípios perante todo o universo celestial e os reinos deste mundo, de maneira firme e decidida.” Ellen G. White. Testemunhos para Ministros, pp. 16-17. Citado pelo Manual da IASD, ed. 2015, pp. 23-24.

Talvez devido ao enorme desejo de atrair e crescer em número, temos permitido que as pessoas de fora da igreja estabeleçam os padrões conceituais e comportamentais na igreja. Passamos a cantar e tocar músicas que agradam a essas pessoas, sem considerar o que agrada a Deus.

“Caso abaixem a norma a fim de conseguir popularidade e aumento de números, fazendo desse acréscimo objeto de regozijo, estarão demonstrando grande cegueira. Fossem os números indício de êxito, Satanás poderia reclamar a soberania; pois, neste mundo, os que o seguem constituem a grande maioria. ... A virtude, inteligência e piedade do povo que compõe nossa igreja deveriam ser causa de alegria e gratidão, não seu número.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 5, pp. 31-32.

“Deus Se agradaria mais de ter seis pessoas verdadeiramente convertidas à verdade do que sessenta que fazem profissão de fé nominal, mas não se converteram de todo.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 320.

O apóstolo Paulo reconhecia que Deus está mais interessado em qualidade do que quantidade quando afirmou:

“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar.” 1 Coríntios 1:17, ACF.

“Paulo esperava que apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele. Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu trabalho principal, mas sim persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua intenção insinuar que não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande número de batismos.” Comentário Bíblico Adventista vol. 6, p. 732.

Devemos realizar o trabalho usando os métodos de Deus e deixar os resultados em Suas mãos.

“Existem diferentes tipos de discípulos professos de nosso Senhor. Um tipo está muito pronto a moldar sua religião de acordo com os tempos – muito pronto quando eles ouvem ‘toda espécie de música’ (Dan. 3:7) a se prostrar e adorar a imagem mais popular da invenção humana. ... Mas há outro tipo de discípulos professos pelos quais agradecemos a Deus, que são puros de coração, cuja consciência está tão longe de ser cauterizada, que eles podem ‘suspirar e gemer’ por todas as abominações que são feitas na Terra.” Benjamin Clark. Review and Herald vol. 3, n. 4, 24 jun. 1852, p. 30.

Que tipo de discípulos temos sido?

*Leandro Dalla, é estudioso das questões relacionadas ao uso da música no culto e da forma de adoração na Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o autor do livro “Música, Reverência e Adoração”.

FONTE: Artigo que constitui o capítulo 7 do livro “Música no Tempo do Fim”, p. 84-98, de Leandro Dalla.


domingo, 29 de março de 2020

RESPOSTA A “DECRETO DE CIRO OU DECRETO DE ARTAXERXES? QUESTÕES NA DATAÇÃO DA PROFECIA DAS 70 SEMANAS”




Roy Gane*

Tradução: Hugo Martins

O artigo de André Reis, em outubro de 2019, na Adventist Today, levanta algumas objeções à interpretação adventista do sétimo dia de Daniel 9:25, que especifica o evento que inicia as “setenta semanas” profetizadas nos versos 24–27. A visão adventistas do sétimo dia da “setenta semanas” como o primeiro segmento (70 x 7 = 490 anos) que é “cortado” (v. 24) das “2300 tardes e manhãs” de Daniel 8:14. Logo, se os adventistas estiverem errados sobre o ponto inicial das “setenta semanas,” estão errados tanto em ver esta profecia como uma predição exata do tempo quando Cristo viera, e, também, quanto o término das “2300 tardes e manhãs” (2300 anos) em 1844 E.C.

Os argumentos de Reis que o decreto persa de Ciro, em vez do posterior decreto de Artaxerxes I fora promulgado em 457 A.E.C., iniciara as “setenta semanas” não estão fundamentados em evidências, como mostrado pelas seguintes respostas aos pontos que ele tem feito:

1. Quem decretou que Jerusalém será reconstruída de acordo com Isaías 44:28?

Para Reis, diversas traduções em inglês indicam ser Ciro que diz que Jerusalém será (re)construída. No entanto, essas interpretações não refletem com precisão o discurso hebraico, pois é Deus que diz essas palavras, seguindo uma série de particípios com ele como o sujeito nos versos 24–28. O verso 28 começa com um outro particípio: “quem diz”. O Senhor ainda está falando, desta vez de Ciro. A segunda metade do verso começa: “e [conjunção hebraica vav] dizendo [infinitivo] a respeito de Jerusalém: ‘Será edificada’ . . .” Isto simplesmente estende a ação proferida expressada pelo particípio no início do verso, onde é o Senhor quem fala. É Deus quem diz sobre Jerusalém: “Será edificada.”

Isaías não prediz um decreto de Ciro que restaurará e reconstruirá Jerusalém em cumprimento a Daniel 9:25. Ciro não desempenhou um papel importante no plano de Deus, pois Isaías 45:13 profetizou sem mencionar um decreto de Ciro. O processo de edificação começou com Ciro (Esdras 1:1–4; 6:3–5), continuou com Dario I (6:6–12), e culminou com o decreto de Artaxerxes, como indicado por Esdras 6:14.

2. É o termo davar, “ordem,” em Daniel 9:23 o mesmo davar, “ordem,” no verso 25?

Reis argumenta que a “ordem” (decreto) de Ciro já houvera sido dada, e, portanto, cumprira a profecia de Daniel 9:25:

Gabriel vem e explica que Deus ouvira a oração de Daniel e que um “davar” (9:23), literalmente “ordem” houvera sido dada. É-lhe dito, então, considerar esta “ordem,” novamente repetida em 9:25: “Saiba e entenda isto: desde que foi dada a ordem [davar] para restaurar e para edificar Jerusalém . . .,” indicando que este “davar” é provavelmente o mesmo.

Todavia, uma simples análise do discurso mostra que no verso 23, o “davar” que foi dado é a mensagem nos versos 24–27 que Gabriel trouxera a Daniel no primeiro ano de Dario o Medo (v.1, não Ciro na Babilônia; ver 6:28) e lhe fora dito considerar. Incluído nesta mensagem geral está o futuro “dando” (substantivo motsa’; não um verbo no pretérito para “dada”) de uma uma outra “palavra”: o decreto para restaurar e reconstruir Jerusalém (v. 25).

3. O que “para restaurar e para edificar Jerusalém,” em Daniel 9:25, significa?

Como um leitor moderno de uma tradução em inglês, Reis assume que a restauração de uma cidade refere-se à reconstrução de casas e de outras edificações, que começou em Jerusalém sob Ciro. Contudo, o verbo traduzido como “restaurar” é hifil (causativo) de shuv. Quando este verbo emprega uma cidade como seu objeto direto, como em Daniel 9:25, refere-se à restauração de sua propriedade a uma entidade política que anteriormente a possuía (1 Rs 20:34; 2 Rs 14:22).

Fora o decreto de Artaxerxes I (Ed 7:11–26) no sétimo ano do seu reinado (vv. 7–8), em 458/457 A.E.C., que devolvera a posse de Jerusalém para os judeus, conferindo-lhes controle civil autônomo da cidade (durante o Império Persa), para que eles governassem sob as suas próprias leis, e com o seu sistema judicial próprio (vv. 25–26).1 Devolvendo Jerusalém ao controle judeu, Artaxerxes implicitamente lhes dera permissão para reconstruir os muros da cidade a fim de torná-la uma cidade de fato (Ed 4:12), em vez de um mero acampamento.

4. O Messias (“Ungido”) vem após 7 semanas ou 69 semanas?

Reis afirma:

Como elucidado por modernas traduções da Bíblia, Daniel 9:25, na verdade, não revela que “o Messias, o Príncipe”, i.e., “Jesus,” vem após as 69 semanas, mas após as 7 semanas . . . NRSV: “Desde o momento em que a ordem saiu para restaurar e reconstruir Jerusalém, até o tempo de um ungido, o príncipe, haverá sete semanas; e por sessenta e duas semanas será construída de novo, com ruas e muralha, mas em um momento difícil . . .”

A questão aqui é a interpretação da pontuação massorética, particularmente o athnakh, que representa uma pausa importante, ou a divisão do verso. Uma tradução literal do hebraico de Daniel 9:25 se lê da seguinte maneira, sem qualquer pontuação interpretativa em português:2

. . . da saída [de uma] ordem para restaurar e para construir Jerusalém até um messias um príncipe [haverá] sete semanas (athnakh) e sessenta e duas semanas será restaurada e construída rua e muralha mas em tempos de angústia

Os termos hebraicos para “e sessenta e duas semanas” seguem imediatamente os termos “sete semanas.” Esses dois períodos de tempo sequenciais seguem os termos “da . . . até . . .,” que exigem uma indicação de tempo que termina com a vinda de “um ungido, um líder.” Isso se correlaciona com o verso 26, onde “um/o ungido” é “cortado” após as 62 semanas, não após as sete semanas.

A ausência do artigo definido (“o”) em mashiakh (“um ungido”) no verso 26, não prova de forma nenhuma ser um “ungido” diferente do verso 25. Zdravko Stefanovic destaca no que diz respeito ao mashiakh nagid (“um ungido, um príncipe”) no verso 25:

“Nenhum desses dois substantivos tem o artigo definido, mas podem ser considerados como definidos em razão da passagem ser poética, e da maioria dos substantivos nos versos 24–27 estarem indefinidos.”3

Continuando, os termos “será restaurada e construída rua e muralha . . .” descrevem a condição de Jerusalém durante pelo menos parte do tempo entre “da saída [de uma] ordem para restaurar e para construir Jerusalém” e “um ungido.” De acordo com a pontuação massorética, essa condição da cidade seria durante o segundo segmento: “sessenta e duas semanas.” Isto não significa que “um ungido” viria após as “sete semanas,” mas que o tempo até “um ungido” seria sete semanas mais sessenta e duas semanas durante as quais Jerusalém em uma condição de tendo sido restaurada e (re)construída com rua e muralha, mas em tempos de angústia.

5. Quem “fará firme aliança com muitos, por uma semana,” em Daniel 9:27?

Reis continua:

Lemos, então, no v. 27: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana. Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais. Sobre a asa das abominações virá aquele que causa desolação, até que a destruição, que está determinada, seja derramada sobre ele” (Dn 9:27). O pronome inicial “ele” se refere ao príncipe que virá e destruirá a cidade e o santuário, e fará uma aliança com muitos por uma semana, não ao “ungido” que já está morto, e “não terá nada”! ”Este príncipe maligno que faz tal aliança por uma semana é o mesmo “chifre pequeno” que suprime o sacrifício diário, e em seu lugar coloca a “transgressão desoladora” no santuário em Daniel 8:13.

Que sentido faria para este príncipe da destruição (não confundir com “um ungido, um príncipe” no verso 25) fortalecer uma aliança (pré-existente) para (o benefício de) muitos por uma semana (de acordo com o significado hebraico)? O contexto indica que o antecedente real de “ele” é outra pessoa.

As “setenta semanas,” i.e., semanas de anos,4 concernentes ao povo judeu em Daniel 9:24–27, tratam da aliança deles com o Senhor (ver v. 4). Não obstante, os eventos do verso 26 parecem devastar a aliança, pois “após as sessenta e duas semanas,” i.e., durante a “uma semana” (v. 27), a septuagésima das “setenta semanas”, que o “ungido” seria “morto” (literalmente “cortado”) e “não terá nada” (v. 26a). Subsequentemente, Jerusalém com o seu templo seria destruída pelo “povo de um príncipe que há de vir” (v. 26b).

Ainda assim, havia esperança porque “ele” (quem será?) fortaleceria (hifil de gbr), i.e., confirmaria, uma “aliança com muitos” (v. 27a). Confirmar uma aliança indica que ela já existe; ele não estabeleceria uma nova aliança, que seria expressa com um verbo diferente (krt; e.g., Gn 15:18, 21:17; Êx 24:8).)

Que aliança existente pode estar em voga aqui? Em Daniel 9, é a aliança entre Deus e seu povo.5 Por conseguinte, o antecedente lógico de “ele” no início de Daniel 9:27 é o “ungido,” não o destruidor.

Desmond Ford, logicamente, concluiu a respeito de Daniel 9:24-27:

É o Cristo verdadeiro, o grande centro desta profecia incrível. As benção do verso 24 são o resultado de Sua obra. Ele é Aquele que vem no verso 25 e é “cortado” no verso 26. Da mesma forma, Ele é Aquele que fortalece, i.e., “confirma”, a aliança no verso 27. A única referência até então ao príncipe opositor é um enfatizando o povo dele, em vez del, e fazer do anticristo o principiador da aliança é desconsiderar o sentido da passagem . . .

Ademais, o Novo Testamento interpreta esta passagem. Em Marcos 14:24, lemos sobre Aquele que na septuagésima semana de anos ratificou a aliança com muitos.6

Conclusão

A interpretação mais natural do texto hebraico de Daniel 9:24-27 identifica o momento em que o Messias viria: 69 (7 + 62 semanas de anos = 483 anos após 457 A.E.C. Com nenhum zero entre A.E.C. e E.C., os 483 anos vão até 27 E.C. Naquele tempo, Jesus se tornou o “ungido”/Messias, quando ele foi “ungido” pelo Espírito Santo em seu batismo7 e começou o seu ministério “no décimo quinto ano do reinado de Tibério César” (Lc 3:1).8 Identificando Jesus como o Messias, Daniel e outras passagens messiânicas do Antigo Testamento, incluindo Salmo 22 e Isaías 52:13–53:12, proclamam o Evangelho com antecedência.

*Roy Gane, Ph.D., é Professor de Hebraico Bíblico, Línguas do Antigo Oriente Médio e Diretor do Curso de Doutorado em Religião  no Seminário Teológico Adventista da Andrews University em Berrien Springs, Michigan. Autor de diversos artigo e livros como “In the Shadow of the Shekinah: God’s Journey with Us” e “God’s faulty heroes”.

Notas

[1] Ver Roy Gane, Who’s Afraid of the Judgment? The Good News About Christ’s Work in the Heavenly Sanctuary [Nampa, ID: Pacific Press, 2006], pp. 73-74; ver, também, 59–86, e https://spectrummagazine.org/2020/contamination-purification no tocante ao início do juízo pré-advento de Deus em 1844, e as respostas às objeções quanto a esta interpretação, incluindo a má identificação do “chifre pequeno” como Antíoco IV Epifânio.

[2] Minha tradução, com termos necessários acrescidos em chaves para o português.

[3] Zdravko Stefanovic, Daniel: Wisdom to the Wise: Commentary on the Book of Daniel [Nampa, ID: Pacific Press, 2007], p. 355; ver, também, Paul Joüon, S.J. e T. Muraoka, A Grammar of Biblical Hebrew [Rome: Editrice Pontificio Instituto Biblico, 2006], p. 11 [§3º].

[4] The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament, 4:1384.

[5] Ver, também, Dn 11:22: “o príncipe da aliança;” vv. 28 e 30: “santa aliança.”

[6] Daniel, [Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1978], 233–23.4

vii Lc 3:21–22; ver, também, 4:18; Atos 10:37–38.

[8] Ver The Seventh-day Adventist Bible Commentary, 5:243-247

FONTE: O artigo Resposta a “Decreto de Ciro ou Decreto de Artaxerxes? Questões na Datação da Profecia das 70 semanas” (Original em Inglês: Response to “Cyrus’ or Artaxerxes’ Decree? Issues in Dating the 70-Week Prophecy”), por Roy Gane, fora publicado, inicialmente, pela revista independente Adventist Today.  Usado com permissão pelo Blog Estudos Adventistas: http://estudosadventistas.com.br/resposta-a-decreto-de-ciro-ou-decreto-de-artaxerxes-questoes-na-datacao-da-profecia-das-70-semanas/?fbclid=IwAR1Z69lUVgv8a_nUG4wWQZG7H1Ux9ss0MJ7zRl82BtNNJ157_YBlua0KAzE


sábado, 28 de março de 2020

TETELESTAI: ESTÁ CONSUMADO!


Ricardo André

“Tendo-o provado, Jesus disse: "Está consumado!" Com isso, curvou a cabeça e entregou o espírito” (João 19:30, NVI).

Era uma sexta-feira, hora nona no relógio judaico. No nosso relógio moderno, a hora nona eram aproximadamente três horas da tarde, o momento exato em que os sacerdotes hebreus ofereciam o cordeiro no templo. Uma sexta-feira que, definitivamente, não passaria para a história como um dia comum.  O sacerdote estava no pátio do templo de Jerusalém, pronto para oferecer um inocente cordeirinho como sacrifício ao Senhor pelos pecados do povo. Quando suas mãos se erguem ao céu, empunhando o cutelo assassino, pronto para derramar o sangue da inocente vítima, a terra entra em verdadeira convulsão. 

Ellen White assim descreve a cena: “Seguiu-se violento terremoto. As pessoas foram atiradas umas sobre as outras, amontoadamente.  Estabeleceu-se a mais completa desordem e consternação [...] Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para foras das covas [...] Sacerdotes, príncipes, soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam prostrados por terra”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 756).

Lucas descreve no capítulo 23 de seu evangelho que “trevas cobriram toda a terra até às três horas da tarde; o sol deixara de brilhar. E o véu do santuário rasgou-se ao meio” (v. 44,45, NVI). O Centurião romano, o sacerdote no templo, e a multidão nas ruas ficaram todos com o mesmo sentimento em seus corações: Algo extraordinário, realmente extraordinário, acontecera naquela tarde no cimo do monte do Calvário (Gólgota).

Naquela tarde, na colina do Monte da Caveira, Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos seus momentos finais de agonia na cruz, solta um brado que ecoa por toda Jerusalém: “Está Consumado”. Então inclinou a cabeça e morreu. O que Ele quis dizer? O que estava consumado? É a grande pergunta que precisamos fazer. Indubitavelmente, a maioria ou até mesmo todas as pessoas presentes à crucifixão não sabiam do que se tratava. Vejamos, então, os significados da expressão.

Está consumado: o ritual simbólico do Santuário terrestre não mais é necessário.

No Sinai, Deus instituiu sistema sacrifical instituído por Deus que Israel devia observar; e que se realizava primeiro, no santuário; depois, no templo. A partir daí, a cada manhã e a cada tarde o sacrifício contínuo havia oferecido um cordeiro sem defeito pelos pecados inconscientes do povo. A cada dia, sacrifícios de expiação pela culpa ou delito contra o próximo. Uma vez ao ano, no Dia da Expiação, o sacrifício eliminava o registro da culpa (Nm 28:3, 4; Lv 4:2, 27-30; Lv 16; Nm 29:11).  

Esse sistema sacrifical era uma forma de ensinar aos israelitas e, por meio deles, ao mundo, a verdade da salvação. Naqueles dias cada pecado cometido por um israelita era cobrado com a morte de um cordeiro inocente. Cada cordeiro morto, tanto nos serviços diários como no anual, apontavam para a obra salvadora de Cristo, sua morte na cruz. O autor de Hebreus afirma que o santuário e seus serviços eram “uma ilustração para os nossos dias” (Hebreus 9:9). Por essa maneira era mostrado ao pecador arrependido que seus pecados haviam de afinal tirar a vida inocente do Filho de Deus. Todo o cerimonial ritualístico do Velho Testamento encontra agora em Jesus o seu cumprimento final. 

Ao Jesus morrer na cruz do Calvário, o sacrifício do inocente cordeiro não mais era necessário. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29), oferece-se uma vez para sempre (Hebreus 9:28) para lavar e purificar os pecados de toda a humanidade, a fim de “que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, NVI). Isto é amor universal; isto é graça em sua aplicação totalmente eficaz.

Mateus informa que no momento da Sua morte, “o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Mateus 27:51, NVI). “O rompimento do véu do templo [...] simbolizava o fim do antigo sistema hebraico e apontava à inauguração de um novo e vivo caminho para a presença de Deus por meio do Seu corpo ferido (Heb. 10:19-21), dando fim de uma vez por todas à necessidade de outros sacrifícios de animais (Heb. 9:26)” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2005, ed. do Professor, p. 101).

Ellen G. White descreve a ocasião em que Jesus expira, bem com as implicações: “Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a inocente vítima, mas o cutelo cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa.  O tipo encontra o antítipo por ocasião da morte do Filho de Deus.  Foi feito o grande sacrifício.  Acha-se aberto o caminho para o santíssimo.  Um novo, vivo caminho está para todos preparado”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 757).

O tipo encontra o antítipo, ou seja, a sombra, a figura, o modelo, que eram os cordeiros do Velho Testamento e todo o sistema cerimonial tipificado no antigo santuário, encontra agora em Cristo Jesus sua realidade plena, total e absoluta.

Está consumado: a vitória do bem sobre o mal no grande conflito cósmico

A frase que Jesus bradou, um pouco antes de Sua morte, em em grego é tetelestai, que significa "dívida paga" ou "liquidado". Que palavra de irrevogável certeza! “Esta expressão era muito utilizada em recibo de impostos onde a expressão era escrita no documento atestando que a dívida estava paga. [...] Quando Jesus disse tetelestai, Ele afirmava que a nossa dívida estava paga a partir daquele momento!” (O que Significa Tetelestai? Disponível em: https://www.respostas.com.br/tetelestai/

Paulo afirma em Romanos 5 que, se pelo pecado de um único homem (Adão), todos se tornaram pecadores e se colocaram debaixo da maldição do pecado; agora também, pela justiça de um único homem – Cristo, o segundo Adão – estava consumado, quitado, liquidado, o pagamento da nossa dívida de pecado.

Talvez não entendamos quão vil é realmente o pecado. A dívida do mundo para com Deus por causa do pecado era tão grande que só o próprio Deus poderia pagá-la. “Só na cruz podemos ver como o pecado realmente é terrível, porque foi necessário algo tão extremo, tão incrível como a cruz para expiá-lo. [...] Assim, nada revelou tanto o horror e a gravidade do pecado como a cruz, onde Deus, “em Cristo”, sofreu as consequências mais graves do pecado a fim de não termos que sofrê-las por nós mesmos” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2005, ed. do Professor, p. 102).

Já em Colossenses 1: 13, 14, o apóstolo nos explica que Deus “nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados”. “Redenção” é o ato de “comprar de volta ou resgatar uma propriedade ou escravos”, “libertar de escravidão física ou cativeiro” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 1141). E o significado da palavra “remissão” é: “Libertar”, “perdão” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 181). Ou seja, Jesus pagou o preço da nossa redenção (da nossa libertação da escravidão) e quitou toda nossa dívida, e o preço foi o seu sangue, a sua vida, o seu corpo, o seu sacrifício na cruz (1 Pe 1:18-20). Significando dizer que não há mais dívida alguma a ser paga, nem carma algum que devamos sofrer, nem maldição algumas pela qual devamos passar e nem coisas semelhantes a estas, porque se crermos que o sangue de Jesus Cristo é suficiente para nos justificar de todos os nossos pecados e nos dar a salvação para a vida eterna, o cobrador que é satanás não poderá mais nos cobrar nada, porque Jesus já pagou com preço de sangue, do seu próprio sangue que foi derramado para a remição dos nossos pecados, como Ele mesmo disse quando tomou o cálice e disse: “[...] Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20).

Nessa mesma linha Ellen G. White escreveu: “Cristo pagou um infinito preço por nós, e deseja que nos mantenhamos à altura do preço que custamos” (A Ciência do Bom Viver, p. 498).

Com Sua morte na Cruz, Jesus concluiu a obra que viera fazer: Reconciliar o mundo com Deus (2 Co 5:19). Realmente, Ele levou o mundo de volta para Deus. O mundo se havia desviado por causa dos pecados humanos. Antecipando Sua vitória final sobre Satanás no Calvário, na noite anterior à crucifixão, Jesus orou a Seu Pai: “Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer” (João 17:4, NVI). Com o Universo reconciliado, abriu o caminho para o Céu a todos quantos Lhe aceitassem a graça. Deus tinha feito provisão para tirar os pecados do mundo. O Salvador deu a Sua vida por aqueles que não O conheciam ou mesmo O odiavam. Os pecadores podem ser salvos se buscarem a salvação em Jesus, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Aqui está o evangelho eterno. O poder do pecado e da morte acabou. Em João 19:31-33, “Jesus mostra que a cruz resulta na condenação de Satanás e do pecado em um ato poderoso de julgamento. A Cruz se torna um maravilhoso ímã quer atrai “todos” (v. 32 – no original, o sentido pode incluir o Universo inteiro!) a Jesus” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2004, ed. do Professor, p. 145)

Mário Veloso, teólogo adventista, comentando essa mesma passagem afirmou o seguinte: “A missão estava acabada. Jesus declara: ´Está consumado`.  Ele não está na cruz como um fracassado, nem sequer como um sofredor [...] Jesus apresenta-se a Si mesmo como o Comissionado do Pai que completa inteiramente a missão que lhe foi confiada”. (Comentário Sobre o Evangelho de João, p. 157).

Ellen G. White escreveu: “Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito exclamou: `Está consumado`.  Ganhara a batalha. [...] Todo o céu triunfou na vitória do Salvador.  Satanás foi derrotado e sabia que seu reino estava perdido. Para os anjos e os mundos não caídos, o brado `Está consumado` teve profunda significação.  Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção.  Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 758)

Na cruz, para todos os intentos e propósitos, Cristo concluiu Sua obra confirmando para sempre Sua vitória sobre Satanás e sobre o pecado. A cruz determinou o veredito final sobre o que acontecerá quando Cristo estabelecer o Seu reino eterno. Amigo, esse conflito já foi decidido em seu coração? Você já aceitou a obra consumada de Cristo por sua salvação pessoal?

Está consumado:  temos acesso ao Santuário Celestial

Lemos no livro de Hebreus: “Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hebreus 10:19-23, NVI).

No livro de Hebreus, vemos não somente uma continuação, mas uma ampliação, uma modificação e um aperfeiçoamento da mensagem salvífica do santuário do Antigo Testamento. O sacerdote do Velho Testamento era mortal.  Em Cristo, temos agora um novo sumo sacerdote imortal, que é também, doador de vida eterna.

No Antigo Testamento o sacerdote era pecador, e precisava, ele mesmo, de um sacrifício remidor. Em Cristo encontramos um Sacerdote perfeito, puro, incontaminado pelo mal e pelo pecado. No AT o sacerdote entreva no santuário com o sangue de bodes e cordeiros.  Jesus, nosso Sumo Sacerdote, ofereceu o seu próprio sangue, o sangue da nova aliança, através do qual Ele se tornou, ao mesmo tempo, sacerdote e sacrifício em favor da redenção humana.

Podemos, portanto, ter “plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10:19, NVI), na plena certeza de que temos um Sumo Sacerdote intercedendo por nós, nos méritos do seu próprio sangue.

Ao clamar na cruz “Está Consumado!”, Jesus nos garantiu um novo e vivo caminho ao santuário celestial, pela Sua carne e pelo Seu sangue, e com liberdade podemos nos apropriar dele. A grande nova do Evangelho é que, na cruz, Cristo consumou o acesso ao santuário celestial, e desde então, exerce suas funções sacerdotais de mediador e intercessor por todos nós, seus filhos amados (Hb 7:25; 8:1-5).

Naquela trágica tarde de sexta-feira em Jerusalém, há mais de dois mil anos atrás, no cimo do monte do Calvário, por volta das três horas da tarde, Jesus, agonizando em seus últimos momentos da cruz, exclama seu brado de vitória: “Está Consumado!” Esse brado triunfante de Cristo ainda ressoa através do Universo: Tetelestai: “Está consumado!”

A justiça e o caráter de Deus estavam vindicados para sempre.  A vitória do bem sobre o mal no grande conflito cósmico estava ali delineada. Não mais pairavam dúvidas entre os anjos e mundos não caídos sobre a bondade, o amor e a justiça de Deus.  Ali, naquela cruz, estava definida a derrota eterna de Satanás e todas as suas hostes.

Finalmente, naquela tarde, naquela cruz, foi consumado o caminho que nos conduz, pela fé, ao santuário celestial. Temos um novo Sumo Sacerdote, imortal, invencível, perfeito, que com o seu próprio sangue, nos lava, nos purifica e nos perdoa de todo o pecado. Ele “é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (Hebreus 7:25, NVI).

Caro amigo leitor, por meio do sacrifício expiatório pleno e completo de Cristo na cruz, a porta para a cidade de Deus está aberta para aqueles que estão despontados com a vida, consigo mesmos, com as filosofias do mundo, com esforços e tristezas. Através daquela porta aberta, Deus nos convida para que se achegue ao Calvário e olhem verdadeiramente para Jesus. Quando passarmos a amá-Lo, nossa vida nunca mais será a mesma. Ele nos dá uma alegria que nada poderá arrebatar. “Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hebreus 4:16, NVI).