Teologia

quinta-feira, 30 de junho de 2016

QUÃO CONFIÁVEL É A BÍBLIA?




Alberto R. Timm

A autoridade do cristianismo deriva da Palavra de Deus. Cristo e Seus apóstolos consideravam as Escrituras como a revelação de Deus, com uma unidade fundamental entre seus vários ensinos (ver Mateus 5:17-20; Lucas 24:27, 44, 45-48; João 5:39). Muitos pais da igreja e os grandes reformadores protestantes do século 16 enalteciam a unidade e a confiabilidade das Escrituras.

Todavia, sob a forte influência do criticismo histórico do Iluminismo do século 18, um número considerável de teólogos e cristãos passou a considerar a Bíblia como mero produto das antigas culturas dentro das quais foi concebida. Conseqüentemente, a Bíblia não é mais considerada como consistente e harmônica em seus variados ensinos, e sim como uma coleção de diferentes fontes com contradições internas. Outro golpe contra a autoridade e unidade das Escrituras foi desferido na segunda metade do século 20, pelo ataque furioso do pós-modernismo. A nova tendência é enfatizar, não o verdadeiro significado das Escrituras, mas os vários sentidos a ela atribuídos pelos seus leitores.

Já os adventistas do sétimo dia, por sua vez, continuam enfatizando a unidade, a autoridade e a confiabilidade das Escrituras. Mas para manter tal convicção, o estudante bíblico deve achar respostas honestas para as quatro seguintes questões: 1) Que base existe para se falar de harmonia nas Escrituras? 2) Como tratamos algumas das principais áreas nas quais tal harmonia nem sempre é evidente? 3) Como o milagre da inspiração preservou a unidade da Palavra de Deus? e 4) Qual o papel do Espírito Santo em nos ajudar a reconhecer essa unidade?

Harmonia interna das Escrituras

Nessa área precisamos considerar pelo menos duas questões fundamentais: Primeira, o relacionamento entre a Palavra de Deus e as culturas contemporâneas nas quais ela foi originalmente transmitida. Nas Escrituras, pode-se perceber facilmente um constante diálogo entre princípios universais e as aplicações específicas desses princípios, dentro de um contexto cultural particular. Tal percepção não pode ser considerada como condicionamentos culturais que distorcem a unidade básica da Palavra de Deus, mas precisamente o oposto: princípios universais que transcendem qualquer cultura específica.

Por exemplo, a Bíblia menciona várias ocasiões nas quais Deus tolerou certos desvios humanos de Seus planos originais, como nos casos de poligamia (ver Gênesis 16:1-15; 29:15-30:24, etc.) e divórcio (ver Mateus 19:3-12; Marcos 10:2-12). Existem outras conjunturas onde os primeiros cristãos foram aconselhados a respeitar certos elementos culturais específicos, como no caso respeitante às mulheres usarem véu ao orar ou profetizar (I Coríntios 11:2-16), e permanecer caladas na igreja (I Coríntios 14:34-35). Mas o teor geral das Escrituras é que sua religião deve transcender e transformar o contexto cultural.

G. Ernest Wright explica que “o Antigo Testamento dá eloqüente testemunho de que a religião cananita era o agente desintegrador mais perigoso que a fé de Israel tinha de enfrentar” (ver Deuteronômio 7:1-6).1 Floyd V. Filson acrescenta que no primeiro século d.C. os judeus, e posteriormente os judaizantes, “reconheciam o fato de que o Evangelho era algo diferente das mensagens religiosas que haviam conhecido”, e que “isso estava rompendo com os limites do judaísmo contemporâneo” (ver Mateus 5:20).2

A segunda questão que deve ser considerada por aqueles que estão interessados em compreender a unidade das Escrituras, é a perspectiva metodológica pela qual se investiga as Escrituras. Do próprio testemunho das Escrituras percebe-se que a Bíblia está mais próxima do mundo oriental, a partir de uma perspectiva mais sistêmica e integral da realidade, do que do mundo ocidental, com uma perspectiva mais analítica e compartimentalizada. Esse é um importante aspecto a ser levado em consideração ao definirmos nossa abordagem metodológica das Escrituras.

Se começarmos olhando indutivamente em busca de divergências nas Escrituras, acabaremos “encontrando diferenças em vez de harmonia e unidade”. Se, por outro lado, principiarmos olhando dedutivamente, poderemos descobrir uma unidade básica que integra suas várias partes.3 Muitas inconsistências aparentes podem ser harmonizadas se avançarmos das grandes molduras temáticas das Escrituras para os detalhes menores, em vez de iniciarmos por esses pormenores e desconhecermos as estruturas básicas às quais pertencem.

Áreas problemáticas

Existem, porém, algumas áreas importantes de supostas “inconsistências” internas da Bíblia, que as pessoas usam freqüentemente para solapar o conceito de sua unidade. Consideremos brevemente cinco dessas áreas e vejamos como esses problemas podem ser solucionados.

Tensões entre o Antigo e o Novo Testamentos. Algumas pessoas falam a respeito de várias tensões dicotômicas entre o Antigo e o Novo Testamentos, referindo-se a tópicos como a justiça de Deus versus Seu amor e a obediência à lei versus salvação pela graça. Essas tensões podem ser solvidas se reconhecermos claramente o relacionamento tipológico entre ambos os Testamentos, e que justiça e amor, lei e graça, são conceitos desenvolvidos ao longo de ambos os Testamentos.

Salmos imprecatórios. Alguns vêem os salmos imprecatórios, com suas orações de vingança e maldição aos ímpios (ver Salmos 35; 58, 69; 109; 137, etc.), como em direta oposição às amorosas orações de Cristo e de Estêvão em favor dos seus inimigos (Lucas 23:34; Atos 7:60). Na tentativa de solucionar esse problema, não devemos nos esquecer de que o Novo Testamento cita os salmos imprecatórios como inspirados e autorizados, e que no Antigo Testamento os inimigos do povo do concerto eram considerados inimigos do próprio Deus. Parece bastante evidente, portanto, que esses salmos devem ser compreendidos dentro da moldura teológica da teocracia do Antigo Testamento.

Problemas sinópticos. Provavelmente nenhuma outra área tem gerado tanta controvérsia em relação à unidade da Palavra de Deus, como o chamado problema sinóptico. Jamais conseguiremos explicar plenamente como os primeiros três Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) foram escritos; qual foi realmente a dependência de um para com o outro e como harmonizar algumas pequenas discrepâncias nos relatos paralelos. Robert K. McIver afirma em The Four Faces of Jesus que “não existe razão para se supor que as informações trazidas à luz por uma acurada investigação do problema sinóptico, provejam qualquer base para se duvidar da historicidade fundamental dos eventos mencionados nos Evangelhos. Em realidade, elas provavelmente comprovam o oposto, sendo uma evidência da sua confiabilidade.”4

A justificação em Paulo e Tiago. Outra área problemática que nem sempre tem sido compreendida claramente por algumas pessoas, é a clássica tensão entre a declaração de Paulo de que “o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:28), e as palavras de Tiago de que “uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tiago 2:24). Mas essa tensão pode ser solucionada se tivermos em mente que enquanto Paulo está respondendo ao uso legalístico das “obras da lei” como meio de salvação (Romanos 3:20; cf. 3:31; 7:12), Tiago está criticando a profissão antinominiana de uma fé “morta”, tão destituída de frutos como a fé descomprometida dos demônios (Tiago 2:17, 19).

Erros fatuais. Existem aqueles que negam a unidade básica da Palavra de Deus porque, pensa eles, ela contém um grande número dos chamados “erros fatuais”. Muitos desses supostos “erros” não são realmente erros, mas apenas falta de compreensão das verdadeiras questões envolvidas. Um exemplo disso é a maneira como Edwin R. Thiele demonstrou que muitas das pretensas lacunas e discrepâncias na cronologia bíblica dos reis de Israel e Judá podiam ser sincronizadas.5 Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que não temos condições de solucionar todas as dificuldades das Escrituras.6

A despeito da existência de algumas imprecisões em detalhes insignificantes, existem evidências suficientes que demonstram que tais inexatidões não distorcem o conceito básico comunicado pelo texto no qual aparecem, e não rompem a unidade básica da Palavra de Deus.

Não obstante, alguns podem indagar: Por que Deus permitiu que esses problemas permanecessem nas Escrituras? Não poderia ter Ele corrigido alguns deles, de modo que nossa compreensão fosse mais fácil? Essas não são perguntas fáceis de responder, mas creio que existam algumas razões importantes pelas quais Deus não solucionou essas áreas problemáticas.

Devemos reconhecer que Deus confiou Sua mensagem a seres humanos – “vasos de barro” (II Coríntios 4:7) – e esses, por sua vez, a transmitiram em sua linguagem imperfeita. Além disso, a Palavra de Deus destinava-se a servir como uma “luz” para o caminho (Salmo 119:105) dos seres humanos de todas as épocas e lugares. Na qualidade de “pão” espiritual (Mateus 4:4) que testifica do “pão vivo que desceu do céu” (João 6:51), a Bíblia deveria falar a ricos e pobres, cultos e incultos, no contexto em que eles viviam.

Se a Bíblia fosse um livro de “uniformidade monótona”, as pessoas a leriam uma ou duas vezes e então a colocariam de lado como fazem com os jornais velhos. Mas a Bíblia possui uma profunda, “rica e colorida diversidade de testemunhos harmoniosos, todos eles revelando uma beleza rara e distinta”, que a tornam tão atrativa.7 Embora sua mensagem essencial seja perfeitamente compreensível, mesmo às pessoas comuns, a Bíblia possui tal profundidade de pensamento que todos os eruditos e pessoas simples que a estudaram ao longo dos séculos, não foram capazes de esgotar o seu significado e de solver todas as suas dificuldades.

O milagre da inspiração

Mas como o milagre da inspiração salvaguardou a unidade da Palavra de Deus? Até que ponto podemos esperar harmonia dentro das Escrituras? Deveríamos supor, como algumas pessoas fazem, que a Bíblia é confiável apenas em questões de salvação? Podemos isolar as partes cronológicas, históricas e científicas da Escritura de seu propósito salvífico geral?

Como argumentei em outro artigo, a Bíblia reivindica para si uma natureza integral e abrangente, formando uma unidade indivisível (Mateus 4:4; Apocalipse 22:18, 19), e apontando para a salvação como seu objetivo (João 20:31; I Coríntios 10:11). Além disso, a Escritura descreve a salvação como uma ampla realidade histórica, relacionada a todos os demais temas bíblicos. E é precisamente esse inter-relacionamento temático geral que torna quase impossível para alguém falar da Bíblia em termos dicotômicos, como confiável em alguns tópicos e não em outros.

“Uma vez que o propósito primário da Bíblia é desenvolver fé para a salvação (João 20:31), suas seções históricas, biográficas e científicas proveem, muitas vezes, apenas as informações específicas necessárias para atingir esse propósito (João 20:30; 21:25). Apesar de sua seletividade em algumas áreas do conhecimento humano, isso não significa que as Escrituras não sejam dignas de todo o crédito nessas áreas.” “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (II Timóteo 3:16) e nossa compreensão de inspiração deveria sempre preservar esse escopo abarcante.8

Sem endossar a infalibidade calvinista, temos razões suficientes para crer que a Bíblia é infalível em seu propósito salvífico e confiável em seu completo inter-relacionamento temático. De acordo com T. H. Jemison, nas Escrituras “existe unidade em seu tema – Jesus Cristo, Sua cruz e Sua coroa. Existe completa harmonia de ensinamentos – as doutrinas do Antigo Testamento e as do Novo são as mesmas. Existe unidade de desenvolvimento – uma constante progressão desde a criação e a queda, até a redenção e a restauração final. Existe unidade na coordenação das profecias.”9

A atuação do Espírito Santo

A unidade subjacente da Palavra de Deus foi gerada pela direta atuação do Espírito Santo na produção das Escrituras. Paulo afirma em II Timóteo 3:16 que “toda a Escritura é inspirada por Deus”. Pedro acrescenta que “nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (II Pedro 1:20, 21).

Uma vez que foi o Espírito Santo quem gerou a unidade da Palavra de Deus, apenas Ele pode iluminar nossa mente para percebermos a coesão que sustenta a Bíblia. Cristo prometeu aos Seus discípulos que o Espírito Santo viria para guiá-los “a toda a verdade” (João 16:13). Paulo declara que “o Espírito Santo ensina, comparando coisas espirituais com espirituais” (I Coríntios 2:13, NKJV).

Conclusão

Hoje, lamentavelmente, muitos cristãos perderam sua confiança nas Escrituras e as estão relendo da perspectiva de suas próprias tradições (tradicionalistas), da razão (racionalistas), da experiência pessoal (existencialistas), e mesmo da cultura moderna (culturalistas). Cansados da aridez de tais ideologias humanas, muitos outros estão buscando um fundamento mais firme sobre o qual ancorar a sua fé.

Mas se a nossa âncora está firmada na própria Palavra, crendo que o seu testemunho não é o resultado de invenções humanas, mas um dom divino para revelar Deus e o Seu amor redentivo à humanidade, então não temos nada a temer ou a perder. O Espírito Santo que gerou a origem, a unidade e a autoridade da Palavra, pode também iluminar a nossa mente para reconhecermo-la como tal. Teorias humanas podem surgir e desaparecer (ver Efésios 4:14), mas “a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Isaías 40:8).

Alberto R. Timm (Ph.D. pela Andrews University) é professor de Teologia Histórica no Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus 2, e dirige o Centro de Pesquisas Ellen G. White do Brasil. Seu endereço: Caixa Postal 11; Engenheiro Coelho, SP 13.165-970; Brasil. E-mail: atimm@unasp.br
Notas e referências

    Ernest Wright, The Old Testament Against Its Environment (Chicago: Henry Regnery, 1950), p. 13.
    Floyd V. Filson, The New Testament Against Its Environment (London: SCM Press, 1950), p. 96.
    Ekkehardt Mueller, “The Revelation, Inspiration, and Authority of Scripture,” Ministry (April 2000) pp. 22, 23.
    Robert K. McIver, The Four Faces of Jesus: Four Gospel Writers, Four Unique Perspectives, Four Personal Encounters, One Complete Picture (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2000), p. 220.
    See Siegfried H. Horn, “From Bishop Ussher to Edwin R. Thiele,” Andrews University Seminary Studies 18 (Spring 1980):37-49; Edwin R. Thiele, “The Chronology of the Hebrew Kings,” Adventist Review (May 17, 1984), pp. 3-5.
    See Ellen G. White, Gospel Workers (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1948), p. 312.
    Seventh-day Adventists Believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines (Washington, D.C.: Ministerial Association of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1988), p. 14.
    Alberto R. Timm, “Understanding Inspiration: The Symphonic and Wholistic Nature of Scripture,” Ministry (August 1999), p. 14.
    T. H. Jemison, Christian Beliefs: Fundamental Biblical Teachings for Seventh-day Adventist College Classes (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1959), p. 17.



segunda-feira, 27 de junho de 2016

QUAL JESUS VOCÊ QUER?



Ricardo André

No evangelho de Mateus 27:11-26 acha-se registrado uma questão que afeta o destino de todo ser humano. O texto sacro apresenta aos personagens diretamente envolvidos no enredo e a cada ser humano duas opções e uma escolha, nos apresenta dois caminhos um para a salvação e outra para a perdição eterna. As Sagradas Escrituras estão cheias de exemplos de escolhas que homens tiveram que fazer (Deuteronômio 30:19; Josué 24:15; 2 Samuel 24:13; 1 Reis 3: 5). No texto de Mateus somos desfiados a fazermos uma escolha que influenciará o nosso futuro eterno. Que escolha é essa? Passaremos a discorrer neste artigo exatamente sobre essa questão de tremenda importância para cada pessoa.

Jesus fora preso de forma ilegal, na quinta-feira da Semana da Paixão, 13 de Nisan do Calendário judaico, à noite, e fora levado para ser interrogado pelos sacerdotes Anás e Caifás (Jo 18:20-23). Depois de ser levado a Caifás, Jesus foi conduzido diante de Pilatos, governador da Judeia. Naquela ocasião, Pilatos estava em posição de considerável fragilidade política. Uma série de ações equivocadas havia ofendido repetidamente os judeus. Portanto, ele era impopular, e sua capacidade para governar havia sido posta em dúvida até mesmo em Roma. Se tivesse mais um conflito importante com os líderes religiosos, ele provavelmente estaria fora do cargo. Este fato o deixava extremamente vulnerável à chantagem.

Quando procuraram Pilatos, os sacerdotes formularam primeiramente sua acusação contra Jesus em termos políticos que um governador romano podia considerar. Jesus devia ser executado porque Sua realeza era uma ameaça a César. Mas a declaração de Jesus: “O Meu reino não é deste mundo” e as evidências que O apoiavam (Jo 18:36), deixaram claro a Pilatos que a reivindicação de Jesus à realeza não era ameaça política ou militar para Roma. Ele decidiu libertar Jesus e ao mesmo tempo oferecer aos líderes judeus uma opção política, sugerindo soltar Jesus com base na tradição de libertar um prisioneiro, em lugar de inocentá-Lo.

As coisas se complicaram para Pilatos quando os líderes judeus rejeitaram sua oferta de libertar Jesus em condições favoráveis a eles. Eles queriam Jesus morto a qualquer preço. Isso significa que Pilatos teria que persuadi-los a mudar de opinião ou libertar Jesus e enfrentar a sua ira, o que custaria seu cargo. Pilatos estava em um dilema entre a justiça e o egoísmo.

Então Pilatos procurou atrair a simpatia dos seus oponentes açoitando Jesus e apresentando-O diante deles. Mas eles recusaram a mudar de ideia. Pressionado, o governador tentou um último recurso: mandou trazer Barrabás, e, valendo-se de uma (suposta) tradição judaica, concedeu ao povo o direito de escolher qual dos dois acusados deveria ser solto e o outro crucificado (Mt 27: 15-17). Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: "Qual destes vocês querem que lhes solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?" (v. 17, NVI).
“Oferecendo ao povo escolha entre esse homem e o inocente Salvador, Pilatos julgava despertar-lhes o sentimento de Justiça. Esperava conquistar-lhes a simpatia para Jesus, em oposição aos sacerdotes e príncipes” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 733). Pilatos estava errado. A menos que estejam sob a convicção do Espírito Santo, inevitavelmente as pessoas fazem a escolha espiritual errada, como fez aquela multidão. “Pilatos ofereceu ao povo a escolha entre um pretenso salvador político (ver DTN, 733), que prometeu livramento da tirania de Roma, e o Salvador do mundo, que viera para salvar as pessoas da tirania do pecado. Eles preferiram submissão à liderança de Barrabás em vez de aceitar a liderança de Cristo” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 5, p. 588).

Jesus Cristo X Jesus Barrabás

Ali estava Barrabás em contraste com Jesus, o Messias. O nome “Jesus” em latim se origina no hebraico “Josué, que significa “Yahweh é salvação” ou Yahweh, o libertador”. Quem foi Barrabás? Foi um criminoso, responsável por insurgência, assassinato e roubo. Ele era um assassino. Essa é a forma como Pedro o chama em Atos 3:14. Ele pertecente a um grupo revolucionário zelote, cujo objetivo era libertar Israel do domínio opressivo da exploração romana. Foi preso após um ataque a um grupo de soldados romanos na cidade de Cafarnaum, onde possivelmente um soldado foi morto. “Um homem chamado Barrabás estava na prisão com os rebeldes que haviam cometido assassinato durante uma rebelião” (Marcos 15:7, NVI). A penalidade para suas ações foi a morte. Barrabás tinha um bom nome. Seu nome é formado por dois nomes aramaicos: Bar significa “filho de”, assim como Simão Barjonas significava “Simão, filho de Jonas”, ou Bartolomeu significa “filho de Tolomeu”. Barrabás siginificava “filho de abbas”, isto é, “filho do pai”. Muitos manuscritos antigos registram o primeiro nome de Barrabás como sendo Yeshua (Jesus). Yeshua era um nome comum na época e significava “Yahweh salva”.  A Nova Tradução na Linguagem de Hoje assim traduz o verso 17: “Então, quando a multidão se reuniu, Pilatos perguntou: — Quem é que vocês querem que eu solte: Jesus Barrabás ou este Jesus, que é chamado de Messias? Assim o nome de Barrabás tinha mais ou menos o sentido de Yahweh salva, filho do pai”. Que farsa! Barrabás não fazia justiça a esse nome.

“Esse homem havia afirmado ser o Messias. Pretendia autoridade para estabelecer uma nova ordem de coisas, para emendar o mundo. Sob uma ilusão satânica, pretendia que tudo quanto pudesse obter por furtos e assaltos era dele. Por meios diabólicos havia realizado coisas admiráveis, atraído seguidores e despertado sedição contra o governo romano. Sob a capa de entusiasmo religioso, era um endurecido e consumado vilão, dado à rebelião e à crueldade.” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 733).

Aqui ele, portanto, está junto com Jesus diante de Pilatos. Este apresenta diante da multidão dois Jesus. De um lado o inocente, Jesus Cristo, o filho de Deus. Nenhum mal foi encontrado nele. Ele caminhou fazendo o bem e curando as pessoas. E ainda ele está na fila da morte. Do outro lado Jesus Barrabás, um assassino, um criminoso que foi condenado à morte. Um dos dois irá para a cruz, e Barrabás tem todas as razões para estar lá. A cruz é seu fim normal.

Pilatos queria soltar Jesus (Lucas 23:20). Ele até fora alertado pela esposa, que reconheceu que Jesus era justo e disse a ele que não se envolvesse naquilo, após um sonho que teve na noite anterior.  Depois Pilatos perguntou à multidão: "Que mal este fez?" (Lucas 23:22). Aqui, Pilatos começa afirmando que Jesus é inocente e acaba concedendo a sentença de morte que a multidão exigiu. A pressão da multidão, até mesmo o desejo de agradá-la, levaram Pilatos a entregar o nosso precioso Senhor (Mateus 27:19-26). Quantas vezes oscilamos entre o nosso desejo de servir a Deus e o desejo de agradar as pessoas ou ser aceito por elas?

Vendo Pilatos que nada consegue, acalma a turba e pede água e ali diante do povo lava as mãos, proclamando-se inocente do sangue de Cristo. Mas lavar as mãos sem limpar o coração não poderia salvar o covarde governador da deslealdade. O julgamento chega aos seus momentos finais. O Messias é levado e o povo avança com toda fúria, escarnecendo dEle, açoitando-O e gritando. Parece que verdadeiros demônios estão soltos. Porém, de tudo isto, uma pergunta nos impressiona: “Que farei de Jesus, chamado o Cristo?” (Mt 27:22).

Jesus foi encaminhado para ser crucificado e Barrabás foi libertado! O inocente foi para a cruz, em vez do culpado. Jesus morreu no lugar de Barrabás. Mas de uma forma ou de outra, quem é Barrabás? Eu lhes direi. Ele é eu e você. Na pessoa de Barrabás nós somos todos nós. Todos "pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23). Todos nós fomos condenados. Todos nós mereceríamos ir para a cruz. Mas lá vem Jesus Cristo, o cordeiro inocente, o Cordeiro de Deus, e Ele toma o lugar de Barrabás. Barrabás agora está livre. Eu e você fomos liberados e estamos livres agora! Veja como a Palavra diz em Efésios 2:1-10:

“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus. Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.”

Nós estávamos mortos em ofensas e pecados e Deus nos vivificou em Cristo! Ele nos deu nova vida! Eu acredito que Deus envolveu o assassino Barrabás na cena de crucificação para demonstrar seu amor: A vida de Barrabás foi salva pela morte de Jesus Cristo. Ele foi destinado à morte, justamente como eu e você estávamos mortos em pecados e ofensas. A cruz foi feita por ele! Embora sua vida estivesse disponível pelo sacrifício do Senhor Jesus Cristo. Se Jesus não tivesse sido “obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8) Barrabás seria morto naquele dia. Similarmente, é através desta obediência de Jesus Cristo e do amor do Pai que você e eu, uma vez que acreditamos em Jesus Cristo como Senhor e Filho de Deus, fomos tornados vivos. De filhos da ira nós nos tornamos filhos de Deus.

Ninguém sabe o que aconteceu com Barrabás depois. Ele agora tinha uma segunda chance: podia escolher continuar na sua má vida ou mudar e seguir Jesus. Cada um de nós é como Barrabás, condenados a morrer nos nossos pecados. Mas Jesus morreu em nosso lugar (1 Pedro 3:18). Agora nós temos a mesma escolha que Barrabás e podemos completar sua história em nossas vidas.

Jesus ou Barrabás?

Por acaso Barrabás se encontrou com Jesus? Não o sabemos. Não há referências bíblicas nem extra-bíblica que indique que Barrabás tenha se encontrado com Jesus.  Alguns sugerem que Jesus foi colocado na mesma prisão de Barrabás enquanto Pilatos decidia o que fazer para sair-se do dilema que os dirigentes de Israel lhe haviam apresentado. O que sabemos, porém, é que Barrabás e Jesus amavam a Israel e queriam dar liberdade ao povo. Mas o patriotismo deles se expressava de maneiras bem diferentes: Barrabás oferecia libertação política por meios humanos: conflito armado, rebeliões políticas e desobediência civil. O Messias propôs livramento espiritual por meio de canais espirituais: arrependimento sincero, conversão genuína e estilo de vida transformado. O objetivo de Barrabás era derrubar o exército romano e restabelecer um governo judeu independente. O objetivo de Cristo era derrotar a rebelião do pecado e restabelecer o reino de Deus.

Jesus representa a verdadeira libertação por meio do amor, justiça e sacrifício; Barrabás representa a falsa e ilícita libertação, por meio do ódio, violência e injustiça e vício. O povo preferiu libertar a s trevas e a mentira, e crucificar a verdade e a luz. Jesus não fez nenhum mal, e foi condenado. Barrabás não fez nenhum bem, e foi inocentado, num julgamento injusto.

No fim, todos temos a escolha entre Cristo e Barrabás, entre Cristo e o mundo corrompido e caído, entre a vida e a morte. “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más” (Jo 3:19).

Mais de dois mil anos depois milhares de pessoas continuam escolhendo errado. A natureza humana continua a mesma que naquele dia terrível, no qual a multidão frenética virou contra Jesus e gritava: "Crucifica-o!". Escolhem o mundo à Cristo. Por que as pessoas têm a tendência de preferir as trevas à luz? Esse fato nos fala sobre a realidade de nossa natureza caída, e sobre nossa necessidade de nos entregarmos totalmente ao Senhor. Os cristãos modernos precisam fazer escolhas semelhantes. E Jesus, o Messias deve ser a nossa escolha.

Eu imagino, que se Barrabás acompanhou a crucifixão de Jesus, o pânico refletido no rosto de Barrabás quando os terremotos sacudiram Jerusalém e partiram o véu do templo, quando Jesus expira. Encaminhou-se ele tropeçando em direção ao Gólgota? Se o fez, teve de olhar no rosto do Salvador. Posso ouvi-lo gritar a confissão angustiada: “Ó Deus, essa cruz era minha! E Ele a levou por mim!”

A cruz é um sacrifício substitutivo. Cristo morreu por nossos pecados, em nosso lugar, levando sobre si a nossa culpa, “para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). E a exclamação: “Está consumado” (Jo 19:30) tinha um só significado: O Filho de Deus cumpriu a missão de redimir para a qual o Pai O enviou (Jo 4:34). Satanás foi derrotado. A vitória sobre o pecado foi alcançada.

Mas, em vez de remorso, como o de Barrabás, estamos cheios de gratidão, louvor e amor. “Dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Colossenses 1:12-14).

“Sem a cruz não teria o homem união com o Pai. Dela depende toda a nossa esperança. Daí brilha a luz do amor do Salvador; e quando ao pé da cruz o pecador contempla Aquele que morreu para salvá-lo, pode rejubilar-se com grande alegria, pois seus pecados estão perdoados. Ao ajoelhar-se em fé junto à cruz, alcançou ele o mais alto lugar que o homem pode atingir” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 209 e 210).

Caro amigo leitor, agradeça a Deus por esse tão grande sacrifício, aceite essa salvação gratuita que Ele oferece e não esqueça: Jesus deu a vida, morreu a morte eterna em seu e meu lugar. A cruz não era dEle. Era de Barrabás, era sua, era minha…

A Cruz afirma o valor incrível da pessoa humana. “Um ser humano é de valor infinito; seu preço é revelado pelo Calvário” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 184). Deus ama de tal forma cada ser humano que Jesus teria morrido até por um só. Quando obtemos um senso de nosso valor na cruz, podemos evitar os altos e baixos que atravessamos quando nossa auto-imagem se baseia na apresentação ou nas opiniões inconstantes de outros. Quando nos virmos sob a luz da Cruz, desenvolveremos a força para superar o pecado. A confiança para derrotar Satanás e alegria que vem de saber quem somos. Não admira que Paulo tenha dito: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gl 6:14).

Não é possível deixar de imaginar o que houve com Barrabás. Eis um homem diante da morte certa, sem dúvida imaginando o que seria morrer na cruz. Sua única esperança, que se achava por um fio, era escapar e levar a vida como um fugitivo. Nem em seus melhores sonhos ele imaginava ser perdoado, sobretudo em troca de alguém como Cristo. Então, quando ocorreu o inimaginável, que foi que ele fez? Será que ele decidiu dedicar a vida a Deus porque tinha recebido a liberdade? Será que ele se arrependeu e fez boas obras o resto da vida, tentando ser digno de seu bom nome, ou será que voltou à vida de crimes e degradação? Não sabemos o que aconteceu com Barrabás depois do julgamento. Nos evangelhos depois dos acontecimentos da Paixão nada mais encontramos escrito. Existe material na literatura apócrifa, mas são especulações. Infelizmente, a maior parte das pessoas hoje não valorizam o dom que Cristo lhes deu. Elas escolhem ou rejeitá-lo ou aceitá-lo, mas jamais dedicam a vida verdadeiramente a ele.

Eu não sei o que aconteceu a Barrabás. Mas eu sei de uma coisa: na próxima vez que eu ler as passagens da crucificação ou vê-las representadas, eu saberei que eu era igual a ele, morto em ofensas e pecados, destinado à cruz, e exatamente como ele eu fui solto e libertado pelo sacrifício de Jesus cristo que tomou na cruz não somente o lugar de Barrabás, mas também o nosso.

Qual Jesus você quer? Jesus Cristo, que nos amou tanto que morreu em nosso lugar, pagando as penalidades pelos nossos pecados, assegurando-nos a vida eterna, ou Jesus Barrabás, representação do mundo que nos oferece prazeres momentâneos, mas não garante felicidade plena e esperança de vida eterna no povir, e que nos levará a perdição eterna? A Bíblia diz que esse mundo e suas cobiças são passageiros (1 João 2:17). Você negociaria um pequeno período de tempo de prazer (seja qual for sua noção de prazer) por uma eternidade de felicidade? A escolha é sua. Qual Jesus irás seguir? Ser salvo é um ato pessoal, decisivo e é a escolha mais importante que uma pessoa pode fazer.

No passado Josué instruiu o Israel antigo, o então povo Deus, a escolher a quem servir. Ele disse: “Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor" (Josué 24:15). Sua decisão foi: "... Quanto a mim e a minha casa serviremos ao Senhor." E você?

quarta-feira, 22 de junho de 2016

DESCARTANDO O DEUS DOS DEÍSTAS



Ricardo André

O século XVIII testemunhou a ascensão de uma ramificação do cristianismo chamada deísmo. Deísmo era uma religião fundamentada no raciocínio humano, em vez de na revelação divina. Foi grandemente estimulada pela ascensão da ciência moderna. A maioria dos filósofos iluministas era deísta. Possuo alguns colegas e alunos que se declaram deístas.

Descobertas como a lei da gravidade, por Isaac Newton, estabeleceram a cenário para os deístas. Os filósofos do Iluminismo eram apaixonados pelas leis da mecânica de Newton. Então, começaram a ver o Universo como uma grande máquina que funcionava por si mesma, de acordo com as leis da natureza. Naturalmente, ainda assim precisavam de um Deus para criar a máquina e especificar as leis de seu funcionamento. Mas parece óbvio aos deístas que, uma vez em funcionamento, a máquina cósmica podia funcionar muito bem sem a interferência de Deus.

Assim sendo, o Deus deles não interferiu nos assuntos da Terra e de seus habitantes. Depois da criação, Ele saiu de férias, por assim dizer, e deixou a humanidade por conta própria. Como resultado, eles desacreditaram de milagres, revelações sobrenaturais e de todos os outros elos de aproximação entre o divino e o humano. Essa maneira de ver o Universo é chamada de mecanicismo.

As Diversas Formas de Revelação de Deus

As Escrituras Sagradas assumem uma posição firme contra tais teorias. Elas apontam um Deus que se revela a nós. Aproxima-Se de nós, relaciona-Se conosco, manifesta-nos o Seu caráter, revelando Sua vontade e oferecendo-nos a salvação provida por Ele.

O Deus da Bíblia é um Deus relacional, que caminha com seus filhos. Enoque o sétimo depois de Adão foi um homem que experimentou um relacionamento de comunhão impressionante com Deus “Enoque andou com Deus, e não se viu mais, porquanto Deus para si o tomou”  (Gn 5.24). Deus tem diversas maneiras de revelar-se a nós, entre elas estão:

a) A Natureza.

Em Romanos 1:20, se diz: “Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis”.  O salmista também deixa claro que pode-se obter ampla revelação de Deus por meio da Natureza: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite. Sem discurso nem palavras, não se ouve a sua voz. Mas a sua voz ressoa por toda a terra, e as suas palavras, até os confins do mundo. Nos céus ele armou uma tenda para o sol” (Salmos 19:1-4, NVI).

Na Criação, todas as coisa, em sua perfeição original, eram uma expressão do pensamento de Deus; e, como tal, refletiam claramente a natureza divina e a bondade do Criador. A Natureza estava repleta do conhecimento de Deus, e evidenciava Sua sabedoria e amor. Quando, porém, Adão e Eva pecaram, as consequências do pecado tornaram-se visíveis nos danos causados ao nosso Planeta. “Mesmo nesta condição, muito do que é belo permanece. As lições objetivas de Deus, não são obliteradas; quando bem compreendida, a Natureza fala de seu Criador” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 18). A teologia chama essas manifestações de revelação geral.

b) As Sagradas Escrituras

Evidentemente que não é possível conhecer devidamente a Deus somente pelo mundo natural. O cientista poderá trabalhar por uma eternidade, sem chegar a conhecer a Deus e todos os Seus atributos. O homem é apenas uma criatura de um Criador; por isso, ele não pode ter conhecimento de Deus só pela investigação das obras criadas por Ele, mas necessita de uma revelação especial. Indubitavelmente, essa revelação especial é a Palavra de Deus, que foi dada nas Escrituras Sagradas.

Deus não nos enviou a Bíblia como volume impresso no Céu e despachado num trem noturno. Ele não contratou uma equipe de secretários temporários para ditar palavra por palavra do que deviam escrever. Inspirou, porém, os escritores da Bíblia, dando-lhes pensamentos e mensagens por meio de visões, sonhos, conversas com anjos e revelações especiais à mente do profeta. Os profetas escreveram então essas revelações em suas próprias palavras. Assim, embora fossem necessárias 40 pessoas para escrever a Bíblia, ela teve só um Autor: Deus (2 Pe 1:19-21; 1 Tm 3:16, 17).

A Bíblia não procura provar que é a Palavra de Deus. Ela simplesmente afirma que possui autoria divina. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16,17, NVI). “Também agradecemos a Deus sem cessar, pois, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram não como palavra de homens, mas segundo verdadeiramente é, como palavra de Deus, que atua com eficácia em vocês, os que creem” (1 Tessalonicenses 2:13, NVI). A prova dessa afirmação está no que ela pode fazer pelos que a aceitam.

Se for estudado com oração e humildade, e com a orientação do Espírito Santo, todo ensino Bíblico tornar-se-á um quadro que nos ajuda a ver mais claramente a Deus. A pessoa terá de reprimir intencionalmente a revelação que Deus faz de Si mesmo em Sua Palavra e na Natureza, para chegar à conclusão de que Ele não existe. A Bíblia declara o seguinte: “Diz o tolo em seu coração: "Deus não existe" (Salmos 14:1, NVI).

Para aqueles, porém, que aprendem a usar corretamente a revelação de Deus na Natureza, “a Terra jamais será um lugar solitário e desolado. Será a casa de seu Pai, repleta da presença dAquele que uma vez habitou entre os homens” (Ellen G. White, Educação, p. 120).

c) Jesus Cristo

De modo especial, a Bíblia nos revela a Deus em Cristo. O Salvador compassivo, por Sua vez, é a mais clara revelação do caráter amoroso de Deus que o mundo já viu. Ele é o pensamento de Deus audível. É o caráter de Deus tornado tangível. É o pensamento de Deus tornado compreensível. Cristo declarou que se estudarmos diligentemente as Escrituras, notaremos que elas falam a Seu respeito. “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito” (João 5:39, NVI).

Não só era Jesus um divino elo entre o Céu e a Terra por meio da encarnação, mas esse próprio Deus, de acordo com Hebreus 1:1-3, é o Deus Criador e Mantenedor do dia a dia da existência na Terra. “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1:1-3, NVI).

“Para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45, NVI).

Ellen G. White enfatiza os ensinos de Hebreus 1 e Mateus 5:45 ao escrever: “Não é em virtude de um poder inerente que a Terra produz ano após ano sua abundância (...) É por meio de Seu poder [de Deus] que verão e inverno, semente e sega, dia e noite se seguem em sucessão regular. É por meio de Sua palavra que a vegetação floresce. (...) Todas as boas coisas que possuímos, todo raio de Sol e toda chuva, todo bocado de pão, todo momento de vida, é um dom [uma dádiva] de amor” (O Maior Discurso de Cristo, p. 74 e 75).

Somos agradecidos a Deus porque Ele “faz nascer o Seu sol” e “vir chuvas”.

Jesus Cristo, o Deus Encarnado nos convida a um relacionamento Feliz com Ele

"Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30, NVI). O Senhor Jesus está sempre convidado Seus filhos para que participem com Ele, para que estejam com Ele, para que venham às Bodas do Cordeiro com Ele! Mateus 11:28-30 traduzem a mais linda mensagem da Palavra de Deus e um convite especial do Mestre a cada um de nós. É o convite para um relacionamento feliz e saudável com Ele, é o convite para o alívio do fardo do pecado, o descanso, a paz de espírito. Desde que Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden, homens e mulheres não tem mais tranquilidade. Por quê? Porque quando estamos longe de Deus, nos afastamos dEle, não há sossego em nosso coração.

A maior prova dessa ansiedade e intranquilidade do homem são as muitas pílulas, pastilhas, drogas, tranquilizantes que ingere para poder minar um pouco o sofrimento e agir calmamente no trabalho e no lar. Os grandes dramas sociais resultam dessa falta de paz de espírito, dessa ansiedade mórbida que avassala a humanidade. O resultado: Divórcios, crimes, infelicidades, abusos, vícios, entre outros.

Os jornais e revistas faturam, publicando problemas dos outros, falando das dificuldades dos artistas, da corrupção dos líderes políticos, da falha dos executivos, e especialmente o “fuxico” que permeia a sociedade como uma verdadeira praga, onde o ser humano só tem prazer quando está falando mal de alguém, destruindo seu próximo.

Há uma insegurança total na humanidade! Ficam ainda mais apavorados quando desastres assolam a humanidade, e compreendem mais e mais a fragilidade de nossa vida. O convite de Jesus é simplesmente maravilhoso e adequado para os dias modernos. “Cristo fala a todos os seres humanos. Saibam eles ou não, todos estão cansados e oprimidos. Todos se acham curvados sob fardos que só Cristo pode remover. O fardo mais pesado que levamos é o pecado. Se fôssemos deixados a suportar esse peso, ele nos esmagaria. Mas o inocente tomou nosso lugar. [...] Ele nos convida a lançar sobre Ele toda a nossa ansiedade, pois nos traz em Seu coração” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 328, 329).O que os homens e mulheres precisam compreender que longe de Cristo não há solução para o pecado. Com o pecado, somos impotentes, sem esperança e ficamos sobrecarregados.

Quanto mais tentamos salvar a nós mesmos do pecado, mais forte é a tragédia da ansiedade. O pecado não é um problema de saúde, um risco no trabalho, uma fantasia, ou mesmo um fracasso moral. Pecado é rebelião contra Deus, e somente o Senhor pode solucionar esse problema. A solução é Jesus, Aquele que disse: “Vinde a Mim”. Jesus nos chama para uma identificação pessoal com Ele, com Sua cruz, Sua graça, Seu caminho e Seu jugo. Ele nos chama a um relacionamento de amor com Ele. Um relacionamento com Deus fundamentalmente acontece pelo Espírito, através da Palavra. Não tente correr da Bíblia tentando achar uma relação com Deus nos bosques ou em algum tipo de encontro esotérico, ou na filosofia. De fato, Deus usa arte, a poesia para nos despertar. Mas se nós não centrarmos na Bíblia, onde ele fala infalivelmente, então nosso relacionamento tornar-se-á distorcido pelo erro e pelo pecado. Portanto, deixemos a Bíblia ser o lugar onde Deus encontra e fala conosco. O relacionamento reside nesta comunhão: Ele para nós e nós para Ele. E isso ocorre o tempo todo ao longo do dia.

Caro migo leitor, ao contrário do que pensam os deístas, Deus é um Ser que se revela a nós e está interessado em manter um relacionamento amoroso conosco. Ele diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20, NVI). Em nossa vida Deus precisa ocupar o principal lugar e ter o controle de tudo! A vida sem a presença de Deus é vazia. O ser humano procura preencher esse vácuo se atirando nas aventuras mais extravagantes. Tenta fazer carreira, planeja sua vida até nos mínimos detalhes e busca segurança de todas as formas. Mas em seu coração continua infeliz. Encontramos centenas de pessoas importantes na sociedade, mas envolvidas com drogas, alcoolismo e com uma vida toda desregrada. A justificativa disto é que muitas destas pessoas sem Deus, tem necessidade de preencher o vazio da alma e estes são os caminhos que encontram,(Sl 42:7). Os que por tais caminhos enveredam, nem sempre é mau-caratismo, mas necessidade Deus.

Elas precisam de um relacionamento com Deus através de Jesus Cristo. Por essa razão o salmista diz: "Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo."(Sl 16:2) Chamar a Jesus Cristo de meu Senhor, nisso reside a felicidade permanente. Por isso o salmista continua confessando: "Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (v. 11).

O caminho para uma vida plena de felicidade e alegria se chama Jesus Cristo e consiste naquilo que Ele realizou na cruz por nós, que é o perdão dos pecados. Outra passagem da Bíblia diz: "Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade" (Sl 32:1, 2). Exatamente para isto Jesus veio a este mundo, morreu na cruz, foi sepultado e ressuscitou dos mortos, para nos colocar outra vez em comunhão com Deus pelo perdão dos pecados. Existe um hino no Hinário Adventista que exprime isso de maneira muito acertada:

"(...) Sou feliz com Jesus!
Sou feliz com Jesus
Meu Senhor!

Jesus meu Senhor, ao morrer sobre a cruz
Livrou-me da culpa e do mal
Salvou-me Jesus, oh, mercê sem igual!
Sou feliz, hoje vivo na luz "
(...)

HASD, nº 230

“Quando por meio de Jesus, entramos no repouso, o Céu começa aqui. Atendemos-Lhe ao convite: Vinde, aprendei de Mim; e assim fazendo começamos a vida eterna” (Ellen G. White, A Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 367 [MM, 1959]).

Acredite no Deus da Bíblia, aceite-O como seu Salvador pessoal e experimentarás a paz, a alegria do viver,  a felicidade , o começo da vida eterna, enfim.