Teologia

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MARTIN NIEMÖLLER – O PASTOR QUE SE OMITIU EM FAZER O BEM COM A SUBIDA DOS NAZISTAS AO PODER


Ricardo André

Em Provérbio 3:27, encontramos um relevante conselho prático para todas as pessoas em todas as épocas. Lemos: “Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa” (NVI). Estamos vivendo um tempo de extrema dificuldade, onde a maldade e a intolerância estão prevalecendo. Parece que as pessoas perderam completamente a noção de bom senso e respeito pelo seu semelhante. Para esse tempo de perplexidade o conselho do sábio é que devemos fazer o bem as pessoas (jamais o mal). Fazer o bem e ser um bom cristão é nosso dever. Fazer o bem não é uma opção, é uma ordenança. Não fazê-lo, segundo as Sagradas Escrituras, é um pecado (Tiago 4.17). Não há escapatória ou desculpa para o contrário. Por isso, o apóstolo Paulo disse em duas de suas Cartas: “Não se canse de fazer o bem” (Gálatas 6.9-10 e II Tessalonicenses 3.13).

Pastor Martin Niemöller e a omissão da prática do bem

Ao analisar esse dever cristão penso na história de Martin Niemöller. Ele era pastor luterano, natural da cidade de Lippstadt, na Vestefália, na Alemanha, que se tronou conhecido no auge do nazismo. Por Ser nacionalista e antissemita, Niemöller recebeu com entusiasmo a criação do Terceiro Reich de Adolf Hitler, apoiando-o inicialmente.

Todavia, após uma reunião com Adolf Hitler e dois outros proeminentes pastores, em janeiro de 1934, para discutir a tentativa de Hitler em dominar a Igreja Evangélica (Luterana ou Reformada), retirou seu apoio ao regime ditatorial. Naquela reunião ficou claro que o telefone de Niemöller havia sido usado pela Gestapo (polícia secreta do estado alemão). Também ficou claro que a Liga de Emergência dos Pastores (PEL), que Niemöller havia ajudado a fundar, estava sob vigilância do estado nazista. Após a reunião, Niemöller abriu os olhos e começou a enxergar o estado nazista como uma ditadura, passando a se opor veementemente. Denunciou abertamente a culpa dos alemães pela morte dos milhões de judeus pelos nazistas, conhecido como Holocausto, durante a Segunda guerra Mundial (1939-1945), por terem apoiado acriticamente o nazismo.

Em 1938, por conta de sua forte oposição ao nazismo, Hitler enviou o pastor como seu “prisioneiro pessoal” para um campo de concentração. Até o fim da guerra, durante mais de sete anos, Martin Niemöller permaneceu preso — inicialmente, no campo de concentração de Sachsenhausen, depois no de Dachau. Em janeiro de 1946, ele publicou seu livro intitulado:  Über die deutsche Schuld, Not und Hoffnung (“Da Culpa e da Esperança”). Nele, corajosamente reconhece sua culpa e a do povo alemão pela cumplicidade com o regime nazista, bem como por não terem feito nada para ajudar os judeus que perderam sua liberdade, sofreram boicote e morte. Ele escreveu: “Assim, sempre que tenho a chance de encontrar frente a mim um judeu como tal, então, como cristão, não posso deixar de lhe dizer: 'Caro amigo, estou na sua frente, mas não podemos nos unir pois há culpa entre nós.  Eu e o meu povo pecamos contra o seu povo e contra você mesmo” (Enciclopédia do Holocausto).

Criticando a atitude de se omitir diante do mal, ele escreveu o poema “E Não Sobrou Ninguém”: “Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me encomendei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar”.

Essas famosas palavras do pastor Niemöller são uma adaptação de um poema de Vladimir Maiakóvski (1893-1930), poeta russo. De acordo com o site Enciclopédia do Holocausto, em virtude dele ter empregado de diversas formas em diferentes momentos, há diferentes versões desse pensamento.  Talvez, a citação mais conhecida aqui no Brasil seja a que transcrevemos abaixo:

“Quando os nazistas vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um socialdemocrata. Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista. Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu. Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar”.

Essa palavras expressam uma questão profunda da sociedade de seu tempo e, também, do nosso: há pessoas que podem fazer o bem, mas se omitem de fazê-lo. Esse é o assunto do Provérbio 3:27.

Não se omitir em fazer o bem

Todos os dias, em qualquer rua, em nossa comunidade, nós temos oportunidades de fazer o bem. Existem pessoas com fome nas ruas, crianças e adolescentes sofrendo abusos sexuais e outras formas de violência. O Brasil tem seis meninas entre 10 e 14 anos estupradas diariamente. Recentemente, a imprensa nacional repercutiu o caso de uma criança, do Espírito Santo, de 10 anos, que fora abusada desde os 6 pelo tio. Aos 10, descobriu que estava grávida dele. Por conta do risco que a gravidez representava para a vida da criança, e porque a gravidez foi fruto de estupro continuado, a vó conseguiu na justiça o direito dos médicos interromper a gravidez, num hospital do Recife, Pernambuco. No dia em que a equipe médica faria o procedimento, diversos religiosos fanáticos católicos e evangélicos armaram uma confusão e tentaram invadir o hospital para impedir o aborto legal, chamando a menina vítima de estupro e o médico de assassinos. Nas redes sociais milhares de internautas se mobilizaram em repúdio não só pela ação em si como aos que a convocaram, especialmente contra a bolsonarista extremista que foi presa recentemente, Sara Winter, a que não só incentivou os protestos de grupos fundamentalistas como ainda revelou o nome da menina de 10 anos.

Quem defende que abortar o fruto de um estupro, algo permitido pela legislação brasileira desde a primeira metade do século passado, seria um crime, pensa na situação da mãe e nas condições de vida da criança que nascerá? Ou só defende que mais um ser seja gerado, porque seria uma obra divina na Terra, mas pouco se importa com as consequências dessa gravidez violenta e indesejada? Aqueles religiosos fanáticos que foram para a porta do hospital no dia 15, não estavam preocupado com a dor, o sofrimento e os traumas da criança. Não estavam preocupado com o estrago irreparável feito na vida dela, violentada desde os 6 anos. Nem com todo acompanhamento especializado essa menina terá uma vida dita natural ou tranquila.

Muitas mulheres são violentadas e assassinadas por seus maridos ou ex-maridos. Os negros e negras sofrem cotidianamente com o preconceito e discriminação racial. Muitos deles sofrem com a violência policial nas periferias. A indiferença social para com os desvalidos, sejam eles pessoas desempregadas, refugiadas, crianças abandonadas, negros, indígenas, pessoas idosas ou com deficiência, mulheres, enfermos mentais, entre outros, ainda é uma prática generalizada no mundo. Há uma boa parcela da humanidade que é solidária, porém, é preciso que a grande maioria se sensibilize com a pobreza social. É desumano viver no ambiente de caos social, existente nas periferias das grandes cidades. Frente a vulnerabilidade de muitos, é preciso desenvolver o altruísmo e criticar o egoísmo.

Como cristãos, não podemos nos furtar de fazer o bem a esses grupos vulneráveis, denunciando tais crimes e apoiando em suas necessidades. Quando deixamos de ajudar essas pessoas que necessitam agravam o problema. São corações feridos, vidas destruídas, pessoas desesperadas, esperando nosso apoio. A Bíblia diz: "Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um mandado do Senhor.

Ellen G. White escreveu estas fortes palavras: A norma da regra áurea é a verdadeira norma do cristianismo; tudo que a deixa de cumprir, é um engano. Uma religião que induz os homens a estimarem em pouco os seres humanos, avaliados por Cristo em tão alto valor que por eles Se deu; uma religião que nos leve a negligenciar as necessidades humanas, seus sofrimentos ou direitos, é religião falsa. Menosprezando os direitos do pobre, do sofredor e do pecador, estamo-nos demonstrando traidores a Cristo. É porque os homens usam o nome de Cristo ao passo que Lhe negam o caráter na vida que vivem, que o cristianismo tem no mundo tão pouco poder” (O Maior Discurso de Cristo, p. 136, 137).

Caro(a) amigo(a) leitor(a), qual bem você pode fazer a alguém hoje, mesmo que você não o conheça? Ao deparar-se com uma situação de injustiça, manifeste-se imediatamente. Não fique calado. Dê um alarme. Levante a voz. Indigne-se e clame por justiça. Não fique indiferente nunca. Estejamos atentos ao que está à nossa volta. Sempre encontraremos oportunidades para fazer o bem, seja este uma “pequena” e “simples” ação ou requeira este um enorme e complexo sacrifício. Encoraje, acolha, anime, dê um pedaço do seu coração. Custa pouco e faz muito bem. Que não sejamos omissos! Portanto: “Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa”.

Oração: Querido Deus e bom Pai que estás no Céu, perdoa-nos pelas vezes que deixamos de ajudar nosso próximo mesmo tendo condições de ajudá-lo. Não permita que venhamos omitir ajuda a ninguém. Eu creio que o Senhor é a fonte, e eu sou apenas um canal para fazer com que as Suas bênçãos cheguem àqueles que necessitam. Oramos-Te em nome de Jesus, amém.

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 22 de agosto de 2020

OS CONSTRUTORES DE TORRE DE BABEL MODERNA


Ricardo André

Queremos neste artigo refletir sobre o significativo episódio da construção da Torre de Babel. Este tema sempre despertou especulação e curiosidade por parte das pessoas. Há muitas lições a serem extraídas dessa narrativa bíblica. Nesse estudo vamos destacar algumas dessas relevantes lições objetivas e espirituais. Essa história da Torre de Babel nos ensina que sempre haverá consequências para os nossos atos. Também nos ensina que vidas construídas com base na busca pelo prazer, pela fama e pela riqueza, bem como fundamentada na rebelião a Deus estão condenadas ao fracasso, que é importante escolher viver no centro da vontade de Deus. O episódio é relatado em Gênesis 11:1-9:

“No mundo todo havia apenas uma língua, um só modo de falar. Saindo os homens do Oriente, encontraram uma planície em Sinear e ali se fixaram. Disseram uns aos outros: "Vamos fazer tijolos e queimá-los bem". Usavam tijolos em lugar de pedras, e piche em vez de argamassa. Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra". O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. E disse o Senhor: "Eles são um só povo e falam uma só língua, e começaram a construir isso. Em breve nada poderá impedir o que planejam fazer. Venham, desçamos e confundamos a língua que falam, para que não entendam mais uns aos outros". Assim o Senhor os dispersou dali por toda a terra, e pararam de construir a cidade. Por isso foi chamada Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de todo o mundo. Dali o Senhor os espalhou por toda a terra.

Após o dilúvio, em Sua amorável seleção Deus escolheu usar o lindo e natural fenômeno da reflexão e refração dos raios do Sol através das gotas de chuva, como um símbolo de Sua promessa de jamais destruir novamente a Terra pela água (Gn 9:11-17). Aqueles que estavam afinados com o seu Criador podiam olhar confiantes para o brilhante arco-íris acima no céu, e crer em Sua promessa de que a chuva traria bênção em vez de destruição universal.

Porém, à medida que a Terra começou a ser novamente repovoada, um segmento maior da sociedade não aceitou o arco-íris como um sinal de confiança. Novamente a apostasia causou separação, não somente de Deus mas de seus próprios familiares. Irritados pelos que amavam a Deus, os descrentes se mudaram das montanhas para as planícies. Eles decidiram, liderados por Ninrode, construir uma cidade e uma torre, a famosa “torre de Babel” na planície de Sinear, na antiga Mesopotâmia, na margem oriental do rio Eufrates (Gn 10:10; 11:1-9). Estudiosos da Bíblia acreditam que a torre era um tipo de pirâmide escalonada chamada zigurate, comum em toda a Babilônia antiga.

Deus pretendia que a humanidade se espalhasse por toda a Terra. Ele deixou claro esse Seu desejo para Adão e Eva, quando deu a ordem para que eles enchessem a terra com seres humanos (Gn 1:28), e repetiu a determinação a Noé e sua família depois do dilúvio, solicitando que se dispersassem e povoasse o mundo todo (Gn 9:1, 7, 18 e 19). Mas os pós-diluvianos se recusaram a fazer isso. Estavam determinados a formar uma comunidade fechada, a qual finalmente formaria um império universal. Queriam construir, longe do Deus verdadeiro, um centro político e religioso que tivesse domínio universal. O símbolo desse poderio seria a torre muito alta. Era um gigantesco plano de rebelião tendo Satanás como líder invisível.

Mas, por que aqueles descendentes de Noé desejaram construir uma torre? Segundo Ellen G. White, “os moradores da planície de Sinear não criam no concerto de Deus de que não mais traria um dilúvio sobre a Terra. Muitos deles negavam a existência de Deus, e atribuíam o dilúvio à operação de causas naturais. Outros criam em um Ser supremo, e que fora Ele que destruíra o mundo antediluviano; e seu coração, como o de Caim, ergueu-se em rebelião contra aquele Ser. Um objetivo que tinham na construção da torre era garantir sua segurança em caso de outro dilúvio. Elevando a construção a uma altura muito maior do que a que foi atingida pelas águas do dilúvio, julgavam colocar-se fora de toda possibilidade de perigo. E, como pudessem subir à região das nuvens, esperavam certificar-se da causa do dilúvio. Todo o empreendimento destinava-se a exaltar ainda mais o orgulho dos que o projetaram, e desviar de Deus a mente das futuras gerações e levá-las à idolatria” (Patriarcas e Profetas, p. 119).

Ainda sobre a questão levantada no parágrafo anterior, o texto de Gênesis 11:4 afirma: “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra" (Gênesis 11:4, NVI). Para além do temor de uma nova catástrofe universal, aqueles homens com tal projeto demonstraram claramente que pretendiam alcançar a fama. Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, “o desejo pela fama aparentemente foi um dos motivos da construção da torre, e o orgulho pela edificação da construção de tal estrutura tenderia, por sua vez, a conservar a unidade na realização de outros planos contrários à vontade de Deus” (v. 1, p. 278).

Como se vê, a motivação máxima daquelas pessoas era a exaltação própria, era provar que poderiam realizar grandes coisas sem Deus. O projeto todo foi elaborado como uma tentativa presunçosa para desviar do Criador a mente das gerações futuras. Eles escolheram descrer e essa escolha foi o fundamento de sua loucura.

“No idioma babilônico, o substantivo Bab-ilu (Babel ou Babilônia) significa “porta dos deuses”. [...] Desde o início, a cidade era símbolo da descrença no Deus verdadeiro e da rebelião contra a sua vontade [...]. Sua torre era um monumento à apostasia, uma fortaleza de rebelião contra Sua vontade” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 917).

Gênesis 11:9 sugere que o nome Babel significa “confusão”. Para os hebreus, esse nome provinha evidentemente do verbo hebraico balal, que quer dizer “confundir”. “É possível que o nome originalmente derivasse do verbo babilônico babalu, “a dispersão”, ou ‘desaparecer’” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 153).

O Céu encerrou a questão ao confundir sua linguagem. A construção parou. E a fama que ficou foi: a cidade da confusão. Ao serem espalhados, os descrentes cumpriram o plano original de Deus e tiveram uma oportunidade para reflexão e arrependimento. A confusão das línguas em Babel representou o juízo de Deus sobre aquele povo, dando início a dispersão geográfica da humanidade e o surgimento das diversas culturas e variedades idiomáticas.

Os modernos construtores de Torre de Babel

Milhares de anos depois, a humanidade continua construindo “Torre de Babel”. Gênesis 1:1 diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (NVI). Nesse texto simples há muitas verdades profundas. Uma delas é que o Universo teve um começo e foi criado por Deus. Contudo, muitos hoje resistem ao conceito da criação do universo porque isso implica algum tipo de Criador. Hoje, a maioria dos cientistas acreditam no modelo do “Big Bang” como explicação da origem do universo. Na verdade, o nome “Big Bang” tinha a intenção de zombar da noção de um Universo criado.

Os capítulos 1 e 2 de Gênesis ensinam nitidamente que todas as coisas existentes em nosso mundo foram criadas por Deus, inclusive os seres humanos. Não estamos aqui por acaso, nem por acidente. Estamos aqui porque um Deus criador amoroso e benevolente criou propositalmente a Terra em um processo que levou seis dias de 24 horas, consecutivos e literais. Fomos criados à imagem de Deus, e o relato da criação em Gênesis é a revelação especial dEle para nós acerca de nossas origens. Entretanto a imensa maioria dos cientistas não aceita qualquer explicação que dependa da ação direta de Deus. A teoria bem mais aceita pelos cientistas para explicar a origem da vida na Terra é o evolucionismo (a propósito, cheio de lacunas e hipóteses imaginativas que não podem ser testadas em laboratório), criada pelo naturalista inglês Charles Darwin, no século XIX, o qual afirmava que a vida surgiu num longo processo de evolução, impulsionadas pela seleção natural, negando, desse modo, o elemento sobrenatural no processo do surgimento de todas as coisas. Tais pessoas são verdadeiros modernos “construtores de torre de Babel”. Suas teorias confusas tende a ser outra tentativa de criar uma torre de Babel moderna. E a maioria aceita essas teorias fundamentadas meramente na “criatividade humana”, sem qualquer alicerce sólido. Livros, documentários, revistas e cientistas parecem saber “sem qualquer dúvida” todos os pormenores da origem da vida. Os cientistas e professores ensinam aos estudantes, jovens e crianças todos os detalhes de uma teoria que parece um dogma. Apresentam a teoria evolucionista como sendo um “fato científico”. O que me impressiona é que muitos tomam-na como verdade absoluta.

Parece que ser ateu e falar mal de Deus está na moda. Afirmar “não creio em Deus” parece sofisticado, evoluído, progressista, científico. Afora isso, testemunhamos hoje um estranho fenômeno: o ateísmo militante. A maioria dos ateus simplesmente nega a existência de Deus, sem interferir na vida daqueles que acreditam nEle. Este tipo de ateísmo – conhecido como o Velho Ateísmo – tem persistido por milhares de anos e ainda permeia a nossa sociedade. É um movimento passivo, constituído de pessoas que, basicamente, demonstram o seu ateísmo evitando qualquer forma de adesão religiosa ou de culto.

Nas últimas décadas, no entanto, um novo movimento que promove ativamente o ateísmo tem tomado forma. Esse movimento, conhecido como Novo Ateísmo, é muito mais ativo e agressivo. Seus líderes são professores e pesquisadores bem conceituados em universidades de prestígio. Entre os mais proeminentes estão Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam Harris, Christopher Hitchens, Jerry Coyne e outros, cuja especialidade acadêmica abrange uma ampla gama de disciplinas, incluindo história, filosofia, biologia e psicologia. Alguns dos novos ateus são blogueiros ativos. Apesar de suas doutrinas radicais, os novos ateus ganharam grande popularidade por meio de palestras públicas e publicações best-sellers em vários idiomas.

A espécie de ateísmo verificada hoje parece irada com Deus, determinada a ver Deus morto e sepultado. Um claro exemplo do que estamos afirmando é o cientista Richard Dawkins, considerado o ícone do ateísmo moderno, autor do livro Deus: Um Delírio. De acordo com ele, a própria ideia de Deus “tem o mesmo efeito de um pano vermelho para um touro”. Sua dialética consiste em “esclarecer” que Deus não passa de invenção de pessoas desiludidas. Dawkins afirma categoricamente a intenção de seu livro: “os leitores religiosos que o abrirem serão ateus quando o tiverem terminado”.

A escritora cristão Ellen G. White escreveu: “Os homens se esforçarão para explicar a partir de causas naturais a obra da criação, a qual Deus nunca revelou. Mas a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Deus do Céu nem explicar as obras estupendas da criação, que foram um milagres do grandioso poder, antes que possa mostrar como Deus veio à existência” (The Spiriti of Profhecy [O Espírito de Profecia], v. 1, p. 89).

Podemos provar a existência de Deus? Não, somos incapazes de prová-la. Mas, também a ciência não pode refutá-la. A questão de capital importância é: Para onde apontam as evidências? Temos evidências suficientes para crer em Deus. O rei Davi declarou:Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19:1, NVI). E o próprio Deus nos desafia: “Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso?” (Is 40:26, NVI).

A complexidade do Universo e da vida, bem como a exata adequação do nosso Universo para a vida ganhou admiração de cientistas e levou muitos deles a comentar que ele parece ter sido projetado por um ser inteligente. O mundo também deve ter sido planejado sabiamente para que a vida existisse. A variação de temperaturas deve ser compatível com a vida. Por isso, a distância do Sol, a velocidade de rotação e a composição da atmosfera devem estar em equilíbrio. Muitos outros detalhes do mundo devem ter sido cuidadosamente projetados. Na verdade, a sabedoria de Deus é revelada no que Ele criou.

São também construtores de Torre de Babel moderna as pessoas que vivem numa corrida frenética a fim de conquistar a fama e riqueza. Elas não são, muitas vezes, ateias, mas vivem divorciadas de Deus, como se ele não existisse. Elas destronam o nosso Deus de seu coração. As pessoas do nosso século de todas as diferentes culturas buscam avidamente brilhar como estrelas, nalguma esfera da vida. E, para alcançar a glória, muitos entregam-se a pesquisas intelectuais e científicas, outros procuram ouro, status, posição, beleza ou fama. É impressionante como as pessoas buscam obter sucesso, como fazem de tudo para atingir a fama. Em muitas situações até usam artifícios duvidosos para alcançar notoriedade nacional e internacional. Gostam de aparecer diante dos holofotes da mídia, dos microfones e nas primeiras páginas dos jornais e revistas. É nisso que milhares de pessoas estão fundamentando sua vida, em coisas supérflua.

Lemos, por vezes, nos jornais estes títulos distintos: “O homem mais rico do mundo”. Um dos mais famosos cientistas da atualidade”. “A rainha da beleza”, entre outros. Essa é a era do estrelismo, em que as pessoas buscam aparecer, atrair para si popularidade.

Jesus virá para destruir a “Torre de Babel” moderna

Os modernos “construtores de torre”, que rejeitam a Palavra de Deus por suas teorias confusas fariam bem em considerar esta lição do passado remoto. Considerando o primeiro exemplo, essa tentativa de criar uma outra Torre de Babel moderna também está fadada ao fracasso. Quem vive alienado de Deus está caminhando para o fracasso. Não chegará ao céu, mas perderá a vida eterna. Sem Deus, tudo o que fizermos se perderá.

Virá o dia em que a glória de Cristo eclipsará qualquer governante terrestre, qualquer ator e atriz de cinema, o mais brilhante cientista ou bilionário, quando Ele voltar em glória e majestade e reivindicar este mundo como Sua propriedade Jo 14:1-3; Mt 24:30). Sua volta é imperativa! Jesus precisa voltar para colocar um fim a dor, ao sofrimento e a morte. A humanidade está totalmente perdida e convulsionada pelo materialismo, desilusão e falta de direção.

Pedro advertiu-nos: “O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada” (2 Pd 3:10, NVI).

Caro amigo leitor, está você construindo torre de Babel em sua vida? Se sim, pare e reflita. Seus propósitos são nobres? Suas metas estão alinhadas com a vontade de Deus? Se quisermos escapar da destruição iminente deste mundo com suas “torres de Babel” do ateísmo e materialismo, precisamos prementemente entregar nossa vida a Jesus e amar a Sua vinda: “Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Tm 4:8, NVI).

“Jesus virá em breve, e nossa posição deve ser a de esperar e vigiar pelo Seu aparecimento. Não devemos permitir que coisa alguma se interponha entre nós e Jesus” (Ellen G. White, Exaltai-O [MM 1992], p. 373).

 

 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE O MILÊNIO?


 

Wilson Borba*

Este breve artigo focaliza o período dos mil anos, também conhecido por milênio, apresentado no capítulo 20 do livro bíblico do Apocalipse, e três principais posicionamentos históricos dentro do cristianismo relacionados àquele período: o Amilenismo, o Pós-Milenismo e o Pré-Milenismo.

O Amilenismo nega a existência de um milênio literal.[1] Tal conceito foi popularizado por Agostinho (354-430) sem razões exegéticas.[2] A primeira ressurreição é vista como o novo nascimento da fé ou o batismo.[3] A ideia de um milênio é ensinada simplesmente como o período que agora vivemos na Terra. É interpretado como um símbolo do triunfo do cristianismo[4] entre o primeiro e o segundo advento de Cristo, e do gozo de supostas almas de defuntos salvos que agora reinariam com Cristo no céu.[5] Este método de interpretar, conhecido como alegoria, consiste em “especulações que o próprio autor nunca teria reconhecido”.[6]

Para os amilenistas, Cristo retornará de forma direta e cataclísmica, iniciando não um reino de mil anos, mas uma nova era na Terra seguida do “juízo final e a eternidade”.[7] Para o evangélico George Ladd, “os primeiros antimilenistas desprezavam a interpretação natural do Apocalipse não por razões exegéticas porque cressem que o livro não ensinava um milênio”, mas “porque não gostavam da doutrina milenista”.[8]

Por sua vez, o grupo pós-milenista coloca erroneamente a segunda vinda de Cristo após o milênio. Seu conceito é semelhante ao amilenismo, mas há uma diferença básica entre os dois: para o pós-milenista, haverá um reino terrestre em um período denominado milênio, que não será necessariamente de mil anos literais.[9]

“Desde o século XVII pós-milenistas vinham crendo que a pregação do evangelho e reformas sociais estenderá o reino de Deus, e o mundo inteiro se cristianizará, gradualmente se converterá, haverá um grande período de justiça e paz”, e “Cristo regressará ao final deste período”.[10] O otimismo pós-milenista comprovou-se exagerado, pois “as duas guerras mundiais e a chegada da era nuclear convenceu a muitos deles de que a sociedade não melhorará”.[11] Desapontados, muitos pós-milenistas voltaram-se para a opção do amilenismo.[12]

Vozes contrárias

Algumas profecias do apóstolo Paulo claramente contrariam ideias pós-milenistas. “Sabe, porém, isto, nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes” (2 Timóteo 3:1-5). “Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (3:13).

Estas profecias estão em acordo com a profecia de Cristo referente à situação moral nos últimos dias da história. “Pois assim como foi nos dias de Noé também será a vinda do Filho do homem” (Mateus 24:37). Finalmente, a terceira posição referente ao milênio é chamada pré-milenismo, posicionando corretamente a segunda vinda de Cristo no início dos mil anos. A propósito, “os primeiros cristãos, e os Pais da igreja dos primeiros três séculos eram pré-milenistas”.[13] Mas, a partir do quarto século prosperou o amilenismo com Agostinho. O pré-milenismo reviveu significativamente a partir do século XVII entre alguns protestantes.[14]

Atualmente, os evangélicos pré-milenistas se dividem em dois grupos básicos: os futuristas históricos modernos e os futuristas dispensacionalistas. Ambos são futuristas porque trocaram o método historicista dos Reformadores pelo futurismo da Contra Reforma, e substituíram a ênfase no papado como o anticristo para um indivíduo futuro que perseguirá os crentes.[15]

Segundo ambos, “o reino milenar ocorre na Terra. Apesar disso, enquanto os pré-milenaristas históricos futuristas consideram a igreja o verdadeiro Israel de Deus, os pré-milenaristas dispensacionalistas esperam que as profecias do Antigo Testamento sobre Israel se cumpram com a restauração literal da nação e do seu templo em Jerusalém”.[16]

Os dispensacionalistas ensinam equivocadamente um arrebatamento secreto na vinda de Cristo, e que no milênio todos os judeus se converterão e voltarão a ser o povo de Deus.[17] Por sua vez, os adventistas do sétimo dia são pré-milenistas bíblicos porque, conforme as Escrituras, eles ensinam que a segunda vinda de Cristo será um evento único, real, audível, visível, mundial, glorioso, a ocorrer no início do milênio (Mateus 24; Marcos 13; Lucas 21; João 14:1-3; Atos 1:9-11; 1 Coríntios 15:51-54; 1 Tessalonicenses 4:13-18; 5:1-6; 2 Tessalonicenses 2:7-10; 2:8; 2 Timóteo 3:1-5; Tito 2:13; Hebreus 9:28; Apocalipse 1:7; 14:14-20; 19:11-21).[18]

Um número literal

Não é por acaso que em Apocalipse 19:11-21 a vinda de Cristo está conectada ao início do milênio de Apocalipse 20, pois estes eventos estão em ordem cronológica.[19] E não é por acaso que João e Paulo nada falaram de arrebatamento secreto, pois o Senhor enviará Seus anjos “com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24:31, 32).

Igualmente, não é por acaso que Apocalipse 19 e 20 nada fala sobre evangelização, conversões e reino judaico sobre a Terra,[20] pois o objetivo da volta gloriosa de Cristo não será pregar, curar, produzir conversões e aqui reinar, mas levar remidos de todas as nações à Casa do Pai (João 14:1-3). O Senhor “descerá dos céus”, mas não colocará Seus pés no mundo, pois seu encontro com os salvos será “nos ares”, “e assim estaremos para sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16, 17).

O efeito glorioso da vinda de Cristo sobre os ímpios será completamente aniquilador (2 Tessalonicenses 1:7, 8). A propósito, somente no dia da vinda de Cristo o ser humano remido receberá o dom da imortalidade (1 Coríntios 15:50-55). “Até aquele dia, a morte é um estado inconsciente para todas as pessoas” (Jó 19:25-27; Salmos 146:3, 4; Eclesiastes 9:5, 6, 10; Daniel 12:2, 13; Isaías 25:8; João 5:28, 29; 11:11-14; Romanos 6:23; 1 Coríntios 15:51-54; Colossenses 3:4; 1 Tessalonicenses 4:13-17; 1 Timóteo 6:15).[21] O reinado milenar de Cristo, com Seus santos no Céu, será entre a primeira e a segunda grande ressurreição. A primeira é a dos salvos. A segunda, a dos perdidos (Apocalipse 20:5).

Os adventistas do sétimo dia também creem que o período dos mil anos é literal,[22] pois o apóstolo João usou tempos simbólicos apenas para o tempo da graça, que terminará antes do retorno de Cristo (Apocalipse 15:8; 21:11-12). Por seis vezes, o apóstolo descreveu de modo natural os mil anos (20:2-7), enquanto anteriormente, em outras seis vezes, usou construções anormais para descrever tempos simbólicos (11:2, 3, 11; 12:6, 14; 13:5).

No início do milênio haverá duas classes de seres humanos: os salvos vivos e ressuscitados levados para o Céu, e os ímpios mortos, pois a terra ficará mil anos como um “abismo”, “sem forma e vazia” (Apocalipse 20:1, 2; Jeremias 4:23-26; Gênesis 1:2), onde Satanás nela circunscrito, e preso pela cadeia de circunstâncias, a ninguém poderá enganar e ferir até os ímpios ressuscitarem no final dos mil anos (Apocalipse 20:1,2, 5). A 27ª crença dos adventistas resume sua convicção sobre o milênio, a vindicação da justiça de Deus e o fim do pecado:

“O milênio é o reinado de mil anos de Cristo com seus santos no Céu, entre a primeira e a segunda ressurreição. Durante esse tempo serão julgados os ímpios mortos. A Terra estará completamente desolada, sem seres humanos vivos, mas ocupada por Satanás e seus anjos. No fim desse período, Cristo com seus santos e a Cidade Santa descerão do Céu à Terra. Os ímpios mortos serão então ressuscitados e, com Satanás e seus anjos, cercarão a cidade; mas fogo de Deus os consumirá e purificará a terra. O Universo ficará assim eternamente livre do pecado e dos pecadores (Jeremias 4:23-26; Ezequiel 28:18, 19; Malaquias 4:1; 1 Coríntios 6:2, 3; Apocalipse 20; 21:1-5)”.[23]

O dia da segunda vinda de Cristo está muito próximo. Você deseja fazer parte do Seu reino? Que Deus nos abençoe a fim de nos prepararmos para aquele dia!

*Wilson Borba é Bacharel em Teologia, tem mestrado e doutorado na mesma área pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Foi professor do Seminário Adventista no Equador, o qual dirigiu, e hoje é docente e diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama).

Referências:

[1]Millard J. Erickson, Introducing Christian Doctrine (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1998), 386.

[2]“Exegese é a aplicação dos princípios da hermenêutica para chegar-se a um entendimento correto do texto”. Henry A. Virkler, Hermenêutica (Miami, FL: Editora Vida, 1990), 11.

[3]R. Kuehner, “Milenarism in the Bible” citado em Frank B. Holbrook, ed., 1ª ed. Simposio sobre apocalipsis-II (Del. Benito Juarez, México: Asociación Publicadora Interamericana, 2011), 286.

[4]Questões de doutrina, 1ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009), 335, 176.

[5]Holbrook, 286.

[6]Virkler, 43.

[7]Questões de Doutrina, 176.

[8]George Ladd, Crucial Questions about the Kingdom of God (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1952), 149.

[9]Erickson, Introducing Christian Doctrine, 383.


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

HAGAR E O DEUS QUE EXALTA OS VULNERÁVEIS

 Ricardo André

Certa vez vi um post no Facebook a respeito de Hagar que dizia, entre outras coisas interessantes, que “Deus tem um jeito de exaltar os vulneráveis”, o que me fez pensar e escrever este texto. A história dela é quase ignorada pelos pregadores e escritores religiosos. Sua história, porém, é repleta de lições para nós. Então queremos fazer uma reflexão a respeito da sua experiência a partir de uma abordagem completamente diferente do que comumente os pregadores e comentaristas bíblicos fazem. Frequentemente, as pregações e os comentários bíblicos a colocam na posição de inimiga e destruidora de lares; como uma escrava insubordinada e insolente que desafiou sua senhora. Entretanto, não vamos seguir essa mesma trilha da abordagem tradicional acerca da vida dela. Essa abordagem existem aos montes. Vamos estudar sua história com um outro olhar e resgatar a figura de Hagar, essa mulher que passou por uma história dolorosa de abuso e solidão. Mais do que isso, queremos aprender com o choro dela que deu nome a Deus e reconheceu-O como o “Deus que ouve e que vê”.

Quem foi Hagar?

Com base nas evidências da pesquisa do historiador e antropólogo senegalês Cheikh Anta Diop (1923-1986) de que os antigos egípcios eram negros do mesmo tipo que todos os nativos da África, há quem diga que Hagar era uma mulher negra africana, mais precisamente do Egito. Mas, a narrativa da negritude egípcia não é compartilhada por todos os historiadores. Muitos deles dizem que pensar num Antigo Egito Negro é “tudo confusão com os núbios’’ - uma civilização negra também próxima ao Nilo – “não eram negros, mas brancos de pele morena”. A raça ou a cor da pele dos egípcios antigos ainda hoje é objeto de muita discussão entre os historiadores. Polêmica à parte, o que sabemos ao certo é que Hagar era escrava-concubina de Abraão, adquirida durante sua permanência temporária no Egito (Gn 16:1; cf. Gn 12:10, 16). 

Segundo o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Hagar não é um nome egípcio. Então, provavelmente “Hagar” não seja seu nome de nascimento. Todavia, seu nome original não é revelado no texto sacro. “O nome Agar, que significa “fuga” em árabe, talvez lhe tenha dado após ela ter fugido de sua senhora” (v. 1, p. 315). "Por insistência de Sara, Abraão tomou Agar como segunda esposa, segundo o costume da época, após ter passado dez anos em Canaã” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 30). Portanto, em sua condição de escrava não escolheu ter relações sexuais com Abraão, ela foi obrigada. O desejo de Sara era ter descendência, porém era estéril, não podia ter filho (Gn 16:2). Naqueles dias e naquela cultura oriental a esterilidade trazia consigo verdadeiro estigma e desonra (Gn 30:1, 23; Lv 202:20). Quando Hagar soube que estava grávida do patriarca, começou a “desprezar” sua senhora, o que provocou a ira dela. A rebeldia da escrava denuncia o sistema que a oprimia. Sara foi queixar-se do seu marido, o qual respondeu: “Sua serva está em suas mãos. Faça com ela o que achar melhor". Então Sarai tanto maltratou Hagar que esta acabou fugindo” (Gn 16:6, NVI). Sara ficou tão tensa com a questão que começou a abusar psicologicamente sua escrava, que finalmente Hagar fugiu em direção ao sul para o deserto.

Ela havia quase alcançado a fronteira egípcia, quando um anjo em forma humana a encontrou junto à fonte próxima de Sur. Ele ordenou a Hagar que voltasse e se submetesse a Sara (v. 9). Isto seria assaz difícil. Mas com o encorajamento de que Deus também lhe daria uma grande nação, ela regressou. Sabemos que ela decidiu voltar em face de visíveis dificuldades porque confiou em Deus. Teve um filho a quem Abraão chamou Ismael.

Hagar pensou que morreria depois de ter visto o mensageiro de Deus, e chamou-O “o Deus que me vê” (v. 13), “pois Ele não apenas a tinha visto e vindo até ela em sua aflição, mas havia permitido também que ela O visse e vivesse” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 318).

Puxa! Amigo(a), percebeu quão libertador é essa experiência, considerando a situação de extrema exclusão de sua vida (mulher, possivelmente negra, escrava e estrangeira)? O que esse encontro nos ensina sobre Deus? Que Ele é Deus cheio de ternura, bondade e misericórdia. Note que Ele não chama Hagar de escrava, mas sim, pelo seu nome. Em resposta Hagar dá nome a Deus. Ela dá um nome a quem lhe dá um nome. É a única mulher na Bíblia que fala diretamente com Deus e a única que lhe dá um nome: “O Deus que Vê”. Isso porque Ele havia falado com ela, e ela havia perguntado a si mesma: “Teria eu visto Aquele que me vê" (Gn 16:13). Ela também deu a seu filho o nome de Ismael, que significa “Deus ouve”. A amarga experiência enfrentada por ela em Canaã (hoje Palestina) a tornou uma gigante. Ela tornou-se uma matriarca de um grande povo, sua descendência é grande, era uma mulher negra em movimento. Ela é exemplo de alguém que resiste e luta por dignidade e emancipação.

Anos mais tarde, houve conflitos entre Isaque, filho de sara, e Ismael, filho da escrava, o que levou Sara a exigir ao seu marido que os expulsassem da casa. Hagar e seu filho foram expulsos pelas mesmas pessoas que abusaram dela, indo peregrinar sem direção no deserto. Eles se perderam no deserto de Berseba e estavam a ponto de morrerem de sede. No deserto Hagar ainda clamou a Deus, quando bondosamente envia novamente Seu anjo para cuidar deles. O anjo conduziu-os até um poço e lembrou Hagar da promessa feita a ela com relação a Ismael (Gn 21:9-19). Eles nunca foram desamparados.

“Hagares” de hoje

À semelhança de Hagar, milhares de pessoas sofrem a exclusão, a opressão e a solidão nos dias atuais. Centenas de mulheres sofrem a opressão da sociedade machista manifestada na desigualdade de direitos entre homens e mulheres, altos índices de violência, assédio e estupro, objetificação da mulher, diferença salarial e muitos outras formas de opressão. Muitas são violentadas e assassinadas por seus maridos ou ex-maridos; outras são abusadas por outras mulheres, as patroas, quando elas são empregadas domésticas. Quantas dessas trabalhadoras são exploradas por suas patroas, sendo submetidas a longa jornada de trabalho e sem direitos trabalhistas.

Hagar é a mulher negra e parda excluída, abandonada pela família e pela sociedade, muitas vezes com filhos, sem direitos ao trabalho, moradia e a saúde, que sofre diariamente com o racismo estrutural, e as questões diretamente relacionadas por ser mulher – acaba sofrendo dupla, ou triplamente. De acordo com Atlas da Violência de 2019, 4.936 mulheres foram assassinadas no Brasil em 2017, maior índice dos últimos 10 anos. Isso representa 13 vítimas por dia – 66% delas eram negras. E nos últimos anos, os assassinatos de brasileiras pretas e pardas só vêm crescendo.

As mulheres negras foram sempre relegadas a postos de submissão, não sendo tratadas com o devido respeito, mencionadas como seres humanos inferiores, e geralmente, representadas por sua sexualidade sempre em posições hierárquicas inferiores. A violência perpetrada contra elas certamente remete ao passado colonial, em que se instituiu o poder sobre a sociedade com base na ideia de raça, que passou a ser, com esse propósito, o estabelecimento de valores distintos entre as pessoas.

Sabemos que as mulheres negras sempre sofreram todo o tipo de preconceito, ao ponto de terem sido tratadas como uma coisa, um objeto, pertencente ao senhor dos escravos. Após a abolição da escravatura, percebe-se que, tristemente, não houve mudanças significativas. A escravidão foi abolida, porém, não foram criados instrumentos, estímulos ou políticas públicas para auxiliar essas mulheres, que supostamente passaram a ser “livres”.

Hagar são as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, que são diariamente abusadas e violentadas sexualmente, abandonadas, em situação de rua, e vítimas de agressões e toda forma de violência.

Hagar são os jovens negros das periferias que são assassinados diariamente. Segundo o site da Anistia Internacional Brasil, mais de 58 mil pessoas morrem assassinadas por ano no Brasil. A maioria são jovens entre 15 e 29 anos. 77% dessas vítimas destas mortes são “jovens, negros, do sexo masculino, moradores de periferias”.

Hagar são os pobres explorados e oprimidos pelo sistema do capital, que vivem na miséria, sem empregos, sem moradia, sem educação e sem saúde.

Para além de tudo isso, a história de Hagar tem muito a nos ensinar sobre Yahweh Deus. Ela conheceu de perto o Deus que vê e ouve, que se relaciona com nossas dores, nos protege e promete coisas maravilhosas, mesmo quando não conseguimos nos mover. Portanto, o Deus das Sagradas Escrituras é o Deus que acolhe e cuida dos vulneráveis da nossa sociedade.

Quando a relação entre Hagar e seus senhores tornou-se tensa, Deus viu o que era melhor para todos e deixou que Hagar fosse para o deserto. À primeira vista parece injusto com ela, porém, Ele se mostra presente durante seus problemas. Deus sempre sabe e nos guia – se deixarmos – para um plano de vida melhor, ainda que pareça a pior solução no início. Ele vê o futuro, vê o que podemos aprender com as falhas e com as situações difíceis e quer moldar o nosso caráter onde nós mais temos dificuldade de aceitar e mudar pelas nossas próprias forças.

Deus viu e falou com Agar, uma negra em condição de exclusão, uma invisível. Desafio você a pensar sobre sua vida, seu cotidiano e relações: quem são as pessoas invisíveis perto de você? Quem elas são, que cor elas têm? Deus sabe o nome delas.

Ao sabermos da existência desses invisíveis em nossa comunidade, em nossa cidade e em nosso país, devemos atuar em cooperação com Deus para aliviar  e remediar a opressão e aflição deles. Sob inspiração divina, Ellen G. White escreveu: “O Senhor requer que reconheçamos os direitos de todos os homens. Os direitos sociais dos homens, e seus direitos como cristãos, devem ser tomados em consideração. Todos têm de ser tratados fina e delicadamente, como filhos e filhas de Deus” (Obreiros Evangélicos, p. 123).

Ela ainda enfatizou que, como igreja devemos lutar contra os males da opressão: “A escravidão, o sistema de castas, os preconceitos raciais, a opressão dos pobres, a negligência dos desventurados – isso tudo é estabelecido como anticristão e uma séria ameaça ao bem-estar da humanidade, e com males apontados por Cristo que a Sua igreja tem o dever de vencer” (Life Sketches of Ellen G. White, p. 473).

Quando Hagar foi aconselhada pelo anjo a regressar para a casa dos seus senhores, confiando na promessa de Deus que Ismael viria a constituir uma grande nação, ela decidiu voltar. Sua expressão de fé deveria encorajar-nos em tempos de grande angústia, quando devemos fazer uma escolha difícil. Deveria lembrar-nos que Deus nunca permite que fiquemos além de Sua vista, mas cuida de nós e nos conforta, assim cuidou dessa escrava africana há muito tempo.

Caro(a) amigo(a) leitor(a), não sei qual é a sua situação socioeconômica tampouco sua condição espiritual, mas se estás sofrendo algum tipo de opressão, preconceito e exclusão, seja um guerreiro ou guerreira! Junte-se a outros igualmente vulneráveis, confiando no poder de Deus lute! Seja um gigante! Reconheça a força histórica dos oprimidos para mudar a situação de opressão! Mesmo que tudo pareça perdido, não temas! Confie! Deus é contigo. Ele ofereceu a razão pela qual não precisamos sucumbir ao desespero e desânimo. O incomensurável amor de Deus, que alcançou a escrava Hagar e tantos outros no passado, não nos ignora hoje. Direcionar a mente para esse amor é o caminho infalível para superarmos quaisquer sofrimento. Clame a Deus e Ele enviará o socorro na hora certa.

Há uma bela canção do Hinário Adventista do Sétimo Dia que enfatiza a sublime verdade de que Deus vê nosso sofrimento e nos ouve, é o hino “Deus Sabe, Deus Ouve, Deus Vê” (nº 500). Ele diz:

Você que se sente pequeno,

Dirija seus olhos a Deus;

Não deixe que sombras o envolvam,

Entregue sua vida a Deus

 

Deus sabe o que vai dentro d'alma,

Deus ouve a oração suplicante,

Deus vê sua angústia e o acalma,

Deus faz de você um gigante.

Deus sabe o que vai dentro d'alma,

Deus ouve a oração suplicante,

Deus vê sua angústia e o acalma;

Deus sabe, Deus ouve, Deus vê.

 

Se a vida levou os castelos,

Que em sonhos você construiu,

Não dê por vencidos seus planos,

Entregue seus planos a Deus.

Lembre-se que Deus é poderoso para trazer luz em meio às trevas! (Sl 112:4). Ele fez assim com a escrava Hagar e, certamente, fará com você.

sábado, 8 de agosto de 2020

REFUTAÇÃO DO ARTIGO “MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, BÍBLIA E ELLEN WHITE”, DE LEANDRO QUADROS

Ricardo André

No dia 04 de agosto de 2020, o senhor Leandro Quadros, jornalista e apresentador do Programa “Na Mira da Verdade” da Rede de Televisão Novo Tempo, publicou em seu blog o texto “Manifesto do Partido Comunista, Bíblia e Ellen White”, cujo objetivo claro é tentar provar que as ideias marxistas são incompatíveis com as Sagradas Escrituras e o Espírito de Profecia. Nele, reproduz velhas objeções ao marxismo de pastores e padres conservadores feitas desde a época da Guerra Fria. De uma leitura simples do artigo depreende-se que os “argumentos” que visam combater o pensamento marxista são de uma pobreza franciscana e, por mais insistentes e reeditados que sejam, jamais conseguirão seus objetivos nem impressionarão os adventistas progressistas. É contrafeito que nos vemos empenhados neste artigo de refutar seus argumentos.

Importante salientar que, há bastante tempo, os pastores Leandro Quadros e Michelson Borges abriram “trincheiras” nas redes sociais, a fim de combater a esquerda e os adventistas progressistas. Ambos já produziram outros textos e vídeos com um amontoado de falsidades sobre a esquerda ou o marxismo, cuja ideia central é demonizar o pensamento marxista, usando a velha e covarde arma de citar frases isoladas de sua estrutura textual e fora de seu contexto. E, o que eles falam normalmente são deturpações que têm muito interesse em criar pânicos morais, pegar aquelas pessoas que não conhecem muito bem o tema, que às vezes já têm um certo medo, um certo receio, e criar uma história de bicho-papão na cabeça delas, do tipo “a esquerda quer destruir a família”. Justificam sua guerra alegando que o marxismo tem “implicações” negativas a vida religiosa. Balela! Esse discurso serve apenas para camuflar a aversão deles a esquerda. No seu combate, comumente dizem: “Não sou esquerda nem direita”, “Não faço manifestação política partidária” ou como o próprio Leandro Quadros afirmou no início do texto em tela: “Foge do escopo do presente artigo defender qualquer vertente política”. Tal fala representa uma tentativa de passar para seus “seguidores” uma imagem de neutralidade política. Todavia, nesse debate entre “Esquerda X Direita” no Brasil, os supracitados pastores não são neutros. Por mais que eles se esforcem para vender a imagem de neutralidade, suas postagens nas redes sociais não negam que são antiesquerditas. Embora nos materiais produzidos por eles não mencionem nominalmente partidos “A” e “B”, na sua guerra ao marxismo, comunismo e ao socialismo estão, naturalmente, combatendo a esquerda. E, combater a esquerda é fazer política partidária, uma vez que os partidos de esquerda são de inspiração marxista. O discurso da pseudo neutralidade não convence a pessoas como nós que pensamos e que sabemos fazer análise de discurso. Ademais, eles não criticam na mesma quantidade e intensidade a direita como fazem à esquerda. Portanto, eles sabem (e nós sabemos) de que lado estão. 

Em abril de 2017, Leandro Quadros teceu comentários elogiosos, numa igreja Adventista, ao então pré-candidato da extrema-direita a presidente da República, o controverso Jair Bolsonaro. Essa manifestação política dele evidenciou seu alinhamento a direita política. Veja o vídeo aqui. No dia 15 de abril daquele ano escrevi o texto “Resposta ao Discurso Repugnante do Jornalista Leandro Quadros, apontando os erros crassos cometidos por ele na igreja. Definitivamente, politicamente Leandro Quadros não é neutro. Ele tem lado. É direitista e bolsonarista.

Seu artigo consiste numa análise rasa comparativa entre a obra de Karl Marx, O Manifesto do Partido Comunista, a Bíblia e o pensamento de Ellen G. White, apontando as contradições da obra. O articulista escolheu sete tópicos para fazer a analogia e identificar as supostas contradições, quais sejam: 1) Luta de classes; 2) Sociedade; 3) Religião; 4) Fé; 5) Família; 6) Estado e 7) Propriedade Privada.

Feito este preâmbulo, vamos agora analisá-los com tranquilidade, paciência e “sem ira”, como nos recomenda o apóstolo Tiago 1:19, 20 (verso bíblico citado e recomendado pelo irmão Leandro Quadros no seu artigo). Mostraremos que suas objeções são inteiramente insubsistentes.

1) A Luta de classes.

Marx e Engels iniciam o texto do Manifesto Comunista com uma famosa frase: “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.”1 De modo que, o objetivo dos autores é definir a História como uma sucessão de luta de classes, pois sempre ocorreu a exploração de uma classe social por outra, e com isso a consequente oposição entre elas: livres versus escravizados, senhores feudais versus servos, ou, agora, entre burgueses versus operários, bem como apresentar as transformações das sociedades pré-capitalistas até a contemporaneidade.

Nesse sentido, é também a luta de classes que permite o desenvolvimento da sociedade. Enquanto o primeiro lado quer manter o outro submisso, o outro deseja desfrutar dos privilégios do primeiro, fazendo com que ocorram transformações, como foi a Revolução Francesa no século XVIII, quando a burguesia vence a nobreza e toma o seu lugar.

Mas, segundo Leandro Quadros, essa visão da história contraria a visão bíblica e do Espírito de Profecia. Citando Ap 12:7-12, assevera que, ao contrário do que Marx e Engels disseram, a “luta” é entre as “classes de anjos bons e maus, não entre classes de seres humanos (burguesia e proletariado)”. O que ocorre aqui é um contorcionismo mental, malabarismo retórico-teológico, a fim de negar a realidade da luta histórica entre dominadores e dominados. Não há como negar o fato de que, no capitalismo moderno ocidental, há duas classes fundamentais: a burguesia e o proletariado. A primeira, proprietária dos meios de produção, subordina a si a segunda, que não possui mais do que sua própria força de trabalho. O proletariado produz a riqueza, mas não tem acesso a ela. Essa situação é capaz de criar grandes confrontos. Usar a Bíblia Sagrada para negar a existência histórica dessa luta é força-la a dizer o que não quer. Como pastor, Leandro Quadros sabe que não devemos forçar nossas próprias ideias sobre o texto, mas sim procurar descobrir o que a Bíblia realmente ensina.

O texto de Apocalipse 12:7-12, deveras, fala de uma guerra espiritual pelo controle do mundo e da mente das pessoas, entre as forças do mal, capitaneada por Satanás e as forças do bem, liderada por Jesus Cristo, denominada por nós, adventistas, de Grande Conflito. Acontece que, o grande conflito descrito em toda a Bíblia não nega a realidade da luta entre as classes sociais existentes na sociedade decorrente dos interesses antagônicos entre elas. Quando um adventista progressista ver a história a partir da “luta de classes” não significa que ele negue a existência do grande conflito. Ele acredita na existência das duas lutas, a espiritual e a socioeconômica (material). Uma coisa não invalida a outra.

Ao contrário do que afirma Leandro Quadros, as Sagradas Escrituras reconhecem que entre o povo de Deus, no Antigo Testamento havia uma classe dominante que explorava a classe dominada. Note o que elas dizem: “Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva. Seus líderes são rebeldes, amigos de ladrões; todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes. Eles não defendem os direitos do órfão, e não tomam conhecimento da causa da viúva” (Is 1:17, 23, NVI). O texto deixa claro que haviam duas classes na sociedade hebreia: os pobres, os órfãos e as viúvas (os oprimidos, vítimas da injustiça econômica), e os nobres e líderes religiosos e políticos (os opressores, que lucravam com a injustiça). Não obstante o texto não dizer que havia uma “luta de classes” nessa sociedade, os profetas do Antigo Testamento foram chamados por Deus justamente para denunciarem os pecados e os males cometidos por esses líderes e as classes abastadas contra os pobres, o que pressupõe conflito de interesses entre os profetas e a elite dominante de Israel. Portanto, as divergências e antagonismos das classes estavam subjacentes nessa relação social.

Ellen G. White ressalta essa verdade ao afirmar: “Contra a indisfarçada opressão, a flagrante injustiça, o luxo inusitado e extravagante, despudorados banquetes e bebedeiras, a grosseira licenciosidade e deboche de seu tempo, os profetas ergueram a voz; mas seus protestos foram vãos, inútil foi a denúncia do pecado”.2

Segundo ainda a Mensageira do Senhor, para Isaías “a perspectiva era particularmente desencorajadora em referência à condição social do povo. Em seu desejo de ganho, estavam os homens adicionando casa a casa, herdade a herdade. Osé. 5:8. A justiça fora pervertida; e nenhuma piedade era mostrada ao pobre. A respeito desses males Deus declarou: "O espólio do pobre está em vossas casas". "Que tendes vós que afligir o Meu povo e moer as faces do pobre?" Isa. 3:14 e 15. Mesmo os juízes, cujo dever era proteger o desajudado, faziam ouvidos moucos aos clamores do pobre e necessitado, das viúvas e dos órfãos. Isa. 10:1 e 2. [...] Em face de tais condições, não é surpreendente que Isaías recuasse da responsabilidade, quando chamado a levar a Judá as mensagens de advertência e reprovação da parte de Deus [...]. Ele bem sabia que haveria de encontrar obstinada resistência”.3

Ao final desse tópico o autor faz a seguinte afirmação: “Acrescenta-se a isso o fato de a Bíblia e Ellen G. White apresentarem pobres e ricos como sendo iguais, unidos através da cruz”. De fato, no sentido espiritual, todas as pessoas, pobres e ricas, negras e brancas ou qualquer outra diferença humana são iguais diante da cruz de Cristo (Gl 3:26-29). Porém, essa igualdade de todos em Cristo ocorre somente no campo espiritual (porque todos, independentemente de quaisquer diferenças, podem ser salvos por Jesus e pertencer a família de Deus), mas no campo material há gritantes diferenças ou desigualdades sociais, com milhões e milhões de miseráveis em contraste com a riqueza ostentada pelos ricos (seus latifúndios, suas casas e apartamentos nababescos).

2) Sociedade.

A parte atinente ao tópico “sociedade” é onde o argumento de Leandro Quadros se mostra mais inconsistente. Ele nega que a sociedade seja dividida em classes antagônicas como na acepção marxista. Para sustentar sua opinião usa o exemplo de Abraão que era muito rico e possuidor de vários empregados, mas que é descrito na Bíblia como “o pai da fé não é retratado como um ‘opressor burguês’”. Ora, o relato bíblico também não chama Abraão diretamente de mentiroso, mas ele mentiu ao dizer para os egípcios que sua esposa Sara era sua irmã (Gn 12:10-20). Embora Sara fosse meia-irmã de Abraão, como nos mostra Gênesis 20:12, eles eram casados. Temendo por sua vida negou esse fato. Quando a Bíblia Sagrada o descreve como o “pai da fé” não significa que a sua fé em algum momento não tenha sucumbido a prova, como ocorreu no Egito, quando fez uso de uma meia-verdade para esconder a outra metade. Similarmente, quando a Bíblia descreve Abraão como o “pai da fé”, não significa necessariamente que ele não tenha sido um opressor no sentido econômico. Pode-se até acreditar que Abraão não fosse um “opressor” no sentido de infligir violência física sobre outrem, mas dizer que aquela sociedade antiga não estava dividida em classes sociais fortemente hierarquizada, é demonstrar não somente desconhecimento bíblico, mas, sobretudo, de história. Todas as pessoas que têm o mínimo conhecimento de história sabe que todas as civilizações antigas eram divididas em classes dominantes e dominadas, entre senhores e escravos. “A prática de manter escravos remonta a tempos muito antigos. Abraão, em harmonia com sua época, tinha escravos (Gn 15:3)”.4  

Ele, que viveu numa sociedade familiar-tribal, era o patriarca do seu clã, tinha poder sobre todos, família e escravos. A Bíblia diz que ele tinha “servos e servas” (Gn 24:35). Provavelmente, alguns desses servos ou escravos foram comprados. Os registros bíblicos não deixam dúvidas a respeito da compra e venda de pessoas no patriarcalismo. Quando saiu de Ur dos caldeus, Abraão “levou sua mulher Sarai, seu sobrinho Ló, todos os bens que haviam acumulado e os seus servos, comprados em Harã; partiram para a terra de Canaã e lá chegaram” (Gn 12:5, NVI). É pertinente perguntar se Agar, uma das escravas de Abraão, nasceu na casa ou foi adquirida a preço de dinheiro: Abraão e seu filho Ismael foram circuncidados naquele mesmo dia. E com ele foram circuncidados todos os de sua casa, tanto os nascidos em casa como os comprados de estrangeiros” (Gn 17:26, 27, NVI). Agar era uma escrava que se encontrava sob o total domínio de Sara, a ponto de Abraão ter dito: Sua serva está em suas mãos. Faça com ela o que achar melhor". Então Sarai tanto maltratou Hagar que esta acabou fugindo” (Gn 16:6, NVI), inclusive vendê-la.

Ora, se Abraão tinha escravos e escravas, alguns deles comprados, ele era o senhor, logo havia uma relação de poder. Ele dominava sobre seus servos. Todos aqueles que estavam subordinados aos patriarcas, como os membros da família e os servos/escravos, eram obrigados a trabalhar para garantir o sustento do grupo. Esse tipo de relação era o que se chama hoje, em economia, o modo de produção escravista, em que os meios de produção (terras, gado e instrumentos de produção) e os escravos tinham um dono, o seu senhor. Considerado uma ferramenta, assim como os animais, os escravos trabalhavam para os senhores sem receber nada em troca. Esse modo de produção foi marcado pelo domínio e sujeição. Um pequeno número de senhores explorava uma grande massa de escravos, sendo proprietários destes, além dos meios de produção e do produto, não dando, na maioria das vezes, direito nenhum dos escravos, que produziam os bens. 

Em face disso perguntamos: A posse de escravos ainda que socialmente aceita, e o trabalho compulsório não seriam uma forma de opressão econômica? Os maus tratos a escrava Agar por sua ama Sara com a conivência de Abraão não seria uma forma de opressão psicológica?

Vale ressaltar que, a escravidão que existiu no período patriarcal e prosseguiu durante a monarquia na história de Israel antigo, não era propósito de Deus para Seu povo. Tanto é assim que Ele pediu a Moisés que estabelecesse leis acerca dos escravos, cujo objetivo era libertá-los após sete anos (Êx 21:1-7). “Visto que o propósito essencial de Deus é conceder liberdade, Ele regulou essa prática em Israel exigindo que os credores libertassem seus escravos a cada sete anos. Por isso, o Senhor protegeu o povo para que não se tornassem escravo permanentemente e demonstrou Seu desejo de que as pessoas vivessem livremente”.5

3) Religião.

Nesse tópico o jornalista Leandro Quadros continua com suas arengas destituídas de fundamentos. Ele diz que, no Manifesto do Partido Comunista, Marx afirma “que se deveria promover um ‘novo evangelho social’” e, queas Escrituras e White veem a moral e a religião não como instrumentos de dominação da burguesia, mas como oriundas de Deus”. Li a obra toda e não vi em nenhuma página do Manifesto Comunista a proposta de se “promover um novo evangelho social”. Essa não era a preocupação do filósofo alemão. Isso é uma interpretação forçada do autor. Na verdade, o que o Manifesto propõe é a criação de uma sociedade sem classes, onde todos sejam iguais, que ele denominou de sociedade socialista. Nada de “novo evangelho social”.  Desafiamos o autor a nos mostrar a página da obra que contém essa suposta ideia de Marx.

Concordamos com Leandro Quadros quando afirma que a moral e a religião não são concebidos pela Bíblia e por Ellen White como instrumentos de dominação. É isso mesmo. Contudo, ao longo da história, em diferentes sociedades, a classe dominante instrumentalizou a religião a fim de manter a relação de dominação e exploração de um povo que nada tinha. Marx percebeu essa manipulação que a burguesia fazia da religião e, fez duras críticas. Na verdade, ele nunca falou contra a religião em si, como é possível ler nos seus textos, o que ele criticava era o uso da religião pela elite dominante para conformar as pessoas (os dominados) a diferentes formas de opressão política e/ou econômica. Como é óbvio, Ellen G. White afirma que “a Palavra de Deus não sanciona nenhum plano que enriqueça uma classe pela opressão e o sofrimento de outra”.6 Na época de Marx, os líderes religiosos ensinavam os fiéis a se conformarem com a pobreza, com aquela ordem vigente, marcada pela exploração capitalista, impedindo desse modo que o povo se organizasse para reivindicar melhores condições de vida, melhores salários. Não é sem razão que Marx, na sua Crítica a Filosofia de Hegel, tenha dito: “O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo”7. Por conta da sua condição de instrumento de conformação (e por consequência, de sujeição), a religião foi, então, metaforicamente caracterizada por Marx como um ópio, um mecanismo de alienação dos dominados, ou um amparo vital para os trabalhadores oprimidos, o único conforto deles numa vida na qual ele não estaria disposto a abandonar.

Seja dito de passagem, que ainda hoje a elite dominante utiliza a religião como instrumento político. Quando padres e pastores, em seus discursos demonizam a esquerda e os movimentos sociais estão fazendo o jogo da elite dominante que querem manter a ordem vigente excludente e exploradora. Essa postura dos líderes religiosos conservadores visam, entre outras coisas, justificar a inércia, omissão e alienação dos cristãos frente aos problemas sociais, bem como afastá-los da participação em movimentos que lutam por justiça social. Com esses discursos, eles vão introjetando nos cristãos a ideia de que, como cidadãos dos Céus não devem se envolver com questões sociais que afligem as pessoas do mundo, inclusive os cristãos; que eles têm que “olhar somente para o alto”, pensar no Paraíso que herdarão, esquecer as coisas do mundo, que isso e aquilo são contrários aos princípios ensinados por Jesus, que os problemas sociais sempre existiram e continuarão a existir, entre outras. Isso chama-se ideologia, e que favorece a elite dominante da sociedade. É uma forma de instrumentalizar a religião para domesticar os crentes e a conformá-los com as mazelas sociais, e não lutar para garantir o direito a saúde e educação gratuita e de qualidade social, o emprego, a moradia, entre outros.

Cremos ser verdade que a Bíblia promete aos fiéis filhos de Deus um Novo Céu e uma Nova Terra no porvir, quando da gloriosa vinda de Cristo, e que, quando aceitamos a Jesus como Senhor e Salvador de nossa vida tornamo-nos cidadãos do Reino Eterno de Deus (Dn 2:44; Jo 14:1-3; 2 Pd 3:13; Ap 231:1-5). Entretanto, negar que também somos cidadãos deste mundo - e como tal podemos contribuir para torná-lo melhor, com mais justiça social - é, de fato, fazer da religião o “ópio do povo”.

4) Fé.

Segundo o articulista, Marx e Engels teriam escrito nos estatutos da Liga dos Comunistas que para pertencer a essa organização teriam que fazer “profissão de fé comunista”, o que contraria com o que a Bíblia e Ellen White ensinam de “que existe só uma fé verdadeira, a de Cristo, a “fé do evangelho”. Aqui ele faz uma tremenda confusão entre a “fé comunista” e a “fé do evangelho”. Quando Friedrich Engels escreveu o "Esboço de uma Profissão de Fé Comunista", em junho de 1847, não estava criando um dogma, um catálogo de crenças ou uma religião. A “fé” na obra de Engels não tinha o sentido religioso, mas fé no sentido de acreditar nas ideias marxistas, numa sociedade sem propriedade privada, consequentemente sem classes, mais justa e igualitária. Ora, uma vez que o marxismo não é um dogma religioso não faz sentido o contraste entre “fé comunista” e “fé de Cristo”. Esse paralelo traçado por Leandro Quadros tem o propósito nítido de afirmar a equivocada máxima dos evangélicos conservadores, de que “abraçar o marxismo é abandonar a fé do evangelho, que não se pode ter fé em Cristo e adotar o marxismo”. Ledo engano! Eu sou cristão e marxista, e conheço inúmeros cristãos adventistas e de outras denominações cristãs que também são marxistas. E, entendemos desde sempre que não trocamos uma coisa pela outra. Não concebemos uma concorrência entre nossa fé e as ideias essenciais do marxismo.

Ademais, esse debate do articulista é inútil, pois a Liga dos Comunistas há muito deixou de existir. Desde 1852 que essa organização encerrou suas atividades, logo ninguém terá de fazer a tal suposta “profissão de fé comunista”. Que sentido faz trazer para o debate essa questão depois de 168 anos de extinção dessa organização? Como o jornalista não tinha mais argumentos começou a “desenterrar defuntos”.

5) Família.

O tópico 5 é a tecla surradíssima da suposta proposta de “supressão da família” por Marx e Engels insistentemente batida pelos líderes religiosos conservadores. A partir de uma interpretação distorcida de fragmentos das obras de Marx e Engels, “Manifesto do partido Comunista”, “A ideologia Alemã” e “A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”, eles criaram um discurso falacioso de que os dois filósofos alemães odiavam a família e pregavam a supressão dela. A verdade é que Karl Marx nunca pregou o ódio à família, tampouco o fim dela.

Em 2016, O Dr. José Luis Derisso escreveu um interessante artigo que responde com muita propriedade essa questão, nos seguintes termos:

“Na obra de Marx e Engels, propriedade, divisão do trabalho e família são pensados a partir da dinâmica histórica. Em A Ideologia Alemã prenuncia-se a tese posteriormente desenvolvida em A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, tese esta que sustenta que a família é um elemento dinâmico – notem que apesar do título, em nenhuma passagem destas duas obras fala-se em origem ou suposto fim da família, apenas que a mesma deriva das hordas animais; contrariamente sustenta-se que a mesma assume formas distintas de acordo com o nível de complexidade das relações sociais, atingindo a forma da família monogâmica/patriarcal com a instituição da propriedade privada. Engels demonstra que a evolução da família se relaciona e é determinada pelo desenvolvimento das formas de propriedade, sendo que o declínio do matriarcado se associa ao surgimento do rebanho como propriedade do chefe da família, fenômeno que se explica pelo fato deste ter sua origem na atividade da caça que de acordo com a divisão do trabalho nas sociedades primitivas competia ao macho. A utilização da expressão “origem da família” no título da obra de Engels associasse à ideia de que a família é um produto histórico-cultural e, portanto, dinâmica, diferente da horda animal que a antecede. Isto fica evidente no fato de que Engels apresenta uma sucessão de modelos de famílias historicamente constituídas, sem teorizar sobre um suposto desaparecimento da instituição familiar, e muito menos que tal desaparecimento seria um pressuposto para a destruição da propriedade privada e implantação do comunismo”8.

Como se vê, Karl Marx tinha o entendimento de que havia vários modelos históricos de instituições familiares em distintas sociedades. Entretanto, os inimigos do marxismo sustentam, de forma desonesta, que a teoria marxista está na base da conspiração contra a família, com o objetivo nítido de enganar os incautos, a fim de arregimentá-los no combate a esquerda. Sendo assim, passam a falsa ideia de que o marxismo quer destruir a família em si, e não o patriarcalismo - mesmo porque para estes religiosos a família patriarcal, a propriedade privada e a sociedade dividida em classes de indivíduos desiguais constituem obras do Criador.

Particularmente, não acredito na família patriarcal. Sinceramente, não acredito que tal modelo tenha sido uma criação de Deus, mas humana. Ao fazer tal afirmação não quero dizer que a “família” não tenha sido uma instituição divina. Longe disso! Diferentemente de Marx e Engels, acredito profundamente que a família monogâmica foi uma criação de Deus, porém, penso que o modelo de família patriarcal foi fruto de relação sociocultural.  Mas, o que é uma “família patriarcal”? De acordo com o Dicionário de Direito de Família e Sucessões, “é a família em que a autoridade e os direitos sobre os bens e as pessoas concentram-se nas mãos do pai. Seu sentido, além de uma patrilinearidade, é um sistema social político e jurídico que vigorou no mundo ocidental até o século XX. Embora ainda persistam sinais de patriarcalismo, ele perdeu sua força. [...] A partir da consideração do sujeito de direito como sujeito de desejos, passou a ser inadmissível que mulher e filhos fossem assujeitados ao poder e desejo de um patriarca. E, assim, a família perdeu sua rígida hierarquia, despatrimonializou-se, ou seja, ela deixou de ser essencialmente um núcleo econômico e de reprodução e passou a ser o espaço do amor, do afeto e o locus de formação e estruturação dos sujeitos”9.

Marx escreveu: “Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? Sobre o capital, sobre o lucro privado. A família plenamente desenvolvida existe apenas para a burguesia, mas encontra seu complemento na ausência forçada de família entre os proletários e na prostituição pública.” [...] A fraseologia burguesa sobre a família e a educação sobre os afetuosos vínculos sublimes entre criança e pais, torna-se tanto mais repugnante quanto mais a indústria moderna rompe todos os laços familiares dos proletários são destruídos e transforma suas crianças em simples artigos de comércio e em simples instrumentos de trabalho”.10

Nesse trecho do Manifesto Comunista, Marx está claramente denunciando a maneira pela qual a burguesia constrói todas as relações sociais (sobre o capital). A família burguesa no sistema capitalista que tem como fundamento o lucro individual, onde o casamento realiza-se baseado em interesses econômicos e dependência da mulher, e não em interesses mútuo e no amor. Nesse modelo de família a mulher burguesa é encarada como “simples meio de produção por seus maridos”,11 como “propriedade” dos homens. Entretanto, mesmo essa "família" não pode ser universalizada, porque, como a passagem acima citada demonstra, só os burgueses se dão o luxo de ter “famílias”, enquanto os proletários são extirpados do hipotético direito de as ter, pois, quer as mulheres, quer as crianças são vistas apenas como instrumentos de trabalho, instrumentos desiguais, quando comparados aos homens. Portanto, Marx e Engels não estão preconizando o fim da família, mas a supressão do modelo de família patriarcal, caracterizado pela desigualdade nas relações sociais, ou seja, a dominação do homem sobre a mulher. O patriarcado relegava a mulher o espaço privado da “casa”, onde “cabia à mulher não apenas ser uma dona-de-casa exemplar, mas também tornar agradável a vida do marido com sua assistência, seus cuidados e seu interesse”.12

De acordo com a Dra. Sheila de Castro Faria, no Brasil, no período colonial, esse modelo de família patriarcal, compreendia uma família numerosa, composta não só do núcleo conjugal e de seus filhos, mas incluindo um grande número de criados, parentes, aderentes, agregados e escravos, submetidos todos ao poder absoluto do chefe de clã, que era, ao mesmo tempo, marido, pai, patriarca.13 Nesse modelo o homem (o patriarca) era tudo e a mulher era nada - posto que não tinha vontade própria, nem tempo do qual dispor livremente, um exemplo poderoso do que o pecado causou à raça humana. Dessa forma, o patriarca constitui-se em um núcleo econômico e um núcleo de poder, cuja vontade era lei para todos os demais membros da família. Esse modelo de família foi sendo alterado ao longo dos anos, simplesmente deixou de existir na maior parte do mundo moderno.

Novas configurações familiares foram surgindo ao longo do tempo no Brasil, bem como em outras partes do mundo. E isso nada tem que ver com o Marxismo. Às vezes é simplesmente um movimento de direitos humanos ou um entendimento liberal de empoderamento, de dar voz às pessoas, que irritam os conservadores, que não são necessariamente do pensamento marxista. A maioria das famílias hoje não é mais numerosa, o pai não exerce mais o poder absoluto. Sua autoridade é compartilhada com a mulher; a mulher não é mais vista como propriedade do homem, nem inferiorizada, mas vista como um ser igual ao homem, e que se inseriu no mercado de trabalho, logo, o homem não é mais o único provedor. As famílias hoje mão possuem escravos. Não vejo que essas mudanças culturais sejam desvirtuamento do evangelho.

A escritora cristão Ellen G. White acreditava na igualdade entre o homem e a mulher. Enfatizou ela: “Quando os maridos exigem completa sujeição de suas esposas, declarando que a mulher não tem voz ativa ou vontade na família, mas deve mostrar inteira submissão, estão colocando suas esposas numa posição contrária à Escritura. Interpretando desta forma a Escritura, violam o desígnio do casamento. Esta interpretação é utilizada simplesmente para que possam exercer governo arbitrário, que não é sua prerrogativa. Mas lemos em continuação: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a Si mesmo se entregou por ela." Efés. 5:25. Por que devem os maridos se irritar contra suas esposas? Se o esposo lhe descobriu erros e abundância de faltas, irritação de espírito não remedia o mal”.14

Ademais, nos países que implementaram o socialismo inspirados nas ideias de Marx, nenhum deles destruíram a família. A centro-esquerda no Brasil assumiu o governo através do PT, entre os anos de 2002-20015. Nunca houve uma ação do governo no sentido de promover a desintegração da família. Portanto, não há razão nenhuma para se acreditar nessa ideia estapafúrdia.

6) Estado.

Leandro Quadro questiona a proposta dos pensadores alemães de tomada do poder pela classe trabalhadora através da revolução, estribando-se no texto bíblico de Romanos 13:1-5. E conclui: “Em contrapartida, a Bíblia e Ellen G. White dizem que devemos respeitar as autoridades constituídas por Deus. Afinal, se rebelar contra elas é se rebelar contra Deus e ficar sujeito à justa punição (ver tb Rm 13:1-5). Simultaneamente, ensina-se que o cristão deve ser obediente às autoridades como “um dever sagrado”. [...] Além disso, White escreveu que não devemos ‘desafiar as autoridades’”.

Particularmente, não defendo a luta armada, mas a luta pacifica como estratégia na construção da sociedade mais justa, igualitária, fraterna e socialista. A maioria das esquerdas no mundo aderem a essa estratégia. Agora, convenhamos, usar a Bíblia e Ellen White para defender que cristãos não devem participar da luta por justiça social ou mesmo contra um governo ou um regime opressor que retira direitos do povo, porque temos “que respeitar as autoridades constituídas por Deus”, é pura e simples ideologia da elite dominante que só a ela favorece.

Importante ressaltar que o texto de Romanos mencionado por ele tem sido interpretado de modos distintos. Pessoalmente, acredito que a expressão paulina “que as autoridades que existem foram por Ele constituídas”, significa que Deus PERMITE a ascensão dos governante, mas não que Ele atua diretamente para colocar determinados políticos no poder. Se acreditarmos que Deus é responsável por colocar diretamente todos os governantes no poder teremos que admitir a absurda ideia de que Deus foi responsável por todas as injustiças e atrocidades cometidas por inúmeros reis, imperadores e presidentes ao longo da história, vamos ter que admitir que Deus foi responsável, por exemplo, pela morte de mais de 6 milhões de judeus, e centenas de deficiente, comunistas, homossexuais, ciganos e religiosos por Adolfo Hiltler e os nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.

As perguntas que se impõem são: Até onde vai o limite do Governo, “da autoridade”? Paulo submeteu-se cegamente a esses poderes? O mesmo Paulo, quando foi julgado por crime que não cometeu, não se submeteu, antes, apelou a Cesar (Atos 25:11). Ele desrespeitou seu próprio mandamento? Claro que não. Houve grande mobilização em função de sua apelação; um destacamento militar foi colocado à disposição do apóstolo, uma longa viagem teve de ser feita, ele ficou dois anos sob custódia do Império, tudo isso porque não aceitou as disposições legais contrárias a verdade a seu respeito.

Ellen G. White era contra o regime de escravidão adotado pelo Estado americano. Em 1850, o governo norte-americano aprovou a Lei do Escravo que tornava obrigatório os cidadãos dos estados do Norte a apoiar a recuperação de escravos fugitivos e punia quem os ajudasse a fugir. Corajosamente a serva do Senhor se insurgiu contra essa lei injusta. “Defendendo a desobediência civil a essa lei, Ellen White apelou aos irmãos na fé para que ajudassem os escravos fugitivos. ‘A lei de nossa terra nos obriga a entregar um escravo ao seu senhor, mas não devemos obedecê-la; e temos de arcar com as consequências de violar essa lei’, escreveu ela. ‘O escravo não é propriedade de homem algum. Deus é seu legítimo senhor, e o homem não tem nenhum direito de tomar a obra de Deus em suas mãos, e pretender que é propriedade sua’ (T1, 202)”.15

“Está claro que Ellen White odiava a escravidão como um crime contra a humanidade. Ela denunciou essa prática persistentemente e apelou à igreja para se engajar em ações para melhoria da condição dos escravos”.16 Ellen White tinha completa consciência de que sua mensagem antiescravista entrava em confronto direto com a ordem vigente. Tanto é assim que declarou: “Eu sei que o que estou dizendo agora me colocará em conflito. Isso eu não desejo, pois o conflito tem sido constante nos últimos anos; mas não quero viver como covarde nem morrer como tal, deixando meu dever por cumprir. Devo seguir os passos do meu Mestre".17

Citamos esse exemplo de Ellen White para demonstrar que se insurgir contra um governo injusto que impõe e mantém um regime opressor ou estabelece leis injustas não representa transgressão das orientações de Paulo aos romanos. Hoje, não lutar contra as injustiças políticas, sociais e econômicas é ser “covarde”, como disse Ellen White.

7) Propriedade Privada.

Arenga ainda o articulista terem Marx e Engels afirmado que o objetivo do comunismo é suspender a propriedade privada e ‘destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada’”. A seguir conclui: “De acordo com a Bíblia, pegar o que é dos outros (seja à força ou não) é roubo, transgressão aberta ao 8º mandamento do Decálogo. Dessa forma, os ladrões inconversos “não herdarão o reinos dos céus” (1Co 6:10)”.

Uma pessoa que nunca leu o Manifesto Comunista e outras obras de Marx, ler essa “argumentação” distorcida do Leandro Quadros, a partir de frases fora do contexto, ficará apavorada e passará a odiar Marx, pois acreditarão que ele defende que o comunismo confisque os bens e pertences individuais, fruto do trabalho das pessoas, a exemplo de casa, carro ou sítio. Mas, essa narrativa construída pelos líderes religiosos conservadores tem sido sempre a “estratégia de persuasão” para arregimentar os cristãos no combate ao socialismo e a esquerda.

Mas aqui Leandro Quadros e todos os pastores antiesquerdistas também seguem trilha errada porque enganam as pessoas acerca do que realmente Marx preconizava a respeito da propriedade privada. De fato, socialismo marxista propõe a abolição da propriedade privada, mas não dos bens que as pessoas trabalharam para adquiri-los. No Manifesto, Marx critica os ideólogos e defensores da burguesia que acusam os comunistas de defender a coletivização geral dos pertences e dos frutos do trabalho, prática que teria como consequência a anulação da individualidade e privacidade dos homens. Marx e Engels rechaçam tal ideia, demonstrando que o comunismo defende, sim, o controle social dos meios de produção (o latifúndio, as fábricas, os bancos, entre outros); porém, os bens de consumo, isto é, os produtos do trabalho necessários à reprodução e manutenção da vida, continuariam como propriedade individual dos trabalhadores. Para Marx, “o comunismo não priva ninguém do poder de se apropriar dos produtos sociais; o que faz é eliminar o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação”.18

Finalmente, Marx e Engels refutam a alegação levantada também pelos ideólogos burgueses, segundo a qual a abolição da propriedade privada representaria a abolição da liberdade e da individualidade humanas. Os autores do Manifesto afirmam que se trata da abolição da liberdade e da individualidade apenas da burguesia; e que essa liberdade tão proferida consiste somente na liberdade de comércio, isto é, na liberdade de comprar e vender. Argumentam ainda que esse tipo de liberdade está muito distante de representar a liberdade de todos os homens, na medida em que, na sociedade capitalista, a riqueza concentra-se nas mãos de um pequeno grupo de burgueses, o que os leva a concluir que a propriedade privada já está claramente abolida para a grande maioria da sociedade.

Como se vê, nada no texto de Marx indica “roubo” dos pertences individuais, frutos do trabalho e mérito das pessoas, mas de coletivização da propriedade burguesa (fruto da exploração do trabalho dos trabalhadores) em prol de todos. Nesse sentido, não há violação do 8º mandamento da lei de Deus, como quer o jornalista. Ao contrário, está em consonância com as Sagradas Escrituras que condenam a acumulação de riqueza como fruto da exploração dos trabalhadores. Observe o que diz a Palavra de Deus: “Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência” (Tg 5:1-6, NVI).

O juízo anunciado sobre os ricos é causado pelas riquezas acumuladas às custas da exploração dos trabalhadores ceifeiros - camponeses. Essas palavras de Tiago são duríssimas. Ele constata que as riquezas não são duradouras e são fonte de desgraças. Ele muda a perspectiva, confrontando os detentores da riqueza - os ricos. Portanto, as desgraças se voltarão contra eles, e eles vivem numa situação pouco duradoura (1.10).

Em nossa análise dos sete pontos apontados pelo articulista, percebeu-se nitidamente que toda a dialética construída por ele tem a sua base em trechos do Manifesto do Partido Comunista tirados do contexto e mal interpretadas, para fazer parecer que as ideias do marxismo são totalmente contrárias a Palavra de Deus. E assim, induzindo seus “seguidores” nas redes sociais caírem no seu engodo. O leitor sincero que julgue.

A Intolerância de Leandro Quadros

Na parte final do seu artigo, Leandro Quadros transcreve a fala do editor do Manifesto Comunista, onde informa que, por conta do comunismo ter absorvido o ateísmo, por decreto de 1949, a Igreja Católica proibiu os fiéis de se filiarem ao comunismo sob pena de expulsão da Igreja. Em seguida, o Leandro faz a surpreendente declaração: “Definitivamente, neste ponto o catolicismo foi totalmente coerente. Na opinião pessoal do presente articulista, que não representa a voz oficial da igreja na qual é membro, o exemplo da Igreja Católica (neste aspecto) deveria ser seguido de forma semelhante também pelas religiões protestantes, incluindo a Igreja Adventista do 7º Dia”.

Pasme o leitor em face de tão grosseira assertiva! Com esse comentário obtuso, o Pastor Leandro Quadros revela claramente seu incrível desamor e preconceito com seus coirmãos progressistas, que fizeram opções políticas distintas daquelas que interessam aos detentores do poder político e dele. Fica claro que se tivesse o “poder” promoveria um “caça aos comunistas” dentro da Igreja Adventista, excluindo dela todos os adventistas progressistas. Tal atitude beira a intolerância disfarçada de cristianismo.

Como ele mesmo disse, esse não é o pensamento oficial da igreja. Não adotar nenhuma ideia marxista nunca foi prova ou, um requisito prévio para o discipulado cristão da Igreja Adventista. Graças a Deus! O Manual da Igreja, que é a única “constituição” da IASD, jamais apoiou a posição de que para pertencer a ela não pode ser marxista.

A edição do Manual da Igreja de 2015 declara claramente à página 66:

“Nenhuma Prova Adicional de Discipulado. – Nenhum ministro, congregação ou Associação possui autoridade para estabelecer provas de discipulado. Essa autoridade pertence à Assembleia da Associação Geral. Portanto, qualquer pessoa que busca aplicar provas além das que são estabelecidas aqui, não representa apropriadamente a igreja”.

A prova de discipulado é a aceitação das 28 Crenças Fundamentais da IASD, e os adventistas progressistas aceitam totalmente essas crenças, amam a Igreja e acreditam ser ela a Igreja Remanescente da profecia bíblica (Ap 12:17), mantém relacionamento contínuo com Jesus, inclusive, muitos deles participam da missão de levar outras pessoas a Jesus.

Portanto, por decorrência lógica da civilidade, dignidade da pessoa humana e, até mesmo, da boa educação, o Pastor Leandro Quadros precisa aprender a respeitar, não as ideias políticas dos adventistas progressistas, mas o direito constitucional que eles têm de possui-las.

E, ainda, à guisa de conclusão, que ele e os outros pastores sinceros ponderem honestamente sobre tudo isso, e revisem seu julgamento sobre aqueles crentes que como eles,  aguardam o segundo advento de Cristo e, consequentemente, o fim da era do pecado e o início de um mundo melhor, conforme prometido por Deus em sua Palavra, mas que acreditam que, como luz e sal da Terra (Mt 5:13-16), podem e devem dá sua contribuição na construção de um mundo com mais justiça social e mais fraterno, através das várias expressões do agir político – seja no sentido amplo, seja na militância partidária ou num movimento social. Isso não compete com a autoridade da Palavra de Deus, como querem alguns. Ao contrário, está em harmonia com a Bíblia. No passado, movido pelo chamado de Deus e pela compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas ousaram ser a voz dos oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus ainda hoje pede que busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e pelos direitos dos pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus volte em glória e majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem os valores e ensinamentos de Jesus.

 

Referências:

1. MARX, Karl. “Manifesto do Partido Comunista”. São Paulo, Editora Martin Claret, 2010, (Col. A Obra Prima de Cada Autor), p. 45.

2. WHITE, Ellen G. Profetas e Reis. Tatuí, SP: CPB, 2007.  p. 282.

3. Idem, p. 306, 307.

4. Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: CPB, 2016. p. 432.

5. Lição da Escola Sabatina, 4º Trimestre de 2019, ed. Professor, p. 59.

6. WHITE, Ellen G. A Ciência do Bom Viver, SP: CPB, 2004, p. 187.

7. MARX, Karl. Crítica à Filosofia do direito de Hegel. São Paulo, Editora Bomtempo, 2005. A Obra pode ser adquirida em PDF pelo link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2420

8. DERISSO, José Luis. Marxismo e história da família: resposta aos opositores da chamada “ideologia de gênero” na educação. Disponível em: <https://www.fe.unicamp.br/eventos/histedbr2016/anais/pdf/1029-2729-1-pb.pdf>. Acesso em: 05 de ago. 2020.

9. Família Patriarcal – Dicionário de Direito de Família e Sucessões. Disponível em: <https://www.rodrigodacunha.adv.br/familia-patriarcal-dicionario-de-direito-de-familia-e-sucessoes/>. Acesso em: 04 de ago. 2020.

10. MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Editora Martin Claret, 2010 (Col. A Obra Prima de Cada Autor), p. 63.

11. Idem, 63, 64.

12. SCHOLZ, R. O valor é o homem. Tradução de José Marcos Macedo. Novos Estudos - CEBRAP, n. 45, p. 15-36, jul. 1996.

13. FARIA, Sheila de Castro. “Família”. In: VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 216-362.

14. WHITE, Ellen G. O Lar Adventista, Tatuí, SP: CPB, 2005, p.116.

15. Enciclopédia Ellen G. White. Tatuí, SP: CPB, 2018, p. 872.

16. Idem, p. 874.

17. Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre, Edição de Professor, p. 67.

18. MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Editora Martin Claret, 2010 (Col. A Obra Prima de Cada Autor), p. 62.