Teologia

domingo, 29 de janeiro de 2023

UM FANTASMA RONDA O MUNDO CRISTÃO


 Ricardo André

“Um fantasma ronda a Europa — o fantasma do comunismo”. É assim que Karl Marx e Friedrich Engels iniciam o Manifesto Comunista, uma das obras mais importantes da História, publicado em 1848. Nesse panfleto político se consolidou a maioria das ideias que rondava os socialistas da época, agrupando os ideais revolucionários em uma obra só. A luta de classes entre a burguesia e o proletariado assim como a abolição da propriedade privada eram aspectos intrínsecos a análise materialista da sociedade desenvolvida pelos dois pensadores alemães.

Eles sugeriram a participação dos trabalhadores no processo político em uma época em que muitos eram contra até mesmo o voto universal, fazendo parte de um movimento radical nas teorias da Europa. Mais que isso: eles defendiam a ideia de que os próprios proletários deveriam conduzir a transformação na sociedade, em um movimento até o comunismo.

Eles acreditavam ainda que isso seria inevitável. A vitória dos trabalhadores colocaria um fim ao capitalismo que estava sendo moldado e continua sobrevivendo até os dias de hoje. Se autodestruindo, o sistema seria substituído pelo socialismo, e, depois, finalmente, pelo comunismo.

Essa obra impactou profundamente o mundo no século passado. Inspirou revoluções socialistas, a exemplo da Revolução Russa em 1917, a criação de partidos comunistas e o surgimento de movimentos sociais de caráter marxista em várias partes do mundo.

Após 175 anos da publicação do Manifesto Comunista, um novo fantasma ronda o mundo cristão e não é o comunismo, mas o neofascismo. O Brasil vive uma crise social e política que deixa em evidência o quanto os cristãos brasileiros são ideológicos e rasos. É assustador ver professos cristãos, tanto católicos como evangélicos, aderindo o neofascismo ou a extrema direita. O fato mais evidente da união do mundo gospel com o pensamento fascista foi o apoio irrestrito da maioria dos evangélicos e católicos carismáticos a candidatura de Jair Bolsonaro nas duas últimas eleições presidenciais no Brasil. Centenas de pastores de forma esdrúxula orientaram seus fiéis a votarem na candidatura de extrema-direita e que apresentava-se bastante distante dos valores pregados por Cristo. Muitas igrejas tornaram-se verdadeiros palanques eleitorais. Durante as campanhas eleitorais de 2018 e 2022 viu-se imagens deprimentes de alguns pastores considerados ícones de igrejas evangélicas e fiéis fazerem ‘arminhas’ com as mãos para demonstrar apoio ao candidato Bolsonaro, bem como transformando os cultos em comícios pró-Bolsonaro. Grande parte dos evangélicos o vê como um “predestinado”, que veio para “libertar” e o segue fielmente.

Se quisermos entender nosso preocupante presente, precisamos prestar atenção à história. Ela nos lembra as brutalidades, injustiças e violências perpetradas pelos nazifascistas na Itália, na Espanha e, de forma extremada, na Alemanha sob o nazismo de Hitler, no século passado. Foram cerca de seis milhões de judeus assassinados, e outros milhares de socialistas, ciganos, camponeses, homossexuais - em nome de “raça pura”, pensamento único, uniformização da sociedade a partir dos que estão no poder tiranizando a maioria do povo e tecendo relações sociais escravocratas.

A pergunta que surge de pronto é: Por que apesar do nazifascismo ter sido uma experiência tão nefasta e devastadora para a humanidade no passado atrai hoje milhões de cristãos no Brasil e no mundo? Antes de buscarmos uma resposta para essa questão, é preciso sabermos o que é o fascismo. Estudiosos do assunto têm definido o fascismo como uma ideologia, de caráter extremamente nacionalista, que identifica no estrangeiro ou no diferente uma real ameaça contra a ordem da nação. Os fascistas não têm nenhum apreço pela democracia, defendem a formação de um regime autoritário capaz de destruir o regime democrático; são altamente preconceituosos e conservadores; não suportam a igualdade social; defendem a submissão das mulheres (o patriarcado) e, por meio de fake news promovem a guerra cultural contra aqueles que pensam ideologicamente deles, a exemplo dos “esquerdistas” ou “socialistas”.

Recentemente, o filósofo e professor da Universidade de Yale nos EUA, Jason Stanley, em seu livro “Como Funciona o Fascismo”, publicado em 2018, instigado, como tantos, pela eleição de Donald Trump e outros episódios contemporâneos de retrações democráticas, propôs uma série de princípios fundamentais para o fascismo. A partir de um resgate de uma série de experiências históricas, o autor enumera dez elementos constitutivos de uma política de tipo fascista, quais sejam: 1) defesa de reviver um passado mítico e glorioso; 2) uso intenso de propaganda para distorcer e minar conceitos e instituições democráticas (tendo como pretexto o combate à corrupção); 3) anti-intelectualismo, atacando permanentemente universidades e intelectuais; 4) irrealidade; 5) uma forte noção de hierarquia; 6) vitimização; 7) valorização da lei e da ordem baseada na ideia de grupos minoritários criminosos; (8) ansiedade sexual e defesa do patriarcado; 9) denúncia às grandes cidades cosmopolitas como centros de corrupção política e moral; 10) valorização do “trabalho árduo” em prejuízo de sistemas de bem-estar social.

Segundo os ideólogos da extrema direita, os “esquerdistas” ou “comunistas” possuem um suposto “plano” para destruir a cultura ocidental, essencialmente marcada pelos valores judaico-cristãos. E, essa destruição ocorreria por meio de ataques culturais que desprezariam os valores do cristianismo, da família cristã e da nação, abrindo espaço para uma nova visão de mundo e um sistema de controle, envolvendo liberação sexual e um declínio moral e estético, bem como a aprovação de leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, que gradualmente implantaria o socialismo no Brasil e no mundo.

Ora, se os intelectuais religiosos neofascistas dizem que o diferente e os esquerdistas vão destruir os valores e tradições do cristianismo, pregam então que apenas uma “guerra cultural” imediata contra tais demônios trará a verdadeira paz no Brasil e no mundo. É a partir dessas ideias enganosas potencializadas pelas redes sociais  que a extrema-direita mobiliza os cristãos de todos os matizes em torno dos seus objetivos e os atrai para seu campo político. De modo que nesses últimos quinze anos um movimento fundamentalista religioso tomou força e adotou o neofascismo, defendendo a proteção e a restauração de valores cristãos, já que esses estariam supostamente “sob ataque”.

Contaminados por essa teoria conspiracionista, denominada de “Marxismo Cultural”, os cristãos nos EUA, Brasil e em outras partes do mundo acreditam estar participando de uma guerra entre o bem e o mal, uma guerra espiritual. Portanto para eles, eleger políticos fascistas como Donald Trump e Jair Bolsonaro é batalhar por Deus, pois estão salvando a família e a pátria do comunismo. Na eleição passada, os evangélicos acreditavam piamente que estavam lutando (física e espiritualmente) contra o mal encarnado em Lula, um “político das trevas”, “diabólico”, corrupto, que usurpou o sistema político a fim de reintroduzir no Estado Brasileiro o projeto satânico da esquerda de destruição da família, da Igreja e, por fim, de toda a civilização judaico-cristã.

A direita cristã e a “estratégia” de ascensão ao poder

Hoje temos em nosso país uma extrema direita perigosa aliançada com as igrejas cristãs, cujos líderes para defender os chamados valores cristãos e da família pregam o ódio, a intolerância, o desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo diferente daquele que julgam ser o correto. Mais não somente isso, possuem um plano político para tomada de poder no Brasil. A estratégia política evangélica, especialmente de algumas igrejas neopentocostais para dominar o país é denominado de “Teologia do Domínio” ou “dominionismo”, desenvolvida primeiro nos Estados Unidos, e depois importada para o Brasil. E é essa estratégia de “guerra santa” que explica a entrada em campo de centenas de pastores e milhares de evangélicos na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Para além da campanha presidencial, alguns líderes das igrejas evangélicas fundam e filiam-se a partidos políticos de direita para elegerem vereadores, prefeitos, governadores e deputados estaduais, deputados federais e senadores, vistos pelos evangélicos como “servos de Deus” ou “ungidos do Senhor” para dominar a política. Tomando o poder, a nação será uma nação consagrada ao Senhor Jesus, pensam eles. Essa é a lógica da “Teologia do Domínio”.

Há anos que os evangélicos de extrema-direita formaram uma “bancada evangélica” no Congresso Nacional, apelidada de “Bancada da Bíblia”, que não para de crescer, no embalo dos templos neopentecostais dos bispos eletrônicos espalhados por todo o país. Ocorre que ela vem votando sistematicamente contra a democracia, o Brasil e o povo brasileiro sem que uma parcela considerável dos evangélicos percebam. Ela é campeã no apoio maciço a projetos que penalizam e sacrificam ainda mais os que já não têm nada. E todos sabem que a maioria esmagadora dos evangélicos pertence à parcela mais pobre da população.

A bancada evangélica, com raras e honrosas exceções, nos últimos tempos apoiou: A farsa do golpe parlamentar, sem crime de responsabilidade, que tirou do governo uma presidenta honesta, para pôr no seu lugar um bando de criminosos; A emenda que congelou gastos com saúde e educação públicas por 20 anos; A mudança na lei do petróleo, que entregou as riquezas abundantes de óleo da camada do pré-sal aos estrangeiros, verdadeira traição à pátria; A reforma trabalhista, que liquidou com a CLT (o que nem a ditadura militar ousou), roubando direitos históricos da classe trabalhadora e abrindo caminho para a hiperexploração dos que vivem de seu trabalho; Apoiou o projeto de terceirização irrestrita, inclusive da atividade fim, que destruirá categorias profissionais e provocará a precarização generalizada do mundo do trabalho. Exemplo: em vez de contratar um bancário ou um metalúrgico, respeitando os direitos conquistados por seus sindicatos, o empregador optará por um terceirizado, com salário menor e sem direitos; Vários projetos de lei e de emendas constitucionais que representam retrocessos em direitos e garantias sociais alcançados ou em processo de conquista são articulados por estes grupos. Entre eles estão a liberação do porte de armas, a redução da maioridade penal, a privação dos povos indígenas ao direito aos seus territórios, a obstrução ao direito ao aborto legal em caso de estupro, o desprezo ao Estado Laico com a imposição de princípios religiosos específicos sobre todos os cidadãos e cidadãs, entre outros.

A extrema direita cristã e os ataques golpistas do dia 08 de janeiro

Inconformados com os resultados das eleições do ano passado, que sagraram a vitória do candidato de centro-esquerda Luiz Inácio da Silva, milhares de cristãos tanto católicos como evangélicos bolsonalistas armaram acampamentos em frente a vários quartéis generais no Brasil. E permaneceram ali durante dois meses, preparando-se para um ataque golpista que pretendia demover do poder o Presidente Lula, eleito democraticamente pela maioria dos eleitores brasileiro. Esses acampamentos receberam apoio do alto comando do Exército e foram financiados por empresários bolsonaristas, principalmente ligados ao agronegócio. A tentativa de golpe aconteceu no dia 08 de janeiro de 2022, quando milhares de bolsonaristas fascistas invadem os palácios dos Três Poderes da República – o Planalto, o STF e o Congresso Nacional - e promovem um quebra-quebra, destruindo as mobílias e muitos objetos de arte que fazem parte do patrimônio cultural do Brasil, que chocaram o país e o mundo. Toda imprensa internacional comentava, na TV e nos onlines, no domingo, a tentativa de golpe de bolsonaristas.

O ataque a essas instituições da República representou um ataque a democracia. O objetivo claro dos extremistas era produzir o caos a fim de que as Forças Armadas entrassem com um golpe sob o pretexto de garantir a lei e a ordem. Sem o apoio da comunidade internacional, da mídia local e de grande parcela da população, a tentativa de golpe fracassou. O novo governo tomou medidas rápidas e acertadas, a exemplo do decreto de Intervenção Federal na segurança pública do Distrito Federal, que garantiu a ordem e a segurança.

Importa ressaltar que esse triste episódio de vandalismo visto em Brasília teve a participação efetiva dos cristãos neofascistas, movidos por discursos religiosos ideológicos de diversos pastores nas redes sociais. Tais discursos estavam eivados de pautas morais, o conservadorismo da sociedade brasileira. Exatamente pautas que mobilizam esse seguimento da sociedade. Nos vídeos divulgados nas redes sociais viu-se, de forma deprimente, alguns “crentes” de joelhos orando, cantando hinos e erguendo a Bíblia Sagrada. Os pastores não estavam presente nos acampamentos tampouco no dia do ataque fascista, mas pavimentaram o caminho, legitimando os acampamentos bolsonaristas há meses e atos dos extremistas. Alguns deles organizaram caravanas para levarem fieis a Brasília. É um vitupério para o cristianismo! Pastores que deveriam ser exemplos de pacificadores, de respeito às leis do país e a democracia, fizeram exatamente o contrário, instigaram os fiéis a desobedecerem as leis e a praticarem a violência.

Não podemos esquecer o efeito das pregações e os gritos golpistas de Silas Malafaia nas redes, os apelos golpistas de Cláudio Duarte e de outros pastores usando sem nenhum pudor a Bíblia Sagrada para justificar suas falas antidemocráticas em favor de uma ditadura teocrática bolsonarista. Certamente, em Brasília, no dia 08, havia, seguidores de Malafaia e Duarte. Eles têm propagado um discurso de legitimação da morte e da destruição, que é antibíblico e anticristão. Esse fato deplorável escancarou o neofascismo das igrejas cristãs do Brasil.

As pautas dos cristãos neofascistas e as Sagradas Escrituras

As pautas e atitudes defendidas pelos cristãos de extrema-direita não se coadunam com os valores expressos na Palavra de Deus. Eles, lamentavelmente, preconizam o ódio, a intolerância, o desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo diferente daquele que julga ser o correto, contrariando o que Cristo sempre pregou, que foi o amor ao próximo, amar o outro como a si mesmo. Ele disse: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus 22:39, NVI).

Muitos evangélicos chegam ao absurdo de defenderem a famigerada ideologia do “bandido bom é bandido morto”. Como subscrever tal ideia, quando Jesus não hesitou em impedir o apedrejamento da mulher adúltera (Jo 8:7) e ainda salvou o malfeitor pregado na cruz ao lado da sua (Lc 23:39)? Bandido bom é aquele que é ressocializado e transformado. Com que cara visitaremos os presídios para pregar o evangelho eterno depois de apoiar que tem como slogan “bandido bom é bandido morto”? Cristãos que apoiam essa ideia deveriam ler o texto em que Jesus censura Pedro que, mesmo agindo em legítima defesa, lançaria mão de uma arma, o que apenas reproduz a violência (Mt 26:52). Lembremo-nos de que “bem aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9).

A escritora cristã norte-americana Ellen G. White afirmou que, quando uma pessoa desenvolve “o espírito de ódio e vingança” por outra, viola o sexto mandamento da santa Lei de Deus, que proíbe não matar (Êx 20:13). Ela escreveu: “Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhes mal (pois "todo aquele que odeia a seu irmão é assassino" I João 3:15) ... são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento” (Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 527). E, ainda diz que “aquele que dá ao ódio um lugar no coração, está pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são aborrecíveis a Deus” (Ibdem). Portanto, os discursos de ódio e de violência de muitos cristãos bolsonaristas contra os mais vulneráveis é profundamente anticristão, porque nega os princípios bíblicos.

Defendem o armamento da população civil como solução para a violência. Tal postura não se coaduna com o princípio cristão, uma vez que incita o ódio. Ademais, Cristo Jesus veio para estabelecer a paz (Lc 2:14, 29; 19:42), Ele ensinou a necessidade de paz (Mt 5.9). “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou” (Jo 14:27). Pensando nessa carência de harmonia e união entre os cristãos, Paulo escreveu aos colossenses: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos” (Cl 3:15).

A bancada evangélica no Congresso Nacional sempre vota em projetos conservadores e reacionários, que retiram direitos dos trabalhadores, que privam os indígenas de usufruírem do direito aos seus territórios, que reduz a maior idade penal para punir os menores em conflito com a lei. As Sagradas Escrituras revelam um Deus amoroso, que ama cada pessoa com cada fibra do Seu Ser, cuja maior revelação foi a encarnação de Jesus. Elas dizem: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, NVI). A pauta do amor de Deus é justiça, despojamento e misericórdia. É a preferência pelos mais fracos, chamados de “pequeninos”: os pobres, as crianças, os negros, as mulheres, os desprezados, os presos, os estrangeiros. Ele assegurou: “Sempre que o fizeram a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25:40) e “Sempre que o deixaram de fazer a um destes mais pequeninos, foi a mim que o deixaram de fazer” (Mt 25:45).

A Bíblia ainda diz: "Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um mandado do Senhor.

No passado, movido pelo chamado de Deus e pela compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas ousaram ser a voz dos oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus ainda hoje pede que busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e pelos direitos dos pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus volte em glória e majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem os valores e ensinamentos de Jesus.

Erguer a voz para afirmar de forma abstrata que defende a família e na prática defende amputar direitos trabalhistas, previdenciários, dos indígenas e dos quilombolas, retirar dinheiro do SUS e da farmácia popular é na prática pôr no corredor da morte milhões de famílias empurrando-as para a fome, a doença e a morte lenta, como a tragédia que está acontecendo com o povo Yanomami. Estes estão morrendo de fome e de doenças por terem sido desprezados pelo governo Bolsonaro, e que negou ajuda a eles durante seus quatro anos de governo, bem como, de forma criminosa, favoreceu a invasão dos mineradores e madeireiros nas terras dos indígenas yanomais.

Conclusão:

O fantasma do fascismo ronda o mundo cristão da atualidade. Todavia, definitivamente, o fascismo não combina conosco. O discurso de vários líderes religiosos dá voz aos ódios internalizados: ódio de classe, de gênero, de gays, das minorias. Ele congrega vários ódios. Já passou, portanto, da hora de os evangélicos abrirem os olhos, abandonarem o ideal fascista e voltarem-se para o verdadeiro cristianismo, que possui o Deus encarnado e amoroso como referência.

Se a comunidade evangélica decidir continuar ficar do lado dos opressores dos fracos e daqueles que desejam fazer da violência o centro de gravidade de um país, ela estará dando uma clara demonstração de que o cristianismo não tem valor. Para isso, não existe perdão.

No cristianismo, a neutralidade quando a vida e os direitos das pessoas estão em jogo é um pecado. O Deus cristão exige a coragem de saber se posicionar contra os violentos, no pelotão dos indefesos condenados ao esquecimento e principal alvo da violência.

 

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA LANÇA “NOTA PÚBLICA” REPUDIANDO ATOS DE VANDALISMO EM BRASÍLIA


 Ricardo André

A IASD lançou ontem (09) “Nota Pública” repudiando o lamentável episódio de “vandalismo e depredação contra as sedes de poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”, praticado por extremistas pró-Bolsonaro ainda insatisfeito com o resultado das eleições, na Capital Federal, no domingo passado (08), num ataque à democracia sem precedentes na história do Brasil.

A Nota frisa que a igreja “na América do Sul repudia ações coletivas ou individuais que promovam a destruição de patrimônio público e privado, e que coloquem em risco a vida das pessoas. Ao mesmo tempo, respeita o direito constitucional da livre manifestação de forma pacífica e, também, da liberdade de expressão”.

Importante dizer que “o direito constitucional da livre manifestação” e de “liberdade de expressão”, a que se refere a Nota da igreja, não é uma chancela para as manifestações criminosas pedindo uma intervenção militar em nosso país, o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional, como medida de ruptura institucional, pauta dos atos públicos dos terroristas que praticaram o vandalismo no dia 08 de janeiro. A Nota da igreja bem que poderia enfatizar que o discurso de ódio, mas também o discurso de apologia a ditadura civil-militar e os ataques aos resultados legítimos das eleições passada praticados pelos bolsonaristas extremistas, atentando, desse modo, contra a democracia ou o Estado Democrático de Direito, são formas claras de uso abusivo da liberdade de expressão, os quais violam não somente a Constituição Federal mais o Código Penal brasileiro.

Abaixo a Nota completa da IASD:

NOTA PÚBLICA

Igreja Adventista repudia ações coletivas ou individuais que promovam a destruição de patrimônio público e privado, e que coloquem em risco a vida das pessoas.

Os episódios de vandalismo e depredação praticados contra as sedes de poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no Brasil, em 8 de janeiro de 2023, têm ganhado repercussão mundial. A responsabilização por tais atos é apurada pelos órgãos competentes. 

A Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul repudia ações coletivas ou individuais que promovam a destruição de patrimônio público e privado, e que coloquem em risco a vida das pessoas. Ao mesmo tempo, respeita o direito constitucional da livre manifestação de forma pacífica e, também, da liberdade de expressão.

A denominação convida a todos a se unirem em oração pela paz e pelas decisões das autoridades públicas. O momento direciona a uma reflexão com base no texto bíblico de Filipenses 4:7: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o nosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” 

 

 

 

Igreja Adventista do Sétimo Dia

Brasília, 9 de janeiro de 2023

 

FONTE: https://noticias.adventistas.org/pt/imprensa/notas-oficiais/nota-publica/