Teologia

sexta-feira, 31 de março de 2017

PODE-SE CONFIAR NOS MILAGRES E MILAGREIROS DO NEOPENTECOSTALISMO?





Ricardo André

A Missão Cristã de Evangelismo Mundial (MCEM), uma associação interdenominacional, do missionário evangelista Rubens Cunha estará promovendo, com o apoio de diversas igrejas evangélicas, uma “Cruzada de Fé e Milagres” em Lagarto/SE, nos dias 7 e 8 de abril. O evento contará também com um outro evangelista norte-americano Dave Hauer. Os crentes da cidade estão convidando as pessoas para participarem desse evento e receber os milagres que tanto almejam.  Percebemos que a cada dia prolifera-se o número daqueles que dizem possuir o dom do Espírito Santo para realizar sinais e prodígios. A qualquer hora do dia ou da noite que você ligar sua TV lá estão eles, sempre assistidos por uma multidão em sua igreja-sede, ou às vezes ao ar livre, prometendo curar tudo, a exemplo de Valdemiro Santiago, que há alguns anos é o maior fenômeno midiático do neopentecostalismo brasileiro. Suas pregações são esvaziados de conteúdo teológico, nenhum tipo de rebuscamento; seu estilo de falar é leve, interage com o público, demonstra uma simplicidade que beira à paspalhice, mas é dono um império religioso de milhares de igrejas espalhadas pelo Brasil e o mundo e possui vários programas na TV aberta e 24 horas no canal arrendado por sua igreja.

A cura é o carro-chefe da sua igreja - Igreja Mundial do Poder de Deus. No programa “O Poder Sobrenatural da Fé”, é frequente as transmissões dos cultos realizados em locais públicos, que reúnem centenas de milhares de pessoas. Ele faz então a oração e depois pede que se manifestem aqueles que teriam sido curados. Auxiliares posicionados em lugares estratégicos indicam imediatamente alguém ao seu lado, dizendo do que aquela pessoa foi curada. Cadeiras de rodas e muletas são erguidas do meio da multidão para indicar os curados de paraplegia. Algumas dessas pessoas são previamente escolhidas pelos auxiliares e conduzidas à plataforma, onde são entrevistadas pelo apóstolo, que lhes pergunta há quanto tempo estavam paralíticas e como conheceram o ministério (a igreja). Em geral, os “milagres” são usados para reforçar o marketing da igreja, o seu diferencial e, naturalmente, a autoridade do apóstolo como “ungido de Deus”, um escolhido.

Nas filiais da Igreja Mundial em todo o país há um forte culto à pessoa de Valdemiro. Nos cultos, fiéis disputam espaço para tocar no apóstolo para serem curadas. Às vezes, levam fotos de parentes doentes para que sua oração ou seu simples toque possa curá-los. De onde vem tanta confiança em um homem que, apesar de alegar curar qualquer coisa, fez um tratamento do joelho no hospital Albert Einstein em 2011?

R. R Soares foi um dos pioneiros na divulgação dessa prática no Brasil, no que foi seguido por inúmeros outros líderes por todo o país. Hoje, a maior parte das igrejas pentecostais e neopentecostais alegam praticar a cura. Além de R. R. Soares, Edir Macedo também já praticou curandeirismo.

Mas, são as curas realizadas por tais pregadores oriundas de Deus? Um dos argumentos mais utilizados pelos crentes na defesa destes milagreiros modernos, é o testemunho que muitos dão afirmando terem recebido milagres diretamente deles ou através de suas supostas “intercessões”. Muitos dizem: “Se Valdemiro ou Edir Macedo não estivesse com Deus, não poderia operar milagres”. É um argumento forte, mas será que as coisas são realmente assim? Não querendo desrespeitar a crença religiosa das pessoas, convido a você, caro leitor a acompanhar um extraordinário esclarecimento bíblico da verdade sobre essa temática. Antes, porém, gostaria de deixar claro que acredito plenamente no Poder de DEUS, na misericórdia do Senhor em curar uma pessoa que está com vários problemas de saúde. E quando Ele quiser, o Senhor Deus manifesta o Seu poder em curar as pessoas de quaisquer males que assola o doente.

A Bíblia revela que, nos primórdios da era cristã, Deus deu vários dons a Sua igreja pelo Espírito Santo, para dar crédito à pregação das boas-novas da salvação. Na lista desses dons estão os de curas e milagres (I Co 12:8-10). Esses são dois dons dos mais espetaculares dons do Espírito. Há pessoas com esse dom que oram pelos doentes, de acordo com as instruções de Tiago 5:13-20, e as pessoas ficam curadas. Alguns oram por milagres, com Elias, e os milagres acontecem. E a Bíblia diz que “Elias era um homem semelhante a nós” (Tg 5:17). É possível que, pela oração sincera, Deus transponha os limites das leis naturais para realizar seus milagres. Porém, “o maior milagre de todos os tempos e da eternidade é uma vida transformada à semelhança divina” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 373).

A escritora cristã Ellen G. White escreveu: “A mudança do coração humano, a transformação do caráter, é um milagre que revela um Salvador sempre vivo, operando para salvar almas. Uma vida coerente em Cristo, é grande milagre” (O Desejado de Todas as Nações, p. 407).

A Palavra de Deus apresenta o dom da cura como sendo uma possibilidade de Deus e de Satanás. É por isso que temos que analisar cuidadosamente, e buscar entendimento para observarmos se os locais aonde operam milagres e curas, na qual os milagreiros ficam expondo seus "megas eventos" nas mídias, estão realmente fazendo a vontade de Deus para nossa época. Vamos descobrir na Bíblia.

Satanás tem poder para curar

A Bíblia revela que nem toda cura se origina de Deus, e que Satanás tem poder de realizar cura, e esse fato está documentados nos textos abaixo:

Êxodo 7:11: "E Faraó também chamou os sábios e encantadores; e os magos do Egito fizeram também o mesmo com os seus encantamentos".

Êxodo 7:22: "Porém os magos do Egito também fizeram o mesmo com os seus encantamentos; de modo que o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o SENHOR tinha dito".

Êxodo 8:7: "Então os magos fizeram o mesmo com os seus encantamentos, e fizeram subir rãs sobre a terra do Egito".
Note que lá no antigo Egito, os mágicos de faraó realizam milagres através  dos poderes satânicos, imitando o poder de Deus, que transformou a vara de Moisés em cobra, a fim de endurecer o coração de faraó. Hoje  a sua estratégia é a mesma para endurecer o coração do pecador, conservando-o na escravidão do pecado. Este sempre foi o estratagema de Satanás lá no Egito no passado e continuará usando-a nestes últimos dias. Sempre, em todos os tempos, ele tem contrafeito a verdade. Sua força de contrafação, embora limitada, é grande.

O apóstolo Paulo descreve de forma nítida a ação fraudulenta de Satanás da seguinte forma: "Pois tais homens são falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça. O fim deles será o que as suas ações merecem” (2 Coríntios 11:13-15, NVI). Satanás se disfarça em anjo de luz, bem como os seus apóstolos.

O livro de Apocalipse apresenta os sinais e as maravilhas da besta que representam Satanás e o Anticristo: "Porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso" (Ap 16:14).

"Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira" (2Ts 2:9).

Só o fato de certos indivíduos supostamente possuírem o poder de realizar curas e milagres não significa por isso, que é o poder de Deus que os acompanha. “As Escrituras deixam claro que a realização de milagres não é em si evidência conclusiva de que o poder divino está em operação” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 373). Os supostos milagres só revelam que há um poder sobrenatural por trás dele, que não é necessariamente o poder de Deus. A Volta de Cristo revelará grandes surpresas: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor, porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade" (Mt 7:21-23).

Jesus foi muito enfático em quando nos alertou sobre o surgimento de falsos profetas operando sinais e maravilhas com o fim de enganar os fiéis: "Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mt 24:24). Ninguém deve acreditar num pregador ou apóstolo só porque realiza milagres. O cristão deve estar atento, ainda mais porque, embora Deus seja poderoso para efetuar todo e qualquer milagre que desejar, para a Providência divina, a cura nem sempre é o melhor caminho (Veja o caso de Paulo em 2Co 12:7-9, e o de Eliseu em 2Rs 13:14, 20).

Diz-nos a escritora Ellen G. White: “Antes do fim do tempo, ele [Satanás] operará maiores maravilhas. Tanto quanto o seu poder permite, ele operará milagres verdadeiros” (Ellen G. White, Testemunies for the Church, vol. 5, p. 698). Quando o diabo não consegue curar, ele contrafaz os milagres. Se Satanás pode realizar milagres verdadeiros, então o apelo bíblico aos milagres como certificação de que os operadores de milagres vêm de Deus é um apelo ilegítimo.

Diz mais Ellen G. White: "A Palavra de Deus declara que Satanás operará milagres. Fará com que as pessoas fiquem doentes, e depois, de repente removerá delas seu poder satânico. Serão consideradas então curadas. Essas obras de cura aparente levarão os adventistas do sétimo dia à prova. (...) E Satanás, rodeado de anjos maus, e pretendendo ser Deus, operará milagres de toda espécie para enganar se possível os próprios escolhidos. O povo de Deus não encontrará sua segurança na operação de milagres, pois satanás havia de falsificar qualquer milagre que fosse feito. (...) Devem tomar posição baseados na Palavra viva – 'Está escrito'. Este é o único fundamento sobre que podem estar seguros" (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 53, 55).

Na verdade, há muito embuste e engano nessas curas, tão em voga na charlatanismo carismático moderno. E o grande propósito do arquinimigo é dar a impressão de que tais maravilhas são operadas “em nome de Jesus”. Os testemunhos das pessoas, em sua maioria, relatam casos de doenças tratáveis pela medicina, e quase sempre o próprio depoente relata ter ido procurar recurso médico. Pode ser considerado milagre a cura de uma doença perfeitamente curável por remédios ou por tratamentos médicos? É óbvio que não. O fato é que, existem milagres que só são milagres na cabeça de algumas pessoas. Existem os “milagres” fabricados. Os milagres por pressão psicológica (autossugestão), a forma mais básica empregada por esses milagreiros é a técnica de hipnose coletiva. Tal técnica é utilizada desde os anos 1980 por igrejas neopentecostais (como a Igreja Universal do Reino de Deus) para simular falsas expulsões de demônios e curas (um espetáculo que atrai público para essas igrejas e, consequentemente, aumenta-lhes sobremaneira a arrecadação através de dízimos e muitas ofertas). Há indiscutivelmente os milagres de Deus e os “milagres” do diabo.

Os profissionais da religião são verdadeiros impostores

Pensemos, agora, nalguns pontos:

1) todos os curandeiros carismáticos exigem a cura;

2) nunca pedem que a cura seja efetuada de conformidade com a vontade de Deus;

3) todos eles são presunçosos, porquanto dizem que têm poder para curar (até colocam placas de propaganda em suas igrejas com respeito a suas curas);

4) a vida desses milagreiros não os recomenda: “Por seus frutos os conhecereis” (Mt 7:15-20);

5) comercializam os dons do Céu, transformando suas igrejas numa verdade indústria da cura  muito lucrativa. Pedir ofertas para orar pelos doentes, ou por alguém prisioneiro de Satanás não é bíblico, é humano e baixo. O que Jesus ensinou é que, “de graça recebeste, de graça dai” (Mt 10:8). O que há nessas igrejas é a uma mercantilização da fé, com apelos para as ofertas.  Dízimos são devolvidos para a manutenção do ministério evangélico. Ofertas representam a gratidão do sincero crente para a construção e manutenção do lugar de culto, onde espera-se que pastores e ovelhas convivam em santidade. Fugir disto é charlatanismo.

6) Os pastores, bispos, missionários e evangelistas ensinam veementemente que a Lei moral dos Dez Mandamentos foram abolidos por Cristo na cruz. Ora, isso é uma incoerência! Como pode ensinar o povo a transgredir a Lei de Deus, e depois exigir indiscriminadamente a cura dos transgressores.  É importante entender que, embora Jesus tivesse criticado as práticas notoriamente legalistas dos fariseus, Ele exaltou os Dez Mandamentos, confirmando claramente a perpetuidade do Decálogo e explicando seu significado e propósito.

O próprio Cristo disse que Ele veio não para abolir, mas para cumprir a lei (Mt 5:17). Em muitos aspectos, Sua morte foi a revelação máxima da validade contínua da lei de Deus. Ao dizer que não tinha vindo para “destruir” a lei, Jesus estava literalmente dizendo: “Eu não vim para invalidar nem abolir os Dez Mandamentos.”

Sua declaração foi muito clara e, provavelmente, Ele tivesse a intenção de mostrar que eram os líderes religiosos que estavam destruindo a lei, diminuindo seu efeito por meio da tradição, não Ele (Mt 15:3, 6). Em contrapartida, preenchendo-a com um significado mais profundo, Cristo veio para “cumprir” a lei, dando-nos um exemplo do que é a perfeita obediência à vontade de Deus (Rm 8:3, 4).

As Sagradas Escrituras dizem que “Sabemos que o conhecemos, se obedecemos aos seus mandamentos. Aquele que diz: "Eu o conheço", mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele” (1 João 2:3,4, NVI). Portanto, esses curandeiros modernos nunca poderiam operar um milagre concedido por Deus, pois suas atitudes são contrárias aos princípios de Deus, expressas na lei de Deus.

Ellen G. White escreveu: "À lei e ao testemunho! se eles não falarem segundo esta Palavra, não haverá manhã para eles." Isa. 8:20. O povo de Deus é encaminhado às Santas Escrituras como a salvaguarda contra a influência dos falsos ensinadores e poder ilusório dos espíritos das trevas. Satanás emprega todo artifício possível para impedir os homens de obter conhecimento da Bíblia; pois os claros ensinos desta põem a descoberto os seus enganos. Em todo avivamento da obra de Deus o príncipe do mal está desperto para atividade mais intensa; aplica atualmente todos os seus esforços em preparar-se para a luta final contra Cristo e Seus seguidores. O último grande engano deve logo patentear-se diante de nós. O anticristo vai operar suas obras maravilhosas à nossa vista. Tão meticulosamente a contrafação se parecerá com o verdadeiro, que será impossível distinguir entre ambos sem o auxílio das Escrituras Sagradas. Pelo testemunho destas toda declaração e todo prodígio deverão ser provados” (O Grande Conflito, p. 593).

Devemos diligentemente analisar todo e qualquer milagre ou maravilha para descobrir se é de Deus ou do diabo. A questão de capital importância é: como podemos discernir verdadeiros de falso milagres?  Alguns pontos importantes em relação às curas e milagres feitos por Cristo servem como testes práticos para o que vemos hoje.  Note o que Bíblia explica:

(1) Jesus não fez propaganda de Suas curas com o intuito de criar uma reputação sensacionalista, nem como pretexto para arrecadar dinheiro; ao invés disso, Ele ordenava aos curados “Olhai que ninguém o saiba” (Mateus 8:1-4, 9:27-31). Atualmente, em certas igrejas, o que se vê é justamente o contrário. Enquanto Jesus pedia para que não falassem aos demais sobre suas curas, os operadores de sinais transformam os testemunhos em estratégia de marketing religioso. Afinal, a minha igreja cura/liberta/prospera mais do que as outras, então você tem que vir dar seu dízimo aqui porque é aqui que Deus está.

(2) Ele curou todo tipo de enfermidades, com especial atenção para situações de desespero, através de Seu divino poder que nunca falha.

(3) Ele nunca curou parcialmente. As pessoas eram totalmente saradas por Cristo. (Mateus 15:29-31; Marcos 7:31-37).

(4) Jesus nunca falhou em curar uma pessoa quando o procuravam. Ele nunca teve qualquer embaraço como os curandeiros modernos enfrentam ao tentar explicar porque falhou em tentar curar alguém. Quantos vão às igrejas, aos campos de futebol, aos ginásios de esportes, aos aglomerados de cura e ficam decepcionados. Voltam, às vezes, mais doentes ainda. O missionário fica na cômoda posição: “Faltou fé”. É realmente muito cômodo você dizer, faltou fé! Pedro não agiu assim! À porta do Templo, parou diante do deficiente que pedia esmola e disse-lhe: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande" (Atos 3:6, NVI). Pedro é quem manifestou verdadeira fé.

(5) Nenhum questionamento jamais foi feito sobre a autenticidade das curas que Jesus fez – como se o paciente está de fato doente ou curado.

(6) Jesus nunca curou pela fé somente, mas pelo Seu divino poder. Somente um caso é registrado de 31 exemplos de milagres de que Jesus requereu fé para operar (Lucas 7:11-17; João 5:2-13).

Caro amigo leitor, a nossa fé em Cristo não deve basear-se ou depender de curas. Cremos em Jesus, porque na cruz Ele demonstrou ser o nosso amorável Salvador! Estando com Jesus estaremos sempre bem. É preciso que andemos em toda verdade de Deus revelada em Sua Palavra para estarmos seguros e vencermos as “astutas ciladas do satanás” (Ef 6:11). Andando em toda verdade de Deus é a segura guia para não sucumbir nesta avalanche de curas e milagres que sacode o mundo, nas igrejas neopentecostais e nos Centros espíritas. Nossa única salvaguarda é a Bíblia. Creia incondicionalmente nela! Somente aqueles que não fizeram da Bíblia sua fonte de verdade serão enganados. Não devemos colocar os sinais e milagres acima da Palavra de Deus. Quem assim o fizer será enganado certamente. É com esta artimanha que o diabo vai enredar a muitos.
 







segunda-feira, 20 de março de 2017

PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA: IGREJA ADVENTISTA PASSA DE 20 MILHÕES DE MEMBROS

A denominação chegou a 20.008.779 de adeptos em 31 de dezembro de 2016.


A Igreja Adventista do Sétimo Dia passou de 20 milhões de membros em todo o mundo, de acordo com o novo relatório divulgado pelo Escritório de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa da sede mundial da denominação. Em 2016, a igreja obteve um crescimento líquido de 4,6% em relação ao ano anterior, o que resultou no ganho de 882.332 adeptos.

A liderança mundial da igreja vê os números como reflexo do maior envolvimento dos membros na evangelização, o que vem sendo incentivado pelo programa Envolvimento Total do Membro (TMI, na sigla em inglês).

“Cada vez mais, os membros estão se esforçando de maneira considerável no alcance de pessoas para Deus”, atesta David Trim, diretor do departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa.

Ele lembra que esses esforços incluem a entrega de livros missionários, feiras de saúde, evangelismo público, entre outros ministérios exercidos segundo os mais variados dons.

As estatísticas mostram que a Igreja Adventista, que foi fundada em 1863 com apenas 3,5 mil membros, atingiu recordes de batismos nos últimos três anos. Em 2014 foram 1.167.506, passando a 1.260.880 em 2015 e chegando a 1.314.950 em 2016.

Somente numa campanha evangelística realizada no ano passado em Ruanda, na África, mais de 100 mil pessoas experimentaram o novo nascimento num dos maiores batismos da história do adventismo.

A Divisão Centro-Leste Africana foi a região administrativa que obteve o maior crescimento no período: 338.638 novos conversos, chegando a 3.502.462 fiéis no total.

Novas congregações

Outro número que chama a atenção é a taxa de abertura de novas congregações. Uma nova igreja é plantada a cada 3,3 horas. Em 2016, houve um acréscimo de 2.665 tempos.

“As estatísticas mostram que o foco da Missão Global sobre o plantio de igrejas está frutificando. Eu diria que o plantio de igrejas continua sendo um dos fatores principais, se não o principal, na capacitação do crescimento sustentado à medida que os novos crentes são nutridos no companheirismo enquanto se tornam discípulos”, acredita Gary Krause, diretor da Missão Adventista.

Batismo histórico realizado em Ruanda no ano passado. Foto: Reprodução da Adventist Review

No mundo todo, a denominação tem 154.710 congregações, incluindo igrejas organizadas e grupos.

Conservação

Apesar do crescimento, o pastor G.T. Ng, secretário-executivo da sede mundial adventista, chama a atenção para a necessidade de um trabalho mais efetivo na conservação dos membros, já que o percentual dos que abandonam a igreja ainda é expressivo.

No ano passado, 352.722 pessoas deixaram de fazer parte da igreja, número que também inclui óbitos e desaparecimentos. A média desde 2006 é de 584 mil pessoas removidas por ano. Felizmente, o número atual é o menor da última década.

Mesmo assim, a preocupação com as saídas não pode ser deixada de lado. “Devemos lembrar que a conservação e o fortalecimento são o outro lado da mesma moeda”, alerta o pastor G.T. Ng.

Para Trim, os índices de crescimento não devem “cegar” as pessoas para a necessidade de exercer, de fato, o fortalecimento pelo “discipulado ativo”.
[Willian Vieira / Com informações de Andrew McChesney, da Adventist Review]

FONTE: Site Revista Adventista

quinta-feira, 16 de março de 2017

A TRAGÉDIA DO SUICÍDIO



Marcos De Benedicto

Por que permanecer vivo num mundo que corteja a morte

Uma morte no mundo a cada 40 segundos. Isso equivale a mais de 800 mil por ano. Você acha pouco? Ocorre que não se trata de mortes involuntárias, mas de mortes evitáveis e planejadas. Ou, para usar um termo mais impactante, suicídio. São pessoas que, por algum motivo, decidem “dormir” e não acordar mais. E cada caso deixa para trás lágrimas e pessoas devastadas. Para tornar o quadro ainda mais dramático, cada suicídio consumado representa uma pequena porcentagem das tentativas fracassadas. Por isso, pautamos o tema como matéria de capa desta edição. O objetivo é chamar a atenção para o fenômeno e ajudar na prevenção.

No Brasil, o número de suicídio entre as diferentes faixas etárias vem subindo, com destaque para jovens e idosos. Em 2013, segundo a pesquisa “Violência Letal: Crianças e Adolescentes do Brasil”, a taxa de suicídio entre jovens de 16 e 17 anos chegou a 4,1 para cada 100 mil. Porém, percentual maior ainda é visto entre idosos (8 suicídios para cada 100 mil) e os indígenas, com seu índice de 132% maior do que na população em geral.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as principais causas desse mal, que não conhece barreiras geográficas nem culturais, são distúrbios mentais, depressão, doenças crônicas, perdas, drogas, bebida alcoólica, problemas financeiros,
violência, abusos, fim de relacionamento amoroso, senso de isolamento e o “colapso da capacidade de lidar com os estresses da vida”.

O pior é que o sofrimento da perda é intensificado pelo caráter de transgressão do gesto. No passado, o suicídio era visto com olhar ultra severo. Na Idade Média, a igreja codificou sua oposição ao suicídio, e as autoridades passaram a profanar os corpos dos suicidas, na tentativa de impedir novos casos. Na França, os corpos eram arrastados pelas ruas, enquanto na Noruega eles eram sepultados com os criminosos.

Hoje, a atitude está mudando, especialmente pela mobilização em favor do suicídio assistido, um tipo de morte em que o próprio paciente terminal põe fim à vida, com a ajuda de um profissional de saúde. Alguns países já legalizaram a prática, enquanto outros estão estudando o assunto.

Naturalmente, o tema é complexo e desperta debate. A Igreja Adventista tem uma postura responsável e realista. Ela defende a santidade da vida e o uso da tecnologia médica, mas reconhece que, à luz da promessa da vida eterna, não precisamos nos agarrar desesperadamente a um fio de vida, na tentativa de prolongar artificialmente um estado vegetativo ou “o processo de morrer” por tempo indefinido (Declarações da Igreja [CPB, 2012], p. 87). Afinal, em última instância, a “primeira morte” é um sono reversível e a vitória garantida na cruz é sobre a “segunda morte”, a eterna.

Por motivos óbvios, muitos são contra o suicídio assistido. “Nossa sociedade está rapidamente se tornando confortável com a noção de morte sob demanda”, protestou a escritora Kim Kuo em uma matéria publicada na revista Christianity Today em setembro de 2015. Ela menciona que seu marido fez a opção certa pela vida e lutou dez anos contra um câncer, sem perder a fé e a esperança em Deus.

No entanto, existem nomes fortes que defendem a prática do suicídio assistido, como o teólogo suíço Hans Küng, autor de A Dignified Dying (SCM, 1995). Em 2015, devido ao Mal de Parkinson, ele chegou a considerar essa possibilidade. Os anglicanos George Carey, ex-arcebispo da Cantuária, e Desmond Tutu, arcebispo emérito da Cidade do Cabo (África do Sul) e Nobel da Paz em 1984, também passaram a advogar esse “direito”.

Em face da dura realidade, o dever da sociedade é aprimorar o sistema de assistência nas fases críticas da vida, sabendo que nove em dez casos de suicídio são evitáveis. O estudo do governo para a criação do sistema de ligação gratuita pelo número 188, por enquanto disponível apenas no Rio Grande do Sul, é o primeiro passo. As igrejas e famílias, em especial, podem fazer muito para ajudar a identificar sinais de alerta e prevenir suicídios. A atitude mais importante é ouvir com acolhimento quem tem sido assediado por pensamentos suicidas.

Para quem está sofrendo uma perda dessa natureza, uma palavra de esperança. Embora o suicídio não seja moralmente neutro, também não é um pecado imperdoável. A Bíblia registra sete casos de suicídio em contextos negativos, mas não pronuncia juízo de valor sobre o ato, um silêncio que é interpretado de maneiras opostas. Ninguém deve julgar uma vida por um ato radical em um momento de desespero ou desequilíbrio químico. O julgamento é feito por um justo Juiz, o Deus da esperança e da misericórdia.

MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

FONTE: Site Revista Adventista