Teologia

sábado, 31 de janeiro de 2015

POR QUE OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA PREOCUPAM-SE EM PRESERVAR A SAÚDE DO CORPO E DA MENTE?



Ricardo André

O estilo de vida saudável dos Adventistas do Sétimo Dia (ASD) têm sido ao longo de mais de 50 anos objeto de muitos estudos. Estes revelam que os adventistas vivem mais que os não adventistas. E os resultados dos mesmos sugerem fortemente que os ASD estão vivendo mais por seguirem certos princípios dietéticos herdados a partir de suas crenças religiosas, como vegetarianismo, ênfase no consumo de grãos integrais, frutas, hortaliças e abstinência de tabaco e álcool. Um dos estudos mais notáveis foram com os adventistas californianos realizados décadas passadas. Os resultados desse grande estudo epidemiológico conduzido com a população ASD californiana evidenciou as vantagens dos vegetarianos no alcance de maior longevidade e de menor risco de câncer e doença cardíaca quando comparados com californianos não vegetarianos. Adventistas vegetarianos californianos tendem a ser menos obesos, bebem menos café, comem mais leguminosas e produtos à base de proteína vegetal. Além disso, exercitam-se com maior regularidade. Tanto a ausência de carne quanto a adição de frutas, castanhas e hortaliças parecem exercer uma grande influência na prevenção de câncer e doença cardíaca, bem como no aumento da longevidade. A longevidade dos ASD tem despertado atenção do mundo. Em anos recentes a mídia internacional e mesmo aqui no Brasil (SBT realidade, Fantástico, Revista National Geographic, entre outras) produziram matérias jornalísticas tratando do tema. Clique no link abaixo e confira a reportagem:


Existem mais de 300 artigos científicos abordando estudos sobre a saúde dos ASD publicados em periódicos científicos da Dinamarca, Holanda, Noruega, Japão, Austrália, além dos bem conhecidos estudos da Universidade de Loma Linda, Califórnia, EUA .

Mas, qual é a relação do cuidado com a saúde com o evangelho? Quais são as motivações dos Adventistas para obter um viver saudável? Existe base bíblica para a mensagem de saúde enfatizada pelos adventistas?

Deus se Interessa pela nossa Saúde

As Sagradas Escrituras revelam claramente que nosso amorável Deus tem interesse que usufruamos de boa saúde. No Antigo Testamento encontramos a seguinte recomendação divina: “dizendo-lhes: “Se vocês derem atenção ao Senhor, o seu Deus, e fizerem o que ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que eu trouxe sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor que os cura” (Êxodo 15:26, NVI).

Essa promessa de imunidade das doenças do Egito foi dada aos filhos de Israel assim que eles deixaram o cativeiro. Mas essa promessa não tinha como fonte simplesmente a intervenção sobrenatural; também dependia, talvez até especialmente, das leis naturais de saúde. Se eles seguissem o que o Senhor lhes ordenava fazer na área de saúde e saneamento, ao contrário do que faziam seus captores (por exemplo, enquanto os egípcios usavam excrementos humanos com propósitos medicinais, os hebreus deviam enterrar os seus fora do acampamento), seriam poupados das doenças que afligiam os egípcios.

Então, mesmo aqui podemos ver a preocupação de Deus não apenas pelo bem estar espiritual de Seu povo, mas também por seu bem estar físico, sua saúde. Essa ideia também é encontrada no Novo Testamento: “Amado, oro para que você tenha boa saúde e tudo lhe corra bem, assim como vai bem a sua alma” (3 João 3, NVI).

Evidentemente, é perfeitamente natural que Deus Se importe com nossa saúde física. Afinal, Ele nos criou como seres físicos. Antes do pecado, antes da queda, já tínhamos um corpo físico. Fomos feitos como seres carnais. Nossa queda não foi para a carne; foi uma queda “na” carne. Nosso corpo não é mau, a prisão da alma ou algo semelhante (como ensinam algumas religiões). Nosso corpo é o dom maravilhoso de um Deus amoroso que nos criou à Sua imagem e deseja que desfrutemos a existência física, pelo menos até onde for possível neste mundo caído.

As leis de saúde foram criadas por Deus, o mesmo que criou os Dez Mandamentos.  Como leis, ambas precisam ser obedecidas. Mas muitos seres humanos só entendem a importância das leis depois de sofrerem as consequências de as terem desrespeitado. Aqueles que descuidam do assunto da saúde estão aumentando a dificuldade para seu próprio crescimento espiritual e também sua preparação para a eternidade. Como cristãos cremos que ambos são dons de Deus  e estão muito relacionados. A ciência médica moderna prova que há uma íntima relação entre corpo e mente. Portanto, como nos sentimos fisicamente afeta nossa condição mental, e isso afeta também nossa condição espiritual. Tudo está relacionado, e não podemos negligenciar qualquer aspecto de nossa condição sem afetar também outros aspectos. Por isso que precisamos cuidar bem do nosso corpo, evitando determinados alimentos e bebidas  que são nocivos ao nosso corpo. Devemos abandonar os maus hábitos alimentares se queremos gozar de boa saúde e adorar ao nosso Criador com corpo e mente saudáveis.

A motivação Superior

Como a mente e corpo são dons de Deus, ambos destinam-se a ser preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço. Ademais, a Bíblia afirma categoricamente que nosso corpo é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19, 20). Ora, se nosso corpo é morada do Espírito Santo não podemos abusar dele, comendo e bebendo tudo aquilo que é prejudicial a ele. Como pode o Espírito Santo habitar num corpo destruído pelos maus hábitos alimentares? Esse domicílio não é só para nosso próprio benefício, pensamentos, planos e ações; nosso corpo é de fato, templo de Deus. Que privilégio e responsabilidade! Às vezes, cuidamos melhor da casa em que vivemos do que do nosso próprio corpo. Paulo enfatizou frequentemente esse tema e o expande mais, assinalando que não pertencemos a nós mesmos. "Voces não são de si mesmos; vocês foram comprados por alto preco" (I Co 6:19, 20, NVI).

Que preco foi pago para nossa redenção! Só quando contemplamos a cruz, e o que nela aconteceu. podemos começar a entender nosso valor diante de Deus. Esse pensamento só deve nos ajudar a entender a responsabilidade sagrada que temos de tomar cuidado de nós mesmos, não só espiritualmente, mas também fisicamente. 

Deus esvaziou o Céu e permitiu que o sangue de Jesus fosse derramado para nossa redenção. Não pertencemos a nós mesmos; fomos redimidos e pertencemos a Deus e Lhe devemos todo o nosso ser, inclusive a fiel mordomia no uso de nosso corpo.
 
Ellen G. White repetidas vezes mostrou claramente a direta relação existente entre os hábitos diários com a santificação: “Um corpo enfermo e um intelecto desordenado em virtude de contínua tolerância para com a nociva concupiscência tornam impossível a santificação do corpo e do espírito” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 44). Ademais, “Os que tem sido instruídos com relação aos efeitos prejudiciais do uso da alimentação cárnea, do chá e do café, bem como de comidas muito requintadas e insalubres, (...) Deus requer que o apetite seja dominado, e se pratique a renúncia. (...)É esta uma obra que tem de ser feita antes que o povo de Deus possa ser apresentado diante dEle perfeito” (Idem, p. 381).

O comprometimento dos ASD com a saúde é mais motivado pelo desejo de glorificar a Deus do que com a estética, ou com os aspectos físicos. “Paulo deixou claro que viver para a glória de Deus é o mais elevado alvo do cristão: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10:31). Ellen White frequentemente salientava esta motivação como “a glória do abnegado amor. À luz do Calvário se patenteará que a lei do amor que renuncia é a lei da vida para a Terra e o Céu, que o amor que  ‘não busca os seus interesses’ tem sua fonte no coração de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 20) Os benefícios colaterais desta motivação superior incluem vida mais longa, menos doença, etc. Mas se a motivação superior é eclipsada, grande parte da reforma de saúde pode tornar-se egocêntrica e negligenciar o bem-estar dos outros. Cuidar da saúde é uma questão espiritual, e não apenas uma preocupação física” (Hebert E. Douglas, Mensageira do Senhor, p. 294).

A pergunta que levantamos é: Será que uma pessoa que contraiu osteoporose, insônia, nervosismo, entre outros males por causa do uso prologado do café glorifica a Deus? Evidentemente que não! Será que alguém que teve um infarto por causa do uso da coca-cola, carne, falta de exercício físico glorifica a Deus? Obviamente que não!

Conclusão

Ellen G. White, em harmonia com a Bíblia, relacionou em seus escritos coerentemente a ênfase na saúde com os aspectos do “evangelho eterno” (Ap 14:6-12) e com o crescimento espiritual,  bem como na importância de seguir princípios corretos no regime e no cuidado do corpo, e dos benefícios dos remédios da natureza – ar puro, luz do sol, exercício e o uso racional da água. Contudo, os Adventistas do Sétimo Dia ao ensinarem com base na Bíblia Sagrada e inspirados nos princípios delineados por Ellen G. White, que devemos adotar um viver saudável, cuidado do corpo, não quer dizer que ensinamos a salvação pelas obras. Longe disso! É parte da nossa crença fundamental que a salvação é somente pela fé. Cremos que nenhum de nós é suficientemente bom para merecer a salvação; ainda mais, nenhum de nós se torna bom o suficiente para merecê-la. A salvação tem que ser dom de um Deus amoroso e benevolente para com a raça caída de seres que, em seu íntimo, são corrompidos pelo pecado e que, por si mesmos, não tem nada para oferecer ao Senhor (Efésios 2:8-10). Porém essa graça salvadora, é o poder que nos habilita a obedecer a Deus. Guardamos os mandamentos de Deus, bem como as leis de saúde, não para nos salvar, pois eles não levam a vida eterna, mas é fruto de nossa relação salvífica com Deus. A obediência a Deus é fruto da fé (Tiago 2:17).



JUSTIÇA AUTORIZA EMPRESÁRIO A FECHAR POSTO DE GASOLINA AOS SÁBADOS



Por Equipe ASN, Jefferson Paradello

Depois de trabalhar durante 15 anos como funcionário do Banco do Brasil, João Francisco do Nascimento decidiu abrir seu próprio negócio. Optou por ingressar no ramo de postos de combustíveis e, para isso, escolheu a cidade de Lagarto, que fica a cerca de 90 km de Aracaju, capital de Sergipe.

Adventista do sétimo dia desde 1980, antes que sua empresa começasse a funcionar, no início do ano 2000, ele havia se certificado de todas as maneiras – inclusive judicialmente – de que seu estabelecimento não precisaria funcionar durante as horas do sábado bíblico, que vai do pôr-do-sol de sexta-feira ao do sábado.

Naquela época, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entidade que regulamenta o setor, não exigia que o posto funcionasse em dias e horários determinados, o que favorecia o empresário a agir de acordo com sua fé.

No entanto, pouco mais de seis meses desde que o local fora inaugurado, veio a surpresa. “Surgiu uma portaria da ANP que estipulou a quantidade de dias e horas e o nome dos dias que o posto deveria abrir. Isso me prejudicou. Ela definiu que deveria abrir 14 horas por dia, de segunda a sábado”, relembra Nascimento. Mesmo assim, ele decidira manter as coisas como estavam.

Consequências da fidelidade

A primeira dificuldade surgiu quando a distribuidora alertou o empresário de que a ANP proibia que o estabelecido estivesse fechado nos dias estipulados. “Eu disse que continuaria agindo da mesma forma e que a vontade de Deus fosse feita”, explica. No entanto, seu posto foi autuado duas vezes por descumprimento das normas, uma em 2006 e outra em 2008. Além de multa, dois processos foram levados à Justiça.

Recentemente, um deles foi julgado e a Nascimento foi concedido o direito de que seu posto funcionasse em horário alternativo. De acordo com dados do portal Estadão, o juiz federal Jailsom Leandro de Sousa alegou que, por se tratar de uma pessoa física, a religião professada pelo proprietário engloba todas as áreas de sua vida, como a profissional. Diante da decisão, o magistrado ainda mencionou a liberdade de religião, o que favoreceu o resultado. Durante sua defesa, Nascimento classificou a lei de Deus como algo universal e destacou a Bíblia como base para sua fé.

Porém, mesmo com a liminar que autoriza o funcionário fora do período sabático, o Ministério Público recorreu e o processo foi para a segunda instância. Mesmo assim, ele não perdeu a esperança. “A palavra de Deus contribui para o bem. A nossa luta é semelhante à de um leão com uma formiga. A ANP tem força de polícia, pode lacrar um posto, e estamos lidando com um órgão que pode nos prejudicar. Mas isso serviu para que nas nossas limitações buscássemos mais ao Senhor. E ele nos ajudou a fortalecer a nossa fé”, pontua.

Uma forma de testemunhar

O empresário João Nascimento, a filha e a esposa. Fidelidade a Deus é uma das formas que ele encontrou para testemunhar de sua fé.

Embora ao longo dos anos muitas pessoas tenham lhe dito para não ser tão rígido no assunto por causa da religião, uma conversa ficou marcada na mente do empresário. Em um sábado à noite, logo após o pôr-do-sol, o estabelecimento foi aberto. Ao chegar ao posto do crente – ou posto que fecha aos sábados, como o local é conhecido –, um dos clientes se aproximou dele e disse. “Quando passo aqui e vejo que está fechado, eu fico sem compreender como é que no dia de maior movimento ele está assim. Mas admiro sua convicção, sua crença na Bíblia”, narra ao lembrar que o homem estava com lágrimas nos olhos.

Para Nascimento, toda a situação pela qual passa é uma das formas de testemunhar de sua fé. Quando alguém lhe pergunta por que age assim, ele abre a Bíblia e mostra sua motivação. “Eu penso que todos nós viemos a esse mundo com uma missão. Não sei se a minha é mostrar que, apesar de tudo, devemos ser fiéis. Só sei que quando nos esforçamos, Deus abre portas onde não existe e a gente chega ao alvo”, diagnostica.

Apesar de existir muita concorrência no setor de combustíveis, sua empresa é bem vista na região, tanto que, segundo ele, sempre surgem propostas para mudar de bandeira, além de ter crédito garantido em vários lugares. “Nosso comércio atende nossas necessidades e o Senhor tem provido tudo para que vivamos com dignidade”, assegura. “Até aqui posso dizer que senti muito a direção de Deus na minha vida e continuo pedindo forças na nossa luta para divulgar a sua mensagem.”


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO PROVA A EXISTÊNCIA DO INFERNO, PURGATÓRIO OU IMORTALIDADE DA ALMA?



Ricardo André

Das parábolas apresentadas por Cristo, a conhecida como do rico e Lázaro, relatada no evangelho de Lucas 16:19-31 parece ser a que mais dificuldade apresenta de ser entendida. Em virtude de certas expressões nela usadas, consideram alguns que Jesus teria ensinado um estado de consciência após a morte, ou seja, que, ao morrerem, uns vão para o Céu, outros para o Purgatório, outros para o inferno, tendo assim defendido a teoria imortalista da alma. No entanto, essa estória não serve para provar a imortalidade da alma ou a existência do inferno e purgatório porque os elementos não se harmonizam uma vez que se trata de uma parábola.

Pode-se perguntar então: Qual foi a lição que Cristo pretendia com esta aparentemente tão complicada ilustração?

Cristo se utilizou de uma crença popular para ilustrar verdades Bíblicas

 Primeiramente devemos considerar que o texto em lide é uma parábola, onde os fatos e ideias populares da época foram usados para ilustrar verdades bíblicas. Cristo ensinava por parábolas para facilitar a compreensão (Mc. 4:33).

Devido à má intenção de alguns ouvintes (fariseus e escribas), Cristo usou esse método para alcançar os sinceros, impossibilitando àqueles de O perseguirem prejudicando a mensagem (Mc. 4:11 e 12).

As parábolas, como um método de ensino, já eram usadas no Antigo Testamento (IISm. 12:1-13) e não eram interpretadas literalmente, pois as árvores não falam (Jz. 9:8-20). Destarte, aceitar uma literalidade na parábola estudada seria crer que da Cidade Santa nós veremos os ímpios queimando eternamente,[1] e poderíamos até conversar com eles (Lc. 16:23 e 24).

Não se pode fundamentar crenças em Parábolas ou em Expressões Alegóricas

Outro ponto é que doutrinas não devem ser baseadas em parábolas, pois se trata de recurso didático para chamar a atenção para um ponto específico.

Neste caso advertir os fariseus avarentos (Luc 16:14) e ensinar que os ricos não são preferidos pelos céus. Se as parábolas pudessem se tomadas no seu sentido literal, então, seria válido afirmar que metade dos crentes se salvarão e a outra metade não, segundo a parábola das Dez Virgens (Mt. 13:33).

E ainda: se usarmos parábolas e seus detalhes para provar doutrinas teríamos que dizer que Deus não tem boa vontade para atender nossas preces como no caso da viúva importuna (ou do juiz iníquo) que faz parte da mesma seção de parábolas (Lc 18:1-8) ou que Jesus ensinou a ser desonesto como na parábola do administrador infiel (Luc l6:1-9). Todas têm uma lição: a do juiz é perseverar em oração e a do administrador infiel é usar nossos bens fielmente para a obra de Deus ou seja, ser fiel no pouco e depois receber a vida eterna.

Na realidade, Jesus se aproveitou de elementos conhecidos de Seu tempo, e nós temos que ter isso em mente. Ele falava para uma classe nobre, os fariseus (Lc. 16:19), que dominava a plebe (v. 20 e 21). Do mesmo modo que para nós alguns mitos são comuns (mula-sem-cabeça, saci pererê), algumas crenças dos ouvintes serviram de ilustração. Uma delas é o “hades” (inferno, v. 23), que acreditavam ser um lugar divido em dois compartimentos, um para os justos e outro de tormento para os ímpios. Neste lugar, mesmo separados, eles conversavam entre si. [2]

Outra crença está baseada no termo hebraico transliterado para o grego “geena”. Esta palavra veio do vocábulo “Vale de Hinon”, um lugar onde era oferecido sacrifícios humanos a deuses estranhos (IICr. 28:3). Depois disso, o vale se tornou um depósito de lixo, a sudeste de Jerusalém.

Ali o fogo ardia constantemente, não só com detritos, mas também com cadáveres de indigentes e criminosos.[3] Neste ínterim, quando Cristo descreve o tormento do rico, os ouvintes logo captaram a mensagem que Ele queria transmitir (Lc. 16:23).

A palavra espírito não é usada no relato e seria de se esperar seu uso se se tratasse de ida para o purgatório ou o inferno.

A palavra purgatório não aparece no relato e note que uma vez nas chamas o rico não tem uma "segunda chance" como ensina a doutrina do purgatório.

A parábola não apenas deixa de usar referências que possam indicar corpos imateriais como também descreve o pobre e o rico como corpos físico. Segundo entendemos, com base na teoria imortalista platônica,, alma não tem forma. É algo incorpóreo, sem forma física.

Órgãos como olhos, dedos e língua, portanto, não fazem parte de sua composição, pois são partes do corpo. Ora, na parábola em questão, o rico “levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio” (Luc. 16:23). E pediu que o patriarca mandasse a Lázaro molhar o dedo em água e lhe refrescar a língua (verso 24). Dessa forma, a teoria imortalista não tem respaldo nesta parábola.

O rico quando morre não está realmente no inferno mas na sepultura como diz o texto (grego hades = lugar do morto, sepultura) não diz também purgatório. Tanto prova é que para voltar ao mundo, segundo a própria parábola, seria necessário não uma "viagem" ou aparição mas somente pela ressurreição, isto é, levantar dos mortos e corpo físico outra vez (v.31).

Surgem outras questões: pode a separação entre os salvos e perdidos ser tão próxima que podem conversar uns com os outros? Essa ideia não combina com a doutrina geral da Bíblia.

A Bíblia ensina que após a morte a recompensa dos salvos só será dada após a ressurreição e sem ela todos os que morreram em Cristo e que não foram ressuscitados estariam perdidos. (ICor.15:16-18). Isso somente ocorrerá quando Jesus voltar (I Tess. 4:13-17).

Portanto, deve-se usar essa estória como ela realmente é: uma parábola que têm uma mensagem principal e que não deve ser tomada em todos os seus detalhes. Querer tirar daí a existência do purgatório é querer forçar o texto a dizer o que não diz e exigir de parábola significado nos detalhes o que não é seu (da parábola) objetivo fornecer.

As Lições da Parábola

Com estas considerações, estamos aptos a compreender as lições contidas na parábola. Sabemos que os ímpios serão queimados (v. 24), e é relevante notar que cada um deles sofrerá à proporção de seus pecados (Mt. 16:28; Ap. 20:12): “alguns são destruídos em um momento, enquanto outros sofrem muitos dias” [4].

A segunda lição é que a sorte final dos justos será diferente, eles serão recompensados (v.25). Aprendemos também que depois da morte não é possível mudar essa condição (v. 26).

Outra lição é mostrar a Bíblia como a única guia neste mundo, não sendo ela suplantada nem por uma possível comunicação com os mortos, ou até mesmo uma ressurreição especial (vs. 27 a 31).

Cristo queria ensinar que nós temos uma oportunidade de escolha, e ela deve ser feita em vida, seguindo o testemunho das Escrituras. O objetivo não era relatar o que acontece após a morte, mas enfatizar a seriedade da vida; este era o desafio proposto aos ouvintes.

Um dia a porta da graça da vida de cada um nós se fechará. Escreveu Ellen G. White: “é agora evidente a todos que o salário do pecado não é a nobre independência e vida eterna, mas a escuridão, ruína e morte. Os ímpios veem o que perderam em virtude de sua vida de rebeldia” [5].

Caro amigo leitor, qual é a sua decisão? Aceitarás a Jesus como teu Salvador e Senhor, e gozar a eternidade com Deus; ou ser indiferente as provisões de Deus para a sua salvação, e ser destruído para sempre? A escolha é sua.

Referências:

[1] Samuele Bacchiocchi, Imortalidade ou Ressurreição? A Biblical
Study on Human Nature and Destiny (Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1997), 173 e 174.

[2] A. B. Christianini, Subtlezas do Erro, 1a. ed. (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981), 257.

[3] Pedro Apolinário, Explicação de Textos Difíceis da Bíblia,
4a. ed. (São Paulo, SP: Seminário Latino Americano de Teologia, 1990), 138 a 140.

[4] Ellen G. White, O Grande Conflito, 36a. ed. (Tatuí, SP: Casa
Publicadora Brasileira, 1988), 673.

[5] White, 668.

domingo, 25 de janeiro de 2015

POR QUE CRISTO AINDA NÃO VEIO?



Carlos A. Steger

O movimento adventista surgiu com a expectativa da iminente vinda de Cristo e, mesmo depois do desapontamento de 1844, seus pioneiros continuaram aguardando esse evento. Partilhando fervorosamente dessa esperança 1 foi que, em 1851, Ellen G. White escreveu: “Vi que o tempo para Jesus permanecer no lugar santíssimo estava quase terminado e esse tempo podia durar apenas um pouquinho mais; que o tempo disponível que temos deve ser gasto em examinar a Bíblia, que nos julgará no último dia.” 2

Entretanto, não tendo vindo Jesus, passadas três décadas, ela foi acusada de ter feito uma declaração falsa. Em resposta, ela argumentou que essa acusação também poderia ter sido feita a Cristo e aos apóstolos, que também chamaram a atenção para a urgência do tempo: “… o tempo é curto” (1Co 7:29). “Vai alta a noite e vem chegando o dia” (Rm 13:12). 3


Obviamente, eles não estavam enganados. “Os anjos de Deus em suas mensagens aos homens, apresentam o tempo como muito breve. Assim ele me tem sido sempre apresentado. É verdade que o tempo tem prosseguido mais do que esperávamos nos primeiros tempos desta mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão depressa como esperávamos. Falhou, porém, a palavra do Senhor? Nunca! Devemos lembrar que as promessas e ameaças de Deus são igualmente condicionais.”4 A demora da segunda vinda acontece porque os filhos de Deus têm falhado em cumprir essas condições. 5

Missão inconclusa

O Senhor deu a Seu povo uma missão a ser cumprida, antes de Sua vinda, ou seja, proclamar as mensagens dos três anjos (Ap 14), pregando o evangelho eterno, chamando a atenção do mundo para o santuário celestial e o ministério intercessor de Cristo e restaurando a observância do verdadeiro dia de repouso. “Houvessem os adventistas, depois da grande decepção de 1844, ficado firmes na fé, e seguido avante em união no caminho aberto pela providência de Deus, recebendo a mensagem do terceiro anjo e proclamando-a ao mundo… ,a obra se haveria completado, e Cristo teria vindo antes para receber Seu povo para lhe dar o galardão.” 6 Em vez disso, muitos crentes vacilaram na fé e se tornaram oponentes da verdade. Mas, “não era a vontade de Deus que a vinda de Cristo fosse assim retardada” 7

Ellen White comparou a demora da vinda de Jesus com a postergação da entrada dos israelitas em Canaã. Não era plano de Deus que vagueassem 40 anos no deserto; porém, por causa da falta de fé, retardaram a entrada na terra prometida (Hb 3:19). “Por quarenta anos a incredulidade, murmurações e rebelião excluíram o antigo Israel da terra de Canaã. Os mesmos pecados têm retardado a entrada do moderno Israel na Canaã celeste. Em nenhum dos casos as promessas de Deus estiveram em falta. É a incredulidade, o mundanismo, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo do Senhor que nos têm conservado neste mundo de pecado e dor por tantos anos.” 8

Para os israelitas, Deus era culpado pela longa peregrinação. Semelhantemente, os cristãos laodiceanos correm o perigo de lançar a culpa em Deus pela demora da segunda vinda. “Talvez tenhamos de permanecer muitos anos mais neste mundo por causa de insubordinação, como aconteceu com os filhos de Israel; mas por amor de Cristo, Seu povo não deve acrescentar pecado a pecado, responsabilizando Deus pela consequência de seu procedimento errado.” 9

Espera misericordiosa

Por outro lado, não é por indiferença ou esquecimento que o Senhor ainda não veio. É por misericórdia que Ele retarda Sua vinda (2Pe 3:9). “A longa noite de tristeza é árdua, mas a manhã é adiada em misericórdia, porque se o Mestre viesse, muitos seriam achados desprevenidos. A recusa de Deus em permitir que Seu povo pereça tem sido a razão de tão longa demora.” 10 E mais: “Cristo aguarda com fremente desejo a manifestação de Si mesmo em Sua igreja. Quando o caráter de Cristo se reproduzir perfeitamente em Seu povo, então Ele virá para reclamá-lo como Seu.” 11 Em suma, ainda não estamos preparados para ir ao Céu com Jesus.

Esse preparo inclui algo mais que o desenvolvimento de um caráter semelhante ao de Cristo. Envolve ajuda para que outros também se preparem. Desenvolvimento do caráter cristão e pregação do evangelho andam de mãos dadas; são dois aspectos de uma realidade. “O objetivo da vida cristã é a frutificação – a reprodução do caráter de Cristo no crente, para que Se possa reproduzir em outros.” 12

Assim como Deus tem misericórdia de Seu povo, também é compassivo para com os descrentes. “Jesus retarda a Sua vinda, para que pecadores possam ter oportunidade de ouvir a advertência, e encontrar nEle refúgio antes que a ira de Deus seja derramada.” 13 E a nós foi confiada a tarefa de advertir o mundo. “Dando o evangelho ao mundo, está em nosso poder apressar a volta de nosso Senhor. Não nos cabe apenas aguardar, mas apressar o dia de Deus. Houvesse a igreja de Cristo feito a obra que lhe era designada, como Ele ordenou, o mundo inteiro haveria sido antes advertido, e o Senhor Jesus teria vindo à Terra em poder e grande glória.” 14


A espera pode nos parecer muito longa e difícil de ser suportada. Porém, “quando, com os remidos, estivermos em pé sobre o mar de vidro, com harpas de ouro e coroas de glória, tendo à nossa frente a imensurável eternidade, então veremos como foi curto o período de provação e espera”. 15

Ele vem

A verdade é que, independentemente de quanto tempo tenhamos que esperar, é certo que Jesus virá, pois Ele mesmo prometeu (Jo 14:3; Ap 22:20). Por isso, Ellen G. White manteve sempre viva a esperança no indubitável regresso de Jesus à Terra. Jamais perdeu a confiança nem ficou impaciente; não dependia de data específica. Ela estava certa de que o Senhor não falha (Hb 10:37). Em uma carta, escrita em 1888, ela disse: “Ainda que desiludida, nossa fé não tem vacilado nem temos nos voltado à perdição. A demora é aparente porque, no tempo designado, nosso Senhor virá; e nós, se formos fiéis, exclamaremos: ‘Eis que Este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e Ele nos salvará’”. 16

O mais importante não é saber as razões pelas quais Cristo ainda não veio, mas estar preparados para recebê-Lo. Nosso maior perigo não é deixar de crer na vinda de Jesus, mas pensar: “Meu senhor demora-se” (Mt 24:48). Essa é uma atitude que nos leva ao egoísmo e ao mundanismo, fazendo-nos adiar nosso preparo e mantendo-nos adormecidos numa falsa segurança, indiferentes aos interesses eternos.

“Todo o que pretende ser um servo de Deus é convidado a realizar Seu serviço como se cada dia fosse o último.” 17 “Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24:46).

Referências:

1 Ellen G. White, Eventos Finais, p. 36, 37.
2 __________, Primeiros Escritos, p. 58.
3 __________, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 67.
4 Ibid.
5 Ellen G. White, Maranata: O Senhor Vem! (MM, 1977), p. 53.
6 __________, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 68.
7 Ibid.
8 Ibid., p. 69.
9 Ellen G. White, Evangelismo, p. 696.
10 Ibid., p. 694.
11 Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 69.
12 Ibid., p. 67.
13 Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 458.
14 __________, O Desejado de Todas as Nações, p. 633, 634.
15 __________, Eventos Finais, p. 42.
16 __________, Manuscript Releases, v. 10, p. 270.
17 __________, Maranata: O Senhor Vem!, p. 106.

Carlos A. Steger – Professor no Seminário Teológico da Universidade del Plata, Argentina. Texto publicado na Revista Ministério de Jan/Fev-2012.