Teologia

sábado, 30 de março de 2019

A TERNURA DE SEU AMOR


Roy Adams*

Estava em casa, sentado em meu escritório, olhando uma ave cardeal que se destacava com sua cor vermelha em contraste com o marrom-escuro dos galhos da árvore, começando a se recuperar do frio do inverno. Era de manhã e, por algum motivo, pensamentos de preocupação rondavam minha mente. E ali estava o cardeal recordando-me que o mesmo Deus que cuida dele, e que o veste tão vistosamente, também tem interesse por mim.

Na manhã seguinte o cardeal voltou. Mas antes de vê-lo, tinha percebido outra criatura ainda menor e também com penas, quase completamente camuflada entre os galhos marrons. Ressurgiram em mim os pensamentos do dia anterior sobre o inimaginável amor de Deus. Pensei em quão pequeno aquele cardeal parecia da minha janela, aproximadamente a 20 metros de distância, e como seria infinitamente menor (na realidade totalmente invisível) se eu estivesse voando em um avião a dez mil metros de altura. Então pensei quão excessivamente mais difícil seria ver o outro pássaro – o marrom. Apesar disso, Deus vê ambos através dos ilimitados anos-luz do espaço. E se importa com eles!

Jesus é Alguém que ama e cuida dessa maneira. Quando apresentou Sua mensagem às pessoas reunidas numa ladeira na Galileia, Ele lhes disse aquilo que colocaria em prática muito em breve em Sua própria vida: “Observem as aves do céu, não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai Celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?” (Mateus 6:26).1

Os evangelhos estão repletos de ilustrações do terno amor de Jesus. Contudo, nos parágrafos seguintes, tenho espaço para expor apenas algumas delas.

Amor por uma mulher humilhada

A história está em João 8:1-11. Os homens que a arrastaram até a presença de Jesus disseram que a mulher tinha sido pega em adultério no momento do ato. Eles conheciam a ordem de Moisés. O grande profeta do Sinai havia dito que tais criminosos deveriam ser apedrejados em público. Qual é o Seu veredicto? Eles exigiam.

Jesus poderia ter se negado a responder, pois não fazia parte da instituição legal e não era revestido de poder com forças judiciais reconhecidas em algum Tribunal de Justiça Judaico. Então, por que foram até Ele? Teria sido totalmente apropriado para Ele não responder.

Mas não faria isso. Diante dEle, encolhendo-se de medo, estava uma mulher angustiada, com pesadelos de uma morte horrível dominando cada canto de sua torturada mente. Com o coração batendo fortemente, a pulsação acelerada, as lágrimas de vergonha escorrendo por sua face abatida, ela esperava que as pedras começassem a golpear seu frágil corpo a qualquer instante. Então, para seu horror, escuta dos lábios de Jesus o que certamente seria sua sentença de morte: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (verso 7, ARA).2 Sendo que considerava todos os seus acusadores como íntegros partidários da lei, que não haviam cometido falta alguma, ela acreditava que as palavras de Jesus selariam seu destino e resultariam em uma saraivada de pedras que a atingiriam fatalmente.

Ela assume uma posição de autoproteção, com o rosto entre as mãos (como eu a imagino) e com seu nível de ansiedade ao máximo. Os momentos de tensão passam lentamente. Predomina o silêncio. Ousando finalmente olhar para cima desde que se abaixou, se viu sozinha com Jesus. “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?”, perguntou Jesus, gentilmente. “Ninguém te condenou?” (verso 10, ARA). “Ninguém, Senhor”, ela respondeu.

“Nem eu tampouco te condeno”, Jesus disse. “Vai e não peques mais” (verso 11).

A mulher não saltou quando se retirou – talvez considerando aquela reação inapropriada para a situação. Nem gritou – isto teria sido inadequado para a cultura. Em vez disso, foi embora em silêncio, com o coração explodindo de alegria, as lágrimas escorrendo – eram lágrimas de alegria. Cada passo seu rejubilava com nova esperança. Ela pôde viver novamente, porque tinha estado face a face com o amor personificado – o mais terno amor sobre o qual, antes, desconhecia a existência.

Amor por um traidor orgulhoso

Jesus tinha um terno amor por todos os Seus discípulos (João 13:1). Em meio à tensão e confusão na noite de Sua traição no Getsêmani, Ele ainda os protegeu. “Se vocês estão me procurando”, Ele disse para os que estavam prontos para prendê-Lo, “deixem ir embora estes homens” (João 18:8).

A forma como lidou com Pedro disse muito, e retratou Seu amor por todos os outros. O orgulhoso discípulo prometera resolutamente apoiar Jesus naquela noite da prisão. “Ainda que todos te abandonem”, ele havia dito para Jesus, “eu nunca te abandonarei!” (Veja Mateus 26:31-33). Mas como as horas da noite passavam, ele vergonhosamente encolheu-se de medo sob os olhos acusadores de expectadores e negou, na mais forte linguagem, ter visto alguma vez um homem chamado Jesus. Quando pela terceira vez tentaram pressioná-lo, ele praguejou, jurando: “Não conheço esse homem!” (Mateus 26:74).

Naquele exato momento um galo cantou e o “Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro” (Lucas 22:61). “Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito”... “Saindo dali, chorou amargamente” (versos 61 e 62).

Que mensagem, pela expressão de Jesus, foi enviada a Seu jactancioso discípulo? Aqui está a resposta encontrada em um livro clássico sobre a vida de Jesus: “Quando os degradantes juramentos acabavam de sair dos lábios de Pedro e o penetrante canto do galo lhe ressoava ainda no ouvido, o Salvador voltou-Se dos severos juízes, olhando em cheio ao pobre discípulo. Ao mesmo tempo os olhos de Pedro eram atraídos para o Mestre. Naquele suave semblante leu ele profunda piedade e tristeza; nenhuma irritação, porém, se via ali.”3

Extraordinário! Jesus dera a Pedro toda vantagem, todo privilégio, incluindo-o em seu círculo mais íntimo. O discípulo deveria ter conhecido melhor, deveria ter feito melhor. E Jesus tinha todo o direito de estar profundamente desapontado – e, realmente, Ele estava. Mas quando os olhos deles encontraram-se naquela noite no lugar do julgamento, o discípulo não viu raiva na face de Jesus, nenhum sinal de retaliação ou vingança.

“A vista daquele rosto pálido e sofredor, daqueles trêmulos lábios, daquele olhar compassivo e cheio de perdão, penetrou-lhe (Pedro) a alma como uma seta. Despertou-se a consciência. [...] Acudiram-lhe recordações em tropel. A terna misericórdia do Salvador, Sua bondade e longanimidade, Sua brandura e paciência para com os errantes discípulos – tudo lhe veio à memória. [...] Refletiu com horror em sua própria ingratidão, falsidade, perjúrio. Olhou uma vez mais para o Mestre, e viu sacrílega mão levantada para Lhe bater na face. Incapaz de suportar por mais tempo a cena, precipitou-se, coração quebrantado, para fora da sala [....]. Encontrou-se, enfim, no Getsêmani. [...] No próprio lugar em que Jesus derramara a alma em agonia perante o Pai, Pedro caiu sobre o rosto e desejou morrer.”4

O temor não é a forma efetiva de levar pessoas ao arrependimento; nem a repreensão, a vergonha e o amedrontamento. Pelo contrário, é o amor, amor puro, o terno amor de Cristo. Isto foi o que Pedro viu naquela noite nos olhos de Jesus. Isso foi o que sentiu naquele momento crítico. Isso foi o que quebrantou seu coração e isso é o que quebrantará também o nosso coração. Pode ocorrer a qualquer hora – durante um encontro religioso, numa aula de Física, enquanto você dirige para o trabalho ou lê sua Bíblia. Também pode ocorrer quando estiver sentado em seu escritório, olhando pela janela os cardeais. Seu terno amor não conhece barreiras nem fronteiras. Ele nos fala onde quer que estejamos e nos alcança aonde quer que formos.

Amor por uma solitária mulher de outra raça

Podemos ver a ternura do amor de Jesus na maneira em que lidou com as pessoas cujas vidas Ele tocou ao longo do caminho, sem levar em consideração sua raça ou origem étnica. Considere a mulher de Samaria, por exemplo (João 4:4-26). Ignorando a rigidez social, antes de tudo, Ele dedicou tempo para valorizá-la pelo o que realmente era – um ser humano criado à imagem de Deus. Deu-lhe atenção – isto a abalou – e até pediu-lhe um favor. Seu puro amor por ela tinha quebrado o gelo. Tudo que Ele podia ver diante de Si era uma valiosa mulher que precisava desesperadamente da graça que Ele queria oferecer. “Se você conhecesse o dom de Deus”, Ele disse a ela com Seu coração desejoso por seu bem-estar espiritual, “e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (João 4:10).

À medida que a conversa prosseguia, Jesus habilmente lidou com o problema emocional da diferença na adoração entre judeus e samaritanos e abordou, com a maior ternura possível, a situação delicada de sua vida social.

A mulher não era uma prostituta, pelo julgamento de João. Tinha vivido com cinco homens, mas eram “maridos”, Jesus disse (versos 17 e 18). Não sabemos a história dessa parte de sua vida, nem como e por que os maridos vieram e foram. Nem sabemos por que ela escolheu viver em um relacionamento aberto. Mas estava claro para Jesus que, por causa de tudo isso, ela estava pagando um alto preço, tendo se convertido numa pária na comunidade, fato evidenciado talvez (como alguns mostraram) pela solitária hora do dia que ela escolheu pegar sua água.

Jesus estava tão compenetrado na conversa com a mulher necessitada que perdeu o senso de tempo e esqueceu-se da fome que estivera sentindo. Seu comportamento mostrou a intensidade da Sua missão e também evidenciou um amor pessoal e terno. Alcançada por essa bondade, a mulher desejou a água que Ele tinha para dar, almejou a adoração espiritual que Ele descreveu e perguntou sobre o Messias. Quando o Messias vier, ela disse – eu acredito que com um brilho de expectativa em seus olhos que, de fato, ela possuía pela prolongada esperança pela Pessoa –, Ele nos contará tudo. Foi demais para Jesus! Quebrando Sua habitual reticência com relação a Sua identidade, disse-lhe claramente: “Eu sou o Messias! Eu que estou falando com você” (verso 26).

A mulher abandonou o cântaro de água após receber tão surpreendente revelação e correu de volta à cidade. A forma como falou a seus vizinhos deu testemunho sobre a terna maneira com a qual Jesus havia lhe tratado naquele dia. Considero significativo que, de todas as coisas que Ele falou a ela, foram os fatos dos quais sentia mais vergonha que ela mencionou: “Venham ver um homem que me disse tudo o que tenho feito. Será que ele não é o Cristo?” (verso 29).

Quem sabe, Jesus poderia trazer meu passado sórdido de tal maneira que por meio disso eu fosse atraído a Ele em amor e adoração? Quem sabe, possa fazer os escuros eventos de ontem se tornarem uma janela de esperança para o amanhã? E quem sabe, possa amar-me com tão terna compaixão! Em Jesus, tenho um quadro de indiscriminado, incondicional, escandaloso amor – amor por todos os seres humanos que Ele encontrou.

Amor por uma nação rebelde

Quando a procissão triunfal se aproximava de Jerusalém naquele Domingo da Paixão, Jesus parou no Monte das Oliveiras. Diante de uma vista panorâmica de Jerusalém, expressou um lamento sobre a calamidade futura de Israel: “Se você compreendesse neste dia... o que traz a paz!... Virão dias em que os seus inimigos construirão trincheiras contra você, a rodearão... de todos os lados. Também a lançarão por terra, você e os seus filhos” (Lucas 19:42-44).

A lamentação em Lucas se conecta de maneira temática a Mateus 23:33-36. Revela a ternura, o coração partido, que se estende sob o veredicto do julgamento iminente: “Jerusalém, Jerusalém... quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (Mateus 23:37).

A história de Davi e Absalão (II Samuel 13-15) é apropriada como modelo humano do terno amor de Deus por nós em nossa rebelião. A história documenta a tensão entre o jovem e seu pai e rei, Davi (tensão provocada por Absalão ao assassinar seu meio-irmão Amnon, que havia violado sexualmente a irmã de Absalão, Tamar). A descrição nos conduz através do auto-exílio que Absalão se impôs, seu retorno seguindo um engenhoso esquema planejado pelo general de Davi, sua temporária reconciliação com seu pai e, finalmente, sua tentativa de golpe. A história descreve como Davi, acompanhado pelo resto da família real, apressadamente abandona o palácio e a capital no rastro da rebelião de seu filho. Isto esmagou e devastou o rei ao saber que aquele que o estava perseguindo não era um predecessor invejoso, mas seu próprio filho.

Entretanto, como a batalha começou, Davi ordenou a seus generais que protegessem a vida de Absalão e o guardassem a salvo: “‘Por amor a mim, tratem bem ao jovem Absalão’” (II Samuel 18:5). Apesar disso, Absalão foi morto. Considerando o trauma que o jovem príncipe havia trazido sobre a nação e seu pai, o que nos surpreende é a reação de Davi ao saber sobre sua morte. “Então o rei, abalado,” diz o texto, “subiu ao quarto que ficava por cima da porta e chorou. Foi subindo e clamando: ‘Ah, meu filho Absalão!, meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera ter morrido em seu lugar! Ah, Absalão, meu filho, meu filho!’” (II Samuel 18:33).

É um grito que encontra eco no lamento agonizante de Jesus sobre Jerusalém naquele dia histórico: “Jerusalém, Jerusalém...” Sem assombro as pessoas chamaram Jesus de “Filho de Davi”. Ouvimos isso dos lábios do mendigo cego, Bartimeu, fora de Jericó (Marcos 10:47), e ouvimos da mulher cananéia que foi a Ele (Mateus 15:22). “Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Nunca “Jesus, Filho de Adão” ou “Jesus, Filho de Abraão” ou “Jesus, Filho de Elias”. Não, quase que invariavelmente foi “Jesus, Filho de Davi” (veja Mateus 9:27; 20:30; Lucas 18:38), e sempre no contexto de misericórdia e compaixão.

Qualquer coisa nesse sentido, acredito, fala dAquele cujo amor e terna misericórdia relembram as pessoas da atitude de Davi de ternura e misericórdia por um filho imerecedor. Podemos especular no que teria acontecido se a tropa real tivesse capturado Absalão com vida e como seu pai o teria tratado. Lamentavelmente, nunca saberemos com certeza. Mas podemos razoavelmente deduzir, baseado em todos os outros detalhes da história, que o coração daquele pai não o teria amado menos.

Neste aspecto ele se parece com Jesus, que mesmo sabendo quão maus somos, mesmo assim escolhe amar-nos e aceitar-nos. Fato que me faz lembrar uma história comovente publicada num jornal local no outono de 2006.

Iniciou assim: “Um garoto tagarela de nove anos veio a Helen Briggs no Dia dos Namorados de 2000. Ela era uma mãe com muitos filhos adotados e com problemas, por isso sabia o que era amar com firmeza. Mas seu amor por esse menino cresceu. Durante o ano, ela convenceu seu esposo a adotá-lo. Seis anos mais tarde, Briggs e seu esposo, James..., estão tomando os últimos passos necessários para anular a adoção.”

Os problemas começaram em 2003 quando o menino, então com 12 anos, “molestou sexualmente um menino de seis anos de idade e uma menina de dois anos, ainda nas fraldas”. Quando o assunto foi à corte, os pais adotivos descobriram outros problemáticos detalhes que os levaram a pedir a anulação da custódia. Entre outras coisas, o menino havia sido abusado por seus pais biológicos, alcoólatras e viciados em drogas; seu tronco cerebral fora danificado e sua habilidade de avaliar a passagem do tempo, afetada. Sete vezes, estivera hospitalizado em instituições psiquiátricas e possivelmente era um psicótico bipolar. Além disso, havia tentado se matar e tinha começado a ouvir vozes.

Em resumo, os pais adotivos descobriram que tinham um produto defeituoso em suas mãos. “Você não quer jogar ninguém fora”, disse sua mãe adotiva. “Mas algumas vezes você tem de fazê-lo.”5

Aquele casal de Virgínia não sabia com quem estava se metendo e qualquer pessoa entenderia a delicada situação. Mas quando nos escolheu, Deus sabia completamente quão miseráveis éramos, mesmo assim Ele nos aceitou de qualquer jeito. Estar em contato com o terno amor de Jesus é saber que nossa adoção nunca será anulada.

Amor profundo e pessoal

Charles Templeton, que havia sido colaborador de Billy Graham, deixou a igreja, tornando-se um ateísta assumido e um amargo crítico da religião. Em seu livro The Case for Faith, o escritor evangélico Lee Strobel conta sobre seu encontro com Templeton no seu apartamento em Toronto.

À medida que a conversa prosseguia, Strobel perguntou a Templeton o que ele pensava sobre Jesus. Aqui está parte do que se seguiu, como Strobel contou.

“A linguagem corporal de Templeton se suavizou. Era como se ele repentinamente se sentisse relaxado e confortável ao falar sobre um velho e querido amigo...

– Ele foi o maior ser humano que já viveu...

– Soa como se você realmente se interessasse por Ele.

– Bem, sim, Ele é a coisa mais importante na minha vida... Eu…eu…eu – ele gaguejou procurando pela palavra correta – eu sei que isto pode soar estranho, mas tenho que dizer... eu O adoro!

– Você diz isso com certa emoção.

– Bem, sim. Tudo de bom que conheço, tudo de decente que conheço, tudo de puro que conheço, aprendi de Jesus...

De repente, Templeton interrompeu seus pensamentos. Houve uma breve pausa, quase como se ele estivesse incerto se deveria continuar.

– Ah... mas... não – ele disse vagarosamente – Ele é o melhor... – Ele parou, então continuou novamente. – Do meu ponto de vista, Ele é o mais importante ser humano que já existiu.

Isto foi quando Templeton pronunciou as palavras que eu nunca esperava escutar dele.

– E se posso colocar assim – ele disse, como se sua voz começasse a embargar. – Eu... sinto falta... dEle!”6

Nesta última reação, senti uma nostalgia universal – a saudade por um amor que é maior do que nós mesmos. Um amor que transcende nossa rebelião e separação e que é estável, imutável e incondicional. O amor que achamos em Jesus é tudo isso. Ele é o mais terno que o coração humano pode conhecer.

*Roy Adams (Ph.D., Universidade Andrews) é editor-associado da Adventist Review e autor de vários livros e artigos. Este artigo faz parte de seu último livro The Wonder of Jesus. Hagerstown, MD: Publicações Review and Herald, 2007. E-mail: AdamsR@gc.adventist.org

Notas e referências

1. Exceto quando indicado diferente, as passagens bíblicas são da Nova Versão Internacional (NVI).

2. Bíblia. Edição João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil (ARA).

3. Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações. 19. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1995. pp. 712-713.

4. Ibid., p. 713.

5. Brigid Schulte. “Virginia Parents Trying to Unadopt Troubled Boy.” Washington Post, Outubro 9, 2006, A1, 11.

6. Lee Strobel. The Case for Faith: A Journalist Investigates the Toughest Objections to Christianity. Grand Rapids: Zondervan, 2000. pp.17, 18.



quinta-feira, 28 de março de 2019

A VERDADE SOBRE AS CURAS MEDIÚNICAS


Pr. George Vandeman

Você se importa com quem o cura? Você viajaria qualquer distância, pagaria qualquer preço para voltar a ficar bom, não importa quem estendesse a mão curativa? Você dirá: “Ora, eu quero viver! Pouco importa quem me cure.” Mas não se importar pode ser perigoso, até fatal.

Tenho dois artigos de jornais. Um, datado de 11 de janeiro de 1978 e recortado do San Francisco Chronicle, com o título: “Os Céticos do Poder da Mente Denominam a Superstição.” E diz: “Se você suspeita que os OVNIs podem ser reais… se você pensa que o Triângulo das Bermudas é um lugar perigoso… se você acredita na leitura da mente… telepatia ou percepção extra-sensorial… se você atende a qualquer dessas crenças, e parece haver milhões de pessoas que fazem isso… Bem, existem alguns cientistas e estudiosos que estão muito preocupados com você. Eles acham que você está sendo enganado e vêem o aumento do culto e do oculto como uma doença do nosso tempo. Para eles, a questão é ciência versus superstição.”

Somente pouco mais de seis anos depois, em 3 de abril de 1984, o Tribune de Oakland, jornal do outro lado da baía de São Francisco, publicou um extenso artigo intitulado: “Os Videntes se Apóiam na Ciência.” O artigo vai até a segunda página e continua no dia seguinte. Trata-se de um artigo que pode ser resumido nestas poucas palavras: “Se a parapsicologia funciona, por que não usá-la?”

Será que estamos a ponto de testemunhar o casamento dos fenômenos psíquicos com a ciência? É possível. Você sabia que a Universidade John F. Kennedy, em Orinda, pouco além das montanhas de Oakland, criou um departamento de parapsicologia?

A parapsicologia tem desejado o tempo todo ser reconhecida como uma ciência, e por essa razão tem mantido em segredo os seus laços com o oculto. Todavia, sua mais forte evidência vem dos médiuns e, sem eles, ela ruiria.

A parapsicologia é o estudo dos fenômenos ocultos e não se consegue aprofundar no estudo desses fenômenos sem entrar na cura mediúnica de alguma forma. Quase todos os médiuns espíritas tem alguma habilidade de cura. As várias formas de cura mediúnica são, na verdade, uma subdivisão da parapsicologia.

Ora, ciência e parapsicologia, ciência e o oculto, medicina ocidental e cura mediúnica, não queriam ter ligação uma com a outra. Mas as coisas estão mudando a despeito do fato de a parapsicologia ainda se considerar uma ciência. Mais e mais médicos estão apoiando a cura psíquica ou mediúnica. A porta está sendo aberta aos poucos até para a bruxaria.

Grande parte dos 1.500 membros da academia de parapsicologia e medicina é composta de médicos, que dão grande parte de sua atenção às pesquisas e curas mediúnicas. Seu presidente, Dr. Robert A. Bradley, é um médium. Ele é o inventor do método Bradley de parto natural, que diz ter sido uma idéia recebida de um de seus espíritos. O propósito principal da academia é integrar a ciência e a medicina ao oculto.

Na Grã-Bretanha, a Federação Mundial dos Curandeiros, com nove mil membros, recebeu autorização do governo para tratar pacientes em 1.500 hospitais no país. Essa mesma federação, composta em grande parte de médiuns assumidos, tem fornecido a colaboração de seus membros à Organização das Nações Unidas.

Dizem que o ex-astronauta, Edgar Mitchell, um entusiasta da parapsicologia, está se esforçando para integrar a cura mediúnica à medicina tradicional. Ele crê que “os curandeiros mediúnicos” podem se tornar adjuntos valiosos nos staffs dos hospitais, nos consultórios e nas clínicas gerais.

Parece haver algo de estranho nesse entusiasmo, pois ele mesmo diz que os poderes da metodologia mediúnica “podem ser tão perigosos quanto a energia atômica”.

Alguns doutores em medicina estão atualmente encaminhando seus pacientes aos médiuns e ocultistas. Há homens como o Dr. Robert Leichtman, por exemplo, que é médico, médium e pesquisador psíquico. Ele diagnostica os pacientes sem vê-los, e admite receber seus diagnósticos do mundo dos espíritos, mas a fama de suas habilidades tem se espalhado rápido entre seus colegas médicos. Por isso, também ele diagnostica várias centenas de casos por ano para eles, com uma precisão acima de 90 por cento. Podemos citar casos e mais casos.

É do conhecimento público que a Dra. Elisabeth Kluber-Ross, a famosa autoridade a respeito da morte, está profundamente envolvida com o oculto, juntamente com seu sócio e amigo, Dr. Raymond Moody, autor do “best-seller” Vida após a Vida. Consta que Kluber-Ross tem cinco espíritos. Salem é o seu preferido.

Sim, as coisas estão mudando. A ciência e a parapsicologia estão pondo de lado as suas diferenças, e a hipnose é agora assunto do dia-a-dia. “Mas espere”, dirá você. “O que há de errado com a hipnose? Ela não tem qualquer ligação com o oculto, tem?” Bem, você decide.

Você já ouviu falar em mesmerismo e magnetismo animal, tão populares no século passado? O transe mesmérico e o espírita são um só. Cada fenômeno oculto encontrado no mesmerismo é encontrado na moderna hipnose. Ambos são espirítas, embora Anton Mesmer, como os parapsicólogos de hoje, preferia identificá-lo com a ciência. Em essência, o hipnotismo moderno é mesmerismo.

Na corrida de Satanás pelo controle da mente dos homens, da vontade e da consciência, é muito natural que o hipnotismo seja um de seus instrumentos preferidos. Ele sabe que a hipnose é uma estrada direta até a mente, e quando uma mente se rende a outra, mesmo que para um propósito aparentemente bom, ele ou um de seus ajudantes podem entrar e assumir o controle.

A porta está aberta. Jamais esqueça que a consciência opera através da mente. Quando a mente está dominada, a consciência também está. Jamais esqueça que, quando a mente tem uma brecha, quando a fechadura é arrombada, nunca mais tornará a ser forte e o problema é que ler rótulos não ajuda muito, pois a hipnose pode se esgueirar sob um rótulo de aparência inofensiva como “Relaxamento Científico”.

Você já ouviu falar no Controle Silva da Mente? Ou da agora extinta dinâmica da mente? Cursos como esses prometiam às pessoas quase tudo. Uma garota insistia: “Além de descobrir que você pode fazer tudo o que quiser, que você é a razão de tudo, também descobre que não pode mais ficar triste e nem mesmo deprimido.” Não é de admirar que as pessoas se inscrevam! Mas o Dr. Elmer Green, um destacado crítico que até já debateu com um desses grupos na televisão, destaca que muitas dessas organizações “ministram um programa de quatro dias de intensa educação hipnótica para fazer as coisas que elas demonstram”.

Você sabe agora por que Salomão, o sábio, nos dá este conselho? “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração (ou seja, a sua mente) porque dele procedem as saídas da vida.” Provérbios 4:23.
E quanto à ioga? Você dirá: “Eu faço ioga, mas isso é apenas um meio de relaxar o corpo e a mente. Não se trata de hinduísmo e não há demônios envolvidos. Portanto, é totalmente segura.” Tem certeza? O objetivo da ioga, diz o pesquisador John Weldon, é “que os dedicados à ioga percebam que ela tem a ver com Brahma, o mais elevado e impessoal deus hindu”.

Os exercícios físicos são designados para preparar a pessoa a receber essa idéia em sua mente e em seu corpo. Ele diz: “A ioga é puro ocultismo e a meditação é o princípio operador da ioga.”

Minhas próprias pesquisas nos últimos 25 anos, tanto na Inglaterra como na América, me levaram a crer que existem tremendos riscos na prática da ioga, pois um simples erro pode produzir insanidade ou morte repentina. O poder demoníaco nunca está distante.

Jesus passou grande parte do Seu tempo curando. Ele passou mais tempo curando do que pregando. Sua compaixão pelo sofrimento humano desconhece fronteiras. Ele não queria que ninguém sofresse. Você não acha óbvio que o inimigo, o anjo caído que está a fim de destruir tudo o que puder, daria a maior prioridade à falsificação da cura? Acredite, ele não perde uma chance!

A cura mediúnica está se tornando mais popular a cada dia. Ninguém quer morrer e, quando a vida está ameaçada, homens e mulheres vão a qualquer lugar. Eles pagam qualquer preço pela promessa de ficar bons novamente.

Existem diagnosticadores mediúnicos que seguem os passos de Edgar Cayce, que foi o primeiro a desenvolver o diagnóstico pela hipnose. Alguns curandeiros obtêm uma precisão próxima da de Cayce. Alguns deles nunca vêem seus pacientes. Outros usam um objeto, como uma vareta ou um pêndulo, em seu diagnóstico, mas o poder não está no objeto; está no operador. O grau de sucesso é proporcional ao grau de envolvimento do curandeiro com o mundo espírita, com o oculto. Muitos deles sabem que os espíritos fazem a cura, mas nem todos querem se identificar como demônio. Eles dizem que a cura vem de seu eu superior.

Você sabia que o próprio Cayce passou a ficar mais preocupado com a natureza da força que operava através dele? Chegou uma época em que ele tinha dúvidas de seus poderes e dizia suspeito: “O diabo podia estar me tentando a fazer seu trabalho operando através de mim quando eu estava presunçoso demais para achar que Deus havia me dado poderes especiais.” Cayce, assim como muitos outros, caiu na cilada. Ele não conseguiu ludibriar nem deter as forças que trabalhavam através dele.

Há uma coisa muito interessante com relação às receitas mediúnicas. Algumas delas contém idéias simples, inofensivas e antiquadas. Outras prescrevem drogas mais recentes, a despeito do curandeiro não ter qualquer curso de medicina, e não saber sequer ler. Ele pode estar simplesmente repetindo o que uma voz está lhe dizendo. Pense sobre isto: algumas dessas receitas mediúnicas podem não funcionar se receitadas por um médico sem vínculo com o oculto e algumas delas podem ser perigosas se receitadas por um médico não mediúnico, mas totalmente inofensivas se receitadas por um curandeiro do oculto.

Certa vez, uma potente droga foi receitada em uma quantidade que mataria uma dúzia de pessoas. Evidentemente, o paciente do curandeiro não sofreu coisa alguma. Tenha em mente que muitas vezes um diagnóstico mediúnico está errado. Aí perde-se tempo e verdadeiros danos são causados. Mesmo quando a cura aparente acontece, geralmente é temporária. Muitas vezes, a doença é simplesmente transferida para outra parte do corpo ou, pior, para a mente!

Seja lá o que se diga, existem curas. O sobrenatural está em ação. Existem inegavelmente milagres de cura. Se você está doente, mesmo em estágio terminal, existem lugares para onde pode ir e ser curado. Porém, você está disposto a pagar o preço? E sabe qual é esse preço?

Uma paciente apareceu à porta de uma curandeira que vinha fazendo afirmações bombásticas por um anúncio de jornal. Ela disse à curandeira que seu médico havia diagnosticado nela uma grave doença no sangue, provavelmente leucemia. A curandeira replicou:

– Eu não sou médica. Eu trato com a mente e uso hipnose. A medicina não tem a cura para leucemia, mas nós temos curado leucemia. Temos curado câncer.

Ela explicou o método que iria usar:

– Empreste-me a sua mente para remover toda a sujeira e deixá-la funcionando adequadamente.

Ela explicou que a mente tinha que ser posta num estado passivo através da hipnose para que pudesse ser limpa de todo o lixo. A mente então purificaria o sangue e o corpo iria funcionar como deveria.

A paciente, na verdade, era uma policial que havia gravado secretamente a conversa. A curandeira foi presa mais tarde. “Empreste-me a sua mente”, havia dito ela. Existem lugares onde você pode ir e ser curado, mas o preço da cura é a rendição da sua mente. Você está disposto a pagar um preço tão alto? Está disposto a se vender para o mundo dos espíritos, para o inimigo do Senhor Jesus Cristo?

Alguns, apesar de claramente alertados, estão prontos a fazer essa tão temerosa troca. Veja o que o cirurgião mediúnico Edivaldo declarou. Ele disse: “Se o diabo pode aliviar a dor, abrir um estômago e remover uma úlcera, eu prefiro o diabo.”

Confesso que algum tempo atrás eu acreditava que todas as cirurgias mediúnicas eram fraudes, realizadas por mãos ágeis, mas sei muito mais agora. Muitas delas são realmente fraudes, talvez a maioria, mas nem todas o são. Algumas são assustadoramente sobrenaturais. A maioria dos cirurgiões mediúnicos é de centros espíritas do Brasil e das Filipinas.

A cirurgia mediúnica é feita sob péssimas condições de higiene e, muitas vezes, com facas sujas ou enferrujadas como instrumentos. Nenhuma anestesia é usada e o cirurgião presta pouca atenção ao seu trabalho. Isso ocorre porque um espírito está ali. Todos os curandeiros sabem disso e admitem abertamente que nada poderiam fazer sem os espíritos.

A cirurgia, o diagnóstico e a cura espíritas estão indo para outros países como Austrália, Canadá e Estados Unidos. Essa é a cura que você quer? Você está disposto a pagar o preço de uma escravidão ao oculto da qual somente o Senhor Jesus Cristo poderá libertá-lo?

Atualmente, ouvimos muito a respeito da medicina holística e o conceito de tratar a pessoa como um todo, do envolvimento do paciente em seu próprio tratamento, da medicina preventiva, etc. Isso tudo é muito bom. Jesus tratava a pessoa como um todo e durante muitos anos antes de se ouvir falar em medicina holística, o lema e o alvo da Faculdade de Medicina da Universidade em Loma Linda, CA, tem sido: “Tornar o Homem Completo”.

Os Adventistas do Sétimo Dia têm promovido há muito tempo esse conceito. Porém, com a medicina holística que tem sido vendida hoje, é preciso ter cuidado. É preciso discernimento. Temos que saber distinguir entre o que é seguro e o que não é. Algumas das ciladas da cura mediúnica já foram filtradas dentro da medicina holística e algumas coisas boas estão em má companhia agora.

Vejamos o biofeedback, por exemplo. Sem dúvida não há nada errado com a máquina, com as funções de um corpo, mas o problema é que muitos dos operadores de feedback estão envolvidos com o oculto.

De fato, a pesquisa do Dr. Elmer Green indica que a percepção extra-sensorial e os fenômenos paranormais às vezes ocorrem em todos os tipos de experimentos de biofeedback, a despeito de não serem os objetivos do treinamento. Qual o tamanho da influência do misticismo oriental e do oculto no movimento da saúde holística? É assustador. Parece que o movimento como um todo está dominado, controlado por filosofias completamente incompatíveis com o cristianismo, e mesmo assim continua crescendo.

Quase todas as técnicas holísticas estão repletas de implicações sutis, ou não tão sutis, que têm a sua origem no oculto. Muitas dessas técnicas são designadas para produzir estados alterados de consciência. É evidente que muitos praticantes holísticos dependem de estados de transe ou de outros estados alterados de consciência para fazer seus tratamentos funcionarem. As energias que eles buscam receber e passar aos seus pacientes são as mesmas velhas energias do oriente – perigosas ao extremo!

Ao que parece, poucos centros holísticos por todo o mundo escaparam do envolvimento com o oculto. A literatura deles revela isso. É só olhar. Os cursos que eles ministram denunciam isso. Calcula-se que provavelmente 80 a 90 por cento das palestras feitas a respeito da saúde holística apoiam o oculto de um modo ou de outro. Você pode ver que o médico a quem cofiamos nossas consultas, nosso tratamento de saúde, torna-se vitalmente importante.

Sem dúvida, seria injusto presumir que um médico está individualmente envolvido com o oculto só porque muitos de seus colegas estão. Por outro lado, chegou o momento de extrema cautela.

Ora, você pode estar dizendo: “Tudo isso é muito assustador.” Mas enquanto você não se conscientizar que os anjos do mal estão ao nosso redor num mundo invisível, e que estão batalhando pelo controle de nossa mente, não terá entendido. É mais do que apenas assustador. Esses agentes de satanás, se puderem, desviarão nossa mente, a porão em desordem e atormetarão nosso corpo, destruirão nossa saúde, nossos bens e nossa vida. Eles tentarão usar tudo de bom e de ruim para conseguirem a nossa total destruição! Por outro lado, o Senhor Jesus fará tudo o que puder para nos salvar. Ele é mais forte que o inimigo e mandará todos os anjos do Céu em nosso socorro, mas não nos deixará ficar sob o poder do inimigo contra a nossa vontade. Temos que pedir essa ajuda. Ela não nos será negada.

Você e eu, neste exato momento, com nossa própria permissão, estamos sob o controle de um poder ou de outro, mas a escolha é nossa!

Maravilhoso Jesus! O que temos aprendido sobre o inimigo apenas nos faz amar mais a Jesus, pois a beleza do Seu caráter, em contraste, se destaca como uma estrela brilhante contra a noite escura! Você está deixando cada ataque inimigo aproximá-lo mais do Salvador e aprofundar o seu relacionamento com Ele? Espero que sim, pois somente em Suas mãos qualquer um de nós está seguro.




quarta-feira, 27 de março de 2019

BEBER PARA ESQUECER


Ozeas C. Moura* 

Provérbios 31:6 e 7 ensina que pessoas amarguradas podem beber vinho para esquecer sua pobreza e fadiga?

O capítulo 31 de Provérbios apresenta o consumo de vinho como algo negativo: essa bebida entorpece a mente das autoridades, fazendo-as se esquecerem da lei e perverterem o direito (Pv 31:4, 5). E aquilo que prejudica a mente das autoridades deve também prejudicar a mente das demais pessoas.

No entanto, como uma exceção, é dito para se dar bebida forte “aos que perecem e vinho aos amargurados de espírito” (Pv 31:6). Esse verso bíblico tem sido empregado para justificar a ingestão de bebidas alcoólicas por prazer ou como antídoto contra o estresse do dia a dia e as mágoas que, vez por outra, se abatem sobre todos. Estaria ele justificando a ingestão de bebidas alcoólicas, como beber socialmente ou “para esquecer”? Outros pensam que esse verso bíblico permite o uso de bebidas embriagantes apenas para doentes em fase terminal, como antídoto contra a dor e as angústias advindas de uma situação extrema. Afinal, nos tempos bíblicos, esse era o costume, visto que em Israel não se usavam as modernas drogas (morfina, por exemplo) contra a dor.

A palavra “vinho” em Provérbios 31:6 é yayin e é empregada tanto em sentido de algo bom, recomendável (cf. Sl 104:14, 15), quanto em sentido mau, reprovável (Pr 23:31; 31:4). Somente o contexto de um verso bíblico pode lançar luz se “vinho” seria alusão a suco de uva não fermentado ou ao suco já fermentado e transformado em bebida embriagante.

O significado de “vinho” nessa passagem pode ser explicado pela palavra shekar, presente no mesmo verso e traduzida como “bebida forte”, bebida fermentada – sempre apresentada em sentido negativo todas as vezes em que aparece no Antigo Testamento. Vê-se que “vinho” (yayin) está em paralelo sinônimo com “bebida forte” (shekar) e deve ser vinho embriagante. Note o paralelismo: Dai bebida forte (shekar) aos que perecem e vinho (yayin) aos amargurados de espírito.

Deve-se notar ainda que a expressão “os que perecem” está em paralelo sinônimo com “os amargurados de espírito”, uma lançando luz sobre a outra. Ou seja, os “amargurados de espírito” são os mesmos “que perecem”. E essas expressões apontam para alguém que está morrendo, em fase terminal, ao qual deviam ser dadas bebidas embriagantes para alívio da dor e da angústia. Esse verso não está absolutamente permitindo bebidas embriagantes a pessoas sadias, que não estejam passando por situações extremas, nem correndo risco de morte iminente.

Com respeito às bebidas alcoólicas, sejam elas feitas do suco de uva fermentado ou de algum cereal, como a cevada, o melhor que alguém deveria fazer é abster-se totalmente. A verdade é que nunca se sabe até onde irá alguém que ingeriu o primeiro gole. Na dúvida, não prove. Siga o conselho paulino: “Não vos embriagueis com vinho […], mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). A embriaguez começa com a primeira dose.

*OZEAS MOURA, doutor em Teologia, com especialização em Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)



domingo, 24 de março de 2019

A CRENÇA CATÓLICA DA TRANSUBSTANCIAÇÃO É BÍBLICA?


Ricardo André

Pouco antes de Sua crucificação Jesus institui a Santa Ceia ao término da refeição pascoal preparada pelos Seus discípulos (Mt 26:17-30; Mc 14:12-26; Lc 22:7-23). Dois elementos constituem este rito: O pão sem fermento e cálice com o suco da videira. Jesus explicou nitidamente que o pão era Seu corpo e o cálice, Seu sangue. E os discípulos foram ordenados a “comerem” seu corpo (e a beberem o cálice). O evangelho de João, capítulo 6, fala de comer a “carne” e beber o “sangue” de Cristo. Esta cerimônia recebe, hoje, o nome de Santa Ceia pela maioria das igrejas evangélicas, para indicar a origem da cerimônia; de Eucaristia, pela Igreja Católica, que enfatiza a ação de graças pelas boas dádivas de Deus. Outras igrejas cristãs chamam-na de comunhão, para indicar a comunhão com Cristo.

Segundo a crença católica, após o padre consagrar a hóstia (pão) e o vinho, esses elementos sofrem uma “mudança substancial”, transformando-se literalmente no corpo e sangue de Jesus, embora eles continuem a parecer, a ter gosto, e a cheirarem como pão e vinho comuns. Essa doutrina é chamada de “transubstanciação”, termo que começou a ser adotado somente “no início do século 12” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 667). Tal crença tem sustentação bíblica? O que realmente queria Jesus dizer com as expressões “Isto é o meu corpo” e “Isto é o Meu sangue”?

A origem da crença

A doutrina da transubstanciação não foi instituída por Cristo ou pelos apóstolos, mas surgiu das resoluções do IV Concilio Latrão, em 1215 de nossa era.

O referido Concílio decretou: “‘Seu corpo e sangue estão realmente contidos no sacramento do altar, sob a espécie de pão e vinho, sendo o pão transubstanciado no corpo, e o vinho no sangue, pelo poder de Deus’ (decreto I; Leith, 58). Tomás de Aquino (1225-1274) afirmou que, de serem consagrados, já não eram pão nem vinho: o corpo de Cristo, que não estava presente antes da consagração, tomava-lhes o lugar. Pelo poder de Deus, toda a substância do pão se convertia em toda a substância do corpo de Jesus, uma conversão ‘apropriadamente chamava de transubstanciação’ (Suma Teológica, 3ª.75.2, 4).

“A transubstanciação era, portanto, a posição católica romana ortodoxa. Foi apresentada oficialmente pelo Concílio de Trento: ‘Este santo sínodo declara novamente que, pela consagração do pão e do vinho, se opera a conversão de toda substância do vinho na substância do Seu sangue. A essa mudança, a Igreja Católica denomina, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação” (13ª seção, cap. 4)’” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 667) Esse decreto do Concílio de Trento é mencionado no Catecismo da Igreja Católica, Edições Loyola, SP: 2000, p. 380).

O Catecismo da Igreja Católica, citando São Cirilo, declara: “Não pergunte se é ou não verdade; aceita com fé as palavras do Senhor, porque ele, que é a verdade, não mente” (p. 381).

O Catecismo acrescenta que porque os elementos são transformados no corpo e no sangue de Cristo, é conveniente se envolver na “adoração da eucaristia” (Catecismo... 1378), que é o “culto de adoração” (Catecismo... 1418). Como esses elementos se tornam (supostamente) no corpo e o sangue de Jesus, adorar a Eucaristia é adorar Jesus. Na verdade, adorar a Eucaristia leva à idolatria. Adorar Jesus é bom mas adorar o pão e o vinho, como se fossem Jesus, é errado. Deus é espírito e devemos adorá-Lo em espírito (João 4:24). Não devemos adorar coisas criadas.

O sentido real das expressões “Isto é o meu corpo” e “Isto é o Meu sangue”

A crença na transubstanciação resulta de uma equivocada interpretação literal das palavras de Jesus. Que não devemos interpretar literalmente as palavras de Jesus Cristo: “Isto é o meu corpo” e “Isto é o Meu sangue”, evidencia-se pelo seguinte:

1) De acordo com o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, “o verbo "é" na frase “isto é o Meu corpo” é usado no sentido de “representar” (como em Mc 4:15-18; Lc 12:1; Gl 4:24)” (v. 5. P. 562). Tanto no Antigo como no Novo Testamento são empregadas figuras, metáforas e comparações que não podem ser interpretadas ao pé da letra. Por exemplo: "O Senhor Deus é Sol e escudo" (Sal. 84:11); "Tu [Senhor] és a minha rocha e a minha fortaleza" (Sal. 31:3); "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (João 1:29); "Eu sou a porta " (Jo 10:9); "Eu sou a videira verdadeira" (Jo15:1); "Nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão" (I Co10:17); "Este cálice é a nova aliança no Meu sangue" (I Co 11:25); "Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia" (Lc 12:1). Todas essas expressões são figuradas e não podem ser interpretadas literalmente. O mesmo sucede com o pão e o vinho, os quais são figuras ou símbolos do corpo e do sangue de Jesus Cristo.

2) Segundo é confirmado pela vista e o paladar, o pão e o vinho, após a consagração, se mantêm imutáveis. As dimensões, a cor, a forma, o gosto etc. são os mesmos que antes do ato sacramental. Como disse com acerto um teólogo, “a transubstanciação, para ser verdadeira, exigiria a transacidentação, isto é, a mudança de substância acarretaria a mudança das qualidades.”

3) Cristo não disse que o pão era a Sua carne, e, sim, que era o Seu corpo (Mt 26:26 e I Co 11:24). Sendo assim, para que se confirmasse a interpretação literal, os elementos do altar deviam assumir a forma corporal de Cristo, o que não sucede, porém.

4) Um objeto ou corpo material não pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. O pretenso milagre da transubstanciação ocorre milhares de vezes, no mesmo instante, em todas as localidades em que é celebrada a missa. Para ser autêntico, é necessário que sejam "criados" ao mesmo tempo milhares de corpos reais de Cristo - o que é uma deturpação dos ensinos da Palavra de Deus e se afasta dos mais elementares princípios da lógica e do bom senso.

5) Se por ocasião da Santa Ceia, que nosso Senhor Jesus Cristo celebrou com os Seus discípulos (Mt 26:26-30), o pão e o vinho se transformaram literalmente no Seu corpo, temos de chegar à "conclusão absurda" de que Ele ingeriu a própria carne e o próprio sangue, e que em dado momento teriam estado presentes no cenáculo dois Cristos reais e completos: O que estava sobre a mesa, depois da consagração do pão e do vinho - o qual devia ser ingerido pelos discípulos, - e O que Se achava diante deles, ministrando-lhes a Ceia. Semelhante interpretação é um verdadeiro absurdo!

6) Deus proibiu beber sangue (Gn 9:4 ; Dt. 12:16; Lv 7:26). Se o vinho se transformasse realmente no sangue de Cristo, seria pecado tomá-lo. E comer a carne literal de Jesus seria um ato de canibalismo.

7) À doutrina da transubstanciação se associa a ideia de que Cristo é oferecido outra vez como sacrifício pelos nossos pecados. Nesse sentido, a celebração memorial da Ceia do Senhor, em que os fiéis recordam os sofrimentos e a propiciação da cruz, é transformada em ato criador e sacerdotal, pelo qual o próprio Cristo, reencarnado, de novo Se sacrifica.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que “neste divino sacrifício que se realiza na missa, este mesmo Cristo, que se ofereceu a si mesmo uma vez de maneira cruenta no altar da cruz, está contido e é imolado de maneira incruenta, este sacrifício é verdadeiramente propiciatório” (p. 377).

Isto contradiz o claro ensino das Escrituras, de que o sacrifício de Jesus foi perfeito e completo, tendo sido realizado uma vez por todas. Hebreus declara: “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus” (Hb 10:10 e 12). Então, a crença católica romana de que comer a “carne” de Cristo é parte das celebrações em que Cristo é sacrificado vez após vez novamente, não tem respaldo bíblico. A Santa Ceia não é um a repetição do sacrifício de nosso Salvador, e, sim, uma lembrança ou recordação do que Ele efetuou no Calvário (I Co11:24 26). O serviço da comunhão do Novo Testamento era um memorial da morte de Cristo (“fazei isso... em memória de mim” – 1 Co 11.25); não era uma reconstituição da morte física de Cristo, como católicos romanos afirmam.

Ao celebrá-la, os cristãos se reúnem em obediência ao mandamento de Cristo, rendem graças pelo sacrifício que Ele cumpriu em benefício deles e renovam os propósitos de união com o Senhor. Os emblemas do pão e o vinho devem ser encarados com respeito, quando separados para um santo propósito, mas não têm virtude em si mesmos, para conferir graça aos que participam deles. A Santa Ceia é a comunhão a que Cristo está espiritualmente presente; e onde há verdadeira fé, a morte de Cristo se apresenta figuradamente e Ele é apreendido pelo crente através da fé e de maneira celestial ou espiritual.

Que significa comer a carne e beber o sangue do divino Mestre, segundo as palavras de Jo 6:53-58? Essas expressões devem ser interpretadas de acordo com a própria explanação dada por Jesus: “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos tenho dito, são espírito e são vida." v. 63.

Portanto comer a carne de Cristo e beber o Seu sangue é uma linguagem simbólica aplicável à assimilação da Palavra de Deus, por meio da qual os crentes mantém comunhão com o Céu e se habilitam a desenvolver uma vida espiritual. Ele afirmou: ‘As palavras que que Eu vos tenho dito, são espírito e são vida’ (S. Jo 6:63) ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca Deus’ (Mt 4:4).

“Os crentes alimentam-se de Cristo, o Pão da vida, ao participarem da Palavra da vida – a Bíblia. Com esta palavra vem o poder vivificador de Cristo. Nos serviços da Comunhão também participamos de Cristo ao assimilarmos Sua Palavra por intermédio do Espírito Santo. Por isso a pregação da Palavra acompanha cada cerimônia da Ceia do Senhor” (Nisto Cremos: 27 Ensinos Bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia, 4ª ed., CPB, SP: 1997, p. 273).

A Sra. Ellen G. White amplia esse conceito ao afirmar: "Comer a carne e beber o sangue de Cristo é recebê-Lo como Salvador pessoal, crendo que Ele perdoa nossos pecados, e nEle estamos completos. É contemplando o Seu amor, detendo-nos sobre Ele, sorvendo-O, que nos havemos de tornar participantes de Sua natureza. O que a comida é para o corpo, deve Cristo ser para a alma. O alimento não nos aproveita se o não ingerimos; a menos que se torne parte de nosso corpo. Da mesma maneira Cristo fica sem valor para nós, se O não conhecemos como Salvador pessoal. Um conhecimento teórico não nos fará bem nenhum. Precisamos alimentar-nos dEle, recebê-Lo no coração, de modo que Sua vida se torne nossa vida. Seu amor, Sua graça, devem ser assimilados.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 289).

Ademais, quando Jesus falava, em João capítulo 6, Ele ainda não tinha tido a Última Ceia com Seus discípulos, na qual Ele instituiu a Ceia do Senhor. Compreender João capítulo 6 como sendo a Ceia do Senhor/Comunhão Cristã, portanto, não se justifica. Como John Walvoord notou, “uma vez que a Ceia do Senhor ocorreu um ano depois que os incidentes registrados neste capítulo, comer sua carne e beber seu sangue não deve ser pensado como sacramentalismo” (The Bible Knowledge Commentary, vol. 2, p. 297).

Participando conscienciosamente da Ceia do Senhor, reconhecemos ser o Senhor Jesus toda a nossa suficiência, de que o pão e o vinho constituem um emblema, símbolo ou figura, bem como conforme ensinou claramente o apóstolo Paulo aos coríntios, a celebração da Ceia do Senhor proclama a morte do senhor até que Ele venha (I Co 11:26). A participação nos emblemas do sofrimento de Cristo é um ato da proclamação da certeza da segunda vinda.



quinta-feira, 21 de março de 2019

A BATALHA DO ARMAGEDOM, QUANDO OCORRERÁ?


Ricardo André

INTRODUÇÃO

“Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs. São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso. "Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha". Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom” (Apocalipse 16:13-16, NVI).

Aqui temos uma das grandes profecias apocalípticas, que não muito longe terá seu cumprimento na história. Esses versículos fala que da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta saiam três espíritos imundos, que são espíritos de demônios. No qual todos juntos vão ao encontro dos reis de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo poderoso, que levará ao fim desse mundo. O verso 16 chama essa batalha de Armagedom.

Essa palavra “Armagedom” é usada uma única vez em toda a Bíblia. Porém, este nome tem estimulado a imaginação da humanidade. Esta palavra tem levado muitas organizações religiosas e até mesmo muitos líderes políticos mundiais a interpretar de forma equivocada esta batalha. Esta já foi associada algumas vezes aos desastres econômicos das nações, bem como a destruição da humanidade causada por uma terceira guerra mundial termonuclear. Uma vez que já ocorreram duas guerras mundiais, e o texto bíblico fala que nesse confronto estarão envolvidos os “reis do mundo inteiro” (verso 14), muitos imaginam que o Armagedom só poderá ser essa guerra. Por mais fascinante e lógica que essa ideia possa parecer, ela não passa de uma teoria especulativa, sem base bíblica.

Muitas igrejas evangélicas acreditam que o Armagedom será uma batalha literal. Elas relacionam com a antiga cidade de Megido, no norte da Palestina, local de muitas batalhas decisivas nos tempos bíblicos, e os líderes religiosos dessas igrejas, portanto, tem especulado que a derradeira guerra na Terra ocorrerá naquela região limitada. Ensinam que logo depois da Tribulação e antes do Milênio, acontecerá o Aparecimento Glorioso de Jesus Cristo. O anticriso, o falso profeta e o próprio Satanás inspirarão os exércitos de todo o planeta para invadir a região da Palestina a fim de eliminar todos os judeus do mundo e também para lutar contra Jesus Cristo. Neste respeito estão muito longe da verdade.

A busca do significado do Armagedom suscita claramente algumas questões vitais. O que é o Armagedom? Se for uma batalha, que serão os participantes? Será uma batalha literal ou espiritual? Por que será travada? E quando ocorrerá o Armagedom?

O QUE É O ARMAGEDOM?

De acordo com o Comentário Bíblico Adventista, Armgedom, do grego Harmageddon, é derivada de duas palavras do hebraico: ar/har, que pode ser “cidade” ou “montanha”; e –magedom, que significa “cidade de Megido” ou “Monte de Megido” (1Rs 9:15; 2Cr 35:22; Zc 12:11), bem como “lugar de congregação” (Lm 1:15; 2:6). (v. 7, p. 937, 938).

“Megido não era um monte, mas uma cidade-fortaleza localizada no vale de Jezreel (ou planície de Esdrelão), no sopé da cordilheira do monte Carmelo, e era também um importante lugar estratégico. A planície foi o local de muitas batalhas decisivas (veja Jz 5:19; 6:33; 2Rs 9:27; 23:29, 30). O Apocalipse usa esse contexto para descrever essa batalha entre Cristo e as forças do mal, chamada de Armagedom. Os povos do mundo são descritos como um exército unificado, sob a liderança da aliança satânica.


 “O “Monte de Megido” parece ser uma alusão ao monte Carmelo, que se eleva acima do vale no qual a antiga cidade de Megido estava localizada. O Monte Carmelo foi o local de um dos maiores confrontos da história de Israel entre o verdadeiro profeta de Deus (Elias) e os falsos profetas de Baal (1 Rs 18). Esse confronto respondeu à pergunta: “Quem é o verdadeiro Deus?”. O fogo que veio do Céu demonstrou que o Senhor era o único Deus verdadeiro e o único a ser adorado” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trim. 2019, p. 143).

Portanto insistimos em dizer: o Armagedom não será uma batalha militar literal entre as nações do Oriente Médio, como creem os evangélicos. O texto do Apocalipse deixa claro que o termo está relacionado com “a batalha do grande dia do Deus Todo-poderoso” (16:14). Logo, o Armagedom é a última batalha do grande conflito entre Cristo e Satanás. É o último ato do drama milenar da luta entre o bem e o mal, entre Cristo e Satanás, com seus anjos e sequazes humanos; entre a verdade e o erro. É o conflito final da segunda vinda de Cristo, no qual Satanás e sua confederação lutarão contra Cristo e Sua hoste angélica. O desfecho será como foi no monte Carmelo: a vitória de Deus sobre as forças das trevas.

QUEM SERÃO OS PARTICIPANTES?

Apocalipse 16:13 e 14 introduzem algumas das forças envolvidas que estarão aliadas a Satanás neste esforço final para destruir o povo de Deus, Sua Igreja e Sua vontade: O dragão, a besta e o falso profeta. Num sentido primário, o dragão é Satanás. Mas aqui ele atua por meio do espiritismo, o paganismo e todas as práticas relacionadas com o ocultismo. A besta representa o papado ou o sistema romano católico. O falso profeta é uma referência ao protestantismo apóstata e os Estados Unidos da América do Norte, uma vez que se converterá numa potência perseguidora, conforme a profecia apocalíptica (Ap 13:11-18). Estes são os três poderes terríveis que se aliarão sob a direção do príncipe das trevas.

Essas três entidades religiosas estarão unidas no tempo do fim para lutar contra Deus Todo-poderoso na pessoa de Seus filhos fiéis. Procurarão sobretudo impor o sinal da besta (Ap 13:16), e decretarão a perseguição e a morte contra o remanescente fiel. Para isto contarão com o apoio dos reis da Terra, os poderes civis, os Estados, com o que se tornarão obrigatórias suas imposições religiosas.

“Todos os que não possuem o espírito da verdade se unirão sob a liderança de agentes satânicos. Mas devem ser mantidos sob controle até chegar o tempo para a grande batalha do Armagedom” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 1080).

Por trás dos homens que dirigem cada uma dessas instituições, as Sagradas Escrituras dizem que haverá “espíritos imundos”, que “são espíritos de demônios”, os quais formarão uma aliança e irão aos diferentes governos para persuadi-los a tomar parte nessa tremenda “batalha daquele grande dia de deus Todo-poderoso”.

“[...] Antes que as pragas sejam derramadas, em Apocalipse 13:13, 14 descreve-se a besta da terra fazendo descer fogo do Céu para enganar o mundo, levando a pensar que seja obra de Deus a falsificação de satanás, que incluirá falsos reavivamentos guiados por outro espírito” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trim. 2019, p. 143). Portanto, Satanás habilitará os EUA, representado pela besta semelhante ao cordeiro a realizar sinais milagrosos, que incluem manifestações espiritualistas a fim de convencer o mundo a segui-lo, em vez de seguir o Deus verdadeiro.

Ellen White afirmou: “Assim como Satanás influenciou Esaú a marchar contra Jacó, instigará os ímpios a destruírem o povo de Deus no tempo de angústia” (O Grande Conflito, p. 618).

“O mesmo espírito despótico que noutras eras tramou contra os fiéis há de tentar extirpar da face da Terra os que temem a Deus e obedecem à Sua lei. Satanás há de incitar a indignação contra uma minoria que conscienciosamente se recusa a aceitar costumes e tradições populares. Homens de destaque e reputação hão de associar-se aos que são adversos à lei e aos maus, a fim de tomarem conselho contra o povo de Deus. [...] Juízes perseguidores, pastores e membros de igreja, hão de conspirar contra eles” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 2, p. 150).   

Nesta guerra, de um lado estarão Satanás e os demônios instigando os reis de toda a terra, a Nação Americana, o protestantismo apostatado, o Catolicismo romano e o espiritismo à destruir o fiel povo de Deus. No lado oposto estarão Deus, um enorme exército de forças espirituais invisíveis (os anjos), liderado pelo Rei Jesus Cristo, os justos que sustentam e defendem a verdade e o bem, e professam lealdade a Cristo e a Sua santa lei.

Nesta guerra não haverá neutralidade. “Aquele que não está comigo, está contra mim; e aquele que comigo não ajunta, espalha”, disse Jesus. (Mateus 12:30, NVI).

Descrevendo o tremendo alcance deste conflito, o profeta João diz: “Guerrearão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; e vencerão com ele os seus chamados, escolhidos e fiéis” (Apocalipse 17:14, NVI). E outra vez: “Então vi a besta, os reis da terra e os seus exércitos reunidos para guerrearem contra aquele que está montado no cavalo e contra o seu exército” (Apocalipse 19:19, NVI).

Tão tremenda será esta conflagração que não fosse o fato de que Deus envia Seus poderosos anjos para proteger o Seu povo, este seria varrido da face da Terra. Descrevendo esse futuro conflito, o profeta Joel diz: “Faze descer os teus guerreiros, ó Senhor!” (Joel 3:11, NVI).

ONDE SE TRAVARÁ ESSA GUERRA?

Visto que o termo “Armagedom” vem do hebraico que significa “Monte do megido”, os evangélicos dispensasionalistas concluem que essa guerra será travada no Oriente Médio, por conta de que a uns 100 km a noroeste de Jerusalém, numa colina, havia uma cidade chamada Megido (Js 17:11). Essa antiga cidade (não um monte, nunca existiu esse monte ali) ficava sobranceira ao “vale plano de Megido” (2Cr 35:22). De fato, aquela região foi palco de batalhas decisivas. Por exemplo, foi ali que Deus habilitou o juiz Baraque a desferir um golpe esmagador contra o rei cananeu Jabim e suas forças militares comandada por Sísera (Jz 4:12-24; 5:19, 20). Naquela região, Gideão e seu pequeno Grupo derrotaram os midianitas (Js 7:1-8:33). Os reis Acaziais e Josiais também foram mortos ali (2Rs 9:27; 23:29, 30).

Mas, isso não quer dizer que o Armagedom travar-se-á unicamente no Oriente Médio. Considerando a natureza espiritual da guerra, não somente o Oriente Médio, mas toda a Terra será o cenário desta última batalha. Não corresponde a um determinado lugar geográfico conhecido, podendo ser tomado melhor como um vocábulo simbólico usado pelas Escrituras, não para referir-se a um definido ponto do mundo, mas a uma batalha de caráter mundial, no grande dia de Deus.  A Bíblia Sagrada revela que os três terríveis poderes que se unirão muito em breve “vão aos de toda a Terra, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-poderoso” (Ap 16:14), numa clara evidência que o Armagedom ocorrerá no mundo inteiro. Até porque seria fisicamente impossível reunir todos os exércitos do mundo num campo de batalha.

QUANDO OCORRERÁ O ARMAGEDOM?

Esta tremenda batalha se dará imediatamente antes que Cristo volte pela segunda vez como ladrão à noite. Começa sob à sexta praga e termina sob a sétima. Por isso, em Ap 16:15, está dito: “Eis que venho como ladrão”.
Escreveu Ellen White: “Necessitamos estudar o derramamento da sétima praga. Os poderes do mal não darão por encerrado o conflito sem uma peleja. Mas a Providência divina tem uma parte a desempenhar na batalha do Armagedom. Quando a Terra for iluminada com a glória do anjo de Apocalipse 18, os elementos religiosos, bons e maus, despertarão de seu sono, e os exércitos do Deus vivo entrarão em combate” (CBA, v. 7, p. 1099).

Sim, o Armagedom ocorrerá quando se desenvolver determinada situação que afetará o povo de Deus em toda a Terra, a exemplo do decreto dominical, que tornará obrigatória a guarda do domingo, que resultará na perda da liberdade dos fieis de Deus. Tal decreto será iniciativa dos EUA (Ap 13:11-18). Ellen G. White escreve que as nações de todo o mundo seguirão o decreto dos EUA: “Quando a América, o país da liberdade religiosa, se aliar com o papado, a fim de dominar as consciências e impelir os homens a reverenciar o falso sábado, os povos de todos os demais países do mundo hão de ser induzidos a imitar-lhe o exemplo” (Testemunhos Seletos, v. 2, 373). Nesse tempo, as nações do mundo serão iludidos pela Babilônia mística de que esse povo precisa ser eliminado porque não santifica o domingo.

"Por um curto período de tempo, as instituições religiosas unidas dominam os governos mundiais, arrojando sua fúria contra os santos (Ap 17:6; 13:15-17). Mas o secamento do rio Eufrates (Ap 16:12) descreve simbolicamente o tempo em que os poderes seculares/políticos que apoiaram a meretriz Babilônia voltam-se contra ela e a destroem (Ap 17:16) Deus salva da destruição Seu remanescente do tempo do fim (Ap 17:14). Após a queda de Babilônia, os poderes seculares mundiais encontram seu fim na segunda vinda de Jesus Cristo (Ap 19:17-21)" (Lição da Escola Sabatina, 1º Trim. 2019, p. 161).

A intervenção de Deus. “Quando a proteção das leis humanas for retirada dos que honram a lei de Deus, haverá, nos diferentes países, um movimento simultâneo com o fim de destruí-los. Aproximando-se o tempo indicado no decreto, o povo conspirará para desarraigar a odiada seita. Resolver-se-á dar em uma noite um golpe decisivo, que faça silenciar por completo a voz de dissentimento e reprovação.

“O povo de Deus – alguns nas celas das prisões, outros escondidos nos retiros solitários das florestas e montanhas – pleiteia ainda a proteção divina, enquanto por toda parte grupos de homens armados, instigados pelo exército de anjos maus, estão se preparando para a obra de morte. É então, na hora de maior aperto, que o Deus de Israel intervirá para o livramento de Seus escolhidos. …

“Com brados de triunfo, zombaria e imprecação, multidões de homens maus estão prestes a cair sobre a presa, quando, eis, um denso negror, mais intenso do que as trevas da noite, cai sobre a Terra. Então o arco-íris, resplandecendo com a glória do trono de Deus, atravessa os céus, e parece cercar cada um dos grupos em oração. As multidões iradas subitamente se detêm. Silenciam seus gritos de zombaria. É esquecido o objeto de sua ira sanguinária. Com terríveis pressentimentos contemplam o símbolo da aliança de Deus, anelando pôr-se ao amparo de seu fulgor insuperável.

“É ouvida pelo povo de Deus uma voz clara e melodiosa, dizendo: “Olhai para cima” (Lucas 21:28); e, levantando os olhos para o céu, contemplam o arco da promessa. As nuvens negras, ameaçadoras, que cobriam o firmamento se fendem e, como Estêvão, olham fixamente para o céu, e veem a glória de Deus, e o Filho do homem sentado sobre o Seu trono” (O Grande Conflito, p. 635 e 636).

Acontecimentos sobrenaturais por ocasião da intervenção de Deus. A visão do sexto selo de Apocalipse apresenta diante de nós a mesma cena de acontecimentos sobrenaturais que ocorrerão em virtude da direta intervenção de Deus nos assuntos finais e nos últimos momentos da história (O Grande Conflito, p. 635-652), horas antes da gloriosa vinda de Cristo, João viu que “o céu se recolheu como um livro que se enrola; e todo monte e toda ilha foram removido de seu lugar” (Ap 6:14). Quando o sétimo anjo derrama a sua taça, ouve-se uma voz do Céu, dizendo: “Está feito”. Segue-se então relâmpagos, vozes, trovões e um terremoto gigantesco, o maior da História (Ap 16:17, 18).

Amigo, pense sobre o dia que Jesus Cristo atravessará o céu do ocidente. Medite nisso muitas vezes e deixe que isto lhe dê algo pelo que viver. Pode haver algo mais emocionante para se       contemplar? “Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que, à distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso vencedor. Agora, não como “Homem de dores”, para sorver o amargo cálice da ignomínia e miséria, vem Ele vitorioso no Céu e na Terra para julgar os vivos e os mortos. “Fiel e verdadeiro”, Ele “julga e peleja em justiça.” E “seguiram-No os exércitos no Céu”. Apoc. 19:11 e 14. Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável multidão, acompanham-No em Seu avanço. O firmamento parece repleto de formas radiantes – milhares de milhares, milhões de milhões. Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor. “A Sua glória cobriu os céus” e a Terra encheu-se do Seu louvor. E o Seu resplendor era como a luz.” Hab. 3:3 e 4. Aproximando-se ainda mais a nuvem viva, todos os olhos contemplam o Príncipe da vida. Nenhuma coroa de espinhos agora desfigura a sagrada cabeça, mas um diadema de glória repousa sobre a santa fronte. O semblante divino irradia o fulgor deslumbrante do Sol meridiano. “E no vestido e na Sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis e Senhor dos senhores.” Apoc. 19:16” (O Grande Conflito, 636 a 642).

A grande Babilônia, o símbolo de um mundo apóstata, recebe agora o seu julgamento. Ilhas desaparecem, montanhas não se acham, pedras pesando de 25 a 50 kg caem do céu. E quando estas tremendas calamidades da natureza estavam ocorrendo como uma indicação da terrível presença de Deus para livrar os santos, os ímpios ficaram aterrorizados (Ap 6:15-17).

Em meio de toda conflagração, terá lugar a ressurreição dos que morreram em Cristo. “Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem.  Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada: "Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi!" (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 644). Quando os santos que dormem forem despertados para a imortalidade, e os santos vivos tomados para encontrar o Senhor nos ares, os ímpios que recusaram a salvação fugirão aterrorizados, tão-somente para serem destruídos “com o resplendor de Sua vinda” (Ts 2:8). Que cena de vitória e tragédia – vitória para os santos, tragédia para o pecadores!

Caro amigo leitor, eu quero estar lá, e sei que você também quer. Deus nos ajude a estarmos preparados para aquele grande dia.