Teologia

segunda-feira, 31 de julho de 2017

A QUESTÃO DA JUSTIFICAÇÃO: DOM GRATUITO DE DEUS



Pr. Gilberto Theiss*

(Gl 2:20) - Quando olhamos para nós mesmos o que encontramos? O que seria de nós caso Cristo desistisse da cruz? Será que ao menos estaríamos vivos aqui hoje lendo esta nota? É assombroso compreender o que Deus foi capaz de fazer por este mundo perdido. O amor de Deus é um mistério glorioso, mesmo para os seres que estão diante de Seu trono. Não há palavra em nosso tão pobre dicionário que descreva na mais pura essência deste amor imensurável. Não há filosofia, teologia ou erudição que seja capaz de usar as palavras mais adequadas para descrever o sublime feito redentivo. Não há dialética que, com indizível grandeza, consiga desvendar os mistérios deste amor desmedido. Tudo o que sabemos é que Deus é amor.

A cruz do calvário é a demonstração materializada deste princípio que trouxe espanto e admiração ao vasto universo. A cruz se tornou o centro da história, do universo de Deus, do conflito desde o Céu e, especialmente, de nossas vidas. Sem a cruz de Cristo jamais seríamos capazes de sobreviver à doença do pecado.

Justificação pela fé ou justiça de Cristo, um dos temas mais discutidos em nossos dias no meio cristão, mas, infelizmente, mal compreendido por muitos. No entanto, nada impede que entendamos nossa real condição diante de Deus para conseguir distinguir a diferença colossal entre fé e obras. Guarde bem, nossas obras, mesmo que aparentemente perfeitas, não são suficientes para justificar-nos diante da justiça divina. Jesus, mediante Sua graça, realiza uma grande obra em nossa vida, imprimindo em nós o Seu caráter, porém, esta obra realizada não é feita para nos justificar, mas para glorificar a Deus (S. Jo 15:8; Mt 5:16).

A questão da “justificação”

(Gl 2:15) – Privilégio espiritual não significa viajar de primeira classe. Na verdade, nem mesmo é garantia de estar no voo. Privilégio espiritual sugere que você tem maiores condições de não perder a viagem do que outros. Ou seja, na descrição bíblica, embora os gentios não fizessem parte da aliança, eles poderiam ser redimidos por ela. Se os judeus conversos permanecessem se garantindo na lei ou nas obras para serem redimidos, eles é que corriam o risco de não serem alcançados pela graça, pois, conforme o pronunciamento de Paulo, ninguém poderá ser justificado pelas “obras da lei”.

Ao apresentar o tema da justificação, Paulo usa a palavra que vem da base dikaios e significa literalmente ser considerado justo, inocente ou totalmente absolvido. No entanto, a ideia de sermos inocentados sem merecimento, parece um tanto estranha para nós. Por este motivo é que há aqueles que julgam ser necessário fazermos algo que pondere a questão e nos apresente diante de Deus com algum mérito pelo que estamos recebendo. Na verdade, mesmo que façamos o melhor para Deus e para o próximo, ainda assim teremos uma dívida impagável diante de Deus. Não há absolutamente nada que possamos fazer por nós mesmos. Parece ser difícil aceitar este fato. Isto se assemelha ao caso de pessoas que, após terem feito algo de errado, para amenizar a consciência, se esforçam em fazer algo bom que compense a sensação do alívio e da consciência. O instinto psicológico nos diz que precisamos lutar e pagar por algo se quisermos manter ou conquistar o reconhecimento e elogios humanos. Isso é típico do sistema capitalista que impregna a cultura do orgulho econômico travestido de honra e grandeza. A construção da autoestima e da boa reputação parece estar atrelada a conquistas. Eu sou aquilo que compro e sou aquilo que tenho, que se resume na dignidade da minha própria conquista laboriosa. Em nossa cultura, embora seja prazeroso receber presentes, se eles forem caros ou suntuosos, temos a tendência de ficarmos envergonhadosa e, algumas vezes, até com sentimento de humilhação se não retribuirmos à mesma altura. Não é exatamente o que acontece quando recebemos um considerável presente de alguém? Passamos o ano inteiro pensando em como retribuir. Se assim não o fizermos, ficamos com vergonha até de passar perto da pessoa que nos presenteou. Desde criança somos ensinados a sobreviver no sistema capitalista desta maneira. O mundo nos torna peritos em realizar conquistas pelo esforço ou receber algo oferecendo algum tipo de pagamento. É aqui que começa toda a confusão na mente humana, pois a graça de Cristo faz um tremendo contraponto ao sentimento humano de querer pagar pelo que recebe. Deus, através de Cristo, nos oferece de graça o que nunca teríamos condições de pagar ou retribuir à altura. Os que insistem atribuir valor salvífico através da lei e das obras, estão fazendo o mesmo que o anti-cristo fez no período medieval, descrito por Daniel, estão retirando o “tamid” (o sacrifício do cordeiro) do papel justificador.

Obras da lei

(Gl 2:16, 17; 3:2,5,10; Rm 3:20,28) - A lei é “santa, justa e boa”, porém não para nos conceder o direito de sermos redimidos. O grande problema não é fazer da lei uma norma para a vida e para o caráter, isso é nosso dever, mas usá-la para desenvolver justiça própria. Todos que fazem da lei seu senso de justiça se separam automaticamente de Cristo. Lembremo-nos que, somente a justiça de Jesus é capaz de nos tornar justos diante de Deus. Martinho Lutero, grande precursor da justificação pela fé, jamais fez da graça uma espécie de carta de alforria garantindo o direito de transgredir a lei de Deus. Ele afirmou categoricamente que “"Ambas as doutrinas, da lei e do evangelho, devem ser mantidas na igreja." (A Justiça da Fé, págs. 29-37). Santo Agostinho também expressou que “a lei foi dada para que a graça pudesse ser exigida, a graça é concedida para que a lei seja cumprida”. Ellen White foi enfática ao afirmar que “O Espírito e a Palavra estão de acordo. A voz de Deus ao coração dos homens não contradiz as declarações feitas em tremenda majestade no monte Sinai. Deus jamais Se contradiz. Ele reivindica obediência. As leis pelas quais governa o mundo não são apenas santas, justas e boas, mas também são imutáveis, e por elas o mundo brevemente será julgado. Os homens podem colocar de lado o grande padrão moral divino de caráter, erguer um padrão que caiba em sua própria conveniência e, por esse imperfeito padrão reivindicar santidade; mas Deus inculcará Suas próprias leis sobre nações, famílias e indivíduos” (Signs of the Times, 21 de julho de 1887), e diz mais, “É obra do Espírito Santo enobrecer os gostos, santificar o coração, enobrecer o homem todo” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 374).

Compreendendo que a lei não é o grande problema em questão, pois o próprio apóstolo declarou ser observador da mesma (Rm 7:12, 14, 22; 3:31) podemos melhor entender a base da discussão de Paulo com os cristãos da Galácia. A menção de obras da lei provavelmente se refere às condições impostas pelos judaizantes da época em fazer delas condições meritórias para a redenção. Em outras palavras, o apóstolo estava combatendo toda e qualquer insinuação de salvação pelas obras ou pela guarda da lei. Ele estava combatendo o legalismo. Sua intenção jamais foi anular a lei, mas protegê-la em sua real função – mostrar as brechas da vida que precisam de reparo (Rm 3:21). A lei apresenta nossa real condição, nos reportando à graça, caso desejemos salvação e libertação, mas ela não é capaz de realizar a obra da graça. Quando o termo “salvação” está em jogo, o termo lei deve sair de cena. A lei, como espelho, mostra a sujeira que está debaixo do tapete, e a graça é quem dará um jeito na sujeira – através da justiça de Cristo.

A base da nossa justificação

(Rm 3:22,26; Gl 3:22; Ef 3:12; Fp 3:9) - A justificação não é realização humana, mas 100% divina. Ninguém pode se apoderar da justificação por sua bondade ou obras - somente pela fé. A base de nossa justificação é Cristo, pois Ele sim comprou o direito de nos conceder liberdade do pecado e da morte. Vida eterna para os humanos é uma prerrogativa totalmente divina através de Jesus. Somos redimidos, aceitos, justificados e justificados através da graça de Cristo somente. Embora a lei e a graça devam andar de mãos dadas, ambas não compartilham da mesma função. A lei mostra que estamos perdidos e por isto, evidencia que precisamos de um poder acima de nós para anular a perdição. A lei não pode justificar, mas ela conduz à justificação (Cristo). A lei não pode agraciar, mas ela nos conduz à graça. Ela não pode nos santificar, mas ela nos conduz à santificação (Espírito Santo). Ela não pode nos libertar, mas nos conduz à libertação. Isto acontece porque, ao nos mostrar o pecado, mostra também o único Ser capaz de nos libertar das algemas do pecado. O papel da lei é unicamente nos ajudar a perceber que somos indignos e que precisamos da misericórdia e compaixão de quem é digno.

Jesus é o Ser digno que teve compaixão e misericórdia de nós e que ofereceu a Sua vida para substituir a nossa na condenação eterna. Ele adquiriu o direito de salvar quem Ele desejar. Por isto que é aqui que morre todo o nosso orgulho, arrogância, prepotência, sentimento de grandeza e, em especial, sentimento de mérito. É aqui também que deve morrer a sensação de superioridade aos outros pelo fato de não praticar os mesmos pecados que eles cometem. Independente de eu ser íntegro e correto na vida, todos estamos no mesmo saco, degrau ou nível. Todos os que forem salvos serão porque Cristo ofereceu de graça a sua graça. É a vida justa e o caráter perfeito de Jesus que o Céu aceita em nosso lugar para nos considerar justos. Observe:    “Alei requer justiça – vida justa, caráter perfeito; e isso não tem o homem para dar. Não pode satisfazer as reivindicações da santa lei divina. Mas Cristo, vindo à Terra como homem, viveu vida santa, e desenvolveu caráter perfeito. Estes oferece Ele como dom gratuito a todos quantos O queiram receber. Sua vida substitui a dos homens. Assim obtêm remissão de pecados passados, mediante a paciência de Deus. Mais que isso, Cristo lhes comunica os atributos divinos. Forma o caráter humano segundo a semelhança do caráter de Deus, uma esplêndida estrutura de força e beleza espirituais. Assim, a própria justiça da lei se cumpre no crente em Cristo. Deus pode ser “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (O Desejado de Todas as Nações, p. 762).
          
A obediência da fé

(Gn 15:5,6; Jo 3:14-16; 2Co 5:14,15; Gl 5:6) - Fé envolve entrega e compromisso. Quando alguém afirma ter fé em Cristo, mas vive de maneira contrária à Sua vontade, isso não pode ser considerado fé. Eu posso acreditar que Jesus é real e ao mesmo tempo ignorar Seus ensinamentos e verdades. A verdadeira fé apresentada pela Escritura tem a ver com aceitação, entrega e compromisso. A fé é uma resposta humana ao chamado de Deus. Abraão teve fé e atendeu ao chamado divino saindo da casa de sua parentela. Davi teve fé ao atender a advertência do profeta. Noé teve fé ao construir a arca conforme o mandado de Deus. Ana teve fé ao cumprir o pacto feito com Deus. Ester teve fé ao arriscar sua própria vida pelo povo de Deus. José teve fé ao suportar a prova diante da mulher de Potifar mantendo-se fiel a Deus. Moisés teve fé ao aceitar o chamado e mandado do Senhor. Josafá e seus soldados tiveram fé ao cumprir as ordens do Senhor mesmo em circunstâncias estranhas. Enfim, toda vez que aparece um fiel e obediente servo do Senhor em toda a Bíblia, eles sempre surgem com fé munida de ação. Fé que não leva o pecador a viver uma vida de renúncia progressiva não é a fé anunciada pela Escritura. Como bem expressou Paulo, “antes confirmamos a lei” (Rm 3:31). Significa que o cumprimento dos deveres cristãos diante de Deus e dos homens é uma resposta crescente da verdadeira fé inserida no coração. Fé sem obediência é morta (Tg 2:17). A fé genuína não isenta o pecador de suas imperfeições, mas concede vigor para continuar lutando contra elas através da guerra contra o próprio eu. É uma batalha que durará toda a jornada de peregrinação, mas que dará vigor para suportar as dificuldades do trajeto.
          
A fé promove o pecado?

(Gl 2:17-21) - Viver pela fé significa carregar a cruz de Cristo. A verdadeira fé não promove a trivialidade e nem o descompromisso. Os que professam a fé em Cristo, mas arrumam desculpas para evitar a renúncia do eu, estão afastando de si o poder do Espírito Santo. Embora a salvação seja unicamente pela graça, a mesma graça não concede licença para viver a velha vida. O ódio, a ira, a vingança, o egoísmo, o ato de falar da vida alheia, a arrogância e o desinteresse pelo bem do amigo ou do inimigo precisam ser, progressivamente, deletados de nossa vida. O pecado é um acidente de percurso e não um estilo de vida, como pretendem alguns professos cristãos. A graça de Cristo, gradativamente, cobre nossa vida e nos transforma à semelhança de Cristo – no amor e na abnegação. Aqueles que não desejam possuir o caráter de Jesus e seguir Seus conselhos estão rejeitando a ação da Sua graça. A justificação é uma resposta de nossa escolha em amar a Deus acima de todas as coisas. A graça nada poderá fazer por um pecador que deseja conscientemente permanecer no pecado. Isto chamamos de rebelião e pecar contra o Espírito.

Infelizmente, em nossos dias, há uma apologia ao pecado por parte de quem deveria batalhar contra ele. O pecado angariou um número considerável de advogados dentro da própria esfera cristã. Muitos cristãos sinceros que amam obedecer a Deus têm sido acusados de legalistas e moralistas. Por incrível que pareça, por parte de alguns, parece que pecado é deixar o pecado, e o errado é deixar o erro. Há os que batem as mãos no peito para dizer que pertencem a Cristo, e ao mesmo tempo são capazes de se deitar com alguém que não é o seu cônjuge. Outros se dizem pertencer a Cristo, mas vivem em inimizade com alguns irmãos. Outros pregam na igreja sobre o amor e, nas rodas escarnecedoras, vivem apontando os erros ou desmerecendo o caráter alheio. Outros maltratam os filhos e a esposa. Outras se dizem servas de Cristo, mas às escondidas, fazem coisas que machucam o coração de Deus. Enfim, que espécie de graça é essa não é capaz de inserir no coração paixão pelo que é reto, puro, honesto, nobre, honroso, íntegro e glorioso? Que tipo de graça é essa que nos faz perseguir ou odiar, repudiar ou desrespeitar, ferir ou magoar, roubar ou defraudar, difamar ou torturar, desprezar ou abandonar? A graça não anula a necessidade de obediência e não invalida a função da lei. A verdadeira graça, segundo a Bíblia, nos conduz a cumprir os deveres da vida cristã (Santificação, p. 81, 87). Este tipo de apologia da graça barata e vazia que desfavorece o papel das obras é satânica e não conduz à verdade.


Gilberto Theiss* - Graduado em Teologia, Mestrando em Interpretação Bíblica, Pós-Graduado em Filosofia, Ciências da Religião e Pós-Graduando em História e Antropologia. Atualmente é pastor no Estado do Ceará.


terça-feira, 25 de julho de 2017

A BOA NOTÍCIA DA CRUZ: CRISTO NOS LIBERTOU DA MALDIÇÃO DA LEI



Ricardo André

Quando Adão e Eva pecaram, transgredindo a lei de Deus, trouxeram sobre si a maldição do pecado - a fatídica condenação de morte eterna. O amorável Deus os advertira de que morreriam no dia que desobedecessem (Gn 2:17). “A advertência feita a nossos primeiros pais - “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17), não implicava que devessem eles morrer no próprio dia em que participassem do fruto proibido. Mas naquele dia a irrevogável sentença seria pronunciada. A imortalidade lhes era prometida sob condição de obediência; pela transgressão despojar-se-iam da vida eterna. Naquele mesmo dia estariam condenados à morte” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 60).

O pecado deles atingiu não somente a eles, mas a toda sua prole. O apóstolo Paulo salienta que o pecado de Adão trouxe condenação à morte eterna para toda humanidade. Ele afirma: “Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Romanos 5:12, NVI). De acordo com Paulo, pela desobediência de um só homem todos foram feitos pecadores. Adão escolheu o pecado ao invés de Deus! Voluntariamente ele mudou sua natureza, sua tendência original e portanto, como ele continha em si todos os homens “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23, NVI). Como podemos ver, há uma relação orgânica e vital entre Adão e a raça humana. Potencialmente ele era a raça humana. Não pode haver duas raças. Aí está a razão do homem “ser pecador”. Ele é pecador porque faz parte da raça humana da qual Adão é o pai. De Adão, afirma Ellen G. White, nada recebemos “senão a culpa e a sentença de morte” (Orientação da Criança, p. 475). De acordo com ela, o egoísmo profundamente arraigado em nosso ser “nos veio por herança” (Historical Sketches, p. 138 e139, citado em Revista Adventista, Abril de 2004, p. 5).

Segundo o apóstolo Paulo pende sobre nós a sentença de morte: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6:23, NVI).

Como resultado do pecado de Adão e Eva, um de seus filhos, Caim, se tornou assassino, e toda a raça humana se viu envolvida em pecado e sofrimento. Sim, o pecado nos prejudica. Adão e Eva e todos os outros pecadores de lá para cá têm experimento torturante culpa, suor e lágrimas, violência e derramamento de sangue, depressão e solidão.

Portanto, desde Adão o destino da raça humana foi determinado a permanecer em escravidão aos poderes da destruição. A morte tornou-se soberana, e reina sobre toda a existência. Esta é a sorte comum desde Adão. Todos nós nos encontramos sob a condenação de morte – morte eterna. Não podemos fazer nada para nos salvar da maldição do pecado. Nada do que fizermos por nós mesmos pode restaurar a imagem de Deus, Sua glória ou Seu caráter dentro de nós à sua condição antes da entrada do pecado. Não podemos purificar nossa alma ou ascender degrau por degrau em alguma escada para o Céu. Não podemos ser justificado por nossos esforços (Gl 2:16; 3:10-12). Tampouco podemos evitar a sentença de morte que pende sobre nós. Mesmo a obediência a lei não livra-nos do perigo iminente de morte. “A lei não podia redimir aos que haviam atraído sobre si a maldição, a qual incluía a todos os que alguma vez haviam buscado a justificação por meio dela. A libertação da maldição só pode ser alcançada pela fé em Cristo. Embora sob a tutela da lei nos tempos do AT, todos os que escolheram servir ao Senhor encontraram a salvação pela fé no Messias prometido. A lei não era sua salvadora, mas apenas seu “aio” [Gl 3:24] para levá-los ao Salvador e os ajudar a entender as provisões que o Céu para a sua salvação. A lei, em si, é boa, pois o próprio Deus a ordenou, mais é impotente para salvar do pecado” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1056, 1057).

Cristo tornou-Se maldição por nós

Porém, a boa notícia é que, mais de dois mil anos atrás Jesus tomou sobre si a condenação do nosso pecado. Tomou sobre Si a maldição da morte. O apóstolo Paulo revela como Cristo nos libertou da maldição da lei (a eterna separação de Deus): “Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: "Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro" (Gálatas 3:13, NVI). “A palavra redimir significa “comprar de volta”. Ela representa o ato de pagar o preço do resgate para libertar reféns ou escravos. Visto que o salário do pecado é a morte, a maldição por não guardar a lei era frequentemente a sentença de morte. O resgate pago pela nossa salvação não foi insignificante: custou a Deus a vida de Seu Filho (Jo 3:16). Jesus nos resgatou da maldição, tornando-Se nosso portador de pecados (12 Co 6:20; 7:23). Ele voluntariamente tomou sobre Si nossa maldição e sofreu em nosso favor toda a penalidade do pecado (2 Co 2:21). Paulo citou Deuteronômio 21:23 como prova bíblica. Segundo o costume, uma pessoa estava sob maldição de Deus se, após a execução, o corpo fosse pendurado num madeiro. A morte de Jesus na cruz foi vista como um exemplo dessa maldição. Não é de admirar, então, que a cruz tenha sido uma pedra de tropeço para alguns judeus que não podiam conceber a ideia de que o Messias fosse amaldiçoado por Deus. Mas esse foi exatamente o plano de Deus. Sim, o Messias sofreu a maldição, mas ela não era dEle, era nossa!” (Lição da Escola Sabatina, 3° Trimestre de 2017, p. 62).

Paulo agora resumiu a base de sua mensagem evangélica nas seguintes palavras: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21, NVI). Neste texto Paulo mostra-nos algo importante para o desenvolvimento do plano da salvação, ou seja, Cristo tendo vida original, escolheu ser nosso substituto, assumindo assim os pecados do homem, mas sem ser contaminado por Ele. Em outras palavras, Jesus nunca pecou, mas tornou-Se pecado por nós, morrendo na cruz. Tomou sobre Si toda a vergonha e culpa por nossos pecados. Indubitavelmente este é o ponto mais profundo em toda a história da redenção. Estudaremos esta questão por toda a eternidade. Sobre isso a escritora cristã Ellen G. White, escreveu: “Sobre Cristo como nosso substituto e penhor, foi posta a iniquidade de nós todos. Foi contado como transgressor, a fim de que nos redimisse da condenação da lei. A culpa de todo descendente de Adão pesava-Lhe sobre a alma. A ira de Deus contra o pecado, a terrível manifestação de Seu desagrado por causa da iniquidade, encheram de consternação a alma de Seu Filho. Toda a Sua vida anunciara Cristo ao mundo caído as boas novas da misericórdia do Pai, de Seu amor cheio de perdão. A salvação para o maior pecador, fora Seu tema. Mas agora, com o terrível peso de culpas que carrega, não pode ver a face reconciliadora do Pai. O afastamento do semblante divino, do Salvador, nessa hora de suprema angústia, penetrou-Lhe o coração com uma dor que nunca poderá ser bem compreendida pelo homem. Tão grande era essa agonia, que Ele mal sentia a dor física.

Cristo morreu a nossa morte para que possamos viver a Sua vida. Esta é a grande boa notícia que erradia da cruz. Quando cínicos sacerdotes bradaram: “Salvou os outros, a Si mesmo não pode salvar-se” (Mt 27:42), ele falaram uma verdade eterna. Jesus morreu a fim de que pudesse substituir a pena de morte sob a qual nos encontramos pela promessa de vida eterna (Rm 6:23). Jesus experimentou toda a angústia que os pecadores vão experimentar “quando não mais a misericórdia interceder pela raça culpada” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 753). Ele experimentou a maldição do pecado, que é a separação de Deus, culminando na morte. Ele provou “a morte por todo homem” (Hb 2:9). Na cruz, “Ele temia que o pecado fosse tão ofensivo, que Sua separação houvesse de ser eterna” (Idem, p. 753).

Diz mais Ellen G. White:

“Não foi, porém, a lança atirada, não foi a dor da crucifixão, que produziu a morte de Jesus. Aquele grito soltado ‘com grande voz’ (Mateus 27:50 e João 23:46) no momento da morte, a corrente de sangue e água que lhe fluiu do lado, demonstravam que Ele morreu pela ruptura do coração. Partiu-se-lhe o coração pela angústia mental. Foi morto pelo pecado do mundo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 772). Que Salvador! Que Redentor!

Para que Jesus Se dispôs a morrer, levando nossos pecados? “(...) Para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21, NVI). Tornar-se justiça de Deus tem dois aspectos bem conhecidos:

1) Jesus não apenas perdoa e apaga nossos pecados, mas coloca em nossa conta no Céu o crédito do registro de Sua vida sem pecado. “Não somos justificados com base em nossa fé, mas com base na fidelidade de Cristo por nós, que reivindicamos para nós por meio da fé. Cristo fez o que todos deixaram de fazer: só Ele foi fiel a Deus em tudo o que fez. Nossa esperança está na fidelidade de Cristo, não na nossa. Essa é a grande e importante verdade que, dentre outras, inflamou a reforma Protestante, uma verdade q      eu continua sendo tão crucial hoje quanto foi no tempo em que Martinho Lutero começou a pregá-la há séculos” (Lição da Escola Sabatina, 3º Trimestre de 2017, p. 47).

Sobre essa importante verdade da justiça de Cristo imputada ao pecador, Ellen G. White afirmou:

“A lei requer justiça, e esta o pecador deve à lei; mas é ele incapaz de a apresentar. A única maneira em que pode alcançar a justiça é pela fé. Pela fé pode ele apresentar a Deus os méritos de Cristo, e o Senhor lança a obediência de Seu Filho a crédito do pecador. A justiça de Cristo é aceita em lugar do fracasso do homem, e Deus recebe, perdoa, justifica a alma arrependida e crente, trata-a como se fosse justa, e ama-a tal qual ama Seu Filho. Assim é que a fé é imputada como justiça; e a alma perdoada avança de graça em graça, de uma luz para luz maior. Pode dizer, alegremente: "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador; para que, sendo justificados pela Sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna." Tito 3:5-7” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 367).

 2) E se isso não fosse suficiente, Ele está conosco todos os dias, compartilhando conosco a Sua justiça e enriquecendo nossa vida com Sua Presença enquanto crescemos nEle. Como já enfatizamos acima, na cruz, Jesus tomou nosso lugar, recebeu a punição que era nossa e agora nos oferece Sua justiça por meio da fé (Rm 1:17; Fp 3:9). É a partir daí que as obras aparecem na vida cristã, não como a base da salvação, mas como resultado dela. Não praticamos boas obras para que sejamos salvos, mas porque já experimentamos a salvação em nossa vida.

Porque Jesus fez isso?

Só há uma resposta. E essa resposta tem uma só palavra: Amor. E o amor de Cristo “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Coríntios 13:7). “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores” (Romanos 5:8, NVI). A maior demonstração do amor de Deus por nós foi Cristo ter escolhido morrer para que pudéssemos ter vida eterna e eterna felicidade. Esta vivência de amor que vem de Deus para nós, é que garante a salvação e redenção, a certeza de que, a cada momento o homem pode ter esperança de uma vida eterna. Caro amigo leitor, diante de tal amor, tudo o que podemos fazer é cair a Seus pés e adorá-Lo em gratidão.

domingo, 23 de julho de 2017

UM MISTÉRIO: QUEM É A BABILÔNIA, A GRANDE?





Ricardo André

Em Apocalipse 14:6-12 nos são mostrados, em figura, três grandes anjos que voam pelo meio do céu com mensagens de advertência divina de misericórdia a um mundo agonizante. Essas três mensagens angélicas são instrumentos de Deus para chamar o mundo para adorá-Lo como Criador, afastar-se da apostasia espiritual e ser leal a Deus. O apóstolo João disse que viu um “anjo voando pelo meio do Céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo” (Ap 14:6). O termo “anjo” significa “mensageiro” e, em Apocalipse 14, representa aquelas pessoas que serão “mensageiras” de Deus para anunciar as três últimas mensagens divinas ao mundo.

As Escrituras Sagradas contém muitas advertências e apelos decisivos. Pouco antes do Dilúvio, Deus advertiu uma geração corrupta e perversa (Gn 6:3). Ao antigo povo de Israel  foram concedidos 490 anos de advertência e apelos (Dn 9:24-27). Esse período terminou em 34 da Era Cristã. Eles também rejeitaram a direção do Espírito Santo.

A mensagem do segundo anjo salienta uma advertência final, a última oferta de salvação para o mundo. “Um segundo anjo o seguiu, dizendo: ‘Caiu! Caiu a grande Babilônia que fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua prostituição!’” (Apocalipse 14:8).

Como essa mensagem se relaciona com os eventos finais da história terrestre? Quem é a Babilônia, a Grande? O que significa essa “queda” dela? O que representa o “vinho” que ela dar de beber as nações do mundo?

Vamos ao estudo dessa impressionante profecia. Certamente, Deus tem importantes mensagens para nós aqui. Que o Espírito Santo lhe guie na compreensão deste capítulo!

Babilônia Antiga é usada como Símbolo

Na Bíblia, a primeira referência a Babilônia remonta a Ninrode e à torre de Babel (10:8-10 e 11:1-9). O texto bíblico descreve as tentativas de Ninrode para fundar uma cidade na planície de Sinear há mais de 4.000 anos na Mesopotâmia. Ele e seus seguidores opuseram-se à ordem de Deus para se espalharem pela Terra (Gn 9:1, 7, 18 e 19). Assim, “desde o começo, a cidade era um símbolo de descrença no Deus verdadeiro e de desafio a Sua vontade, (...) e sua torre foi um monumento à apostasia, uma cidadela de rebelião contra Ele” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 917). Após o juízo divino que confundiu as línguas das pessoas, o povo de Deus chamou a cidade de Babel, que significa, “confusão” – a confusão produzida pelo mal e pelo engano.

A maioria das referências a Babilônia, na Bíblia, dizem respeito ao Império Neobabilônico desenvolvido por Nabucodonosor, perto do fim do 7° século a. C., transformando-a em uma das maravilhas do mundo antigo, e tornou-se a terceira potência mundial da história bíblica. O plano do rei Nabucodonosor era tornar seu reino universal e eterno (Dn 3:1; 4:30). A sua glória como tal durou pouco – menos de cem anos – mas, por quase 70 destes ela manteve cativo o povo de Deus, o antigo Israel. “No entanto, Babilônia também se tornou orgulhosa e cruel (...). Conquistou o povo de Deus e ameaçou derrotar seu propósito como nação escolhida. Em uma dramática série de acontecimentos, Deus humilhou Nabucodonosor e assegurou sua submissão (...). Porém, seus sucessores se recusaram a se humilhar diante de Deus (ver Dn 5:18-22). Por isso, o reino acabou sendo pesado na balança do Céu e achado em falta, e seu domínio foi revogado por decreto do Observador divino (...). Ao longo dos séculos, a cidade perdeu cada vez mais sua importância até que, no fim do primeiro século d. C., praticamente deixou de existir (...)” (Comentário Bíblico, v. 7, p. 917, 918).

Em 539 a. C., os medos e os persas tomaram a cidade literal de Babilônia nos dias de Belsazar (Dn 5) . Depois da tomada da cidade e do estabelecimento de seu império, Ciro promulgou um decreto permitindo o retorno dos judeus a sua pátria (Esdras 1), após os setenta anos de cativeiro. É por isso que na Bíblia, Ciro e seus exércitos (reis do Oriente) são usados como símbolo de Cristo e Seus anjos, os reis antitípicos do “oriente”. Como Ciro libertou o povo de Deus da Babilônia antiga, assim, no Segundo Advento, Cristo e os anjos libertarão finalmente os fiéis das perseguições da Babilônia antitípica. (Is 41:2; 44:28; Ap 16:12;17:14; 19:11-16).

Uma vez que a cidade da Babilônia não mais existe, precisamos encarar o uso dessa palavra, pelo apóstolo João, como simbólico. Ademais o Apocalipse foi escrito perto do fim do primeiro século da era Cristã. As aplicações de suas numerosas profecias se estendem ao futuro, a partir do tempo do apóstolo João. No contexto em que ele emprega, ela se aplica ao fim do tempo (Ap 17 e 18).

A Babilônia Mística

Que poder é representado pela Babilônia mística de Apocalipse? “Babilônia é um termo abrangente que João usa para caracterizar todos os grupos e movimentos religiosos que se afastaram da verdade. Isso exige que se interprete sua “queda” como um evento progressivo e cumulativo” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 917). É a união religiosa (do papado, do protestantismo apostatado e ao espiritismo: Ap 16:13, 14) que estabelece a imagem da besta, impõe a marca ou o sinal da besta e persegue o fiel povo de Deus (Ap 13:15-17: 17:6). Essa união religiosa que se opõe a Cristo e Sua verdade, é amparada pelo governo secular. Portanto, A “Grande Babilônia” do fim do tempo abrange todo o conjunto de religiões falsas que se levantam contra Deus. Portanto, a mensagem do segundo anjo não se refere à história literal de qualquer reino da Antiguidade. É um apelo para abandonar o sistema de adoração falsa utilizado e defendido pelas falsas religiões da atualidade, ou seja, a “Babilônia” da apostasia.

Quanto a “queda” da Babilônia espiritual refere-se ao processo de apostasia ou de paganização porque passou o cristianismo a partir do terceiro século. Porém, a queda final de Babilônia ainda está no futuro. Quando poderemos dizer que Babilônia caiu completamente? A última parte de Apocalipse 14:8 nos ajuda a responder a esta pergunta: “(...) que fez todas as nações beberem do vinho da fúria da sua prostituição!” Quando alguém faz que realizemos alguma coisa, ele está usando a força, coerção ou compulsão. A “queda” completa de Babilônia mística ocorrerá quando a besta papal (Ap 13:1-10), o protestantismo apóstata (Ap 13:11-18) e o espiritismo formarem uma aliança mundial para impor as nações do mundo a marca da besta, e “pressionarão o estado secular a fazer cumprir os decretos de Babilônia” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 919). “Contudo, não se pode ainda dizer que “caiu Babilônia, (...) que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição.” Ainda não deu de beber a todas as nações. (...)A Escritura Sagrada declara que Satanás, antes da vinda do Senhor, operará “com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça”; e “os que não receberam o amor da verdade para se salvarem” serão deixados à mercê da “operação do erro, para que creiam a mentira.” 2 Tessalonicenses 2:9-11. A queda de Babilônia se completará quando esta condição for atingida, e a união da igreja com o mundo se tenha consumado em toda a cristandade. A mudança é gradual, e o cumprimento perfeito de Apocalipse 14:8 está ainda no futuro” (O Grande Conflito, p. 389, 390). O mistério em conexão com o ato de Babilônia compelir todas as nações parecem deleitar-se em beber o seu vinho! O ato de as nações beberem do vinho de Babilônia é o resultado  de alguma forma de engano. Parece que elas não sabem que o vinho é o da ira final. Esse vinho não é bom, mas as nações bebem-no assim mesmo.

Que simboliza o cálice de vinho da Babilônia? De que se compõe seu vinho? Pode-se dizer que o cálice da comunhão (1 Co 10:21), de puro suco de uva, que Cristo ofereceu aos apóstolo como “a nova aliança no Meu sangue” (1 Co 11:25). Simboliza todas as verdades de que se compõe o plano da salvação. A Igreja de Cristo deve continuar oferecendo esse cálice ao mundo. Mas Babilônia, apostasia cristã, só pode oferecer ao mundo vinho fermentado. “Esta taça de veneno que ela oferece ao mundo representa as falsas doutrinas que aceitou, resultantes da união ilícita com os poderosos da Terra. A amizade mundana corrompe-lhe a fé, e por seu turno a igreja exerce uma influência corruptora sobre o mundo, ensinando doutrinas que se opõem às mais claras instruções das Sagradas Escrituras” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 388). Eis algumas das doutrinas que se encontram no cálice de babilônia papal:

1. A tradição e a autoridade da Igreja estão acima da Bíblia.
2. O batismo infantil.
3. Adoração de Maria e dos santos.
4. A imortalidade da alma; o tormento eterno no inferno.
5. A missa e a transubstanciação.
6. A confissão dos pecados ao sacerdote.
7. A penitência.
8. O purgatório.
9. A infalibilidade do papa.
10. O caráter sagrado do domingo.
11. A crença de que as obras humanas contribuem para a nossa justificação.
12. A ideia de que Cristo não é o único Cabeça da Igreja.
13. A ideia de que Cristo irá trasladar Seu povo para o Céu através de um “arrebatamento secreto”.

Dois desses erros – a imortalidade da alma e a santidade do domingo – contribuirão para unir a confederação total da apostasia que comporá a grande cidade da Babilônia mística no conflito final com o erro. “Mediante os dois grandes erros — a imortalidade da alma e a santidade do domingo — Satanás há de enredar o povo em suas malhas. Enquanto o primeiro lança o fundamento do espiritismo, o último cria um laço de simpatia com Roma. Os protestantes dos Estados Unidos serão os primeiros a estender as mãos através do abismo para apanhar a mão do espiritismo; estender-se-ão por sobre o abismo para dar mãos ao poder romano; e, sob a influência desta tríplice união, este país seguirá as pegadas de Roma, desprezando os direitos da consciência” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 588).

Babilônia, a Grande Meretriz

Em Apocalipse 17, outro símbolo é usado para descrever a Babilônia. Um dos sete anjos que tinham as sete taças aproximou-se e me disse: "Venha, eu lhe mostrarei o julgamento da grande prostituta que está sentada sobre muitas águas, com quem os reis da terra se prostituíram; os habitantes da terra se embriagaram com o vinho da sua prostituição". Então o anjo me levou no Espírito para um deserto. Ali vi uma mulher montada numa besta vermelha, que estava coberta de nomes blasfemos e que tinha sete cabeças e dez chifres. A mulher estava vestida de azul e vermelho, e adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Segurava um cálice de ouro, cheio de coisas repugnantes e da impureza da sua prostituição. Em sua testa havia esta inscrição: MISTÉRIO: BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA” (Apocalipse 17:1-5). A Babilônia aqui é descrita sob o símbolo de uma mulher impura sentada numa besta. Na Bíblia uma mulher é usada simbolicamente para representar a Igreja, e a Igreja é descrita como a noiva de Cristo. “O zelo que tenho por vocês é um zelo que vem de Deus. Eu os prometi a um único marido, Cristo, querendo apresentá-los a ele como uma virgem pura” (2 Co 11:2). No Apocalipse, uma mulher pura é símbolo do povo de Deus (Ap 12:1), e uma prostituta representa os que são infiéis a Deus (Êx 34:15; Is 1:21; Jr 2:20; Ez 16:41). A mulher de Apocalipse 17 representa crenças deturpadas, oposição organizada e aberta às verdades e ao povo de Deus, a depravação e deslealdade de “Babilônia”, no fim do tempo, pela figura da prostituta.  Pode ser definhada também como sendo “a igreja cristã que apostatou, perseguiu e praticou ‘prostituição’. Apocalipse 17:2-6” (C. Mervyn Maxwell, Uma Nova Era Segundo as profecias do Apocalipse, p. 475).

A profecia não deixa dúvidas de que esta mulher é a Igreja de Roma. “Com ela se prostituíram os reis da terra, e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição”(Ap 17:2). Esta tem sido a história da igreja de Roma, desde o quarto século até nossos dias. Deixou de ser uma igreja para ser um Estado em meio aos Estados do mundo. Sua influência entre os governos da Terra, com raras exceções, é a mais poderosa de todas as influências humanas. E, como igreja, não está ligada ao Estado por afinidades espirituais, mas por finalidades políticas, isto é, para fazer do Estado um instrumento de sua política sob o véu da religião.


O anjo diz que ela tem um nome, um nome misterioso, “Babilônia, a Grande”. Como já observamos acima, “Babilônia, a Grande”, designa, de maneira especial, as religiões apostatadas unidas no fim dos tempos (...). Sem dúvida, aqui, a Babilônia é denominada “grande” porque o capítulo aborda mais especificamente o grande esforço final de Satanás para garantir a lealdade da raça humana por meio da religião” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 944).

O relato diz, no verso 1, que a mulher “se acha sentada sobre muitas águas”. O que significa isso? O anjo de Deus explicou a João: “As águas que você viu, onde está sentada a prostituta, são povos, multidões, nações e línguas” (v.15). Ou seja, as águas representam as massas humanas nas nações da Terra que estão sob a influência desse poder. O verso 2 indica que reis colocam sua autoridade e recursos à disposição dessa mulher que o verso 3 afirma estar sentada numa “besta escarlate” – Satanás e seus representantes terrestres. O quadro de seu poder mundial e da fonte do qual ele provém nos deixa perplexos, como aconteceu com o profeta João (v. 6).

João vê em visão que a meretriz estava sentada numa “besta vermelha” (Ap 17:3, 7). O que é essa besta? Identificamos a besta de sete cabeças em Apocalipse 13 com o papado porque os seus característicos são diretamente paralelos aos da ponta pequena em Daniel 7. No entanto em Apocalipse 17, a mulher sentada sobre a besta simboliza o papado. Portanto, em Apocalipse 17, a besta se sete cabeças parece representar outra entidade que não seja o papado. Uma besta nas Sagradas Escrituras é o símbolo de um império ou estado, um exemplo disso; esta em Daniel 7, onde um leão representa a babilônia, um urso representa os medo pérsia e um leopardo representa a Grécia, Portanto a mulher de  Apocalipse  17  cavalgando  a  besta  é  o  símbolo  de uma combinação de poderes, o poder eclesiástico cavalgando o poder estatal, ou seja um poder eclesiástico dirigindo um poder estatal. Portanto, besta representa simbolicamente a estrutura do poder político, com quem ela mantém estreita relação. Neste símbolo, encontramos completa união entre igreja e o Estado, e todos cujos nomes “não estão escritos no livro da vida” ficam admirados ao testemunhar o surgimento e influência deste tremendo poder político-religioso descrito como “a besta que era, e que já não é, mas que virá”. “A principal diferença entre as bestas de Apocalipse 13 e 17 é que a primeira, identificada com o papado, não faz distinção entre os aspectos religioso e político do poder papal, ao passo que, na segunda, os dois são distintos, a besta representa o poder político, e a mulher, o poder religioso” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 944).

A taça de ouro na mão da mulher de apocalipse 17 esta cheia de abominações e da imundície de sua fornicação, as quais representam doutrinas apóstatas, dogmas corrompidos, os quais ela produziu para que as nações bebam.

O vidente de Patmos vê também que essa meretriz “(...) estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus. Quando a vi, admirei-me com grande espanto”(Ap 17:6).

O texto bíblico faz uma clara referência aos milhões de cristãos que padeceram perseguição e foram mortos por que ousadamente liam a Bíblia, traduziam a Bíblia,  ou  pregavam  usando  a  Bíblia  e abandonaram as doutrinas e dogmas católicos tal qual a transubstanciação, pelo Tribunal da Inquisição, durante o período da Idade Média, quando a Igreja Romana fora suprema em muitos países da Europa. Cada detalhe da profecia é comprometedor contra a igreja de Roma. A revelação de Deus denuncia esta instituição como anticristã.

No ano 2000, o extinto Papa João Paulo em sua Encíclica Memory and Reconciliation, pela primeira vez ele pediu perdão pelos "erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor".( http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20000307_memory-reconc-itc_en.html). A declaração refere-se à tortura, aos julgamentos sumários, às conversões forçadas e às fogueiras nas quais eram queimados os acusados de heresia. O fato de que a Igreja Católica  Romana foi compelida a pedir perdão por seus pecados pela perseguição feita  no passado, confirma uma mãe perseguidora e apóstata responsável pelo sangue dos santos descritos no apocalipse.

As sete cabeças da besta são sete montes (reinos), sobre os quais a mulher está assentada (Apocalipse 17:9). O termo “monte” simbolicamente significa “reino” (ver Daniel 2:35). As sete cabeças podem também significar “reis”, que seriam os governantes desses reinos (Apocalipse 17:10). As sete cabeças ou os sete reinos que influenciaram de uma forma ou outra o Império Romano, através suas ideologias, normas legais, sistemas estruturais, etc. foram: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Persa, Grécia, Roma Imperial e Roma Eclesiástica. Quando o apóstolo João recebeu esta visão, os cinco primeiros reinos haviam caído (Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Persa e Grécia); o sexto reino existia (Império Romano); o sétimo reino ainda não tinha vindo, mas que duraria pouco tempo (Roma Eclesiástica).

A revelação indica que a besta tinha dez chifres (Ap 17:12-14). As evidências indicam que eles representam nações modernas que dão apoio político às exigências religiosas de “Babilônia” (v. 13). O verso 16 denota que por fim as nações representadas pelos dez chifres voltar-se-ão contra a meretriz por reconhecerem que ela os enganou.

A palavra “Babilônia” significa confusão e sendo ela “mãe”, significa que tem filhas, um símbolo das igrejas que se apegam às suas doutrinas, tradições e por estabelecerem com ela uma aliança ilícita com o mundo. Deste modo a grande meretriz encabeça a confusão reinante no seio do cristianismo com suas doutrinas, muitas das quais de origem pagã.

De fato, somente a Igreja Católica Romana proclama ser a "MÃE" das igrejas Cristãs. Na Encíclica papal do ano 2000 Memory and Reconciliation, onde a Igreja Católica Romana pede perdão por seus pecados, e pelo passado de perseguição, na secção 3.4 há a chamada” A "Maternidade da Igreja":

“A convicção de que a Igreja pode fazer-se responsável por seus pecados e pelos pecados de suas filhas pela virtude da  solidariedade  que  existe  entre  elas  através  do  tempo  e  do  espaço  por  sua  incorporação  em  Cristo  e  no  trabalho  do  Espírito  Santo,  e  expressa  na  particular  ideia de “Igreja Mãe" (Mater Ecclesia), que “na concepção dos primeiros Padres das somas Igreja até toda a aspiração cristã” (http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20000307_memory-reconc-itc_en.html)

A condenação da Grande Babilônia

A partir do versículo 12 entram em cena os dez chifres que são dez reinos:

“E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. (...) E os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo.” Apocalipse 17:12, 13 e 16.

Depois da derrocada do Império Romano em 476 d.C., historicamente considerado o último dos impérios mundiais, o mundo dividiu-se em nações, com suas culturas, raças e línguas, uma divisão que estender-se-á até a segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Esta divisão é representada pelos dez chifres. O mesmo entendimento aplica-se aos dez dedos da estátua, conforme Daniel 2:41.

A profecia prevê que as nações receberão poder como reis juntamente com a besta por “uma hora” (do vocábulo grego “oran”: pode significar não necessariamente uma hora, mas, um espaço definido de tempo ou tempo particular para alguma coisa). Em seguida, por decisão conjunta, entregarão o seu poder e autoridade à besta. Em outras palavras as nações colocarão em prática o sistema de governo do extinto Império Romano. Uma das ações mais cobiçadas é aquela adotada pelo Imperador Constantino. Com o objetivo de se manter no poder e ter o apoio popular, ele oficializou a união do Estado com a Igreja. Quando Estado e Igreja andam juntos, os governantes passam a ser dependentes daquele antigo sistema político-religioso romano. Ao receber dinheiro público para as chamadas “ações sociais”, a grande meretriz se robustece, domina as multidões e torna-se inusitadamente abrangente, a ponto de encabeçar uma poderosa confederação mundial, incluindo igrejas, autoridades civis e militares, governantes, todos apoiados e aglutinados pelo seu poderio econômico, político e religioso, conluiados para tentarem criar um governo global com princípios anticristãos, razão porque Deus conclama Seu povo a não se submeter a tais ensinamentos anti-escriturísticos (Apocalipse 18:4).

Diz a profecia que “os dez chifres que viste na besta, estes odiarão a prostituta e a tornarão desolada e nua, e comerão as suas carnes, e a queimarão no fogo.” Apocalipse 17:16.

Durante as cenas finais, antes da gloriosa vinda de Jesus a esta Terra, as nações, sentindo-se enganadas pelas magias praticadas pela grande meretriz (Apocalipse 18:23), levantar-se-ão contra ela (Apocalipse 18:6), queimando-a no fogo. Cumpre-se, assim, a profecia a respeito da queda e destruição da grande Babilônia (Apocalipse 18:2; Apocalipse 14:8).


Conclusão

A grande meretriz encabeça na realidade um gigantesco sistema de engano (Apocalipse 18:23). A sua arrogância, vaidade e orgulho, provindos de suas características únicas, as quais são objetos de tanta admiração e culto, são muito bem destacadas pela Palavra de Deus (ver Apocalipse 17:4 e 18:7).

Sem dúvida alguma, quem está por trás de tudo isso é Satanás. O arqui-enganador aspira eternizar aqui o seu império do mal, na sua longa disputa pela posse da Terra.

A destruição da grande meretriz será inevitável e será idêntica àquela ocorrida à Babilônia antiga (Apocalipse 18:21; Jeremias 51:63 e 64). A ideia da iminência está expressa nas páginas sagradas (Apocalipse 18:8). Embora o capítulo dezessete do livro do Apocalipse descreva poderes malignos que se encontram muito ativos, por outro lado, traz conforto para o povo de Deus. Dentro em breve o nosso Senhor Jesus virá e intervirá a favor dos Seus:

“Pelejarão eles contra o Cordeiro e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com Ele, os chamados, e eleitos, e fieis.” Apocalipse 17:14.

O apelo final de Deus ao Seu povo que se encontra em Babilônia

“Antes de destruir a babilônia antiga, Deus enviou aviso (ou profecias) referentes à inexorável destruição que sobreviria a ela. A cidade se tornaria em ruínas e sua população seria constituída por animais em vez de seres humanos (Isa. 13:19-22)” (Comentário Sobre os Livros de Daniel e Apocalipse, p. 289). Similarmente, antes da completa destruição da babilônia espiritual, Deus fará um último apelo, por meio do Alto Clamor, aos fieis para deixarem a Babilônia e evitarem a destruição juntamente com ela. “Então ouvi outra voz do céu que dizia: "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!” (Apocalipse 18:4, NVI).

“Assim como o povo de Deus se retirou da Babilônia literal a fim de voltar para Jerusalém. Se povo dos dias de hoje é chamado a sair da babilônia mística, para ser considerado digno de entrar na Nova Jerusalém. Presume-se que todos aqueles que verdadeiramente fazem parte de Seu povo ouvirão a voz divina e atenderão Seu chamado (...)” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 955).

Querido amigo leitor, encontra-se você em Babilônia? Deus sabe que há milhões de pessoas sinceras que ainda encontram-se em Babilônia, que ainda não se deram conta que de que suas igrejas constituem a Babilônia por rejeitarem os claros ensinos bíblicos por doutrinas pagãs. Deus ama a todos esses Seus filhos fiéis. É por isso que Ele está proclamando hoje a Sua advertência, a última no tempo do fim. Ele deseja que seu fiel povo que se encontra nas diversas comunidades apóstatas, despertem para o grave perigo em que se encontram – o perigo de se envolver como os pecados de babilônia. O Senhor Jesus espera que eles saiam de babilônia imediatamente! Ele ama Seu povo!