Teologia

domingo, 28 de janeiro de 2018

CUIDADO COM AS CISTERNAS ROTAS

Ricardo André

“Alguma nação já trocou os seus deuses? E eles nem sequer são deuses! Mas o meu povo trocou a sua Glória por deuses inúteis. Espantem-se diante disso, ó céus! Fiquem horrorizados e abismados, diz o Senhor. "O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jeremias 2:11-13, NVI).

I. Introdução

O profeta Jeremias fora chamado por Deus para exercer o ministério profético em Israel num tempo de grave crise. Israel, o então povo de Deus, havia mergulhado na idolatria. A apostasia crescente era generalizada: sacerdotes, pastores e profetas rebelaram-se contra o Senhor (Jr 2:1-8). Essa situação terrível levou-o ao exílio babilônico. Jeremias fora incumbido de anunciar esse juízo. De acordo com a mensagem do profeta Jeremias, o povo de Israel tinha cometido dois males ou crimes graves em sua procura da idolatria, e o profeta usou uma figura interessante para ilustrar o duplo pecado de Israel:

a)    Abandonaram a Deus, o manancial de águas vivas e

b)   Tentaram cavar cisternas rotas que não retinham água, desprezando a verdadeira Fonte de vida.


A figura demonstra o contraste entre a religião verdadeira e a religião alternativa, entre a vida proporcionada por Deus (como diz o verso 13, “águas vivas”) e as imitações feitas pelo homem. Quando tentamos cavar nossas próprias cisternas para preservar um tipo de água diferente da que Deus proporciona, esse é um esforço fadado ao fracasso desde o princípio. Teologicamente, poderíamos falar do contraste entre a justiça pela fé em Deus e a justiça pelas nossas próprias obras.

O povo de Israel teve muitos problemas de repetidas desobediência e rebelião. E no verso 13 Deus expressa sua tristeza pela insensatez do Seu povo.

Corremos perigo de cometer o duplo pecado de Israel e de brincar com uma religião alternativa, em vez de acolhermos a religião viva e verdadeira?

II. O que é uma Cisterna Rota?

Naquelas regiões desérticas do Oriente Médio não havia água encanada, e o povo dependia dos mananciais para sua sobrevivência. Entretanto, nem sempre se encontrava esses mananciais. Por conta da falta deles, o povo costumava construir cisternas para armazenar água da chuva para a época da seca. Eram poços enormes, os quais recebiam um revestimento de argamassa que impedia que a água escorresse para a terra por alguma fissura. Às vezes, por negligência na construção do revestimento, o povo precisava de água, descobria que o poço estava vazio. Aonde estava toda a água depositada nesse poço? Tinham escorrido pelas roturas (rachaduras, brechas) do revestimentos.

A fonte de águas vivas representa a Cristo (Is 12:3; Jr 17:13), bem como uma poderosa metáfora da salvação (Jo 4:10-14). Assim sendo, então as cisternas ineficazes, feitas pelos israelitas, se aplicam a um falso sistema de salvação – a salvação pelas obras.  Cisterna rota significa o esforço e a religiosidade do homem, procurando resolver a sua sede espiritual com suas próprias forças, confiando na sua própria capacidade e provisão. Significa substituir o verdadeiro Manancial de Águas Vivas por cisternas rotas da idolatria humana.

Desde sua queda e tragédia no Éden, o homem luta contra a aflição de sua alma. Tem procurado se afastar do seu Criador, tirando os olhos da suficiência Divina, entregando-se aos seus próprios recursos para preencher seu grande vazio existencial. No Éden, logo após o pecado, vemos o empenho humano na tentativa de resolver o problema de relacionamento para com Deus através da religião. Adão foi o primeiro estilista na terra. Ali o primeiro casal confeccionou uma vestimenta de folhas, num propósito inadequado, buscando uma maneira de encobrir a sua nudez com folhas de figueira, buscando a justificação de Deus através da sua própria justiça.

A tragédia do homem desde o jardim do Éden sempre foi a mesma: tirar os olhos de Deus e confiar nos seus recursos. Desde que o homem pecou ele se alienara e se divorciara de Deus. “Sem Mim nada podeis fazer”, disse Jesus (Jo 15:5). Mas ao longo da história o homem tem insistido em viver afastado da fonte da vida, substituindo o verdadeiro Deus por deuses ocos e sem vida.

Mais tarde podemos constatar esta mesma atitude religiosa em Caim. Ele pouco se importava com a revelação e a Vontade do Criador em Sua Palavra. Ele esperava que Deus aceitasse o seu sacrifício de adoração do produto da terra, adquirido com o próprio esforço, estando ainda no pecado. Caim se achava importante e ambicionava fazer prevalecer os seus méritos, sua dedicação, seu trabalho e suas pretensões. Sua atitude de animosidade, ódio, amor-próprio e arrogância, entrou em choque com o amor, a obediência, a submissão, a humildade, a comunhão e santidade que Deus requer do verdadeiro adorador.

O jovem rico, apesar de confessar que guardava os mandamentos, também se servia de cisternas rotas e não tinha segurança na sua religião e nem certeza de herdar o reino de Deus. Desesperado correu ao encontro de Jesus e perguntou o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Esta é a atitude de todo o religioso que se alimenta de cisternas rotas. Querer fazer alguma coisa para merecer a salvação e entrar no reino de Deus. Ele não sabia que a salvação em Cristo é inteiramente de graça, sem nenhum esforço, sem depender da religião. O Evangelho da graça é um convite de Deus para o descanso em Cristo.

A humanidade tem substituído o único Deus verdadeiro pela idolatria e materialismo. Por mais seguro que os nossos recursos humanos possam nos parecer, são frágeis e inúteis diante da soberania divina.

As desgraças e os sofrimentos da humanidade são o resultado de seu afastamento de Deus. O profeta Jeremias fala exatamente desse terrível erro.

No evangelho de Lucas Jesus fez uma intrigante indagação: “Mas, quando vier o Filho do homem, encontrará fé na Terra?” (Lc 18:8). Ele previu que antes de Sua segunda vinda a crença num Deus transcendente decairia. É, deveras, uma nítida predição do alastramento do secularismo moderno.

Estamos vendo com perplexidade o cumprimento dessa profecia nos nossos dias. Estamos vivendo uma crise de fé. Padres e teólogos negam, põem em dúvida a historicidade e veracidade dos acontecimentos registrados nas Sagradas escrituras. Duvidam da ressurreição de Cristo, entre outros.

A idolatria é, indubitavelmente, o que mais fere a Santidade de Deus; é o pecado mais inaceitável e incompatível com a fé cristã. É a maior expressão de infidelidade a Deus! A idolatria, portanto é o esquecimento de que ele é suficiente e de que não precisamos de mais nada além dele! Todas as vezes que nossos corações se voltam para a adoração de falsos deuses estamos dizendo a Deus que ele não é realmente bom, justo, amoroso, santo enfim, suficiente para me preencher!

A grande maioria das pessoas, hoje, não adoram deuses de ouro, prata, barro ou madeira, como representação de seres divinos. Estamos mais do que convencidos de que esses ídolos não falam, não ouvem, não andam, não apalpam, não são capazes de satisfazer nossos anseios. Em Ezequiel 14.1-3 Deus revela ao profeta que o povo estava “erguendo ídolos no coração”!

A idolatria antes de ser um produto das mãos é inerentemente originada nos corações. A materialização em imagens é um detalhe e não essencial. A idolatria ocorre independentemente de haver imagens. Não é apenas algo externo a nós!

João Calvino certa vez afirmou: “O coração humano é uma fábrica de ídolos”. Deus criou o homem com o que o próprio Calvino chamou de “sensus divinatis”, ou seja, com uma inclinação para adorar a Deus. Somos seres adoradores, feitos para adorar. Adoramos a Deus ou qualquer outra coisa. Adorar é atribuir honra e glória a uma divindade, pessoa ou a um objeto que o adorador considera de valor supremo!

Quando alguma coisa deste mundo nos atrai mais do que o reino do Céu, então temos um ídolo diante de nós. Tornamo-nos idólatras. Ídolo É tudo aquilo que o ser humano ama mais do que a Deus, e que ocupa o lugar de Deus em sua vida, mesmo que apenas momentaneamente. Então, passamos a adorar nosso conhecimento, nossa posição, nossas opiniões, nossos prazeres prediletos, nossos bens e o conforto que nos cerca. O sexo pervertido (pedofilia, homossexualismo, lesbianismo, fornicação e toda sorte de coisas impuras relacionadas ao sexo) é o deus que governa a indústria do cinema, da pornografia, da prostituição, das "artes", novelas e música. 

O dinheiro é o deus buscado pelas multidões. A sociedade moderna nos quer convencer que dinheiro é felicidade ao mesmo tempo em que dinheiro é o que movimenta toda a maldade humana… quanta incoerência! Com dinheiro se compra vidas, se vende vidas, se troca vidas. É pelo dinheiro que o tráfico de todos os tipos se movimenta, é por dinheiro que muitos casamentos vão por água abaixo, é por dinheiro que os políticos se corrompem, é por dinheiro ou pela falta dele que milhões de pessoas passam fome, é por dinheiro que se fazem guerras, enfim, desde que o homem (ou o diabo mesmo) inventou essa praga chamada dinheiro o mundo tem se tornado cada dia pior.

Até nas igrejas Mamom está. A Teologia da Prosperidade alimenta o ego dos pastores e sua ambição por dinheiro fácil, enquanto alimenta o mesmo desejo das ovelhas. Mamom tem se disfarçado de Jesus e enganado milhões de pessoas que estão em busca de receber algo de Deus, mas não estão dispostas a obedecê-lo.
Nunca uma civilização se ajoelhou tanto diante de Mamom como se ajoelha nossa sociedade moderna. Não importa o que coloquemos no lugar de Deus, sempre estaremos prejudicando a nós mesmos.

Nosso coração diviniza todas essas coisas, algumas das quais são boas, como se fossem o centro de nossa vida porque achamos que podemos ter significado e proteção, segurança e satisfação se as alcançarmos. Desta forma, tudo pode ser um ídolo, e tudo tem sido um ídolo para uma pessoa ou outra.

A única solução para os graves problemas da humanidade, a única forma de nos libertarmos da influência destrutiva dos falsos deuses é nos voltarmos para o verdadeiro Deus, o Deus vivo, que se revelou, tanto no Monte Sinai quanto na Cruz, é o único Senhor que, se for encontrado, pode realmente satisfazê-lo. E o maravilhoso é que quando damos apenas um passo em Direção a Deus, O encontramos a nos esperar com amor e misericórdia.

a) Cristianismo de fachada. Deus olhava com tristeza para Seu povo e via que era um povo preocupado apenas em cuidar da aparência. Não tinha vida interior. Não vivi ligado à única fonte de poder que é Deus, mas eram homens e mulheres desesperadamente preocupados em mostrar boas obras, uma conduta correta e um aspecto exterior que despertasse elogiosos comentários.

Hoje, à semelhança do povo de Deus do passado, muitos vivem um cristianismo sem Cristo, um cristianismo que usa o nome de Cristo, mas vive apenas preocupado com exterioridades. Você vai a ela pensando achar água fresca, mas só encontra sequidão, desespero e morte. As cisternas rotas fornecem falsa religião, falsa satisfação, falsa alegria e falsa paz. A água de cisternas humanas não tem vida em si mesma e não nos satisfaz. Todos os recursos humanos fora de Jesus Cristo são falsos preenchimentos. Todas as nossas tentativas de resolver o problema do relacionamento com Deus através da religião, cisternas do esforço próprio, nos leva a um estado de ansiedade, aniquilamento espiritual e alucinação. “Será também como o faminto que sonha que está a comer, mas, acordando, sente-se vazio; ou como o sequioso que sonha que está a beber; mas, acordando, sente-se desfalecido e sedento” (Isaías 29:8).

Tenho observado muitos falsos ministros pregando uma falsa paz, garantindo salvação e prosperidade para quem vive na injustiça e no pecado, desde que contribua com dízimos e ofertas. Isso é mentira do diabo. A salvação e a paz só se obtêm pela "justiça divina" vivendo em nós. “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça repouso e segurança para sempre” (Isaías 32:17).

Aumenta espantosamente o número de pastores vazios, mais conhecidos como cisternas rotas, que apenas usam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, preocupando-se apenas com exterioridades. Suas pregações são falsas, entretendo ovelhas desnutridas e desidratadas com águas poluídas, palhas e muitas fábulas. Este é o motivo de um rebanho irrequieto, desesperado, á beira da morte. “E curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo; paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:14).

Não existe cristianismo sem a vida de Cristo. Estes profetas de paz sem experiência de justificação em Jesus Cristo, são falsos: “Então disse eu: Ah, Senhor, Senhor, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada, e não tereis fome; antes vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o Senhor: Os profetas profetizam falsamente em meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei: Visão falsa, ... o engano do seu coração é o que eles profetizam” (Jeremias 14:13-14).

O profeta Ezequiel também nos advertiu do perigo de tais ministros profissionais do evangelho, como pintores sem qualificação, com suas falsas pregações: “Os seus profetas lhes passam caiação, tendo visões falsas, profetizando mentiras, e dizendo: Assim diz o Senhor Deus; sem que o Senhor tivesse falado” (Ezequiel 22:28). Caiação é uma pintura barata, mal acabada, a base de cal e água, de pouca duração.

b) Forma de Religião legalista. Há os que se escondem atrás dos preceitos, normas e leis. Levam a vida a criticar os outros, porque os outros não estão vivendo da maneira que ele acha correto. Eles querem impor a sua religião sobre os outros.

Hoje, em nossos dias, há cidadãos, dentro e fora da igreja que dizem: “Eu faço tudo correto, tenho uma vida exemplar, não preciso ser crente. Essas pessoas estão completamente equivocadas, pois se não aceitarem a Jesus Cristo, como Senhor e Salvador não receberão a salvação (At 4:12). Essas pessoas construíram para si cisternas rotas.

III. Não confiar nos nossos esforços

Jesus Cristo é o único manancial de águas vivas e aqueles que desejam ser cada dia mais semelhante a Ele não cometem a imprudência de confiar nas cisternas construídas por suas próprias mãos, não cofiam no bom comportamento conseguido por seu próprio esforço, nem na sua reputação como bons membros da igreja. Não, eles vão ao manancial de águas vivas, são banhados diariamente nessas águas, acalmam a sede da alma na pureza dessas águas. Não permitem que nada os afaste desse manancial e o resultado dessa experiência é uma vida de obediência autêntica, um caráter que cada dia reflete mais e mais o caráter de Jesus.

O verso que lemos no início, expressa também a profunda tristeza que Deus sentiu no jardim do Éden quando Adão e Eva se esconderam de Sua Presença. Naquela tarde fatídica e trágica o coração de Deus se afligiu não por causa de um fruto comido, mas porque os filhos amados não estavam mais perto dEle. O que Lhe causa tristeza ao coração não são apenas os atos errados do homem, são em primeiro lugar o relacionamento quebrado, o construir cisternas rotas separados do manancial de águas vivas.

IV - Quatro princípios para receber a fonte de água viva

Lemos em Colossenses 3:16: “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações”. Neste texto encontramos quatro princípios para recebermos a Fonte da água viva, quais sejam:

1 - Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo;
2 - ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria
3 - e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais
4 - com gratidão a Deus em seu coração.

V. Conclusão:

Talvez você venha de uma grande perda. A angústia e o desespero invadiram seu coração. Sua dor é insuportável, consumindo-o aos poucos e já perdeu todas as expectativas de melhora. Agora para você a vida não tem mais sentido. Quem sabe esteja no fundo do poço, vivendo um ciclo de perdas infindáveis, e não tem mais nada para perder. Não dê o caso por encerrado, porque quando estamos no fundo do poço, só existe uma possibilidade de contemplar a luz. "O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz." (Isaías 9:2).

Olhar para cima, para o único Deus que ainda não colocou um ponto final nesta situação; o único que pode contemplar a dor de um coração despedaçado; o único que pode nos resgatar das mais profundas e densas trevas, transformando maldição em bênção, choro em alegria, escassez em abundância. Olhe para Ele. "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." (Isaías 45:22).

Por que não decidir hoje, manter comunhão com o Cristo, que é o manancial de águas vivas? Ele está pronto para receber você. Ele diz: “O Espírito e a noiva dizem: "Vem! " E todo aquele que ouvir diga: "Vem! " Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida. (Apocalipse 22:17, NVI). Diante de você está o cheio de desafios e expectativas, mas cuidado, não tente construir cisternas rotas, deposite sua confiança em Jesus e viva uma vida cristã vitoriosa.







segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

PROPAGANDA FALSA

Silmar Cristo*

Que a dieta mediterrânea faz bem para o coração é um fato. Duvidoso é concluir que o segredo dela é o consumo moderado de vinho

Nas últimas duas décadas sobraram pesquisas científicas que apontaram a chamada dieta do Mediterrâneo como um modelo de cardápio saudável. De carona nessa onda, o consumo diário de uma taça de vinho foi alardeado por muitos como elemento importante nesse menu e um fator na prevenção de doenças coronárias.

Assim que foram revelados os primeiros resultados desses estudos, médicos, nutricionistas e outros profissionais da saúde se animaram com os supostos benefícios do vinho e recomendaram seu consumo em quantidades moderadas. Para mim, esse fato é um exemplo clássico do poder que o capital tem de formar opiniões e mudar comportamentos a partir da visibilidade que a mídia oferece para pesquisas acadêmicas tendenciosas.

Lamentavelmente, muitos cristãos foram levados por essa retórica e passaram a consumir álcool como medida para a proteção do coração. Alguns chegaram até a citar textos bíblicos para apoiar seu novo hábito. Resultado: conclusões científicas duvidosas acabaram levando alguns a uma postura teológica equivocada (para entender por que essa interpretação carece de melhor base bíblica, leia a seção “Boa Pergunta” de março).

Os vinicultores da Califórnia (EUA) viram no interesse pela dieta do Mediterrâneo uma oportunidade sem precedentes para mudar a imagem pública do vinho, que se havia desgastado nas décadas de 1980 e meados de 1990 por causa da ampla conscientização nos Estados Unidos sobre os efeitos negativos do álcool.

Ao levar a dieta mediterrânea para o laboratório, basicamente, os pesquisadores deveriam responder à seguinte pergunta: por que a população que vive próximo ao mar Mediterrâneo come mais gordura do que os norte-americanos, mas tem menor índice de doenças cardiovasculares? Ignorando fatores importantíssimos de hábitos alimentares dessas comunidades, vários cientistas concluíram que a diferença estava no resveratrol, antioxidante presente no vinho.

No entanto, o que não podia ser ignorado foi esquecido: a diferença significativa entre o estilo de vida das duas populações. O povo do Mediterrâneo, por exemplo, consome cinco ve­zes mais frutas e verduras, três vezes mais nozes e mais cereais integrais do que os norte-americanos. Além de comerem de modo mais saudável, fazem do almoço sua principal refeição diária, enquanto a população dos Estados Unidos sobrecarrega o jantar com um cardápio gorduroso. Por fim, o povo do Mediterrâneo é cinco vezes mais ativo do que os norte-americanos.

Portanto, parece claro que, independentemente do consumo de vinho, o estilo de vida mediterrâneo é o grande fator para que a dieta dessa região seja associada à prevenção de doenças cardiovasculares. E, para quem deseja os benefícios do antioxidante resveratrol, a boa notícia é que essa substância pode ser encontrada no suco de uva integral com melhor biodisponibilidade do que no vinho, sem o inconveniente dos prejuízos do álcool. Tim-tim!

*SILMAR CRISTO é médico, consultor e autor de vários livros sobre saúde e qualidade de vida.


(Texto publicado originalmente na edição de maio de 2016 da Revista Adventista)

A IMPORTÂNCIA DA DOUTRINA DO SANTUÁRIO PARA OS ADVENTISTAS

Deilson Storch de Almeida*

O povo de Deus é peculiar, especialmente quanto às suas crenças e práticas. O que foi dito por Hamã ao rei Assuero sobre o cativo povo de Deus na Pérsia aplica-se, com muita propriedade, à igreja remanescente dos últimos dias: “Existe […] um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos” (Et 3:8).

De fato, o povo do advento tem práticas e crenças muito peculiares. Como demonstração disso, consideremos os seguintes exemplos: cremos em toda a Bíblia; harmonizamos a lei com a graça; fazemos distinção de leis; guardamos o sábado; sustentamos a imortalidade condicional da alma; consideramos o inferno uma realidade futura e de duração passageira; somos pré-milenaristas; sustentamos os princípios de saúde revelados por Deus; temos uma origem profética; reivindicamos a posse do dom profético; cumprimos uma missão profética; temos uma escatologia pertinente; e ensinamos a verdade do santuário.

Ataques às colunas da fé

Algumas dessas crenças distintivas têm sido atacadas em várias partes do mundo por pessoas e movimentos, tanto de dentro como de fora da igreja. Faz poucas décadas, o teólogo Desmond Ford agitou nossos arraiais ao se desviar da interpretação histórica adventista sobre o santuário. Por um lado, isso causou muito sofrimento à igreja; por outro, esses movimentos contestatórios de verdades fundamentais trouxeram relevante benefício espiritual a muitas pessoas, especialmente os pastores de nossa igreja, que sentiram a necessidade de fazer um exame crítico da doutrina, resultando disso uma fé provada. No entanto, o reconhecimento desse fato não deve ser encarado como insinuação de que se deve desejar o surgimento de novos focos de contestação doutrinária.

O aparecimento de movimentos contestatórios, heréticos e dissidentes é previsto nos escritos bíblicos e nos de Ellen G. White, como veremos a seguir. Eis algumas predições bíblicas:

1. Nos últimos dias, alguns se desviariam da fé verdadeira, dando ouvidos a “espíritos enganadores e a doutrina de demônios” (1Tm 4:1).

2. Até os escolhidos seriam colocados à prova pelos terríveis sinais e prodígios de engano, operados por “falsos cristos e falsos profetas” (Mt 24:24).

3. Heresias destruidoras, introduzidas dissimuladamente por falsos mestres e profetas, infamariam “o caminho da verdade” (2Pe 2:1, 2).

4. Paulo, em suas epístolas, fala da “sabedoria carnal” (2Co 1:12, RC) dos sábios deste século; “da operação do erro” (2Ts 2:11) nos que “não acolheram o amor da verdade” (2Ts 2:10, RC); fala daqueles que “não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4:3); dos “lobos devoradores” do rebanho; das oposições da falsa ciência, e das “filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens e segundo os rudimentos deste mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2:8, RC).

Assim, mediante as citações e expressões bíblicas neotestamentárias mencionadas, Deus predisse a obra e influência daqueles que, nos últimos dias, iriam negar, combater e tentar remover os pilares da verdade.

O Espírito de Profecia, por sua vez, preconizou que uma “obra de apostasia” terá lugar; haverá “uma confusão de fé” (Ellen G. White, O Cuidado de Deus [MM 1995], p. 332); “será deturpada uma verdade após outra” (ibid.); “serão removidos […] os marcos (da verdade)” (ibid.); e “far-se-á uma tentativa para demolir as colunas de nossa fé” (ibid.). Após uma visão, Ellen G. White afirmou: “Os fundamentos de nossa fé […] estavam sendo retirados, pilar por pilar. Nossa fé nada teria sobre o que se apoiar – o santuário estava eliminado, a expiação descartada. […] Teorias sedutoras estão sendo ensinadas de tal modo que não as reconheceremos a menos que tenhamos um claro discernimento espiritual” (Olhando Para o Alto [MM 1983], p. 146).

“Os homens tentarão introduzir novas teorias e tentarão provar que essas teorias são escriturísticas, conquanto sejam errôneas, as quais, se forem aceitas, comprometerão a fé na verdade. Não, não; não devemos desviar-nos da plataforma da verdade em que fomos estabelecidos” (ibid., p. 193).

“O inimigo introduzirá doutrinas falsas, tais como a de que não existe um santuário. Este é um dos pontos em que alguns se apartarão da fé” (Ellen G. White, Evangelismo, p. 224).

Pilar essencial do adventismo

As declarações acima deixam subentendido o fato de que não se pode encarecer demasiadamente o caráter vital da doutrina do santuário para nossa fé. Embora seja um ensinamento exclusivo da Igreja Adventista e praticamente a única doutrina que não temos em comum com nenhum outro grupo religioso (exceto os reformistas), a verdade sobre o santuário não pode ser vista como um ensinamento estranho, desvirtuado e indefensável; tampouco um simples expediente para justificar o episódio do desapontamento de 1844, como pretendem alguns.

Em vez de ser um desvio da fé cristã histórica, o ensino do santuário é a conclusão lógica e a inevitável consumação dessa fé. É uma verdade presente, uma verdade para os últimos dias; mensagem oportuna, confiada ao povo do advento.

Nem a igreja cristã primitiva nem a Reforma ensinaram essa verdade. Pouco mais de quatrocentos anos depois é que o juízo teve início no Céu, na fase final da mediação de Cristo, e Deus então suscitou um movimento para proclamar aos habitantes da Terra a vital e solene mensagem do santuário. Como igreja remanescente da profecia, cabe-nos o privilégio e a responsabilidade de ensinar essa verdade presente, no contexto das três mensagens de Apocalipse 14.

Essência do adventismo

O que a doutrina do santuário significa para a Igreja Adventista do Sétimo Dia? Responde o grande estudioso e erudito denominacional Leroy Edwin Froom: “A verdade do santuário é a essência do adventismo e tudo abrange; qualquer enfraquecimento, negação ou supressão da verdade do santuário é questão séria, mesmo crucial. Qualquer desvio ou abandono dela fere o coração do adventismo, sendo um desafio à sua própria integridade” (Ministério Adventista, julho/agosto de 1971, p. 13).

A verdade do santuário é indubitavelmente o ponto cardial do sistema doutrinário adventista. Ellen G. White diz: “A luz proveniente do santuário iluminou o passado, o presente e o futuro” (O Grande Conflito, p. 423).

Passado. A compreensão da doutrina do santuário propiciou aos pioneiros a possibilidade de ver o evangelho e sua glória nos ritos e serviços do santuário mosaico – prefiguração do sacrifício e obra de Cristo – e os levou a compreender que o terrível e probante desapontamento que haviam experimentado (22 de outubro de 1884) havia sido predito e previsto por Deus mais de 1.700 anos antes, na visão do livrinho aberto comido simbolicamente por João (ver Ap 10:1-11). Mas, depois de esclarecido e solucionado o mistério da decepção, eles deviam, com novo ânimo, retomar e cumprir a inconfundível e peculiar missão profética que lhes estava reservada (“é necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” – Ap 10:11), ou seja, a missão de proclamar ao mundo inteiro a tríplice mensagem angélica de Apocalipse 14:6-12, verdade presente de Deus para as últimas gerações da Terra.

Presente. O entendimento da doutrina do santuário foi a chave que esclareceu o mistério do desapontamento de 1844 e lançou luz sobre pontos básicos de nossa fé e verdades essenciais da Bíblia. Em outras palavras, o santuário “revelou um conjunto completo de verdades ligadas harmoniosamente entre si” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 423), como: distinção de leis, lei de Deus, sábado, expiação, mediação, justificação, santificação, segunda vinda de Cristo, recompensa dos justos e dos ímpios e completa destruição do mal.

No dia 3 de abril de 1847, Ellen G. White teve uma visão do Santíssimo, no templo do Céu. Contemplou a arca aberta e, dentro dela, as tábuas da lei. Um halo especial de luz incidia sobre o quarto mandamento. A partir desse momento, ficou claro para os pioneiros que a aceitação da verdade do santuário envolvia o reconhecimento dos requisitos da lei de Deus e a obrigatoriedade da guarda do sábado do quarto mandamento.

Após a descoberta do santuário, visões de Ellen G. White mostraram a dimensão escatológica do conflito que se desenvolveria em torno da questão do verdadeiro sábado, trazendo o entendimento da mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-13. Até esse momento, o sábado não tinha sido visto sob esse ângulo.

Pelo que acabamos de ver, percebe-se facilmente que, sem a doutrina do santuário, perderíamos nossa identidade como povo peculiar. Além disso, careceríamos de base como movimento profético, ficaríamos destituídos do sentido de missão e, consequentemente, sem razão de existir, como bem observou Froom: “Se não existe santuário no Céu, e nele não há operado um grande Sumo Sacerdote, e se já não existe mensagem da hora do juízo a ser, por ordem divina, pregada atualmente, então não há lugar para nós no mundo religioso, nem missão e mensagem denominacionais distintas, nem desculpas para ficarmos como entidade eclesiástica separada” (Ministério Adventista, julho/agosto de 1971, p. 13).

Futuro. Quando o livro da profecia de Daniel foi aberto no início do tempo do fim (Dn 12:4, 9; Ap 10:1, 2; 22:10), houve um despertamento mundial de pessoas em torno de solenes eventos a ocorrer brevemente – o juízo, a vinda de Cristo e o estabelecimento do reino de Deus. Sincera, mas equivocadamente, Miller e seus companheiros nos Estados Unidos entenderam que “a purificação do santuário” (Dn 8:14), que se daria em 22 de outubro de 1844, segundo a explanação de Daniel 9:23-27, seria a volta de Cristo à Terra, trazendo juízo de fogo e com ele os tão ansiados novos Céus e nova Terra (2Pe 3:7, 10, 12, 13).

Porém, a data passou. As expectativas da segunda vinda de Jesus não se cumpriram; aquilo que na boca tinha sido doce como mel (a crença na iminente vinda de Cristo) se tornou amargo no estômago (Ap 10:8-10), e o movimento do advento se esfacelou. Uma parte dele, sentindo-se enganada, desiludida e revoltada, deixou completamente suas crenças religiosas, retornando à sua anterior maneira de viver, sem fé e sem esperança no mundo. Outra parte, deixando de lado o interesse pelas profecias, as inquietudes escatológicas e as verdades e pontos de fé diferenciais que haviam aprendido no movimento adventista, pediu readmissão e retornou às suas igrejas de origem. Um terceiro segmento dos decepcionados, não se conformando com o desapontamento, nem admitindo haver cometido qualquer erro de interpretação profética, continuou marcando novas datas para a vinda de Cristo e sofrendo novos e sucessivos reveses.

Por fim, um quarto grupo, o menor deles, composto por apenas 50 a 60 pessoas (entre eles José Bates, Tiago White, Hiram Edson e Ellen G. Harmon), assumiu uma atitude diferente, mais sábia e equilibrada que a dos demais: eles não voltaram para o mundo nem retornaram às suas igrejas de origem porque, desde que se associaram ao movimento milerita (que não visava a formar uma nova denominação, mas despertar e preparar as pessoas, em suas igrejas, para o encontro com o Senhor), experimentaram um crescimento na fé, na espiritualidade e no conhecimento das verdades bíblicas e proféticas que não possuíam antes. Esse remanescente não cogitou também marcar novas datas para a vinda de Cristo.  Crendo fervorosamente que sua experiência provinha de Deus e que as Escrituras não mentem nem falham, decidiram continuar investigando mais profundamente as doutrinas bíblicas, para obter consolação e descobrir onde haviam errado. Tinham fé e acreditavam que Deus estava com eles e que finalmente lhes esclareceria o mistério do desapontamento.

Luz no santuário

Um dia depois do desapontamento, Hiram Edson teve a famosa visão do campo de milho, na qual lhe foi dada uma espécie de intuição acerca do que realmente ocorrera no dia amargo. A partir daquele princípio, o médico F. B. Hann e o professor Owen Crosier começaram a realizar estudos com vistas ao desvendamento do mistério da desilusão experimentada. Ao estudar os livros de Levítico, Êxodo, Apocalipse e especialmente Hebreus, os pioneiros notaram a existência inequívoca de um santuário no Céu. Perceberam que esse santuário não é o próprio Céu, mas está no Céu, e foi o modelo dado por Deus a Moisés para a edificação do santuário terrestre (Êx 25:8, 9, 40; Hb 8:5).

Descoberta a relação entre os dois santuários – o celestial e o mosaico – estava estabelecido o princípio de correlação tipo/antítipo, sombra/objeto, figura/realidade. O santuário terrestre – realidade visível – apontava para o celestial, realidade invisível (Hb 8:9-5; 9:9, 23, 24).

O santuário do novo concerto era o grande original; o do antigo concerto, a cópia. O primeiro estava no Céu, e o segundo, na Terra. Esse foi construído pelo homem; aquele, por Deus. No terrestre, oficiavam sacerdotes da ordem levítica; no celestial, Jesus, ministro segundo a ordem de Melquisedeque, isto é, com base na excelência de Seu caráter, méritos e atribuições (Hb 7:11, 15-19).

Atentando para Hebreus 9:11, onde é dito que o santuário celestial é “maior e mais perfeito” do que o terrestre, os pioneiros compreenderam que “o esplendor sem-par do tabernáculo terrestre refletia à vista humana as glórias do templo celestial em que Cristo, nosso Precursor, ministra por nós perante o trono de Deus. A morada do Rei dos reis, em que milhares de milhares O servem, e milhões de milhões estão em pé diante dEle (Dn 7:10), sim, aquele templo, repleto da glória do eterno trono, onde serafins, seus resplandecentes guardas, velam a face em adoração – não poderia encontrar na estrutura mais magnificente que hajam erigido mãos humanas, senão pálido reflexo de sua imensidade e glória. Contudo, importantes verdades relativas ao santuário celestial e à grande obra ali levada a efeito pela redenção do homem, foram ensinadas pelo santuário terrestre e seu culto” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 414).

Mais evidências

Os primeiros adventistas do sétimo dia encontraram abundantes e concretas evidências da realidade do santuário do Céu nas visões dadas a João a respeito do templo celestial. Ele viu que “diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4:5, RC); viu que “veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono” (Ap 8:3); e, quando se “abriu no Céu o templo de Deus” (Ap 11:19) e João olhou para dentro do véu interior, ou lugar santíssimo, viu ali “a arca da Aliança”, representada pelo receptáculo onde se guardava a lei no santuário terrestre. Dessa forma, ficou estabelecido esse fundamental pilar do sistema da verdade de Deus, que é a gloriosa, multifacetada e bendita doutrina do santuário.


*Deilson Storch de Almeida é teólogo, historiador e escritor


FONTE: Revista Adventista de Setembro de 2011.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

MOVIMENTO CARISMÁTICO A ÚLTIMA PEÇA


ADORAÇÃO DANÇANTE PARA UM POVO QUE NÃO DANÇA?

Michelson Borges

Recentemente recebi e-mail de um irmão músico que se mostrou preocupado com certos tipos de produções musicais que têm se tornado comuns no meio adventista. Antes de entrar no assunto, gostaria de reafirmar que admiro muito os cantores e músicos de nossa igreja; apoio tanto quanto possível o ministério deles e oro por eles, pois reconheço a importância da música juntamente com a pregação da Palavra e outros ministérios importantes da igreja. No entanto, não podemos tapar os olhos – ou os ouvidos – e fazer de conta que não há problemas. Assim como são criticados maus sermões – como os sermões humanistas desprovidos de conteúdo bíblico que de vez em quando são proferidos de nossos púlpitos – ou mesmo um artigo publicado em alguma revista ou um livro com conteúdo duvidoso, entendo que podemos e devemos avaliar a música de louvor que vem sendo produzida por músicos da igreja. E assim como o pregador e o autor de um livro/artigo devem estar abertos a ouvir as críticas e observações e ter maturidade para aprender e crescer com elas, essa deveria ser também a postura dos músicos, afinal, quando o assunto é louvor, minha vontade não deve prevalecer, mas, sim, as balizas providas pela Bíblia e pelos livros de Ellen White (como o ótimo livro Música, da CPB), que contêm princípios mais do que suficientes para reger a boa música adventista de louvor.

O irmão me disse estar muito triste ao ver o crescimento de uma tendência. “Como músico, não consigo definir a maioria das nossas músicas recém-lançadas como além de música gospel-adventista”, define. “Já pedi para colegas não adventistas escutarem essas músicas e darem sua opinião ‘imparcial’; eles sempre definem como um gênero próximo ao pop-rock ou simplesmente música gospel.”

Ele diz que, atualmente, o que lhe preocupa e parece paradoxal é o incentivo à dança presente em muitas músicas. “Tocamos em nossas igrejas estilos musicais dançantes e esperamos que nossos irmãos não dancem, que fiquem apenas no nível auditivo. Mas até quando isso durará? Não estamos criando um paradoxo?”, ele questiona.

Segundo ele, os jovens da igreja não têm tido a oportunidade de conhecer a estética e a maneira de transmitir as verdades bíblicas por meio da música sacra. Para o músico, “as várias estéticas presentes na música sacra das diversas épocas nunca comunicaram a dança; ao contrário, o dançar via de regra sempre esteve ligado à música popular, secular ou profana” – especialmente em nosso tempo e em nossa cultura, os quais devemos, como igreja, sempre levar em consideração.

O irmão que me enviou o e-mail acredita que a próxima questão a ser discutida não será mais sobre o uso da bateria no louvor, mas, sim, se a dança é ou não aceitável para os cristãos em nossa cultura e em nosso tempo, especificamente no Brasil.

Em seguida, ele propôs dois casos fictícios, mas possíveis:

Caso 1: Imagine um homem de cerca de 27 anos, professor universitário, batista, fez seus estudos de piano clássico, fez mestrado em educação musical e doutorado em regência com foco em música sacra. Em certo momento ele conhece a mensagem adventista e decide ser batizado. Ele começa a rever sua vida e sua cosmovisão e inicia em sua vida um processo de santificação com a ajuda do Espírito Santo. Depois disso ele decide dedicar boa parte de seu tempo livre, que é um tempo razoável, a algum projeto da igreja. Ele acharia em nossas igrejas um campo fértil para o ensino da música sacra?

Caso 2: Imagine um homem de cerca de 28 anos, guitarrista de uma grande banda de rock, compositor e um músico muito bem realizado que sempre faz masterclass sobre música popular e estilo rock para jovens músicos que pretendem seguir essa carreira. Certo dia ele é apresentado à verdade e decide entregar a vida a Jesus. Depois de batizado, ele decide se santificar e pede também ajuda ao Espírito Santo. Tendo em vista os estilos musicais predominantes e diariamente oferecidos à nossa igreja, e considerando que a música erudita e a estética sacra tradicional, que embora existam em nossas universidades não são apresentada à grande maioria dos membros, qual dos dois músicos encontraria mais rapidamente um campo de atuação?

O músico cita Ariano Suassuna: “O cachorro só come osso porque só lhe damos osso”, para perguntar: “Quem vai gostar de música sacra, se só oferecemos como opção música gospel? Quem deveria divulgar a música sacra, o mundo secular? Como alguém poderia gostar de comida vegetariana se nunca teve a oportunidade de comer uma boa comida feita por vegetarianos?”

Por esse e outros motivos fiquei feliz com a notícia de que o Hinário Adventista passará por uma atualização a fim de ser mais relevante para a atual geração (confira aqui a notícia). Nele haverá a inclusão de novos hinos e a retirada de hinos em desuso, cujas letras não mais comunicam aos adoradores desta época. Mas o que marcará todas as canções serão as melodias adequadas ao louvor (e não dançantes) e as letras com conteúdo teológico sólido, que ajudarão a fixar verdades eternas na mente dos que as cantarem.

Um dos aspectos mais importantes envolvidos no grande conflito entre o bem e o mal é exatamente a adoração. Por isso, esse assunto deve ser levado muito a sério e ser alvo de nossas mais fervorosas orações. Oremos pela nossa igreja, pelos nossos músicos, pela nossa gravadora, pela comissão do novo hinário e por nós mesmos, a fim de que Deus promova a unidade na diversidade e Se agrade do que Lhe oferecemos em termos de louvor. [MB]

Nota 1: Fica terminantemente proibido o uso deste texto para fins de ataque ou de crítica pela crítica. Não foi com esse espírito que ele foi escrito e postado. Amo profundamente minha igreja e nunca fui nem nunca serei adepto do “fogo amigo”. Quero vê-la cumprir seu papel neste mundo perdido e ajudá-la no que me for possível.

Nota 2: “O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice” (Charles H. Spurgeon, citado por John F. MacArthur, “Another Word Concerning the Down-Grade”, The Sword and the Trowel [agosto, 1887], p. 398).



domingo, 14 de janeiro de 2018

HÁ VERDADE E MORAL ABSOLUTAS?

Ricardo André

Nos momentos finais de Sua vida, Jesus foi levado perante Pôncio Pilatos. Os anciãos dos judeus haviam acusado Jesus de traição e rebelião contra Roma e insistiam que Ele fosse condenado à morte. Quando Pilatos se viu face a face com o Homem da Galileia, ele perguntou: “Tu és rei?” Jesus respondeu: "Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem". (João 18:37). “O que é a verdade?”, Pilatos perguntou a Jesus. Esta é uma pergunta muito boa, talvez a mais filosófica em toda a Bíblia (João 18:38). Uma pergunta da qual tem ocupado ao longo dos tempos filósofos, cientistas e outros pensadores. E essa é uma pergunta para todas as épocas e para todas as pessoas.

Essa questão também está presente no fundamento da cosmovisão de nossa cultura. Há uma corrente de pensamento que advoga que cada um tem sua própria verdade, não existindo, portanto, a verdade única. Muitos hoje estão convencidos de que nada é absolutamente verdadeiro, que a verdade não pode existir e, se existir, certamente não é autoevidente e talvez não seja cognoscível. Nietzsche, nascido na Alemanha, faz uma crítica forte ao pensamento clássico - ao mundo das ideias, de Platão e Sócrates. Ele vai defender que a verdade não existe. Emmanuel Kant, ilustre filósofo alemão, no seu livro "A Crítica da Razão Pura" disse que a verdade não é absoluta, mas subjetiva.  Ainda mais, muitos dizem, não há nada completamente certo ou errado. Na melhor das hipóteses, há apenas uma diversidade de verdades.

Essa visão relativista da realidade e da qualidade da experiência humana torna a verdade “dependente da pessoa” ou simplesmente “verdade para mim”, sendo estabelecida com base em preferências individuais ou segundo o grupo a que a pessoa pertence. Ela já não é vista como objetiva, atemporal ou vinda de cima. A verdade agora é criada e recriada a partir da experiência, em diálogo com os outros, dentro de uma cultura. Isso significa que a moral de hoje não é a moral de ontem. A moral de hoje é cultural, relativa e muda de acordo com o tempo, com a necessidade pessoal ou social, ou com a preferência. Naturalmente, aqueles que defendem a existência de uma verdade moral, religiosa, social ou política que esteja acima do tempo e da cultura enfrentam muitas acusações de intolerância. Pelo fato de que a verdade moral pode ser profundamente polarizadora, muitos creem que o conceito de verdade por si só é perigoso.

Surpreendentemente, em vez de levar ao colapso da moralidade, esse audaz relativismo tem gerado um renascimento pela busca, muitas vezes solitária e dolorosa, dos princípios da vida. Essa busca é uma angústia que se manifesta por meio do pluralismo, da ausência de autoridade e da centralidade do eu na constituição de agentes morais. A cacofonia das vozes morais joga o indivíduo de volta a sua própria subjetividade como autoridade ética final. O desafio de se explorar todas as vias possíveis para saber como se deve viver moralmente costuma ser ao mesmo tempo cansativo e assustador, e também pode ser arriscado.

Pilatos não deu tempo para que Jesus lhe respondesse a pergunta. “A multidão do lado de fora clamava por uma decisão, e Pilatos não esperou por uma resposta. Assim, ele deixou passar uma oportunidade áurea. Como Félix, ele esperava um momento mais favorável (At 24:25). Se, mais tarde, alguém falou a ele sobre o Céu, foi negligenciado como nesta oportunidade. Pilatos morreu alguns anos mais tarde, como um suicida (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 1178, 1179). A maioria dos que hoje perguntam sobre a verdade também não tem tempo. Ele não fez uma pausa suficiente para ouvir. Pilatos teria ouvido algumas incríveis verdades sobre a verdade e a moral absolutas.

O que seria, pois, a verdade? É realmente possível chegar a conhecê-la?

A verdade existe?

Um ponto importante em relação a verdade é que ela existe (João 8:32). Além disso, só há um caminho, uma verdade e uma vida (João 14:6). Caminho, verdade e vida são expressões bíblicas morais. A verdade é uma esfera moral em que se pode estar, ser e agir – até mesmo prestar culto (João 3:21; 4:24; 8:44). Há um espírito da verdade e um espírito do erro, e nenhuma mentira é da verdade (João 18:27; 1 João 2:21; 4:6). A verdade está em contraste com a mentira, a falsidade, a irrealidade, a ilusão ou qualquer ideia de uma diversidade de verdades.

A verdade é uma pessoa

A essência da verdade é pessoal. Antes mesmo de Pilatos ter-Lhe questionado, Jesus já havia declarado: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (João 14:6). Esta afirmação de Jesus era um golpe penetrante ao que os gregos chamavam de autárkeia ou suficiência própria. Eles criam que a verdade era a manifestação da eterna, imóvel e imutável essência das coisas e que os homens podiam descobri-la mediante análise racional. A verdade última era localizada no mundo imaterial de ideias, que era formado por abstrações racionais da mente humana. Em oposição a isto, Jesus proclamou que a verdade está além do alcance da mente humana por si só; é uma revelação.

Dizendo: “Eu sou...a verdade”, Jesus rejeitou qualquer tentativa de definir a origem, a natureza e o destino da raça humana de uma perspectiva natural. Ademais, Ele Se arrogava a verdade absoluta. Ele não disse: “Sou uma dimensão da verdade, um aspeto da verdade, um elemento da verdade”. Aquele que falou era o Eterno “Eu sou”, Deus em forma humana (Êx 3:14; João 1:1-3, 14; Rm 9:5). NEle todo conhecimento encontra seu centro e significado.

Definitivamente, a afirmativa de Jesus não deixa margem para o relativismo. O seu "eu sou" é categórico; não está datado; não está restringido a uma cultura; não depende de uma escolha de fé. A vida de Jesus, um Deus que se faz homem, não é para ser vista como a de um mestre judeu; Ele era mais que um rabi; era Deus em forma de homem. O seu "eu sou o caminho, a verdade e a vida" coloca uma decisão para todo o ser humano, pois, "a questão mais pungente no problema da fé é se um homem enquanto um ser civilizado pode crer na divindade do Filho de Deus, Jesus Cristo, pois aí reside toda a nossa fé" (Fyodor Mikhailovich Dostoevsky - 1821-1861). Essa é uma ousada definição bíblica: Deus é a verdade. Sua natureza, Seu próprio espírito, é verdade. Em sua essência, a verdade é um Ser. Isso significa que a verdade é tanto moral como “inerentemente pessoal.” Ela não é abstrata nem um mero ensinamento. Tudo o que Deus diz e tudo o que Deus faz é verdade. Suas palavras e Suas obras são revelações de Sua natureza. Os ensinamentos de Jesus são verdadeiros, porque eles expressam a verdade, o que Ele mesmo é.

Portanto, se tivermos coragem e fé suficientes para trilhar Seu caminho, ele nos conduzirá à paz no coração e na mente, a um significado duradouro na vida, à felicidade neste mundo e alegria no mundo vindouro. O Salvador “não está longe de cada um de nós” (At 17:27). Temos Sua promessa de que se O buscarmos diligentemente, nós O encontraremos (Deuteronômio 4:29; Provérbios 8:17; Atos 17:27). A verdade, então, leva-nos a um relacionamento pessoal com a Fonte autêntica da vida. Ela sempre nos envolverá como pessoas.

Ao dizer “eu sou a verdade”, Jesus afirmou que a verdade não é simplesmente uma ideia ou um conceito abstrato, mas, também, uma pessoa. Assim, a verdade não é apenas algo a ser conhecido pela obtenção de informações, mas, também, pelo relacionamento, que conduz à intimidade. Não se conhece a verdade de Jesus apenas lendo a respeito dele. Essa verdade também deve ser conhecida na dinâmica das experiências relacionais. Num mundo de engano, ilusão e de problemas, podemos imprimir uma direção significativa à nossa vida. A reconfortante promessa de Jesus de que Ele é “o caminho, e a verdade, e a vida” tem dado a mim e a cada membro da minha família uma paz diária e um propósito e direção que nos conduziram realmente a um novo estilo de vida! Cristo não somente conhece o caminho e a verdade; Ele é o caminho e a verdade. Jesus é verdade a ser conhecida relacionalmente. Ellen G. White afirmou: “A verdade, como é em Jesus, pode ser experimentada mas nunca explicada. Sua altura, largura e profundidade ultrapassam nosso entendimento. Podemos exercitar ao máximo a imaginação, e veremos então só tenuemente o esboço de um amor inexplicável, tão alto quanto o Céu, mas que baixou à Terra para gravar em toda a humanidade a imagem de Deus” (Parábolas de Jesus, p. 129).

Você tem buscado conhecer a verdade de Jesus relacionalmente? Como está o seu relacionamento com ele?

A Palavra de Deus é a verdade

Na Sua grande oração, Jesus afirmou enfaticamente que a Palavra de Deus é a verdade declarada (João 17:17). O salmista afirma: “A verdade é a essência da tua Palavra” (Sl 119:160). O apóstolo Paulo asseverou que o evangelho pregado por ele e demais apóstolos é “a palavra da verdade” (Ef 1:13). “Visto que tudo na Escritura é palavra de Deus e que toda palavra que procede de Deus é a verdade, parece difícil evitar a conclusão de que tudo na Escritura é verdade. Era exatamente isso que os autores bíblicos reivindicavam para seus escritos. Foi isso que o Senhor afirmou e o que a maioria dos cristãos através dos séculos tem defendido e professado” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, p. 50).

Uma vez que as Escrituras Sagradas são a verdade, elas representam “o único alicerce que sustenta a possibilidade de conhecimento. Se fosse deixado à razão humana decidir se a Escritura é verdadeira ou não, então a razão humana seria o padrão derradeiro que determinaria todo o conhecimento. Mas, (...) foi exatamente esse o erro que levou o ser humano a desobedecer a Deus. No final, a autoridade da Escritura repousa no testemunho que a própria Escritura dá de si mesma, porque não existe nenhuma outra autoridade maior por meio da qual a Bíblia possa ser medida. A Bíblia é a autoridade final e suprema para todo o conhecimento” (Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual, Vida Nova, p. 137, 138).

Embora a essência da verdade seja pessoal, a verdade pode ao mesmo tempo consistir de ideias e palavras concretas, objetivas e propositivas. A escritora cristã Ellen G. White afirmou que “o grande celeiro da verdade é a Palavra de Deus - a Palavra escrita, o livro da Natureza e o livro da experiência no trato de Deus para com a vida humana. Eis os tesouros, de que os coobreiros de Cristo devem prover-se. Na pesquisa da verdade devem confiar em Deus e não na inteligência dos grandes homens, cuja sabedoria é loucura para Deus. O Senhor comunicará ao inquiridor o conhecimento de Si mesmo, pelos canais por Ele prescritos” (Parábolas de Jesus, p. 125). Ela ainda afirma: “A Bíblia é o Livro dos livros. Se amais a Palavra de Deus, esquadrinhando-a quando tendes oportunidade, para que venhais a possuir seus ricos tesouros, e estejais perfeitamente aparelhados para toda boa obra, então podeis ter certeza de que Jesus vos está atraindo para Si. Ler, porém, as Escrituras de maneira casual, sem procurar compreender as lições de Cristo a fim de poder satisfazer Suas exigências, não é bastante. Há na Palavra de Deus tesouros que só podem ser descobertos penetrando fundo na mina da verdade” (Mensagens aos Jovens, p. 274).

A verdade como ideias ou palavras pode ser pronunciada, ouvida, escrita, lida, compreendida e mantida. Ela pode transformar a vida. Jesus assumiu que ideias e palavras cheias de verdade têm forma, conteúdo e significado compreensíveis. Há correspondência entre as ideias e as realidades que elas representam – sejam elas relativas a Jesus, ao Pai ou à vida humana moral e espiritual. As palavras verdadeiras podem ser invocadas precisamente porque estão de acordo com a realidade e vêm dAquele que é verdadeiro (João 14:6; Apocalipse 21:5; 22:6). Como o próprio Jesus é tanto “a Palavra” como a “verdade”, a correspondência entre as palavras e a realidade é assegurada (João 1:1-3, 14; Apocalipse 19:14; 1 João 1:1).

Certa feita, alguém afirmou que a verdade é o oxigênio da mente. É o ponto de partida para todas as atividades intelectuais, espirituais e morais. É o que por si só verdadeiramente liberta (João 8:32, Filipenses 4:8). Nós dizemos que algo é “verdade” quando estamos convencidos de que a realidade corresponde ao que pensamos. Dizemos que algo é “moralmente verdadeiro” quando estamos convencidos de que a realidade corresponde às nossas percepções do que é certo, justo e bom. A verdade é vital, pois influencia diretamente nossa vida. Agimos sobre o que acreditamos ser verdade, assim moldamos a maneira como vivemos. A verdade afeta o modo como vemos a nós mesmos e aos outros. Indubitavelmente, verdade é o que importa.

Como um navegador que recebe apoio das estrelas para que ele possa navegar à noite, precisamos de alguns pontos fixos pelos quais podemos nos orientar moralmente, algo que esteja fora de nós mesmos. A Palavra de Deus como verdade fornece esses pontos fixos de orientação moral. “Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa. “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” - II Tim. 3:16 e 17” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 9). Portanto, “a Bíblia foi inspirada por Deus de forma que a verdade nela contida é adequada e tem autoridade como um guia em tudo que tenha relação com fé e prática” (Teologia Sistemática: uma análise história, bíblica e apologética para o contexto atual. Vida Nova, p. 104, 105). A declaração de Jesus, dizendo “a Tua Palavra é a verdade” (João 17:17), implica revelação. Assim, se a revelação é possível, a moral absoluta é possível. A verdade moral não é construída, é revelada; não é descoberta nem determinada por maioria de votos. É autoritativa e não apenas uma questão de preferência pessoal.

“Segundo Jesus, toda palavra que vem da boca de Deus é o padrão da vida cristã (Mt 4:4). Ele citou Deuteronômio 8:3 como sua base de autoridade, e continuou citando as Escrituras do Antigo Testamento contra as tentações do Diabo. Então, empregou a Palavra como arma contra os ataques o inimigo, e usou-a como fonte de verdade contra as deturpações da verdade que o diabo fez. A implicação do exemplo de Jesus é que uma vez que a palavra de Deus é identificada, o cristão deve se submeter a ela absolutamente e sem reserva” (Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual, Vida Nova, p. 111, 112).

Ivan Karamazov, personagem de um romance de Dostoiévski, argumentou que se Deus não existe, tudo é permitido. Mas se Deus existe, então se pode esperar que a verdade moral também exista. E se o padrão absoluto de moralidade é o Próprio Deus, toda ação moral deve ser julgada à luz de Sua natureza. A Palavra revelada de Deus – a Escritura – é nossa ligação tanto a Deus quanto à verdade moral. A Bíblia é nosso padrão ético porque vem de Deus, o único padrão para a moralidade. Isso deve ser mantido em mente quando apelamos para a Bíblia em questões morais, pois ela foi escrita em uma situação cultural e em um tempo diferentes de nossa realidade. Somente o fato de que Deus transcende a cultura nos permite nutrir a esperança de usar os princípios morais da Bíblia em nossa própria cultura. Sem isso, não poderíamos esperar elevarmo-nos acima do relativismo cultural. Mas Deus está acima dele. E Deus tem falado. O que Deus revela na Bíblia se aplica universalmente a todas as culturas. Portanto, ela deve ser obedecida porque é a verdade absoluta, e não simplesmente por ser uma boa palavra com bons conselhos.

A verdade da qual Jesus falou incorpora a moral, uma dimensão transformadora de vida: “Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” Ele orou: “Santifica-os na verdade, a Tua palavra é a verdade” (João 8:32; 17:17). Nós não necessitamos tanto de liberdade a fim de descobrirmos a verdade, como residimos na verdade, a fim de experimentarmos a liberdade.

Existem valores morais absolutos?

Há valores morais absolutos? É claro! Como um padrão infinito, eterno, a verdade está no coração da cosmovisão cristã. Estamos procurando por ela, acreditando nela, vivendo por ela, modelando-a e falando dela. Temos de tomar decisões com base nela e sermos transformados por ela. A batalha pela verdade moral está no cerne do grande conflito entre Cristo e Satanás. É uma batalha que se trava por nossa mente e nosso caráter enquanto vivemos a vida e estamos envolvidos no confronto final da história da Terra (2 Tessalonicenses 2:8-12, Apocalipse 12:17; 14:6-13; 16:12-16). Deus nos deu Seu Espírito para nos guiar à verdade (João 16:13). A cada passo, Jesus nos lembra: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”

Caro amigo leitor, Deus quer mudar as nossas vidas com a Sua verdade e só Jesus pode remover as vendas e as amarras da mentira que nos impedem de viver de forma feliz e digna. Não quer você aceitar Jesus e a Sua Palavra, a Bíblia Sagrada, tornando-se uma nova criatura? Através dela podemos ser “perfeitos e perfeitamente habilitados para toda boa obra” (2Tm 3:16 e 17).

Deus te abençoe!