Teologia

sexta-feira, 29 de maio de 2020

NAS TEMPESTADES DA VIDA CRISTO ESTÁ NO BARCO

Ricardo André

Quero meditar num episódio dramático na vida de Jesus com Seus discípulos no barco, registrado em Marcos 4:35-41, nos ensina algumas lições relevantes que podem nos ajudar a enfrentarmos com serenidade e confiança as intempéries da vida.

Naquele dia, ao anoitecer, disse ele aos seus discípulos: "Vamos atravessar para o outro lado". Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam. Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e clamaram: "Mestre, não te importas que morramos?” Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: "Aquiete-se! Acalme-se! " O vento se aquietou, e fez-se completa bonança. Então perguntou aos seus discípulos: "Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?” Eles estavam apavorados e perguntavam uns aos outros: "Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (NVI).

Quantas vezes temos a sensação de que estamos sozinhos ao enfrentarmos uma luta ou um desfio em nossa vida? Dependendo do tamanho da adversidade, somos dominados pelo medo e pelo desespero, nossa fé é abalada e nos sentimos à deriva, à mercê dos ventos da tempestade da vida.

Nossos dramas humanos são inúmeros e diversos e, como sempre dizemos, enfrentá-los sozinhos sempre é mais difícil. A verdade é que todos nós queremos ajuda, alguém ao nosso lado para dividir os fardos. Por isso, precisamos nos lembrar sempre das palavras do apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos 8:39, de que nada pode nos separar do amor de Deus, pois o Senhor está sempre ao nosso lado.

As lições espirituais para nós

1) Os filhos de Deus enfrentam lutas e provações

Depois de um dia cheio de acontecimentos, Jesus e Seus discípulos embarcaram para atravessar o Mar da Galileia, com a intenção de ter alguns instantes de privacidade e descanso, mas foram surpreendidos no meio da noite por uma tempestade. Uma tormenta forte que levantava grandes ondas que alagavam o barco, enquanto os ventos açoitavam as velas. Temos aqui a primeira lição: mesmo que Jesus esteja no barco conosco, não estamos livres de passar por lutas. Podemos até perder o controle, coisas negativas podem invadir a embarcação da nossa vida, mas, ainda que passemos pelo vale da sombra da morte, lá Ele estará conosco, sofrendo, sentido nossos dores e atento às nossas necessidades.

Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “Cristo sente as misérias de todo sofredor. Quando os espíritos maus arruínam o organismo humano, Cristo sente essa ruína. Quando a febre consome a corrente vital, Ele sente a agonia” (O Desejado de Todas as Nações, p. 823).

Mas o fato de Deus estar sempre conosco não quer dizer que Ele domine nossas ações, escolhas e sentimentos. Ao contrário, Deus quer nosso crescimento e amadurecimento. Uma criança pequena que está aprendendo a andar precisa da liberdade dos seus cuidadores para dar os primeiros passos sozinha. Pois é assim que o Senhor faz conosco. No episódio do barco, Jesus estava dormindo tranquilamente. Afinal, havia ali pescadores vividos e experientes, o Mestre confiava na capacidade daqueles homens e permitiu que eles enfrentassem aquela situação por si mesmos.

2) Cristo está sempre no barco da nossa vida para nos socorrer

Segundo o Dr. Mário Veloso, “os discípulos, experimentados pescadores, tinham enfrentado muitas tormentas, igualmente avassaladoras, neste lago quem nem sempre era inquieto. A princípio pensaram que fariam o mesmo como sempre tinham feito. Levariam o barco com segurança ao porto. Mas aquela tormenta era diferente. Empregaram suas energias até o ponto do esgotamento” (Mateus: Contado a História de Jesus Rei, p. 109 e 110).

Quando aqueles experientes pescadores, amedrontados, chegaram ao limite de suas forças, certos de que todos morreriam afogados, correram na direção de Jesus. E essa é a melhor de todas as lições que podemos extrair desta história: Jesus está no barco, aquele que acalma o mar, aquele que faz o vento aquietar-se, aquele que traz bonança para nossa vida, Ele sempre está no barco para nos socorrer, nunca estamos sozinhos.

No verso 38, os discípulos fizeram uma pergunta intrigante que, sem dúvida, milhões de cristãos fizeram em tempos de crise. "Mestre, não te importas que morramos?” (NVI). Quem nunca esteve em situação semelhante, em que o barco estava cheio de água, e você estava prestes a afundar e clamou: "Mestre, não te importas que morramos?” Evidentemente, é pela fé que temos a resposta. Ele se importa conosco. E a maior prova disso foi Sua morte na cruz do Calvário. Foi esse o propósito da cruz: salvar-nos de forma que não tenhamos que perecer (Jo 3:16; 10:10; 2Pe 3:9).

No versos 39 e 40, Marcos diz: “Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: "Aquiete-se! Acalme-se! " O vento se aquietou, e fez-se completa bonança”. Então perguntou aos seus discípulos: "Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?"

A única razão para temer a tempestade é você ficar remando o seu próprio barco, com foco na tempestade. Quanto mais você olha para as ondas e as nuvens escuras, quanto mais você escuta os trovões e vê os relâmpagos, mais temeroso fica o seu coração. Ellen White escreveu: A fé viva no Redentor serena o mar da vida, e Ele nos guardará do perigo pela maneira que sabe ser a melhor” (O Desejado de Todas as Nações, p. 336).

C. S. Lewis descreveu o grande desafio que a morte de sua esposa trouxe sobre sua fé em Deus: “Você nunca sabe quanto realmente crê em alguma coisa até que a verdade ou falsidade se torna uma questão de vida ou morte para você. É fácil dizer que você confia na resistência de determinada corda se a está usando apenas para amarrar uma caixa. Mas suponha que você tivesse que usar essa corda para atravessar um precipício. Você não procuraria descobrir quanto realmente confia nela?” (A Grief Observed, p. 22, 23).

Quando estamos exaustos, no limite da nossa capacidade e da nossa fé, Jesus pode prontamente nos socorrer. Basta apenas chama-Lo, basta apenas clamar pelo nome que está sobre todo nome, basta apenas invocar o nome que tem poder e autoridade, e Ele vai imediatamente nos socorrer, porque Ele sempre está no barco!

Diz-nos Ellen G. White: “Em meio de todas as nossas provações, temos um infalível Ajudador. Não nos deixa lutar sozinhos com a tentação, combater o mal, e ser afinal esmagados ao peso dos fardos e das dores. [...] Conheço as vossas lágrimas; também Eu chorei. Aqueles pesares demasiado profundos para serem desafogados em algum ouvido humano, Eu os conheço. Não penseis que estais perdidos e abandonados. Ainda que vossa dor não encontre eco em nenhum coração na Terra, olhai para Mim e vivei” (O Desejado de Todas as Nações, p. 483).

É sempre confortante saber que Jesus está ao nosso lado para acalmar a tempestade. Quantas vezes duvidamos e não compreendemos que Jesus está ali. Ficamos temerosos e desanimados sem saber que o Mestre está pronto para dar o brado contra as intempéries da vida e contra as tormentas que nos assolam a cada instantes, repreendendo-as e trazendo-nos novamente paz e tranquilidade.

Há um enorme poder na paz de Jesus Cristo; um poder que podemos clamar nas circunstâncias mais difíceis, quando somos acometidos pela ansiedade ou atormentados por preocupações.

De acordo com Paulo, “a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Filipenses 4:7). Há uma paz que ultrapassa todo e qualquer inteligência. Mas quando a mente não pode entender, nem o coração confiar. Podemos ir a Cristo e depor a Seus pés nossos temores, preocupações, ansiedades e tensões. Ele acalmará a tempestade de nossa vida.

Conclusão

Queridos irmãos, jovens e amigos, durante nossa existência aqui, existirão tempos de calmarias e tranquilidade, mas nunca poderemos escapar das tempestades. Todos nós iremos sofrer problemas, lutas e dificuldades! É mister que Cristo esteja no barco conosco, que tenhamos fé em Seu poder de acalmar e repreender as tormentas de nossa vida.

Ellen G. White escreveu: “Todos nós precisamos de um guia, que nos dirija através das muitas perplexidades da vida, assim como o marinheiro precisa de um piloto que guie a nau entre os bancos de areia ou nos rios cheios de recifes; e onde se encontrará semelhante guia? Apontamo-vos, prezados irmãos, a Bíblia” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 96).

Quando nos sentirmos frágeis, debilitados, impotentes, incapazes de continuar navegando “sobre as ondas desta vida”, Ele, em meio às nossas ansiedade, nos dirá “Eu não Me esqueci de ti”. Tenha fé em Deus!

Hoje, você pode fazer essa oração ao Senhor: Querido Deus e bom Pai que estás nos Céus, dirige a nau de minha vida e leva-a ao Porto Seguro!”


quinta-feira, 28 de maio de 2020

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE - ANÁLISE COMPLETA


João Rodrigo Weronka

A Bíblia Sagrada, conforme os cristãos afirmam, trata-se da única fonte de autoridade, regra de fé e moral; a Palavra de Deus deve ser a bússola que indica se o caminho que estamos seguindo de fato corresponde ao “norte” espiritual.

Em textos anteriores já falei sobre a triste condição da igreja brasileira, que dia-a-dia se deixa contaminar por valores nada cristãos, que nada tem da Palavra de Deus. A Bíblia é muito mal utilizada, e ao invés de trazer edificação e genuíno alimento espiritual, tem sido empregada por homens perversos que fazem dela um instrumento de escravidão, manipulação e tortura espiritual. Tal instrumento de tortura se forma pela distorção de textos isolados que estes falsos mestres fazem, coagindo o povo despreparado, com uma enxurrada de textos descontextualizados.

Modas sempre são bem-vindas neste meio tão sedento por atalhos. Emocionalismo barato vale mais que sã doutrina e os valores do capitalismo passam a fazer parte da igreja, fazendo desta um lucrativo negócio. Neste texto vamos tratar da Teologia da Prosperidade, uma corrente nefasta que tem semeado discórdia e inversão de valores na igreja.

História

Marca registrada de praticamente todas as igrejas neopentecostais, avançando com força contra as confissões pentecostais e fisgando muitos tradicionais, esta corrente enganosa produz toneladas de livros, manuais, Bíblias de Estudo (estudo?) DVDs, CDs, filmes e até grifes que movimentam muito dinheiro.

Tais materiais e seus divulgadores se tornaram parte do cotidiano de muitos crentes que estão com os lábios cheios de clichês como “eu profetizo”, “eu determino”, “eu reivindico”, “eu tomo posse”, “eu exijo meus direitos”, “eu resgato” ou o absurdo “eu ordeno minha benção”. Repare que o “eu” é o eixo desta teologia. O antropocentrismo que vemos hoje em dia é também conhecido como movimento da “Confissão Positiva”, “Palavra da Fé” ou “Evangelho da Saúde e da Prosperidade”.

Por se tratar de algo tão nocivo, não é de se estranhar que suas origens são influenciadas por misticismo, esoterismo e heresias. O que hoje é um movimento que tem se espalhado como fogo em palha, possui uma história, um ícone, divulgadores e seguidores.

O precursor: Essek Willian Kenyon

Poucos dos crentes que abraçam a Teologia da Prosperidade sabem que a ideologia desta remonta a um homem chamado Essek Willian Kenyon (1867-1948).

A conversão de Kenyon ocorreu em sua adolescência. Posteriormente ele se envolveu com movimentos metafísicos e recebeu forte influência de Mary Baker Eddy, fundadora da herética Ciência Cristã. [1]

Kenyon é o pai de uma expressão que se desdobrou com o tempo. É dele a frase “o que eu confesso, eu possuo”. É o embrião da Confissão Positiva.

Como sempre existe alguém disposto a levar adiante uma distorção feita por um falso mestre, coube a Kenneth Hagin divulgar o pensamento de Kenyon.

O proclamador: Kenneth Erwin Hagin

Muitos acreditam que as origens da Teologia da Prosperidade estavam em Hagin (1917-2003). Fato este devido ao nível de divulgação e influência que Hagin conseguiu, através do vasto material por ele publicado. Após passar por uma experiência miraculosa relacionada à cura de sérios problemas de saúde na infância e adolescência, Hagin passa a militar em favor da filosofia que hoje influencia a vida de muitos crentes.

Hagin acreditava que era necessário seguir passos para a vitória. Era necessário crer, declarar verbalmente a fé e então agir como se já tivesse recebido a benção. [2]

Sua vida foi um apanhado de inúmeras experiências pessoais que, ao serem registradas em livros, folhetos e áudio, viraram regra de fé e prática para milhares de incautos seguidores. Como é de se supor, suas vastas experiências carecem de suporte bíblico, como por exemplo, viagens até o inferno para “provar” da realidade daquele lugar.

O legado de Hagin e os desdobramentos no Brasil

Muitos são os pregadores da fé que deram continuidade naquilo que Kenyon criou e que Hagin difundiu, e destes, a grande maioria é muito conhecida no Brasil, onde seus ensinos são divulgados por livros, programas de TV, DVDs e congressos.

Nomes internacionais como Kenneth Copeland, Benny Hinn, Frederick Price, Paul (David) Yonggi Cho, Mike Murdock e Morris Cerulo fazem parte do cotidiano de muitos líderes da igreja brasileira, que por força da sua influência, tem levado o membro comum a achar que este tipo de literatura é boa, quando na verdade são materiais e ensinos cheios de sofismas e engano.

No Brasil, também existe uma relação de nomes que são responsáveis pela divulgação deste veneno espiritual: Edir Macedo, René Terranova, R.R. Soares, Valnice Milhomens, Cristiano Netto e tantos outros que no seu anonimato continuam a propagar este falso evangelho de riquezas.

Como o povo brasileiro em geral, e o crente em específico, são amantes de novidades, modinhas e métodos que servem como atalho, a Teologia da Prosperidade veio importada dos EUA encontrando solo fértil por aqui, infelizmente.

Males da Teologia da Prosperidade: minha vivência

Minha conversão se deu numa denominação que apregoa demasiadamente a Teologia da Prosperidade e seus métodos falaciosos. Agradeço ao Senhor pois - ainda no erro - pude conhecê-Lo, e na medida que a verdade me confrontava, o engano era retirado de minha vida, ao ponto de romper definitivamente com coisas que não encontram conformidade com o genuíno Evangelho de Cristo. A maravilhosa graça do Pai me alcançou, e hoje reconheço inteiramente que o mérito em tudo é de Cristo, e que não posso fazer do Reino de Deus um negócio. A Teologia da Prosperidade que outrora movia minha vida, hoje faz parte de um passado distante.

Não tenho por costume cuspir no prato onde comi – isso é deselegante e antiético. Mas minha conversão não teve por consequência o suicídio da razão, sendo assim, tenho plena liberdade de discordar das coisas que são apregoadas sem o respaldo bíblico. A discordância não representa um meio de menosprezar e ridicularizar a crença alheia, mas nos motiva a desmascarar o erro por amor e benefício do próximo. Nos primeiros passos como cristão, vi e vivi muito dos ensinos da Teologia da Prosperidade, e sei, na prática, do potencial maléfico que ela tem.

Participei de dezenas das famosas “campanhas” de fé e finanças, onde a mola mestra era a barganha com Deus. Tudo girava em torno dos “sacrifícios” financeiros onde até mesmo valores mínimos de oferta eram exigidos. Pregadores negavam a suficiência da cruz e o Sacrifício Supremo de Jesus e estabeleciam parâmetros esdrúxulos, ao ponto de dizer: “EU não aceito menos de R$ 30,00 neste envelope (por exemplo)”. Quanto maior o sacrifício, maior a profecia, a benção, a visão, a unção - como se Deus fosse um menino que Se vende por agrados.

Os “valentes” recebiam doses especiais de poder e seu ego era alimentado por fazer parte da classe dos que faziam sacrifícios acima da média. Expressões como “se garantir a festa na casa de Deus, Deus garante a festa na minha casa”, ou “o valor que você der de oferta vai determinar o valor que Deus dará ao seu próximo ano”, além de anti-bíblicas, manipulam, enchem de medo e apartam o cristão redimido no sangue de Cristo das genuínas benesses do Calvário.

Para variar, o Novo Testamento era praticamente esquecido em tais campanhas, e textos mal-emendados da Antiga Aliança – e promessas exclusivas do povo judeu naquele contexto – eram “liberadas” sobre a igreja – desnutrida e mal alimentada da Palavra. Desta forma, o palco para apostasia fica completo.

Num contexto como esse, não é de se admirar que muitos se apartaram, partindo para pastos onde alimento genuíno é servido.

Infelizmente, muitos dos que receberam uma avalanche de promessas nunca cumpridas – e irresponsavelmente “liberadas” – fazem parte do contingente de decepcionados com Deus e com a igreja. Um contingente que cresce de modo alarmante. Assim como disse Karl Kepler, isso faz parte de uma neurose:

“Com o fenômeno das igrejas neopentecostais, uma nova safra de crentes evangélicos inundou o Brasil e, à medida que os anos passam e as promessas de prosperidade não se cumprem, uma nova safra de ex-crentes decepcionados deve estar voltando para as ruas”. [3]

E ainda pude constatar uma coisa neste tempo: a Teologia da Prosperidade funciona muito bem, mas apenas para aqueles que a pregam. Nas palavras de Hank Hanegraaff:

“Basta caminhar pelo estacionamento dessas conferências ou mesmo dum culto dominical, ligado ao movimento da Fé, para responder à pergunta: ‘Esse tipo de ensino realmente funciona?’ Fi-lo recentemente no quartel-general e igreja dum dos principais mestres da Fé e obtive minha resposta. Havia Cadillacs, Mercedes e uns poucos reluzentes Lexus ali estacionados – todos eles porém, nos lugares reservados aos pastores e seu pessoal. No mais, entretanto, o parque de estacionamento parecia com qualquer outro, numa grande variedade de cupês, pick-ups e furgões. Ouça cuidadosamente: Era como qualquer outro parque de estacionamento da cidade. Ora, como é que pode ser isso?” [4]

Muito simples: a Teologia da Prosperidade é falaciosa. Doutra forma, todos que a seguem deveriam ser CEO de multinacionais, possuir jatinho próprio, carros importados e mansão em Miami, afinal, devem ser cabeça e não cauda! Mas a realidade é diferente do mundo encantado apregoado pelos mestres da riqueza. Enquanto eles se deleitam na gordura do sacrifício alheio, estão cegos para as verdades espirituais, tal como o sacerdote Eli (1Sm 1 e 2).

Comerciantes da Fé

Tenho uma graduação em Ciências Econômicas, e através desta ciência aprendi sobre a Lei de Mercado ou Lei de Oferta e Demanda, que pode ser assim definida: “conjunto de conceitos que designam a disponibilidade de bens e serviços à venda no mercado, por um lado, e sua demanda solvável, por outro”. [5].

Em resumo, para que o mercado da fé exista, é necessário que existam os que ofertam o serviço e os que demandam o serviço, ou seja, os “profetas” da prosperidade são os agentes de oferta, e os crentes imaturos são os agentes de demanda. Cada qual com sua responsabilidade neste emaranhado de erros.

O modelo a seguir representa o que temos visto nos dias de hoje em muitos templos e denominações “evangélicas”:

Fico pasmo em saber que isso é tão somente a ponta do iceberg. Ao ver declarações como as que seguem abaixo, fico a me perguntar até que ponto os pregadores de riquezas chagarão um dia:

“Deus está falando que a benção será triplicada, O seu salário vai se multiplicar por três. Quando você receber seu salário ainda terá do antigo para gastar. É tempo de fartura. É tempo de Deus. Todos os moradores da terra receberão a notícia de que é tempo de restituição.”[6]

“Faça esta oração: Senhor meu Deus, ao ler este livro, aprendi que, se desejo receber muito dinheiro, devo plantar o equivalente em Tua obra no mundo.” [7]

“Mais uma vez, como profeta de prosperidade para estes negros dias de crise, eu afirmo: DEUS ESTÁ INTERESSADO NO BOM ANDAMENTO DE SUAS FINANÇAS. Acredite nisso. Ele é um Pai amoroso. Pare um pouco, respire fundo e repita em voz audível e com convicção, por três vezes: DEUS ESTÁ INTERESSADO EM MEU SUCESSO FINANCEIRO. Agora repita em voz alta, como um brado de vitória: DEUS VAI MUDAR MINHA VIDA FINANCEIRA PARA MELHOR (ênfase do autor)” [8]

“Muitas pessoas acreditam que Jesus Cristo foi muito ‘pobrezinho’ mas a verdade é que Jesus foi a pessoa mais próspera que já pisou sobre a face da Terra. (...) Ele andava montado num burro, que era o ‘cadilac’ da época.” [9]

“Você estará colhendo de acordo com a espécie que você mesmo determinar. Lembre-se: Se você plantar carro, vai nascer carro! Se você plantar emprego, nascerá emprego! Se você plantar uma casa própria, nascerá uma casa própria! Você acredita na Palavra de Deus?”[10]

“Agora, você já sabe que é você quem determina, fixa os limites e diz o que você terá ou não. Por isso, pare de orar chorando, de se lamentar, suplicando que Deus, com Sua bondade, lembre-se de você. Esse tipo de oração pode parecer espiritual. Alguém pode achar lindo orar assim, mas isso não ter valor algum.” [11]

Reparou como as declarações destes homens se aproximam muito daquilo que Essek W. Kenyon entendia (o que eu confesso, eu possuo)? E o que mais espanta são as declarações a seguir:

“Estejam ou não a par disso, são seus pensamentos predominantes de riqueza que lhe trazem riqueza” [12]

“Como em todas as leis da natureza, nessa também a perfeição é absoluta. Você cria sua vida. Você colherá tudo o que semear! Seus pensamentos são sementes, e sua colheita dependerá do que plantar.”[13]

“Esta é a sua vida, e está esperando que você a descubra! Até agora você talvez tenha pensado que a vida é dura, uma luta, e, portanto, pela lei da atração, deve ter sentido a vida como dura e uma luta. Comece imediatamente a gritar para o Universo: “A vida é tão fácil! A vida é tão boa! Todas as coisas boas vêm até mim”. [14]

“O que de fato você quer? Sente-se e escreva numa folha de papel, usando o presente do indicativo. Você poderia começar assim: ‘Eu estou tão feliz e grato neste momento que...’ E então explique como você quer que sua vida seja, em qualquer área.” [15]

“Mas, se você quer uma máquina de costura, guarde a imagem dela com a certeza absoluta de que ela está sendo feita ou de que está a caminho. Depois de formar o pensamento uma vez, acredite absoluta e definitivamente que a máquina de costura está a caminho. Nunca pense ou fale nela a não ser com a certeza de que vai chegar. Afirme que ela já é sua”. [16]

“Nunca olhe para as provisões invisíveis; olhe sempre para as riquezas ilimitadas na Substância Informe e SAIBA que elas estão vindo em sua direção tão depressa quanto você pode recebê-las e usá-las”. [17]

Se você ainda não conferiu as notas no final deste estudo, eu pergunto: de qual pregador de prosperidade são as declarações acima? Infelizmente, são declarações de obras de cunho esotérico, mas que se forem “cristianizadas” por um dos mestres da riqueza (e muitas já o são), facilmente se tornarão Best Sellers nas fileiras do gospel Brasil. Realmente é chocante a semelhança entre o pensamento positivo dos esotéricos e do positivismo e determinismo apregoado pela Teologia da Prosperidade. E esta semelhança se dá, pois ambos têm o mesmo foco: o eu do homem. O homem é o centro. O ego é deus.

Enquanto a Bíblia nos adverte a focar os esforços nas coisas eternas e atemporais (sem tratar com relaxo das coisas temporais, evidentemente), os profetas da riqueza direcionam o rebanho a focar os esforços naquilo que é passageiro e que a ferrugem e a traça devoram.

A recente crise econômica mundial (2008-2009) afetou diversos setores da economia. Vimos conglomerados financeiros sendo derrubados como castelos de cartas, impérios de poder ruindo como castelos de areia a beira-mar, massas de pessoas sendo demitidas. Será que no meio destas milhares – ou milhões – de pessoas não tínhamos sequer um cristão? Será que nenhum crente em Jesus perdeu seu emprego? Endividou-se? Entrou no vermelho? Creio piamente que Deus cuida dos Seus. Creio que no meio de tantas lutas Ele provém sustento, mas chega ao ponto do ridículo imaginar que crises não atingem crentes. Mas ainda assim os profetas da riqueza, tomados pela ganância, lançaram correntes e campanhas para amarrar a crise e prosperar os crentes.

Este episódio me lembra de dois personagens bíblicos. Jeremias e Hananias. Veja este exemplo:

“O problema não é de hoje. É multissecular. O profeta Jeremias fazia o que podia para convencer os reis e o povo de Israel da famosa tríade que estava para chegar a qualquer momento: a guerra, a fome e a peste (Jr 14.12; 21.7; 24.10; 27.8; 29.17; 32.24; 34.17; 38.2; 42.17; 44.13). Enquanto isso, o profeta Hananias, no mesmo lugar e para o mesmo público, profetizava “prosperidade” (Jr 28.9, NVI e BP), ou “paz” (NTLH, ARA e BV), ou “felicidade” (Tradução da CNBB). Um e outro usavam a mesma introdução: ‘Assim diz o Senhor’”. [17]

E como já falamos muito sobre história, é hora de, partindo por estes dois exemplos, refutar, de modo bíblico e definitivo, a falaciosa Teologia da Prosperidade.

A Verdade Bíblica

Quando observamos as verdades Bíblicas nos confrontamos de modo profundo com aquilo que é ensinado pela Teologia da Prosperidade. A bem da verdade, muitos de nós já ouviram por aí absurdos sem fim para defender que o crente deve ter riquezas e uma saúde de ferro, e claro, aqueles que assim ensinam tentam respaldar-se na Bíblia. De fato, se tomarmos meia dúzia de textos isolados (principalmente promessas de bênçãos materiais feitas aos judeus), poderemos com base na Bíblia criar extravagâncias e aberrações diversas. Muitas são as seitas que aplicam este método falacioso. São muitos os problemas que a ignorância bíblica pode produzir no rebanho e essa sonolência espiritual tem permitido a entrada de falsos mestres e falsos ensinos no meio da igreja. Concordo plenamente com John MacArthur quando afirma que:

“Talvez a igreja hoje seja bem mais suscetível aos falsos mestres, aos pervertedores de doutrinas e ao terrorismo espiritual do que em qualquer outra geração na história da igreja. A ignorância bíblica dentro da igreja talvez seja muito mais profunda e mais generalizada do que em qualquer outra época desde a Reforma Protestante. Se você duvida disso, escolha aleatoriamente um dos sermões de qualquer dos principais pregadores evangélicos anteriores a 1850 e o compare com o sermão típico de hoje. Além disso, compare a literatura cristã de hoje com qualquer obra publicada há cem anos ou mais, pelas editoras evangélicas. (...) Os temas característicos dos sermões estão carregados de questões centralizadas no homem (tais como relacionamentos pessoais, vida bem-sucedida, auto-estima, listas de ‘como fazer’ e assim por diante) – a ponto de excluir muitos pontos da doutrina bíblica que exaltam doutrinários nas Escrituras que enaltecem a Cristo.” [18]

Pois bem, se você chegou até aqui, percebeu que os problemas mencionados nos seguintes textos bíblicos são reais em nossos dias:

“Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.9-10).

“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.” 2Pe 2.1-3

Entendendo que o amor ao dinheiro e poder está no coração dos pregadores da Teologia da Prosperidade e que eles estão no nosso meio, pois o joio cresce com o trigo (Mt 13.30), passamos a examinar as palavras do Senhor Jesus sobre as questões materiais.

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mt 6.19-20).

Creio que as palavras de Russel N. Champlin caem como uma luva neste contexto, quando diz que “o deus Mamom atrai mais que o Cristo da Galiléia”[19]. Forte e duro, mas real. Será que o modelo de vida seguido por Jesus está ultrapassado para a igreja pós-moderna (ou hiper-moderna?)?

Se os membros destas igrejas se dessem ao trabalho de examinar as Escrituras, descobririam que nossa riqueza está em boas obras (1Tm 6.18), na fé (Tg 2.5) e que somos herdeiros das insondáveis riquezas que estão em Cristo (Ef 3.8). Os divulgadores da Teologia da Prosperidade estão cegos em suas ambições materialistas e não percebem que Jesus deixou muito claro que as riquezas não são o alvo da igreja. Jesus não morreu para que nós O fizéssemos um banqueiro. É triste constatar isso, mas muitas das igrejas evangélicas, e muitos dos que carregam o rótulo de “evangélico” não estão mais adorando ao Deus Vivo, mas estão prestando culto a Mamom. Muitas igrejas nos dias de hoje são altares dedicados a Mamom.

“E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15).

Certa feita ouvi de um destes profetas da riqueza que acabara de comprar um bem de alto valor, que tal fato tinha ocorrido por ser um presente de Deus para ele. Ressalva: creio que Deus concede dádivas aos Seus filhos, porém dentro da Sua soberania e vontade, e nunca na nossa vontade. No entanto, em tom de superioridade, estes pregadores cortam o coração das ovelhas ao dizer que são merecedores de tais dádivas mais que os meros mortais do rebanho, ou seja, Deus tem nestes homens Seus filhinhos preferidos, a ponto de conceder presentinhos a uns, mantendo outros em angústia.

Outro destes profetas comprou, com recursos eclesiásticos, um automóvel importado de quase R$ 100.000,00 para que, através do uso “pastoral” pudesse ostentar quão abençoado ele é. O problema surgiu quando as fontes da igreja começaram a minguar, sendo rapidamente achada a solução: levantar, durante os cultos, apelos de gordas ofertas para quitação das parcelas do veículo de uso “pastoral”. Mais uma vez, ovelhas manipuladas como fantoches financiando a carruagem de ministros de impérios e reinos próprios. Um ultraje à cruz de Cristo e ao puro Evangelho da Graça.

Como o texto bíblico acima mencionado diz, é preciso tomar muito cuidado com a avareza e com o amor pela ostentação. A vida cristã é muito mais que isso. É infinitamente mais que isso.

O anseio por uma vida de luxo e riquezas traz de “brinde” a atrofia espiritual e desvirtua o cristão do seu caminho.

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33). Talvez você tenha sido mal orientado e “programado” que deve orar demasiadamente por algo. Talvez tenha sido ensinado a sempre “profetizar”, “determinar”, “tomar posse”, “exigir seus direitos” e as coisas nem sempre aconteceram como você queria. Ao invés da tão esperada benção, houve um silêncio incomensurável. Mas não se desespere! O modelo dos pregadores da Teologia da Prosperidade não segue o modelo bíblico e não condiz com o que Jesus ensinou.

As tribulações existem. Elas virão sobre muitos cristãos. Ainda assim não devemos desanimar, pois estamos ligados nEle independente de circunstancias externas (2Co 4.8-9). Se Deus deu o privilégio de todos desfrutarem do Sol e da chuva (Mt 5.45), por que pensar que sendo cristãos não teríamos problemas, lutas e tribulações? Se Cristo passou pelo que passou, seus discípulos não passariam? Tente imaginar esta mensagem de saúde de ferro e prosperidade financeira sendo pregada no contexto da Igreja Primitiva ou – em nossos dias – em países como Afeganistão, Sudão e Coréia do Norte, onde o simples viver é a maior de todas as bênçãos?! As prioridades foram invertidas, as raízes do cristianismo bíblico precisam ser expostas.

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33) Este versículo é o supra-sumo, conclusão, síntese daquilo que Jesus deixou como a verdadeira prioridade de vida para o cristão. O propósito sublime está no Reino de Deus. É impossível que um pregador da Teologia da Prosperidade não se incomode com a verdade explícita registrada neste versículo.

Se tais homens realmente tivessem o Reino de Deus e Sua justiça impregnados no coração, de modo algum estariam propagando as mensagens que assombram a igreja, seja nos templos, na TV, no rádio, internet ou livros. É hora de dar um basta nisso! Se você ainda é um seguidor de tal teologia, faço um apelo que leia imediatamente o capítulo seis do Evangelho de Mateus e veja que Jesus faz ali um verdadeiro manifesto contra o materialismo; peça que o Espírito Santo lhe dirija na busca e descoberta da verdade do Reino de Deus. O Consolador te levará ao Senhor Jesus, e nunca a Mamom. Em seu comentário bíblico, disse William MacDonald sobre este versículo específico:

“O Senhor, portanto, faz um pacto com seus seguidores. Em resumo, ele diz: ‘Se você colocar os interesses de Deus em primeiro lugar na sua vida, eu garantirei suas necessidades futuras. Se você buscar, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, então eu cuidarei para que nunca lhe falte as necessidades da vida’” (destaque do autor) [20]

Dada a exposição das Escrituras, não vamos nos ater tão somente a mostrar o problema e expor a ferida. Propomos uma solução à questão.

Solucionando o Problema

Alguns se conformam com a existência desta falsa teologia e de seus mestres simplesmente por considerar que isso é parte da apostasia do tempo do fim. Ignorar este problema é um grave erro.

Outros acham que o crente não pode, em hipótese alguma almejar um equilíbrio em sua vida. Estes são os adeptos da “Teologia da Miséria”, pois bradam em alta voz que “crente bom, é crente miserável”. Não! Este também não é o caminho. Acredito que o equilíbrio é o ideal. Nem oito nem oitenta.

Acredito também que ficarmos tão somente apontando problemas sem indicar soluções é perda de tempo. Por isso, proponho o seguinte:

1. Equilíbrio, moderação e bom senso: Todos nós ansiamos por coisas boas, isso é um fato. A grande maioria trabalha duro, estuda, se especializa com o objetivo de desenvolver carreira profissional e um bom salário, e nisso não há pecado algum. É evidente que quando projetamos tal aspecto em nossas vidas ansiamos em dar melhores condições para nossos familiares e devemos almejar alcançar os aflitos com estes recursos. Se não fosse assim, tornar-nos-íamos ascetas nômades que tocariam a vida no modelo socioeconômico do escambo.

O que moldará a diferença em nossas vidas é o principal objetivo, é aquilo que está no centro de nosso coração. Nosso alvo deve ser, acima de tudo e de todos, o Senhor Deus. O texto a seguir resume o que quero dizer: “não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão”. (Pv 30.8-9).

Ou ainda, nas palavras de Craig L. Blomberg: “O princípio de moderação explica as preocupações de Jesus e Paulo por uma vida simples, particularmente quando envolvidos no ministério, para não dar brecha desnecessária à má reputação do Evangelho”. [21]

2. Ensino Bíblico em todas as áreas da igreja local: O ensino sadio é algo de fundamental importância para que nossas igrejas sejam realmente sadias. Discutimos isso em maior amplitude no texto “Tripé Básico do Cristianismo – Parte 2: Ensinar”, mas quero ressaltar aqui que o ensino não está condicionado a uma estrutura de classe em Escola Bíblica.

O púlpito deve ser um local de exclusiva exposição clara da verdade da Palavra de Deus. Os informativos e jornais locais devem ser mais que um calendário de eventos e datas de aniversário, podendo ser um instrumento de edificação e evangelismo quando trouxer breves reflexões e devocionais bíblicos. O louvor deve glorificar o Senhor e ser carregado da mensagem cristã.

Desta forma, proponho banir de uma vez por todas o triunfalismo barato que invadiu os púlpitos, retornando à exposição clara das verdades contidas na Palavra de Deus, sem manipulação ou adulteração, para que todo o que a ouve possa chegar ao conhecimento da verdade (2Co 4.2).

3. Mergulhar na graça e soberania divina: A graça é um favor de Deus para nós. A graça do Senhor soberano sobre tudo e todos nos foi concedida. Imagine só! O Deus todo-poderoso se importou conosco no mais sublime de Sua soberania (Mc 14.36; Mt 26.42; 1Jo 5.14).

Durante muito tempo minha vida foi aterrorizada pelo fantasma do merecimento, do legalismo e da auto-justificação. Pensava que precisava fazer obras para me justificar diante de Deus e então passar a receber boas coisas da parte dEle. Pensava que os famosos sacrifícios, propósitos, votos, dos mais variados meios e formas, dos mais distintos valores, eram uma espécie de meio de troca dos favores de Deus para com o homem.

Até que um dia a venda da religiosidade caiu, e pude contemplar a graça de Deus em minha vida. Compreendi que acima de quem sou ou faço o Senhor Excelso cuida de mim, zela por mim, provê em minha vida e me sustém em Sua mão. Confio nEle. Que Ele faça o que quer em mim e por mim. Sigo o exemplo de Cristo: faça Sua vontade Deus, e não a minha! A benção da graça precisa ser capturada pelo coração dos crentes.

Enfim, o materialismo da Teologia da Prosperidade é uma grande prova de apostasia. Entendemos sim que somos mordomos daquilo que Ele nos concedeu, e que se Ele quiser proverá coisas boas em nossas vidas; porém, nunca nos deixaremos dominar pelo materialismo.

Deus não é fantoche de ninguém e não pode ser manipulado por Suas criaturas. Seja você um cristão genuinamente bíblico e deixe de procurar por mensagens agradáveis que você e seu ego desejam, mas busque aquilo que o Senhor quer para você, lembrando sempre:

“Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18).

Toda honra e glória ao Senhor!

Notas:

[1] Fundada por Mary Baker Eddy, a Ciência Cristã ensina – baseada no conceito dualista grego – que toda matéria é má, que o mundo material é uma ilusão e que a mente é a única realidade. Deus é um conceito estranho, relacionada a mente; Jesus foi uma figura histórica apenas; o pecado não existe e o inferno não passa de um mau estado mental.

[2] MATOS, Alderi de Souza. Raízes Históricas da Teologia da Prosperidade. Site Revista Ultimato

[3] KEPLER, Karl. Neuroses Eclesiásticas. Arte Editorial. São Paulo, SP: 2009. p.18

[4] HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em Crise. CPAD. Rio de Janeiro, RJ: 1996. p.235-236

[5] SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. Editora Best Seller. São Paulo, SP: 2001. p.336

[6] ENGEL, Joel. A Festa do Jubileu, 3ªed. Ministério Engel. Sobradinho, RS: 2004. p.77

[7] NETTO, Cristiano. Como Prosperar em Tempos de Crise, 6ªed. Edição do Autor. Curitiba, PR: 2003. p.64

[8] NETTO, Cristiano. Como Prosperar em Tempos de Crise. p.20.

[9] NETTO, Cristiano. O Melhor Vencedor do Mundo, 5ª ed. Ed. e Distr. Provisão e Vida. Curitiba, PR: 2003. p.90

[10] SOUZA, Raul de. A Lei da Semeadura. Épta Produções. Curitiba, PR: 2005. p.46

[11] SOARES, R.R. Como Tomar Posse da Benção. Graça Editorial. Rio de Janeiro, RJ: 2004. p.47-48

[12] BYRNE, Rhonda. O Segredo. Ediouro. Rio de Janeiro, RJ: 2007. p.6

[13] BYRNE, Rhonda. O Segredo. p.17

[14] BYRNE, Rhonda. O Segredo. p.41

[15] BYRNE, Rhonda. O Segredo. p.47

[16] WATTLES, Wallace Delois, A Ciência de Ficar Rico, 6ªed. Editora Best Seller. Rio de Janeiro, RJ: 2008. p.41

[16] WATTLES, Wallace Delois, A Ciência de Ficar Rico. p.38

[17] Texto “Hananias, o mago da prosperidade”. Site Revista Ultimato

[18] MACARTHUR, John F. A Guerra pela Verdade. Editora Fiel. São José dos Campos, SP: 2008. p.200-201

[19] CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 1. Editora Hagnos São Paulo, SP: 2002. p.326

[20] MACDONALD, William. Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento. Ed. Mundo Crsitão. São Paulo, SP: 2008. p.31

[21] BLOMBERG, Craig L. Nem riqueza, nem pobreza. Editora Esperança. Curitiba, PR: 2009. p.245-246

Fonte: http://www.webevangelista.com/

 

terça-feira, 26 de maio de 2020

A VINDA DO FALSO CRISTO: O ÚLTIMO GRANDE ENGANO DE SATANÁS



Ricardo André

Em Daniel 12:1, eventos importantes são descritos, os quais se desenrolarão nos momentos finais que antecedem a segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo: “E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro” (ACF).

O texto sugere que Miguel, cujo nome significa “quem é como Deus?”, é o próprio Jesus, que como líder militar se erguerá no tempo do fim para proteger Seu povo fiel e o conduzirá de maneira especial durante os dramáticos eventos finais da história. Quando Ele se levanta, Ellen G. White afirma que “cessa então Jesus de interceder no santuário celestial. Levanta as mãos e com grande voz diz: Está feito; e toda a hoste angélica depõe suas coroas, ao fazer Ele o solene aviso. "Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda." Apoc. 22:11. Todos os casos foram decididos para vida ou para morte. Cristo fez expiação por Seu povo, e apagou os seus pecados. O número de Seus súditos completou-se; "e o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu", estão prestes a ser entregues aos herdeiros da salvação, e Jesus deve reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores” (O Grande Conflito, p. 613 e 614).

Em seguida, o texto prever que “haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo”. Esse tempo de angústia corresponde a mesma “grande tribulação” mencionada em Apocalipse 7:14, que passará o povo de Deus no fim do tempo.

Ao iniciar a “grande tribulação”, o mundo todo estará mergulhado em profundas crises econômica, moral e social. As nações estarão enfurecidas (Ap 11:18). Haverá guerras e desastres (Mt 24:6, 7). A Senhora Ellen G. White comparou o tempo de angústia de Jerusalém com o tempo de angústia que o mundo espera: “Ao cessarem os anjos de Deus de conter os ventos impetuosos das paixões humanas, ficarão às soltas todos os elementos de contenda. O mundo inteiro se envolverá em ruína mais terrível do que a que sobreveio a Jerusalém na antiguidade.” (Ibdem, p. 614).

Um “Alto Clamor” será dado

Ao passo que os líderes políticos mundiais lidarão com o aumento de toda sorte de calamidades, o fiel povo de Deus experimentará, no princípio da grande tribulação, um maravilhoso poder do Espírito Santo: “E depois destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória” (Ap 18:1). Através do poder do Espírito Santo o povo de Deus iluminará a Terra com a luz gloriosa da verdade do “evangelho eterno” (Ap 14:6-12).

Ellen G. White escreveu: “As profecias de Apocalipse dezoito logo se cumprirão. Durante a proclamação da mensagem do terceiro anjo, ‘outro anjo’ descerá ‘do Céu’, tendo grande poder, e a Terra se iluminará ‘com a sua glória’. O Espírito do Senhor abençoará tão graciosamente os consagrados instrumentos humanos, que homens, mulheres e crianças abrirão os lábios em louvor e ações de graça, enchendo a Terra com o conhecimento de Deus e com Sua insuperável glória, como as águas cobrem o mar” (Maranata, o Senhor Vem! [MM 1977], p. 219, 220).

O texto revela nitidamente que será a atuação do Espírito Santo na vida dos fiéis filhos de Deus que trará luz (conhecimento) a este planeta em trevas. Eles testificarão de Deus, chamando os Seus filhos que ainda se encontram na Babilônia mística saírem e a obedecerem os mandamentos de Deus, e esses fiéis devem ser chamados a sair para não participar dos pecados dela e não sofrer “dos seus flagelos” (Ap 18:4). O chamado “Retirai-vos dela, povo Meu” é a advertência final a ser dada aos habitantes da Terra.

Essa atmosfera de reavivamento agitará a Terra. O Espírito Santo impele pastores e membros fiéis da igreja de Deus a juntos trabalharem intensamente pelo Senhor. Ao se manifestar o trabalho do Espírito Santo, realizações de ocultismo se intensificarão. Anjos caídos aparecerão a muitos disfarçados de entes queridos seus que já morreram ou mesmo personalidades que viveram no passado. Eles falarão de paz e esperança. Porém, ensinarão doutrinas contendo erros perigosos e sutis. A respeito disso, as Sagradas Escrituras alerta-nos: “São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos” (Ap 16:14). “Esses sinais fazem parte da estratégia enganosa de Satanás no tempo do fim para persuadir o mundo a segui-lo, em vez de seguir o Deus verdadeiro” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre de 2019, ed. do Professor, p. 142). Satanás continuará com essas maravilhas até o fechamento da porta da graça.

Como se vê, essas manifestações sobrenaturais influenciarão a muitos, e são poucos os que estarão preparados para se opor. A esta altura famílias e igrejas tornar-se-ão ineficazes no combate a crescente onda de decadência global.

Em meio a esse tumultuado cenário político e social, as pessoas do mundo inteiro procurarão desesperadamente um caminho para combater essa onda universal de crises. Líderes políticos e religiosos apelarão para seus Parlamentos pedindo por medidas legais, a fim de restaurar os princípios de Deus e a paz na Terra. Como resultado dessa pressão enganosa, o Parlamento do EUA aprova leis que conflitam diretamente com a s leis de Deus. Depois, os governantes do mundo todo seguem-no aprovando medidas similares.

Ellen G. White afirma: “Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América do Norte protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a aplicação de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável” (O Grande Conflito, p. 445). Os fiéis de Deus serão responsabilizados pelas misérias que estarão na ordem do dia e a solução será forçá-los a mudar de atitude, ou então, eliminá-los. “Os que honram a lei de Deus têm sido acusados de acarretar juízos sobre o mundo, e serão considerados como a causa das terríveis convulsões da Natureza, da contenda e carnificina entre os homens, coisas que estão enchendo a Terra de pavor. O poder que acompanha a última advertência enraiveceu os ímpios; sua cólera acende-se contra todos os que receberam a mensagem, e Satanás incitará a maior intensidade ainda o espírito de ódio e perseguição. [...] Como o sábado se tornou o ponto especial de controvérsia por toda a cristandade, e as autoridades religiosas e seculares se combinaram para impor a observância do domingo, a recusa persistente de uma pequena minoria em ceder à exigência popular, fará com que esta minoria seja objeto de ódio universal. Insistir-se-á em que os poucos que permanecem em oposição a uma instituição da igreja e lei do Estado, não devem ser tolerados; que é melhor que eles sofram do que nações inteiras sejam lançadas em confusão e ilegalidade. (Ibdem, p. 614, 615).

No tempo do fim o Apocalipse prevê que Satanás influenciará os governantes de todo o mundo a aprovarem leis que definam como as pessoas adorarão a Deus. A América protestante, que falará como o dragão, será o instrumento para fazer com que o mundo adore a besta papal, que recebeu a ferida mortal (Cap. 13:1-18) e aprovem leis em honra ao papado, a exemplo da obrigatoriedade do descanso no domingo em substituição ao mandamento do sábado. Essas leis irão aparentemente promover a moralidade. Mas, na realidade, elas prepararão o mundo para aderirem a marca da besta e o falso cristo.

O aparecimento do falso cristo depois do fechamento da porta da graça

Olhando aos dias que precederiam a Sua segunda vinda, Cristo predisse: “Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos” (Mt 24:24, NVI). A profecia do Senhor prediz claramente que surgirão falsos cristos e que tal falso cristo fará grandes sinais e prodígios. Além de realizar grandes milagres, esse falso cristo também terá um grande poder de engano, pois sua apresentação é tão espetacular e poderosa que, se possível enganaria não só os incautos, mas até mesmo os escolhidos, ou seja, os que conhecem a verdade e são leais a Deus. Tal manifestação se dará após o tempo da graça, como mostraremos mais adiante.

É nesse contexto de crescente crises, quando o mundo, mergulhado em terríveis trevas, estiver buscando avidamente alívio e procurando uma estabilidade global, que a ajuda virá de uma forma surpreendente. Em várias regiões do planeta se ouvirá: O Cristo voltou! O Cristo voltou! Um ser deslumbrante e carismático afirma ser o Cristo, o Filho de Deus tão esperado. Ele repete as mesmas palavras que Jesus proferiu nas Sagradas Escrituras, e realiza milagres sobrenaturais. “O povo se prostra em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra esteve. Sua voz é meiga e branda, cheia de melodia. Em tom manso e compassivo apresenta algumas das mesmas verdades celestiais e cheias de graça que o Salvador proferia; cura as moléstias do povo, e então, em seu pretenso caráter de Cristo, alega ter mudado o sábado para o domingo, ordenando a todos que santifiquem o dia que ele abençoou. Declara que aqueles que persistem em santificar o sétimo dia estão blasfemando de Seu nome, pela recusa de ouvirem Seus anjos à eles enviados com a luz e a verdade. É este o poderoso engano, quase invencível” (Ibdem, p. 624). Possivelmente, este evento será transmitido via satélite. Milhões de pessoas serão enganadas com esta aparição, que julgarão ser o cumprimento da profecia apocalíptica de que “todo o olho O verá” (Ap 1:7).

Curiosamente, inúmeras religiões estão ansiosas na expectativa de um Salvador. Os cristãos conhecem-no como o Cristo e estão na expectativa de Seu iminente retorno. Os judeus esperam-no como o Messias; hindus aguardam a chegada de Krishna; budistas esperam Buddha Maitreya e os muçulmanos esperam-no como Iman Mahdi ou o Messias místico. Os nomes podem diferir, mas existe a crença de que todos esses nomes se referem a mesma pessoa o Professor do Mundo, cujo nome é Maitreya. Então, esse deslumbrante ser aparenta ser a respostas às suas orações.

A identidade do falso cristo

Se o Senhor Jesus disse que um falso cristo se apresentaria de forma poderosa operando milagres e com extrema capacidade de engano ao ponto de quase poder enganar o povo de Deus escolhido, pergunto: Quem seria este ser? A própria Palavra de Deus oferece-nos a resposta:

“Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, a ponto de se assentar no santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus. Não se lembram de que quando eu ainda estava com vocês costumava lhes falar essas coisas? E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniquidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras” (2 Ts 2:3-9).

No verso 9, o apóstolo Paulo revelou que seria o próprio Satanás, cuja “vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras”. Ele ainda alerta-nos que “o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz” (2 Coríntios 11:14, NVI).

A Mensageira do Senhor, Ellen G. White, sob inspiração afirmou nitidamente que a referida personificação será uma das derradeiras cenas da História. “Um poder de baixo está operando para desenvolver as últimas grandes cenas do drama - Satanás apresentando-se como Cristo e operando com todo o engano da injustiça [...]” (Evangelismo, p. 623). Ela declara ainda que, até o fechamento da porta da graça, o diabo operará com sinais e prodígios cada vez maiores, sem, contudo, dizer que ele se valerá dessa contrafação. “Somos advertidos de que, nos últimos dias, ele trabalhará com sinais e prodígios de mentira. E continuará com esses prodígios até ao fim da graça, para que os indique como prova de que ele é um anjo de luz e não de trevas.” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 51).

Faltando bem pouco para o verdadeiro aparecimento de Jesus, Satanás apelará para esse recurso: “Ao aproximar-se o segundo aparecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, instrumentos satânicos são movidos por um poder de baixo. Não só aparecerá Satanás como ser humano, mas personificará a Jesus Cristo, e o mundo que rejeitou a verdade o receberá como o senhor dos senhores e rei dos reis. […] Ele trabalhará de maneira igualmente sutil ao nos aproximarmos do fim da História terrestre” (Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 5, p. 1233).

A expressão, no texto acima, de que “o mundo que rejeitou a verdade”, sugere que nesse tempo a graça não mais operará, tempo em que o mundo já terá tomado sua decisão definitiva de rejeição à verdade, estando assim pronto para ser enganado. Diz-nos Ellen G. White: “Nos últimos dias ele se apresentará de tal maneira que faça os homens a crerem que ele é Cristo vindo pela segunda vez ao mundo. Ele se transformará na verdade em anjo de luz. Mas ao passo que ostentará em todos os sentidos a aparência de Cristo, até aonde possa chegar a simples aparência, isso não enganará a ninguém senão aos que, como Faraó, estão procurando resistir à verdade (Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, p. 698).

Mas, é no livro O Grande Conflito que encontramos melhores indícios de que a personificação de Jesus Cristo por Satanás acontecerá após o fechamento da porta da graça. A referência a esse acontecimento futuro é feita no capítulo 39, “Aproxima-se o Tempo de Angústia” (p. 613-634), em cuja abertura é dito que “quando se encerrar a mensagem do terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra”. Logo em seguida, Ellen G. White descreve os eventos desse tempo, entre eles está a personificação de Jesus por Satanás. Em outras palavras, ela trata aqui exclusivamente do tempo em que a graça não mais estará operando em favor dos perdidos. Ela se refere à personificação satânica antes de mencionar o derramamento das sete últimas pragas, mas após descrever o estado de coisas na Terra sem a misericordiosa moderação divina ao domínio do maligno. Satanás mergulhará “os habitantes da Terra em uma grande angústia final”. (p. 614).

Antes que as sete últimas pragas sejam lançadas sobre a Terra, em Apocalipse 13:13, 14 descreve-se a besta da terra - a América protestante - fazendo descer fogo do Céu para enganar o mundo, levando-o a pensar que seja obra de Deus a falsificação de Satanás, que incluirá falsos reavivamentos guiados pelo espírito do mal.

Portanto, não será o Salvador Jesus Cristo que as populações do mundo receberão de braços abertos. Antes, será o inimigo de Deus, Satanás, disfarçado como o Filho de Deus. Com isso, o poder das trevas unirá o mundo e ratificará seu falso sistema de adoração. Então, o poder do mal concretizará a maior fraude que jamais se viu sobre a Terra.

Cegos por seu ódio a Deus e à Sua verdade, os líderes políticos do mundo e aqueles que rejeitaram as verdades do evangelho eterno rapidamente crerão no engodo de Satanás, mascarado por uma agradável aparência religiosa (2 Ts 2:9-12). Finalmente, eles se unirão na última batalha, o Armagedom, que levará ao fim do mundo (Ap 16:12-16). O resultado será a vitória de Deus sobre as forças das trevas.

Como escapar do engano satânico?

Como podemos permanecer firmes num tempo como esse? Em O Grande Conflito, lemos que “apenas os que forem diligentes estudantes das Escrituras, e receberem o amor da verdade, estarão ao abrigo dos poderosos enganos que dominam o mundo. Pelo testemunho da Bíblia estes surpreenderão o enganador em seu disfarce. Para todos virá o tempo de prova. [...] Acha-se hoje o povo de Deus tão firmemente estabelecido em Sua Palavra que não venha a ceder à evidência de seus sentidos? Apegar-se-á nesta crise à Bíblia, e a Bíblia só? Sendo possível, Satanás os impedirá de obter o preparo para estar em pé naquele dia. Disporá as coisas de tal maneira a lhes obstruir o caminho; embaraçá-los-á com os tesouros terrestres; fá-los-á levar um fardo pesado, cansativo, a fim de que seu coração se sobrecarregue com os cuidados desta vida, e o dia de prova venha sobre eles como um ladrão” (p. 625 e 626).

Caro amigo leitor, como vimos os enganos do tempo do fim serão os mais poderosos já vistos. Multidões, inclusive grande número de adventistas, serão enganadas. Nossa única salvaguarda contra os enganos dos últimos dias é o estudo diligente da Palavra de Deus e nela firmar nossa vida. O Apocalipse apela-nos para que tomemos a Bíblia e, com um espírito de exame interior, estudemos a Palavra profética e nos esforcemos para levar o evangelho eterno aos que ainda não foram alcançados pela mensagem de Cristo.

Hoje podemos tomar a resolução de separar um tempo a cada dia para o estudo da Bíblia. Por que adiar?

sexta-feira, 22 de maio de 2020

BARAQUE: LÍDER MILITAR, GANHOU A GUERRA E PERDEU A GLÓRIA


Ricardo André

Neste artigo quero meditar na vida de um personagem bíblico ilustre quase desconhecido, que viveu no período dos juízes em Israel: o líder militar que ganhou a guerra e perdeu a glória.  Isso mesmo, Baraque é o nome dele. O relato sobre a experiência dele, em Juízes 4 e 5, ensina-nos importantes lições espirituais.

Depois de 80 anos de paz o povo de Israel novamente tornou-se descuidado espiritualmente e abandonou a Deus (Jz 2:19). Como resultado, o Senhor permitiu que Jabim, descrito como “rei de Canaã, que reinava em Hazor” (Jz 4:2), devastasse o território do Norte de Israel e colocasse a nação novamente sob domínio estrangeiro. Sísera era o general responsável por comandar todo esse exército (Juízes 4:13).

Durante vinte anos as poderosas forças dos cananeus tinham oprimido os israelitas. Após esse período de opressão (Jz 4:2), O senhor suscitou uma profetiza e juíza por nome Débora, que atendia em algum local entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim (v. 5), a fim de livrar o povo de Deus da opressão. “Ela é a única de quem se diz possuir o dom de profecia” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 337). Certamente na ocasião a inspiração divina era necessária.

A convocação de Baraque

Assim, Débora mandou chamar Baraque, que vivia cerca de 140 km ao norte, em Quedes de Naftali (atualmente Tell Qades). Baraque foi intimado para liderar o exército de Israel na guerra por uma profetiza. Na verdade, ele fora escolhido pelo Céu para enfrentar as forças de Sísera, no monte Tabor, aceitou o dom profético de Débora e creu que Deus poderia usá-lo para livrar Israel (Hb 11:32, 33).

O desafio era vencer Jabim, rei dos cananeus, que possuía 900 carros de ferro, cujas rodas estavam equipadas com mortíferas foices de ferro. Débora esclareceu que Deus libertaria a Israel dali até às planícies junto ao ribeiro de Quisom (v. 7). Ora, uma coisa é professar crer no dom profético, porém é muito diferente crer nele a ponto de colocar toda a reputação e futuro na inspiração. Mas Baraque fez exatamente isso. Foi e recrutou dez mil homens das tribos de Naftali e Zebulom como foi instruído. Mas, para ele e seu exército ir à batalha, impôs a seguinte condição: "Se você for comigo, irei; mas, se não for, não irei" (4:8). Ao dizer isto, Baraque estava pedindo que Débora arriscasse sua vida e fizesse aquilo que ele próprio deveria fazer. Pedir a uma mulher que se colocasse numa situação de perigo mortal, como ir a uma batalha, era completamente contrário aos costumes da época. E o mais curioso é que ela aceitou (v. 9). Débora poderia ter hesitado e falado de sua importante posição e da necessidade de permanecer ali debaixo da palmeira. Mas confiava implicitamente na voz do Céu e foi à batalha. Sua coragem, baseada na absoluta confiança na Palavra de Deus, foi espantosa.

Há quem diga que, ao pedir para Débora ir para a batalha, e que se ela se recusasse ele não iria, Baraque estava sendo covarde ou com falta de fé. Eu não acredito nessa abordagem. Penso que simplesmente desejava que estivesse presente alguém que pudesse dar orientação e ajuda divina para uma ocasião tão importante como a peleja contra o exército de Jabim.

Sobre isso, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 338, afirma: “Provavelmente Baraque percebeu que, sozinho, não sustentaria a disposição de ânimo dos hebreus. A presença de Débora deixaria claro que o empreendimento era de Deus. Ele possivelmente desejaria que todos vissem que quem iniciou a campanha foi a profetisa, e não ele. O fato de Baraque seguir a orientação profética num empreendimento perigoso o dignificou”.

Curioso é que, ao concordar em ir à batalha, Débora afirmou: "Está bem, irei com você. Mas saiba que, por causa do seu modo de agir, a honra não será sua; porque o Senhor entregará Sísera nas mãos de uma mulher" (4:9). A primeira impressão é que Débora estava se referindo a ela mesma como a pessoa que venceria Sísera. Mas, não, referia-se a Jael, uma nômade, camponesa do povo queneu, que adquirira parentesco com os israelitas através de Moisés (4:11 e 17). A glória pela vitória na batalha seria dela e não de Baraque. Por quê? Por que ela matou Sísera, comandante das tropas dos cananeus, após ele ter fugido da guerra e ter sido escondido por Jael na sua barraca (4:18-22). Jael foi uma heroína. Ela precisou de muita coragem e força física para fazer o que fez.

Muitas pessoas acham que a ação dela contra Sísera foi enganosa e traiçoeira. Mas, note o seguinte pensamento de Ellen G. White: “A princípio, Jael ignorou a identidade do seu visitante e resolveu lhe dar guarida; mas, depois, ao saber que era Sísera, o inimigo de deus e de Seu povo, mudou de ideia. E, enquanto ele jazia adormecido diante dela, Jael dominou sua natural relutância de um ato como aquele e o matou, cravando-lhe uma estaca na fronte que o prendeu a terra. Quando Baraque, em perseguição ao inimigo, passou por aquele caminho, foi convidado por Jael a contemplar o jactancioso capitão morto, a seus pés – morto pela mão de uma mulher” (Ibdem, p. 1107).

É importante ressaltar também que suas ações não foram motivadas pela maldade; foram atos punitivos, ordenados por Deus, sobre pessoas para quem a porta da graça se havia fechado (Jz 5:24-27; At 5:1-11; Hb 10:26-31).

Baraque, um herói da fé

Ao final da guerra com a vitória do povo de Israel devido a intervenção de Deus, Baraque e Débora entoaram um cântico de louvor a Deus, chamado de o “cântico de Débora” onde atribuem a vitória ao Senhor Deus (Jz 5). Além disso, o cântico também diz que sem a dedicação integral do povo de Deus, Ele não lhes teria dado a vitória. A união dinâmica entre a cooperação humana e o livramento divino exige nossa consideração, caso também queiramos vencer nas batalhas da vida.

Baraque tornou-se referência de um vencedor para o profeta Samuel, anos depois. “Então o Senhor enviou Jerubaal, Baraque, Jefté e Samuel, e os libertou das mãos dos inimigos que os rodeavam, de modo que vocês viveram em segurança”, disse Samuel (1Sm 12:11, NVI). E mais: na famosa galeria dos heróis da fé, de Hebreus, capítulo 11, lá está o nome de Baraque. É citado como exemplo de um homem de fé (v. 32, 33).

Lições para nós

Caro amigo leitor, nós estamos sendo a cada dia sacudidos pela mesma batalha espiritual, hoje. Ellen G. White escreveu: “A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer luta; mas a alma tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada em santidade” (Caminho a Cristo, p. 43).

Temos que aprender que os esforços humanos não transforma nosso coração, nem o coração dos outros: “A educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm sua devida esfera de ação, mas neste caso são impotentes. Poderão levar a um procedimento exteriormente correto, mas não podem mudar o coração; são incapazes de purificar as fontes da vida. É preciso um poder que opere interiormente, uma nova vida que proceda do alto, antes que os homens possam substituir o pecado pela santidade. Esse poder é Cristo. Sua graça, unicamente, é que pode avivar as amortecidas faculdades da alma, e atraí-la a Deus, à santidade. Disse o Salvador: "Aquele que não nascer de novo"- não receber um novo coração, novos desejos, propósitos e motivos, que conduzem a uma nova vida - "não pode ver o reino de Deus." João 3:3” (Ibdem, p. 18).

Não é pelo nosso poder ou sabedoria que faremos a obra do Senhor. Somente o coração consagrado pode entrar no campo de batalha com a segurança da vitória. “Tudo depende da reta ação da vontade. O poder da escolha deu-o Deus ao homem; a ele compete exercê-lo. Não podeis mudar vosso coração, não podeis por vós mesmos consagrar a Deus as vossas afeições; mas podeis escolher servi-Lo. Podeis dar-Lhe a vossa vontade; Ele então operará em vós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade” (Ibdem, p. 47).

Que o exemplo de Baraque, um homem que só foi para a guerra sabendo que o Senhor Deus estaria com ele através da palavra e presença profética, nos inspire nas atividades e lutas diárias. Conseguiremos a vitória na guerra contra o eu, contra o pecado e suas armadilhas, se levarmos na mente e no coração a certeza de que o Deus dos exércitos está ao nosso lado em cada passo, em cada decisão que precisaremos tomar. É preciso também que nos rendamos a Ele, e com Ele cooperamos, Sua atuação em nós “efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Filipenses 2:13, NVI). Então será possível dizer “tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). A força que sustinha o apóstolo Paulo, a força locomotora de sua vida era Cristo! Ele nos ensina que como cristãos somos fortes em Cristo Jesus. Em sua fraqueza diante dos inimigos espirituiais o cristão confia na força de Jesus. Apesar das vicissitudes, das enormes dificuldades, não somente o cristão recebe o alento, o bálsamo que necessita, o perdão e a paz, mas a força e o ânimo para enfrentar novas lutas.