João
Rodrigo Weronka
A Bíblia Sagrada,
conforme os cristãos afirmam, trata-se da única fonte de autoridade, regra de
fé e moral; a Palavra de Deus deve ser a bússola que indica se o caminho que
estamos seguindo de fato corresponde ao “norte” espiritual.
Em textos anteriores já
falei sobre a triste condição da igreja brasileira, que dia-a-dia se deixa
contaminar por valores nada cristãos, que nada tem da Palavra de Deus. A Bíblia
é muito mal utilizada, e ao invés de trazer edificação e genuíno alimento
espiritual, tem sido empregada por homens perversos que fazem dela um
instrumento de escravidão, manipulação e tortura espiritual. Tal instrumento de
tortura se forma pela distorção de textos isolados que estes falsos mestres
fazem, coagindo o povo despreparado, com uma enxurrada de textos
descontextualizados.
Modas sempre são
bem-vindas neste meio tão sedento por atalhos. Emocionalismo barato vale mais
que sã doutrina e os valores do capitalismo passam a fazer parte da igreja,
fazendo desta um lucrativo negócio. Neste texto vamos tratar da Teologia da
Prosperidade, uma corrente nefasta que tem semeado discórdia e inversão de
valores na igreja.
História
Marca registrada de
praticamente todas as igrejas neopentecostais, avançando com força contra as
confissões pentecostais e fisgando muitos tradicionais, esta corrente enganosa
produz toneladas de livros, manuais, Bíblias de Estudo (estudo?) DVDs, CDs,
filmes e até grifes que movimentam muito dinheiro.
Tais materiais e seus
divulgadores se tornaram parte do cotidiano de muitos crentes que estão com os
lábios cheios de clichês como “eu profetizo”, “eu determino”, “eu reivindico”,
“eu tomo posse”, “eu exijo meus direitos”, “eu resgato” ou o absurdo “eu ordeno
minha benção”. Repare que o “eu” é o eixo desta teologia. O antropocentrismo
que vemos hoje em dia é também conhecido como movimento da “Confissão
Positiva”, “Palavra da Fé” ou “Evangelho da Saúde e da Prosperidade”.
Por se tratar de algo
tão nocivo, não é de se estranhar que suas origens são influenciadas por
misticismo, esoterismo e heresias. O que hoje é um movimento que tem se
espalhado como fogo em palha, possui uma história, um ícone, divulgadores e
seguidores.
O
precursor: Essek Willian Kenyon
Poucos dos crentes que
abraçam a Teologia da Prosperidade sabem que a ideologia desta remonta a um
homem chamado Essek Willian Kenyon (1867-1948).
A conversão de Kenyon
ocorreu em sua adolescência. Posteriormente ele se envolveu com movimentos
metafísicos e recebeu forte influência de Mary Baker Eddy, fundadora da
herética Ciência Cristã. [1]
Kenyon é o pai de uma
expressão que se desdobrou com o tempo. É dele a frase “o que eu confesso, eu
possuo”. É o embrião da Confissão Positiva.
Como sempre existe
alguém disposto a levar adiante uma distorção feita por um falso mestre, coube
a Kenneth Hagin divulgar o pensamento de Kenyon.
O
proclamador: Kenneth Erwin Hagin
Muitos acreditam que as
origens da Teologia da Prosperidade estavam em Hagin (1917-2003). Fato este
devido ao nível de divulgação e influência que Hagin conseguiu, através do
vasto material por ele publicado. Após passar por uma experiência miraculosa
relacionada à cura de sérios problemas de saúde na infância e adolescência,
Hagin passa a militar em favor da filosofia que hoje influencia a vida de
muitos crentes.
Hagin acreditava que
era necessário seguir passos para a vitória. Era necessário crer, declarar
verbalmente a fé e então agir como se já tivesse recebido a benção. [2]
Sua vida foi um
apanhado de inúmeras experiências pessoais que, ao serem registradas em livros,
folhetos e áudio, viraram regra de fé e prática para milhares de incautos
seguidores. Como é de se supor, suas vastas experiências carecem de suporte
bíblico, como por exemplo, viagens até o inferno para “provar” da realidade
daquele lugar.
O
legado de Hagin e os desdobramentos no Brasil
Muitos são os
pregadores da fé que deram continuidade naquilo que Kenyon criou e que Hagin
difundiu, e destes, a grande maioria é muito conhecida no Brasil, onde seus
ensinos são divulgados por livros, programas de TV, DVDs e congressos.
Nomes internacionais
como Kenneth Copeland, Benny Hinn, Frederick Price, Paul (David) Yonggi Cho,
Mike Murdock e Morris Cerulo fazem parte do cotidiano de muitos líderes da
igreja brasileira, que por força da sua influência, tem levado o membro comum a
achar que este tipo de literatura é boa, quando na verdade são materiais e
ensinos cheios de sofismas e engano.
No Brasil, também
existe uma relação de nomes que são responsáveis pela divulgação deste veneno
espiritual: Edir Macedo, René Terranova, R.R. Soares, Valnice Milhomens,
Cristiano Netto e tantos outros que no seu anonimato continuam a propagar este
falso evangelho de riquezas.
Como o povo brasileiro
em geral, e o crente em específico, são amantes de novidades, modinhas e
métodos que servem como atalho, a Teologia da Prosperidade veio importada dos
EUA encontrando solo fértil por aqui, infelizmente.
Males
da Teologia da Prosperidade: minha vivência
Minha conversão se deu
numa denominação que apregoa demasiadamente a Teologia da Prosperidade e seus
métodos falaciosos. Agradeço ao Senhor pois - ainda no erro - pude conhecê-Lo,
e na medida que a verdade me confrontava, o engano era retirado de minha vida,
ao ponto de romper definitivamente com coisas que não encontram conformidade
com o genuíno Evangelho de Cristo. A maravilhosa graça do Pai me alcançou, e
hoje reconheço inteiramente que o mérito em tudo é de Cristo, e que não posso
fazer do Reino de Deus um negócio. A Teologia da Prosperidade que outrora movia
minha vida, hoje faz parte de um passado distante.
Não tenho por costume
cuspir no prato onde comi – isso é deselegante e antiético. Mas minha conversão
não teve por consequência o suicídio da razão, sendo assim, tenho plena
liberdade de discordar das coisas que são apregoadas sem o respaldo bíblico. A
discordância não representa um meio de menosprezar e ridicularizar a crença
alheia, mas nos motiva a desmascarar o erro por amor e benefício do próximo.
Nos primeiros passos como cristão, vi e vivi muito dos ensinos da Teologia da
Prosperidade, e sei, na prática, do potencial maléfico que ela tem.
Participei de dezenas
das famosas “campanhas” de fé e finanças, onde a mola mestra era a barganha com
Deus. Tudo girava em torno dos “sacrifícios” financeiros onde até mesmo valores
mínimos de oferta eram exigidos. Pregadores negavam a suficiência da cruz e o
Sacrifício Supremo de Jesus e estabeleciam parâmetros esdrúxulos, ao ponto de
dizer: “EU não aceito menos de R$ 30,00 neste envelope (por exemplo)”. Quanto
maior o sacrifício, maior a profecia, a benção, a visão, a unção - como se Deus
fosse um menino que Se vende por agrados.
Os “valentes” recebiam
doses especiais de poder e seu ego era alimentado por fazer parte da classe dos
que faziam sacrifícios acima da média. Expressões como “se garantir a festa na
casa de Deus, Deus garante a festa na minha casa”, ou “o valor que você der de
oferta vai determinar o valor que Deus dará ao seu próximo ano”, além de anti-bíblicas,
manipulam, enchem de medo e apartam o cristão redimido no sangue de Cristo das
genuínas benesses do Calvário.
Para variar, o Novo
Testamento era praticamente esquecido em tais campanhas, e textos mal-emendados
da Antiga Aliança – e promessas exclusivas do povo judeu naquele contexto –
eram “liberadas” sobre a igreja – desnutrida e mal alimentada da Palavra. Desta
forma, o palco para apostasia fica completo.
Num contexto como esse,
não é de se admirar que muitos se apartaram, partindo para pastos onde alimento
genuíno é servido.
Infelizmente, muitos
dos que receberam uma avalanche de promessas nunca cumpridas – e
irresponsavelmente “liberadas” – fazem parte do contingente de decepcionados com
Deus e com a igreja. Um contingente que cresce de modo alarmante. Assim como
disse Karl Kepler, isso faz parte de uma neurose:
“Com o fenômeno das
igrejas neopentecostais, uma nova safra de crentes evangélicos inundou o Brasil
e, à medida que os anos passam e as promessas de prosperidade não se cumprem,
uma nova safra de ex-crentes decepcionados deve estar voltando para as ruas”.
[3]
E ainda pude constatar
uma coisa neste tempo: a Teologia da Prosperidade funciona muito bem, mas
apenas para aqueles que a pregam. Nas palavras de Hank Hanegraaff:
“Basta caminhar pelo
estacionamento dessas conferências ou mesmo dum culto dominical, ligado ao
movimento da Fé, para responder à pergunta: ‘Esse tipo de ensino realmente
funciona?’ Fi-lo recentemente no quartel-general e igreja dum dos principais
mestres da Fé e obtive minha resposta. Havia Cadillacs, Mercedes e uns poucos
reluzentes Lexus ali estacionados – todos eles porém, nos lugares reservados
aos pastores e seu pessoal. No mais, entretanto, o parque de estacionamento
parecia com qualquer outro, numa grande variedade de cupês, pick-ups e furgões.
Ouça cuidadosamente: Era como qualquer outro parque de estacionamento da
cidade. Ora, como é que pode ser isso?” [4]
Muito simples: a
Teologia da Prosperidade é falaciosa. Doutra forma, todos que a seguem deveriam
ser CEO de multinacionais, possuir jatinho próprio, carros importados e mansão
em Miami, afinal, devem ser cabeça e não cauda! Mas a realidade é diferente do
mundo encantado apregoado pelos mestres da riqueza. Enquanto eles se deleitam
na gordura do sacrifício alheio, estão cegos para as verdades espirituais, tal
como o sacerdote Eli (1Sm 1 e 2).
Comerciantes
da Fé
Tenho uma graduação em
Ciências Econômicas, e através desta ciência aprendi sobre a Lei de Mercado ou
Lei de Oferta e Demanda, que pode ser assim definida: “conjunto de conceitos
que designam a disponibilidade de bens e serviços à venda no mercado, por um
lado, e sua demanda solvável, por outro”. [5].
Em resumo, para que o
mercado da fé exista, é necessário que existam os que ofertam o serviço e os
que demandam o serviço, ou seja, os “profetas” da prosperidade são os agentes
de oferta, e os crentes imaturos são os agentes de demanda. Cada qual com sua
responsabilidade neste emaranhado de erros.
O modelo a seguir
representa o que temos visto nos dias de hoje em muitos templos e denominações
“evangélicas”:
Fico pasmo em saber que
isso é tão somente a ponta do iceberg. Ao ver declarações como as que seguem
abaixo, fico a me perguntar até que ponto os pregadores de riquezas chagarão um
dia:
“Deus está falando que
a benção será triplicada, O seu salário vai se multiplicar por três. Quando
você receber seu salário ainda terá do antigo para gastar. É tempo de fartura.
É tempo de Deus. Todos os moradores da terra receberão a notícia de que é tempo
de restituição.”[6]
“Faça esta oração:
Senhor meu Deus, ao ler este livro, aprendi que, se desejo receber muito
dinheiro, devo plantar o equivalente em Tua obra no mundo.” [7]
“Mais uma vez, como
profeta de prosperidade para estes negros dias de crise, eu afirmo: DEUS ESTÁ
INTERESSADO NO BOM ANDAMENTO DE SUAS FINANÇAS. Acredite nisso. Ele é um Pai
amoroso. Pare um pouco, respire fundo e repita em voz audível e com convicção,
por três vezes: DEUS ESTÁ INTERESSADO EM MEU SUCESSO FINANCEIRO. Agora repita
em voz alta, como um brado de vitória: DEUS VAI MUDAR MINHA VIDA FINANCEIRA
PARA MELHOR (ênfase do autor)” [8]
“Muitas pessoas
acreditam que Jesus Cristo foi muito ‘pobrezinho’ mas a verdade é que Jesus foi
a pessoa mais próspera que já pisou sobre a face da Terra. (...) Ele andava
montado num burro, que era o ‘cadilac’ da época.” [9]
“Você estará colhendo
de acordo com a espécie que você mesmo determinar. Lembre-se: Se você plantar
carro, vai nascer carro! Se você plantar emprego, nascerá emprego! Se você
plantar uma casa própria, nascerá uma casa própria! Você acredita na Palavra de
Deus?”[10]
“Agora, você já sabe
que é você quem determina, fixa os limites e diz o que você terá ou não. Por
isso, pare de orar chorando, de se lamentar, suplicando que Deus, com Sua
bondade, lembre-se de você. Esse tipo de oração pode parecer espiritual. Alguém
pode achar lindo orar assim, mas isso não ter valor algum.” [11]
Reparou como as
declarações destes homens se aproximam muito daquilo que Essek W. Kenyon
entendia (o que eu confesso, eu possuo)? E o que mais espanta são as
declarações a seguir:
“Estejam ou não a par
disso, são seus pensamentos predominantes de riqueza que lhe trazem riqueza”
[12]
“Como em todas as leis
da natureza, nessa também a perfeição é absoluta. Você cria sua vida. Você
colherá tudo o que semear! Seus pensamentos são sementes, e sua colheita
dependerá do que plantar.”[13]
“Esta é a sua vida, e
está esperando que você a descubra! Até agora você talvez tenha pensado que a
vida é dura, uma luta, e, portanto, pela lei da atração, deve ter sentido a
vida como dura e uma luta. Comece imediatamente a gritar para o Universo: “A
vida é tão fácil! A vida é tão boa! Todas as coisas boas vêm até mim”. [14]
“O que de fato você
quer? Sente-se e escreva numa folha de papel, usando o presente do indicativo.
Você poderia começar assim: ‘Eu estou tão feliz e grato neste momento que...’ E
então explique como você quer que sua vida seja, em qualquer área.” [15]
“Mas, se você quer uma
máquina de costura, guarde a imagem dela com a certeza absoluta de que ela está
sendo feita ou de que está a caminho. Depois de formar o pensamento uma vez,
acredite absoluta e definitivamente que a máquina de costura está a caminho.
Nunca pense ou fale nela a não ser com a certeza de que vai chegar. Afirme que
ela já é sua”. [16]
“Nunca olhe para as
provisões invisíveis; olhe sempre para as riquezas ilimitadas na Substância
Informe e SAIBA que elas estão vindo em sua direção tão depressa quanto você
pode recebê-las e usá-las”. [17]
Se você ainda não
conferiu as notas no final deste estudo, eu pergunto: de qual pregador de
prosperidade são as declarações acima? Infelizmente, são declarações de obras
de cunho esotérico, mas que se forem “cristianizadas” por um dos mestres da
riqueza (e muitas já o são), facilmente se tornarão Best Sellers nas fileiras
do gospel Brasil. Realmente é chocante a semelhança entre o pensamento positivo
dos esotéricos e do positivismo e determinismo apregoado pela Teologia da
Prosperidade. E esta semelhança se dá, pois ambos têm o mesmo foco: o eu do
homem. O homem é o centro. O ego é deus.
Enquanto a Bíblia nos
adverte a focar os esforços nas coisas eternas e atemporais (sem tratar com
relaxo das coisas temporais, evidentemente), os profetas da riqueza direcionam
o rebanho a focar os esforços naquilo que é passageiro e que a ferrugem e a
traça devoram.
A recente crise
econômica mundial (2008-2009) afetou diversos setores da economia. Vimos
conglomerados financeiros sendo derrubados como castelos de cartas, impérios de
poder ruindo como castelos de areia a beira-mar, massas de pessoas sendo
demitidas. Será que no meio destas milhares – ou milhões – de pessoas não
tínhamos sequer um cristão? Será que nenhum crente em Jesus perdeu seu emprego?
Endividou-se? Entrou no vermelho? Creio piamente que Deus cuida dos Seus. Creio
que no meio de tantas lutas Ele provém sustento, mas chega ao ponto do ridículo
imaginar que crises não atingem crentes. Mas ainda assim os profetas da
riqueza, tomados pela ganância, lançaram correntes e campanhas para amarrar a
crise e prosperar os crentes.
Este episódio me lembra
de dois personagens bíblicos. Jeremias e Hananias. Veja este exemplo:
“O problema não é de
hoje. É multissecular. O profeta Jeremias fazia o que podia para convencer os
reis e o povo de Israel da famosa tríade que estava para chegar a qualquer
momento: a guerra, a fome e a peste (Jr 14.12; 21.7; 24.10; 27.8; 29.17; 32.24;
34.17; 38.2; 42.17; 44.13). Enquanto isso, o profeta Hananias, no mesmo lugar e
para o mesmo público, profetizava “prosperidade” (Jr 28.9, NVI e BP), ou “paz”
(NTLH, ARA e BV), ou “felicidade” (Tradução da CNBB). Um e outro usavam a mesma
introdução: ‘Assim diz o Senhor’”. [17]
E como já falamos muito
sobre história, é hora de, partindo por estes dois exemplos, refutar, de modo
bíblico e definitivo, a falaciosa Teologia da Prosperidade.
A
Verdade Bíblica
Quando observamos as
verdades Bíblicas nos confrontamos de modo profundo com aquilo que é ensinado
pela Teologia da Prosperidade. A bem da verdade, muitos de nós já ouviram por
aí absurdos sem fim para defender que o crente deve ter riquezas e uma saúde de
ferro, e claro, aqueles que assim ensinam tentam respaldar-se na Bíblia. De
fato, se tomarmos meia dúzia de textos isolados (principalmente promessas de
bênçãos materiais feitas aos judeus), poderemos com base na Bíblia criar
extravagâncias e aberrações diversas. Muitas são as seitas que aplicam este método
falacioso. São muitos os problemas que a ignorância bíblica pode produzir no
rebanho e essa sonolência espiritual tem permitido a entrada de falsos mestres
e falsos ensinos no meio da igreja. Concordo plenamente com John MacArthur
quando afirma que:
“Talvez a igreja hoje
seja bem mais suscetível aos falsos mestres, aos pervertedores de doutrinas e
ao terrorismo espiritual do que em qualquer outra geração na história da
igreja. A ignorância bíblica dentro da igreja talvez seja muito mais profunda e
mais generalizada do que em qualquer outra época desde a Reforma Protestante.
Se você duvida disso, escolha aleatoriamente um dos sermões de qualquer dos
principais pregadores evangélicos anteriores a 1850 e o compare com o sermão
típico de hoje. Além disso, compare a literatura cristã de hoje com qualquer
obra publicada há cem anos ou mais, pelas editoras evangélicas. (...) Os temas
característicos dos sermões estão carregados de questões centralizadas no homem
(tais como relacionamentos pessoais, vida bem-sucedida, auto-estima, listas de
‘como fazer’ e assim por diante) – a ponto de excluir muitos pontos da doutrina
bíblica que exaltam doutrinários nas Escrituras que enaltecem a Cristo.” [18]
Pois bem, se você
chegou até aqui, percebeu que os problemas mencionados nos seguintes textos
bíblicos são reais em nossos dias:
“Mas os que querem ser
ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e
nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro
é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé,
e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.9-10).
“E também houve entre o
povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que
introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as
suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por
avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo
tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita.” 2Pe 2.1-3
Entendendo que o amor
ao dinheiro e poder está no coração dos pregadores da Teologia da Prosperidade
e que eles estão no nosso meio, pois o joio cresce com o trigo (Mt 13.30),
passamos a examinar as palavras do Senhor Jesus sobre as questões materiais.
“Não ajunteis tesouros
na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e
roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem,
e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mt 6.19-20).
Creio que as palavras
de Russel N. Champlin caem como uma luva neste contexto, quando diz que “o deus
Mamom atrai mais que o Cristo da Galiléia”[19]. Forte e duro, mas real. Será
que o modelo de vida seguido por Jesus está ultrapassado para a igreja pós-moderna
(ou hiper-moderna?)?
Se os membros destas
igrejas se dessem ao trabalho de examinar as Escrituras, descobririam que nossa
riqueza está em boas obras (1Tm 6.18), na fé (Tg 2.5) e que somos herdeiros das
insondáveis riquezas que estão em Cristo (Ef 3.8). Os divulgadores da Teologia
da Prosperidade estão cegos em suas ambições materialistas e não percebem que
Jesus deixou muito claro que as riquezas não são o alvo da igreja. Jesus não
morreu para que nós O fizéssemos um banqueiro. É triste constatar isso, mas
muitas das igrejas evangélicas, e muitos dos que carregam o rótulo de
“evangélico” não estão mais adorando ao Deus Vivo, mas estão prestando culto a
Mamom. Muitas igrejas nos dias de hoje são altares dedicados a Mamom.
“E disse-lhes:
Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste
na abundância do que possui” (Lc 12.15).
Certa feita ouvi de um
destes profetas da riqueza que acabara de comprar um bem de alto valor, que tal
fato tinha ocorrido por ser um presente de Deus para ele. Ressalva: creio que
Deus concede dádivas aos Seus filhos, porém dentro da Sua soberania e vontade,
e nunca na nossa vontade. No entanto, em tom de superioridade, estes pregadores
cortam o coração das ovelhas ao dizer que são merecedores de tais dádivas mais
que os meros mortais do rebanho, ou seja, Deus tem nestes homens Seus filhinhos
preferidos, a ponto de conceder presentinhos a uns, mantendo outros em
angústia.
Outro destes profetas
comprou, com recursos eclesiásticos, um automóvel importado de quase R$
100.000,00 para que, através do uso “pastoral” pudesse ostentar quão abençoado
ele é. O problema surgiu quando as fontes da igreja começaram a minguar, sendo
rapidamente achada a solução: levantar, durante os cultos, apelos de gordas ofertas
para quitação das parcelas do veículo de uso “pastoral”. Mais uma vez, ovelhas
manipuladas como fantoches financiando a carruagem de ministros de impérios e
reinos próprios. Um ultraje à cruz de Cristo e ao puro Evangelho da Graça.
Como o texto bíblico
acima mencionado diz, é preciso tomar muito cuidado com a avareza e com o amor
pela ostentação. A vida cristã é muito mais que isso. É infinitamente mais que
isso.
O anseio por uma vida
de luxo e riquezas traz de “brinde” a atrofia espiritual e desvirtua o cristão
do seu caminho.
“Tenho-vos dito isto,
para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu
venci o mundo” (Jo 16.33). Talvez você tenha sido mal orientado e “programado”
que deve orar demasiadamente por algo. Talvez tenha sido ensinado a sempre
“profetizar”, “determinar”, “tomar posse”, “exigir seus direitos” e as coisas
nem sempre aconteceram como você queria. Ao invés da tão esperada benção, houve
um silêncio incomensurável. Mas não se desespere! O modelo dos pregadores da
Teologia da Prosperidade não segue o modelo bíblico e não condiz com o que
Jesus ensinou.
As tribulações existem.
Elas virão sobre muitos cristãos. Ainda assim não devemos desanimar, pois
estamos ligados nEle independente de circunstancias externas (2Co 4.8-9). Se
Deus deu o privilégio de todos desfrutarem do Sol e da chuva (Mt 5.45), por que
pensar que sendo cristãos não teríamos problemas, lutas e tribulações? Se
Cristo passou pelo que passou, seus discípulos não passariam? Tente imaginar
esta mensagem de saúde de ferro e prosperidade financeira sendo pregada no
contexto da Igreja Primitiva ou – em nossos dias – em países como Afeganistão,
Sudão e Coréia do Norte, onde o simples viver é a maior de todas as bênçãos?!
As prioridades foram invertidas, as raízes do cristianismo bíblico precisam ser
expostas.
“Mas, buscai primeiro o
reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”
(Mt 6.33) Este versículo é o supra-sumo, conclusão, síntese daquilo que Jesus
deixou como a verdadeira prioridade de vida para o cristão. O propósito sublime
está no Reino de Deus. É impossível que um pregador da Teologia da Prosperidade
não se incomode com a verdade explícita registrada neste versículo.
Se tais homens
realmente tivessem o Reino de Deus e Sua justiça impregnados no coração, de
modo algum estariam propagando as mensagens que assombram a igreja, seja nos
templos, na TV, no rádio, internet ou livros. É hora de dar um basta nisso! Se
você ainda é um seguidor de tal teologia, faço um apelo que leia imediatamente
o capítulo seis do Evangelho de Mateus e veja que Jesus faz ali um verdadeiro
manifesto contra o materialismo; peça que o Espírito Santo lhe dirija na busca
e descoberta da verdade do Reino de Deus. O Consolador te levará ao Senhor
Jesus, e nunca a Mamom. Em seu comentário bíblico, disse William MacDonald
sobre este versículo específico:
“O Senhor, portanto,
faz um pacto com seus seguidores. Em resumo, ele diz: ‘Se você colocar os
interesses de Deus em primeiro lugar na sua vida, eu garantirei suas
necessidades futuras. Se você buscar, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a
sua justiça, então eu cuidarei para que nunca lhe falte as necessidades da
vida’” (destaque do autor) [20]
Dada a exposição das
Escrituras, não vamos nos ater tão somente a mostrar o problema e expor a
ferida. Propomos uma solução à questão.
Solucionando
o Problema
Alguns se conformam com
a existência desta falsa teologia e de seus mestres simplesmente por considerar
que isso é parte da apostasia do tempo do fim. Ignorar este problema é um grave
erro.
Outros acham que o
crente não pode, em hipótese alguma almejar um equilíbrio em sua vida. Estes
são os adeptos da “Teologia da Miséria”, pois bradam em alta voz que “crente
bom, é crente miserável”. Não! Este também não é o caminho. Acredito que o
equilíbrio é o ideal. Nem oito nem oitenta.
Acredito também que
ficarmos tão somente apontando problemas sem indicar soluções é perda de tempo.
Por isso, proponho o seguinte:
1. Equilíbrio,
moderação e bom senso: Todos nós ansiamos por coisas
boas, isso é um fato. A grande maioria trabalha duro, estuda, se especializa
com o objetivo de desenvolver carreira profissional e um bom salário, e nisso
não há pecado algum. É evidente que quando projetamos tal aspecto em nossas
vidas ansiamos em dar melhores condições para nossos familiares e devemos
almejar alcançar os aflitos com estes recursos. Se não fosse assim,
tornar-nos-íamos ascetas nômades que tocariam a vida no modelo socioeconômico
do escambo.
O que moldará a
diferença em nossas vidas é o principal objetivo, é aquilo que está no centro
de nosso coração. Nosso alvo deve ser, acima de tudo e de todos, o Senhor Deus.
O texto a seguir resume o que quero dizer: “não me dês nem a pobreza nem a
riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura,
estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o SENHOR? Ou que,
empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão”. (Pv 30.8-9).
Ou ainda, nas palavras
de Craig L. Blomberg: “O princípio de moderação explica as preocupações de
Jesus e Paulo por uma vida simples, particularmente quando envolvidos no
ministério, para não dar brecha desnecessária à má reputação do Evangelho”.
[21]
2. Ensino Bíblico em
todas as áreas da igreja local: O ensino sadio é algo
de fundamental importância para que nossas igrejas sejam realmente sadias.
Discutimos isso em maior amplitude no texto “Tripé Básico do Cristianismo –
Parte 2: Ensinar”, mas quero ressaltar aqui que o ensino não está condicionado
a uma estrutura de classe em Escola Bíblica.
O púlpito deve ser um
local de exclusiva exposição clara da verdade da Palavra de Deus. Os
informativos e jornais locais devem ser mais que um calendário de eventos e
datas de aniversário, podendo ser um instrumento de edificação e evangelismo
quando trouxer breves reflexões e devocionais bíblicos. O louvor deve
glorificar o Senhor e ser carregado da mensagem cristã.
Desta forma, proponho
banir de uma vez por todas o triunfalismo barato que invadiu os púlpitos,
retornando à exposição clara das verdades contidas na Palavra de Deus, sem
manipulação ou adulteração, para que todo o que a ouve possa chegar ao
conhecimento da verdade (2Co 4.2).
3. Mergulhar na graça e
soberania divina: A graça é um favor de Deus para nós. A
graça do Senhor soberano sobre tudo e todos nos foi concedida. Imagine só! O
Deus todo-poderoso se importou conosco no mais sublime de Sua soberania (Mc
14.36; Mt 26.42; 1Jo 5.14).
Durante muito tempo
minha vida foi aterrorizada pelo fantasma do merecimento, do legalismo e da
auto-justificação. Pensava que precisava fazer obras para me justificar diante
de Deus e então passar a receber boas coisas da parte dEle. Pensava que os
famosos sacrifícios, propósitos, votos, dos mais variados meios e formas, dos
mais distintos valores, eram uma espécie de meio de troca dos favores de Deus
para com o homem.
Até que um dia a venda
da religiosidade caiu, e pude contemplar a graça de Deus em minha vida.
Compreendi que acima de quem sou ou faço o Senhor Excelso cuida de mim, zela
por mim, provê em minha vida e me sustém em Sua mão. Confio nEle. Que Ele faça
o que quer em mim e por mim. Sigo o exemplo de Cristo: faça Sua vontade Deus, e
não a minha! A benção da graça precisa ser capturada pelo coração dos crentes.
Enfim, o materialismo
da Teologia da Prosperidade é uma grande prova de apostasia. Entendemos sim que
somos mordomos daquilo que Ele nos concedeu, e que se Ele quiser proverá coisas
boas em nossas vidas; porém, nunca nos deixaremos dominar pelo materialismo.
Deus não é fantoche de
ninguém e não pode ser manipulado por Suas criaturas. Seja você um cristão
genuinamente bíblico e deixe de procurar por mensagens agradáveis que você e
seu ego desejam, mas busque aquilo que o Senhor quer para você, lembrando
sempre:
“Não atentando nós nas
coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são
temporais, e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18).
Toda honra e glória ao
Senhor!
Notas:
[1] Fundada por Mary
Baker Eddy, a Ciência Cristã ensina – baseada no conceito dualista grego – que
toda matéria é má, que o mundo material é uma ilusão e que a mente é a única
realidade. Deus é um conceito estranho, relacionada a mente; Jesus foi uma
figura histórica apenas; o pecado não existe e o inferno não passa de um mau
estado mental.
[2] MATOS, Alderi de
Souza. Raízes Históricas da Teologia da Prosperidade. Site Revista Ultimato
[3] KEPLER, Karl.
Neuroses Eclesiásticas. Arte Editorial. São Paulo, SP: 2009. p.18
[4] HANEGRAAFF, Hank.
Cristianismo em Crise. CPAD. Rio de Janeiro, RJ: 1996. p.235-236
[5] SANDRONI, Paulo.
Novíssimo Dicionário de Economia. Editora Best Seller. São Paulo, SP: 2001.
p.336
[6] ENGEL, Joel. A
Festa do Jubileu, 3ªed. Ministério Engel. Sobradinho, RS: 2004. p.77
[7] NETTO, Cristiano.
Como Prosperar em Tempos de Crise, 6ªed. Edição do Autor. Curitiba, PR: 2003.
p.64
[8] NETTO, Cristiano.
Como Prosperar em Tempos de Crise. p.20.
[9] NETTO, Cristiano. O
Melhor Vencedor do Mundo, 5ª ed. Ed. e Distr. Provisão e Vida. Curitiba, PR:
2003. p.90
[10] SOUZA, Raul de. A
Lei da Semeadura. Épta Produções. Curitiba, PR: 2005. p.46
[11] SOARES, R.R. Como
Tomar Posse da Benção. Graça Editorial. Rio de Janeiro, RJ: 2004. p.47-48
[12] BYRNE, Rhonda. O
Segredo. Ediouro. Rio de Janeiro, RJ: 2007. p.6
[13] BYRNE, Rhonda. O
Segredo. p.17
[14] BYRNE, Rhonda. O
Segredo. p.41
[15] BYRNE, Rhonda. O
Segredo. p.47
[16] WATTLES, Wallace
Delois, A Ciência de Ficar Rico, 6ªed. Editora Best Seller. Rio de Janeiro, RJ:
2008. p.41
[16] WATTLES, Wallace
Delois, A Ciência de Ficar Rico. p.38
[17] Texto “Hananias, o
mago da prosperidade”. Site Revista Ultimato
[18] MACARTHUR, John F.
A Guerra pela Verdade. Editora Fiel. São José dos Campos, SP: 2008. p.200-201
[19] CHAMPLIN, Russel
Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. 1. Editora
Hagnos São Paulo, SP: 2002. p.326
[20] MACDONALD,
William. Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento. Ed. Mundo Crsitão. São
Paulo, SP: 2008. p.31
[21] BLOMBERG, Craig L.
Nem riqueza, nem pobreza. Editora Esperança. Curitiba, PR: 2009. p.245-246
Fonte: http://www.webevangelista.com/