Teologia

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

ONDE JESUS ESTEVE DOS 12 AOS 30 ANOS DE IDADE?


 Dr. Alberto Timm

Como os evangelhos não mencionam explicitamente o que ocorreu com Cristo dos 12 aos 30 anos de idade, muitas pessoas se sentem na liberdade de conjecturar a esse respeito. Alguns sugerem que nesse período Cristo Se afastou da Palestina para viver em algum lugar do Extremo Oriente. Outros propõem que nessa época Ele tenha Se ausentado da Terra para visitar outros planetas. Já um terceiro grupo alega que Ele permaneceu na Palestina, vivendo uma vida moral relativamente depravada. Mas, por mais originais que sejam, essas teorias não passam de meras especulações humanas, destituídas de base bíblica e de comprovação histórica.

A despeito do silêncio bíblico sobre esses 18 anos da vida de Jesus, existem fortes evidências bíblicas de que Ele continuou residindo em Nazaré até o início do Seu ministério público. Somos informados de que, após a Sua visita a Jerusalém, aos 12 anos de idade, Jesus regressou com José e Maria “para Nazaré; e era-lhes submisso” (Lc 2:51); que Ele foi criado naquela mesma cidade (Lc 4:16); que Ele veio “de Nazaré da Galileia” para ser batizado por João Batista no rio Jordão (Mc 1:9); e que, após o aprisionamento deste, Jesus “deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum” (Mt 4:12 e 13).

Por haver residido em Nazaré todos esses anos, Jesus era conhecido pelos Seus contemporâneos como “Nazareno” (ver Mt 2:23; 26:71; Mc 1:24; 10:47; 16:6; Lc 4:34; 18:37; 24:19; Jo 1:45; 18:5, 7; 19:19; At 2:22; 3:6; 4:10; 6:14; 22:8; 26:9), e os Seus seguidores, como a “seita dos nazarenos” (At 24:5). Próximo ao final do Seu ministério público na Galileia, Jesus retornou a Nazaré, qualificada nos Evangelhos de “a sua terra” (Mt 13:54; Mc 6:1), sendo reconhecido pelos próprios nazarenos como “o carpinteiro” (Mc 6:3) e o “filho do carpinteiro” (Mt 13:55). Eles jamais O teriam reconhecido como tal se Ele não houvesse exercido tal profissão naquela cidade antes do início do Seu ministério público.

Algumas pessoas alegam que João Batista não conhecia a Cristo até ser este batizado por ele (ver Jo 1:31 e 33), porque Jesus havia Se mudado de Nazaré para outra localidade. Esse argumento não é válido, em primeiro lugar porque ambos estavam geograficamente distanciados um do outro. Enquanto Jesus permaneceu em Nazaré da Galileia (Mc 1:9), João Batista residia na Judéia (Lc 1:39, 40, 65 e 80). Além disso, a questão envolvida não era tanto o relacionamento pessoal entre eles, mas o fato de João não haver até então identificado quem seria o prometido Messias (comparar com Mt 11:2 e 3; Lc 7:18 e 19).

Embora Jesus houvesse exercido a profissão de carpinteiro em Nazaré, até os 30 anos de idade, Suas atividades durante esse período não foram registradas nos Evangelhos por não serem tão significativas quanto os eventos relacionados com o próprio ministério de Cristo. Não podemos nos esquecer de que os Evangelhos não são biografias exaustivas de Jesus, e sim “evangelhos” com um conteúdo biográfico restrito ao seu específico propósito salvífico (ver Jo 20:30 e 31).

 

FONTE: Revista Sinais dos Tempos, janeiro de 1999, p. 29.

 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ENTENDENDO MEUS AMIGOS JUDEUS


 Alexander (Sasha) Bolotnikov*

Como povo, os judeus rastreiam a sua origem até Davi, Moisés e Abraão. Sua antiga pátria é a Judeia, atualmente conhecida como Estado de Israel. Os judeus partilham de uma língua comum, o hebraico. Depois que os romanos recuperaram Jerusalém e destruíram o segundo templo, em 70 d.C., os judeus foram dispersos por todo o mundo e sofreram a perseguições e massacres generalizados. A pior de todas essas destruições étnicas em massa ocorreu na Alemanha nazista, entre 1933 e 1945, quando aproximadamente seis milhões de judeus foram exterminados. Durante esse tempo, mesmo tendo alguns judeus alemães mudado de religião, unindo-se às várias igrejas cristãs, a máquina racial de Hitler ainda os procurava para fazer o extermínio. Antes de Hitler, a origem étnica era o principal fator na política antissemítica do império russo, e depois na URSS. Os pogroms (motins antissemitas), que ocorreram de 1883 a 1913, levaram muitos judeus do leste da Europa a imigrarem para os Estados Unidos1. Com isso, cerca de 70% dos judeus norte-americanos hoje são asquenazitas [ou asquenazes], com raízes no Império Russo.

QUEM SÃO OS JUDEUS DE HOJE?

Frequentemente, quando as pessoas pensam nos judeus, pensam nos judeus piedosos dos dias de Jesus ou nos judeus religiosos que elas viram usando chapéus e casacos pretos compridos. Sim, eles são judeus, mas os judeus ortodoxos e ultraortodoxos representam de 15 a 20% dos judeus em todo o mundo.2 Eles são a minoria. Três grupos étnicos judeus distintos foram formados após a destruição do segundo templo: os judeus asquenazitas, os judeus sefarditas (ou sefaraditas) e os judeus mizrahins. Os asquenazitas são em sua maioria judeus de fala iídiche, originários da Europa Oriental; os judeus sefarditas são originários em grande parte da Espanha e Portugal e os judeus mizrahins são do Oriente Médio e Norte da África.

Os judeus asquenazitas são aqueles que fugiram da perseguição romana e foram morar nas proximidades do Rio Reno, na Alemanha, por volta do Terceiro Século. A partir de então, eles se espalhara pela parte oriental da Europa Medieval. Nessa época, as perseguições, expulsões e cruzadas fizeram com que a maioria dos judeus fossem para a Polônia. Em 1975, a maior parte da Polônia foi ocupada pelo Império Russo. Quase um milhão de poloneses judeus se tornaram súditos indesejados dos czares russos,3 que os trataram como cidadãos de segunda classe. Isso gerou uma imigração em massa de judeus para a América do Norte e a Palestina.4 A igualdade de direitos concedida aos Judeus russos remanescentes, após a revolução comunista de 1917, teve pouca duração. Depois da Segunda Guerra Mundial, o governo comunista tornou-se antissemita; como resultado, os judeus que ficaram na União Soviética tinham acesso limitado aos empregos e ao Ensino Superior. Isso causou uma segunda onda de imigração para os Estados Unidos e Israel nos anos 70 e 80. Os judeus soviéticos também imigraram para a Alemanha na década de 90.

Nas décadas de 1930 e 1940, o Holocausto ceifou a vida de aproximadamente seis milhões de judeus asquenazitas da Europa, de Leste a Oeste. Devido a muitos sobreviventes não terem conseguido voltar para as suas casas, eles emigraram para Israel ou para a América do Norte.

Os judeus sefarditas se estabeleceram na Península Ibérica a partir do Segundo Século. A conquista muçulmana da Espanha no Século Oitavo, curiosamente, deu início à época áurea do judaísmo espanhol, que terminou no Século 14, durante a Reconquista. Os governantes árabes da Espanha eram tolerantes com os judeus. Entretanto, no final do Século 15, os reis cristãos expulsaram todos os muçulmanos da Península Ibérica; juntamente com essa expulsão, veio também o ódio dos governantes cristãos para com os judeus. Esse ódio contra os judeus forçou muitos deles a se converterem ao cristianismo, ou a enfrentarem a execução. Muitos dos judeus sefarditas que se recusaram a se converter ao cristianismo fugiram para o Império Otomano e se fixaram no Norte da África, Grécia e Turquia. Entretanto, os judeus hispanos e portugueses, que decidiram se converter ao catolicismo, tornaram-se vítimas da Inquisição, que estava encarregada de provar a “sinceridade” de sua conversão. Qualquer judeu que fosse suspeito de “conversão insincera” tornava-se sujeito à prisão e tortura, e até mesmo à morte. Para escapar dessa situação, muitos judeus conversos fugiram para a América do Sul, onde viviam o estilo de vida católico. Alguns deles, porém, continuaram a praticar o judaísmo secretamente. Hoje, muitos cristãos sul-americanos acreditam que seus antepassados foram forçados a se converterem ao cristianismo e estão retornando à prática da fé judaica.

Depois da fundação do Estado de Israel, em 1948, e com a escalada do conflito árabe-israelense, a maioria dos judeus sefarditas do norte da África e da Turquia foram repatriados para Israel ou imigraram para a França. O recente aumento do antissemitismo na França levou muitos judeus a pedirem a repatriação para Israel.

Os judeus orientais, também conhecidos como os judeus mizrahins, representam os descendentes daqueles que não retornaram do exílio babilônico e se estabeleceram no território do atual Irã, Iraque, Iêmen e Uzbequistão. Em meados do Século 20, cerca de 75% dos judeus iraquianos emigraram para Israel. Após a revolução islâmica, em 1979, a maioria dos judeus iranianos foram repatriados para Israel, enquanto os restantes migraram para os Estados Unidos e a Europa. A maioria dos judeus bukharan, do Uzbequistão, também retornaram para Israel na década de 1990, embora alguns deles tenham se estabelecido nos Estados Unidos. Assim, podemos constatar que o povo judeu está em toda parte e não são de um mesmo padrão de tamanho ou cor. Eles são “O Povo Errante”, como frequentemente são chamados.

A FÉ E O ESTILO DE VIDA JUDAICOS

O judaísmo, da forma como conhecemos hoje, surgiu no Segundo Século, após a destruição do segundo templo. No entanto, suas raízes se estendem até as tradições orais ensina- das pelos rabinos, já antes da existência do segundo templo. Os registros dos evangelhos mostram que, embora Jesus Se opusesse a algumas das tradições orais do judaísmo (Marcos 7:3-7), Suas interpretações relacionadas às Escrituras geral- mente estavam de acordo com aquelas que eram dadas pelos primeiros rabinos (Mateus 23:2, 3). Muitos estudiosos judeus modernos que analisam os ensinos de Jesus reconhecem que Seus principais conceitos e princípios estão de acordo com aqueles que são ensinados no judaísmo.5

Depois do Oitavo Século, a “Torá Oral” das tradições jurídicas e éticas foi codificada no Talmude (uma compilação das tradições jurídicas judaicas), enquanto a tradição de interpretação das Escrituras foi compilada no Midrash (uma compilação das narrativas rabínicas, sermões e interpretações das Escrituras). O Talmude babilônico tornou-se a base para os vários códigos da Lei Medieval. Esses códigos de lei, em especial aquele conhecido como o Shulkhan Arukh, tornaram-se a base do que hoje conhecemos como o judaísmo ortodoxo clássico. Muitos princípios éticos e religiosos do judaísmo tradicional surgiram sob a coação da perseguição que os judeus sofreram na Europa durante a Idade Média. A era do Iluminismo trouxe a emancipação para as comunidades judias da Europa Ocidental e, com ela, veio o desejo de reconsiderar os princípios desenvolvidos sob a condição do Gueto Medieval. Assim nasceu o Movimento Reformista que, por sua vez, causou a divisão entre os ramos tradicionais e progressistas do judaísmo no Século 19.

Existem, atualmente, vários ramos do judaísmo: o ortodoxo, que está dividido em ultraortodoxo (que também se divide no hassídico e no yeshivish, no ortodoxo moderno e no ortodoxo aberto), conservadores, reformistas, reconstrucionistas e humanistas. Enquanto os seguidores dos dois primeiros ramos aderem estritamente aos ensinos dos rabinos medievais, os ramos progressistas se esforçam de diferentes maneiras para adaptar o judaísmo às realidades modernas. Os judeus ortodoxos acreditam que todos os mandamentos da Torá devem ser observados assim como são interpretados pela tradição oral. Os judeus reformistas acreditam que a Torá, a Mishnah, o Talmude e o Midrash devem ser interpretados no contexto dos dias de hoje. O judaísmo conservador esforça-se por conservar o patrimônio da Bíblia hebraica para o judeu moderno, enquanto os defensores do judaísmo reconstrucionista e do humanista valorizam as tradições judaicas, mas procuram encontrar a maneira de aplicar os princípios à vida contemporânea. Eles não veem nenhuma necessidade da Escritura na sociedade judaica.7

O judaísmo ortodoxo tradicional é popular hoje entre a maioria dos judeus sefarditas e orientais. Os judeus hassídicos são originários principalmente do leste da Europa. A maioria deles se fixou nas comunidades unidas de Nova Iorque e de Israel. A maioria dos judeus dos Estados Unidos e da Europa Ocidental seguem as tradições reformistas e conservadoras. Muitos judeus em Israel são da linha secular e não se associam a nenhuma tradição. Pelo fato de as comunidades ultraortodoxas não apoiarem o Ensino Superior, a maioria dos judeus que prosseguem sua carreira nas universidades seriam aqueles cujas famílias tendem para o judaísmo progressista ou aqueles que simplesmente se tornaram seculares. Em muitos campi universitários existem as casas Hillel que fazem parte de um ministério de campus dirigido pelo Movimento Reformista [judaico]. O objetivo desse projeto é ajudar os estudantes judeus a se manterem conectados com a cultura judaica. Entretanto, um movimento ortodoxo conhecido como Chabad também desenvolve um ministério em muitas universidades com o objetivo de incentivar os judeus seculares a seguirem os preceitos religiosos do judaísmo.

Ao contrário do cristianismo, o judaísmo não é uma religião de credos, mas uma religião de atos.8 Isso quer dizer que o judaísmo se concentra mais nas ações do que nas crenças. Assim, a ética ou a maneira em que um judeu deve observar os mandamentos da Torá é mais importante que as crenças da pessoa sobre a vida após a morte ou a salvação. Por essa razão, até mesmo os judeus ortodoxos tolerariam percepções divergentes sobre esses assuntos, embora mantendo absoluta uniformidade quanto às suas formas de observar os mandamentos.

Uma diferença fundamental entre o cristianismo e o judaísmo está em sua compreensão sobre Deus. Durante milênios, os judeus têm recitado as palavras: “Ouça, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Deuteronômio 6:4)9 como a sua principal oração para afirmar a unidade de Deus. Portanto, a afirmação cristã de três Pessoas da Divindade parece aos Judeus como sendo uma crença em três deuses. De acordo com o que diz Maimonides, uma das maiores autoridades no judaísmo medieval, Deus é absolutamente único e não Se assemelha com nada nem com ninguém.10 Por outro lado, desde o início do judaísmo, os rabinos têm visto Deus como um Ser muito remoto e transcendente.11

A tradição judaica sempre afirmou que Deus deu a Torá a Moisés no Monte Sinai, e ela foi transmitida através das gerações aos sábios rabinos, que são aqueles que têm a autoridade absoluta para interpretá-la. Essa tradição oral ensina que Deus delegou a compreensão da Torá totalmente aos rabinos e que Ele mesmo não tem qualquer direito de intervir nesse processo. Com base nessa compreensão tão arraigada da tradição e também devido ao trauma do Holocausto, até mesmo um judeu bastante religiosos não tem uma percepção de Deus como Alguém que esteja preocupado com os seus problemas pessoais do dia a dia. Uma compreensão deísta de Deus, como Alguém que iniciou o processo e que agora observa tudo do Céu, é muito típica do judaísmo. Os ortodoxos, e em especial os judeus ultraortodoxos, estão à espera do Messias que irá restaurar o templo.12 Os judeus progressistas já não ensinam mais essa doutrina.13

A identidade judaica é um fator muito importante nos círculos modernos, reformistas, conservadores e seculares do judaísmo. Os rabinos progressistas ensinam que, se um judeu, seja homem ou mulher, aceita a Jesus, já não é mais considerado como sendo um judeu.14 Para eles, os judeus que aceitam a Jesus colocam em risco a sua identidade e ameaçam a sobrevivência das comunidades judaicas em todo o mundo. O sábado, ou shabbat, fundamental da identidade do judaísmo. Ao contrário dos cristãos, os judeus não observam nada por causa da salvação, mas sim para a preservação da autoidentificação. Os feriados judaicos, como o Purim, a Páscoa, Rosh Hashanah, Yom Kippur, Hanukkah unem os judeus como um povo possuidor de uma rica história.sempre foi o marco

O QUE OS JUDEUS E OS ADVENTISTAS TÊM EM COMUM

Indubitavelmente, o judaísmo e o adventismo partilham de uma forte convicção na imutabilidade da Lei de Deus e a observância do sábado. Durante o tempo em que estudei em instituições de Ensino Superior, descobri que os adventistas e os judeus podem aprender muito uns com os outros. Assim como os adventistas pregam a mensagem da esperança na Segunda Vinda de Cristo, que conduzirá à vida na eternidade, os judeus possuem a experiência histórica única de serem guiados pelos princípios dos mandamentos divinos aqui e agora, baseados nos princípios da Torá. Cada grupo se beneficiaria do foco enfatizado pelo outro. Os judeus que sabem como viver uma vida guiados pela Torá necessitam de esperança e segurança no mundo vindouro, enquanto os adventistas, que aguardam ansiosamente um Novo Céu e uma Nova Terra, necessitam entender como ser guiados pelos princípios da Torá agora.

Em nível teológico, os adventistas e os judeus partilham da mesma compreensão dos símbolos-chave apresentados no Dia da Expiação. Por exemplo, enquanto todos os cristãos acreditam que Cristo é simbolizado pelo bode vivo sobre o qual o sumo sacerdote confessa os pecados do povo (Levíticos 16:21, 22), os judeus15 e os adventistas concordam que o bode expiatório representa Satanás. A compreensão adventista de que o Povo de Deus está sendo selado (Apocalipse 7) no Livro da Vida, durante o Juízo, é também partilhado pelo judaísmo. Todos os anos, no Rosh Hashanah (o Ano Novo judaico), os judeus desejam uns aos outros uma “Boa Inscrição” e o “Selamento” [no Livro da Vida]. No Yom Kippur (o Dia da Expiação), eles se cumprimentam desejando uns aos outros que sejam selados.

COMO SER UM BOM AMIGO DE UM JUDEU

Muitos têm amigos judeus ou conhecem algumas pessoas judias. É importante não ter segundas intenções ao fazer amizades com eles ou ao testemunhar de sua fé para eles. Os judeus não gostam de ser alvos de evangelismo. Com os relatos de conversões forçadas e de perseguição por parte dos cristãos, o proselitismo não é normalmente bem visto pelos judeus. Em vez disso, demonstre o seu relacionamento com um Deus amoroso, pessoal, um Deus que cuida de você, que responde às suas orações e que o dirige em toda a sua vida. Seja uma pessoa simpática e compreensiva para com as questões relacionadas ao antissemitismo e ao Holocausto. Devido a alguns acontecimentos infelizes, muitas pessoas hoje toleram a retórica antizionista e os boicotes. O antizionismo é simplesmente uma forma diferente de antissemitismo. Fique do lado de seus amigos judeus, seja um defensor deles e manifeste seu apoio a eles. Mantendo-se fiel a Jesus como seu Salvador e demonstrando sincero cuidado por seus amigos judeus, você pode fazer muito para recuperar a confiança que foi quebrada entre o cristianismo e o judaísmo.

 

*Alexander (Sasha) Bolotnikov (PhD em Estudos Hebraicos e Cognatos pelo Hebrew Union College, Cincinnati, Ohio, EUA), serve atualmente como diretor para o Shalom Learning Center na Divisão Norte Americana dos Adventistas do Sétimo Dia. É também pastor da House of Peace Adventist Church, em Vancouver, Washington, EUA. E-mail: Alexander_bolotnikov@icloud.com ou alexander_bolotnikov@me.com.

 

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. ila Orbach, Rússia, in Fred Skolnik, ed., Encyclopedia Judaica, vol. 17 (Thomson & Gale, 2007), 534 – 535. Ver também: Zvi Gitelman, A Century of Ambivalence: The Jews of Russia and the Soviet Union, 1881 – Present, (Indiana University Press, 1988), 1-59.

2. David Biale, David Assaf, Benjamin Brown, Uriel Gellman, Samuel Heilman, Moshe Rosman, Gadi Sagiv and Marcin Wodzinski, Hasidism: a New History (Princeton University press: 2018), 755.

3. Ashkenaz, em Fred Skolnik, ed., Encyclopedia Judaica, vol. 1, (Thomson & Gale, 2007), 569-571. Ver também: Haim Hillel Ben-Sasson, Alemanha, in Fred Skolnik, ed., Encyclopedia Judaica, vol. 7, (Thomson & Gale, 2007), 518-519.

4. Dubnow, S. M., Istoria Yevreev v Yevrope on nachala ih poseleniya do kontsa xviii veka (History of the Jews in Europe: from the beginning of their settlement to the end of xviii century), vol. 1 (Moscow: Mosty Kultury, 2003), 24-38.

5. Abraham Geiger, Judaism and Its History (Sydney: Wentworth Press, 2019); Isidore Epstein, Judaism (Penguin Books, 1983).

6. H. L. Strack e Gunter Stemberger, Introduction to the Talmud and Midrash, (Fortress press, Minneapolis: 1992). Ver também Julius Kaplan, The Redaction of Babylonian Talmud, (Makor Publishing, 7Jerusalem: 1993).

7. Stephen Wylen, Settings of Silver: an Introduction to Judaism, (Paulist Press, 1989), 261-296.

8. Henry Abrahamson, Jewish History and Historians: Essential Lectures on Jewish History (https://www.youtube.com/watch?v=IcsuYXEhfz8&list=P LdiAQwLyKa8Lnfv7WLEohwn0N2PwtRvQs).

9. A menos que de outra forma indicado, as referências bíblicas deste artigo foram citadas da Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada.

10. Moses Maimonides, The Guide to Perplexed, (University of Chicago Press: 1963) vol. 1, 20-51.

11. Ver como exemplo: Babylonian Talmud, Hagiga 13b

12. Ver como exemplo: Rabbi Menachem M Schneerson, The Sound of the Great Shofar (Kehot Publication Society: Brooklyn, NY, 1992) 71-76; Pinchas Polonskiy, Rav Cook-Kabbala i Novyy Etap v Razvitii Iudaizma (Rav Cook: Kabballah and the New Stage in the Development of Judaism).

13. Embora o livro de orações ortodoxo contenha várias orações especiais para a restauração do templo (ver como exemplo Rabbi Noson Scherman, ArtScroll Transliterated Linear Siddur (Mesorah Publications: 1998), essas orações não estão nos livros de orações produzidos pelos movimentos da Reforma e Conservador (ver como exemplo Rabbi Sidney Greenberg and Rabbi Jonathan D. Levine, Siddur Hadash: Woeship, Study and Song for all Sabbath and Festival Services, (Media Judaica Prayer Book Press: New York).

14. Status of a “Completed Jew”, in Jewish Community in 109-112 (https://www.ccarnet.org/ccar- responsa/carr-109-112/).

15. Jacob Milgrom, Leviticus 1–16: A New Translation with Introduction and Commentary, vol. 3, Anchor Yale Bible (New Haven; London: Yale University Press, 2008), 1021.

 

Fonte: Revista Diálogo

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A FUNÇÃO DO DOM DE LÍNGUAS E A TRADIÇÃO ADVENTISTA


 Rodrigo F. Rodrigues*

A TRADIÇÃO ADVENTISTA

Tradicionalmente, a interpretação adventista tem afirmado que: (1) o dom de línguas teria sido dado com a função de ser, em si mesmo, um instrumento de comunicação do evangelho; (2) a primeira vez que o dom de línguas teria acontecido explicitamente para possibilitar a transmissão do evangelho, na “modalidade conversação”, entre um pregador do evangelho e um ouvinte estrangeiro que não compreendia o vernáculo do pregador, alega-se que foi o evento de Pentecostes, narrado em Atos capítulo 2. Esse texto é tradicionalmente tomado como “a” prova bíblica para essas afirmações.1

Curiosamente, não há um único versículo do Novo Testamento que apoie tais afirmações, nem mesmo implicitamente! No relato do Novo Testamento, jamais houve pregação “em línguas”. Jamais houve conversação “em línguas”.

 

ATOS 2

O texto de Atos 2:11 informa ao leitor qual foi, precisamente, o real conteúdo que os estrangeiros ouviram da boca dos discípulos após receberem o dom: “as grandezas de Deus” (gr.: ta megaleia tou theou). Ou seja, assim como Cornélio em Atos 10, os discípulos engrandeceram a Deus empregando as línguas maternas dos diversos estrangeiros presentes.

Não é possível, textualmente, confundir o ato de “engrandecer” a Deus, com o ato de “proclamar” o evangelho. O Livro dos Salmos abundantemente nos informa que “engrandecer a Deus” significa falar diretamente a Deus (e não às pessoas), reconhecendo e descrevendo Seus atributos e Suas obras. Trata-se de “oração” (falar a Deus) e não de “conversação” (falar aos homens).

O próprio Livro de Atos deixa claro que o único dentre os discípulos que pregou/proferiu o sermão aos estrangeiros e aos habitantes de Jerusalém presentes no evento do Pentecostes foi Pedro (Atos 2:14–41)! Além disso, tão logo Pedro pronunciou seu único sermão a aos habitantes de Jerusalém e aos estrangeiros, a multidão não apenas demonstrou ter entendido (Atos 2:37), mas também, grande parte dela aceitou o apelo de Pedro. (Atos 2:38,41).

Por que bastou um único sermão? A razão é que, no primeiro século, o “mundo greco-romano” usava o grego como sua língua predominante. Consequentemente, independentemente de qual fosse a língua materna de um indivíduo nascido naquele “mundo”, dificilmente ele desconheceria o grego. Era a língua comum, a língua do comércio.2 Se Pedro sabia, inclusive, escrever em grego, é razoável supor que, assim como seus contemporâneos, soubesse falar o grego comum entendido pelos estrangeiros visitantes.

O fato dos discípulos engrandecerem a Deus (orarem) no meio da multidão, assim como a confusão feita por Eli ao ver Ana, mãe de Samuel, quando orava (“falava sozinha”) no templo (1 Samuel 1:13–14), os discípulos, igualmente, foram, equivocadamente, tachados de “embriagados” pelos espectadores (Atos 2:13–14). Caso os discípulos estivessem “conversando fluentemente” nas diversas línguas de seus interlocutores (em vez de “falando sozinhos”), é de se supor que não haveria nenhuma razão para causarem a impressão de embriaguez aos expectadores.

 

ATOS 10

Os eventos descritos em Atos 10 são os seguintes: (a) Pedro prega a Cornélio; (b) Cornélio fala em línguas assim como o fizeram os discípulos no dia de Pentecostes.

Em Atos 10:46 é empregada a mesma construção grega, adaptada, tal como em Atos 2:11, para dizer que Cornélio, ao receber o dom de língua, passou a “engrandecer Deus” (megalunóntôn tòn theón).

Fica mais do que evidente que, quem pregou, não falou em línguas; e, quem falou em línguas, não pregou. Comprova-se, desse modo, que a função do dom de línguas: (1) não era a de transmitir o conteúdo do evangelho; (2) tal dom não “funcionava” na “modalidade conversação”.

 

ATOS 19

Em Atos 19: (a) Paulo interpela e instrui algumas pessoas sobre o Espírito e as batiza; (b) as pessoas batizadas falam em línguas (e não Paulo, o pregador!).

Mais uma vez: o dom não foi usado como instrumento para comunicar o conteúdo do evangelho e, claramente, não foi empregado para “conversação” entre pessoas que não falassem a mesma língua.

 

1 CORÍNTIOS 14

O capítulo 14 de 1 Coríntios discorre sobre o dom de línguas em plena harmonia com os eventos mencionados do Livro de Atos. Paulo afirma que: “quem fala em língua não fala a homens, mas a Deus” (14:2).3 No decorrer desse capítulo, ele repete algumas vezes a expressão: “orar em línguas” (p.ex.: v.14), mas jamais disse: “aquele que prega em línguas”; muito menos: “aquele que dialoga em línguas”.

O ato de um ser humano, movido por um dom do Espírito, falar a outro ser humano (“conversação”), conforme 1Cor 14:3, é dom de “profecia”, e não dom de “línguas”.

Em 1º Cor 14:22, Paulo explica que a função do dom de línguas é ser “sinal” para os descrentes. Ele não poderia ter sido mais direto e, ao mesmo tempo, tão claro.

 

O SIGNIFICADO DE “SINAL” (gr. sêmeion).

O Evangelho de João fez um uso abundante da palavra sinal e, por isso, é um excelente exemplo de como um “sinal” foi empregado na relação com os indivíduos que ainda eram, em alguma medida, descrentes.

O milagre da transformação da “água em vinho”, por exemplo, foi, explicitamente, classificado como “sinal” e destinado a estimular a fé de quem ainda, em certa medida, não cria.

Textualmente é dito: “Assim deu Jesus início aos seus sinais […] e os seus discípulos creram nele” (João 2:11).

Da mesma forma, curas, multiplicação de pães, expulsão de demônios, purificação de leprosos etc. foram, textualmente, classificados como “sinais” e, regularmente, destinados a estimular a “credulidade” em Cristo e em seus ensinos.

Os sinais não se destinavam a incrédulos rebeldes (cf. João 12:39); não substituíam a pregação; nem jamais foram, em si mesmos, instrumentos de transmissão do conteúdo do evangelho; todavia, foram empregados como auxiliares do pregador e destinado às pessoas de fé claudicante.

 

IMPLICAÇÕES INTERPRETATIVAS

O uso de um “sinal” destinado à pessoa que ainda não era, propriamente, um crente em Cristo, foi, precisamente, a função do dom de línguas tal como consta no relato de Atos 2.

O “sinal” serviu para chamar a atenção para os discípulos e, na sequência, oportunizou a Pedro não somente a explicar aquilo que estava acontecendo, mas principalmente, possibilitou a ele que pregasse às pessoas atentas e instigadas pela sobrenaturalidade do dom de línguas.

De igual maneira, conforme o relato de Atos 10, o dom de línguas serviu de “sinal” para que a Igreja cresse em um ponto fundamental do Evangelho: após a cruz, não havia mais qualquer distinção entre judeus e gentios quanto à pertença ao “povo eleito”. Ambos poderiam receber o Espírito Santo sem qualquer discriminação étnica. O “sinal” foi decisivo para corrigir uma crença distorcida.

Em Atos 19, o “sinal” serviu para as próprias pessoas rebatizadas que, até então, jamais souberam da existência do Espírito, mas agora, pudessem experienciar, por si mesmas, o quanto o Espírito era uma dádiva divina real e efetiva. Aqueles rebatizados, evidentemente, passaram a crer em um artigo de fé no qual ainda não criam.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O emprego do dom de línguas com a função de mero “sinal” para os (relativamente) descrentes é um conceito sem grande complexidade e de fácil verificação, muito embora ainda seja contraditado e distorcido pela interpretação adventista tradicional.

O equívoco de que o dom de línguas tenha sido dado para, em si mesmo, ser um instrumento de pregação do evangelho a estrangeiros, e, empregado na “modalidade conversação”, predomina na literatura tradicional adventista, como já dito, comentários exegéticos, recente lição da Escola Sabatina sobre o Livro de Atos; em estudos bíblicos evangelísticos; bem como em artigos, monografias acadêmicas e diversas outras obras.4

É possível supor duas razões principais para uma leitura, evidentemente, incorreta, ainda exercer tanta influência na exposição adventista sobre o tema.

Uma primeira razão, subjacente e anterior a todas as demais posteriores, possivelmente deva-se ao fato de E.G.W. ter feito tal “leitura tradicional” diversas vezes, particularmente, em seu livro também intitulado: “Atos dos Apóstolos”.5 Para um exemplo brasileiro dessa realidade, menciona-se o artigo do professor Ozeas Caldas Moura.6 Nesse texto, muito embora o autor se proponha a apresentar o resultado de uma exata interpretação bíblica sobre o dom de línguas, não apenas se poia primariamente em citações da mencionada obra de E.G.W., mas ainda, em vez de identificar qual a real função do dom de línguas no texto bíblico “analisado”, a conclusão de seu texto quase que somente sintetiza e extrai os conceitos do texto de E.G.W. sobre tal assunto. A exegese bíblica (extrair aquilo que o texto bíblico quis dizer), não aconteceu. É possível notar a mesma dependência conceitual de E.G.W. perpassando a influente obra sobre o “dom de línguas” escrita Gerhard F. Hasel, particularmente, em sua “análise” de 1 Cor 14,7 ainda que ele não faça citações explícitas de textos dela.

Por óbvio, o problema não está em citar E.G.W., mas em ignorar o real significado do texto bíblico, substituí-lo por narrativas peculiares de E.G.W. e, ainda assim, entregar ao leitor um resultado de pretensa exegese bíblica.

Uma segunda possível razão, parece ser o fato de o pentecostalismo ter usado o tema do dom de línguas como uma de suas expressões distintivas (glossolalia). Os textos adventistas citados neste presente artigo, apenas a título de exemplo, bem como dezenas de outros não mencionados,8 em geral, buscam evidenciar que a glossolalia pentecostal não está amparada no ensino do Novo Testamento. Na perseguição desse objetivo, porém, uma série de imprecisões foram sendo praticadas e acabaram por se cristalizar. Dentre as imprecisões está o equívoco sobre qual era a função do dom de línguas no Novo Testamento, tal como foi exposto acima.

Este autor está convencido de ser exegeticamente possível demonstrar o contrário daquilo que a tradição pentecostal afirma sobre os significados dos vocábulos que, igualmente, significam “língua” no Novo Testamento (“glossa” versus “dialektos”), sem, todavia, precisar recorrer a nenhum tipo de equívoco ou estratagema que não reflita a honesta pesquisa bíblica.

 

*Rodrigo F. Rodrigues é bacharel teologia pelo UNASP-EC (2009); Mestre em teologia bíblica pela PUC-Rio (2013). 2014–2019 atuou como professor de ensino religioso e como pastor distrital no campo da Associação Sul Paranaense. Atualmente, dedica-se integralmente aos estudos.

 

Notas

[1] Vagner Kuhn, produziu um pertinente capítulo de livro, intitulado “O dom de línguas na missão: implicações para a Igreja Adventista” (obra organizada por: Reinaldo W. Siqueira e Alberto R. Timm. Pneumatologia: Pessoa e Obra do Espírito Santo. Engenheiro Coelho, SP.: Unaspress, 2017, pp.609-630). Nesse texto, o autor traz a informação de que desde 1930 até aproximadamente 2017, havia cerca de 70 artigos sobre o tema “dom de línguas” publicados no Brasil por escritores adventistas na Revista Adventista. Dentre esses, pode-se destacar, devido à quantidade de artigos, o professor Pedro Apolinário e o Pr. Arnaldo Christianini. Entre as publicações brasileiras mais ou menos recentes, mas que mantêm precisamente a mesma interpretação tradicional quanto à função do dom de línguas, vale mencionar o professor Ozeas Caldas Moura (“O dom de línguas”, Revista Adventista, set. 2007, p.16). Na esteira desses escritores, ainda que possua outro foco, destaca-se, também, uma parte da obra de Vanderlei Dorneles, Cristãos em Busca do Êxtase: para compreender a Nova Liturgia e o Papel da Música na Adoração contemporânea (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2003) particularmente, pp. 206-225. Em língua inglesa, apesar de haver uma pequena variação de interpretações ao tratar, particularmente de 1ºCor 14, houve uma grande influência exercida a favor da intepretação tradicional a partir da publicação da obra do eminente exegeta adventista Gerhard F. Hasel analisando academicamente o tema (Speaking in Tongues: Biblical Speaking in Tongues and Contemporary Glossolalia. Berrien Springs, MI: Adventist Theological Society Publications, 1991). Ainda segundo Vagner Khun (“O dom de línguas na missão”, pp. 614-615) “Devido à reputação acadêmica de Hasel e sua influência sobre os líderes da igreja, seu estudo acabou determinando, em muito, a maneira de se interpretar o dom de falar em línguas (glossolalia) na Igreja Adventista em geral”. A interpretação tradicional também se verifica em produções de cunho evangelísticos, em recente lição da Escola Sabatina etc.

[2] Cf. Justos L. Gonzalez. Uma História do Pensamento Cristão. Vol. 1. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 40.

[3] Neste ponto, é válido ressaltar que dentre os princípios mais elementares da lógica, está a “não contradição”. Isso implica que uma coisa não pode ser e, ao mesmo tempo e no mesmo sentido, não ser. Ao lado disso, percebe-se que Paulo está em plena harmonia com todos os relatos do NT ao afirmar que quem fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ora, pregar o evangelho a alguém é, necessariamente, falar aos homens, e não a Deus. Logo, quem recebe o dom de línguas não prega o evangelho por meio de tal dom. Consequentemente, ensinar que o dom de línguas tem a função de possibilitar a um homem pregar a outro, além de erro exegético grosseiro, contradiz frontalmente o ensino de Paulo em 1Cor 14. Para manter esse ensino sem contradizer o texto bíblico, seria necessário, primeiro, reescrever algumas porções suas.

[4] Para uma ampla bibliografia sobre o assunto, recomenda-se as referências bibliográficas sobre o tema indicadas no texto já mencionado de Vagner Kuhn, O dom de línguas na missão, pp.609–630.

[5] Apenas como exemplo, segundo E. G. White, precisamente por causa do recebimento do dom de línguas, os apóstolos “podiam proclamar as verdades do evangelho em toda parte, falando com perfeição a língua daqueles por quem trabalhavam” (“Atos dos Apóstolos”. Ellen G. White Estate, Inc. 2007, p 21. versão eBook. Grifo acrescentado.). Sobre a função do dom de línguas recebido pelos batizados mencionados em Atos 19, ela diz que, por causa do dom de línguas, eles “estavam habilitados a trabalhar como missionários em Éfeso e circunvizinhanças, e também a sair para proclamar o evangelho na Ásia Menor”. (“Atos dos Apóstolos”. Ellen G. White Estate, Inc. 2007, p 157. versão eBook. Grifo acrescentado). Obviamente que a tarefa de fazer exegese do texto bíblico é do exegeta, e não de E.G.W. Esta escritora sempre enfatizou que a Bíblia é sua única intérprete, e não seus escritos. Desse modo, E.G.W. não pode ser responsabilizada pela imperícia e negligência de biblistas adventistas.

[6] Cf. Ozeas Caldas Moura, “O dom de línguas” Revista Adventista, set. 2007, p.16.

7 Cf. Gerhard F. Hasel, “Speaking in Tongues”.

8 Cf. Vagner Kuhn, O dom de línguas na missão, pp.609–630.

 

Fonte: Estudos Adventistas

sábado, 16 de janeiro de 2021

ENTENDENDO MEUS AMIGOS BUDISTAS


 Amy Whitsett

Faculdades e universidades são lugares onde há diversas pessoas e uma grande variedade de ideias. Esta série de textos intitulada “Vida no Campus” analisa a maneira de entender e ser amigo de alguém de outra fé e ao mesmo tempo permanecer fiel aos seus próprios valores e princípios.

 

Quando nos mudamos para o Laos, lembro- -me de que nossos novos amigos nos levaram para uma viagem especial a um dos vários locais famosos do país que marcam o caminho por onde Buda passou ao viajar pelo sudeste da Ásia. Nossos amigos nos levaram a um templo e nos disseram que esse templo era especial porque possuía uma marca da presença de Buda que havia sido preservada em uma pedra. Imagine como fiquei chocada quando descobri que essa marca não era uma pegada normal, mas obviamente uma pegada produzida, com cerca de um metro de comprimento por 60 cm de largura. Enquanto observava aquela pegada, notei várias das prováveis marcas que dizem ter sido encontradas no corpo de Buda – dedos dos pés perfeitamente alinhados, sem arco, e vários símbolos. Fiquei ainda mais chocada quando meu amigo cristão comentou: “Uau! Você pode imaginar como Buda era alto?!”

Enquanto eu continuava aprendendo sobre o budismo e como ele é vivido e expresso no Laos, não levou muito tempo para compreender que, assim como muitos outros heróis e heroínas importantes culturalmente, Buda se tornou, de certo modo, uma grande lenda, através da narração de uma história tantas vezes contada e recontada, composta de uma mistura de verdades e exageros, uma história que serve para descrever e ajudar as pessoas a entenderem Buda, como também uma história que enfatiza certas crenças e práticas que definem a cultura. Assim, quem era Buda e o que o levou às crenças que finalmente se tornaram no budismo?

Buda recebeu o nome de Siddhartha Guatama, onde atualmente é o Nepal, próximo da fronteira com a Índia. Embora não se saiba exatamente quando ele nasceu, os historiadores acreditam que pode ter sido há cerca de 2.600 anos, mais ou menos por volta da época de Nabucodonosor. Portanto, ele teria sido um contemporâneo de personagens bíblicos como Daniel, Zacarias, Ageu e Ester. Por ser o filho de um governante de uma cidade-estado ou de um pequeno reino, por ocasião de seu nascimento, os sábios indicaram que ele estava destinado a ser tanto um poderoso rei como um grande e santo homem. Desejando que seu filho seguisse seus passos, o pai de Siddhartha o protegeu do sofri- mento do mundo fora do palácio e fez o máximo que pôde para proporcionar a ele tudo o que as riquezas e o poder são capazes de oferecer. Entretanto, Siddhartha ficou revoltado. Aos 29 anos, idealizou um plano de fuga e saiu para explorar o reino.

Vestido como um plebeu, ele percorreu a área ao redor do palácio, onde ele se deparou com o sofrimento que nunca lhe foi permitido ver e, mais especificamente, um homem doente, um homem idoso, um homem à morte e um religioso ascético. Ao vê-los, ele começou a se perguntar o que causava o sofrimento e o que se poderia fazer para evitá-lo. Compreendendo que uma vida de indulgência não o havia deixado satisfeito, fato que lhe causou um sofrimento ainda maior, deixou para trás o palácio e sua família, trocando-os por uma vida de ascetismo extremo, na qual jejuava e meditava por longos períodos. Diz um relato que ele chegava a desmaiar enquanto meditava, devido ao longo período de jejum, e certa vez caiu em uma poça d’água de chuva. Esse relato diz que ele teria se afogado, se não fosse uma jovem tê-lo encontrado e o reanimado com um pouco de mingau de arroz. Siddhartha logo reconheceu que o ascetismo não era a resposta para o sofrimento. Ele entendeu que a indulgência e o ascetismo eram dois extremos opostos e se convenceu de que deveria haver outra solução entre os dois que lidaria de forma mais eficaz com o sofrimento. Assim, iniciou uma jornada na qual buscou o “caminho do meio”, através da meditação. Sua busca, dizem, levou-o a um lugar chamado Bodhi Gaya, localizado atualmente em Bihar, na Índia, onde ele se assentou debaixo de uma figueira, mais tarde conhecida como árvore Bodhi, e jurou não se levantar dali até descobrir a verdade. Passados 49 dias de meditação, ele descobriu o “caminho do meio” e alcançou a “iluminação” com a idade de 35 anos. A partir de então, ele se tornou conhecido como “Buda, o Iluminado”.

CRENÇAS BÁSICAS DO BUDISMO

O budismo procura explicar por que nós sofremos e propõe meios de como suportar ou eliminar o sofrimento. A “solução” que Buda “descobriu” se tornou mais do que apenas um conjunto de crenças religiosas ou filosóficas. Com o tempo, veio a formar a base de muitas cosmovisões asiáticas.

Dizem que Buda alcançou a iluminação quando descobriu as Quatro Verdades Nobres e o Caminho Óctuplo. As Quatro Verdades Nobres sustentam que a vida é sofrimento, que o sofrimento é causado pelo apego ao desejo, que o sofrimento é superado, portanto, pela eliminação do desejo; e que, finalmente, há um caminho a seguir para eliminar o desejo. O Caminho Óctuplo, afirmou Buda, possui oito componentes: ter uma visão correta, desenvolver a intenção correta, cultivar a fala correta, praticar a ação correta, ter um estilo de vida correto, realizar esforço correto, ter consciência plena correta e manter a concentração correta. Ele chamou essas oito formas “corretas” de o “Caminho do Meio”, porque evita os extremos da indulgência e do ascetismo.

Também, no coração do budismo está a crença no karma. No Ocidente, o karma é visto frequentemente como um acontecimento, bom ou mau, relacionado diretamente com as ações da pessoa. Não faltam vídeos on-line de pessoas fazendo algo rude e imediatamente tropeçando, caindo ou “colhendo a recompensa”. No budismo, porém, o karma é muito mais que isso. Acredita-se que o karma seja uma lei natural, muito parecida com a gravidade, que governa a maioria dos acontecimentos da vida.

Está intimamente ligado à reencarnação, na qual os atos da pessoa acumulam méritos, bons ou maus, que afetam tanto a vida presente como também o seu futuro. Nesse sistema de crença, se a pessoa nasce rica e inteligente, é por causa de algum bom mérito recebido em uma vida passada. Por outro lado, se alguém é pobre, deficiente ou pouco inteligente, é o resultado natural das más escolhas feitas anteriormente. Enquanto o karma, tecnicamente, afeta apenas a pessoa em questão, muitos acreditam que possa afetar os outros também.

Essa crença no karma afeta em grande medida a cosmovisão da pessoa, porque afirma que qualquer coisa que acontece – boa ou má, quer mude completamente a vida ou seja insignificante – pode ser atribuída a um bom ou mau pensamento ou ação numa existência anterior.

FÉ E ESTILO DE VIDA

Muitas práticas e valores do budismo decorrem destes três conceitos: o apego ao desejo, o karma, e as Quatro Verdades Nobres, juntamente com os Oito Caminhos Nobres – e eles permeiam a vida do budista. Na Ásia, os budistas participam regularmente dos rituais e festivais para obter méritos e os filhos dedicam seu tempo como monges para obter méritos para si mesmos e para seus pais. No Ocidente, os adeptos se esforçam por se manter conscientes de seus desejos e motivações, bem como para encontrar maneiras de viver em paz com os outros e com o mundo natural.

 Embora o objetivo final de um budista seja alcançar a iluminação (que leva a um estado de impermanência, que não é existência nem inexistência), as três grandes escolas do budismo têm ensinamentos ligeiramente diferentes sobre como isso acontece e quem pode alcançá-lo. No entanto, uma crença que os diferentes ramos têm em comum é o desejo da pessoa de melhorar o próprio estado nesta vida e, assim, melhorar a própria existência na próxima.

O QUE OS ADVENTISTAS TÊM EM COMUM COM OS BUDISTAS

Embora seja difícil encontrar outra religião cuja cosmovisão seja mais dessemelhante do adventismo, os adventistas do sétimo dia ainda compartilham muito em comum com nossos amigos e vizinhos budistas. Todos desejamos ver um mundo melhor, onde a dor e o sofrimento sejam minimizados, se não erradicados. Todos desejamos viver uma vida boa, que normalmente definimos como algo entre os extremos do ascetismo e da indulgência. Queremos vencer os maus traços de caráter, como o egoísmo, a raiva, a luxúria e, no lugar deles, demostrar generosidade, paciência e amor pelos outros.

O que desejamos é levar uma vida de amor e justiça.

Enquanto os budistas creem que cada uma dessas coisas acontece pelo despertar do que é bom dentro de si mesmo, os adventistas do sétimo dia acreditam que o bom caráter vem de se submeter à vontade de Deus e permitir que Ele transforme o nosso coração pela habitação do Seu Santo Espírito em nós. Enfim, os adventistas acreditam que a solução final para o sofrimento é encontrada na volta de Cristo e em Sua promessa de uma Terra renovada.

COMO SER AMIGO DE UM BUDISTA E PERMANECER FIEL À FÉ ADVENTISTA

Ao fazer amizade com os budistas, não tenha medo de se abrir e revelar no que você acredita. Mantenha a sua honestidade e viva uma vida que demonstre o seu compromisso com Cristo. Utilize o método de Cristo de se misturar com as pessoas, demonstrar simpatia e ministrar às necessidades de seus amigos e colegas budistas como uma maneira de promover a confiança.

E quando você ganhar a confiança deles, ore para que Deus Se revele a eles, de maneira pessoal. Ore por eles e com eles. E quando Deus os tocar, ajude-os a responder a Ele fazendo uma curta oração de agradecimento, encoraje-os a partilhar sua experiência com os amigos e se ofereça para ensinar a eles mais sobre esse Jesus que acabou de responder à sua oração. Pergunte a Deus como Ele quer que você viva e ministre às necessidades de seus amigos. Dedique algum tempo para ficar a sós e em silêncio, a fim de ouvir a resposta que Ele vai lhe dar, e então, obedeça! Deus não deseja nada mais do que ser parceiro daqueles que se dedicam a partilhar Seu amor com aqueles que ainda não O conhecem.

 

Amy Whitsett ASN pelo Atlantic Union College, Massachusetts, EUA, é diretora associada do Centro de Missão Global para as Religiões do Oriente Asiático. Depois de trabalhar 16 anos como plantadora de igrejas em grande parte dos países budistas da Ásia, atualmente está estudando para obter o mestrado em Liderança Global no Fuller Theological Seminary, Pasadena, Califórnia, EUA. E-mail: whitsetta@gc.adventist.org.

 

FONTE: Revista Diálogo Universitário

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

QUEM SOMOS NÓS COMO IGREJA E PARA ONDE VAMOS?

 

por Robert Costa

Nossa igreja é apenas mais uma igreja? O que nos distingue do resto do Cristianismo? Onde estamos agora e para onde vamos? O que justifica nossa existência?

Deus responde a todas essas perguntas. Ele nos vê no contexto do Grande Conflito que se desencadeia no planeta Terra: “Mas vós sois uma linhagem escolhida, um sacerdócio real, uma nação sagrada, um povo adquirido por Deus, para que possais anunciar as virtudes daquele que vos chamou das trevas ao seu luz maravilhosa” (1 Ped. 2: 9).

Esta declaração define nossa identidade e propósito. Mas não pode o resto do mundo cristão reivindicar o mesmo? Sim, em parte, mas não na íntegra, e essa pequena margem é que faz a diferença.

APRESENTANDO TODA A VERDADE

Muitas igrejas fazem um excelente trabalho de conduzir pessoas a Jesus. Mas se as grandes verdades para esta hora forem excluídas, é um evangelho incompleto e diluído. A Bíblia sempre deve ser apresentada como um todo; Somente estudando o Antigo Testamento podemos entender o Novo. E trapacear não é simplesmente mentir, mas também misturar a verdade com o erro e, mais sutilmente, não dizer toda a verdade. Podemos nos proteger disso renovando nossas origens, identidade, mensagem, compromisso e missão em nossas casas, púlpitos e salas de aula.

NÃO SÓ MAIS UMA IGREJA

Somos mais do que uma igreja: somos o movimento final que Deus levantou no momento profético, com uma mensagem profética centrada em Jesus e sua graça, para restaurar toda a verdade e preparar o mundo para seu retorno.

O mensageiro de Deus nos lembra: “Os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como um povo especial, separado do mundo. Com o grande instrumento da verdade, ele os tirou da pedreira do mundo e os relacionou a si mesmo. Ele os fez seus representantes e os chamou para serem seus embaixadores nesta última fase da obra de salvação.

Ele os incumbiu de proclamar ao mundo a maior soma de verdade que já foi confiada aos seres mortais, as advertências mais solenes e terríveis que Deus já enviou aos homens” (7T 135). Ou, como disse Paulo, a igreja é “coluna e baluarte da verdade” (1 Timóteo 3:15). Para esse propósito, Deus chamou Israel (Deuteronômio 7: 6-9; 14: 2; Isa. 60: 1-3), não para ser apenas mais um grupo de pessoas, mas seu povo especial. Ele os colocou na encruzilhada de civilizações com um propósito sagrado. Ele revelou a eles através do santuário terrestre como ele trabalha neste plano de resgate, e ele não os deixou escolher como viver, como adorar e evangelizar, mas deu instruções específicas.

Infelizmente, eles falharam, mas o plano de Deus não terminou. No preciso momento profético, quando em algum lugar além das estrelas e fora do alcance da visão humana, algo grande estava para acontecer no céu que afetaria todo ser humano, algo "tão essencial para o plano de salvação quanto Sua morte na cruz foi” (S 543), Deus abriu os livros. O mundo precisava saber!

O CERTIFICADO DE NASCIMENTO PROFÉTICO    

Para isso, Deus levantou um povo de uma decepção, profetizada por Jesus em sua visão, para

João, séculos atrás (Ap 10: 5-11), para uma tarefa sagrada, para restaurar toda a luz de sua verdade "aos habitantes da terra, a cada nação, tribo, língua e povo", proclamando "em alta voz" as últimas três mensagens de amor mais solenes já dadas aos mortais (Ap 14: 6-12).

Essa decepção foi na verdade a certidão de nascimento do verdadeiro povo de Deus. Além disso, se a última igreja não tivesse surgido de um desapontamento durante o momento profético ao estudar as profecias de Daniel, não poderia ser a igreja verdadeira, ainda faria parte da Babilônia. Quando nossos pioneiros compreenderam, após a decepção, por estudar diligentemente as Escrituras para discernir o que havia acontecido em 22 de outubro de 1844, eles localizaram pela fé onde Jesus estava ministrando. A partir daí, eles começaram a pregar todas as verdades do plano de salvação revelado nos serviços do santuário terrestre.

Logo depois, o próprio Deus concedeu o dom de profecia a essas pessoas, definindo assim as duas características salientes do remanescente no final: eles guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus, que é o espírito de profecia (Ap 12:17; 19:10). Esses dois componentes sempre aparecem juntos nas Escrituras e definem o verdadeiro povo de Deus (Isaías 8:19, 20).

Na primeira visão dada por Ellen White, Deus estabeleceu claramente o surgimento, o curso e o destino deste movimento que mais tarde seria chamado de Igreja Adventista do Sétimo Dia. "Um caminho estreito e estreito colocado bem acima do mundo" (PE 14). O mundo evangélico não tem essa luz que recebemos. E se a verdade do santuário celestial não for compreendida, então o plano de salvação não pode ser totalmente compreendido. Termina na cruz. Mas há uma verdade presente para esta hora, e ela vem do lugar santíssimo do santuário celestial.

CUIDADO COM AS DISTRAÇÕES

Existem certas distrações e perigos que podem minar nossa identidade, propósito e missão como remanescente.

Distração nº 1: Falha em apresentar a verdade. O evangelho eterno foi o plano de salvação apresentado a Adão e Eva desde o início. Mas há também Present Truth, uma mensagem específica que cada geração foi dada para apresentar, tudo dentro do contexto do evangelho eterno. Ellen White enfatiza que o que precisamos pregar na Igreja Adventista hoje é a Verdade Presente. E qual é a verdade presente para esta hora? Verdades que enfocam o Santo dos Santos, onde Jesus ministra. Se você deseja pregar a Verdade Presente hoje, apenas descubra onde Jesus está agora, o que ele está fazendo hoje, e então pregue. Infelizmente, há ventos de mudança nessa abordagem que nos distraíram de nossa mensagem e missão distintas.

Distração nº 2: Focar apenas na justiça social e na ajuda humanitária, sem levar as pessoas a Jesus e à mensagem completa do evangelho. Muitas entidades seculares fazem um excelente trabalho social para ajudar as comunidades. Mas o bem-estar e a justiça social não são nossa missão final como igreja. As passagens em Miquéias 6, Isaías 58 e Tiago enfatizam que devemos ajudar os outros, mas isso é mais sobre a vida cristã. O próprio Jesus fez boas obras, mas sua missão não era apenas aliviar o sofrimento, mas salvar a raça humana. E ainda assim ele viveu sua religião, mostrando amor e compaixão dentro do contexto de sua missão. Enfatizamos "apenas o método de Cristo ..." (MC 102), e isso é bom. É muito importante ajudar as pessoas em suas necessidades temporárias, mas não podemos parar por aí. Devemos avançar ainda mais, por meio da liderança do Espírito Santo, guiar as pessoas ao pé da cruz e a toda a mensagem adventista centrada nas mensagens dos três anjos. Devemos exortar as pessoas a tomar medidas para segui-lo e obedecê-lo.

Distração nº 3: imite outras denominações em sua liturgia, música e métodos de crescimento. Para Israel, foi com resultados catastróficos (Números 22-24). Alguns buscam ideias de fontes contaminadas, que negam as grandes verdades bíblicas, e então aplicam esses métodos em nossas igrejas. Embora nem tudo o que os outros fazem seja errado, a questão permanece: alguma dessas igrejas protestantes aceitou as mensagens dos três anjos e a verdade sobre o Santuário Celestial, que é o fundamento de nossa fé? Isso soa como um lugar onde devemos adquirir nosso estilo de vida, estilo musical, métodos de adoração e métodos de evangelismo? Acho que a resposta é óbvia!

Mais intrigante é que com a abundância de luz que temos, o que nos motiva, como adventistas, a adotar o estilo de adoração e os métodos de crescimento da igreja que a Bíblia descreve como "Babilônia" ou a "sinagoga de Satanás" quando essas igrejas despreza a mensagem da verdade presente? Por que desejaríamos retornar do Santo dos Santos, do Lugar Santo ou do pátio em nossa abordagem de apresentar a mensagem ao mundo? Deus nunca sugeriu que Israel adotasse os métodos ou estilos de adoração das nações vizinhas para alcançá-los.

Distração nº 4: Enfatize um adventismo existencial onde o discipulado é separado da doutrina. Se falamos apenas sobre o Mestre e suas virtudes e não ensinamos o que o Mestre nos pede para ensinar, o quão bons discípulos estamos realmente sendo?

Como os novos convertidos podem ensinar aos outros a verdade que eles mesmos não aprenderam?

Você ouve algumas meias verdades confusas: "Devemos ser inclusivos", "Devemos apelar para o que as pessoas gostam", "Devemos dar às pessoas o que elas acham que precisam", "Devemos ser pluralistas", "Não devemos julgar os outros”, “devemos amar e aceitar as pessoas incondicionalmente” e “o que importa é o amor”.

Essa mudança de foco fez com que alguns se tornassem antropocêntricos em vez de teocêntricos. Parece que a preocupação em algumas igrejas é que as pessoas seculares se sintam confortáveis ​​na adoração, e um "assim diz o Senhor" foi substituído por mensagens de motivação, adequação e contextualização cultural. E as revelações de Deus e Ellen White são substituídas por citações de especialistas.

Quando a pregação deixa de ser profética, doutrinária, centrada em Cristo e baseada apenas na graça sem concessões, ela leva à conformidade e satisfação pessoal, onde o reavivamento genuíno é impossível. Um evangelho da graça produz liberalismo, e um evangelho de advertência produz fanatismo. Não somos fanáticos ou liberais. Somos discípulos que recebem e aceitam a graça para viver com compromisso.

Em alguns púlpitos e instituições, passamos de um extremo a outro, do formalismo doutrinário ao existencialismo subjetivo. Algumas pessoas começaram a adotar uma postura anti-doutrinária, na qual os pilares básicos da fé adventista são vistos como meros requisitos de uma religião legalista ultrapassada. O resultado? Apostasia em massa. Isso poderia muito bem ser classificado como negligência ministerial e de ensino. Milhões estão no secularismo da Babilônia, esperando serem convidados a sair, mas não podemos ajudá-los se repetirmos o erro da igreja cristã que perdeu sua identidade quando foi inundada pelo mundo não convertido e adotou seus costumes pagãos.

NOSSA RESPONSABILIDADE CONFERIDA POR DEUS

Nós percebemos a responsabilidade que Deus designou a você e a mim nestes últimos dias do Grande Conflito entre Cristo e Satanás? “Em um sentido muito especial, os adventistas do sétimo dia foram colocados no mundo como sentinelas e transmissores de luz. A eles foi confiada a tarefa de dirigir a última advertência a um mundo que perece. A Palavra de Deus lança uma luz maravilhosa sobre eles. Uma obra da maior importância foi confiada a vocês: proclamar as mensagens do primeiro, segundo e terceiro anjos. Nenhuma outra obra pode ser comparada a esta e nada deve desviar nossa atenção dela. As verdades que devemos proclamar ao mundo são as mais solenes que já foram confiadas a seres mortais. Nossa tarefa é proclamá-los. O mundo deve ser advertido,

Que privilégio e que responsabilidade! Nós sabemos como as coisas vão acabar. Haverá uma última geração que permanecerá firme e amará tanto o Senhor que O obedecerá. Eles serão selados para a eternidade, estabelecidos em toda a verdade bíblica de tal forma que não possam ser movidos. Essa geração participará de coisas maravilhosas, da chuva serôdia e da conclusão da obra de Deus, e a terra será iluminada com a glória de Deus (Ap 18: 1). Minha oração é que sejamos a última geração. Maranatha

 

FONTE: Site Pastor Adventista