Teologia

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

O QUE OS ADVENTISTAS TÊM PARA COMPARTILHAR COM A COMUNIDADE CIENTÍFICA?


Ricardo André

No período em que estudava para obter minha graduação em História, a cada período solicitava ao Departamento de História minha dispensa às aulas das sextas-feiras à noite, que para nós, adventistas, já é sábado. A coordenação do curso, bem como meus professores se esforçaram ao máximo para fazer os ajustes necessários, a fim de que não perdesse as disciplinas daquele dia. Com isso, alguns professores e colegas de turma algumas vezes me perguntavam sobre as crenças adventistas. Eu educadamente oferecia algumas respostas, mas acabava ali. Haveria uma maneira melhor de compartilhar minha fé?

Sou cristão adventista desde os meus 11 anos de idade. Logo sou 100% criacionista. Acredito na existência de um Deus amoroso que criou todas as coisas animadas e inanimadas em nosso mundo em seis dias de 24 horas, e no sétimo dia descansou, abençoou e santificou esse dia, instituindo-o como dia de descanso e adoração (Gn 2:1-4; Êx 20:8-11). Continuo sendo criacionista. A Faculdade não mudou minha cosmovisão. Trabalho nas escolas públicas de Lagarto como professor de História. Nesta área, a imensa maioria dos historiadores são evolucionistas ateístas. Convivo com colegas de minha área, bem como de outras áreas do conhecimento, que acreditam no modelo evolucionista. Alguns deles são ateus, agnósticos ou simplesmente não dão importância ao fato da existência ou não de Deus. Já tivemos alguns momentos na sala de professores alguns diálogos sobre a temática da origem da vida. Em todas essas ocasiões tentei mostrar, de forma respeitosa, que a teoria criacionista dá sentido e dignidade a vida humana, pois ela ensina que fomos criados a “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1:26-28). Logo, temos uma origem superior. Não evoluímos de seres inferiores. Não estamos aqui como obra do acaso, mas viemos das mãos do Criador.

Todavia, confesso que não possuo a disposição de fazer apologética. O objetivo de minha vida é compartilhar Jesus, o cristianismo e a mensagem adventista. A seguir apresento algumas de minhas ideias sobre como e o que compartilhar no meio acadêmico.

CUIDADO COM AS ABORDAGENS DEFICIENTES NO COMPARTILHAR

Primeiramente, gostaria de compartilhar como penso que a abordagem não deve ser feita. A imensa maioria dos professores das universidades acreditam que a religião e a fé são prejudiciais para a sociedade porque envenenam a mente fazendo com que dependam de algo irreal, não verificável, anticientífico; suprimem o pensamento crítico e são responsáveis por grande parte da violência no mundo. Ao procurar conquistar essas pessoas hoje, somos tentados a utilizar a argumentação incisiva, a ridicularização, a crítica ácida, a chacota da teoria evolucionista. Tais abordagens contraproducentes contêm fortes argumentos que condenam as ideias equivocadas e apresentam as características mais objetáveis dos oponentes. Contudo, até os oponentes mais acirrados devem ser tratados com respeito, deferência e amor.

Em 1 Pedro 3:15, 16, lemos: “Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias”. Embora devamos estar sempre preparados para explicar o que e por que cremos, devemos fazê-lo com respeito e bondade. Portanto, discuta as questões apresentadas com respeito. Enfatize o fato de que a evolução, o ateísmo, o materialismo e outras ideologias são apenas hipóteses, modelos ou paradigmas que não foram comprovados e que outras explicações são possíveis.

Ellen G. White aconselha nesse sentido:

“Na defesa da verdade, devem-se tratar os mais cruéis adversários com respeito e deferência” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 122)

“Os grandes homens, os homens cultos, podem melhor ser atingidos pela simplicidade de uma vida piedosa, do que pelos argumentos incisivos que se possam acumular sobre eles. Causam-se boas impressões quando a religião é cheia de vitalidade, de molde a promover vida e progresso” (Evangelismo, p. 557).

“Falai a verdade em tons e palavras de amor. Cristo Jesus será exaltado” (Ibdem, p. 576).

“Apresente-se a verdade tal como é em Jesus, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra, um pouco aqui, um pouco ali. Falai do amor de Deus com palavras de fácil compreensão. A verdade bíblica apresentada com a humildade e o amor de Jesus exercerá influência notável sobre muitas mentes. [...] Insisti sobre a necessidade da piedade prática. Tornai-lhes patente que sois um cristão, desejando paz, e que amais sua alma. Vejam eles que sois conscienciosos. Assim lhes granjeareis a confiança; e haverá tempo suficiente para as doutrinas. Seja o coração conquistado, o solo preparado, e depois semeai a semente, apresentando em amor a verdade como é em Cristo” (Ibdem, p. 199-200).

A partir das orientações de Ellen White, penso que a apologética não é a melhor abordagem para atrair os da comunidade científica, ou seja, a de atacar a ciência; dizer aos cientistas ou professores que eles não têm moral; proferir frases prontas; ignorar suas ideias e entrar em discussão. Essas abordagens criam a imagem negativa de que os cristãos são contra a ciência, quando na verdade não somos. É importante que se diga que o pensamento religioso não é absolutamente contrário aos métodos da ciência. Muitos dos grandes cientistas do mundo ocidental eram cristãos que não só acreditavam em Jesus, mas também na criação. Galileu, Blaise Pascal, Robert Boyle, Nicolas Steno, Isaac Newton e James C. Maxwell são apenas alguns que fazem parte de centenas de nomes do passado e do presente que deram ou estão dando grandes contribuições para a investigação científica, e sem rejeitar a crença em Deus. A ciência se desenvolveu, ao longo de muitos séculos, impulsionada por esses e outros cientistas que foram cristãos comprometidos.  Milhares de cientistas no mundo acadêmico de hoje são cristãos praticantes, mostrando, assim, que a prática de ambas, pesquisa científica rigorosa e fé cristã, não são mutuamente exclusivas, mas de reforço.

Como uma clara demonstração de que os cristãos adventistas não são contra a ciência, a escritora cristã norte-americana Ellen G. White, incentivava os cristãos a “adquirir conhecimento das ciências” (Manuscript Releases, 21 v., 1981-1993). Ela também incentivou aqueles que se preparavam para ser pastores a “primeiro obter razoável grau de preparo mental” a fim de poder “enfrentar com êxito as estranhas formas de erros religiosos e filosóficos associados, cuja exposição requer conhecimento de verdades científicas, bem como escriturísticas” (Obreiros Evangélicos, p. 81).

O termo compartilhar envolve uma abordagem melhor que a apologética, pois não enfatiza o argumento. Compartilhar não exige que se diga tudo. Por várias razões, Jesus pediu que o leproso curado ficasse em silêncio (Mt 8:2-4). Depois da confissão de Pedro, Jesus recomendou que os discípulos não dissessem nada, porque havia tanto “falso conceito do Messias, que um anúncio público do Mesmo não lhes daria ideia exata de Seu caráter e de Sua obra.” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 414). Os três discípulos que presenciaram a transfiguração de Cristo não deveriam compartilhar a experiência com outros, porque “apenas despertaria o ridículo, ou ociosa admiração” (Ibdem, p. 426). Deus não é mencionado no livro de Ester, e ela não revelou sua origem judaica, mesmo assim, era fiel. Os valdenses levavam bíblias consigo, secretamente, e compartilhavam o evangelho somente com aqueles em quem confiavam (Ellen G. White, O Grande Conflito, p.70, 71).

O MÉTODO DE JESUS É O MELHOR

Se o debate acirrado para demonstrar as fraquezas e contradições das ideias dos evolucionistas ateístas não é o melhor método para compartilhar a nossa fé, então, qual é o melhor método? Podemos buscar em Deus a melhor maneira de compartilhar de nossa fé em cada situação.

Ellen White afirmou: “Os jovens pastores devem evitar debates, pois estes não aumentam a espiritualidade, nem a humildade de espírito. Em alguns casos, talvez seja necessário enfrentar um orgulhoso alardeador contra a verdade de Deus, num debate franco; geralmente, porém, esses debates, sejam orais, sejam escritos, resultam em mais dano do que bem” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 213).

Ellen White ainda afirmou que o resultado de um debate com violenta discussão “é um estado febril de coisas. Faltam calma, ponderação e discernimento. Caso se deixe passar essa agitação, ou haja reação por meio de procedimento indiscreto, o interesse nunca mais poderá ser despertado. Os sentimentos e simpatias do povo foram estimulados, mas a sua consciência não foi convencida, nem o coração quebrantado e humilhado perante Deus” (Ibdem, p. 218).

C. S. Lewis afirmou: “Atraímos as pessoas a Cristo não as fazendo desacreditar naquilo em que acreditam, de maneira ruidosa, dizendo a elas quão erradas elas estão e quão certos nós estamos, mas mostrando a elas uma luz tão bela que elas desejarão conhecer a fonte dessa luz de todo coração. (“Christian Apologetics”, em God in the Dock: Essays on Theology and Ethics, Walter Hooper, ed.(Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1970), p. 89-103, especialmente p. 92, 93 e 103.

Quando pregou em Atenas, Paulo usou a lógica e a filosofia. “Considerando o tempo assim gasto, e concluindo que seu ensino em Atenas fora pouco produtivo, decidiu seguir outro plano de trabalho em Corinto, nos seus esforços para atrair a atenção dos descuidados e indiferentes. Decidiu evitar discussões e argumentos elaborados e nada se propor saber entre os coríntios, ‘senão a Jesus Cristo, e Este crucificado’. Estava disposto a pregar-lhes, não com ‘palavras persuasivas de sabedoria humana, mas com demonstração de Espírito e de poder’. 1 Coríntios 2:2 e 5” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 244). Paulo lhes mostrou “um caminho mais excelente”, com o maior deles sendo o amor (1 Coríntios 12:31; 13).

Pessoalmente, acredito que os métodos usados por Jesus, conforme descritos em O Desejado de Todas as Nações, consistem no melhor guia para compartilhar a nossa fé. No Sermão do Monte, Jesus “não atacou, todavia, diretamente os erros do povo”, no entanto, “ensinou-lhes alguma coisa infinitamente melhor do que haviam conhecidos” (p. 299). “Os homens podem combater ou desafiar a nossa lógica, podem resistir a nossos apelos; mas a vida de amor desinteressado é um argumento que não pode ser contradito” (p. 142). Na Sua maneira de tratar com Tomé, “Jesus não esmagou Tomé com censuras, nem entrou com ele em discussão. Revelou-Se ao duvidoso.” (p. 808).

A melhor maneira de atrair os céticos para a luz da verdade, muito mais do que ter o melhor modelo científico, ou provar que estamos certos e eles errados, é compartilhar da melhor maneira a respeito de Cristo como Deus: um Deus poderoso que faz muito mais do que os seres humanos podem explicar e um Deus bom, em quem podemos confiar em face do mal. Podemos apresentar um Deus cuidadoso em face do mal, uma comunidade segura, acolhedora e plena da graça diante do fracasso, e a ciência em ação para tornar o mundo um lugar melhor. Os questionamentos virão com base no estilo de vida. Se nossa vida for coerente com a fé que nós professamos, isso irá convencer a muito no mundo acadêmico da existência de um Deus amoroso.

Ellen White afirmou: “A última mensagem de graça a ser dada ao mundo é uma revelação do caráter do amor divino.” (Parábolas de Jesus, p. 415). Note que não é a “verdade teológica” dos “fanáticos religiosos”, mas a “verdade genuína, segundo se manifesta na vida” (O Desejado de Todas as Nações, p. 309).

Ellen G. White, num único parágrafo, resume o que Jesus fazia para alcançar as pessoas e conduzi-las à salvação: “Unicamente o método de Cristo trará verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: “Segue-Me.” (A Ciência do Bom Viver, p. 143).

Vamos analisar isso um pouco.

1) Jesus se misturava com as pessoas como Alguém que lhes desejava o bem. (Ele estabelecia relacionamentos).

2) Jesus tinha compaixão pelas pessoas. (Ele criava vínculos).

3) Jesus ministrava-lhes as necessidades. (Isso também estabelecia vínculos).

4). Quando Ele combinava o primeiro, o segundo e o terceiro elementos, ganhava a confiança das pessoas.

5) “ordenava então: ‘Segue-Me’” (para que se tornassem Seus discípulos).

O que vemos aqui é um modelo integral (holístico) de trabalho de Jesus. Esse método de ministério podem guiá-los ao trabalharem com as pessoas materialistas. Todos esses passos, atuando juntos, trarão “verdadeiro êxito”.

Paulo chegou a dizer: “Embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas” (1 Coríntios 9:19-23).

No evangelho eterno a ser dado ao mundo (Apocalipse 14:6) está incluído o relato da mulher que lavou os pés de Jesus (Mateus 26:6-13). A hora do juízo (Apocalipse 14:7) está baseada na maneira como tratamos os menos afortunados entre nós (Mateus 25:31-47). Jesus usou o sábado para curar e está preocupado com o modo como as pessoas são tratadas (Isaías 58). A mensagem de Elias faz parte da mensagem final sobre os relacionamentos restaurados (Malaquias 4:5, 6).

Portanto, é através do desenvolvimento de amizades saudáveis com os materialistas e os ajudando que teremos oportunidades de apresentar a Jesus, o compassivo Salvador, a essas pessoas, de refletir com elas a respeito do materialismo puro como algo insatisfatório, sobre o Big Bang e a segunda lei da termodinâmica que apontam para um começo e para “Alguém que deu origem a esse começo”; sobre a sintonia fina das constantes físicas que parece indicar um Universo projetado para a vida. Falar sobre o complexo projeto biológico que sugere a necessidade de um “Projetista”; a respeito da consciência humana expressada no autoconhecimento e no livre-arbítrio que implica uma “Consciência Maior”; refletir ainda a respeito dos valores morais que regem a nossa sociedade que não podem ter surgido como consequência da seleção natural aleatória, a partir da matéria e da energia; sobre mundo real, complexo e cercado de informações, a estrutura exige um Criador inteligente.

Os adventistas têm algo a oferecer, e os métodos usados por Jesus funcionam!




segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

POR QUE OBEDECER?


por Robert S . Folkenberg*

Reconciliando os mandamentos com a cruz

Por que Deus exige nossa obediência se, na verdade, somos salvos pela graça? Fiz-me esta pergunta por muitos anos. Mas, poucos meses atrás, encontrei uma passagem bíblica que me ajudou a juntar as peças desse enigma.

Antes, porém, quero dar algumas explicações preliminares. Uma das primeiras perguntas que aprendemos a responder, como adventistas do sétimo dia, é: "0 que é pecado?" A resposta tradicional é: "Pecado é a transgressão da lei de Deus." Você, provavelmente, conheça a resposta à seguinte pergunta: "Quem foi o primeiro ser a pecar?" E você responde: "Satanás", ou mais precisamente, "Lúcifer", o querubim cobridor, o ser de maior status entre todas as criaturas do Universo.

Mais uma pergunta: "Qual foi o grande pecado de Lúcifer?"

Isaías nos dá a resposta: "Como caíste do Céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao Céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo" (Isa. 14:12-14).

É interessante notar que essa passagem não identifica nenhum ato de Lúcifer que mostre que ele transgrediu um mandamento específico da lei divina. Seu pecado consistiu em ignorar a soberana autoridade de Deus. Ele escolheu, em seu coração, não ser "limitado" pela autoridade divina. Disse a si mesmo: "Decidirei por mim mesmo! Se minhas decisões coincidirem com a vontade de Deus, será muito bom; se não, elas ainda serão minhas. Farei o que me apraz. Serei como o Altíssimo."

Mas não pode haver senão um só Deus no Céu, uma só fonte de autoridade. Deus poderia ter destruído Lúcifer num instante, mediante uma fantástica demonstração de poder e justiça. Ao invés disso, porém, Ele expulsou Lúcifer juntamente com seus anjos. Cada um daqueles anjos foi expulso por uma única razão: extremo individualismo. Cada um deles rejeitou limitações pertinentes à conduta moral. Cada um decidiu ser seu próprio deus.

Lançados no abismo

Com estas considerações em mente, a história de Adão e Eva, relatada em Gênesis 3, toma-se mais compreensível. Deus propiciou a nossos primeiros pais um lar extremamente belo. E disse: "Este lar pertence a vocês; há, porém, uma árvore que não lhes pertence. Não toquem nela. Não comam do seu fruto, porque no dia em que comerem, morrerão."

Deus não lhes deu nenhuma explicação além dessas palavras. 0 ponto fundamental que Deus colocou perante eles foi submissão a Sua autoridade: "Não toquem na árvore."

Algumas exigências divinas nas Escrituras apelam à nossa razão, ao passo que outras requerem nosso reconhecimento da autoridade de Deus. Por exemplo: Deus proíbe que comamos animais que se alimentam de carniça. Não precisamos ter muita acuidade mental para concordar com a ordem divina de não comer restos de lixo!

Mas Deus também diz: "Este dia, o sétimo [dia da semana, é o dia que santifiquei. Sim, ele tem 24 horas como qualquer outro dia, e durante esse dia a Terra girará em tomo do Sol e em tomo de seu eixo. Mas este é o Meu dia. Não o profanem. Não tropecem nele. Observem-no, porque é santo."

E a razão humana entra em cena, inquirindo: "Por que não o dia anterior ou o seguinte?" Deus, porém, diz: "Porque isto é o que espero de vocês. Este é Meu dia."

Quando Lúcifer se aproximou de Eva no jardim, tinha apenas uma flecha em sua aljava. "Dê apenas uma mordida", ele propôs.

As primeiras palavras de Eva foram um modelo de obediência. "Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais" (Gên. 3:2 e 3). Uma boa resposta é citar as palavras de Deus como base para obedecer.

A serpente, porém, disse: " É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal" (versos 4 e 5). Ele não citou outra autoridade; ele não apelou para outro poder. Sua abordagem estriba-se numa evidente contradição entre a autoridade de Deus e a negação da realidade da morte.

Eva jamais havia confrontado a possibilidade de autoridades alternativas - diversidade de deuses. Tampouco havia alimentado a ideia de que pudesse ser um deus, como a serpente estava propondo.

Como Eva resolveu seu dilema? Ela se valeu dos recursos da razão que Deus lhe dera, para chegar à conclusão de que Deus havia proibido. Notemos os três passos: Ela viu que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento (ver verso 6). Eva raciocinou e agiu com base em evidência empírica, como os racionalistas de hoje fazem no campo da ciência, literatura, arte, filosofia e até mesmo religião.

À semelhança de muitas pessoas atualmente, Eva considerou apenas a evidência que excluía Deus. Eu pensava que ela havia pecado quando comeu do fruto proibido. Mas ela pecou quando decidiu agir fora do contexto da autoridade de Deus; quando decidiu agir com base em fatores utilitaristas ou estéticos: bom para se comer, agradável aos olhos e bom para aumentar o conhecimento. Ela pecou quando excluiu a autoridade divina, a majestade soberana de Deus, como base para tomar a decisão e como fator determinante do que é direito e verdadeiro. O comer do fruto foi a manifestação, uma expressão do pecado de Eva

Ellen White observa que o coração do pecado de Lúcifer fora também a rejeição da autoridade divina: Satanás "jacta-se perante seus simpatizantes de que não se submete à autoridade de Cristo" (Spiritual Gifts, vol. 3, pág. 37). O pecado é basicamente rebelião, um desafio à soberania de Deus. Mas Sua autoridade não foi anulada como ponto de referência. O reino de Deus não é uma democracia parlamentarista forjada por nossas próprias opiniões e preferências. Isto jamais foi assim e nunca será.

As escolhas de Adão e Eva infectaram cada um de nós com um vírus fatal. Em nossa natureza reside um desejo, uma ânsia, uma irresistível paixão de nos transformar em deuses e exaltar a autoridade de nossas opiniões pessoais.

A motivação por trás do darwinismo não é a ciência, mas o sepultamento da autoridade divina num charco lodoso.

Semelhantemente, os "eruditos religiosos" que aceitam as destrutivas premissas do método crítico-histórico de interpretação da Bíblia, tentam eliminar o sobrenatural nas Escrituras Sagradas e reduzir seus escritos a um mito forjado pelo homem.

Como seres humanos, não estamos imunes à tentação de nos tomar deuses, conhecendo o bem e o mal. Deus, porém, em Sua graça, não nos abandona onde estamos. Ele preparou o plano de salvação, propiciou-nos a mensagem do evangelho e enviou o Espírito Santo para que pudéssemos confrontar honestamente a questão de Sua autoridade tanto no Universo quanto em nossa vida.

Três razões para a obediência

Voltemos à nossa pergunta inicial: Por que Deus nos oferece salvação pela graça, por meio da fé, e depois pede que obedeçamos? Vejo apenas três opções:

Opção 1: Deus pede que obedeçamos porque Ele Se impressiona com a nossa obediência. Mas se sou mais digno da salvação por ser obediente, ou mais condenável por ser rebelde, isto é legalismo - legalismo absoluto e inadmissível. Ou somos salvos pela fé, ou não somos salvos por nenhum outro meio. Nossa salvação é inteiramente pelos méritos de Jesus Cristo.

Opção 2: Talvez Deus me peça para obedecer para que eu impressione meus vizinhos com o poder de uma vida reta. Mas, então, nossa obediência não tem valor algum se estivermos sós, onde ninguém nos possa ver.

Opçã o 3: Nós a encontramos em I João 2:3, que é o verso que me ajudou a juntar as peças do enigma. "Ora, sabemos que O temos conhecido por isto: se guardamos os Seus mandamentos."

Jesus nos diz: "Tenho-vos amado com amor eterno. Dei-vos a salvação como um dom. Se Me aceitardes como vosso Salvador, então vós, como expressão de amorável gratidão, deveis aceitar-Me como vosso Senhor, como vosso Mestre, como a autoridade suprema em vossa vida. E se Me aceitardes como Senhor, Eu virei a vós e mudarei o vosso coração de pedra e vos darei um coração de carne. Escreverei Meus mandamentos em vosso coração, e por Minha graça começareis a viver Meu estilo de vida."

Ellen White afirmou isto de modo sucinto, quando escreveu: "Nesta vida devemos aprender a submissão à vontade divina, ou não estaremos aptos a entrar no reino dos Céus" (Australasian Union Conference Record, 12 de julho de 1899).

Como, porém, saberemos que essa transação ocorreu verdadeiramente?

"Mediante a vossa obediência, eis o segredo", diz Jesus." É fácil seres pecadores racionalizarem a rebelião, chamando-Me de 'Senhor, Senhor' e em seguida não praticar as coisas que digo. A obediência toma claro quase que instantaneamente o fato de que sois submissos à Minha autoridade e vos prove evidência de que opero em vós tanto o querer como o efetuar de acordo com Minha vontade. Vossa obediência será o sinal de que vos haveis submetido voluntariamente à Minha benevolente autoridade."

Quando entendemos que pecado não consiste em um comportamento visível ou a quebra de uma regra, começamos a crescer como cristãos. Quando entendemos que cada tentação representa uma escolha, não uma regra ou norma de vida, mas uma escolha a favor ou contra a soberana autoridade de Jesus Cristo como Senhor de nossa vida, começamos a ver a harmonia entre fé e obediência, onde antes só víamos conflito. Quando captamos a verdade bíblica de que nossa obediência foi concebida como um sinal do senhorio de Jesus Cristo em nossa vida e sinal de nossa expressão de amor a Ele, chegamos a um abençoado estágio de compreensão.

Deste modo, somos protegidos de cair em dois enganosos pontos de vista sobre o evangelho: 1) que a justificação nos leva a uma soberania individual, em vez de submissão à vontade de Deus; 2) que a justificação conduz a obras meritórias à medida que o Espírito Santo nos habilita a obedecer à lei de Deus.

Ellen White nos aconselha dizendo: "Se queres tomar-te um aluno na escola de Cristo, submete tua vontade a Ele, colocando-te sob Sua disciplina, e serás capaz de caminhar em Seus passos; e por viveres em constante ligação com Jesus, serás um canal de luz a outros.... Submissão à autoridade de Cristo, que forma uma qualificação essencial em Seus discípulos, não é somente oposto ao orgulho que se sente ferido quando advertido e aconselhado, mas os que a têm decidem sujeitar-se uns aos outros" (Olhando Para o Alto, pág. 355).

Obediência: dom da graça

 A estupenda notícia do evangelho significa ter a alegre experiência de aceitar a Jesus Cristo como Salvador, de saber que nossos nomes estão escritos no livro da vida, de estar certos de que nossas más ações foram canceladas. Mas Deus sabia que nossa pecaminosa e egoísta natureza nos leva a lançar mão de uma roleta espiritual, para conduzir o nome de Cristo vivendo ainda em rebelião, para adorar nossas opiniões em vez de Sua vontade. Assim, Ele estabeleceu o plano da salvação para que, ao sermos atraídos pelo Espírito Santo, nosso coração seja quebrado pelo contraste entre a magnitude de nosso pecado e Seu insondável amor. Assim, prostramo-nos perante Ele, exclamando: "Meu Senhor e meu Deus", e unimos nosso coração a Ele, aceitando-0 não apenas como Salvador mas também como Senhor.

Quando procuramos fazer Sua vontade, nós nos vemos em meio do conflito entre o bem e o mal, entre Sua vontade e o nosso desejo de adorar nossas opiniões. Enfrentamos escolhas que conflitam com nossos desejos pessoais. Para uma pessoa, é o sábado; para outra, o dízimo; para outra, joias, bebida alcoólica, ou a atração do jogo. Os problemas são diferentes, mas a batalha é a mesma para cada um de nós: Sucumbiremos ao desejo de ser deuses, de ter opiniões soberanas?

"Sou um homem sujeito à autoridade", disse o centurião romano ao expressar sua fé em Jesus. E dos lábios de Jesus saiu o mais alto louvor por sua confissão: "Nem mesmo em Israel achei fé como esta" (Mat. 8:5-13).

Você pode dizer a mesma coisa hoje? É você uma pessoa sob a autoridade de Deus, a qual dirige sua vida e a transforma pelo poder do Espírito? Por favor, não descarte este artigo até que você o tenha entesourado no coração. Porque não há nenhum exagero em dizer que essa é uma questão que envolve nosso destino eterno.

*Robert S. Folkenberg, presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

FONTE: Revista Adventista, Setembro 1998, p. 8-10.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

O DEUS DO INFERNO


Marvin Moore

Em 08 de julho de 1741, Jonathan Edwards pregou o que se tornou o mais famoso sermão da época. O título: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. Em uma das frases mais frequentemente citadas a partir deste sermão, Edwards disse: “O Deus que te segura acima do abismo do inferno, muito como alguém que segura uma aranha, ou algum inseto repugnante sobre o fogo, tem repulsa de ti, e está sendo terrivelmente provocado”. O pregador puritano Richard Baxter escreveu um livro intitulado “O Descanso Eterno dos Santos”. Em um capítulo sobre o inferno, ele disse que “as chamas eternas do inferno não serão consideradas demasiadamente quentes para os rebeldes, e quando eles lá estiverem queimando através de milhões de eras, [Deus] não se arrependerá do mal que se abateu sobre eles.”

Mais tarde no livro ele escreveu, “Não é uma coisa terrível para uma alma miserável, quando estiver estrepitando perpetuamente nas chamas do inferno, o Deus de misericórdia dar risada deles; quando… Deus zombar deles em vez de aliviá-los, quando ninguém no céu ou na terra puder ajudá-los, exceto Deus, Ele se regozijar sobre eles na sua calamidade?

Em 1993, a Whitaker House publicou um livro de Mary K. Baxter (provavelmente sem relação com Richard Baxter), intitulado A Divina Revelação do Inferno, no qual ela afirma que Jesus lhe concedeu um passeio ao inferno. Em um lugar, ela viu “pequenos vultos vestidos de preto marchando em volta de um objeto parecido com uma caixa. Após uma análise mais aprofundada, vi que a caixa era um caixão e os vultos marchando ao redor eram demônios”. Jesus disse-lhe que o homem no caixão foi um ministro que tinha pregado um falso evangelho. “Eu assisti os demônios enquanto eles continuavam a marchar ao redor do caixão,” disse Baxter. O coração do homem batia e sangue de verdade corria dele. Nunca esquecerei os seus gritos de dor e tristeza.

Mais tarde no livro, Mary Baxter disse que ouviu gritos de partir o coração e grandes choros de dor [ecoando] a partir das celas [onde os perdidos estavam confinados]. As almas no interior eram queimadas vivas, e ainda assim não podiam morrer. Os demônios, também, juntavam os risos, enquanto Satanás passava de cela em cela, torturando os perdidos.”

Eu tenho vários problemas com essas visões do inferno.

Quem está no comando?

A minha primeira pergunta tem a ver com quem está no comando do lugar. De acordo com Jonathan Edwards e Richard Baxter, Deus está no comando do inferno. Mary Baxter descreve Satanás e seus demônios como estando no comando do inferno.

Irei para a resposta de Deus.

A passagem mais descritiva da Bíblia sobre o inferno diz que “desceu fogo do céu e os consumiu ​​[os ímpios]” (Apocalipse 20:9, grifo do autor). Se o fogo desce do céu, tem que vir de Deus, porque Ele está no comando do céu, e não Satanás. Dois outros relatos bíblicos da destruição dos ímpios, o dilúvio de Noé e Sodoma e Gomorra, mostram claramente Deus iniciando a destruição, não Satanás (Gênesis 6:5-7; 19:24).

A ideia de que demônios torturam seres humanos ímpios no inferno não tem um pingo de evidência bíblica para apoiá-la. É pura fantasia. Se a Bíblia é para ser o fundamento de toda a doutrina cristã, o que eu acredito que é, então qualquer coisa que contradiz a Bíblia simplesmente não é verdade, incluindo a ideia de que Satanás e seus demônios são responsáveis ​​pelo inferno.

Quando é o inferno?

Também discordo da ideia de que o inferno está acontecendo agora.

De acordo com a visão aceita por muitos cristãos, o inferno vem acontecendo desde que Adão e Eva desobedeceram a Deus e foram expulsos do Jardim do Éden. A partir desse momento até o presente, os maus têm sido lançados no inferno no momento em que morrem, e vêm sofrendo lá desde então.

Os defensores desse entendimento do inferno citam textos como o Salmo 55:15, no qual o salmista ora para que os ímpios “Desçam rápido [isto é, “vivos”] ao inferno”. É assim que a versão King James diz. No entanto, a palavra hebraica para “inferno” neste caso é sheol, que significa simplesmente “túmulo”. A maioria das traduções modernas dizem: “Deixe que eles [os ímpios] desçam vivos para o túmulo” (grifo nosso, traduzindo o verso desta forma, Davi não quis dizer que Deus envia os ímpios vivos ao inferno, um lugar de chamas. Em vez disso, Davi está expressando sua frustração sobre os ímpios e desejando que Deus os deixe serem enterrados vivos em seus túmulos.

Em vez do inferno ser um processo contínuo, as Escrituras realmente o descrevem como um evento futuro. Malaquias 4:1, que é uma das passagens mais descritivas do Antigo Testamento sobre o destino final dos ímpios, diz: “Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade, serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos”. Malaquias foi escrito por volta de 400 aC, e no seu tempo, a destruição dos ímpios pelo fogo ainda estava no futuro.

O Apocalipse também descreve o inferno como um evento futuro. Alguns parágrafos atrás, me referi a passagem mais descritiva da Bíblia sobre o inferno, que diz que “desceu fogo do céu e os consumiu ​​[os ímpios]” (Apocalipse 20:9). Apocalipse 20 descreve o milênio, o que irá ocorrer após a segunda vinda de Cristo, e o fogo que desce do céu acontece no final do milênio. Assim o inferno não pode estar acontecendo agora.

O Deus do Inferno

No entanto, minha maior objeção ao conceito popular de inferno é a sua visão de Deus. Meu entendimento da Bíblia é que Deus ama os seres humanos e os trata com bondade extrema. “Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5:45), e Ele diz que não tem “prazer na morte do ímpio” (Ezequiel 33:11). Ao contrário, Ele pede que eles se voltem para Ele e se arrependam (veja Isaías 45:22). A Bíblia consistentemente descreve Deus como amoroso, misericordioso e justo (Salmos 69:13; 103:8, Jeremias 9:24; Joel 2:13).

A visão popular de que os ímpios queimam e sofrem no inferno para sempre e sempre, ad infinitum, escarnece destas qualidades divinas.

A ideia de que os ímpios serão queimados para sempre no inferno se baseia na premissa de que eles são imortais. É claro, o único Ser no universo que tem imortalidade natural dentro de si mesmo é Deus. Seres humanos e outros seres criados não têm a imortalidade dentro de si. Qualquer imortalidade que possuímos é derivada de Deus, e o Novo Testamento afirma muito claramente que o povo de Deus receberá a imortalidade na segunda vinda de Cristo (veja 1 Coríntios 15:50-54). Os ímpios não são imortais agora, e nunca o serão.

O fogo do inferno vai queimar os ímpios e destruí-los. A única maneira que os ímpios poderiam queimar no inferno por toda a eternidade, seria Deus mantê-los artificialmente vivos apenas para que eles pudessem continuar queimando. E esta não é minha ideia de um Deus amoroso, justo e misericordioso.

Imagine que você ouve uma notícia sobre um crime terrível que tenha sido cometido. A polícia está tentando descobrir quem fez isso, mas não têm pistas. Infelizmente, você tem informação positiva que seu filho cometeu o crime, e você sabe que se ele for descoberto será levado a julgamento e passar muitos anos na prisão. No entanto, você sente o dever de relatar o que você sabe. Você se alegraria ao ter que ir à polícia, ou você iria com um coração muito pesado?

Ir à polícia seria a coisa certa a fazer, mesmo que isso fizesse você se sentir muito triste. Da mesma forma, punir os ímpios por sua maldade impenitente é a coisa certa para Deus fazer. Mas eu creio que Ele vai fazer isso com grande tristeza. A imagem que ilustra esta matéria mostra Jesus em pé na frente do mundo em chamas e Ele tem o rosto enterrado em suas mãos. Ele está chorando sobre o destino dos pecadores.

Acredito que esta seja uma descrição correta da reação de Deus para com o castigo dos ímpios.

Compare isso com a “visão” de Mary Baxter, com Jesus concedendo-lhe uma visita ao inferno. Ela disse que ouviu gritos de partir o coração e grandes choros de dor [chegando] a partir das celas [onde os perdidos estavam confinados]. Ela chorou e implorou a Jesus para fazer alguma coisa para aliviar as suas dores. É assim que qualquer pessoa sã reage ao sofrimento humano intenso. Mas Mary Baxter descreve Jesus agindo com naturalidade, não mostrando nenhuma emoção. Isso é uma distorção horrível do caráter de Deus!

Richard Baxter disse que quando os ímpios estiverem estrepitando perpetuamente nas chamas do inferno, o Deus de misericórdia dará risada deles; zombará deles em vez de aliviá-los. Será? Como podem as palavras misericórdia e alegria andarem juntas em qualquer descrição da reação de Deus para com a destruição dos ímpios? No entanto, a teologia popular ou, pelo menos, a teologia de Richard Baxter nos querem fazer crer que Deus é misericordioso mas que ele também se alegra com a tortura eterna dos ímpios nas chamas do inferno.

Eu não questiono a idéia de inferno, que a Bíblia descreve como um “lago de fogo” (Apocalipse 19:20; 20:14). A Bíblia é muito clara sobre o fato de que Deus punirá os ímpios com fogo. No entanto, eu simplesmente não posso imaginar um Deus misericordioso dando contínua imortalidade aos ímpios para que assim eles possam gritar de dor por toda a eternidade.

O popular Deus do inferno nunca cessa. Ele mantém os seres humanos artificialmente vivos, para que possam continuar sofrendo ao longo dos séculos sem fim da eternidade. Essa visão de Deus é simplesmente além da minha compreensão. É uma total contradição do Deus misericordioso e justo que eu leio a respeito na Bíblia.

Sim, Deus está no comando do inferno. Mas ele vai durar por um tempo muito curto, e então tudo estará terminado. Deus criará “um novo céu e uma nova terra” (Apocalipse 21:1), em que aqueles que confiaram nEle e O obedeceram irão viver ao longo dos séculos sem fim da eternidade. E eles não terão que se perguntar se o seu Deus misericordioso está rindo da dor indescritível que os maus estariam sofrendo em alguma parte remota do universo por recusar aliviá-los do seu sofrimento.

FONTE:  Revista Signs of The Times, edição de julho/2011. Tradução do Blog Sétimo Dia https://setimodia.wordpress.com/


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO: A ÚNICA ESPERANÇA PARA NOSSO PLANETA


Marvin Moore*

Devemos estreitar nosso relacionamento com Jesus, em face de Seu iminente retorno à Terra.

Certo dia, um pai disse a seu filho de 5 anos de idade que estava partindo para uma longa viagem: "Mas eu voltarei".

"Como saberei que o senhor estará voltando?" o pequeno garoto perguntou.

O pai pensou por alguns momentos e então disse: "Quando você vir folhas por todo o quintal, pode ter certeza de que estarei perto de voltar."

Todos os dias, depois que seu pai partiu, o pequeno garoto corria para fora e verificava se o chão estava coberto de folhas. O outono aproximou-se, as folhas das árvores mudaram de cor, de vermelho a amarelo, e uma noite um forte vento soprou. Na manhã seguinte, o garoto fez seu passeio habitual no quintal, e desta vez ele o achou coberto de folhas. "Papai está voltando para casa!" ele gritava e corria, chutando as folhas. "Papai está voltando para casa!".

A Bíblia nos conta uma história semelhante. Aconteceu durante a última Ceia. Jesus sabia que Seu tempo com os discípulos estava próximo do final. Logo ele morreria numa cruz e poucos dias depois Ele faria uma "longa viagem" para o Céu.

"Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco... para onde Eu vou não podeis vós ir" (João 13:33).

Os discípulos sentiram-se profundamente tristes. "Senhor, para onde vais?" perguntou Pedro. "Por que não posso seguir-Te agora?" (versos 36 e 37).

Jesus respondeu com aquelas tão conhecidas palavras: "Não se turbe o vosso coração... se Eu for... virei outra vez" (João 14:1-3).

A segunda vinda de Cristo é a bendita esperança dos cristãos. Para compreendê-la completamente, precisamos conhecer algo sobre o plano original de Deus para o nosso mundo, e o conflito entre o bem e o mal, que tem se estendido por seis mil anos.

O plano original de Deus

Deus planejava que Adão, Eva e todos os seus descendentes fossem sumamente felizes. Houvesse Seu plano se realizado, e a palavra tristeza nunca teria feito parte do dicionário. Nenhuma lágrima teria sido derramada em uma tumba. Nenhuma criança teria sido atropelada por um carro. Nenhuma mãe veria seu filho com uma doença terminal.

Essas tragédias acontecem porque um inimigo invadiu o lar feliz de Adão e Eva e eles cederam à tentação. Imediatamente seus corações foram transformados, e uma natureza cruel e pecaminosa distorceu a vida de cada ser humano, daquele dia até agora. A própria criação - o mundo da natureza - "geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rom. 8:22).

Não há esperança? Não há escape desse destino terrível? Sim, há esperança! Deus prometeu a Eva que Jesus, a sua semente, feriria a cabeça de Satanás (ver Gênesis 3:15). Satanás seria destruído e todos os fiéis seguidores de Jesus seriam restaurados ao mundo perfeito que Ele originalmente planejara para eles.

E por isso que a vinda de Jesus é tão importante. Será quando Jesus cumprirá Sua promessa a Eva. Ele removerá Seu povo deste mundo arruinado, onde têm permanecido por seis mil anos, e os restabelecerá naquele lar perfeito.

Esperando ansiosamente

É de se admirar que o povo de Deus, desde o tempo de Adão e Eva até o presente, tenha esperado tão ansiosamente pela segunda vinda de Jesus? Enoque disse: "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos" (Judas 14). Abraão esperou pela "cidade que tem fundamentos, da qual o Artífice e Construtor é Deus" (Heb. 11:10).

Isaías profetizou de "novos céus e nova terra", onde "de um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar" perante Deus (Isa. 66:22 e 23).

João disse: "Ora vem, Senhor Jesus" (Apoc. 22:20), e o fiel povo de Deus através da história cristã tem dito: "Até quando, Senhor, quanto tempo mais teremos que esperar pela Tua vinda?" (Apoc. 6:10).

Os Adventistas do Sétimo Dia, juntamente com muitos outros cristãos, creem que vivemos muito próximos do tempo em que essa "bendita esperança" se concretizará. Isto nos dá grande alegria - sabermos que em breve as tristezas pelas quais passamos nesta vida, terão seu fim.

A segunda vinda de Jesus, além de ser o tempo em que Deus levará Seu povo para o Céu, será também o tempo em que o nosso mundo será tirado do domínio de Satanás e devolvido ao seu legítimo Soberano, Jesus Cristo.

Milhares de anos atrás, Satanás estabeleceu um quartel-general na Terra, do qual ele esperava lançar seus ataques contra Deus por todo o Universo. Naturalmente, ele não quer que seu domínio sobre o mundo lhe seja tirado, e fará tudo que estiver ao seu alcance para evitar que isso aconteça.

O livro de Apocalipse, especialmente da metade para o final, dá uma descrição detalhada do esforço supremo de Satanás para interferir com a segunda vinda de Cristo. O povo de Deus que viver na Terra naquele tempo, estará profundamente envolvido nesse conflito. "E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao resto de sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus" (Apoc. 12:17).

Houve guerra no Céu, quando a rebelião começou. Naquele tempo eram Miguel e Seus anjos contra Satanás e seus anjos. Porém, na batalha final da Terra, pouco antes de Jesus voltar, serão Cristo e Seus leais seguidores na Terra, contra Satanás e seus seguidores humanos. Satanás e seus aliados terão controle do mundo inteiro, e usarão sua posição superior para atacar o povo de Deus. "E foi-lhe permitido [a primeira besta de Apocalipse 13] fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua e nação" (Apoc. 13:7).

No entanto, os habitantes ímpios da Terra farão muito mais do que atacar o povo de Deus. Na verdade, seres humanos insignificantes lutarão contra o Deus do Universo. Apocalipse 17:14 diz que os dez reis de Apocalipse 17 "combaterão contra o Cordeiro". Em visão João viu "a besta e os reis da Terra e os seus exércitos reunidos, para fazerem guerra Àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao Seu exército" (Apoc. 19:19).

Creio que os líderes políticos e militares do mundo se unirão a Satanás em uma tentativa desesperada de impedir que Jesus volte a este mundo. Dois fatores indicam isso.

Primeiro, são as armas poderosas de destruição em massa, que os líderes militares da Terra têm à sua disposição hoje. Eles podem lisonjear-se de que podem disparar seus mísseis no espaço e impedir que Cristo e Seus anjos - uma "raça alienígena" - invadam o mundo.

Segundo, são os demônios operadores de prodígios que os líderes militares da Terra terão ao seu lado. Esses demônios podem fazer cair fogo do céu e realizar muitos outros sinais e maravilhas. Em aliança com esses seres poderosos, os generais do mundo pensarão que podem fazer qualquer coisa (Apoc. 16:13 e 14).

Esta será a batalha do Armagedom, que deixa o mundo em estado de perplexidade desde que João escreveu o Apocalipse. A batalha do Armagedom está estreitamente associada com a segunda vinda de Cristo. De fato, é a segunda vinda de Cristo. Apocalipse 19:11-16 descreve Cristo em Sua vinda, como um general montado em um cavalo branco, vindo do Céu, seguido por um exército também montado em cavalos brancos. E os versos 17-21 descrevem as forças militares do mundo unidas, com as quais ele travará batalha. Apocalipse 19 descreve a segunda vinda de Cristo como uma guerra entre os exércitos do Céu e da Terra. E o exército do Céu vencerá (versos 20 e 21).

Jesus também usará armas físicas em Seu contra-ataque. Suas armas serão as forças da Natureza: terremotos, granizo, trovões, montanhas em colapso e ilhas que desaparecem no mar. A descrição está muito além da compreensão. Pense no que teria acontecido ao mundo se os Estados Unidos e a então União Soviética tivessem acionado suas ogivas atômicas de combate, um contra o outro, durante o apogeu da guerra fria. Por que deveria o mundo sair-se bem quando o Deus do Universo trava a batalha? Não é de se admirar que Jeremias descreve os resultados dessa guerra com a Terra escura, assolada, vazia, destituída de vida humana, seus campos um deserto e suas cidades em ruínas (ver Jer. 4:23-26).

Ainda assim, você e eu não precisamos temer ao antevermos essa guerra, pois Ele nos cobrirá com Suas penas, e sob Suas asas acharemos refúgio. "Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido", diz o salmista. Não seremos atingidos, nenhum mal nos sobrevirá, pois aos Seus anjos dará ordens para nos guardarem em todos os nossos caminhos (Salmo 91:4-11).

Eis como Ellen White descreve o povo de Deus durante esse tempo: "Vi então os principais homens da Terra consultando entre si... V i um escrito... dando ordens para que se concedesse ao povo liberdade para, depois de certo tempo, matar os santos, a menos que estes renunciassem sua fé peculiar, ... Mas nesta hora de provação os santos estavam calmos e tranquilos, confiando em Deus e descansando em Sua promessa de que um meio de livramento lhes seria preparado." (Primeiros Escritos, p. 282 e 283; grifo acrescentado).

Não é tempo para fraquezas

Não quero dar a entender que o conflito final da Terra será como um piquenique em uma tarde de domingo. Esse não será um tempo para fraquezas espirituais. Somente aqueles que têm suas mentes fortalecidas com as verdades da Palavra de Deus, serão capazes de escapar dos enganos dos últimos dias, e somente aqueles que têm o espírito fortalecido com a fé na Palavra de Deus, sobreviverão às intensas pressões dos últimos dias.

Mas para os eleitos de Deus, esse será um tempo de provação e de alegria. Jesus disse que quando as multidões do mundo estiverem atemorizadas com os sinais do retorno de Cristo, você e eu nos rejubilaremos e levantaremos a cabeça, pois a nossa redenção estará próxima (ver Lucas 21:25-28).

Por que seremos capazes de enfrentar tudo isso? Porque estamos aprendendo a confiar nEle agora. Quando Jesus respondeu às perguntas dos discípulos sobre os sinais da Sua volta, Ele passou muito mais tempo dizendo-lhes que estivessem preparados do que lhes dizendo como realmente aconteceriam os eventos finais do mundo.

E o conselho final de Jesus foi este: devemos ter o óleo - um relacionamento com Ele através do Espírito Santo. Devemos usar os nossos talentos em Seu trabalho, e através de Sua graça transformadora, devemos manter nosso coração repleto de amor pelos outros.

Será muito tarde para obter esse relacionamento com Jesus quando a tempestade começar. Devemos cultivar esse relacionamento agora, através do estudo da Bíblia, da oração, companheirismo e outras instruções espirituais que Deus nos proporcionou. Desenvolvemos um bom relacionamento com Deus, confiando nEle nos pequenos problemas que enfrentamos hoje; aprendendo a não reclamar quando a vida não corre da maneira como desejamos.

Espero a segunda vinda de Cristo com muita alegria. Será o evento mais traumático de toda a história da Terra, mas para você e para mim esse trauma será simplesmente o produto da angústia pela qual seremos introduzidos no lar eterno. Naquele tempo terrível, a segunda vinda de Cristo, como nunca antes, será a bem-aventurada esperança do povo de Deus.

E por isso que quando vejo os múltiplos sinais da Sua vinda, "corro pelo quintal", chutando as folhas e exclamando: "Papai logo voltará para me levar ao lar!"

*Marvin Moore -  Editor associado de livros da Pacific Press Publishing Association, Nampa, Idaho, EU A.

FONTE: Revista Adventista, Agosto 1993, p. 9 e 10.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

SÁBADO – O INDESTRUTÍVEL MONUMENTO COMEMORATIVO DA CRIAÇÃO E DA REDENÇÃO



Ricardo André

Os adventistas do sétimo dia são mundialmente conhecidos por, entre outras coisas, sustentar alguns ensinamentos bíblicos distintivos (que só eles creem e pregam), entre eles a guarda do sétimo dia da semana, o sábado, como dia de descanso e adoração ao Deus Criador. O nome “Igreja Adventista do Sétimo Dia” traduz essa convicção. O nome aponta para dois ensinamentos fundamentais da denominação: o segundo advento de Cristo e o sétimo dia (sábado). Uma parte do nome aponta para a redenção, e a outra parte do nome aponta para a criação. Esses dois ensinos fundamentais promovem a unidade e a comunhão entre eles. Com poucas exceções na cristandade, somente eles seguem a doutrina do sábado.

Embora nosso primeiro objetivo seja exaltar a Jesus e revelar ao mundo a Sua graça salvadora, o sábado é uma intrincada parte dessa mensagem cristocêntrica. Há base bíblica para a guarda do sábado? Qual é o seu o significado?  Por que o sábado é um dia especial?

Sábado, Memorial do poder criador de Deus

Há base bíblica para essa crença essencial adventista. Senão, vejamos: As Sagradas Escrituras revelam que ao final da criação em seis dias, Deus separou o sétimo dia, como o sábado do Senhor e colocou nele uma tríplice distinção para que fosse um indestrutível monumento comemorativo: “E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra, que Deus criara e fizera” (Gn 2:1-3). Gênesis deixa nítido que o próprio Deus colocou no sábado, o sétimo dia, três grandes distinções: 1) Ele descansou; 2) Ele santificou; 3) Ele descansou.

Descansou, não porque estivera cansado, pois a Bíblia afirma que Deus não se cansa (Is 28:10). Descansou para comemorar a criação e dar exemplo ao homem de que, todo aquele dia deveria ser de descanso e adoração ao Criador. Santificou ou tornou santo, separado entre os demais dias da semana, para der dedicado exclusivamente a Deus. Abençoou-o, tornando-o bendito e feliz. “A bênção sobre o sétimo dia subentendia que, dessa forma, ele era declarado objeto especial do favor divino e um dia que traria bênçãos a Suas criaturas” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 1, p. 203). Esses três atos distintivos que estabeleceram o sábado como dom especial de Deus para a humanidade mostram claramente que ele é diferente dos outros dias da semana.  Assim o sábado deve ser para nós um dia alegre, de feliz comunhão com Deus, agradável e cheio de amor. Ele permite que experimentemos a realidade do paraíso na Terra e confirmemos a criação de Deus em seis dias.

Uma das verdades mais profundamente arraigadas da Bíblia é que no jardim do Éden, em um mundo perfeito, criado por um Deus perfeito, o sétimo dia foi separado do restante da semana e santificado. É maravilhoso saber que o próprio Deus “descansou” no sétimo dia. Isso mostra a seriedade com que esse dia deve ser considerado, porque o próprio Deus descansou nele!

Ao descansar, abençoar e santificar esse dia, Deus também ordenou que todos O imitassem na observância do mesmo. Quando assim fizermos, estaremos reconhecendo que Deus é o Criador e O homenageando como tal. Deus nos ordena: “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra: Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: nele não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro tuas portas: Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êx 20:8-11, KJV). Portanto, cada sétimo dia é uma dia especial que Ele “abençoou e santificou”.

O Novo Testamento revela que Jesus e os apóstolos guardaram o sábado. A participação de Jesus nas reuniões de sábado na Sinagoga revela que Ele o apoiava como o dia de descanso e adoração (Lc 4:16, 31). Alguns de seus milagres foram feitos no sábado para ensinar a dimensão da cura (física e espiritual) que resulta da celebração do sábado (Lc 13:10-17). Os apóstolos e os primeiros cristãos entendiam que Jesus não havia abolido o sábado; eles também o guardavam e participavam da adoração nesse dia (At 13:14, 42, 44; 17:2; 18:1-4). Em seu desejo de seguir o exemplo de Jesus, os adventistas do sétimo dia, observam o sétimo dia, o sábado.

Lamentavelmente o inimigo de Deus, Satanás, induz os homens a desprezarem o mandamento do sábado, e o resultado é que existem homens e mulheres que negam a existência de Deus e buscam no evolucionismo a origem da vida. Chegando ao absurdo de admitir que os símios deram origem aos seres humanos. A escritora cristã, Ellen G. White, escreveu: “Tivesse sido o sábado universalmente guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência e culto, jamais tendo havido idólatra, ateu, ou incrédulo” (O Grande Conflito, p. 438).

Nesse mandamento, Deus declara que em seis dias criou os céus, ao mar e a Terra e tudo que nele há. Nada é obra do acaso, tudo foi criado por Ele.

O sábado é o dia reservado por Deus para que O encontremos e O adoremos. Para que observemos o desabrochar da flor e a frondosa árvore da mata. Para que paremos e ouçamos o canto dos passarinhos e contemplemos o cintilar das estrelas. Ao fazê-lo, espontaneamente brotará de nossos lábios um cântico de louvor ao Criador.

Sábado, memorial da Redenção

Outra bela dimensão do sábado é que ele é um sinal da nossa libertação do pecado. O sábado é o memorial de que Deus salvou Israel da escravidão egípcia para o descanso que prometeu na terra de Canaã (Dt 5:12-15). Apesar do fracasso de Israel em entrar plenamente nesse descanso devido à sua repetida desobediência e idolatria. Deus ainda promete que “resta um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9). Todo os que desejam entrar nesse repouso podem fazê-lo pela fé na salvação oferecida por Jesus. A observância do sábado simboliza esse repouso espiritual em Cristo e a confiança apenas em Seus méritos, e não em obras, para nos salvar do pecado e nos dar a vida eterna (Hb 4:10; Mt 11:28-30). Assim, ao contrário de qualquer outro mandamento, o sábado aponta para Jesus, não somente como Criador (Gên. 2:2; Col. 1:16), mas também como Redentor (Deut. 5:14 e 15).

A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 é um chamado para que "toda a nação, e tribo, e língua, e povo" (verso 6) adore "Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (verso 7). Essa linguagem faz uma alusão inconfundível ao mandamento do sábado, com sua referência à criação (Êx 20:8-11). O Deus da criação, que instituiu o sábado como memorial de Seu poder criador, deve ser adorado e reverenciado. Esta adoração envolve a observância do sábado, um memorial semanal dAquele que fez "o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas". Portanto, não podemos estar certos de nosso alto chamado a menos que espalhemos a bênção do sábado em todos os lugares.

Nas palavras de Ellen G. White, “Enquanto o fato de que Ele é o nosso Criador continuar a razão por que O devemos adorar, permanecerá o sábado como sinal e memória disto. (...) A guarda do sábado é um sinal de lealdade para com o verdadeiro Deus, ‘Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas’. Segue-se que a mensagem que ordena aos homens adorar a Deus e guardar Seus mandamentos, apelará especialmente para que observemos o quarto mandamento” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 437, 438).

Alguns afirmam que a observância do quarto mandamento é servidão legalista. Todos os que o observam, porém, conhecem a beleza, a alegria e a bênção que acompanham o sábado. Aqueles cuja primeira pergunta acerca do sábado é: "O que é proibido fazer?" jamais conheceram a experiência do sábado. Por quê? Porque aqueles que verdadeiramente guardam o sábado sabem que a questão fundamental não é sobre o que não podemos fazer mas sobre o que o Senhor permite que façamos nesse dia especial.

Na verdade, estamos livres no sábado para gastar 24 horas concentrando-nos somente nas coisas do Senhor, livres para deixarmos de lado todas as coisas terrenas, livres para nos regozijarmos no Senhor e em Sua bondade, sem que nenhuma coisa secular nos interrompa.

Nenhum outro mandamento nos prove uma interrupção semanal das coisas temporais de nossa existência. Nenhum outro mandamento abre a oportunidade para nos deleitarmos em Deus durante 24 horas, sem interrupções. Nenhum outro mandamento nos dá a liberdade de dizer: "Pertenço a Deus, primeiro pela criação e depois pela redenção, e por um dia inteiro vou me regozijar na minha criação e redenção."

Reparadores de brechas

As Escrituras nos admoestam a chamar "ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor" (Isa. 58:13). A palavra para "deleite" vem de uma raiz hebraica que significa "agradável", "delicado", ou "suave". Assim, o Senhor deseja que consideremos o sábado como um deleite. Ele não somente deseja que o consideremos como um prazer, mas que ensinemos outros a amá-lo também. No verso 12, o Senhor convida a Seu povo para serem reparadores de brechas: "Os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados, e levantarás os fundamentos de geração em geração; chamar-te-ão reparador de brechas, e restaurador de veredas com moradias. A brecha foi feita na lei, onde o quarto mandamento foi quebrado. E somos chamados para reparar a brecha. Em outras palavras, o remanescente fiel (Ap 12:17), o povo de Deus deve realizar a obra de engrandecer a lei de Deus, restaurando a verdadeira adoração ao Deus Criador nos termos do mandamento que ordena a observância do sábado como dia de repouso (Ap 14:6, 7), edificar os lugares antigamente assolados e levantar os fundamentos de geração a geração. Tanto a profecia de Isaías 58:12-14 como a de Apocalipse 14:6, 7 apontam para a restauração da observância do santo sábado. O verdadeiro sábado precisa ser restituído à sua legítima condição de santo dia de repouso.

O movimento adventista foi suscitado por Deus para, entre outras coisas, restaurar o verdadeiro dia de guarda, e dá ao mundo um testemunho semanal do poder criador de Deus. Isto implica não somente a proclamação da vigência do quarto mandamento, mas inclui também a responsabilidade de uma demonstração de como observá-lo na letra e no espírito. É o Remanescente o “restaurador de brechas”, no sentido de reavivar as verdades da Palavra de Deus enterradas por séculos de negligência.

“O sábado está sendo restaurado ao lugar de direito na lei de Deus e na vida das pessoas. Mas uma vez ensinam-se a homens e mulheres os caminhos do Senhor. Eles são convidados a entrar na cidade de Deus e a assumir seu lugar no templo vivo que está sendo construído (I Co 3:9-11, 16; Ef 2:20-22; 2 Tm 2:19; I Pe 2:4-9)” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 4, p. 326). A reforma do Sábado teve início nos primeiros dias do movimento adventista, e os pioneiros compreenderam a importância dessa mensagem. 

Diz Ellen White: "A brecha feita na lei quando o sábado foi mudado pelo homem, deve ser reparada. O remanescente de Deus, em pé diante do mundo como reformadores, deve mostrar que a lei de Deus é o fundamento de toda reforma perdurável, e que o sábado do quarto mandamento deve permanecer como memorial da criação, uma lembrança constante do poder de Deus." (Profetas e Reis, p. 646 e 647).

E nós podemos ser esses reparadores, não somente proclamando a verdade do sábado, mas - o que é mais importante - vivendo-a. Não somente devemos ser capazes de defender biblicamente o sábado, mas - através de nossa experiência - devemos ser capazes de testemunhar sobre o que o sábado significa para a nossa vida, um testemunho que os opositores não podem refutar. Sem dúvida, a observância do sábado nos faz diferentes. Há mais de 3.000 anos, o Senhor disse à nação de Israel: "... serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos" (Dt. 26:18). Ele, certamente, quer que o Israel espiritual seja "Seu povo peculiar" também. Se guardarmos "todos os Seus mandamentos" (especialmente o quarto) em um mundo em que os pós-modernistas os ignoram e em que os cristãos os alteraram para sua própria conveniência, seremos o povo peculiar que o Senhor deseja que sejamos.

O sábado é, fundamentalmente, um teste de lealdade para com Deus. Ellen White escreveu: "Todo aquele que se apega a uma aliança divina e eterna, feita e apresentada a nós como um sinal e marca do governo de Deus, liga-se à áurea corrente da obediência, da qual cada elo é uma promessa. Demonstra que considera a Palavra de Deus como estando acima da palavra de homens, e o amor de Deus como sendo preferível ao amor humano. Aqueles que se arrependem da transgressão e se voltam à lealdade, aceitando o sinal de Deus, mostram ser súditos fiéis, prontos a fazer a Sua vontade e a obedecerem os mandamentos. A verdadeira observância do sábado é o sinal de lealdade a Deus" (Comentário Bíblico Adventista, Comentários de Ellen G. White, vol. 7, p. 1097).

O sábado é, realmente um dia especial, proclamemo-lo eloquentemente como o monumento que Deus designou para memorial tanto da criação como da redenção! Estando entesourado no tempo, está disponível a todos, em todos os lugares, não importando riqueza, influência ou origem étnica.