Teologia

quinta-feira, 29 de junho de 2023

NOSSA VIDA NA “CAVERNA DE ADULÃO”: QUE ESPÉCIE DE INFLUÊNCIA EXERCEMOS?


 Ricardo André

1. Introdução

Nesse artigo vamos refletir sobre um episódio marcante na vida do rei Davi, descrito no livro de 1 Samuel, capítulo 22, versículos 1 e 2. Neste trecho, encontramos um exemplo inspirador de como é possível encontrar força e encorajamento mesmo em meio à adversidade. Vamos explorar juntos as lições que podemos extrair dessa passagem.

O texto diz: “Davi fugiu da cidade de Gate e foi para a caverna de Adulão. Quando seus irmãos e a família de seu pai souberam disso, foram até lá para encontrá-lo. Também juntaram-se a ele todos os que estavam em dificuldades, os endividados e os descontentes; e ele se tornou o líder deles. Havia cerca de quatrocentos homens com ele” (1 Samuel 22:1,2, NVI).

Antes de mergulharmos no texto, é importante entender o contexto em que Davi se encontrou. Após matar Golias, Davi foi convidado a ficar no palácio de Saul, onde aprendeu sobre governar o reino de Israel, incluindo a arte de guerrear. Anos depois, ele havia sido ungido por Samuel para ser o próximo rei de Israel, mas até então, Saul ainda ocupava o trono. Saul, sentindo-se ameaçado pela popularidade crescente de Davi, buscava matá-lo. Infelizmente, o ciúme de Saul levou Davi ao exílio. Ele encontrou refúgio em uma caverna chamada Adulão, onde se encontrou com uma companhia especial. Que situação mais triste, estar sendo perseguido, e ter que viver por algum tempo escondido dentro de uma caverna. É nesse ponto da vida de Davi que encontramos a história da passagem bíblica que queremos analisar.

2. A “caverna de Adulão” é uma realidade da existência humana

Como se vê, foi numa circunstância adversa que Davi vai se refugiar na caverna de Adulão, que ficava a “26 km a sudoeste de Jerusalém [...]. A cidade fica na extremidade oriental do vale de Elá, onde Davi enfrentou o gigante filisteu” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 601). Foi num momento de desânimo, em que sua vida encontrava-se em perigo que Davi foge para a caverna. Em nossas vidas, muitas vezes, depois de lutarmos e perseverarmos por muito tempo para alcançarmos nossos objetivos, nossas emoções nos desanimam e nos levam a entrar em cavernas. Na realidade, ninguém corre pra caverna pra dar um banquete ou para celebrar uma vitória. Corre pra fugir, pra se esconder, para sobreviver. Refugiar-se nas “cavernas da vida” tem sido uma experiência constante da existência humana, desde a entrada do pecado no mundo. Em alguns momentos da nossa vida, certamente poderemos esperar situações semelhantes como esta de Davi. Não que tenhamos que fugir fisicamente de alguém e nos escondermos para preservarmos nossa vida, como Davi o fez, mas nos encontramos com nosso coração triste, com tantos problemas e olhamos para o que está a nossa volta e não sabemos como sair daquela situação, que direção seguir, parece que estamos presos aos nossos próprios pensamentos e nada que possa nos ajudar a sair daquele momento parece acontecer. O tempo vai passando e não acontece aparentemente nada. Não adianta querermos mascarar a situação e acharmos que tudo está bem e ficarmos disfarçando para as pessoas que convivem conosco, tentando sorrir, quando na realidade em nosso íntimo estamos muito tristes e desanimados.

Muitas vezes somos confrontados com a perda de um emprego, não conseguimos fazer a faculdade do sonho, o fim do casamento, conflito com os filhos, sonhos se desfazem, crise financeira, a perda de um ente querido ceifado pela morte, um diagnóstico de uma doença grave e a morte nos ameaça. Nessas ocasiões, muitas vezes, os amigos e irmãos de fé desaparecem. Então, somos tomados pelo sentimento de derrota quando vemos as coisas conspirarem contra nós. Em nossa desorientação e perplexidade, fugimos para a “caverna de Adulão”. Mas não dá pra ficar lá pra sempre. É preciso desejar o tempo de sair. Na caverna a gente espera, mas se a espera não for alimentada por um sentimento de reação, a morte é iminente.

3. Sair da caverna é preciso

Diante das dificuldades da vida às vezes nos escondemos em algumas cavernas: decepção, desilusão, desesperança, tristeza, falta de perspectiva, desânimo e especialmente falta de direção. Caro amigo leitor, em que caverna você está?  A caverna do desânimo? A caverna do rancor? A caverna da falta de perdão? A caverna da tristeza? A caverna das frustrações? A caverna do medo? A caverna da incredulidade? Realmente não sei em que caverna você está, mas uma coisa eu sei: você pode sair dessa caverna, do mesmo jeito que Davi saiu. Ele mesmo conta como lidou com as circunstâncias difíceis: “Meu coração está firme, ó Deus [...], cantarei ao som de instrumentos! Acorde, minha alma! Acordem, harpa e lira! Vou despertar a alvorada! Eu te louvarei, ó Senhor, entre as nações; cantarei teus louvores entre os povos. Pois o teu amor é tão grande que alcança os céus; a tua fidelidade vai até às nuvens” (Salmos 57:7-10, NVI).

Ao longo de sua jornada, Davi nunca perdeu de vista a importância de buscar refúgio em Deus. Ele entendeu que, apesar das circunstâncias adversas, Deus era o seu verdadeiro refúgio e fortaleza. Em meio à confusão e ao perigo, Davi encontrou força e coragem na presença de Deus. Ele confiou que, mesmo nas situações mais difíceis, Deus estava com ele.

É importante que se entenda que, a “caverna” faz parte da rota, quase que uma parada obrigatória. Árduo, árido, difícil, quente, frio, perigoso e seco. Porém, não é o seu destino, é só parte do caminho. Não é lá o seu repouso e você só deve estar lá de passagem. Em Apocalipse 12:11 encontramos o segredo para encontrarmos força para sairmos da caverna, que diz: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (NVI). “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro”. Esta frase é muito significativa. As Sagradas Escrituras estão afirmando aqui que os cristãos do passado, que sofreram perseguição, injúria e morte, venceram não pela própria força, mas “por causa do sangue do Cordeiro”. Ou seja, “com base no sangue” de Jesus vertido na cruz do Calvário. Ele venceu o pecado e Satanás na cruz e continua triunfando hoje e o vencerá definitivamente no fim da história. Pelo poder transformador do sangue de Jesus podemos também vencer a tentação, o pecado, superar a dor das perdas, das desilusões, frustrações, os infortúnios da vida, enfim. E ainda, por viver Jesus em nós, tornamo-nos testemunhas vivas para Ele. Em outras palavras, os filhos de Deus vencem por causa da vitória conquistada por Cristo no Calvário.

Portanto, nosso grande segredo para vencer é apegar-nos a Cristo. Sim, na hora da crise, da angústia e da dor; quando tudo parece estar se desmoronando, quando tudo falha, é hora de buscarmos a Deus; é hora de nos apegarmos, pela fé, à mão de Jesus para superarmos os problemas e encontrar novos significados para eles. Quando tudo falha, quando nossa vida está um verdadeiro farrapo, não devemos desistir, pois temos a promessa da presença de Deus, motivando-nos, inspirando-nos, concedendo-nos poder. Devemos continuar até alcançar o lugar que Deus designou para nós. Lá encontraremos Jesus, o maior exemplo de resiliência e resistência ante o sofrimento. Diz a Bíblia a respeito dEle: “[...] Ele não deixou que a cruz fizesse com que ele desistisse. Pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz e agora está sentado do lado direito do trono de Deus” (Hb 12:2, NTLH).

Ainda que não consigamos fazer a faculdade do sonho, o emprego tão almejado, a restauração do nosso casamento, a cura de uma doença crônica, devemos permanecer fiel, confiando que os mesmos braços que foram pregados na cruz por nós em breve se estenderão para dar-nos as boas-vindas no Céu, concedendo-nos a herança imortal.

4. Os seguidores de Davi na Caverna de Adulão

Agora, quero chamar a atenção de todos para as pessoas que se reuniram em torno de Davi: todos os que estavam em dificuldades, os que tinham dívidas, todos os descontentes. Note que, quando Davi escapou para a caverna, ele atraiu o aflito e o descontente, mas pelo exemplo da dependência de Deus, ele transformou seus homens em efetivos guerreiros – e líderes. Davi, mesmo enfrentando a tentação e vivendo em uma caverna, não se entrega ao desespero. Em vez disso, ele assumiu a liderança e se tornou um capitão para aqueles homens. Ele transformou aquele grupo de pessoas desesperadas em um exército de valentes guerreiros. Davi inspirou confiança e encorajou seus companheiros a não desistirem diante das dificuldades.

Quando Davi subiu ao trono, eles estavam preparados para assumir a liderança da nação. “Quando disseram a Davi que os filisteus estavam atacando a cidade de Queila e saqueando as eiras, ele perguntou ao Senhor: "Devo atacar esses filisteus?" O Senhor lhe respondeu: "Vá, ataque os filisteus e liberte Queila". Os soldados de Davi, porém, lhe disseram: "Aqui em Judá estamos com medo. Quanto mais, então, se formos a Queila lutar contra as tropas dos filisteus!" Davi consultou o Senhor novamente. "Levante-se", disse o Senhor, "vá à cidade de Queila, pois estou entregando os filisteus em suas mãos". Então Davi e seus homens foram a Queila, combateram os filisteus e se apoderaram de seus rebanhos, impondo-lhes grande derrota e libertando o povo de Queila” (1Sm 23:1-5, NVI).

A força e o valor daqueles que seguiram Davi à caverna de Adulão continuaram. Eles prosseguiram conquistando as nações de Canaã, aniquilando os gesuritas, gersitas e os amalequitas. Eles também foram bem-sucedidos ao escaparem do rei Saul. “Davi permaneceu nas fortalezas do deserto e nas colinas do deserto de Zife. Dia após dia, Saul o procurava, mas Deus não entregou Davi em suas mãos” (1Sm 23:14, NVI).

No decorrer da história, constatamos que o grupo de Davi aumenta de 400 para 600 pessoas (1Sm 23:13).

Na caverna, Davi se esconde para fugir de Saul, mas também é lá que ele forma seu poderoso exército. Soldados fortes e treinados? Não: homens amargurados, oprimidos e endividados, mas em vez de esperarem a morte, decidiram usar seu tempo lá dentro para se fortalecerem. Sim, fugindo dos seus opressores, escondidos de seus problemas, se esquivando de lutas antigas e se preparando para lutas novas. Os homens que saíram de lá, não são mais um bando de derrotados fugitivos, mas um exército de valentes. Eu não conheço mais nenhum exército tão exaltado na Bíblia como o de Davi. Tudo começou na caverna, mas não é lá que as coisas devem terminar. Um reino está a sua espera.

5. Duas perguntas de capital importância

A experiência de Davi nos confronta com duas perguntas: que tipo de pessoas atraímos? O que acontece com essas pessoas quando se associam a nós?

Olhe para a sua vida. Pense nas pessoas que vivem ao seu redor como amigos ou colegas de trabalho. Que espécie de pessoas são? São realizadoras e visionárias? Ou são descontentes e insatisfeitas? Você já reparou que as pessoas tendem a nos julgar não somente pelos amigos que escolhemos, mas também pelas pessoas que atraímos como colegas ou mesmo pela escolha de empregados?

Nessa primeira questão há, implicitamente, outra: Que tipo de pessoas somos? Nunca vamos atrair os otimistas se somos sombrios e pessimistas. Nunca vamos atrair os visionários se não vemos esperança. Nunca captaremos a imaginação e o entusiasmo das pessoas ao nosso redor se ignoramos as oportunidades e nos concentramos em nossos problemas.

Então, há uma segunda pergunta: O que acontece com as pessoas que se associam conosco? Nossos pais sempre nos dizem para sermos cuidadosos ao escolhermos amigos por causa da influência deles sobre nós. Mas a história de Davi também nos desafia a pensar sobre como influenciamos as pessoas. Vemos nessa história que os aflitos e os descontentes não precisam permanecer em seu descontentamento! Podemos influenciá-los. Algumas vezes, pergunto-me se damos tão pouca atenção ao que se refere à influência das associações que estabelecemos. Se tal como é sugerido pelo apóstolo Paulo (2Co 3:18), tornamo-nos como as coisas que admiramos, então influenciaremos aqueles que olham para nós!

Sobre isso, a escritora cristã Ellen G. White afirma: “Se não estamos unidos a Cristo, desperdiçamos tudo. Todos exercemos uma influência, e essa influência conta sobre o destino de outros, para o seu bem presente e futuro ou para a perda de sua vida eterna” (Testemunhos Para a Igreja. v. 3, p. 528).

Ela ainda afirmou: “Todo o ato de nossa vida afeta a outros para bem ou para mal. Nossa influência tende a elevar ou a rebaixar; ela é experimentada, posta em prática e, em maior ou menor escala, reproduzida por outros. Caso por nosso bom exemplo, ajudemos outros no desenvolvimento de bons princípios, damos lhes poder para fazer o bem. Por sua vez, eles exercem a mesma influência benéfica sobre outros, e assim centenas e milhares são afetados por nossa inconsciente influência” (Testemunhos Para a Igreja. v. 2, p. 133).

São o nosso otimismo, nossa visão, imaginação e fé contagiosos? As pessoas que se associam conosco são mais dependentes do Senhor Jesus ou mais indiferentes com as Suas exigências para nós? Estão mais descansadas em Sua bondade e graça? Estão mais determinadas a cumprir as Suas ordenanças? Estão mais ávidas para edificar o Seu reino?

Ainda sobre a poderosa influência que exercemos sobre as pessoas, Ellen G. White escreveu: “Você pode nunca saber o resultado de sua influência do dia a dia, mas tenha a certeza de que ela é exercida para o bem ou para o mal [...]. Jogue uma pedrinha no lago e uma onda está formada, e outra e outra; e como elas aumentam, o círculo se alarga até que elas alcançam a margem. Assim é a nossa influência, embora aparentemente insignificante, pode continuar a se estender para além do nosso conhecimento ou controle” (Review and Herald (24 de Janeiro de 1882).

Que tipo de pessoas atraímos? O que acontece a elas quando se associam a nós?

6. Conclusão

Desertos e cavernas fazem parte do aperfeiçoamento da nossa vida cristã. Mas de nada vale a passagem por lá se não for o lugar do seu encontro com Deus. Podemos fugir da nossa dor, nos esconder dos nossos problemas, mas não escapamos dos olhos do Pai e nem do seu amor. Na caverna Deus te acha, no deserto Ele te vê e te sustenta. Sim, Ele entende que existe um tempo pra você se recompor, mas quando esse tempo chegar ao fim e ele te chamar pra fora, saia. Quando a caminhada no deserto chegar ao fim, celebre.

Assim como Davi enfrentou dificuldades imensas na caverna de Adulão e   encontrou uma comunidade de apoio, pessoas que compartilhavam de suas lutas e o incentivavam em seu propósito, é essencial buscar a comunhão com outros cristãos durante as adversidades. Encontre uma igreja ou grupo de apoio onde possa compartilhar suas lutas e encontrar encorajamento mútuo.

Mesmo quando estamos passando por momentos difíceis, podemos exercer uma influência positiva na vida das pessoas ao nosso redor. Não se deixe abater pela adversidade, mas inspire outros a perseverar e confiar em Deus.

Não importa quão grande seja a adversidade que enfrentamos, nunca devemos esquecer de buscar refúgio em Deus. Ele é o nosso abrigo seguro é a nossa fonte de força e coragem (Sl 46:1). Confie em Sua fidelidade e entregue suas preocupações e medos a Ele.

Caro amigo leitor, assim como Davi encontrou força na caverna de Adulão, podemos encontrar encorajamento e esperança nas dificuldades difíceis que enfrentamos. Lembremo-nos de que Deus está conosco em todas as circunstâncias e que Ele pode transformar nossas adversidades em oportunidades de crescimento e testemunho. Que o exemplo de Davi nos inspira a buscar comunhão, praticar liderança e buscar refúgio em Deus, encontrando força na adversidade. Ele está sempre pronto para te ajudar, te libertar da caverna da tristeza, da decepção, das angústias e ansiedades desta vida e te dar uma direção, uma nova vida, uma esperança que você nem imagina acontecer!

Confie a tua vida, o teu clamor, nas mãos de Deus que pode certamente te ajudar e dar a direção que você precisa seguir! Que Deus nos abençoe e nos capacite a enfrentar os desafios da vida com fé e coragem!

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de junho de 2023

SOLUÇÃO PROBLEMÁTICA

Gary Tolbert

O divórcio e tudo o que é decorrente dele, não raro, são experiências mais destrutivas e angustiosas do que os problemas conjugais que o motivaram

Deus instituiu o casamento com o objetivo de prover amizade, companheirismo, apoio e amor para nossa vida. “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tomando-se os dois uma só carne.” (Gên. 2:24). Lamentavelmente, algumas pessoas têm sofrido angústia e perda no casamento. O amor que deveria gerar poder e vida no relacionamento conjugal nem sempre é suficiente para conservar o casamento vivo.

Às vezes alguns chegam à conclusão de que não podem mais viver com o respectivo cônjuge. Podem até continuar se amando, mas acham impossível continuar vivendo juntos. A grande pergunta é: seria o divórcio a solução?

A opinião bíblica

Em Deuteronômio 24:1, lemos, entre outras coisas, que um homem pode separar-se da esposa se achar “coisa indecente nela”. Porém, o que seria essa “coisa indecente”? Na tentativa de responder essa pergunta, existem duas escolas de pensamento. A escola de Rabi Shammai defende o pensamento de que a frase se refere a pecado sexual. Para Rabi Hillel, a frase diz respeito a qualquer coisa que o esposo não aprecie na esposa, como até o fato de ela ter queimado a comida.

O que disse Jesus? Sua resposta está em Mateus 19:4-9. É bom lembrar que Ele não a começa com a ideia presente em Deuteronômio, mas com a criação. “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.” (Mat. 19:4-6).

Então os fariseus contestaram: “Por que mandou, então, Moisés dar carta de divórcio e repudiar?” (Mat. 19:7). Ao que Jesus respondeu: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não foi assim desde o princípio. Eu, porém, vos digo: Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério.” (Mat. 19:8 e 9).

É interessante notar a tendência da questão levantada pelos fariseus. Eles usaram a palavra “mandou” para descreverem a abordagem de Moisés sobre o assunto. Mas Jesus contrapôs o uso dessa palavra com o termo “permitiu”. De acordo com o Mestre, o divórcio foi permitido por causa da dureza do coração das pessoas. Mas, no verso nove, Ele afirma que a única base para divórcio é o adultério. Primeiramente, o Senhor mostrou o ideal para o casamento. Depois, a exceção. Frequentemente estamos enfatizando a exceção e esquecendo o ideal realçado pelo Mestre.

Atualmente, muitas pessoas nem querem considerar o ideal. Em muitos casos, por qualquer razão elas desejam o divórcio. Parece haver pouca disposição para exercitarem o que é básico para qualquer relacionamento duradouro: a paciência. Se os casais desenvolvessem tal virtude em favor do relacionamento, ao invés de gastar energia no processo de um divórcio, haveria muito menos separações.

O pastor e colunista cristão George Crane conta de uma senhora que o procurou em seu escritório, cheia de ira contra o esposo. “Eu não quero apenas me separar dele. Quero fazer isso já. Quero fazê-lo sofrer tanto quanto ele o fez a mim”, disse ela.

O Dr. Crane sugeriu então à mulher que ela voltasse para casa e tentasse agir como se amasse o marido. E aconselhou: “Diga-lhe o quanto ele significa para você. Elogie-o por algum traço característico agradável. Seja o mais bondosa e generosa possível. Não poupe esforços para agradá-lo. Faça-o crer que você o ama. Depois de convencê-lo de seu amor eterno e de que você não pode viver sem ele, jogue a bomba. Peça o divórcio. Isso realmente o fará sofrer.”

Com um brilho de vingança nos olhos, ela sorriu e exclamou: “Maravilhoso! Fantástico!” E saiu para cumprir a tarefa. Durante dois meses, ela demonstrou amor, bondade, esteve pronta para ouvir e partilhou. Como nunca mais voltasse ao escritório, o Dr. Crane telefonou-lhe: “E então? Já estão prontos para o divórcio?” A mulher respondeu: “Que divórcio? Não vamos nos separar nunca. Descobri que realmente amo o meu esposo.”

Estranho como isso possa parecer a muitas mentes contemporâneas, a atitude da mulher mudou seus sentimentos. A habilidade para amar é desenvolvida não tanto através de promessas fervorosas como por ações repetidas.

Não surpreende que Deus não aprecie o divórcio. Falando de seu relacionamento com Israel, a Bíblia assegura: “Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio…” (Mal. 2:16).

Abandono e abuso

As pessoas geralmente apresentam duas outras razões para o divórcio; e garantem que elas são bíblicas.

A primeira razão é o abandono. Paulo fala a respeito disso: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé, e é pior do que o descrente.” (I Tim. 5:8).

“Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz.” (I Cor. 7:12-15).

Juntando essas passagens, alguns indivíduos concluem que se uma pessoa abandona ou negligencia seriamente sua família, é considerada um descrente. O cônjuge abandonado, tal como o descrente, estaria livre para divorciar e casar de novo.

Na verdade, há muitos tipos de abandono. Mas esquecer coisas importantes não é abandono. Falhar nos negócios ou na educação dos filhos, nem sempre significa abandono. Abandono é negligenciar seriamente a família. É mais que estar muito ocupado com outras coisas, ou ser irresponsável. É negligenciar e, acima de tudo, não estar presente. É desistir de sustentar a família.

Outra razão apresentada para justificar o divórcio e o novo casamento é o abuso. Estamos pensando no abuso físico, que poderia transcender o mau tratamento sexual. O cônjuge praticante do abuso físico em sua família está longe de demonstrar um comportamento cristão digno. Pelo contrário, revela falta de amor e da presença do Espírito Santo na vida.

Nos dias do Antigo Testamento, havia a lei de retaliação: “Quem matar um animal restituirá outro; quem matar um homem será morto. Uma e a mesma lei havereis, assim para o estrangeiro como para o natural; pois Eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lev. 24:21 e 22).

É interessante que Jesus explicou essa lei de modo diferente: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra” (Mat. 5:38 e 39).

Quando uma pessoa vive com o abusador, ela pode ser compelida a voltar a outra face muitas vezes. Mas isso pode se tomar mortalmente perigoso. Porventura estava Jesus sugerindo que alguém, vítima de abuso no casamento, arriscasse a sua vida ao dar a outra face para abusos posteriores? Não penso que Cristo tinha isso em mente. Ele estava falando sobre os abusos políticos sofridos pelo povo em Seus dias. Os romanos, por exemplo, pareciam ter prazer em tratar abusivamente os judeus. Jesus está dizendo que em tais circunstâncias, os judeus deviam tratar os romanos com bondade. Com isso, poderia impressionar positivamente o abusador, levando-o a dispensar melhor tratamento.

Existem abusos físicos, sexuais, emocionais, psicológicos, mentais e verbais. Há mesmo exemplos legítimos de abuso espiritual praticados por algumas igrejas e seus líderes.

Mas, a questão permanece: É o abuso razão para divórcio e novo casamento? Se um cônjuge é abusivo, deveria o parceiro concordar em viver junto? Manter o relacionamento é mais importante do que livrar-se de contínuo abuso? Ninguém necessita expor-se ao abuso. Afinal, existe ajuda especializada disponível na igreja e fora dela, embora ela não tenha ainda um padrão definitivo sobre abuso e sua relação com casamento, divórcio e novas núpcias.

Quando o casamento vacila

O divórcio é uma experiência profundamente dolorosa. As pessoas que o consideram, não raro, têm pouca ideia das dificuldades que o envolvem. É visto como uma solução relativamente simples para a angústia experimentada no casamento. As taxas de divórcio são duas vezes mais altas entre os que contraíram um segundo casamento; e, a partir daí, elas crescem.

Em si e de si mesmo, o divórcio e tudo o que é decorrente dele são frequentemente experiências mais destrutivas e angustiosas do que os problemas conjugais que o motivaram. Casais em processo de divórcio, especialmente aqueles que o realizam com rapidez, tendem a levar para o próximo casamento os problemas que precipitaram a separação. Há também as tentativas de reajustamento que deve ser iniciado quando existem crianças e outros familiares envolvidos na experiência.

Embora algumas pessoas vejam razões bíblicas para o divórcio, ele deve ser evitado por todos os meios. Mesmo quando há um adultério, o casamento pode ser salvo pelo perdão. E a vida pode continuar com maior grau de satisfação do que a que é procurada no divórcio.

O conselheiro matrimonial Lindsay Curts costuma dar aos seus clientes um cartão contendo uma lista de sete sinais de perigo do casamento:

1. Abandono mútuo da cortesia e polidez.

2. Preocupação crescente dos casais em termos de “eu” ao invés de “nós”.

3. Falta de elogios mútuos.

4. Substituição da comunicação pelo silêncio obstinado.

5. Recusa ou indiferença em sentir e satisfazer as necessidades do outro cônjuge.

6. Falta de expressão do amor.

7. Falta de oração com o outro e pelo outro.

Tendo em vista enriquecer nosso próprio casamento bem como dos membros de nossas igrejas, precisamos melhorar nossa percepção do que é saudável e do que é doentio em termos de relacionamento. Pela graça de Deus, podemos agir para intervir e ser uma efetiva ajuda para nós mesmos e para aqueles aos quais Deus nos chamou para servir.

 

FONTE: Revista Ministério, Jan-Fev 2002                   

RAPTO SECRETO


 Gerhald Pfandl

A Bíblia apresenta razoes pelas quais o arrebatamento da Igreja não pode ocorrer antes da segunda vinda de Cristo

A data é um dia qualquer no futuro próximo. O lugar, um Boeing 747 voando sobre o Atlântico em direção a Londres. A maioria dos passageiros está dormindo ou fazendo qualquer outra coisa. Subitamente, quase metade deles desaparece no ar. Primeiro um, depois outro, então os que restam gritam enquanto percebem que o assento ao seu lado está vazio. Apenas os pertences de mão foram deixados. Os passageiros que ficaram gritam e choram, assustados. Os pais estão freneticamente procurando os filhos que desapareceram no meio do voo.

Ficção científica? Não; essa é uma cena do primeiro volume de uma série intitulada Lefts Behind.1 Escritos pelos autores cristãos Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, esses livros têm permanecido no topo da lista de best-sellers em Nova York. Eles estão baseados na teoria de que sete anos antes do segundo advento de Cristo, os fiéis cristãos serão trasladados, arrebatados para o Céu. Por que exatamente sete anos? Porque uma das colunas dessa teoria é que a última das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24 ainda está no futuro.

As raízes

As origens da teoria do arrebatamento secreto podem ser traçadas a partir do tempo da Contrarreforma. Os reformadores protestantes no século 16 identificaram o papado como o anticristo da profecia.2 Muitos eruditos jesuítas assumiram a tarefa de defender o papado contra esse ataque. O cardeal Robert Bellarmina (1542-1621), diretor do Colégio Jesuíta em Roma, buscou invalidar o princípio “dia-ano” da profecia como prova dos 1.260 anos de supremacia papal.3

O jesuíta espanhol Francisco Ribera (1537-1591) projetou a profecia do anticristo no futuro (futurismo), e outro espanhol, Luiz de Alcazar (1554-1613), defendeu que essas profecias já tinham se cumprido no tempo do Império Romano (preterismo).

O preterismo de Alcazar logo foi adotado pelo calvinista Hugo Grotius (1583-1645) na Holanda, e tomou-se o método favorito para interpretação da profecia bíblica entre os teólogos liberais.

Ribera aplicou as profecias do anticristo ao futuro anticristo pessoal que aparecería no tempo do fim e continuaria no poder por três anos e meio.4 Por quase três séculos, o futurismo foi largamente confinado à Igreja Católica Romana, até que, em 1826, Samuel R. Maitland (1792-1866) bibliotecário do arcebispo de Canterbury, publicou um panfleto de 72 páginas5 no qual promoveu a idéia de Ribera de um futuro anticristo. Logo outros clérigos protestantes adotaram a idéia e começaram a propagá-la amplamente. Entre eles estava John Henry Newman, líder do movimento Oxford, que depois tornou-se cardeal católico romano, e Edward Irving, famoso ministro presbiteriano escocês.

Dispensacionalismo

O futurismo de Ribera estabeleceu o fundamento para o dispensacionalismo, o qual ensina que Deus tem negociado diferentemente com a humanidade durante diferentes eras da história bíblica. John Nelson Darby (1800-1882) é usualmente considerado o pai do dispensacionalismo. Ele foi um advogado e pastor anglicano que, em 1821, desiludido com a frouxidão espiritual da Igreja, juntou-se a outro grupo religioso chamado Movimento dos Irmãos. Darby possuía uma mente brilhante. Não somente pregava fluentemente em francês e alemão, mas também traduziu o Novo Testamento para o alemão, francês e inglês. Foi autor de mais de 50 livros e, em 1848, tomou-se o líder do movimento.

Darby desenvolveu uma elaborada filosofia da História na qual ele a dividiu em oito eras ou dispensações, “cada uma das quais contendo uma ordem diferente pela qual Deus operou Seu plano redentivo”.6 Além disso, Darby afirmava que a vinda de Cristo poderia ocorrer em dois estágios. O primeiro, um invisível “arrebatamento secreto” dos verdadeiros crentes fecharia o grande “parêntesis” ou a era da Igreja que começou quando os judeus rejeitaram a Cristo. Em seguida ao arrebatamento, as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel seriam literalmente cumpridas,7 levando à grande tribulação que terminaria na segunda vinda de Cristo em glória. Nesse tempo, o Senhor estabeleceria um reino literal de mil anos sobre a Terra, tendo Israel como centro.

A visão escatológica de Darby figurou proeminentemente no fundamentalismo americano nos anos 20, quando cristãos conservadores defenderam o cristianismo protestante contra os desafios do darwinismo e da teologia liberal. Hoje, a maioria dos cristãos evangélicos aceita as principais colunas da escatologia de Darby.

O conceito de um arrebatamento antes do período da tribulação final, na verdade, não foi invenção de Darby. “Peter Jurieu em seu livro Approaching Deliverance of the Church (1687) ensinou que Cristo poderia vir para arrebatar os santos e retomar ao Céu antes do Armagedom. Ele falou de um arrebatamento secreto antes da Sua vinda em glória e o julgamento do Armagedom. O Comentário do Novo Testamento de Philip Doderidge e o Comentário, também sobre o Novo Testamento, de John Gill, usaram o termo “rapto” e a ele se referiram como iminente. É claro que esses homens criam que esse acontecimento precederia a descida de Cristo à Terra e o tempo do julgamento. O propósito era preparar crentes do tempo do julgamento.”8

A doutrina do arrebatamento foi disseminada ao redor do mundo, primariamente através do Movimento dos Irmãos e da Bíblia de Referência de Scofield. No século 20, foi ensinada em escolas como o Instituto Moody e no Seminário Teológico de Dallas. O Futuro do Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, e muitos outros livros propagaram a teoria do arrebatamento secreto.

Investigando a teoria

A teoria do arrebatamento secreto está fundamentada em numerosas hipóteses. Devido às limitações de espaço, podemos investigar brevemente apenas duas delas: 1) que a septuagésima das setenta semanas proféticas de Daniel 9:24-27 ainda está no futuro; e 2) que a Igreja não passará pela grande tribulação.

1. A septuagésima semana de Daniel 9:27

Embora a ideia de que a septuagésima semana de Daniel esteja ainda no futuro tenha aparecido primeiro nos escritos de Irineu (séc. 2 a.D.),9 ela não desempenhou um papel significativo na teologia cristã até tomar-se uma coluna fundamental do dispensacionalismo no século 19. De acordo com essa visão, a 69a semana termina com a entrada triunfal; e a 70a “está separada das outras 69 por um período indefinido de tempo”.10 Por qual razão? Porque a era da Igreja é vista como um parêntesis no plano de Deus, isto é, o relógio profético parou no domingo da Páscoa e voltará a bater depois do arrebatamento, quando Deus assumir a condução dos negócios com Israel no futuro.

Entretanto, não há razão lógica ou exegética para separar a 70a semana das outras 69 semanas. Não existe nenhuma outra profecia de tempo nas Escrituras que tenha tal vácuo.11

O assunto nos versos 26 e 27 de Daniel 9 é o Messias, não o anticristo. De acordo com o verso padrão em Dan. 9:25 e 26, o príncipe da frase “o povo de um príncipe” pode também se referir a Jesus.12 Mas embora o príncipe, no verso 26, se refira a Tito (como tipo do anticristo) e não ao Messias, ele não é o assunto do verso 27 porque, gramaticalmente, está em uma posição subordinada a “o povo”. É o povo que destrói o santuário e a cidade; não o príncipe. O “ele” do verso 27 deve reportar ao Messias no início do verso 26. Em Dan. 9:27, nós lemos que “Ele fará firme aliança com muitos”.

A expressão hebraica “cortar uma aliança” não é usada nesse texto. Ao contrário, o Messias, diz o texto, fortalecerá ou fará o concerto prevalecer. A referência não é a um novo concerto, mas a um concerto já feito. Se fosse o anticristo o autor dessa aliança com muitos, o profeta deveria ter usado a linguagem apropriada, ou seja, “mudar a aliança”.

Ao contrário da teoria dispensacionalista, a 70a semana apresenta os pontos altos do ministério do Salvador.13 Durante a primeira metade da semana, Ele fortaleceu ou confirmou o concerto através de Seus ensinamentos. Um exemplo disso é o sermão da Montanha, onde Jesus tomou uma seleção dos Dez Mandamentos aprofundando e fortalecendo o seu significado. Então, no meio da semana, Ele levou ao fim o significado teológico do papel dos sacrifícios, ao entregar-Se para a salvação da raça humana. Dessa forma, o concerto eterno foi confirmado e ratificado pela morte de Jesus Cristo.

2. A Igreja e a grande tribulação

De acordo com o dispensacionalismo, a tribulação depois do arrebatamento da Igreja durará sete anos. Seu propósito é “levar à conversão uma multidão de judeus”14 que experimentarão o cumprimento da aliança de Israel. A base apresentada para apoiar esse conceito são as passagens de I Tess. 1:10; 5:9; Rom. 5:9; Apoc. 3:10.

Cuidadosa exegese dos textos nas cartas aos romanos e aos tessalonicenses indica que “a ira vindoura” refere-se à ira de Deus que destruirá o ímpio por ocasião da segunda vinda15 conforme indicado em II Tess. 1:7-10. Trata-se, portanto, da manifestação da ira de Deus no juízo final, não da tribulação precedente à vinda de Jesus. Paulo fala de esperarmos “dos Céus o Seu Filho, a quem Ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (I Tess. 1:10). É o segundo advento de Jesus, em cuja ocasião o arrebatamento terá lugar, que nos liberta da ira vindoura. Consequentemente, essa ira não pode vir antes do segundo advento.

A “hora da provação [peirasmos]” em Apoc. 3:10 poderia se referir à grande tribulação, mas o texto não diz que o povo de Deus não a experimentará. A frase “Eu te guardarei” origina-se de duas palavras gregas: téréo e ek. Téréo tem o significado de “velar”, “guardar”, “preservar”;16 e a preposição ek significa basicamente “de”,17 referindo-se à vinda de alguma coisa ou de alguém. Outra preposição grega – apo – expressa a ideia de separação, “longe de”.18

Em Sua oração sacerdotal, Jesus diz: “Não peço que os tires do [ek] mundo, e sim que os guardes [téréo] do [ek] mal” (João 17:15). Ao orar para que os discípulos fossem guardados do mal, Jesus não estava dizendo que Satanás não poderia tentá-los. Simplesmente pede que o Pai guarde os discípulos em segurança, vele sobre eles, impeça que o inimigo tenha vitória sobre eles.

Semelhantemente, em II Ped. 2:9, o apóstolo escreve: “É porque o Senhor sabe livrar da [ek] provação [peirasmos] os piedosos [...]” O apóstolo não está dizendo que o povo de Deus estará longe [apo] da tentação, mas que Ele os livrará dela [ek] em meio ao processo de ser tentado. Da mesma forma, o apóstolo João em Apoc. 3:10 não está dizendo que os crentes serão conservados longe da [apo] hora da provação, mas que eles estarão protegidos durante esse tempo.

Dessa maneira, nenhum dos textos usados para apoiar a ideia de que a Igreja não passará pela grande tribulação está realmente dizendo isso. Na verdade, as Escrituras ensinam claramente que os santos de Deus passarão pela grande tribulação (Mat. 24:9; Mar. 13:11; Luc. 21:12-19; Apoc. 13:1417).19

Tribulação e livramento

A teoria do arrebatamento secreto, de origem recente, tem capturado a imaginação de milhões de cristãos sinceros. Seu ensinamento central – que o cumprimento da 70a semana profética de Daniel está ainda no futuro – é baseado em pressuposições extrabíblicas. Semelhantemente, o ensinamento de que a Igreja não experimentará a grande tribulação poupa os seres humanos do temor e do sofrimento, mas é contrário ao que diz a Bíblia.

De acordo com as Escrituras, a Igreja passará pela grande tribulação, mas será liberta através do arrebatamento, por ocasião da segunda vinda de Jesus.

 

Referências:

 

1. Tyndale House Publishers, Wheaton, Illinois.

2. Martinho Lutero, por exemplo, disse: “Eu creio que o papa é o demônio mascarado e encarnado, porque ele é o anticristo.” Sämtliche Schriften, S. Louis: Concordia Pub. House, 1887, vol. 23, pág. 845.

3. L. R. Conradi, The Impelling Force of prophetic Truth, Londres: Thynne and B. Co., Ltd., 1935, pág. 346.

4. Ibidem, vol. 2, págs. 489 a 493.

5. An Enquiry Into the Grounds on Which the prophetic Period of Daniel and St. John has been supposed to Con-sist of 1260 Years, 2ª ed., Londres, 1837, pág. 2.

6. Walter A. Elwell, Evangelical Dictionary of Theology, Grand Rapids: Baker Book House, 1984, pág. 292.

7. Essa visão ignora completamente a natureza condicional de muitas profecias do Antigo Testamento (Deut. 28:1 e 15; Jer. 4:1; 18:7-10).

8. Mal Couch (editor), Dictionary of Premillennial Theo-logy: A Practical Guide to the People, Viewpoints and History of Prophetic Studies, Grand Rapids: Kregel Publications, 1996, pág. 346.

9. Irineu, Against Heresies 5.25.3, vol. 1, pág. 554.

10. J. Dwight Pentecost, Thíngs to Come, Grand Rapids: Zoondervan, 1958, pág. 247.

11. Nenhuma das supostas profecias com vácuos, enumeradas por Pentecost, são tempos proféticos. Todas elas estão baseadas na idéia de que as profecias do Antigo Testamento concernentes a Israel deverão ser cumpridas literalmente no futuro.

12. W. H. Shea, Daniel 7-12, Nampa, Idaho: Pacific Press Pub. Association, 1996, págs. 75 e 76.

13. No pensamento dispensacionalista, a morte de Cris-to não ocorre dentro das 70 semanas. “A extinção do Messias tem lugar apenas uns poucos dias após terminada a 69a semana” (J. Dwight Pentecost, Op. Cit., pág. 248), e cerca de dois mil anos antes do início da 70a semana, algum dia no futuro.

14. Ibidem, pág. 237.

15. John Stott, Romans, Downers Grove, III.: InterVarsity Press, 1994, pág. 146; Charles Wanamaker, Commentary on 1 & 2 Thessalonians, Grand Rapids, ML: Wm. B. Eerdmans Pub., 1990, pág. 88.

16. W. F. Arndt, e F. W. Gingrich, “Téréo”, A Greek-English Lexicon, Chicago: University of Chicago Press, 1979.

17. Ibidem, “Ek”.

18. Ibidem, “Apo”.

19. Dizer que esses textos se referem ao remanescente judeu e não à igreja (J. Pentecost, Op; Cit., págs. 278 e 238) é argumentar com base na hipótese de que Deus cumprirá literalmente Suas profecias relacionadas a Israel.

 

FONTE: Revista Ministério, jan-fev 2002.


domingo, 18 de junho de 2023

SAUDADES DA MINHA MÃE


 Ricardo André

Nesse artigo quero prestar uma homenagem emocionada a uma mulher extraordinária: minha mãe. Seu nome era Noêmia Cordeiro de Souza. Foi uma mãe incansável que enfrentou com uma coragem indomável inúmeras dificuldades para criar e cuidar de seus oito filhos. No dia 25 de junho completará 19 anos de seu falecimento. Embora já não esteja mais entre nós, sua memória e seu amor permanecem vivos em nossos corações.

É difícil imaginar um lar sem mãe. Tudo no lar gira em torno dela e, graças a ela, tudo funciona satisfatoriamente. A provisão material adquirida pelo pai é por ela transformada em utilidades que configuram a felicidade e a satisfação da família inteira. Está sempre pronta a sacrificar-se a fim de que cada um dos membros da família esteja com suas necessidades supridas.

Sua dedicação nem sempre é reconhecida e apreciada como deveria ser, mas isso não parece afetá-la. Sua vocação é dar-se, embora os filhos, muitas vezes, e mesmo o próprio marido, não compreendem a extensão e a grandeza de sua dedicação, e fazem pouco ou nada para aliviar-lhe os fardos que a vida impõe.

Enfrenta doenças, motivos para irritação, desenganos e desgostos, para poder ter sua família satisfeita e feliz. Diariamente, depara-se com situações difíceis e com a necessidade de tomar decisões corretas para que o êxito do lar seja assegurado. Priva-se de muitas coisas em favor dos filhos. Seus cabelos brancos, sua pele enrugada, os passos trôpegos, a voz quase inaudível de algumas; tudo isso é fruto do desgaste natural do tempo, mas também das preocupações que lhes causamos, da energia que lhes extraímos.

Com essas palavras tentei construir um perfil fiel da minha querida mãe Noêmia Cordeiro de Souza. Ela vivenciou tudo o que descrevi acima. Minha mãe mostrou-nos o verdadeiro significado da dedicação. Em cada obstáculo que surgiu em seu caminho, ela nunca desistiu. Sua força de vontade e determinação eram inabaláveis, e seu amor incondicional era uma luz que nos guiava.

Ela enfrentou desafios financeiros e momentos de incerteza, mas nunca perdeu a esperança. Recordo-me que houve uma época que vendia perfumes e vasilhas da tupperware para complementar o orçamento da família. Seus filhos eram sua razão de viver. Ela trabalhou arduamente para proporcionar-lhes um futuro melhor, mesmo quando o mundo parecia conspirar contra ela.

Em 2002, aos 51 anos minha mãe sofreu um AVC, que paralisou um lado do seu corpo. Fiquei assaz apreensivo. Após uma noite insone, em que fiquei preocupado com o estado de saúde dela, li pela manhã o Salmo 23, o famoso Salmo do Pastor. Enquanto lia, pensava: “Será que mamãe vai nos deixar? E se ela morrer? Tenho uma irmã com 13 anos de idade, que ainda precisa muito dela. Como será a vida de minha irmã mais nova Rayane Cordeiro de Souza, sem mamãe? Em meio a essa angústia li a expressão “(...) nada terei falta” (Salmos 23:1). E me concentrei na leitura: “O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta. Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas; (...) Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver” (Sl 23:1, 2 e 6, NVI).

Tinha esses versos memorizados, pois precisava de algo que amenizasse meus temores. E me apeguei durante todo o tempo em que minha mãe esteve doente. Todos os dias pedia a Deus que a curasse. Naquele ano (não lembro mais o dia e o mês), recebi um telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro de Souza que informou que ela não estava bem, e que encontrava-se no hospital para submeter-se a uma cirurgia para a retirada de mioma. Ela falou ainda que seu eu quisesse vê-la ainda com vida fosse lá. O pensamento de perdê-la doía tanto que eu mal conseguia puxar o fôlego entre um soluço e outro. Então clamei a Deus: “Senhor Jesus, Tu sabes o quanto eu desejo que minha mãe viva, por isso peço-Te que cures minha mãe. Eu não quero que mamãe morra, mas não sei como orar”.

Contei a situação de minha mãe as minhas duas amigas Vânia Higino e Luzinete Carvalho, que me orientaram a ir rapidamente ver minha mãe em Pernambuco. O valioso conselho daquelas irmãs em Cristo e amigas foi fundamental para que eu tomasse a decisão de ir ver minha mãe. Sou eternamente grato a essas preciosas amigas. Um dia depois da minha chegada ao Cabo, fui com meu irmão Roberval André de Souza visitá-la no IMIP (Instituto de Medicina Integral), em Recife. Ao chegar lá, encontrei minha querida mãe. Que emoção! Que alegria para nós! Que abraços gostosos! Vi a alegria estampada no seu rosto por me ver ali. Recordo-me que ela nos apresentou para sua colega de quarto, com as seguintes palavras: “Esses são os meus dois gatos!” Mas, ao mesmo tempo fui tomado por um sentimento de tristeza ao ver minha mãe tão debilitada, com andar trôpego, resultante do derrame que havia sofrido. Eu contive minhas lágrimas. Eu não queria que ela me visse chorando, e aumentasse o seu sofrimento. Ela precisava da minha força naquele momento. Ficou vários dias naquele hospital. Sua pressão arterial estava descontrolada. Ela era hipertensa. Somente depois que a sua pressão foi controlada, os médicos puderam realizar a cirurgia para retirar o mioma. Minha mãe teve oito filhos e lutou por eles. Penso que ela lutou pela família, mais até do que por si mesma.

Aquele dia no IMIP marcou indelevelmente minha vida. Nunca vou esquecer aquele encontro. Foi o meu último encontro em que ela falava e estava lúcida. Meses depois sofreria o segundo, terceiro e quarto derrame que lhe tiraria sua capacidade motora, sua fala e memória.

Em junho de 2004, recebi um outro telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro. Usando quase as mesmas palavras dois ano antes, informou-me que nossa mãe ficou muito doente e que estava hospitalizada, que eu precisava ir ao Cabo de Santo Agostinho se quisesse vê-la ainda com vida. E Deus novamente usou um texto das Sagradas Escrituras para ajudar-me. Dessa vez foi o profeta Daniel. Li a corajosa resposta de Sadraque, Mesaque e Abednego deram ao rei, a caminho da fornalha de fogo ardente: “Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e ele nos livrará das suas mãos, ó rei. Mas, se ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer" (Daniel 3:17,18, NVI).

As palavras de Sadraque, Mesaque e Abednego me deram coragem para orar: “Senhor, por favor, cura minha mãe. Tu tens poder para restaurar sua saúde. Mas, faça-se a Tua vontade. Não importa o que acontecer, continuarei a Te amar e a Te servir.”

No dia 20 de junho de 2004, viajei ao Cabo de Santo Agostinho/PE para ver minha mãe, que se encontrava em coma no Hospital São Sebastião.  Fui ao hospital vê-la nos dias 22 a 24. Ela não mais se movia nem falava. Ao vê-la naquele leito do hospital definhando e inerte tive a certeza de que minha mãe guerreira e batalhadora, e que amava muito estava bem próximo de encerrar sua vida aqui. A certeza de que aquela indesejada despedida estava chegando aumentava a cada dia de internação. Eu não queria que ela partisse, mas, no fundo, eu sabia que não sairia mais daquele hospital com vida.

Nessa hora difícil, eu precisava de Deus mais do que nunca. Abri a Bíblia e li: “(...) Transformarei o lamento deles em júbilo; eu lhes darei consolo e alegria em vez de tristeza” (Jeremias 31:13). No dia 25, fui pela tarde ao hospital novamente. Quando cheguei lá, sentei ao lado do seu leito, peguei em sua mão, desabei.  Uma colega de infância e vizinha nossa chamada Adma tentou me consolar, mas não consegui segurar. Chorei copiosamente. Eu queria orar, mas o que devia pedir? Então clamei: Senhor, salva minha mãe! Tenha misericórdia dela! Senti que a misericórdia do Senhor se estendeu sobre nós. Isso não mudaria minha dor, mas me ajudaria a suportá-la. Mais tarde, li Lamentações 3:22, que diz: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim”.

Imaginando que ela ficaria mais tempo naquele estado de coma, decidi voltar para minha casa, em Lagarto, Sergipe. Tomei o ônibus à meia-noite do dia 24 de junho, na Rodoviária do Recife. Ao chegar em casa, na manhã do dia 25, minha esposa, Ana Claudia, me deu a pior notícia que já recebi: Minha mãe tinha morrido. Ela morreu na madrugada do dia 24 para 25 de junho de 2004, enquanto viajava de volta para Lagarto. Não tinha mais como voltar para o Cabo de Santo Agostinho para acompanhar o velório. A dor de não ter podido participar do velório de mamãe foi uma experiência extremamente dolorosa e angustiante. A sensação de impotência e a tristeza de não estar presente para prestar minhas últimas homenagens e buscar consolo nos rituais de despedida foram avassaladoras.

Infelizmente, tivemos que dizer adeus à mãe mais forte e maravilhosa que conheci. Não poderia estar mais impressionado por sua força e me sinto um afortunado por tê-la como minha mãe. Foi uma grande tristeza para mim, para meus irmãos, para sua mãe Deutrudes Cordeiro (que faleceu meses depois), seus irmãos e amigos. Ao longo do ano fartei-me de chorar. Eu havia vivido o ano mais triste e difícil da minha vida. E durante esse tempo Deus usou os as promessas constantes na Bíblia Sagrada para trazer-me conforto.

Convivi com ela apenas 19 anos da minha vida, pois em fevereiro de 1993, viajei para morar na cidade de Lagarto, em Sergipe, onde até hoje vivo. No dia 23 de janeiro de 1994, minha mãe escreveu uma pequena carta para mim. Nesta linda carta ela expressa muita preocupação e tristeza por eu, à época, está sozinho em Lagarto. Num trecho da Carta ela diz: “(...) Naquele dia que você me telefonou entrei em depressão só em lembrar que estava sozinho sem família. Espero que tenha encontrado alguém que [lhe dê] palavras de conforto. [...] Termino aqui estas poucas linhas com o coração cheio de saudades. A próxima te dou mais notícias. Eu te abençoo”.  Esta carta da minha mãe causou-me uma impressão tão grande que a guardo com muito carinho. Vi muito amor nela. Ela me abençoou. E essa bênção me acompanha até hoje. Foi graças as suas orações e sua bênção que tenho dois empregos públicos (professor concursado das Redes Estadual e Municipal) e construí uma família maravilhosa.

Seu legado não está apenas nas histórias que compartilhamos, mas também nas lições que aprendemos. Ela nos ensinou a valorizar o que realmente importa: a fé em Deus, o amor, a família e a solidariedade. Suas palavras de encorajamento e de amor ecoam em nossos ouvidos, nos momentos em que precisamos de coragem para enfrentar os desafios que a vida nos apresenta. Não obstante estar afastada da igreja de sua infância, algumas vezes entrei em seu quarto, à noite, e a vi de joelho orando a Deus. Mesmo afastada de sua igreja nunca perdeu a fé e continuou com o hábito espiritual de orar a Deus. Nunca perguntei a ela pelo que orava, mas certamente, entre seus pedidos a Deus estava por sua família. Acredito profundamente que as orações de uma mãe acompanham seus filhos neste mundo, e adiante através dos portais da Nova Jerusalém para o eterno mundo por vir.

Também recordo-me com carinho as vezes que sentei ao seu lado, no sofá de casa, e ela me ensinou alguns hinos da Harpa Cristã, hinos que ela tinha aprendido em sua adolescência na Igreja Assembleia de Deus. Aqueles dias em que me ensinou os cânticos ficaram marcados para sempre em minha mente, e especialmente o hino: “Breve Vem o Dia”, Harpa Cristã, nº 371. É muito significativa e inspiradora a letra do hino:

BREVE VEM O DIA

1. Breve vem o grande dia

Em que lutas findarão

Todos males, agonias

Deste mundo cessarão

 

Coro: Cessará no céu o pranto

Pois não haverá mais dor

E ouvir-se-á o canto

Dos remidos do Senhor!

 

2. Oh! Que gozo, estar com Cristo

Escutando a Sua voz!

Eu almejo hoje isto

E segui-lo sempre após!

 

3. Se Jesus Cristo é meu guia

O caminho hei de trilhar

Quem assim em Deus confia

Lá no céu há de chegar

Aquela atitude de oração de minha mãe, os cânticos que me ensinou nunca saíram da minha memória. Certamente, suas lições, sua força diante do sofrimento, simplicidade e orações moldaram a vida de seus filhos e nos guiaram pelos caminhos da vida. Somos o que somos hoje, graças a nossa mãe.

Acredito profundamente que as mães receberam de Deus o poder de moldar o caráter dos filhos para o tempo e a eternidade, poder esse que ultrapassa nossa imaginação. A escritora cristã Ellen G. White escreveu: “Depois de Deus, o poder da mãe para o bem é a maior força conhecida na Terra” (O Lar Adventista, p. 240).

Minha mãe foi uma guerreira incansável, uma verdadeira inspiração para todos que a conheceram. Sinto falta dela mais do que as palavras podem dizer. Sinto falta das conversas que sempre tivemos e das gargalhadas na varanda de casa, no Cabo de Santo Agostinho/PE. Do nosso dia a dia, do seu abraço, da sua graça, da sua comida saborosa (na época de São João preparava a canjica, mungunzá e cozia milhos), de sua maneira simples de contar as coisas, da sua presença maravilhosa. Quando a morte arrebatou-a um grande vazio foi aberto em minha alma. Acho que esse espaço nunca será preenchido e a lembrança dos bons momentos e daquilo que vivemos e aprendemos consegue me dar conforto. Ela viverá para sempre no meu coração e no coração dos meus outros sete irmãos. Embora a saudade seja imensa, encontramos conforto ao saber que ela “morreu no Senhor” (1Ts 4:16; Ap 14:13), sabendo que, nós, seus filhos seguiremos seu exemplo e continuaremos honrando sua memória.

De acordo com as Sagradas Escrituras, quando os seguidores de Jesus morrem, eles descansam “das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão" (Ap 14:13, NVI). Sua influência para o bem não para na borda da sepultura; ela segue adiante e abençoa o mundo. As obras da mãe a acompanham. Ela, mesmo estando morta, “ainda fala” (Hb 11:4). Por seu exemplo, em algum momento de crise, um filho toma a decisão de fazer as coisas certas, em favor de Cristo, e uma de suas filhas busca o auxílio de Deus.

Minha mãe, anos antes de seu falecimento, tinha voltado para Jesus Cristo, aceitando-O novamente como Senhor e Salvador de sua vida. Portanto, descansou no Senhor. Tenho a esperança bíblica de que um dia nos encontraremos, não muito longe, no Novo Céu e na Nova Terra. Caminharemos pelas ruas de ouro da Santa Cidade que Deus preparou para aqueles que O amam (Ap 21). Estaremos juntos por toda eternidade sem fim com o nosso compassivo Salvador Jesus e todos os remidos do Senhor. Quando leio algo sobre o Céu na minha Bíblia – ou mesmo em algum outro livro – fico imaginando a alegria que desfrutaremos ao reencontrar familiares, amigos e irmãos que se foram sem nos dar a chance de dizer “até breve”.

Caro amigo leitor, esta separação que nos causa tanta dor não será eterna. Quando nosso querido Jesus voltar em glória e Majestade poderemos reencontrar todos os nossos queridos que morreram em Cristo, se crermos em Jesus. "Promete-se um reencontro entre pais, filhos e amigos. Veremos novamente os nossos filhos. Encontrar-nos-emos com eles e os reconheceremos nos átrios celestiais" (Ellen G. White, Carta 196, 1899). Esta ESPERANÇA está baseada sobre um sólido e indestrutível fundamento... Sim, ela se baseia na realidade de um Cristo vivo (I Co 15:4). A ressurreição do Senhor é o fundamento de nossa esperança (I Ped. 1:3; I Co 15:12-19). Assim como Deus, o Pai, trouxe Jesus, nosso Salvador, dentre os mortos na manhã de Sua ressurreição no jardim, fora dos muros de Jerusalém, assim com Ele também trará nossos queridos mortos à vida novamente, quando voltar a segunda vez. Ela também está fundamentada no prometido e esperado retorno do Senhor à Terra (I Tes. 1:10; Atos. 1:10, 11).

Haverá, então, uma feliz e eterna reunião! Viveremos por toda a eternidade sem fim com todos os remidos de todos os tempos. No Mundo do Amanhã que Deus trará para todos os que crerem nele não haverá mais morte. Ele nos promete: “Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas." (Ap 21:4).

Oh, como almejo esse dia! Vem, Senhor Jesus!