Teologia

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

COMO SE DESENVOLVEU A SEPARAÇÃO ENTRE JUDAÍSMO E CRISTIANISMO


 Por Sérgio Monteiro*

Entenda a questão histórica e teológica que explica esta separação e como isso chegou até os tempos atuais na realidade do cristianismo.

Segundo artigo da série sobre cristianismo e judaísmo aponta como esta cisão se deu ao longo da história.

O primeiro século da era cristã terminou com discussões de identidade e o início de relações atribuladas entre cristãos e judeus. Um fato importante, contudo, é que os primeiros ainda eram judeus, cujas doutrinas e crenças estavam ainda dentro do pano de fundo judaico geral, conhecido naqueles tempos.

Ao sairmos desse século, não podemos deixar de notar que a identidade judaica fluida foi deixada para trás, após a quase destruição do judaísmo no ano 70. A necessidade de fixação de uma identidade que não fosse demasiadamente aberta e ampla, foi uma decisão tomada pelos principais partidos sobreviventes, fariseus E cristãos. Nesse processo, as diferenças passaram a pesar muito mais do que as similitudes e essas foram se acentuando cada vez mais nos séculos seguintes e migrando da periferia para o centro. 

Mudanças profundas no segundo século

Junte-se a este quadro as pressões políticas. Tanto exercidas sobre o judaísmo nos dois primeiros séculos, quanto sobre o cristianismo, até a época do compromisso. Então a unidade na diversidade se transforma na diversidade da diferença, como veremos nas partes seguintes dessa série.

O período iniciado no segundo século marca o aprofundamento das diferenças entre judeus e cristãos, até o ponto da ruptura ocorrida por volta do século IV. Não era possível mais se manter a unidade tênue do primeiro século e cada atitude do grupo contrário era marcada como uma ação de afastamento.

Por um lado, judeus acentuavam o afastamento da Torá por parte do cristianismo, denunciando-o como apostasia. Por outro lado, o cristianismo acusava o judaísmo de deicídio, causado pelo afastamento da Torá, e aceitação de tradições de seus rabinos. Em suma, em um adiantamento das recíprocas excomunhões entre cristianismo do oriente e do ocidente. Judeus e cristãos se acusavam virtualmente do mesmo: apostasia.

Sobrevivência

Apesar disso, havia um interesse mais humano e terrestre nas crises do segundo século: sobrevivência. Observando a dinâmica das relações entre judeus, cristãos e o império Romano, não é difícil concluir que, de alguma forma, ambos viam no fim do outro a sua salvaguarda.

De fato, no primeiro século, quando Nero acusou os cristãos do incêndio em Roma, rapidamente os judeus trataram de declarar que a fé cristã nada tinha de judaica. Igualmente, na tentativa de manter-se como religio licita, o judaísmo, novamente, declara-se apartado do cristianismo.

Os cristãos, por sua vez, durante as revoltas de 66-70 EC, sob Vespasiano e Tito e 132-135 sob Adriano, também se declararam não participantes do meio judaico, nem de suas rebeliões. De certa maneira, portanto, as relações de judeus e cristãos com o estado moldaram as relações entre eles. E não apenas em Roma, mas em cada estado no qual coexistiram.

Nos séculos seguintes encontramos a mesma dinâmica de acusações mútuas em Constantinopla (séculos III e IV), Veneza (séculos X e XI) e Alemanha (séculos XVI e XVII), com o cristianismo utilizando o poder estatal para impor ao judaísmo derrotas em supostos debates teológicos, além de desterro para seus líderes.

Da perspectiva teológica, foi com Justino que o antissemitismo se acentuou. A partir de suas leituras e de suas apologias, criou-se a ideia de protocristãos que eram constituídos pelos grandes homens da Bíblia Hebraica, cristianizados, enquanto a designação de judeus ficou reservada para os homens maus da história de Israel, como os adoradores do bezerro de ouro, os profetas de Baal, etc.

Dessa forma, o judaísmo passou a ser teologicamente esvaziado de significado, e sua existência vista apenas como uma mera ponte para a realidade maior da Igreja.  Essa foi a posição dominante no pensamento cristão durante o período de dominação católica, mas não deixou de existir com o surgimento do protestantismo. 

Reformadores e o tema

De fato, quase nada mudou para as relações judaico-cristãs com a chegada da Reforma. Se, por um lado, os reformadores lançaram bendita luz sobre temas das Escrituras escurecidos pelas trevas da Idade Escura, essa luz não atingiu a compreensão do papel e posição de Israel.

John Huss atacou fortemente os judeus por não aceitarem se converter ao cristianismo.   Martinho Lutero, o campeão da Reforma, enxergava os judeus como “mentirosos” e responsáveis pela morte de Jesus. Ele escreveu três obras amargas contra os judeus: Sobre os judeus e suas mentiras, Von Shem hamphoras e Warning against Jews. Nessas obras, Lutero apregoa que os judeus deveriam ser mortos, desterrados e que eram equivalentes ao próprio demônio.

Já Calvino mantinha a ideia de que os judeus de seu tempo não possuíam piedade e eram uma nação rejeitada por Deus. Em seu Response to Questions and Objections of a Certain Jew, ele argumentou que os judeus não sabiam sequer ler. E muitas vezes torciam suas próprias Escrituras.  A influência desses reformadores, dentre outros, pode ser sentida ainda em nossos dias, com o pesado legado antissemita com seu linguajar de substituição, ainda existente em muito da teologia cristã.

Conclusão

Em linhas apressadas, vimos o desenvolvimento da separação entre cristãos e judeus. E descobrimos que não é um fenômeno que pode ser localizado em um ponto temporal único, mas em um processo que passou pelo acirramento das animosidades entre essas duas fés que possuem relação de origem e originada. As relações políticas e a busca por identidade exerceram influência sensível no aprofundamento dessa crise que iniciando no final do primeiro século, acentuou-se nos séculos seguintes e de forma incrível, atingiu os nossos dias, passando viva e fortalecida pelo tempo dos reformadores.

 

Na última parte dessa série, queremos refletir sobre como a Igreja Adventista do Sétimo Dia no século 21 se encaixa nessa linha. Estamos do lado do antissemitismo ou judaizantes modernos? Ou nenhum e nem outro, mas uma terceira e bíblica via? Como podemos alinhar a perspectiva missiológica e eclesiástica da Igreja Adventista com sua ênfase no remanescente com uma posição antissemita. Ou com uma posição dispensacionalista que enxerga a Igreja como um parêntesis no plano de Deus que se cumpriria finalmente com Israel?

 

*Sérgio Monteiro é teólogo, capelão e membro do Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer, membro da Adventist Theological Society, International Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.

 

FONTE: Notícias Adventistas

AS ORIGENS DA SEPARAÇÃO DO CRISTIANISMO E JUDAÍSMO


 Por Sérgio Monteiro*

Como historicamente as correntes do cristianismo e judaísmo conviveram, inclusive dentro daquilo que pode ser lido nos textos do Novo Testamento? 

 

Há aspectos importantes a serem compreendidos historicamente na relação entre cristianismo e judaísmo.

Ao contrário do que muitos podem pensar, o antissemitismo não é um fenômeno moderno, surgido do nazismo.  Não é nem mesmo uma criação do século 19. De fato, o antissemitismo existe já desde muito tempo. Pode ser encontrado de forma mais ou menos explícita desde a partir do segundo século da era cristã.  É representativa dessa posição a declaração de Ignácio de Antioquia, em sua carta aos Magnésios 10:1, segundo a qual “são monstros os que falam de Jesus, ao mesmo tempo que praticam o judaísmo.”

O objetivo desse artigo não é expor de forma completa e aprofundada as raízes do antissemitismo, muito menos todos os fatores e variáveis que podem ser identificadas na gênese e no processo de desenvolvimento do antissemitismo, mas apresentar uma síntese dessa filosofia com o intuito de entender seu impacto nas relações entre cristianismo e Judaísmo e na leitura das Escrituras no cristianismo.

As origens

O primeiro aspecto a ser muito bem esclarecido e jamais esquecido é que o período neotestamentário não pode ser visto como contendo o embrião do antissemitismo. Isso porque, ao contrário do senso comum, o Novo Testamento não pode ser lido através de lentes de uma constante dissensão e descontinuidade entre o judaísmo e a Bíblia Hebraica e a igreja cristã e sua Bíblia. Essa é uma leitura carregada de perspectiva externa, estranha ao próprio texto, como veremos adiante.

Apesar disso, o primeiro século da Era Comum já apresenta evidências de discussões identitárias tanto cristãs quanto judaicas, cujas consequências serão, ao final, um afastamento definitivo entre a fé judaica e a fé cristã. Não é que a fé cristã não fosse vista como judaica ou mesmo que ela não se entendesse judaica.

Cristianismo e judaísmo juntos

O testemunho histórico do Novo Testamento demonstra que o cristianismo era percebido e se percebia como parte do judaísmo. Não é à toa que, em Atos 24:5, o mesmo termo utilizado para descrever os fariseus no capítulo 26 é utilizado para a seita dos nazarenos, da qual Paulo era o principal líder.  Essa era a conformação do judaísmo naquele tempo. Não existia um único judaísmo (como hoje tampouco há), mas algumas seitas (heireisis – o termo grego cuja origem significa escolha), que conviviam de forma não muito harmônica, mas tolerante. Inclusive com discussões constantes, diferenças e maior ou menor influência frente ao povo e sua relação com a religião e a tradição dos pais. Assim, temos desde os liberais saduceus até os estritos essênios, passando pelos fariseus, e, também cristãos e zelotes.

É nesse contexto de convivência de múltiplas ideias e no fértil terreno das esperanças múltiplas que surge o judaísmo nazareno, ou o cristianismo. E não estamos falando aqui do advento de Jesus, mas da sistematização da comunidade de seus seguidores, que refletiam sobre seus ensinos e como estes se relacionavam com os ensinos que eles mesmos haviam recebido pela tradição dos pais ou de seus mestres judeus.

Como se relacionariam agora com seus congêneres, uma vez que adotavam a recente e “novidadeira” doutrina de Jesus o Nazareno, transmitida por seus mais próximos discípulos? Como poderiam seguir, dentro do judaísmo, crendo que este Jesus cumpria as profecias messiânicas, enquanto seus líderes e vizinhos afirmavam que não ele era um falso Messias? Por outro lado, perguntas semelhantes eram feitas por seus compatriotas judeus, oprimidos pelos romanos, ansiosos pela liberdade que o Rei Messias traria.

Invasão romana

Essas perguntas dirigiram os esforços de organização e crescimento de ambos os partidos ou seitas sobreviventes à invasão romana no ano 70 EC: os fariseus e os do Caminho. É verdade que ainda encontramos rastros dos saduceus, essênios (há mesmo dúvidas quanto a se eles existiram de fato ou não) e outras seitas menores. Por outro lado, não resta dúvidas de que aquilo que conhecemos como judaísmo, nos séculos posteriores, é uma reminiscência dos fariseus (veja Jacob Neusner e Bruce Childon, no livro Quest of Historical Pharisees).

As tradições sobre os fariseus após o ano 70 EC, mostram que os fariseus buscaram sistematizar o pensamento judaico de maneira a manter uma linha que os ligasse às tradições anteriores. Ainda que permitindo certa liberdade, mas com profundo interesse na preservação dos aspectos legais e tradicionais de sua fé. É por isso que, por volta do ano 90, foi convocado o segundo “concílio” de Jamnia, com um dos objetivos sendo o de definir as bases de sua doutrina.

Por outro lado, a seita da Caminho não demonstrou interesse algum em abandonar o judaísmo. Ao contrário, os documentos legados, que estão no Novo Testamento, demonstram uma grande aproximação com a comunidade judaica em geral, mas com os fariseus em particular. Paulo, anteriormente Shaul, não poucas vezes se declara fariseu (Atos 23; Romanos 11; etc.) e as interações marcantes e descritas na literatura histórica indicam que o lugar de culto da comunidade ainda era a sinagoga.

Discussões de identidade

É por isso que os rabinos em suas sinagogas incluíram, entre suas orações, uma maldição contra os minim (hereges), que não se restringia aos cristãos, mas que certamente os incluía. Através dessa maldição, os hereges eram detectados nas sinagogas e expulsos. A própria maldição, no entanto, como acentuou de forma precisa Pieter Willem van der Horst (The Birkat ha-minim in Recent Research, em The Expository Times, 1994, p.367), sempre se referiu a judeus, o que indica de forma precisa que havendo separação e dissensão, os do Caminho ainda era vistos como judeus. Hereges, mas judeus.

E assim terminou o primeiro século, com discussões de identidade e o início de relações atribuladas entre cristãos e judeus. É um fato, contudo, que os primeiros ainda eram judeus, cujas doutrinas e crenças estavam ainda dentro do pano de fundo judaico geral, conhecido naqueles tempos.

Ao sairmos desse século, não podemos deixar de notar que a identidade judaica fluida foi deixada para trás, após a quase destruição do judaísmo no ano 70. A necessidade de fixação de uma identidade que não fosse demasiadamente aberta e ampla, foi uma decisão tomada pelos principais partidos sobreviventes, fariseus e cristãos. Nesse processo, as diferenças passaram a pesar muito mais do que as similitudes e essas foram se acentuando cada vez mais nos séculos seguintes e migrando da periferia para o centro. Junte-se a este quadro, as pressões políticas tanto sobre o judaísmo nos dois primeiros séculos, quanto sobre o cristianismo até a época do compromisso e a unidade na diversidade se transforma na diversidade da diferença, como veremos nas partes seguintes dessa série. Mais do que não sermos antissemitas, precisamos entender que a graça alcança a todos.

 

*Sérgio Monteiro é teólogo, capelão e membro do Instituto de Estudos Judaicos Feodor Meyer, membro da Adventist Theological Society, International Association for the Old Testament Studies e Associação dos Biblistas Brasileiros.

 

FONTE: Notícias Adventistas

 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

SOBREVIVENDO À DOR DO LUTO


Denny Rengifo

Os cristãos podem acreditar que a fé em Cristo e a perspectiva da vida eterna vão fazê-los superar a necessidade de sofrer a dor da perda, a necessidade de chorar e a necessidade de serem totalmente humanos. Entretanto, em vez de negar a dor da situação humana, é a fé e a constante presença de Deus que nos capacita a viver o luto, mas com esperança.

A dor que ela sentia era inexprimível e eu fiquei sem palavras. Sentia como que se irradiando dela e espalhando-se como nuvens de escuridão em uma tempestade. Ela estava sentada do lado de fora de uma sala da UTI, enquanto olhava para o seu filho agonizando, através do vidro de uma porta fechada. Essa porta era o local mais próximo que ela podia chegar dele naquela hora, então ela estendeu a mão para abraçar, beijar e acariciar o vidro em sua tentativa inútil de alcançá-lo. Fiquei ali parada ao lado dela, em silêncio, tocando seus ombros, testemunhando a sua dor.

Nos últimos quatro anos, tenho trabalhado como capelã de um hospital. Tenho o sagrado privilégio de estar com as pessoas durante alguns dos momentos mais difíceis e sombrios de sua vida. Sou chamada para estar ao lado de pessoas enlutadas enquanto recebem más notícias, passam por traumas ou até mesmo enfrentam o fim da vida. O luto se tornou familiar e comum quando o ouço, vejo e sinto nos quartos e corredores por onde ando, como também em minha vida pessoal. Aprendi a respeitar o luto, a lhe dar valor e até mesmo a ser grata por ele. Aprendi que o luto passou a ser um lugar comum, útil e positivo. Vi também que pode haver esperança no luto. Percebi ainda que existem muitas fases e faces no luto e que uma delas pode ser até mesmo o sorriso.

A dor da perda é uma jornada na qual embarcamos desde o momento em que choramos ao nascer e continuamos a experimentá-la ao lamentarmos a perda do conforto do útero. À medida que amadurecemos, experimentamos a dor e a perda de pequenas e grandes maneiras. E devemos aprender a enfrentar, a sentir e a compartilhar as nossas emoções, a encontrar conforto, a dar sentido a tudo isso e a ter esperança.

Se o luto é uma parte inevitável da experiência humana, por que é tão difícil falarmos sobre ele? Por que o conceito de luto é tão estranho a nós? Será que esse sentimento desconfortável de raiva, de ira e desespero, e tão triste, pode ser chamado de luto?

A dor da perda é uma reação natural e normal que experimentamos em diferentes níveis de intensidade, por diferentes razões e com diferentes reações. A dor da perda é mais comum do que pensamos. Sofremos quando experimentamos uma grande perda… alguém que amamos morre, um relacionamento que termina, um emprego que acabou etc. Então, há motivos mais comuns para essa dor: alguém que amamos se muda para longe de nós, temos um problema de saúde ou uma transferência afeta o nosso local de trabalho. E quanto a estas coisas de menor impacto? Nossa loja favorita fecha, perdemos algum dinheiro que economizamos ou nossas férias são canceladas.

Você já experimentou a dor da perda este ano? Você a está experimentando agora? Eu estou me sentindo triste agora, porém, em um nível mais leve. No dia de Ano Novo, tomei a resolução de ficar na melhor forma possível, de toda a minha vida. Eu faria isso adotando um estilo de vida ativo e me exercitando cinco vezes por semana. Estava comprometida com isso. No dia 1o de janeiro deste ano, acordei cedo e animada para fazer o primeiro treino do ano. Mas machuquei meu pé durante aquele treino e fui forçada a ficar sentada sem conseguir andar por algum tempo. Mesmo quando meu pé começou a melhorar, precisei ir com calma para dar tempo suficiente para a cura. Minha resolução tornou-se apenas mais um item em minha caixa de sonhos não realizados e de metas fracassadas. Estou lamentando pela minha capacidade de ser ativa e de me exercitar e, em um sentido mais profundo, pela minha incapacidade de cumprir uma meta na qual estava emocionalmente empenhada.

A FÉ E O LUTO

Certa vez me perguntaram: “É certo um cristão sofrer pela dor da perda?” Bem, se a dor é humana e os cristãos são humanos, a resposta é óbvia. Todos sofrem, inclusive os cristãos. Mas os cristãos podem acreditar que a fé em Cristo e a perspectiva da vida eterna podem fazê-los superar a necessidade de sentir, de chorar e de serem totalmente humanos. Há algum tempo, visitei uma mulher na unidade de parto, que deu à luz um menino nascido em tempo normal. Ela havia trazido com ela uma bolsa de fraldas com tudo o que seu bebê iria precisar e uma cadeirinha para levá-lo para casa. O quarto do bebê em sua casa foi preparado e estava repleto de presentes que os membros da igreja haviam lhe dado durante o chá de bebê. Seus outros filhos estavam animados. Mas o bebê nasceu morto. Entrei na sala esperando ver, ouvir ou sentir a devastação costumeira que presenciava em casos semelhantes. Mas desta vez foi diferente. Não houve lágrimas, nenhum “e se...”, nenhuma expressão de tristeza. Ela disse que havia motivos para estar triste, sim. Mas Deus havia permitido que seu bebê morresse e ela tinha que aceitar isso. Para ela, isso significava sem luto, sem lágrimas, sem raiva, sem perguntas, sem sentimentos.

Mais de uma vez, perguntei como se sentia. E ela respondeu: “Não consigo sentir”. Ela não se permitia sentir tristeza pela perda de seu filho. Do jeito que ela entendia, sua fé exigia aceitação sem tristeza, lágrimas ou raiva. Ela não se permitiu sentir sua profunda angústia. Então, como resultado, ela não sentia nada.

Dois meses depois, eu a encontrei novamente. Fiquei surpresa ao vê-la, não em uma enfermaria, mas numa ala de saúde comportamental. Ela havia se tornado psicótica. Sua recusa em sofrer e a negação de sua dor foram demais para ela suportar. As Escrituras dizem que, por causa da esperança da segunda vinda de Cristo, “não se entristeçam como aqueles que não têm esperança” (1 Tessalonicenses 4:13). Isso significa que, como cristãos, temos esperança, sim − mas também sofremos.

Então, qual é a maneira saudável de responder à dor da perda? Um bom primeiro passo é reconhecer o que aconteceu ou está acontecendo com você, o que você perdeu e o que mudou em sua vida. Em seguida, veja como se sente a respeito disso. Permita-se sentir todas as suas emoções sem julgá-las como negativas ou ruins. As emoções são humanas. Deus criou você com a capacidade de senti-las. Encontre maneiras saudáveis de expressar seus sentimentos, como fazer um diário, entrar em um grupo de apoio, conversar com um amigo, buscar aconselhamento ou realizar qualquer atividade positiva que pareça terapêutica. Gosto de fazer longas caminhadas com meu cachorro, enquanto oro e medito. Minha colega de trabalho coloca música cristã durante o trajeto para o hospital. Uma amiga que agora mora sozinha porque perdeu sua mãe e seu cachorro recentemente, com apenas alguns dias de diferença, usa o Facebook como um diário onde ela escreve e compartilha como se sente. Isso a ajuda a expressar seus sentimentos e permite que ela receba comentários de pessoas que lhe respondem com palavras de conforto e esperança.

Nunca esquecerei o que testemunhei ao lado daquela mãe na sala ao lado da UTI de seu filho que agonizava. Ela não foi capaz de tocá-lo, pois ele estava isolado devido à COVID-19. Nós duas sorrimos quando ela me mostrou um vídeo em seu celular, que ele havia gravado no dia anterior. Ele estava feliz, aparentemente com boa saúde e se divertindo com seus amigos. Tão cheio de vida! Então, naquela manhã, ele foi encontrado desmaiado. Nada mais pôde ser feito. A vida é frágil, injusta e cheia de tristezas. Mas a vida também é boa porque da dor e do quebrantamento vem a cura. Ao ter vivido até aqui, por certo você chorou e riu, experimentou perdas e ganhos, sofreu e se curou, e fará tudo de novo. Todas essas experiências humanas fazem parte da riqueza da vida.

Lembre-se: em todos os altos e baixos, em todas as angústias e dores, nunca estamos sozinhos. Deus disse, repetidamente, que Ele nunca nos deixará nem nos abandonará − seja qual for a tristeza ou dor que venham a surgir em nosso caminho (ver Gênesis 28:15; Josué 1:5; Deuteronômio 31: 6 e Hebreus 13: 5). E logo “Ele enxugará dos [nossos] olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou.” (Apocalipse 21:4I).*

E é contra esse pano de fundo que ousamos sofrer, mas com esperança!

 

* As referências bíblicas deste artigo foram citadas da Nova Versão Internacional da Bíblia Sagrada.

 

Denny Rengifo MDiv pela Universidade Andrews, Michigan, EUA, é capelã credenciada no Adventist HealthCare, Silver Spring, Maryland, EUA. Ela trabalha também com as famílias enlutadas da comunidade e lidera grupos de apoio aos enlutados.

 

FONTE: Revista Diálogo Universitário 33:2 (2021): 24-25

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O TEMPO ESTÁ SE ESGOTANDO


 Ricardo André

Na manhã do dia 24 de agosto do ano de 79, Pompeia e a cidade vizinha de Herculano, cidades do Império Romano, foram totalmente soterradas pela violenta erupção do vulcão Vesúvio. Grandes rochas que tapavam a cratera foram lançadas a até 30 mil metros de altitude, uma coluna de fumaça gigantesca se formou e em seguida lava incandescente começou a se jorrar e descer o monte a uma velocidade de quase 100 km/h.

Muitos dos seus habitantes, assim como suas construções foram soterradas quase que instantaneamente sob espessa camada de cinzas procedentes do vulcão. A cidade foi completamente esquecida durante séculos, e somente cerca de 1700 anos depois da tragédia Pompéia foi redescoberta. Iniciaram-se então obras de escavações para remover uma camada de 4 a 25 metros de cinzas vulcânicas que revelaram uma cidade incrivelmente bem preservada. Até cadáveres foram bem preservados em posições em que se encontravam no momento da tragédia, o que posteriormente possibilitou estudos a respeito da vida cotidiana na cidade.

Todavia, Pompeia não foi destruída sem advertências. 17 anos antes da tragédia, em 62 a.C., um forte terremoto danificou grande parte da cidade. Muitos habitantes foram mortos naquela ocasião. Conta-se que dias antes da devastadora destruição, ouviram-se ruídos no interior da terra seguido de pequenos abalos sísmicos. Era o Vesúvio dando sinais de que estava para despertar do seu sono de quase 2000 anos. Por ter sido um fenômeno tão antigo, a erupção de Vesúvio, tinha sido esquecido, ou virado lenda, portanto ninguém deu muita importância ao aviso do perigo iminente. Na manhã do dia 24 de agosto de 79 a.C., o vulcão Vesúvio entrou em erupção, espalhando pelo ar uma grande nuvem em formato de cogumelo de rocha e gás superaquecido. Por ficar a cerca de oito quilômetros de distância, Pompeia não foi imediatamente atingida pela lava vulcânica. Por isso, pelo menos algumas pessoas ainda puderam escapar. Na manhã seguinte, porém, uma nuvem de gás tóxico tomou conta da cidade, sufocando todos os 2 mil habitantes que ali permaneceram. Então um dilúvio de cinzas vulcânicas enterrou completamente a cidade.

A Palavra de Deus nos adverte que haverá um final para a história da humanidade. E isso não é simplesmente uma opinião de crentes malucos que ficam nas esquinas pregando que “O fim está próximo”. Acredite ou não, de acordo com a Bíblia, a Palavra de Deus, haverá um ponto final para a história da humanidade! Jesus Cristo predisse: “E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mateus 24:14, NVI). Nesse dia toda a humanidade deverá responder diante do juízo de Deus. Diz-nos a Bíblia:

“Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más” (2 Coríntios 5:10, NVI).

“Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hebreus 9:27, NVI).

O fim do mundo se dará com a segunda vinda de Jesus. Ele nos fez a seguinte promessa: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”.

O ponto crucial é este: a segunda vinda de Cristo põe um fim no mundo como o conhecemos. Esse acontecimento vai provocar a morte de muitos e vai ser o momento de muitos receberem a vida eterna. 

Sinais da volta de Jesus

Cristo deu muitos sinais para nos advertir da catástrofe iminente, a fim de que não sejamos arrebatados pelos acontecimentos que prenunciam o fim deste mundo, e milhões de pessoas estão desapercebidos. Vejamos alguns desses importantes sinais bíblicos:

1) Crise Ambiental Global: A Bíblia revela que quando Deus finalmente descortinar a história humana, Ele vai, finalmente, “destruir os que destroem a terra” (Ap 11:18). Em outras palavras, antes do fim, a humanidade estará destruindo o próprio planeta em que vive. Isto implica em uma crise ambiental global resultante do crescimento das megacidades, do desmatamento das florestas, de uma camada de ozônio em extinção devido aos poluentes nocivos liberados pelo homem na terra. Certamente já estamos vivendo nesse tempo. Os homens estão destruindo planeta. O modelo capitalista está se tornando unanimidade no mundo, no entanto demanda um progresso não sustentável. Este modelo é baseado na produção, consumo e renda. A produção depende da exploração dos recursos naturais, o trabalho utilizado na produção gera renda, por outro lado o consumo gera lixo, causando mais degradação ambiental. A emissão de gases poluentes na atmosfera ocasiona o efeito estufa que traz consequências negativas de amplitude ainda não completamente conhecida. Alguns fatos, já podemos observar, como as alterações climáticas em todo globo e o aumento da frequência de tornados, furacões e enchentes. Especialistas do mundo todo estão preocupados com esse aquecimento global, causador do desequilíbrio na natureza.

Visando encontrar uma solução para o problema do clima, o presidente dos Estados unidos da América, Joe Biden, promoveu no mês de abril uma conferência do clima com os líderes dos principais países responsáveis pelas emissões do planeta.

O evento da Casa Branca abre caminho para uma outra cúpula global em novembro na cidade escocesa de Glasgow com o objetivo de garantir que o mundo cumpra o objetivo de limitar o aquecimento planetário a 1,5 grau Celsius. Indubitavelmente, a crise do clima do planeta é um sinal que está se cumprindo dramaticamente diante de nossos olhos.

2) Violência fora de controle: Novamente, Jesus predisse, “Como foi nos dias de Noé, assim também será antes da vinda do filho do homem” (Mateus 24:37). Como foi nos dias de Noé? Eis a resposta: “A terra estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência” (Gênesis 6:11). “E Deus disse a Noé: o fim de toda carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia de violência dos homens, e eis que os destruirei juntamente com a terra” (Gênesis 6:13). Assim, a “violência” era excessiva nos dias de Noé, como também o é em nossos dias.

A violência existe. A sociedade parece está impregnada de cobiça, lascívia, luxúria, e para satisfazer seus desejos animalescos cometem os crimes mais hediondos. O terrorismo de grupos radicais islâmicos parece uma praga que se espalhou pelo mundo, e mata centenas de pessoas.

A humanidade está chocada. É a fome, a guerra, o terrorismo, a violência. A Revista veja de 2005 em grande manchete destaca: “Socorro!” Uma pessoa é assassinada a cada 13 minutos. A criminalidade no Brasil, bate recorde, apavora a sociedade e os governantes não consegue vencer os bandidos do crime organizado. Essa situação é caótica, assombrosa até! A sociedade está assustada e amedrontada.

Essa violência em longa escala, gera medo no ser humano, a neurose do medo, do pânico, do temor, do assombro e do estresse.

3. Perversão sexual: Novamente, Jesus predisse, “Do mesmo modo como foi nos dias de Ló … assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar” (Lucas 17:28, 30). Como foi nos dias de Ló, antes de Deus destruir Sodoma e Gomorra? “De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo” Assim, a “imoralidade”, “fornicação” em outras traduções (sexo fora do casamento), e “relações sexuais antinaturais”, foram os principais pecados dessas antigas cidades. Em nossos dias através da televisão, revistas de nudez, prostituição, pornografia na Internet, etc, o nosso mundo está passando por um dilúvio sem precedentes de perversão sexual.

4) Aumento do stress, confusão e doenças do coração: Novamente, Jesus advertiu: ‘Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na Terra as nações ficarão angustiadas e perplexas pelo bramido do mar e das ondas. Homens desmaiarão de terror, na expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo, pois os corpos celestes serão abalados”. (Lucas 21:25-26). As pessoas estão estressadas, por toda parte reina a confusão, e a causa número um de morte é a doença de coração. O Mestre viu isso acontecer e previu aflição e perplexidades globais, e “homens desmaiarão de terror”. O medo também eleva o colesterol no sangue.

5) Grandes terremotos: Jesus Cristo predisse: “E haverão grandes terremotos em vários lugares…” (Lucas 21:11). Tais terremotos resultarão na perda de muitas vidas, e constituem um dos sinais da proximidade do dia do Senhor. Jesus Continuou “Quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima” (Lucas 21:28).

6) A Pregação Global do Evangelho: “E este evangelho será pregado em todo o mundo como um testemunho à todas as nações, e então virá o fim” (Mateus 24:14). Com o auxílio do rádio, televisão, Internet e redes de satélites, a mensagem de salvação de Deus através da morte de Jesus Cristo na cruz está agora se espalhando por todo o planeta Terra. Assim, no meio das más notícias, há boas notícias! Temos um Salvador que nos ama, deu a Sua vida por nós, ressuscitou dos mortos por nós, e voltará um dia para nos levar para casa (ver João 14:1-3).

Conclusão

Lamentavelmente, milhões não estão notando os muitos sinais que Deus colocou ao longo da estrada da vida, para no lembrar de que nos estamos aproximando do fim da rebelião do homem contra seu Criador. Cristo Deu muitos sinais para nos advertir da catástrofe impendente, a fim de que não sejamos arrebatados pelos acontecimentos que prenunciam o fim deste mundo.

Por 120 anos Deus advertiu o mundo que existia antes do dilúvio, quanto à destruição que sobreviria àquela geração mediante um dilúvio universal. Muitos recusaram-se a crer que semelhante catástrofe pudesse sobrevir. “Asseveravam que, se haviam alguma verdade no que Noé dissera, os homens de fama – os sábios, os prudentes, os grandes homens – compreenderiam essa questão” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 97). Portanto, segundo esses homens sábios, o mundo diziam ser isso uma impossibilidade. Noé dizia que havia de acontecer, e para mostrar sua convicção, empregou tempo e fortuna em construir gigantesca embarcação.

Muitos devem ter ouvido essa mensagem de Deus, pois o Espírito divino falou por Noé, ao coração dos antediluvianos. Uns poucos, apenas, tiveram bastante fé para tratarem de se preparar. Quando os animais, guiados pelos anjos de Deus, começaram a entrar na arca, o povo se pôs a pensar que não se tratava de simples ardil humano. Reconheceram ser aquilo um sinal da aproximação do fim do mundo.

“Quando os grandes e sábios provaram para a sua satisfação que era impossível ser o mundo destruído pela água, quando os temores do povo se acalmaram, quando todos consideram a profecia de Noé como uma ilusão, e o olhavam como a um fanático, então é que veio o tempo de Deus” (Idem, p. 104).

Oito pessoas, apenas, apropriaram-se dos meios de salvação que Deus lhes provera. Noé, seus três filhos e esposas foram os únicos seres humanos que atenderam à mensagem de Deus naquela época.

Cristo disse que a última geração seria semelhante a que viveu nos dias de Noé: “Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores do dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem.” Mateus 24:37-39

Estavam tão ocupados com os cuidados e prazeres da vida que não tomaram tempo para preparar-se para a destruição que Deus disse havia de sobrevir. Não seria sábio de nossa parte, preparar-nos para o dia em que Cristo há de voltar?

Caro amigo leitor, os sinais que mencionamos aqui e outros que não mencionamos apontam inequivocamente para o fim da história deste mundo. Eles evidenciam a iminência da volta de Jesus. Ao ver todos esses sinais se cumprindo, que devemos fazer? Veja o que diz a Bíblia a respeito: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima.” Lucas 21:28. Jesus ainda afirmou: “Quando ouvirem falar de guerras e rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas o fim não virá imediatamente" (Lc 21:9, NVI).

Sob inspiração divina, a irmã Ellen G. White escreveu: “A vinda do Senhor está mais próxima do que quando aceitamos a fé. O grande conflito aproxima-se de seu fim. Toda notícia de calamidade em mar ou terra é um testemunho de que o fim de todas as coisas está próximo. Guerras e rumores de guerras declaram-no. Haverá um só cristão cuja pulsação não se acelere ao prever os acontecimentos que se iniciam perante nós? “O Senhor vem. Ouvimos os passos de um Deus que Se aproxima, ao vir Ele punir o mundo por sua iniquidade. Temos que preparar-Lhe o caminho mediante o desempenho de nossa parte em preparar um povo para esse grande dia” (Evangelismo, p. 219).

Jesus está voltando, precisamos estar despertos e preparados.