Teologia

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

O QUE HÁ DE ELIAS EM CADA UM DE NÓS

 

Vinícius Mendes de Oliveira*

“Eis que Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor; Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais, para que Eu não venha e fira a Terra com maldição” (Ml 4:5-6).

“Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu” (Tg 5:17).

Os textos acima reúnem duas informações importantíssimas para o povo de Deus em nossos dias. Malaquias termina seu livro profetizando a respeito da vinda de Elias, antes do aparecimento do Messias. Naturalmente, o profeta estava prevenindo sua nação para o fato de que o Senhor visitaria Seu povo e que este deveria estar preparado. Deus abençoou Seus filhos, utilizando um homem com o poder e a virtude de Elias.

No que diz respeito ao primeiro aparecimento de Jesus, essa profecia se cumpriu em João Batista. No entanto, Jesus em breve voltará! Essa é a nossa mais solene esperança. Antes disso, o mundo precisa ser preparado. Assim como essa profecia foi aplicada a João Batista, ela também se refere àqueles que devem proclamar as três mensagens angélicas.

O problema é que, quando se examina a vida de Elias, tem-se a impressão de que ele é um tipo quase não humano. Imitá-lo parece algo impossível. Temos mais facilidade em nos identificar com personagens como Davi (que pecou vergonhosamente e foi perdoado); com Pedro (que traiu o Senhor mas se tornou um poderoso apóstolo); e com tantos outros pecadores como nós. Mas Elias parece aos nossos olhos como alguém impossível de ser imitado. Tiago 5:17 aumenta essa nossa perplexidade diante de Elias quando o apresenta como “semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos”. Como pode ser semelhante a nós um homem que orou para que não chovesse por três anos e meio e depois orou para que caísse fogo do céu? Que características de Elias fazem parte de nossa vida? Como o profeta se portou diante de todas as dificuldades que enfrentou como anunciador da justiça? Como podemos nos identificar com um homem assim?

Inconformado com a idolatria – Elias estava inconformado com a apostasia predominante em seu tempo. Os últimos versículos de 1 Reis 16 pintam um lamentável quadro do Israel governado por Acabe. O verso 31 diz que Acabe andou nos pecados de Jeroboão, ou seja, adorava a Jeová utilizando imagens de escultura para representá-Lo. Além disso, os versos 31-33 mencionam o casamento de Acabe, em jugo desigual com Jezabel, a qual introduziu o culto a Baal em Israel, com toda a licenciosidade que isso implicava. “Ao Elias ver Israel aprofundar-se mais e mais na idolatria, seu coração ficou angustiado e sua indignação foi nele despertada” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 119). Hoje, a situação não é diferente!

“O presente século é tão verdadeiramente de idolatria como aquele em que Elias viveu. Pode não haver nenhum altar externamente visível; pode não haver nenhuma imagem sobre a qual os olhos repousem, contudo, milhares estão seguindo após os deuses deste mundo – riquezas, fama, prazeres e as agradáveis fábulas que permitem ao homem seguir as inclinações do coração não regenerado” (Ibid., p. 177).

Assim como a do tempo de Elias, a geração da qual fazemos parte é extremamente corrupta. É inegável que esse é um ponto de identificação entre nós e ele. Para mantermos nossa proximidade com o profeta, resta-nos, então, não nos conformarmos com “este século” (Rm 12:2).

Postura diferente – Precisamos de uma postura totalmente avessa às práticas pecaminosas prevalecentes em nossa época. Elias fazia questão de ser diferente. O detalhe é que ele não fazia isso por uma questão de capricho. Ele foi transformado pela contemplação da Palavra de Deus. À medida que nos achegarmos a Deus, nós nos distanciaremos do padrão imoral do mundo. Trata-se de uma consequência natural. Se isso for uma realidade em nossa vida, algo de Elias haverá em nós.

Elias foi um homem de perseverante oração. Tiago 5:17 menciona que Elias orou “com instância”. Na verdade, essa oração teve como parâmetro uma exortação divina apresentada em Deuteronômio 11:16, 17. Nesta passagem, Moisés adverte o povo para o fato de que a idolatria resultaria em terrível estiagem. Nos dias do rei Acabe, apesar de toda a sua impiedade, havia prosperidade, por causa da regularidade das chuvas. Então, Elias orou insistentemente para que Deus interrompesse a chuva, fazendo o povo se lembrar de Sua Palavra.

“Em angústia de alma ele suplicou a Deus que detivesse em seu ímpio curso o povo outrora favorecido, visitando-o com juízos, se necessário fosse, a fim de que pudesse ser levado a ver em sua verdadeira luz seu afastamento do Céu. […] A oração de Elias foi respondida. […] Havia chegado o tempo em que Deus devia falar-lhes por meio de juízos” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 120).

Isso indica que a coragem que Elias manifestou em comparecer diante de Acabe não era inerente a ele mesmo – vinha de Deus. O profeta falava com base em uma resposta à oração. Assim como a palavra de Deus, por meio de Josué, se havia cumprido com a morte dos dois filhos de Hiel (1Re 16:34), ela também se cumpriria por meio de Elias no tocante à estiagem.

É importante mencionar ainda o fato de que Baal era considerado um deus provedor de chuva, uma vez que, na mente de seus adoradores, ele era responsável pelos fenômenos naturais. O profeta orou insistentemente para que fosse desfeita a mentirosa impressão de que Baal estava “abençoando” Israel por meio da chuva. Só havia um meio de conseguir isso: Deus “fechar” o céu. Foi com esse propósito que Elias orou.

Oração incessante – A atitude de oração de Elias nos ensina uma importante lição: devemos orar para que Deus contenha a onda de impiedade predominante em nossos dias, mediante o cumprimento de Suas promessas, como o derramamento da chuva serôdia sobre nós. A perseverante oração de Elias também nos ensina a não desanimar em nossos esforços missionários, mesmo quando a conjuntura da sociedade parece indicar que não há mais solução para as pessoas. Deus sabe como salvá-las de seus ímpios caminhos. Nossa parte consiste em orar e agir conforme o mandado do Senhor.

Elias aprendeu a depender de Deus. Após a severa mensagem que ele pronunciou perante o ímpio rei, dizendo que não choveria sobre a terra, “veio-lhe a palavra do Senhor, dizendo: Retira-te daqui, vai para o lado oriental e esconde-te junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão. Beberás da torrente; e ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem. Foi, pois, e fez segundo a palavra do Senhor; retirou-se e habitou junto à torrente de Querite, fronteira ao Jordão” (1Rs 17:2-5). Por que Deus o mandou àquele lugar? Por que ficar perto de um riozinho num lugar totalmente desconhecido? O que Deus pretendia com isso?

A verdade era que ali o Senhor tinha importantes lições a ensinar a Seu servo. O local era solitário e ermo. Ali, Elias deveria aprender a confiar plenamente em Deus e em Sua providência. Elias era apenas o instrumento de Deus. É verdade que a mensagem que ele tinha era poderosa, mas ela vinha de Deus. Talvez a pequena Querite fosse um meio de Deus lembrar Elias a respeito disso. Os corvos “garçons” também eram instrumentos de Deus para lembrá-lo de que o Senhor sempre provê para Seus servos fiéis tudo de que necessitam. Elias só estava naquela situação porque tinha resolvido fazer o que Deus esperava dele.

Quando assim fazemos, podemos confiar na providência e no cuidado de Deus. Não devemos permitir que o comodismo e o amor às coisas da Terra nos impeçam de fazer a obra que Deus espera de nós. Naturalmente, uma posição ao lado da verdade causará perseguição por parte daqueles que não se submetem a Deus. Mas, aonde quer que formos, se estivermos cumprindo a comissão divina, seremos cuidados por Ele. Embora fosse um poderoso profeta, Elias não podia se manter por si mesmo. Era totalmente dependente de Deus. Está aí outro ponto que nos liga a esse grande homem. Mesmo que não saibamos, todos dependemos de Deus para tudo. Como diz o apóstolo Paulo: “nEle vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28). Elias entendeu isso. Alguns fecham os olhos para essa realidade, mas o fato é que, assim como nós, “sujeito aos mesmos sentimentos”, Elias aprendeu a depender de Deus.

Mensagem perturbadora – A mensagem que Elias pregava era de arrependimento. Após três anos sem chuva sobre a terra, Deus enviou Elias ao encontro de Acabe. Esse encontro explosivo teve, no início, o seguinte diálogo. “És tu, ó perturbador de Israel? Respondeu Elias: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do Senhor e seguistes os baalins. Agora, pois, manda ajuntar a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas do poste-ídolo que comem na mesa de Jezabel. Então, enviou Acabe mensageiros a todos os filhos de Israel e ajuntou os profetas no monte Carmelo. Então, Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o. […] Então, Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se chegou a ele; Elias restaurou o altar do Senhor, que estava em ruínas” (1Rs 18:17-21, 30).

A expressão com a qual Acabe chamou Elias – “perturbador de Israel” – é usada outra vez na Bíblia em 1 Crônicas 2:7, em referência ao pecado de Acã, que perturbou Israel quando se apropriou “das coisas condenadas”. Essa expressão é referência aos objetos dos quais ele se havia apropriado indevidamente em Jericó (Js 7:1). Obviamente, essa expressão não era apropriada para Elias, mas caía como uma luva no caso de Acabe. E Elias não sonegou essa informação ao rei. O fato de o rei ter-se unido à ímpia Jezabel, fazendo o povo seguir seu caminho, produziu a terrível “perturbação” que veio sobre Israel. Na verdade, Jezabel era a “coisa condenada” de Acabe.

Elias não titubeou em deixar claro para Acabe que o pecado dele era responsável por aquela terrível calamidade. Nesse momento, o profeta chamou o pecado pelo seu nome exato. O senhor espera exatamente isso de nós.

“Há necessidade hoje da voz de severa repreensão, pois graves pecados têm separado de Deus o povo. A infidelidade está depressa tornando-se moda. ‘Não queremos que Este reine sobre nós’ (Lc 19:14), é a linguagem de milhares. Os sermões macios tão frequentemente pregados não deixam impressão duradoura; a trombeta não dá um sonido certo. Os homens não são atingidos no coração pelas claras, cortantes verdades da Palavra de Deus” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 140).

Não é tempo de dissimularmos a verdade. Devemos pregá-la claramente. As pessoas devem ser levadas a entender a terrível situação em que se encontram. Nossa vida deve adverti-las, não só nossas palavras. Que nossas palavras sejam coerentes com nossa vida!

Vale da decisão – O profeta expandiu a influência de sua advertência para o povo reunido no Carmelo. Ele exortou os israelitas para que eles deixassem de oscilar entre Deus e Baal. Era hora de decisão. O mundo espera isso de nós. As pessoas estão no vale da decisão e precisamos levá-las ao conhecimento da verdade e à decisão ao lado do que é certo. Essa mensagem também é para o povo de Deus. Elias não coxeava entre Deus e Baal. Ele estava do lado do Senhor. Por isso, podia pregar com tal autoridade. Se quisermos ser como Elias, precisamos nos definir ao lado de Deus e de Sua Palavra.

Naturalmente, isso envolverá sérias renúncias, mas Deus poderá nos usar como usou Elias. O verso 30 acrescenta que “Elias restaurou o altar do Senhor que estava em ruínas”. O secularismo tem tentado arruinar a verdade. A onda de relativismos morais tem militado contra as imutáveis verdades da revelação bíblica. Precisamos restaurar isso.

Somos reparadores de brechas. Devemos exaltar a verdade.

Ellen G. White apresenta o seguinte pensamento: “A maior necessidade do mundo é a de homens – homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus” (Educação, p. 57).

Exatamente como na época de Elias, o mundo de hoje precisa de homens como os que estão descritos nessa célebre passagem do Espírito de Profecia. Elias era assim. O mundo em que ele viveu também necessitou de um homem com essa envergadura. Esse é, sem dúvida, outro aspecto que nos liga a Elias. Nosso profeta não sonegou a mensagem que tinha. Resta-nos imitá-lo também neste ponto.

O episódio do Carmelo foi memorável. O Senhor respondeu com fogo e consumiu a oferta de Elias. Houve conversão em massa, mas algo estranho aconteceria no coração do profeta.

Um profeta deprimido – Elias se escondeu em uma “caverna”, devido à ira de Jezabel. O homem cujo nome significava “Jeová é Deus” temeu a mulher cujo nome significava “Baal é deus”. Elias havia sido usado por Deus para lembrar ao povo o significado de seu próprio nome e havia sido bem-sucedido, mas estranhamente se esqueceu disso e acreditou, por algum tempo, que Baal era deus. Ele empreendeu uma fuga que o levou a um dos mais importantes lugares da história de Israel: Horebe, o monte de Deus. Embora aquele lugar fosse importante, Deus não queria que Elias estivesse ali naquele momento. O profeta tinha uma missão e estava fugindo dela, primeiro pedindo a morte no caminho, depois se escondendo em uma caverna. Sem dúvida, esse foi um momento de terrível incredulidade do profeta. Ele duvidou que o Deus que havia mandado fogo do céu poderia livrá-lo das mãos da ímpia Jezabel.

“Na experiência de todos surgem ocasiões de profundo desapontamento e extremo desencorajamento – dias em que só predomina a tristeza, e é difícil crer que Deus é ainda o bondoso benfeitor de Seus filhos na Terra; dias em que o dissabor mortifica o coração, de maneira que a morte pareça preferível à vida. É então que muitos perdem sua confiança em Deus, e são levados à escravidão da dúvida, ao cativeiro da incredulidade. Pudéssemos em tais ocasiões discernir com intuição espiritual o significado das providências de Deus, veríamos anjos procurando salvar-nos de nós mesmos, esforçando-se por firmar nossos pés num fundamento mais firme que os montes eternos; e nova fé, nova vida jorrariam para dentro do ser” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 162).

Esse episódio da vida de Elias parece mais adequado a uma comparação com nossa vida. Nessa fase da vida do profeta, vemos confluências mais expressivas com nosso jeito de ser. Acho que, se a Bíblia não houvesse registrado esse fato e Tiago não nos tivesse informado que Elias “era semelhante a nós”, tenderíamos a achar que Elias não teria sido humano. É que muitas vezes nos sentimos assim. Temos medo dos desafios que estão à nossa frente, fugimos e nos escondemos em cavernas. Mas Deus não nos abandona lá. Existem muitas “cavernas” nas quais nos escondemos. Existe a caverna do medo, da indiferença, da preguiça, do orgulho espiritual, da falta de amor.

Não é na caverna que Deus nos quer, mesmo que seja uma caverna do Monte Horebe. Muitos de nós queremos desculpar nossa omissão, fugindo para o “Horebe” de nosso ufanismo religioso, por exemplo. Deitamo-nos em nosso berço esplêndido de um adventismo interno e esquecemos que as pessoas lá fora precisam de nós. Horebe foi o lugar em que Deus outorgou a Lei a Seu povo. Quando isso ocorreu, era essencial que Moisés estivesse lá. Mas não era esse o caso de Elias. A Lei já havia sido dada. A missão dele era levá-la àqueles que a estavam desprezando. Somos tentados a cometer o mesmo erro. Em vez de pregarmos, ficamos ensimesmados como se essa fosse a religião que Deus espera de nós. O fato é que posturas assim maquiam nossa lamentável situação espiritual. Esse é o pecado de Laodiceia. No entanto, o Senhor não desamparou Seu servo.

“Abandonou Deus a Elias em sua hora de provas? Oh, não! Ele não amava menos Seu servo quando este se sentiu abandonado de Deus e dos homens, do que quando, em resposta à sua oração, flamejou fogo do céu e iluminou o topo do monte” (Ellen G. White, Profetas e Reis, p. 166).

1 Reis 19:9 apresenta um lindo detalhe que às vezes nos passa despercebido. Deus disse a Elias, quando o profeta estava no interior da caverna: “Que fazes aqui, Elias?” Observe o advérbio de lugar que Deus usou: “aqui”. Esse termo indica que o Senhor estava dentro da caverna com Elias. Se Ele não estivesse lá, poderia ter dito: “Que fazes aí, Elias?” Deus resolveu ir à caverna onde Seu servo estava para tirá-lo de lá, curando-o de sua depressão.

Deus deseja usar conosco o mesmo método. No verso 15, Deus diz a Elias: “Vai”. É assim que Deus cura nossas crises espirituais. Ele nos dá a oportunidade de continuar a obra que Ele espera de nós. É como se Ele nos dissesse: “Eu ainda continuo contando com você. Seu erro não muda nada em nossa relação. Eu amo você.” Isso é lindo demais! Deus nunca desiste de nós. Esse tipo de postura de Deus, à qual comumente chamamos de graça, é que nos mantém vivos. Se não fosse isso, não haveria esperança para nós.

Elias subiu para o Céu. O fato é que Elias foi e cumpriu aquilo que Deus esperava dele. Ungiu Hazael rei sobre a Síria, Jeú, rei sobre Israel e Eliseu como profeta em Israel. Todas essas atitudes eram politicamente necessárias naquele momento para que a reforma iniciada pelo profeta continuasse. Elias continuou servindo ao Senhor e Deus o tomou para Si, fazendo-o “um tipo dos santos que estarão vivendo na Terra por ocasião do segundo advento de Cristo, e que serão ‘transformados num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta (1Co 15:51, 52) sem provar a morte’” (Ibid., p. 227).

Essa é a recompensa para todos aqueles que, em nossos dias, vivem “no espírito e poder de Elias” (Lc 1:17).

 

Vinícius Mendes de Oliveira*, professor de Língua Portuguesa, mestrando em Ciências Sociais na UFRB e aluno do 6º período do SALT – IAENE, Cachoeira, Ba. Publicado na RA de Maio/2011.


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

CRISTO MORREU POR NÓS


 Ellen G. White*

Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito. 1 Pedro 3:18.

A cruz do Calvário apela para nós com poder, proporcionando uma razão por que devemos amar a nosso Salvador e por que devemos torná-Lo o primeiro, o último e o melhor em tudo. Devemos tomar o lugar que nos compete em humilde penitência aos pés da cruz. Aí, ao vermos nosso Salvador em agonia, o Filho de Deus morrendo, o justo pelos injustos, podemos aprender lições de mansidão e humildade de espírito. Contemplai Aquele que com uma palavra podia chamar legiões de anjos em Seu auxílio, sendo objeto de zombaria e hilaridade, de insulto e ódio. Ele Se entrega como sacrifício pelo pecado. Ao ser insultado, não ameaça; ao ser acusado falsamente, não abre a boca. Ele ora na cruz por Seus assassinos. Está morrendo por eles; está pagando um preço infinito por cada um deles. Suporta a pena dos pecados do homem sem qualquer murmuração. E essa vítima que não se queixa é o Filho de Deus. Seu trono é desde a eternidade, e Seu reino não terá fim.

Vinde, vós que procurais satisfazer-vos em prazeres proibidos e condescendências pecaminosas; os que estais vos afastando de Cristo, considerai a cruz do Calvário; contemplai a vítima real sofrendo por vossa causa; e, enquanto tendes oportunidade, sede sábios e buscai a fonte de vida e de verdadeira felicidade. Vinde, vós que vos queixais e murmurais diante dos pequenos aborrecimentos e das poucas aflições que tendes de enfrentar nesta vida, olhai para Jesus, o Autor e Consumador de vossa fé. Ele afastou-Se de Seu trono real, de Sua posição elevada, e, pondo de lado Sua divindade, revestiu-Se da humanidade. Foi rejeitado e desprezado por nossa causa; tornou-Se pobre para que, pela Sua pobreza, nos tornássemos ricos. Podeis vós, contemplando os sofrimentos de Cristo com os olhos da fé, contar vossas aflições, vossas desditas? Podeis nutrir vingança no coração enquanto vos lembrais da oração que procedeu dos pálidos e trementes lábios de Cristo, em prol de Seus insultadores e assassinos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”? Lucas 23:34.

Há uma obra diante de nós: dominar o orgulho e a vaidade que procuram um lugar em nosso coração, e, por meio de arrependimento e fé, colocar-nos em familiar e santa conversação com Cristo. ... Precisamos negar o próprio eu, e lutar continuamente contra o orgulho. Precisamos esconder o próprio eu em Jesus, e deixar que Ele apareça em nosso caráter e conversação. Enquanto olharmos constantemente para Aquele que foi traspassado pelos nossos pecados e oprimido pelas nossas dores, obteremos forças para ser semelhantes a Ele. Nossa vida, nosso procedimento testificará o quanto apreciamos nosso Redentor e a salvação que Ele efetuou para nós a tal preço para Si. E nossa paz será como um rio enquanto nos ligarmos a Jesus em voluntário e feliz cativeiro. — The Signs of the Times, 17 de Março de 1887.

 

*Ellen G. White (1827-1915) é considerada a autora norte-americana mais amplamente traduzida. Suas obras foram publicadas em aproximadamente 150 línguas. Guiada pelo Espírito Santo, ela exaltou a Jesus e apontou para as Escrituras como a base de sua fé.

 

FONTE: Exaltai-O [MM 1992], p. 234.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

POR QUE ALGUMAS PESSOAS NÃO ESTARÃO NO CÉU


G. Ralph Thompson*

Há na parábola das dez virgens muitas lições espirituais. As dez professam fé pura; não há diferenças externas entre as cinco prudentes e as cinco loucas; todas parecem cristãs; têm o mesmo comportamento; agem do mesmo modo; todas têm o nome nos livros da igreja, e desfrutam todas de bom conceito na congregação.

A lição que aprendemos aqui é que não basta alguém apresentar-se do melhor modo no sábado e ir à igreja para ser considerado necessariamente um cristão. O que é de mais significativo nesta parábola é que, no que diz respeito ao comportamento das dez virgens, estavam perfeitamente conformes com todas as normas da igreja. Nada havia no comportamento e estilo de vida das cinco virgens loucas que permitisse a censura da Comissão da igreja.

Há uma lição também nas lâmpadas e no óleo. As lâmpadas representam a Palavra de Deus. O óleo representa o Espírito Santo. Quanto tempo os membros da igreja despendem com a Palavra de Deus? Têm o Espírito Santo para iluminar-lhes o entendimento? Possuir a Palavra de Deus não é o bastante. É preciso ter também o Espírito Santo.

"Sem o Espírito de Deus, de nada vale o conhecimento da Palavra. A teoria da verdade não acompanhada do Espírito Santo, não pode vivificar a alma, nem santificar o coração. Pode estar-se familiarizado com os mandamentos e promessas da Bíblia, mas se o Espírito de Deus não introduzir a verdade no íntimo, o caráter não será transformado. Sem a iluminação do Espírito, os homens não estarão aptos para distinguir a verdade do erro, e serão presa das tentações sutis de Satanás” (Parábolas de Jesus, p. 408, 411).

Assim, precisamos do Espírito Santo para nos iluminar a mente, para nos ajudar a transformar em ação aquilo que temos estudado. O conhecimento apenas intelectual da verdade não basta. Precisamos dar uma correspondente resposta do coração. Este conhecimento da Palavra de Deus precisa tomar-se experimental. Precisa afetar nosso estilo de vida. O conhecimento da vontade de Deus tem de tomar-se evidente mediante a transformação do caráter. Precisamos render-nos à vontade de Deus expressa em Sua Palavra.

Virgens Loucas, Não Hipócritas

Eram loucas as cinco virgens, ou hipócritas? Notai o que Ellen G. White diz sobre este grupo: “A classe representada pelas virgens loucas não é hipócrita. Têm consideração pela verdade, advogaram-na, são atraídos aos que creem na verdade, mas não se entregaram à operação do Espírito Santo. Não caíram sobre a rocha, que é Cristo Jesus, e não permitiram que sua velha natureza fosse quebrantada. Essa classe é representada, também, pelos ouvintes comparados ao pedregal. Recebem a Palavra prontamente; porém, deixam de assimilar os seus princípios. Sua influência não permanece neles. O Espírito trabalha no coração do homem de acordo com seu desejo e consentimento, nele implantando natureza nova; mas a classe representada pelas virgens loucas contentou-se com uma obra superficial. Não conhecem a Deus. Não estudaram Seu caráter; não tiveram comunhão com Ele; por isso não sabem como confiar, como ver e viver. Seu serviço para Deus degenera em formalidade” (Idem, p. 411).

Certamente não queremos meramente professar o cristianismo e então chegar ao fim e encontrar a porta fechada. Isto seria a pior das coisas.

Notai que quando as cinco virgens loucas se voltaram para as cinco prudentes e solicitaram o óleo destas, a resposta foi que elas mesmas o fossem comprar. Isto dá eloquente expressão ao importante fato espiritual de que não pode haver claridade, iluminação, com óleo emprestado. A religião de nossos pais, de nossos amigos, de outros membros da igreja, não pode ser creditada a nós. Nossos pais podem ser santos, mas isto não nos garante a entrada no reino. Temos de conhecer o Senhor por nós mesmos. O óleo do Espírito Santo tem de ser derramado em nossa própria vida. Precisamos conhecer a Palavra de Deus por nós mesmos. Não podemos pedir de empréstimo a experiência de outros em nossa posição diante de Deus. Jesus Cristo tem de Se tomar nosso Salvador pessoal. Precisamos conhecê-Lo por nós mesmos. Servimos a Deus em base individual, e é como indivíduos que seremos julgados por Ele. Temos de ir e comprar, nós mesmos.

Há os que se sentem felizes por haverem nascido já como adventistas do sétimo dia, isto é, de pais adventistas, em lares adventistas. Na verdade não existe isto. Todos temos de "nascer de novo", como adventistas do sétimo dia. Precisamos fazer uma decisão individual por Cristo. Este conhecimento não pode ser apenas superficial. Há muitos cristãos que conhecem não a Cristo, mas a respeito de Cristo. O real conhecimento de Cristo tem de ser obtido mediante íntimo relacionamento com Ele como Salvador e Senhor.

Deixando que Nossas Lâmpadas Brilhem

Nossas lâmpadas devem ser espevitadas e postas a arder, de modo que iluminem com intenso brilho. Somos admoestados a deixar que nossas lâmpadas brilhem. Nesse brilho refletiremos a luz do Sol da Justiça. Pessoas em trevas serão atraídas pela beleza de nossa vida ao refletirmos a luz que Deus faz resplandecer em nosso coração. Certamente que como cristãos devemos orar para que Deus prepare o nosso coração, para que reflita o brilho de Seu caráter, e estejamos prontos a resplandecer sempre, mesmo na escuridão da meia noite.

Enquanto esperamos que o Esposo surja, estejamos certos de que temos dado nossa vida completamente a Jesus Cristo, que Ele é nosso, que devemos refletir Seu caráter. Asseguremo-nos de que por Sua habilitadora graça temos vencido hábitos que nos roubariam as bênçãos espirituais. Quando o Noivo vier, não haveremos de querer ouvir as terríveis palavras: "Não vos conheço".

Na parábola, tanto as virgens loucas como as prudentes são apanhadas em descuido. Subitamente, ouve-se o clamor: "Aí vem o Esposo". Um grupo havia feito preparativos para esta hora de crise. O outro não havia. Um grupo ergue-se depressa e prepara suas lâmpadas, saindo ao encontro do Esposo. O outro procurou desesperadamente ativar lâmpadas que se apagavam. Não basta procurar estar prontos. E preciso estar prontos.

Como diz a serva do Senhor, no dia final "muitos reclamarão admissão no reino de Cristo", dizendo: "Temos comido e bebido em Tua presença, e Tu nos ensinaste nas ruas". E "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu nome? E em Teu nome não expulsamos demônios? E em Teu nome não fizemos obras maravilhosas?" Mas a resposta é: "Em verdade vos digo, que não sei de onde vós sois; apartai-vos de Mim. " S. Lucas 13:26, 27; S. Mat. 7:22. Nesta vida eles não haviam entrado em associação com Cristo; por isto mesmo não conheciam a linguagem do Céu, sendo estranhos a seu gozo. "Quem conhece as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus." I Cor. 2:11.

"As palavras mais tristes que caíram em ouvidos mortais são aquelas da sentença: 'Não vos conheço'. Unicamente a comunhão do Espírito que desprezastes poderia unir-vos à hoste jubilosa que estará no banquete das bodas. Não podereis participar dessa cena. Sua luz incidiria sobre olhos cegos, e sua melodia em ouvidos moucos. Seu amor e alegria não fariam soar de júbilo corda alguma do coração entorpecido pelo mundo. Sois excluídos do Céu por vossa própria inaptidão para a sua companhia.

"Não podemos estar prontos para encontrar o Senhor, acordando ao ouvir o brado: 'Aí vem o Esposo!' e então tomar nossas lâmpadas vazias para enchê-las. Não podemos viver apartados de Cristo aqui, e ainda assim estar aptos para a Sua companhia no Céu” (Idem, p. 413, 414).

O dia do juízo será um dia muito triste para os cristãos que apenas atenderam ao Seu chamado com o coração dividido. Por outro lado, que alegria maravilhosa será para aqueles que são caracterizados como sábios! Estes estarão em constante estado de preparação. Estarão confiando não em sua própria justiça, mas na completa justiça de Jesus Cristo. Estarão se regozijando nEle como Salvador e Senhor de suas vidas. Terão experimentado o gozo de pecados perdoados, e terão plena confiança nos méritos de seu Senhor.

Ao aproximar-Se o Esposo, ao estar perto o tempo de Sua vinda, os que são sábios estarão nas pontas dos pés, aguardando ansiosos Sua volta. Partilharão suas alegrias com outros. Serão otimistas, não pessimistas, pois sabem que o Rei, o Esposo, está a caminho.

Logo os céus se abrirão, e do azul do firmamento Cristo surgirá. Os céus se abrirão desmesuradamente, e grande cortejo de anjos acompanhará o Rei, ao descer Ele para receber Sua expectante esposa. Se esperamos ser contados entre esse grupo, temos de estar sem mácula nem ruga ou qualquer coisa semelhante nesse tempo.

Graças a Deus que as imaculadas vestes da própria justiça de Cristo podem ser nossas, e estaremos firmes naquele dia, quando teremos a alegria de olhar para cima e dizer: "Eis que este é o nosso Deus a quem aguardávamos, e Ele nos salvará. Este é o Senhor... e em Sua salvação gozaremos e nos alegraremos”.

 

G. Ralph Thompson, era Vice-Presidente da Associação

Geral na década de 1980.

 

FONTE: Revista Adventista, abril de 1980, p. 9-11.