Teologia

sexta-feira, 24 de julho de 2020

ESFRIAMENTO DO AMOR: SINAL INEQUÍVOCO DO FIM


Ricardo André

Essa semana o mundo foi surpreendido com a notícia, amplamente repercutida pela imprensa nacional e internacional, de que o Presidente dos EUA, Donald Trump, comprou todas as doses da vacina contra o Covid-19 que serão produzidas ainda este ano, estabelecendo o monopólio da vacina, e deixando as populações de outros países do mundo sem ela. A Casa Branca gastará US$ 1,95 bilhão para se apoderar da produção de dois laboratórios. Apesar de Francis Collins, chefe do Instituto Nacional de Saúde (NIH), ter afirmado que o apoio à ideia de uma vacina contra a Covid-19 é “bem público global”, Donald Trump, que despreza qualquer ideia do tipo, apelou ao egoísmo e falta de amor latente da cultura ianque para garantir que a americana Pfizer e a alemã BioNTech entregassem aos Estados Unidos todo o suprimento de 2020 da vacina BNT162, uma das duas candidatas desenvolvidas pelas companhias. O velho ditado brasileiro se cumpre perfeitamente no egoísta Trump: “Comida pouca, meu pirão primeiro!”

Ao nos depararmos com uma notícia dessa percebemos que as Sagradas Escrituras estão se cumprindo, em relação ao que Jesus profetizou em Seu célebre “Sermão Escatológico”, que no tempo do fim aconteceriam muitas coisas, e dentre elas, o amor de muitos se esfriaria. Ele declara expressamente: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:12, NVI). No meio de uma variedade de sinais astronômicos, cósmicos, sociológicos, políticos e religiosos, Ele mencionou o esfriamento do amor. O que queremos abordar nesse artigo é exatamente sobre esse sinal. Um dos sinais que mais deveria preocupar aqueles que são cristãos, uma vez que ela prever o cumprimento na vida de muitos deles. Alguém talvez argumente: Será que isso realmente seria relevante? Afinal, a falta de amor não existe desde o início do mundo?

O esfriamento do amor em decorrência do aumento da maldade

Na verdade, Jesus estava predizendo uma situação anormal, caracterizada pela maldade. Ele afirmou que os dias que precederiam Sua segunda vinda seriam marcados pelo esfriamento do amor. Tal esfriamento está diretamente relacionado ao crescimento da maldade ou do pecado em suas mais variadas formas. A palavra grega para amor empregada por Jesus nesse texto é ágape, que significa “amor na sua forma mais elevada e verdadeira, amor insuperável, amor que leva alguém a se sacrificar por outros (Jo 15:13). Indica reverência a Deus e respeito pelos semelhantes” (Comentário Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 352). Isso significa que Jesus profetizou que nos últimos dias esse amor do tipo ágape deixaria de existir em muitas pessoas. Ou seja, de tanto ver a maldade multiplicada em proporções nunca vistas na história, as pessoas se tornariam frias, sem sentimento, sem compaixão e empatia. As pessoas perderiam gradativamente o senso de amor a Deus e ao próximo. A religião seria uma formalidade cultural. Tendo a consciência neutralizada pelo mal e a paixão estimulada pelos desejos sensuais, muitos acabariam tendo uma mente reprovável e um comportamento monstruoso.

Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “Achamo-nos em um mundo de pecado e corrupção, rodeados de influências que tendem a seduzir ou desanimar os seguidores de Cristo. Disse o Salvador: ‘Por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará’. Mateus 24:12” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 741).

De fato, estamos vivendo num mundo marcado pelo aumento do pecado, da corrupção e da maldade. Lamentavelmente, ouvimos falar quase que diariamente nos noticiários da imprensa de violência doméstica. Mulheres são espancadas e mortas pelos parceiros ou ex-parceiros, deixando inúmeras crianças órfãs. De acordo com o Mapa da Violência, elaborado a partir de dados do Ministério da Saúde, revela que o Brasil ocupa hoje a 5ª posição no ranking de feminicídio, em um grupo de 83 países. São 4,8 assassinatos para cada grupo de 100 mil mulheres. O número de estupros passa de 500 mil por ano em todo o país. No caso dos assassinatos, 55,3% foram cometidos no ambiente doméstico e 33,2% dos assassinos eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

Ouvimos falar de filhos que matam seus pais; crianças são jogadas no lixo ou em rios, espancadas até a morte. Outras, vítimas de violência sexual por familiares de confiança ou pessoas próximas da família. No Brasil, entre 2011 e 2017, o Disque 100, canal de denúncias oficial do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MDH), registrou 203.275 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. No mesmo período, o Ministério da Saúde recebeu 141.160 notificações da mesma violência.

“Devido ao aumento da maldade”.  Estas palavras chamaram minha atenção ao escrever essas linhas, porque me fizeram lembrar do jovem Alexandre Nardone, na cidade de São Paulo, que assassinou sua própria filha Isabella Nardone, de 5 anos, jogando-a do 6º andar do apartamento onde moravam, no Edifício London, no dia 29 de março de 2008. Esse crime chocou o país. O pior de tudo foi seu álibi, procurando convencer o país e a polícia de que sua filha tinha sido assassinada por uma outra pessoa desconhecida que teria entrado no apartamento e praticado o crime. Quase que diariamente ouvimos falar de pais que matam os filhos e de filhos que assassinam seus pais.

As pessoas assassinas estão matando outras sem precisarem de muitos motivos. Mata-se por motivos fúteis, irrelevantes ou banais. São moradores em situação de rua queimados por “brincadeira”, brigas entre vizinhos, discussões no trânsito e desentendimentos familiares que resultam em morte. Um enorme número de adolescentes em conflito com alei aceitam com entusiasmo a ideias de estourar os miolos de outro ser humano, sem mais nem menos. A vida perdeu o valor.

O crime e a violência são um fenômeno mundial. Além disso, os crimes hoje, são mais violentos. A generalizada ondas de crimes e a crescente população carcerária do mundo mostram que milhões de pessoas têm intenções criminosas e pouca vontade de mudar. Muitos chegam até acreditar que o crime compensa. Assim, o mundo mudou – para pior. Indubitavelmente, ficou mais perigoso.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, um a cada três casamentos termina em divórcio. Esse elevado índice de divórcio, os maus tratos aos idosos e os abortos também são evidências de que muitos mostram completa falta de afeições humanas normais.

Cada vez mais os valores estão sendo invertidos; de forma intencional, sarcástica e agressiva, os valores cristãos vem sendo combatidos e apresentados como ultrapassados e sem valor; cada vez mais a mentira tem se tornado verdade nos ouvidos dos homens. Com total irreverência, programas de TV e vídeos na internet debocham do nome de Deus e dos ensinos da Bíblia Sagrada. De acordo com Jesus, a disseminação de pecados desse tipo faz o amor de muita gente cair abaixo de zero no termômetro espiritual.

O pecado já é visto como o novo padrão a ser exaltado e seguido, enquanto que a santidade já é identificada como algo a ser reprovado e combatido. A maldade está se multiplicando.

“Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará”, que realidade a de nossos dias!

O esfriamento do amor: sinal da volta de Jesus

Os ventos frios da falta de amor têm soprado fortemente em nossos dias. Enquanto a temperatura da maldade humana aumenta, a temperatura do ágape diminui. Foi o Senhor Jesus quem falou que o amor de muitos se esfriará com o aumento da iniquidade (Mateus 24:12).

Nesse contexto Jesus colocou o esfriamento do amor em decorrência da multiplicação da maldade entre os sinais que caracterizam um período que Ele chamou de “o princípio das dores” (Mt 24:8). Ao lermos o capítulo 24:4-14 notamos que os sinais mencionados por Jesus no seu sermão profético foram os seguintes: surgimento de falsos profetas e falsos cristos; guerras e rumores de guerras em conflitos internacionais; miséria e fome; catástrofes naturais; ferozes perseguições contra a Igreja; esfriamento do amor por causa da multiplicação da iniquidade; e a expansão mundial da pregação do Evangelho.

Ele destacou que quando esses sinais cumprirem-se virá o fim (Mateus 24:14). Isso significa que esses sinais servem para apontar para a o retorno de Jesus em glória e majestade. Mas, que período é esse denominado por Jesus de princípio das dores?  É o período que se estende desde Cristo até os nossos dias, e precede imediatamente a grande tribulação descrita em Mateus 24:15-28. Essa grande tribulação ocorrerá após o decreto dominical emitido pela nação americana, representada pela besta de dois chifres de Ap 13:11-18.

É importante destacar que esse esfriamento do amor de muitos, tanto para com Deus quanto para com o próximo, não está se cumprindo somente nas pessoas ímpias do mundo, mas também entre as pessoas que se dizem cristãs. Se observarmos o contexto da declaração de Jesus veremos que Ele fala especificamente aos que creem. É evidente que podemos ver o amor esfriando no mundo ao nosso redor também, mas, como Ele estava falando com os discípulos, e, fala claramente sobre a perseverança para salvação, fica claro que Ele está falando sobre os que creem, ou seja, sobre os cristãos!

Deveras, a cada dia temos visto e ouvido falar de uma crescente frieza na igreja de Deus. Muitos jovens cristãos já não sentem mais o coração aquecido com a Palavra de Deus, desconhecem o fervor espiritual, e a chama da graça de Cristo não queima mais em seu coração congelado pelas influências mundanas. Os ventos frios do relativismo secam o conceito de verdade absoluta da mente de muita gente. Como consequência, passa-se a acreditar que “tudo é relativo”, “tudo é normal”. Expressões como “não tem nada a ver” e “isso é coisa do passado” são usadas como jargões por muitos cristãos para justificar suas práticas pecaminosas.

Nesse tempo de pandemia da Covid-19, em que os cultos presenciais foram suspensos, muitos crentes tem abandonando a fé. Por conta da falta de oração, estudo devocional das Sagradas Escrituras, consagração e da comunhão com Deus e com os irmãos muitos estão afastando-se dEle e de Sua igreja. Muitos que professam serem cristãos estão demonstrando um coração frio na maneira como tratam as outras pessoas, são ingratos, amantes de si mesmos. Temos deixado de lado o amor e o cuidado para com o nosso próximo. Estamos mais preocupados conosco mesmos e menos com nosso próximo. Quando vemos cenas de pessoas famintas, crianças e adultos abandonados, excluídas da nossa sociedade, sem-terra, morando nas ruas, em barracos sem nenhuma condição de higiene, etc., nos emocionamos, nos indignamos e até prometemos ajudar de alguma forma, mas os dias passam e voltamos a cuidar apenas de nossas vidas, nos esquecemos de nossas promessas. Existe, infelizmente, muitas outras ações que nós, cristãos, praticamos que evidenciam falta de amor, ou que nosso amor esteja esfriando e com isso corremos sérios riscos de naufragarmos na fé (1Tm 1:18-20).

Nós somos o povo de Deus e temos professado que somos embaixadores do Senhor Deus aqui na terra, que somos a Igreja Remanescente da profecia bíblica (Ap 12:17) e temos a “verdade presente” (2Pd 1:12) como resposta aos problemas da existência humana. Tudo isso é verdade e está na Bíblia, mas temos em muitas oportunidades agido totalmente ao contrário daquilo que pregamos. A base e o princípio do cristianismo é o amor, fomos alcançados pelo amor do Senhor Jesus para com as nossas vidas conforme lemos em João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Jesus Cristo nos disse: "Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros" (Jo 13:34, 35, NVI).

Sob inspiração divina, Ellen White escreveu essas duras mas verdadeiras palavras: “Egoísmo e fria formalidade têm quase extinguido o fogo do amor, dissipando as graças que seriam por assim dizer a fragrância do caráter. Muitos dos que professam Seu nome, deixaram de considerar o fato de que os cristãos têm de representar a Cristo. A menos que haja sacrifício prático em bem de outros, no círculo da família, na vizinhança, na igreja e onde quer que estejamos, não seremos cristãos, seja qual for a nossa profissão” (Beneficência Social, p. 42).

O alerta que Jesus nos faz é muito grave: “o amor de muitos esfriará”. Esse verso é traduzido da seguinte forma na versão Almeida Revista e Atualizada: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”. Mas aqui há algo importante: definitivamente o amor não se esfriará de todos. Louvado seja Deus!

Isso significa que apesar de a iniquidade se multiplicar e o amor de muitos se esfriar, há ainda aqueles que em cuja vida arde o genuíno amor. A chama do amor a Deus, ao “Evangelho Eterno” (Ap 14:6-12) e ao próximo, continua ardendo na vida dessas pessoas. Estes não são meros cristãos professos comprometidos com o mundo; mas são cristãos que verdadeiramente experimentaram uma conversão genuína a Cristo. Estes são também aqueles que pelo poder de Deus perseverarão até o fim, até que possam desfrutar da salvação em toda sua plenitude, quando Jesus voltar (Mt 24:13; 1 Co 1:8).

O comportamento perverso está presente na história da humanidade desde a queda do primeiro casal humano, Adão e Eva. Mas ele vem crescendo e se intensificando, à medida que avançamos para o fim da história. A multiplicação da iniquidade pode ser facilmente percebida por todos os lados. Muitos, ao comtemplar o panorama mundial contemporâneo diante da maré crescente de maldade, corrupção e luxúria que invade o mundo e a igreja, são vencidos pelo desalento. Porém, aquele que estuda as Sagradas Escrituras, sabe que o velho e bom livro de Deus prenuncia o aumento da maldade e da corrupção moral precisamente para o tempo que precede o maior acontecimento da História, a saber, a segunda vinda de Cristo a este mundo.

Após a densa noite de pecados e vícios que cobre o mundo, um dia feliz raiará, quando Cristo descer do Céu para instaurar o Seu reino de luz, pureza, justiça e amor (I Ts 4:13-18; Dn 2:44; 2Pd 3:13; Ap 21:1-5).

E enquanto aguardamos o raiar brilhante do dia do Senhor, somos exortados pelo Deus Espírito Santo a valer-nos do poder divino ao nosso alcance para resistir ao poder do mal, e através de uma relação pessoal com Jesus, desenvolver um caráter irrepreensível e sem mácula.

Caro amigo leitor, a profecia de Jesus está se cumprindo dramaticamente em nossos dias, mas ela não precisa se cumprir em nós. Ame mais as pessoas! Se você recebeu algum dia o amor de Deus em seu coração, mantenha-o vivo e distribua-o para outras pessoas. Para seu amor não morrer de frio, aqueça-se hoje com a graça de Cristo e livre-se, pelo poder de Deus, dos efeitos congelantes do pecado. Ore, pois, busque mesmo a ajuda de Deus para amá-Lo mais e ao próximo. Os tempos estão indo... indo embora e Jesus está retornando para buscar Seu povo.

Que o compassivo Salvador te abençoe ricamente.

 

sábado, 18 de julho de 2020

OS PASTORES ADVENTISTAS DIGITAL INFLUENCERS E A POLÍTICA


Ricardo André

A palavra política é oriunda da palavra grega pólis, que significa literalmente cidade. Portanto, política é o governo da cidade. Segundo o Dicionário Aurélio Ilustrado, política significa “a tarefa de governar um país, um estado, um reino, etc; a direção dos negócios públicos” (p. 386). Do ponto de vista ético ou dos valores, a política é o conjunto de ações pelas quais os homens e as mulheres buscam uma forma de convivência entre os indivíduos, grupos, nações que oferecem condições para a realização do bem comum. Já o grande estudioso francês, Pe. Lebret, definiu adequadamente política como sendo: “a ciência, a arte e a virtude do bem comum”. Do ponto de vista dos meios ou da organização, a política é o exercício do poder e a luta para conquistá-lo. Essa ação política ocorre quando pessoas e grupos sociais se organizam em partidos políticos e, constroem e defendem projetos para a gestão e organização da sociedade, propondo-se também a representar o interesse de diversos grupos e classes, candidatando-se a serem eleitos pelo voto para funções legislativas (vereador, deputado e senador) e executivas (prefeito, governador e presidente da República). Como a Igreja Adventista tem se relacionado com a política-partidária? Como líderes cristãos, os pastores podem defender plenamente algum posicionamento político? O propósito deste artigo é promover exatamente essa reflexão.

A Igreja Adventista e a política

Por acreditar e defender o princípio da laicidade do estado (separação de Igreja e Estado), a Igreja Adventista do Sétimo Dia é oficialmente apartidária. Não possui partido nem bancada nos Parlamentos, não apoia e nem faz acordo político com nenhum partido nem com seus candidatos. “A igreja acredita que adotar uma postura que não envolva filiação partidária ou qualquer tipo de compromisso com partidos políticos é uma das maneiras de manter esse princípio. Tal prática deve nortear não apenas a organização adventista em todos os seus níveis administrativos, mas também as instituições por ela mantidas, seus pastores e servidores”.1 Não obstante ser apartidária, a Igreja Adventista reconhece os direitos políticos de seus membros de votar e ser votado e, mantém relacionamento adequado, de respeito as autoridades constituídas em todas as esferas do poder político. De acordo com o documento da igreja “Os Adventistas e a Política”, os membros leigos que exercem funções na igreja local e, que desejam pleitear algum cargo eletivo através de eleições, são solicitados a deixarem “suas funções na igreja local durante o período de campanha”2. Já os pastores e funcionários das instituições mantidas pela Organização devem desvincularem-se “obrigatoriamente do trabalho na organização adventista”3.

Essa posição da igreja é corretíssima, até porque não é a missão da igreja atuar no mundo como um partido político, mas como uma agência proclamadora do “evangelho eterno”, conforme descrito em Apocalipse 14:6-12. Essa posição da igreja a diferencia de muitas outras igrejas evangélicas que, de forma equivocada, fundam partidos, promovem e elegem seus candidatos, bem como fazem a cooptação de fiéis para fins político-eleitorais, eliminando o senso crítico do fiel. Mas, não somente isso. Há o abuso do poder econômico ou político, religioso e o autoritarismo que vicia a vontade do crente filiado. É a velha dicotomia entre o discurso e a prática.

Os pastores adventistas digital influencer e a direita política

Não obstante a Igreja Adventista corretamente ser apartidária, uma enorme parcela dos pastores adventistas no Brasil possuem posições políticas alinhadas com a direita. Muitos deles influenciados pela teoria conspiratória de dominação do Brasil pelos comunistas pela dominação cultural, denominada de “marxismo cultural”, desenvolvida pelo astrólogo falido Olavo de Carvalho, tornaram-se anti-esquerdistas. Segundo o astrólogo Olavo, o “marxismo cultural” representa uma ação conjunta de governos e instituições para demolir os valores do Cristianismo e impor um relativismo cultural e leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, além de um controle estatal da economia e da cultura que implantaria o comunismo paulatinamente sem necessidade de uma revolução armada da classe trabalhadora, como previa o velho Karl Marx. Logo, o “marxismo cultural” é inimigo do Cristianismo. Ainda segundo eles, a televisão, os livros escolares, as universidades, as músicas, a arte em geral, e toda a educação, assim como a justiça e a estrutura do Estado, estariam sendo alterados microscopicamente para, depois de um tempo de modificações acumuladas, promover um momento ideal para a revolução comunista, que dessa vez seria silenciosa e sem derramamento de sangue. É a partir dessas ideias mirabolantes que a direita mobiliza os cristãos em torno dos seus objetivos, conseguem trazer a maioria dos cristãos para seu campo político.

Por conta disso, os partidos de esquerda passaram a ser demonizados pelos pastores de todas as agremiações cristãs, inclusive pelos adventistas, bem como por muitos cristãos leigos que se tornaram presas fáceis desse engodo. Neste contexto, muitas vezes, ao defendermos políticas sociais, temos que escutar de muitos cristãos que “isso é influência da praga do marxismo cultural”, “ser de esquerda virou crime”, “a ditadura comunista estava sendo implantada no Brasil” e coisas do tipo. Isso tornou-se uma paranoia. A verdade é que isso não passa de pura invenção e simplismo ideológico do discurso reacionário. Mas, os líderes religiosos no Brasil tomaram-na como verdade absoluta. Fato é que, a retórica dos que plantam o terror do “marxismo cultural” gravita em torno de um projeto de desconstrução: das políticas sociais, das conquistas das minorias, dos direitos trabalhistas e do papel do Estado na economia. Qualquer um que se levante contra a “ameaça comunista” no Brasil, não importa o que mais possa dizer, é aclamado como líder. Eles não se preocupam com racismo, concentração de renda, desigualdades regionais, ausência de políticas públicas eficientes para melhorar as condições de vida dos pobres, negros, mulheres e outros grupos vulneráveis. Ao contrário, eles endossam tudo isso.

Vale ressaltar que não são todos os pastores adventistas que possuem posições políticas de direita. Há muitos que, inclusive, evitam manifestarem-se politicamente, e agem de forma coerente com o que preconiza a Instituição. Porém, alguns outros tornaram-se figuras atuantes nas redes sociais, com uma forte militância contra a esquerda e os adventistas progressistas, a exemplo dos pastores Leandro Quadros e Michelson Borges. Ambos já produziram textos e vídeos com um amontoado de falsidades sobre a esquerda ou o marxismo, cuja ideia central é demonizar o pensamento de esquerda, como se ele fosse oposto a Deus e às diversas manifestações de fé. No seu combate a esquerda, comumente dizem: “Não sou esquerda nem direita”. Mas, não criticam na mesma quantidade e intensidade a direita como fazem à esquerda. Eles sabem (e nós sabemos) de que lado estão. O Michelson Borges postou recentemente em seu Blog "Outra Leitura" o texto “A infiltração dos “cristãos progressistas” na igreja cristã”4, do teólogo e escritor Franklin Ferreira, e primeiramente publicado no jornal Gazeta do Povo. Nele, o articulista, de início, comete o erro da generalização carregada de sentimento de desprezo ao acusar que todos os cristãos progressistas “repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível. Falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto. São indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal, e a salvação pela graça. Repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus, Seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz e Sua ressurreição corporal. Rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino. São críticos das igrejas ou estão desigrejados. São indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo”. Embora reconheçamos que existam cristãos progressistas (adeptos da teologia liberal), que negam a inspiração e a historicidade da Bíblia Sagrada e seus principais ensinos, isso não significa que a totalidade dos cristãos de esquerda pensem assim. Nem todo cristão progressista é teologicamente progressista. A maioria deles são politicamente progressistas e teologicamente conservador. Todavia, o articulista do texto tenta colocar todos os cristãos progressistas “na vala comum”. Ocorre que a generalização comum pode se transformar em um grande perigo, exatamente por estabelecer preconceitos devastadores e balizar comportamentos de exclusão e indiferença, além de em nada ajudar a vivermos melhor. Percebendo a malfazeja generalização, Michelson Borges abre colchetes no texto para dizer “que nem todos os cristãos progressistas pensam dessa forma”. Bem que o Pr. MB poderia ir além e ter colocado como exemplo os adventistas progressistas. Estes são progressistas no âmbito político, pois lutam pelos direitos sociais dos pobres, dos negros, mulheres, indígenas e outros grupos excluídos ou vulneráveis da nossa sociedade; mas não  são progressistas no campo teológico, uma vez que para eles a Bíblia Sagrada e seus ensinos lhes são muito caros. Exatamente como todo bom adventista, eles amam e adotam as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática, se identificam integralmente com todas as 28 Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia, amam sua Igreja e, acreditam ser ela a Igreja Remanescente da profecia bíblica (Ap 12:17).

Causou-nos estranheza, o Pr. Michelson Borges, no final do texto, a fim de endossá-lo fazer o seguinte comentário: “Embora seja teólogo batista, Franklin Ferreira faz um diagnóstico interessante do que está acontecendo com todas as igrejas cristãs. Perfeccionistas, extremistas e fanáticos têm feito grande estrago nas igrejas. Mas progressistas inconsequentes não ficam atrás. Esses estão até mais capilarizados e vão minando aos poucos os fundamentos doutrinários e os valores do cristianismo, reduzindo o vigor da sua mensagem. Temos que prestar atenção nessa tendência e opor resistência a essa subversão do verdadeiro cristianismo”. Pasme o leitor em face de tão grosseira assertiva! 

São comentários obtusos como esses que influenciam seus “seguidores” nas redes sociais a olharem “atravessados”, a insultarem e a tratarem com desdém e discriminação seus coirmãos esquerdistas na igreja. Ao afirmar que “temos que opor resistência a essa subversão do verdadeiro cristianismo”, o Michelson Borges revela claramente sua intenção de combater seus coirmãos progressistas, que fizeram opções políticas distintas daquelas que interessam aos detentores do poder político e dele. Tal atitude beira a intolerância disfarçada de cristianismo.

No meio do texto, o Michelson Borges abre novamente colchetes para tecer o seguinte comentário: “Obviamente que todos os cristãos devem se preocupar com os pobres e com os direitos humanos. Devem trabalhar pelos que sofrem e ajudar a amenizar a dor do semelhante. Mas não fazem isso por causa de bandeiras ideológicas nem entendem que isso é a essência do que constitui pregar o evangelho. Fazem isso simplesmente porque amam ao próximo; porque seguem o exemplo do Mestre; porque é o correto a ser feito. Mas entendem que pregar o evangelho é falar de Cristo e das verdades bíblicas, anunciando a salvação e a volta de Jesus”. Louvamos as ações assistencialistas da imensa maioria dos cristãos em favor dos pobres motivados unicamente pelo amor a Jesus e ao próximo. Contudo, perguntaríamos: Qual seria o problema de lutar através de movimentos sociais, de ONG's e mesmo de partidos políticos para que o Estado implemente políticas públicas para melhorar as condições de vida dos pobres, motivados pelo amor ao próximo e a Deus, bem como por “bandeiras ideológicas”? Os cristãos progressistas fazem a junção de todas as motivações elencadas por Michelson Borges. A ideologia é um elemento motivador a mais. Onde está teologicamente o erro em os cristãos de esquerda fazerem a defesa dos direitos humanos por motivações religiosas e, ao mesmo tempo, atuar num movimento social, numa ONG ou mesmo num partido político para que esses direitos sejam realmente efetivados? Na verdade, o erro está em querer demonizar algo pelo simples fato de não gostar ou concordar com um modelo de sociedade preconizado pela esquerda, em que o Estado possa ser agente para atenuar desigualdades, olhar pelos que mais sofrem e promover justiça social. Este maniqueísmo de Michelsom Borges e de todos os pastores ligados a direita política jamais produziu bons frutos para o mundo e, muito menos, para os cristãos. Tal postura não passa de "implicância ideológica" com a esquerda! Michelson Borges, Leandro Quadros e outros pastores direitistas adventistas provam que não conseguem resistir à tentação de uma implicância ideológica, mesmo que isso possa causar prejuízos a imagem da igreja. Ao oporem-se as “ideologias” significa definirem-se como arautos das forças do bem, reforçam a ideologia do “Nós contra eles”, que tantos estragos tem causado ao país, a exemplo de discussões entre familiares, brigas com amigos e irmãos de fé, ofensas e até ameaças de desconhecidos.

É preciso entender que o assistencialismo praticado pela maioria dos cristãos, como doações de roupas, calçados e alimentos aos necessitados, não resolvem em definitivo os problemas deles, pois não elimina as causas dos problemas enfrentados pelos mesmos. Mas, as políticas públicas sim. Elas são essenciais para o desenvolvimento humano, formação da cidadania e promoção de igualdades. E essas políticas são criações de projetos sociais ou ações promovidas pelo Estado em parceria com a sociedade, que buscam trazer melhorias e qualidade de vida para as pessoas, gerando uma transformação social. Essas políticas prezam a coletividade, o interesse de todos os públicos, e ocorrem nas mais diferentes áreas, como saúde, educação, lazer, cultura, moradia, transporte, segurança e assistência social. Os cristãos socialmente ou politicamente engajados fazem exatamente as reivindicações ao poder público no sentido de que se implementem essas políticas. Seu agir político, portanto, é motivado primeiro pelo seu amor a Deus e ao próximo e, segundo, por uma ideologia que eles acreditam. Não há nisso nenhuma contradição com a fé cristã. Ao contrário, harmoniza-se perfeitamente com os princípios bíblicos. A Bíblia diz: "Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um mandado do Senhor.

Respeitamos a crença do Michelson Borges e compartilhada por milhares de outros cristãos, de que eles devem trabalhar no sentido de mitigar o sofrimento dos pobres à parte do engajamento político-ideológico. Mas, os mesmos igualmente devem respeitar a concepção dos outros cristãos que creem que podem e devem se envolver desde as grandes políticas e causas, até as pequenas lutas diárias por direitos e melhorias nas condições de vida de sua comunidade, sua cidade, seu estado e seu país. Os cristãos que optaram por trabalhar com o assistencialismo não devem criticar aqueles cristãos que lutam pela creche de seu bairro, pelo posto de saúde, por educação pública de qualidade social, por melhores condições de trabalho e salário, entre outros direitos. Respeitar é preciso para que haja na igreja um ambiente de harmonia e paz.

Os pastores e a polarização política

Desde meados de 2014, o Brasil vive um período de polarização política. Essa divisão política é expressada nos discursos mais radicais dos partidos, nas redes sociais quando as pessoas ligadas a direita e a esquerda optaram pelas ofensas e ataques agressivos, bem como nas ruas com eleições acirradas, manifestações de grupos de direita e esquerda a favor e contra o impeachment da ex-Presidente Dilma Roussef em 2016, tendo as redes sociais como o principal instrumento de mobilização desses grupos. De modo que temos a percepção de que o país está mais dividido entre esquerda e direita, conservadores e progressistas. Tal polarização se intensificou na última eleição presidencial, que resultou na eleição de um presidente de extrema direita.

A intensa polarização política prevalecente atualmente na sociedade brasileira foi extrapolada para as igrejas cristãs. Muitos crentes estão digladiando-se, brigando a respeito de pautas defendidas pela esquerda ou pela direita. Penso que os cristãos não deveriam enveredarem-se por esse caminho tortuoso. Isso só gera ódio, ressentimento e divisão entre o povo de Deus. Isso não é bom para a vida espiritual dos que se envolvem em brigas políticas. Acho até que um debate político respeitoso entre os cristãos é salutar.

É preciso que se entenda que vivemos num país democrático, e que cada pessoa é livre para escolher ser de “esquerda”, de “direita” ou ser “nenhum nem outro”. Esses três grupos presentes nas igrejas precisam respeitarem-se mutuamente e serem tolerantes com os que divergem deles. Como reflexo de nossa realidade, as discussões sobre ideologias políticas também alcançaram os líderes religiosos. Penso ser um erro crasso pastores se utilizarem das redes sociais para expressarem abertamente sua posição política e travarem “guerra” contra a esquerda, a fim de “proteger” as ovelhas do demônio do marxismo ou "abrir os olhos" daqueles que defendem as pautas da esquerda, a exemplo da justiça social. Entretanto, parece que esse assunto não deveria ocupar o tempo dos ministros do evangelho. Ellen White escreveu: “O Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses assuntos, o silêncio é eloquência. Cristo convida Seus seguidores a chegar à unidade nos puros princípios evangélicos que são positivamente revelados na Palavra de Deus.”5

Não há nada de errado em pastores terem posições políticas, desde que resguardado o respeito ao legítimo pluralismo das opções politico-partidárias das suas ovelhas. Como cidadãos, os ministros têm todo o direito de possuírem suas convicções políticas, inclusive de direita, mas precisam ser mais reservados para não estimular a polarização entre os crentes e introduzir a divisão nas igrejas que eles cuidam.

As manifestações políticas anti-esquerdistas de pastores como Leandro Quadros e Michelson Borges só têm contribuído para intensificar a polarização política na igreja. Penso ser isso uma estratégia equivocada deles e outros espalhados pelo Brasil. É preciso que eles entendam que essa desnecessária combatividade contra os partidos de esquerda, bem como aqueles que se identificam com suas pautas, acabam levando-os a perderem o rumo e o foco da missão que Jesus Cristo lhes designou, que é ir ao mundo e proclamar as boas novas de salvação (Mt 28:18-20), que é ensinar as pessoas que Jesus as aceita e oferece o Seu perdão; é anunciar que Jesus irá voltar em breve para  estabelecerá seu Reino de justiça e paz, que jamais terá fim, e conceder a vida eterna aos que creram nEle (Jo 14:1-3; Dn 2:44; I Ts 4:16-18).

Penso que se um pastor digital influencer acha que poderia prestar um serviço melhor para a sociedade por meio de suas opiniões políticas nas redes sociais, para ser coerente deveria deixar o ministério pastoral, dedicando-se à carreira política integralmente. Ellen White, a mensageira do Senhor, foi muito contundente quanto a esse assunto, ao escrever que “os mestres, na igreja ou na escola, que se distinguem por seu zelo na política, devem ser destituídos sem demora de seu trabalho e suas responsabilidades; pois o senhor não cooperará com eles. O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas. Todo mestre, ministro ou dirigente em nossas fileiras, que é agitado pelo desejo de ventilar suas opiniões sobre questões políticas, deve-se converter pela crença na verdade, ou renunciar à sua obra”.6

É preciso que os pastores que estão manifestando suas opiniões políticas nas redes sociais entendam que, ao eles se preocuparem em combater e demonizar a esquerda e suas bandeiras como um inimigo a ser vencido, estão fazendo o jogo sujo das elites do atraso, como denominou-as o sociólogo Jessé Souza, que não admitem a ascensão social dos pobres, que são contra toda e qualquer política pública que promova a ascensão social das camadas populares.

Nesses últimos anos temos vistos alguns pastores pentecostais e neo-pentecostais, a exemplo de Silas Malafaia e Marcos Feliciano, que por se ocuparem em fazer militância política contra partidos de esquerda nas redes sociais, nos programas de televisão e nos púlpitos de suas igrejas, têm perdido a credibilidade e o respeito entre uma parcela significativa dos cristãos evangélicos no Brasil. Esse é também o risco que correm os pastores digital influencers como Leandro Quadros e Michelson Borges. Como disse o apóstolo Paulo, “importa que os homens nos considerem como ministros de Deus” (1Co 4:1). Penso que o melhor que os pastores e membros leigos adventistas têm que fazer é pregar o “evangelho eterno” (Ap 14:6-12), sem fazer referência ou mesmo comprar briga com partido A ou B ou com os movimentos sociais. Fazendo isso todos estarão honrando a Deus e abrindo portas para alcançar outros com a luz do evangelho.

Que os nossos queridos pastores sinceros ponderem honestamente sobre tudo isso, e revisem seu julgamento sobre aqueles crentes que  aguardam o segundo advento de Cristo e, consequentemente, o fim da era do pecado e o início de um mundo melhor, conforme prometido por Deus em sua Palavra, mas que acreditam que, como luz e sal da Terra (Mt 5:13-16), podem e devem dá sua contribuição na construção de um mundo com mais justiça social e mais fraterno, através das várias expressões do agir político – seja no sentido amplo, seja na militância partidária ou num movimento social. Isso não compete com a autoridade da Palavra de Deus, como querem alguns. Ao contrário, está em harmonia com a Bíblia. No passado, movido pelo chamado de Deus e pela compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas ousaram ser a voz dos oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus ainda hoje pede que busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e pelos direitos dos pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus volte em glória e majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem os valores e ensinamentos de Jesus.

Entendem ser importante ressaltar que uma sociedade livre completamente das mazelas sociais não será resultado da ação dos homens, mas resultado da intervenção divina, que se dará por ocasião da volta de Jesus, que trará um Novo Céu e uma Nova Terra, “nos quais habita a justiça” (2Pe 3:13). No entanto, enquanto Ele não vem podemos atuar no sentido de construir uma sociedade melhor para nossos irmãos, mas sempre com os olhos para o Céu. Atuar na sociedade sem, obviamente, deixar de buscar prioritariamente “as coisas lá do alto” (Cl 3:1). Esse é o princípio.

 

Referências:

1. Os Adventistas e a Política. Disponível em: <https://www.adventistas.org/pt/institucional/organizacao/declaracoes-e-documentos-oficiais/os-adventistas-e-politica/>. Acesso em: 17 jul. 2020.

2. Idem

3. Idem

4. A Infiltração dos "Cristãos Progressistas” na Igreja Cristã. Disponível em: <https://michelsonborges.wordpress.com/2020/07/15/a-infiltracao-dos-cristaos-progressistas-na-igreja-crista/?fbclid=IwAR1E2HACM0B4147nCkExoSnHThByXKdI_mYkkblMrf6H9xOjGt1Bceoe3ag>. Acesso em: 15 jul. 2020.

5. WHITE, Ellen G. Fundamentos da Educação Cristã. Tatuí, SP: CPB, 2007. p. 475.

6. Idem, 477.

 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O PRONUNCIAMENTO FINAL DE DEUS: “ESTÁ FEITO”


Ricardo André

Vivemos num mundo marcado pela dor, injustiça, corrupção e morte. A humanidade vem transpondo, no decorrer dos séculos, graves problemas que ameaçam sua subsistência, tais como: guerras mundiais, pestes, ameaças terroristas, entre outros. Vemos com frequência nos jornais e na televisão os resultados daqueles que entregam sua vida ao inimigo de nossa alma. Os quadros da guerra civil em Ruanda entre os grupos étnicos hutus e tutsis, em 1994, que causou a morte de cerca de 800 mil tutsis; a guerra em Sarajevo ocorrida entre 1992 e 1995 pela independência da Bósnia. Que deixou um saldo de milhares de mortos (as estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca (bósnio-muçulmanos); e mais recentemente os ataques terroristas nos EUA, em 11 de setembro de 2001, coordenados pela Al Qaeda, matando quase três mil pessoas, estão indelevelmente gravados em nossa mente.

Crianças desnutridas com rostos emaciados nos países africanos; o choro dos que perdem seus entes queridos, vítima da violência, do crime e da Covid-19; o semblante dos dependentes químicos e criminosos carcomidos pela droga e vícios do mundo; os corpos cadavéricos dos contaminados pelo vírus da AIDS, a dor da solidão – são os resultados de viver em um mundo cheio de pecado. Sim, essas tragédias acontecem porque a mais de seis mil anos um inimigo invadiu o lar feliz de Adão e Eva e eles cederam à tentação, caindo em pecado (Gn 3). Imediatamente seus corações foram transformados, e uma natureza cruel e pecaminosa distorceu a vida de cada ser humano, daquele dia até agora. A própria criação - o mundo da natureza - "geme até agora, como em dores de parto" (Rm 8:22, NVI).

Deus planejava que Adão, Eva e todos os seus descendentes fossem sumamente felizes. Houvesse Seu plano se realizado, e a palavra tristeza nunca teria feito parte do dicionário. Nenhuma lágrima teria sido derramada em uma tumba. Nenhuma criança teria sido atropelada por um carro. Nenhuma mãe veria seu filho com uma doença terminal. Há esperança para o mundo angustiado? Não há escape desse estado de coisa terrível?  Sim, há esperança!

As palavras de Cristo “Tudo está feito” é a esperança do mundo

João, o vidente de Patmos registrou as palavras imortais de Deus proferidas em Apocalipse 21:6: “Está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida”. O que significa a expressão “está feito”? No capítulo 21, João descreve a visão de um novo céu e uma nova terra. É interessante que ele começa a descrição dessa visão com a palavra: “depois”. Reconhece que outras coisas aconteceram antes. Ou seja, há uma conexão entre a realidade que havia “antes” ou “agora”. Portanto, essas maravilhosas palavras serão ditas no tempo da criação do Novo Céu e da Nova Terra, ao término do Milênio, do juízo final e da destruição de Satanás, seus anjos e os adeptos da sua rebelião contra Deus (Ap 20). “Está feito” ou "Tudo está realizado" (KJA), falam de um fim eterno para tudo o que atrapalha nossa felicidade. Significa que, “o que Deus havia prometido por intermédio de Seus santos profetas e que Seu povo justo aguardava com tanta expectativa finalmente se transforma em fato consumado. A prévia mostrada a João é a garantia da realização final que ainda está por ocorrer” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 990). É uma promessa maravilhosa! É a promessa de um novo começo. Que esperança! Que conforto! Nosso amorável Deus quer que vivamos felizes, espera que tenhamos confiança em Sua promessa.

Embora existam lutas, sofrimentos e dificuldades, nós temos uma esperança – Jesus voltará em poder e glória para trazer Seu reino eterno (Dn 2:44). E, quando isso acontecer o sofrimento de toda espécie cessará. Nesse dia, a solidão desaparecerá para sempre. Estaremos com Deus. Fomos feitos para Ele. Ele preencherá o vazio da solidão de nossa vida.

As palavras finais de Deus também banem a dor e a morte para sempre. Pois “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor” (Ap 21:4, NVI). A doença não mais existirá, inclusive o temível câncer, a obra da morte terá um termo; sua história terá um ponto final. Será finalmente destruída (I Co 15:26, 27). As palavras “está feito” são Sua promessa de que, um dia, Ele nos dará um Novo Céu e Nova Terra, bem como um novo corpo que pulsará com vida, alegria e saúde (Fp 3:21). Com corpo e mente perfeitos, possuindo imortalidade, e vivendo num mundo em que não haverá nenhuma causa de dano ou destruição, os remidos sentir-se-ão plenamente felizes e realizados (1Co 15:51-56). Essa é a grande esperança que nos foi prometida em Cristo, uma esperança selada com Seu sangue.

Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “A dor não pode existir na atmosfera do Céu. No lar dos remidos, não haverá lágrimas, nenhum cortejo fúnebre, nenhuma exteriorização de luto. "E morador nenhum dirá: Enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniquidade." Isa. 33:24. Uma rica maré de felicidade fluirá e aprofundar-se-á ao avançar a eternidade” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 433).

“Os dias de dores e prantos acabaram-se para sempre. O Rei da glória enxugou as lágrimas de todos os rostos; removeu-se toda a causa de pesar” (O Grande Conflito, p. 650).

Suas palavras “está feito” falam de um Deus que fará “novas todas as coisas” (Ap 21:5). Esta vida é cheia de injustiça e desigualdade. Mas um dia o Rei da Justiça irá reinar. Cristo Se assentará em Seu trono celestial. Na eternidade, a sociedade celeste será justa e reta. Pode ser que não se encontre sempre justiça na Terra, mas ela será encontrada no Céu.

O pronunciamento final de Deus, “está feito”, é um brado de que a morte desaparecerá para sempre. Você perdeu um ente querido? A dor desta perda parece difícil demais de suportar sozinho? Um dia, a morte será uma coisa do passado. O amanhã glorioso de Deus trará, para sempre, um fim para morte. Ela desaparecerá.

A vida dois salvos na Nova Terra

Em uma triunfante nota final, o divino anúncio celestial é proclamado: “Está feito”. A guerra acabou. As lágrimas, o terror, os conflitos acabaram. A justiça reina para sempre. Quando Jesus regressar, Ele removerá Seu povo deste mundo arruinado, onde têm permanecido por seis mil anos, e os restabelecerá naquele lar perfeito dos remidos. Por isso, não é de se admirar que o povo de Deus, desde o tempo de Adão e Eva até o presente, tenha esperado tão ansiosamente pela segunda vinda de Jesus. Enoque disse: "Eis que é vindo o Senhor com milhares de Seus santos" (Judas 14). Abraão esperou pela "cidade que tem fundamentos, da qual o Artífice e Construtor é Deus" (Heb. 11:10). Isaías profetizou de "novos céus e nova terra", onde "de um sábado até ao outro, virá toda a carne a adorar" perante Deus (Isa. 66:22 e 23). João disse: "Ora vem, Senhor Jesus" (Ap 22:20), e o fiel povo de Deus através da história cristã tem dito: "Até quando, Senhor, quanto tempo mais teremos que esperar pela Tua vinda?" (Ap 6:10).

Na atualidade, os Adventistas do Sétimo Dia, juntamente com muitos outros cristãos, creem que vivemos muito próximos do tempo em que essa "bendita esperança" se concretizará. Isto nos dá grande alegria - sabermos que em breve as tristezas pelas quais passamos nesta vida, terão seu fim.

Ellen White, que teve o privilégio de, em visão, contemplar a Nova Terra, como há muito foi anunciado pelos profetas bíblicos, assim a descreve:

“Pusemo-nos então a observar as coisas gloriosas fora da cidade. Vi ali casas belíssimas, que tinham a aparência de prata, apoiadas por quatro colunas entremeadas de pérolas preciosas, muito agradáveis à vista. Destinavam-se à habitação dos santos. Em cada uma havia uma prateleira de ouro. Vi muitos dos santos entrarem nas casas, tirarem sua coroa resplandecente, e pô-la na prateleira, saindo então para o campo ao lado das casas, para lidar com a terra. Não como temos de fazer com a terra aqui. Absolutamente. Uma gloriosa luz lhes resplandecia em redor da cabeça, e estavam continuamente louvando a Deus.

“Vi outro campo repleto de todas as espécies de flores, e, quando as apanhei, exclamei: "Elas nunca murcharão." Em seguida vi um campo de relva alta, cujo belíssimo aspecto causava admiração; era uma vegetação viva, e tinha reflexos de prata e ouro quando magnificamente se agitava para glória do Rei Jesus. Entramos então num campo cheio de todas as espécies de animais: leão, cordeiro, leopardo, lobo. Todos em perfeita união. Passamos pelo meio deles, e pacificamente nos acompanharam. Dali entramos num bosque, não como os escuros bosques que aqui temos, não, absolutamente, mas claro e por toda parte glorioso. Os ramos das árvores agitavam-se de um lado para outro lado, e todos exclamamos: "Moraremos com segurança na solidão, e dormiremos nos bosques." (Vida e Ensinos, p. 62, 63)

“Ali os remidos conhecerão como são conhecidos. O amor e simpatias que o próprio Deus plantou na alma, encontrarão ali o mais verdadeiro e suave exercício. A comunhão pura com os seres santos, a vida social harmoniosa com os bem-aventurados anjos e com os fiéis de todos os tempos, que lavaram suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro, os sagrados laços que reúnem "toda a família nos Céus e na Terra" (Efés. 3:15) - tudo isto concorre para constituir a felicidade dos remidos”.

“Ali, mentes imortais contemplarão, com deleite que jamais se fatigará, as maravilhas do poder criador, os mistérios do amor que redime. Ali não haverá nenhum adversário cruel, enganador, para nos tentar ao esquecimento de Deus. Todas as faculdades se desenvolverão, ampliar-se-ão todas as capacidades. A aquisição de conhecimentos não cansará o espírito nem esgotará as energias. Ali os mais grandiosos empreendimentos poderão ser levados avante, alcançadas as mais elevadas aspirações, as mais altas ambições realizadas; e surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo”.

“Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão voo incansável para os mundos distantes - mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma alma resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não-caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade. Em todas as coisas, desde a mínima até à maior, está escrito o nome do Criador, e em todas se manifestam as riquezas de Seu poder”.

“E ao transcorrerem os anos da eternidade, trarão mais e mais abundantes e gloriosas revelações de Deus e de Cristo. Assim como o conhecimento é progressivo, também o amor, a reverência e a felicidade aumentarão. Quanto mais aprendem os homens acerca de Deus, mais Lhe admiram o caráter. Ao revelar-lhes Jesus as riquezas da redenção e os estupendos feitos do grande conflito com Satanás, a alma dos resgatados fremirá com mais fervorosa devoção, e com mais arrebatadora alegria dedilharão as harpas de ouro; e milhares de milhares, e milhões de milhões de vozes se unem para avolumar o potente coro de louvor”.

"E ouvi a toda a criatura que está no Céu, e na Terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre." Apoc. 5:13.

“O grande conflito terminou. Pecado e pecadores não mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação. DAquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor” (O Grande Conflito, 677 e 678).

Algumas pessoas dizem que as promessas de Apocalipse 21 e 22 “são boas demais para serem verdade”. Porém, Cristo torna bem claro que Suas palavras são verdadeiras e que podemos crer no que é prometido por Ele. Sua Palavra nunca falhou, e nunca falhará. Certamente, todo nós temos pensado na “impossibilidade” de que um dia chegue ao fim tudo que agora existe. Milhões de pessoas não creem que Deus criou este mundo, e não acreditam que “a Terra e as obras que nela existem” (2Pd 3:10) serão destruídas. Eva duvidou das infalíveis palavras de Deus. Até hoje sofremos as consequências de se duvidar das palavras de Deus. Não devemos fazer a mesma coisa.

Enquanto o Salvador não vem...

Antes que isso aconteça, não fomos abandonados em nossas tristezas. A Bíblia relata que “Jesus chorou” por Lázaro, Seu amigo, que havia morrido, por suas irmãs e amigos (Jo 11:11-43). Jesus também sabe e Se entristece por nossas angústias e dores. O extremo da nossa dor é a morte. Ele bem sabe disso, pois passou por essa experiência. Agora, Ele está à direita do Pai intercedendo por nós. “Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:16).

Ao mesmo tempo que somos lembrados pelas Sagradas Escrituras de que não estamos sós neste mundo de dor, somos lembrados de que fomos comissionados a proclamar a todo o mundo a mensagem da iminente vinda de Jesus. Nossa espera não é passiva, mas ativa. Tanto o Espírito Santo quanto a noiva dizem: “Vem!” (Ap 22:17). Como cristãos remidos por Jesus, devemos nos unir a esse movimento e fazer esse chamado. São boas-novas e, como tais, devem ser anunciadas ao mundo.

Depois de ver o Céu e a cidade e ser conduzida de volta a “este mundo”, Ellen White declarou o seguinte: “Algumas vezes penso que não mais posso permanecer aqui; todas as coisas da Terra parecem demasiado áridas. Sinto-me muito solitária aqui, pois vi uma Terra melhor” (Primeiros Escritos, p. 20).

Caro amigo leitor, você consegue imaginar o que significam estas coisas maravilhosas? Pois aqui nós temos apenas um sussurro, um vislumbre. O apóstolo Paulo, que teve várias visões (2Co 12:1-5), diz: “Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam" (1Co 2:9, NVI). Vale apenas seguir a Jesus. Vale apenas abandonar as coisas deste mundo por amor a Jesus. Hoje, como Deus está te falando, não feche os seus ouvidos, não endureça o seu coração, não seja indiferente para com as realidades eternas. Hoje é dia de abandonar todo pecado: de abandonar a mentira, de abandonar o orgulho, a promiscuidade, a idolatria, a inimizade e ódio, toda forma de pecado, enfim! Hoje é tempo de converter-se ao Senhor, de voltar-se para Deus. Venha a Jesus, e veja o preço a ser pago:A quem tiver sede, darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida” (Ap 21:6, NVI).

Apocalipse 21 e 22 nos exorta a renovar os nossos votos ao Senhor enquanto ainda há tempo. Constituem um apelo para despertarmos de nossa sonolência espiritual. Descrevem a eternidade para todo aquele que é iluminado pelo Espírito Santo. Você, que já é seguidor de Jesus, está disposto a renovar sua dedicação a Cristo e à obra de torna-Lo conhecido a outros? Deseja estar diariamente preparado para o encontro com o Senhor?

 

 

 

 

sábado, 11 de julho de 2020

O “CAMINHO DE CAIM” E O CAMINHO DE DEUS: QUAL VOCÊ IRÁ TRILHAR?


Ricardo André

Quero neste artigo meditar num texto bíblico pouco lido e, igualmente pouco falado. É o texto de Judas 1:11, que diz: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro, caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá”. Neste texto queremos refletir apenas na primeira parte do verso, onde o apóstolo Judas pronuncia um “ai” para aqueles que “seguiram o caminho de Caim”. Em que tipo de estrada da vida Caim andava? Quais são as marcas desse caminho? O que esta história tão antiga nos fala hoje? Como é que nós podemos aprender da experiência destes primeiros homens e evitar o caminho de Caim? É preciso conhecermos esse caminho, a fim de não andarmos nele, escapando da condenação eterna. Caim é citado quatro vezes nas Sagradas Escrituras. No princípio da sua história, em Gênesis 4:1-25. Em Hebreus 11:4 onde se refere sobre o mesmo episódio. Em I João 3:12 e neste verso de Judas. A dramática história de Caim ainda é relevante em nossos dias, uma vez que, frequentemente milhares de pessoas, adotando o espírito de independência de Caim, procuram organizar suas vidas divorciadas de Deus.

Nessas palavras escritas há mais de dois mil anos, Judas fala exatamente sobre o perigo da rebeldia, empregando como ilustração negativa, a experiência de Caim, que escolheu viver uma vida alheia a Deus, cujo fim foi a destruição completa de seus descendentes por ocasião do dilúvio.

Após a queda, Deus prometeu ao primeiro casal, Adão e Eva, enviar um Libertador (Gn 3:15). Caim foi o primeiro filho de Eva. O nascimento do seu primeiro bebê deixou-a entusiasmada porque estava certa de que Deus havia provido o redentor do mundo. Talvez, nas suas palavras, depois do nascimento de Caim, ela estivesse expressando que esse fosse o Prometido: “Com o auxílio do Senhor tive um filho homem" (Gn 4:1, NVI). “O hebraico diz, literalmente: ‘Adquiri um varão, o Senhor’. Quando Eva segurou seu primogênito nos braços, provavelmente se lembrou da promessa divina (Gn 3:15 e acariciando a esperança de que ele fosse o Libertador prometido, deu-lhe o nome de Qayin, ‘adquirido’” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 223). Que desapontamento esmagador! Esse filho não somente se tornou o primeiro homicida, mas também o pai de uma longa linhagem de pecadores rebeldes que estavam determinados a permanecer leais a Satanás. Além da menção de seu nascimento e seu terrível assassinato de seu irmão, não há qualquer referência nas Sagradas Escrituras a respeito da infância e juventude de Caim.

O caminho de Caim

O que levou Caim a tornar-se um homicida? Certamente ele não teve para contaminar seu caráter todas as influências mundanas contemporâneas, ás quais temos que resistir. Não havia marginais, nem más companhias de uma vizinhança citadina para desviar sua atenção de Deus. Ele não ouvia a música rock pauleira que enfatiza o sexo livre e as drogas pela internet, nem ficava horas a fio de olhos fitos nos filmes e novelas de TV, que focaliza a violência, a imoralidade e a trapaça. Não havia qualquer alimento prejudicial com alto ter de conservante nem pesada concentração de açúcar para alterar a química do organismo, tornando difícil a compreensão das coisas espirituais. Não havia drogas, bebidas alcóolicas, ou fumo... absolutamente nada que possamos apontar como culpado para influenciar sua vida. Entretanto, ele escolheu inexplicavelmente servir a si mesmo em vez do Criador.

Caim sabia que deveria ter morrido por seu ato sanguinário, mas em Sua misericórdia Deus o poupou da pena de morte. Contudo, Caim não sentiu gratidão, remorso ou arrependimento. Obstinadamente persistiu em seu mau caminho, escolhendo servir a si mesmo.

Ao estudar a história de Caim, muitos dizem ou pensam: “eu não entendo”, ou “isso não faz sentido”. Ellen G. White escreveu um comentário poderoso quanto a esse assunto: “É impossível explicar a origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência […] O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável; desculpá-lo corresponde a defende-lo” (O Grande Conflito, p. 492, 493).

No caso de Caim, o pecado ou o mal foi uma repetição dos pensamentos cheios de orgulho que se originaram com Satanás. Segundo Ellen White, Caim “permitiu que a mente se deixasse levar pelo mesmo conduto que determinara a queda de Satanás, condescendendo com o desejo de exaltação própria, e pondo em dúvida a justiça e autoridade divinas” (Patriarcas e Profetas, p. 71).

Deus, que sempre indica como adorar, pedira um sacrifício que apontava para a morte do Cordeiro humano-divino. Esta seria uma prova de sua obediência e fé em Deus (Hb 11:4). Não há dúvida que Adão instruiu os seus dois filhos no único caminho aceitável para se chegarem a Deus, ou seja, pelo caminho do sacrifício dos animais. Ele deixou claro para eles que era essa a oferta que Deus queria e, eles “sabiam que nessas ofertas deveriam exprimir fé no Salvador a quem tais ofertas tipificavam, e ao mesmo tempo reconhecer sua total dependência dEle, para o perdão” (Idem).

Os dois irmãos estavam plenamente familiarizados com o que Deus queria deles. No entanto, Caim sentiu, como tantos sentem hoje, que seria demonstrar algum tipo de fraqueza seguir exatamente o plano da redenção estabelecido por Deus. Contrariando as orientações de Deus e fazendo sua própria vontade, Caim “trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gn 4:3, NVI), caindo no desagrado de Deus, enquanto seu irmão Abel, obedecendo aos ditames de Deus, sacrificou um cordeiro e, segundo as sagradas Escrituras, foi agradável ao Senhor.  Aparentemente, Caim não entendeu nada, pois isso se refletiu no sacrifício que ofereceu, e também na recusa em fazer o bem (1Jo 3:12). Não importa quão boa era sua oferta não importa o quão maravilhosa parecia ser, ainda que Caim houvesse trazido o seu melhor, Deus não estava satisfeito. Ele já havia ordenado qual era o sacrifício necessário. Ele já havia estipulado o formato para que os verdadeiros adoradores o seguissem e era apenas através da obediência que o Seu prazer e favor poderiam ser ganhos.

“Caim pretendia se justificar por suas próprias obras, ganhar a salvação por seus méritos. Ele se recusou a reconhecer que era pecador e que precisava de um Salvador. Apresentou uma oferta que não expressava nenhum arrependimento pelo pecado – uma oferta sem sangue. E “sem derramamento de sangue não há remissão”, pois ‘é o sangue que fará expiação pela alma’ (Hb 9:22; Lv 17:11)” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 224).

Pessoas, como Caim, querem fazer as coisas à sua própria maneira, seguindo a sua própria vontade. Escolher o caminho da auto-dependência é completamente “natural”. É possível que ele tenha racionalizado: “esse fruto é bom – não há nada de errado. Eu cultivei e apanhei com minhas próprias mãos. Deus simplesmente terá de aceitar o que estou oferecendo”. Assim, trouxe sua oferta de frutas, mas a parte fundamental, que demonstrava a necessidade de um Salvador, foi deixada de fora. Ele declinou o reconhecimento do pecado e a sua necessidade de reconciliação com Deus. Quando ele percebeu que sua oferta fora rejeitada pelo Senhor Deus, “se enfureceu e o seu rosto se transtornou” (Gn 4:5, NVI). “Ficou irado de que Deus não aceitasse o substituto do homem em lugar do sacrifício divinamente ordenado, e irado com seu irmão por preferir obedecer a Deus a unir-se em rebelião contra ele. [...] Caim odiou e matou o irmão, não por qualquer falta que Abel houvesse cometido, mas ‘porque as suas obras eram más, e as de seu irmão justas’ (1Jo 3:12)” (Idem, p. 73, 74).

Esse assassinato demonstrou que Caim era seguidor de Satanás, pois a Palavra de Deus afirma que Satanás “foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele” (João 8:44, NVI). O ato de assassinar Abel foi apenas a exteriorização de um ódio interior na sua recusa de aceitar o método de salvação escolhido por Deus.

Após cometer o hediondo crime, Caim foi posto fora da presença de Deus e, dirigiu-se para o leste do Éden, mais precisamente para Node, onde fundou uma cidade que recebeu o nome de seu filho mais velho, Enoque (Gn 4:16, 17). “Essa terra antediluviana, cujo nome significa “vagueação”, “fuga” ou “exílio”, tornou-se o lar dos ímpios descendentes de Caim” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 228). Ao ódio seguiu-se o homicídio e logo depois a apostasia. Gênesis 4:17-24 expõe um quadro de rápido declínio moral. Por 1.500 anos esta linhagem de pecadores endurecidos apegou-se aos enganos de Satanás na falsa representação do caráter e propósitos de Deus. A poligamia e o assassinato caracterizaram a família de Caim. Mas, o escritor das Sagradas escrituras não atribui só o mal aos descendentes de Caim; suas realizações são reconhecidas. Ele nota que descenderam de Caim artistas, artesãos, pastores e agricultores. Portanto, foram gigantes intelectuais e físicos, mas produziram pecadores gigantescos, até que Deus em sua misericórdia eliminou a raça antediluviana.

Como se vê, o caminho de Caim teve as seguintes marcas:

1) Caim foi um homicida e mentiroso. A Bíblia relata que Caim chamou a seu irmão Abel para que fossem ao campo, onde o matou (Gn 4:8), ou seja, Caim agiu de engano e foi traiçoeiro para com seu irmão. A mentira é algo próprio do maligno e quem a ama ou a comete, não tem parte alguma com Deus, que é a Verdade (Jo.1:6; Jo 8:44; Ap 21:8, 27).

2) Não reconheceu nenhuma necessidade da misericórdia divina. “Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia de misericórdia” (Parábolas de Jesus, p. 152).

3) Depois de assassinar a Abel, “Caim viveu apenas para endurecer o coração” (Patriarcas e Profetas, p. 78).

4) Sua apostasia levou à corrupção e violência. “De acordo com a tradição judaica, à qual Judas pode estar se referindo, Caim foi o pecador arquetípico e o instrutor de outros no pecado” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1522). Ellen White escreveu: “Esse único apóstata, dirigido por Satanás, tornou-se o tentador para outros; e seu exemplo e influência exerceram uma força desmoralizadora, até que a Terra se corrompeu e se encheu de violência a ponto de reclamar a sua destruição” (Patriarcas e Profetas, p. 78).

5) Ofereceu um sacrifício sem sangue. “Abel aconselhou a seu irmão que não viesse diante do Senhor sem o sangue do sacrifício. Caim, sendo o primogênito, não quis ouvir a seu irmão” (História da Redenção, p. 52, 53).

6) Não reconheceu nenhuma dependência de Cristo. “Caim, em sua oferta, não reconheceu a sua dependência de Cristo” (Testemunhos Para Ministros, p. 77). Caim era mau (IJo 3:12) e assim prosseguiu, mesmo tendo sido alertado por Deus. Mesmo depois de ter sido sentenciado pelo Senhor, mesmo recebendo Sua proteção temporal pelo "sinal", afastou-se de Deus (Gn.4:16), passando a viver uma vida alheia a Deus, como demonstra a sua descendência.

“Deus apresentou diante de todo o Universo uma lição que dizia respeito ao grande conflito. A tenebrosa história de Caim e seus descendentes foi uma ilustração do que teria sido o resultado de permitir ao pecador viver para sempre, para prosseguir com sua rebelião contra Deus” (Idem, p. 78). Quanto mais os homens vivessem, mais malignos se tornariam seus caminhos. Os habitantes dos mundos não caídos puderam então ver claramente o resultado do tipo de governo de Satanás. A escolha desses descendentes de Caim, feita em sua rebelião, ilustra vividamente quão entrincheirados se tornaram em sua hostilidade para com Deus. E em seu próprio estilo compreensivo, Deus estava mostrando por meio disso tudo que Ele não somente tencionava derrubar a rebelião, mas eventualmente esclarecer para todos as íntimas operações e natureza do maligno esquema que Satanás arquitetara para sua forma de governo.

Ai deles!

Esses dois irmãos tornaram-se representantes de dois tipos de pessoas, dois tipos de escolhas e dois tipos de adoração. Abel, protótipo dos justos e leais a Deus, daqueles que entregam suas vidas a Deus pela fé, enquanto Caim é o protótipo dos ímpios que rebelam-se contra Deus, que são autossuficientes, independentes e desleais a Deus. À medida que o fim se aproxima, essas duas longas fileiras, de leiais e desleais, se tornarão mais distintas. Caro amigo leitor, hoje, você está decidindo que fileira irá seguir. Para aqueles que escolherem o caminho de Caim, o caminho sem sangue, da rebelião, está decretado um juízo: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim” (Jd 1:11).

Caim se apresenta diante de Deus com a ideia ilusória de que um pecador pode por si mesmo agradar a Deus, ou ser justificado pelas próprias obras. Por isso apresenta seu melhor trigo, fruto do seu trabalho e de seus esforços, como um sacrifício a Deus. Esta religião natural, princípio da apostasia, em nada difere da dos homens de hoje em dia, pois destes fala o apóstolo quando diz que “seguiram o caminho de Caim”. A religião destes consiste em tentar agradar a Deus através de suas obras. As pessoas desejam encontrar a religião que lhes satisfaça os anelos da alma em filosofias, e não encontram. Sem considerar a Palavra de Deus, afastam da consciência a ideia de um juízo inevitável.

Em Jesus, por conta de Seu sacrifício na Cruz, derramando sangue, nós somos livres da condenação sobre o qual o apóstolo Judas fala. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6, NVI). O caminho de Jesus é o caminho em que Seu sangue faz com que sejamos aceitos pelo Pai. Ele é o único caminho de retorno ao lar eterno. Não precisamos perder tempo pesquisando filosofias. Jesus é o caminho, a verdade e a vida! Depois que Adão e Eva saíram do jardim, ao tomarem um rumo diferente na vida, homens e mulheres lutam para voltar ao trilho, ao caminho de volta ao lar. O homem moderno errou o caminho e perdeu a direção, seguem no caminho de Caim, o caminho da rebelião, da independência de Deus, mas Jesus pode indicar a estrada rumo ao lar. Todas as pessoas que não valorizam o relacionamento com Deus, tratando-o como algo comum e sem importância estão no “caminho de Caim”. Esta autossuficiência do homem, esta recusa em viver na dependência de Deus é o caminho para a destruição. É a demonstração da soberba, prenúncio do fracasso e da destruição (Gn 3:6; Is14:14; 1Jo 2:16,17).

Há apenas duas escolhas, dois caminhos. Qual caminho você irá seguir, o “caminho de Caim”, o caminho do pecado, da rebelião contra Deus, como fez o diabo e, que conduz a morte eterna, ou o caminho de Jesus, o caminho dos filhos de Deus, que vencem o pecado pela fé em Jesus e, que conduz-nos ao lar eterno? A decisão é sua. Seu convite para você e para mim hoje é: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23, NVI). Esse é o caminho certo a seguir. Dê-Lhe sua mão agora mesmo. E aproprie-se da vida... no caminho certo!