Teologia

domingo, 18 de dezembro de 2022

A MAIOR NOTÍCIA DA HISTÓRIA


 Ricardo André

Desde cedo em minha adolescência, adquiri o hábito de ler jornais, revistas, ouvir rádio em programas jornalísticos e assistir telejornais e programas de entrevistas e debates na TV, a fim de obter informações, notícias de acontecimentos do mundo político, religioso e social. Hoje, próximo a meia idade continuo tendo predileções por esses tipos de programas. Só que agora, além da TV busco mais intensamente notícias e novidades nos sites e canais do Youtube.

Como eu, milhões de pessoas, todos os dias, recorrem a canais especializados em notícias. A cada segundo milhões de novas informações estão disponíveis em todo o planeta, a Terra não dorme… enquanto estamos no ápice do cansaço, colocamos a cabeça no travesseiro e entramos num sono profundo, em outros lugares do mundo nações inteiras se despertam pra começar mais um dia de trabalho. Assim que despertamos já temos acesso às inúmeras novidades vindas da parte do mundo que está na nossa frente. Vivemos mesmo num modo “24 horas” e a ânsia pela novidade ou por algo diferente, por novidades parece ser marca do ser humano das últimas décadas. A verdade é que, nós, seres humanos somos movidos por novidades. Para “ajudar” a internet se encarregou de catalogar o universo para nós; basta digitar uma palavra pra encontrarmos milhões de assuntos relacionados.

Contudo, a maior e melhor notícia já foi dada há mais de dois mil anos, numa noite tão linda, calma e tranquila. Era uma boa notícia e dada por um mensageiro celestial, mais precisamente o anjo Gabriel, líder da hoste angélica, ao grupo de humildes pastores que vigiam seus rebanhos nas colinas de Belém. “Este mensageiro é o que ocupa a posição da qual caiu Satanás” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 780). Ele próprio anunciou que era portador de boas novas. Disse: “Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Luc. 2:10,11, NVI). Em seguida, um exército deles apareceu cantando uma canção preparada especialmente para comemorar o acontecimento: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lucas 2:14, NVI).

Essa notícia era superimportante pois, a humanidade estava perdida, falida, escravizada, desorientada, viciada, doente. Depois da queda de Adão e Eva, essa era a situação da humanidade. Miséria sobre miséria. Ninguém podia dizer que não tinha nada a ver com o pecado deles. Descendemos da mesma raiz, temos o mesmo DNA, somos solidários na raça. Deus poderia ter abandonado a humanidade, mas não o fez. Mesmo com a humanidade caída em pecado, Deus não nos abandonou às consequências da infeliz escolha: antes mesmo que o triste casal saísse do jardim do Éden, prometeu enviar o Salvador para restaurar a ligação rompida pelo pecado. Seu amor e graça sobrepujaram a desgraça do homem. (Jo 3:16; Rm 5:20). Se a desarmonia, o ódio, a separação e a morte haviam entrado no mundo por um ato de Adão e atingiam a todos, agora chegava Aquele que tomaria o lixo humano sobre Si e nos devolveria o equilíbrio, o amor, a reconciliação e a vida (Rm 5:12; 6:23).

Em Gênesis 3:15, já se lia a promessa feita a Adão e Eva, e sempre reforçada pelos profetas: virá um Libertador. Agora, a promessa transformava-se em realidade. Deus cumpria Sua palavra. No 8° século a.C, Isaías (7:14) havia profetizado: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel”. Portanto, não era um filho comum. Era Emanuel, “Deus conosco”, um Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:11, NVI). Mais de 700 anos depois, um fato inédito, paradoxal e único era anunciado: o Criador havia sido gerado no interior da criatura. A virgem Maria concebeu e “deu à luz um filho” (Mt 1:25, NVI). O Verbo Se fazia carne, a Palavra tornava-Se gente (Jo 1:14). Agora, na expressão do profeta Ageu (2:7), estava aqui o "desejado de todas as nações". Deus não apenas tinha visitado a Terra, mas mudado para cá, em forma humana, quebrando a rotina e a mesmice da História, trazendo prestígio para a raça, garantindo a presença de alguém capaz de resolver nossos problemas, resgatar-nos do pecado, degradação e morte eterna.

Ellen G. White escreveu: “Vindo habitar conosco, Jesus devia revelar Deus tanto aos homens como aos anjos. Ele era a Palavra de Deus – o pensamento de Deus tornado audível” (O Desejado de Todas as Nações, p. 19).

Caro amigo leitor, não nos devemos esquecer nunca de que o Cristo humano era Deus conosco, “um Salvador”. Essa é a mensagem de Natal, “as boas novas de grande alegria”. Nasceu Emanuel! Ele representa tudo o que o ser humano mais deseja. Ele pode mudar o coração das pessoas, ressuscitar os mortos, conceder-nos a paz (Rm 5:1) e salvar-nos da destruição eterna. Mas fazer isso custou-Lhe a vida. Devemos sempre contemplar Belém à luz do Calvário – contemplar a esperança que a manjedoura e a cruz nos dão. Ocorre que continuamos a não perceber essas boas novas.

Cada Natal, os jornais falam de brinquedos, lançamentos, luzes, números e todas aquelas coisas de que os comerciantes gostam, e nós entramos no clima. A grande notícia ainda está para ser dada a muitos de nós. Por incrível que pareça, a sabedoria de Deus é loucura para o homem, a notícia do Universo não é notícia na Terra. Mas, felizmente, cada vez mais gente percebe que essa é a grande e única notícia que nunca será esgotada. E a notícia que, mesmo sem saber, todos procuram. Como acontece com as grandes notícias, o aparecimento de Cristo sempre terá novos ângulos a serem explorados. Por isso, essa velha notícia de dois mil anos ainda é novidade.

Não vou aqui entrar no debate a respeito da data de nascimento de Cristo porque historicamente já se sabe que é muito improvável que tenha sido no dia 25 de dezembro. Até porque o mais importante não é a data, mas o evento. Como vimos acima, a Bíblia revela que Jesus nasceu numa noite em Belém da Judeia (Lc 2:10, 11). Isto é fato para nós. Logo, o estabelecimento do Natal celebra um evento profundamente cristão, a encarnação de Jesus Cristo. O EVENTO celebrado é que cristianiza a data. Afinal de contas, a escritora cristã Ellen White afirmou: “Sendo que o dia 25 de dezembro é observado em comemoração do nascimento de Cristo, e sendo que as crianças têm sido instruídas por preceito e exemplo que este foi indubitavelmente um dia de alegria e regozijo, será difícil passar por alto este período sem lhe dar alguma atenção. Ele pode ser utilizado para um bom propósito” (O Lar Adventista,478).

Ela mostra que Natal tem tudo a ver com solidariedade, abnegação e envolvimento em causas maiores do que as que fazem parte do nosso mundinho egoísta. É um tempo propício para não pensar em si mesmo, mas nos outros. Ela afirmou: “Lembremo-nos de que o Natal é celebrado em comemoração do nascimento do Redentor do mundo. Este dia é geralmente gasto em festas e glutonaria. Grandes somas de dinheiro são gastas em desnecessárias condescendências pessoais. O apetite e os prazeres sensuais são satisfeitos a expensas da força física, mental e moral. Todavia, isto se tornou um hábito. O orgulho, a moda e a satisfação do paladar têm tragado imensas quantias que a ninguém, em verdade, beneficiaram, mas animaram uma prodigalidade de meios desagradável a Deus. Esses dias são passados mais em glorificar ao próprio eu do que ao Senhor. A saúde tem sido sacrificada, o dinheiro, pior do que se fosse jogado fora; muitos têm perdido a vida. (Ellen G. White, Mensagens aos Jovens, p. 311).

“As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar”. (Ellen G. White, Manuscrito 13, 1896).

Penso ser saudável a reunião familiar que se estabelece nessa data e onde as pessoas se encontram para agradecer por mais um ano. Comem suas refeições juntas, alegram-se, mas, acima de tudo, nesse dia precisam lembrar do Cristo simples nascido para ser adorado e que tudo isso é um grande milagre. Com essa atitude daremos um melhor testemunho de Jesus Cristo. Assim, curvemo-nos neste Natal e adoremo-Lo!

 “Já soou por todo o céu: ‘Glória ao Rei que vos nasceu!’ Graça e paz Deus quer doar, homens vis, reconciliar. Vós nações, cantai louvor; Ó cantai de Deus o amor; Proclamai, pois, vós também, quem nasceu lá em Belém” (Hinário Adventista, 41).

Feliz Natal para todos e todas!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 3 de dezembro de 2022

O LAMENTO TRÁGICO DO FIM DA EXISTÊNCIA HUMANA: “NÃO ESTAMOS SALVOS”


 Ricardo André

Quero neste artigo refletir num dos textos mais tristes das Sagradas Escrituras, mas cheio de importantes lições espirituais para os cristãos que vivem no tempo do fim. O texto é do livro de Jeremias (8:20). O profeta fiel e apaixonado pela mensagem de Deus narrou: “Passou a época da colheita, acabou o verão, e não estamos salvos”.

Jeremias fora chamado para exercer o ministério profético num tempo em que o povo de Deus enfrentava sua maior crise. À época o povo de Deus enfrentou muitos desafios, a exemplo da ameaça de invasões de potências estrangeiras. Contudo, a maior crise, em muitos aspectos, era de ordem interna, vinha de dentro, marcada não apenas pela introdução do culto idólatra, por uma liderança e um sacerdócio corrupto, o que já era suficientemente ruim, mas também pelo fato de que o coração de muitas pessoas havia sido tão endurecido e danificado pelo pecado e pela apostasia que elas se recusavam a dar ouvidos às advertências enviadas por Deus, e que poderiam ter evitado o desastre em sua vida (Jr 2:1-28; 5:26-31; 23:14, 15).

Por conta da extrema apostasia prevalecente entre o povo de Deus, Ele prometeu através de Seu servo que entregaria Judá ao poder de Nabucodonosor, rei da Babilônia (Jr 27:6). Portanto, Deus usaria Babilônia como instrumento para punir o Seu povo. 70 anos seriam o tempo exato do seu exílio em Babilônia (Jr 29:10). Repetidas vezes Jeremias advertiu o povo sobre o que aconteceria por causa dos pecados deles, e vez após vez muitos dos líderes políticos e religiosos se recusaram a dar ouvidos às advertências, acreditando no que queriam acreditar, isto é, que o Senhor os pouparia. Afinal de contas, não eram eles o povo especialmente chamado por Deus? Jeremias chora e lamenta pelo destino escolhido pelo povo ao se afastar de Deus (Jr 8:18-22).

Ellen G. White escreveu: “Por quarenta anos, Jeremias devia estar diante da nação como testemunha da verdade e da justiça. Num tempo de apostasia sem paralelo, devia ele exemplificar na vida e no caráter a adoração do verdadeiro Deus. Durante o terrível cerco de Jerusalém, ele seria o porta-voz de Jeová. Prediria a queda da casa de Davi, e a destruição do belo templo construído por Salomão. E quando aprisionado por causa de suas corajosas afirmações, devia ainda falar contra o pecado nos altos. Desprezado, odiado, rejeitado dos homens, havia ele de finalmente testemunhar o cumprimento literal de suas próprias profecias de iminente condenação, e partilhar da tristeza e dor que se seguiriam à destruição da cidade condenada” (Profetas e Reis, p. 408).

O fim do verão chegou para o antigo povo de Deus

“No nono ano do reinado de Zedequias, rei de Judá, no décimo mês, Nabucodonosor, rei da Babilônia, marchou contra Jerusalém com todo seu exército e a sitiou” (Jr 39:1, NVI). De acordo com o Comentário Bíblico Adventista, o “nono ano” e o “décimo mês do reinado de Zedequias” correspondem a aproximadamente a 15 de janeiro do ano 588 a.C. Nessa data as forças de Nabucodonosor cercaram Jerusalém, e trinta meses depois a invadiram no fim do verão, provavelmente em 19 de julho de 586 a.C. (v. 2, p. 1088, 1089; v. 4, p. 533). Em 2 Reis 25:3, 4 lemos que “no nono dia do quarto mês, a fome na cidade havia se tornado tão severa que não havia nada para o povo comer. Então o muro da cidade foi rompido, e todos os soldados fugiram de noite pela porta entre os dois muros próximos ao jardim do rei, embora os babilônios estivessem em torno da cidade. Fugiram na direção da Arabá”. A fome estava tão intensa dentro dos muros que os defensores perderam as forças e não mais conseguiram resistir, e “com as próprias mãos, mulheres bondosas cozinharam os próprios filhos, que se tornaram a sua comida quando o meu povo foi destruído” (Lm 4:10).

Foi nesse contexto que o povo de Judá exclamou: “Passou a época da colheita, acabou o verão, e não estamos salvos”. Eles lamentavam o fato de que a colheita de cereais havia passado e eles não tinham podido ceifar os campos, pois as tropas inimigas cercavam a cidade e ninguém podia sair.

“Na Palestina, a safra de grãos começa por volta de abril e termina em junho. A colheita de frutos é feita em agosto ou setembro. A colheita dos frutos ocorre por volta de agosto ou setembro. Quando a cultura de grãos se perdiam, ainda havia a esperança de que haveria uma colheita de uvas, figos, azeitonas, etc. Para Judá, no entanto, a estação de coleta de frutas – a última oportunidade – tinha passado, e não haveria libertação. Seu destino era inevitável” (Comentário Bíblico Adventista, v. 4, p. 423).

Até o último instante, o povo preferiu acreditar nos falsos profetas, que prometiam a intervenção divina e o livramento, em vez de acreditarem em Jeremias, que havia profetizado destruição, caso não se submetessem ao rei da Babilônia (Jr 23:15-22; 28). Mas a libertação não veio. Veio a fome, o desespero e a morte. Os sobreviventes foram para o cativeiro babilônico (Jr 39).

O fim do verão chegará para o mundo atual

Caro amigo leitor, talvez você esteja se perguntando: o que esses fatos históricos têm a ver conosco? Nossa cidade não está cercada por nenhum exército, e a maioria de nós não está preocupada com o que vai comer amanhã. Mas a lição que a história nos ensina é que a paciência divina tem limites, e um dia Ele porá fim à impiedade reinante e fará a colheita dos justos.

Ellen G. White repetidas vezes, em seus escritos, aplicou esse texto de Jeremias 8:20 ao fim do tempo, ao tempo do juízo final, quando os pecadores impenitentes, que recusaram a graça salvadora pronunciarão esse trágico lamento. Ela afirmou:

“Cada momento agora parece ligar-se diretamente com os destinos do mundo invisível. Então não deixe que seu orgulho e incredulidade o levem a rejeitar ainda mais a misericórdia oferecida. Caso contrário, você será deixado a lamentar-se no final: ‘passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos’. Jr 8:20” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 353).

“No dia do julgamento que virá sobre os perdidos, o significado pleno do sacrifício feito no Calvário será compreendido. Contemplar-se-á o que eles perderam ao recusar ser leais. Meditarão na comunhão elevada e pura da qual era seu privilégio participar. Porém, é tarde demais. O último convite foi feito. O derradeiro pranto é ouvido. ‘Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos’. Jr 8:20” (Idem, v. 7, p. 16).

“Apelo para eles a fim de que não passem por alto o cumprimento dos sinais dos tempos, que diz tão claramente estar perto o fim. Oh! Quantos que não buscaram a salvação espiritual farão logo o amargo lamento: ‘Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos’. Jr 8:20” (Idem, v. 8, p. 252).

Estamos hoje vivendo em pleno verão das oportunidades espirituais. O verão representa o tempo ideal para a salvação. Se não aproveitarmos essa oportunidade áurea, o que poderemos esperar para o futuro, quando tivermos chegado ao outono ou inverno de nossa vida? Felizmente a porta da graça ainda está aberta. “Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co 6:2).

Deus toma a iniciativa de oferecer Sua salvação a todos e todas. Mas Ele não força quem quer que seja a aceitar essa providência. Para que a Sua salvação se torne nossa, temos que estender o braço da fé e aceitar os benefícios da vida, morte, ressurreição e mediação celestial de Cristo. Contudo, o verão passará. Em seguida o inverno chegará e não haverá mais oportunidade. A salvação através de Cristo já não estará disponível (Isaías 55:6; Atos 17:29-31; Romanos 13:11; Efésios 1:9-10; 2 Tessalonicenses 2:1-12). Isto é o que chamamos fim do tempo da graça ou fechamento da parta da graça. Este será um tempo memorável, de consequências eternas para todas as pessoas.

O livro de Hebreus fala de Jesus como nosso Sumo Sacerdote que ministra no santuário celestial em favor dos pecadores arrependidos. “O mais importante do que estamos tratando é que temos um sumo sacerdote como esse, o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus e serve no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem” (Hb 8:1, 2, NVI). Vale ressaltar que Seu ministério sacerdotal já estava representado didática e profeticamente nas ministrações que ocorriam no Lugar Santo (serviço diário) e no Lugar Santíssimo (serviço anual) do santuário terrestre (Nm 28:3, 4; Lv 4:2, 27-30; 16:1-34; Hb 9:6, 7).

“Sua consagração como Sumo Sacerdote coincidiu com Sua entronização. E ali, junto ao trono da Majestade nas alturas, imediatamente após a Sua ascensão, Ele iniciou Seu ministério sacerdotal no “maior e mais perfeito tabernáculo” (Hb 9:11), para comparecer, [...] por nós, diante de Deus” (v. 24). Foi-Lhe dado todo o poder e autoridade no Céu e na Terra. [...] No dia de Pentecostes, o apóstolo Pedro declarou que Jesus, tendo ressuscitado dentre os mortos, foi, então, exaltado “à destra de Deus”, tornando-Se, portanto, “Senhor e Cristo” (At 2:33, 36)” (Questões Sobre Doutrinas, p. 269, 270).

Na parte final de Seu ministério, que começou em outubro de 1844, ao término da profecia dos 2.300 dias/anos de Daniel 8:14, Cristo entrou no lugar santíssimo do santuário celestial para iniciar Sua solene obra de purificação do santuário, que corresponde ao juízo investigativo. Portanto, desde 1844 Cristo além de fazer mediação por Seu povo realiza um julgamento, que segundo as Sagradas Escrituras começa pela “casa de Deus” (1Pe 4:17). A vida de todos os filhos de Deus de todas as eras (começando pelos que já estão mortos) está sendo passada em revista. Eles estão sendo julgados com base nos registros dos livros do Céu. As cenas desse juízo, que está em andamento, foram vistas pelo profeta Daniel (Dn 7:9-14) e já estava prefigurado no ritual do Dia da Expiação do santuário terrestre, que acontecia uma vez ao ano, sempre no 10º dia do 7º mês do calendário religioso judaico (Lv 16:1-34; 23:27-29). Com essa cerimônia o santuário era purificado do registro dos pecados dos penitentes que haviam confessado sua culpa, bem como dos sacerdotes. Neste dia, o povo era convidado a “afligir a alma” (Lv 23:27), ou seja, humilhar-se e fazer um autoexame de consciência a fim de averiguar se não havia pecados não confessados, ou algo que pudesse separá-los de Deus. O dia da expiação era também dia de juízo para povo de Deus, o então Israel antigo. Era a decisão final sobre o pecado. Tanto é assim, que nesse dia a pessoa que não estivesse com sua vida acertada com Deus era “eliminada do seu povo” (Lv 23:29). Da mesma forma, ao término da obra de purificação do santuário celestial, cessa a oportunidade de misericórdia para quem não participou desse processo de redenção em tempo oportuno (Hb 4:16) por não ter reconhecido e aproveitado a oportunidade de aceitar a salvação pela fé em Jesus. Portanto, esse dia da purificação do santuário terrestre era símbolo do juízo pré-advento, que como dissemos começou em 1844.

Na sua mais importante obra, Ellen G. White declarou o seguinte:

“Deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma investigação - um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras (Apoc. 22:12)” (O Grande Conflito, p. 422).

“Na conclusão dessa obra investigativa, é proferida a sentença de juízo. Então, Cristo descerá como juiz para executar ou levar a efeito a sentença” (Questões Sobre Doutrinas, p. 303). O livro do Apocalipse descreve o momento do término da obra de julgamento e o consequente fim do tempo da graça, nos seguintes termos: “O santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia entrar no santuário enquanto não se completassem as sete pragas dos sete anjos” (Ap 15:8, NVI). Note que quando o santuário celestial enche-se “da fumaça da glória de Deus e do seu poder”, as pessoas são impedidas de terem acesso ao santuário, numa clara indicação de que o tempo de graça se acabou e a intercessão em favor dos pecadores não mais existe, de maneira que a ira de Deus não misturada com misericórdia e graça é experimentada pelos pecadores impenitentes como consequência de sua resistência e oposição ao evangelho. Uma realidade completamente oposta a do tempo da graça, quando somos exortados a “aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16, NVI).

No final do juízo investigativo ou pré-advento, a sorte de todas as pessoas estará irrevogavelmente decidida para a vida ou para a morte. Não haverá um segundo tempo de graça para ninguém. Ao encerrar-se a obra de julgamento não haverá mais oportunidades de salvação para ninguém. Quando Jesus falar “está feito” (Ap 16:17), do jeito que a pessoa estiver vai permanecer. E os filhos de Deus estarão selados com “o selo do Deus vivo” (Ap 7:1-3). O Espírito Santo não apelará mais à consciência das pessoas para se arrependerem de seus pecados, pois Se terá retirado da Terra. Nesse tempo cumprir-se-á as palavras de Cristo registradas em Ap 22:11, 12: “Continue o injusto a praticar injustiça; continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se. Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez” (NVI). Quando todas as decisões forem feitas, a primavera ou o verão das oportunidades terá terminado.

Encerrado o tempo da graça, o Senhor virá buscar seus filhos fiéis para leva-los para o Lar Paterno. Ele prometeu: "Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (João 14:1-3, NVI).

Agora quero compartilhar com você um trecho de uma das melhores descrições do advento de Cristo que se encontra em O Grande Conflito:

“Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que, a distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso vencedor. Agora, não como "Homem de dores", para sorver o amargo cálice da ignomínia e miséria, vem Ele vitorioso no Céu e na Terra para julgar os vivos e os mortos. [...]Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor. [...] O Rei dos reis desce sobre a nuvem, envolto em fogo chamejante. Os céus enrolam-se como um pergaminho, e a Terra treme diante dEle, e todas as montanhas e ilhas se movem de seu lugar. [...] Por entre as vacilações da Terra, o clarão do relâmpago e o ribombo do trovão, a voz do Filho de Deus chama os santos que dormem. Ele olha para a sepultura dos justos e, levantando as mãos para o céu, brada: "Despertai, despertai, despertai, vós que dormis no pó, e surgi!" Por todo o comprimento e largura da Terra, os mortos ouvirão aquela voz, e os que ouvirem viverão. [...]Do cárcere da morte vêm eles, revestidos de glória imortal, clamando: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" I Cor. 15:55. E os vivos justos e os santos ressuscitados unem as vozes em prolongada e jubilosa aclamação de vitória. [...] Ele mudará nosso corpo vil, modelando-o conforme Seu corpo glorioso. [...] Os últimos traços da maldição do pecado serão removidos, e os fiéis de Cristo aparecerão "na beleza do Senhor nosso Deus", refletindo no espírito, alma e corpo, a imagem perfeita de seu Senhor. [...]Os justos vivos são transformados "num momento, num abrir e fechar de olhos". À voz de Deus foram eles glorificados; agora tornam-se imortais, e com os santos ressuscitados, são arrebatados para encontrar seu Senhor nos ares. Os anjos "ajuntarão os Seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus." Criancinhas são levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães. Amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem, e com cânticos de alegria ascendem juntamente para a cidade de Deus” (p. 640-645).

Será um encontro pessoal com nosso melhor Amigo, com Aquele que nos ama tanto que morreu na cruz por nós. Será a coisa mais gostosa do mundo encontrar-nos com Jesus, tocarmos Suas marcas da cruz, sentirmos o calor de Seu amor! Será o encontro que aguardamos com grande ansiedade.

Esse dia também será o dia do reencontro com nosso queridos que foram ceifados pela morte. Pense naqueles pais cheios de saudade, antecipando, pela visão da fé, o dia do reencontro com os filhos que sucumbiram a uma atroz enfermidade, que foram vitimados num acidente fatal ou que perderam a vida por mãos violentas, coisas tão próprias destes últimos tempos. Poderão estar juntos novamente. Que maravilhosa esperança! Que maravilhosa antecipação do futuro!

Podemos antecipar as realidades de tantas coisas maravilhosas que acontecerão e que nos darão muitas alegrias. Imagine os remidos às margens do “mar de vidro” (Ap 15:2). Ou caminhando pelas ruas e avenidas da Nova Jerusalém ou assentados sob as ramagens da “árvore da vida”, às margens do “rio da vida”. Imagine alguém se aproximando de você. Esse alguém chega, bate no seu ombro e pergunta: “Você se lembra de mim? Pois é, por causa daqueles conselhos que você me deu, daquele livro que você me ofereceu, daquela oração que você fez por mim, eu hoje estou aqui. Você me levou aos pés do Salvador. Obrigado!”

Que encontros! Que abraços! Que alegrias! Que felicidade! “Ora, vem Senhor Jesus!” (Ap 22:20).

Todos os seres humanos são candidatos em potencial a serem recebidos por Deus em Seu reino. Entretanto, só estarão lá os que crerem e aceitarem a Jesus como seu Salvador.

Ellen G. White escreveu o seguinte:

“Poderiam aqueles cuja vida foi empregada em rebelião contra Deus, ser subitamente transportados para o Céu, e testemunhar o estado elevado e santo de perfeição que ali sempre existe, estando toda alma cheia de amor, todo rosto irradiando alegria, ecoando em honra de Deus e do Cordeiro uma arrebatadora música em acordes melodiosos, e fluindo da face dAquele que Se assenta sobre o trono uma incessante torrente de luz sobre os remidos; sim, poderiam aqueles cujo coração está cheio de ódio a Deus, à verdade e santidade, unir-se à multidão celestial e participar de seus cânticos de louvor? Poderiam suportar a glória de Deus e do Cordeiro? Não, absolutamente; anos de graça lhes foram concedidos, a fim de que pudessem formar caráter para o Céu; eles, porém, nunca exercitaram a mente no amor à pureza; nunca aprenderam a linguagem o Céu, e agora é demasiado tarde. Uma vida de rebeldia contra Deus incapacitou-os para o Céu. A pureza, santidade e paz dali lhes seriam uma tortura; a glória de Deus seria um fogo consumidor. Almejariam fugir daquele santo lugar” (Eventos Finais, p. 159 [279]).

João descreve nossa nova morada habitação: “Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: "Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou. Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo novas todas as coisas” (Ap 21:3-5).

Caro amigo leitor, o Senhor está às portas, esperemos Sua volta. Alegremo-nos por isso! Você está pronto para encontrar-se com Ele?  “A passos furtivos aproxima-se o dia do Senhor; mas os homens supostamente grandes e sábios não conhecem os sinais da vinda de Cristo e do fim do mundo” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 13).

Não obstante o tempo da graça está previsto para terminar no futuro o verão pode terminar para nós hoje, pois não sabemos se estaremos vivos amanhã. Estaremos nós salvos? Amanhã talvez seja tarde. Que tragédia alguém chegar ao fim de sua existência e exclamar: “Passou o verão e não estou salvo.” Não permita que o tempo passe e você não faça parte dos salvos em Cristo. Se você se sentiu inclinado, impressionado pelas verdades de Deus, tome uma decisão hoje, pois pode ser que o inverno de sua vida comece amanhã.

Reflita sobre isso no dia de hoje ore comigo agora:

Querido Deus e bom Pai que estás no Céu, obrigado pela oportunidade da salvação. Pela graça maravilhosa, por estarmos vivos e com disposição no coração para Te aceitar como o nosso Salvador. Toma conta de nossa vida, por favor. Em nome de Jesus, amém!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

AS DUAS FACES DO ECUMENISMO

AS DUAS FACES DO ECUMENISMO

por Nicholas P. Miller*

Uma visão do relacionamento adventista com outras igrejas, no passado, presente e futuro

Para alguns cristãos, o termo “ecumenismo” é uma palavra repugnante. Muito frequentemente, essa atitude tem levado à intolerância doutrinária e relacional para com outros cristãos. A apatia resultante e o desinteresse em relação a outros cristãos são justificados por meio de argumentos vagos como “permanecer em defesa da verdade” ou “evitar compromisso”. Mas, muitas vezes, tal apatia representa simplesmente má vontade em ir além da familiar e rotineira zona de conforto. Ou, pior, pode ser motivada por um senso de elitismo, até mesmo fanatismo, em relação a outros cristãos.

A fim de evitar essas barreiras à cordialidade, necessitamos pensar cuidadosamente a respeito de nossa visão da igreja de Deus nos aspectos visível e invisível. Porém, temos que ser muito cuidadosos na abordagem desse tema. Um cuidadoso estudo de nossa história e nossos ensinamentos mostrará que há um ecumenismo positivo e outro nocivo. O positivo diz respeito à consideração, ao cuidado, apoio prático que deve haver entre os cristãos. O ecumenismo nocivo é uma busca mais formal, ideológica, por uma unidade institucional e doutrinária. Vamos analisar as duas formas.

O lado positivo

Muitos de nós talvez fiquemos surpresos ao aprender que nossas crenças fundamentais reconhecem a validade da igreja ecumênica. Os dicionários definem a palavra ecumênico como significando literalmente universal. Nossa crença fundamental número 12, “O remanescente e sua missão”, começa com estas palavras: “A igreja universal se compõe de todos os que verdadeiramente creem em Cristo.”1 Essa declaração reconhece que Cristo tem cristãos fiéis em muitos lugares, incluindo o espectro das denominações cristãs.

Porém, não devemos nos esquecer de acrescentar estas linhas: “mas, nos últimos dias, um tempo de ampla apostasia, um remanescente tem sido chamado para fora, a fim de guardar os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”2 Na verdade, cremos na função especial que tem um remanescente visível, com uma mensagem e missão especiais. Entretanto, nunca ensinamos que a realidade desse remanescente nega a existência da igreja universal, invisível. Ao contrário, nossos pioneiros sempre reconheceram que, de acordo com Ellen G. White, “há cristãos verdadeiros em todas as igrejas, inclusive na comunidade católico-romana”.3

O movimento adventista do século 19 foi um dos movimentos verdadeiramente ecumênicos dos tempos modernos. Guilherme Miller era batista, mas pregava sua mensagem do advento em igrejas de muitas denominações. Inicialmente, aqueles que se tornavam adventistas não deixavam essas igrejas, mas, em muitos lugares, foram eventualmente forçados a sair.

À medida que o movimento crescia, ganhava representantes de quase todas as denominações americanas – metodistas, batistas, presbiterianos, congregacionalistas e conexão cristã. Depois do desapontamento de 1844, o movimento adventista, que se tornou Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi composto de ex-membros daquelas igrejas.

Alguns mantêm a visão de que nossos pioneiros se sentaram em uma sala com a Bíblia nas mãos e montaram um conjunto inteiramente novo de crenças e práticas, reconstruindo a igreja do Novo Testamento a partir do zero. A realidade é que os primeiros adventistas tomaram crenças e práticas de uma variedade de grupos, esquadrinharam-nas através do filtro bíblico, adotando e adaptando aquelas que foram aprovadas nesse teste. De fato, algumas de nossas práticas litúrgicas não estão ordenadas nem mesmo descritas na Bíblia, mas foram adaptadas de outras igrejas cristãs. Entre elas estão as reuniões de oração semanais, Escola Sabatina, reuniões campais, a ordem litúrgica, coleta de ofertas, Santa Ceia trimestral, e outras que afetam nosso culto e práticas de testemunhar. Os adventistas do sétimo dia são, eles mesmos, o resultado de um verdadeiro movimento ecumênico bíblico.

As mensagens angélicas

Alguns poderiam argumentar que, com o início da pregação das três mensagens angélicas de Apocalipse 14, no fim dos anos 1840 (incluindo a mensagem do segundo anjo sobre a queda de Babilônia), não mais pode haver associação com outras igrejas cristãs que compõem a Babilônia caída. Essa simplesmente não foi a compreensão dos nossos pioneiros. Em vez disso, eles foram ativos em compartilhar com outros cristãos pontos em comum, principalmente contra a escravidão e em favor da temperança e da liberdade religiosa.

Ellen G. White falou a grandes audiências de não adventistas, defendendo leis de temperança, assim como pregou em púlpitos de igrejas de outras denominações. Além disso, ela usou comentários bíblicos e livros religiosos escritos por outros cristãos depois de 1844, chegando a se referir a alguns comentários não adventistas de seu tempo como estando entre seus “melhores livros”.4

Dirigindo-se aos pastores adventistas, estimulando-os a se envolverem no trabalho pessoal em favor de outros pastores, ela escreveu: “Nossos pastores devem procurar aproximar-se dos pastores de outras denominações. Orem por esses homens e com eles, por quem Cristo está fazendo intercessão. Pesa sobre eles solene responsabilidade. Como mensageiros de Cristo, cumpre-nos manifestar profundo e fervoroso interesse nesses pastores do rebanho.”5

Dois pontos merecem ser especialmente notados: Primeiro, devemos orar “por esses homens e com eles”. Aqui, a preposição “com” implica não apenas preocupação evangelística, mas também companheirismo. Segundo, devemos notar seu reconhecimento de que esses pastores também são “pastores do rebanho”. Essa fraseologia é o reconhecimento de que esses pastores de outras denominações também estão velando sobre “o rebanho” de Cristo.

Como isso deve ser compreendido à luz da mensagem do segundo anjo, que anuncia a queda de Babilônia? O quarto anjo de Apocalipse 18 indica que Babilônia terá caído completamente quando ela estiver comprometida com os poderes comerciais e civis do mundo, e usar as forças civis para fins religiosos. Ellen G. White e os pioneiros compreendiam a mensagem do quarto anjo como estando ainda no futuro, e que Babilônia, ao cair, continua a abrigar fiéis cristãos com os quais podemos e devemos nos relacionar. Somente quando esses cristãos usarem o poder estatal a fim de perseguir aqueles dos quais discordam em questões espirituais, teremos chegado ao ponto em que não mais podemos conviver em harmonia.6

A análise contextual do capítulo evidencia que, mesmo em nossos dias, a mensagem do quarto anjo ainda está no futuro. Assim sendo, muitos pastores adventistas estão envolvidos, e muitos outros deveriam estar empenhados em visitar pastores de outras denominações e orar com eles. Esse relacionamento também serve como base para um trabalho conjunto em assuntos comunitários, como liberdade religiosa, criacionismo, igualdade racial, família e casamento.

Isso enfatiza o fato de que o ecumenismo prático é uma questão local envolvendo assuntos comunitários. Justiça social enraizada no evangelho e na vinda de Cristo foi a base do ecumenismo adventista histórico. Temperança, combate à escravidão e liberdade religiosa foram esforços destinados a proteger e afirmar pobres, fracos, jovens e marginalizados. Os adventistas necessitam ser despertados e novamente inspirados para esse tipo de esforço interdenominacional bem orientado.

O lado negativo

Evidentemente, também houve limites no ecumenismo adventista dos pioneiros, particularmente no que se refere ao ecumenismo ideológico formal. Um claro exemplo histórico desses limites foi a Conferência Missionária Mundial de 1910, realizada em Edimburgo, Escócia. Os adventistas assistiram a esse evento e participaram das reuniões, mas se recusaram a apoiar a divisão de campos missionários mundiais entre as várias denominações.7

Essa recusa pode ter parecido uma atitude mesquinha, sectária e arrogante, mas podemos firmemente garantir que o Senhor não abençoaria os resultados de uma concordância. Sem essa recusa, é improvável que os adventistas do sétimo dia se tornassem a denominação evangélica mais difundida no mundo, com mais de 17 milhões de membros em mais de 200 países, operando o mais disseminado sistema educacional e médico no mundo. Humildemente, reconhecemos que o poder de Deus faz com que as pequenas coisas se tornem muito grandes, e devemos estar sempre atentos às advertências contra a jactância de nos acharmos “ricos e abastados” (Ap 3:17).

Por si mesmo, o crescimento não é prova de que estamos certos, embora a falta dele provavelmente evidencie que estejamos indo na direção errada. De todo modo, há duas questões importantes diante de nós: Por que o adventismo resistiu à divisão do campo missionário? Qual é o princípio que levou à recusa e que também pode limitar nosso envolvimento no movimento ecumênico formal de hoje?

Sábado e ecumenismo

Uma razão fundamental para essa dificuldade se centraliza em nossa crença de que o sétimo dia, o sábado, é o dia do Senhor. O sábado ergue barreiras históricas, proféticas, teológicas e práticas ao nosso pleno envolvimento com o moderno movimento ecumênico.

Em primeiro lugar, como assunto prático, nosso dia especial de adoração cria uma barreira ao culto regular com outros grupos cristãos. Esses grupos podem se reunir, sem problemas, para o culto de adoração. Mas o compromisso central de nosso culto é que ele se realiza em um dia em que poucas igrejas também se reúnem para adorar. Podemos até realizar e assistir cultos em outros dias, por causa de algum evento especial, assim como outros cristãos podem fazer o mesmo no sábado. Mas essa não é a prática rotineira.

Em segundo lugar, nossa observância do sábado nos tem dado grande sensibilidade para com a situação das minorias religiosas que têm sido perseguidas pelo fato de manterem crenças diferentes das tendências atuais da maioria. O antissemitismo tem uma longa e desafortunada história na Europa e na América, e frequentemente a marca da intolerância inclui a observância do sábado.

Depois do início da Reforma, luteranos, calvinistas e católicos se uniram na perseguição e no assassinato de anabatistas, por causa das crenças deles. Alguns anabatistas observavam o sábado do sétimo dia e foram objeto de perseguição por causa dessa prática. Na América do fim do século 19, adventistas foram penalizados e encarcerados por transgredirem leis dominicais.8 Acreditava-se que os grupos minoritários poderiam ser pressionados a aceitar as crenças da maioria, ou talvez a minimizar crenças não defendidas por essa maioria. Diante disso, quando cristãos começaram a se reunir em grupos, propondo unidade nos pontos em comum, os adventistas ficaram preocupados.

Na verdade, como adventistas, cremos que, em algum ponto no futuro, certas práticas de culto mantidas pela maioria serão impostas por meio de leis governamentais. Assim, somos firmemente refratários a projetos direcionados a buscar unidade por meio do jogo da minimização teológica ou doutrinária. Temos crenças fundamentais, distintivas, como o sábado, que a História nos mostra ser vulnerável à minimização por parte de outros cristãos.

Em terceiro lugar, encontramos no sábado uma autoridade teológica inerente. Cremos que o sábado não é simplesmente um dia da semana, mas uma expressão da amorável autoridade de Deus. O sábado nos lembra de que Ele nos criou por amor. Também nos lembra, de modo especial, Sua autoridade como Criador. De que maneira o sábado é um memorial único dessa autoridade? Alguns dos dez mandamentos, como leis contra roubos, assassinatos e adultério, podem ser estabelecidos por autoridades civis, independentemente da Bíblia. Porém, o sábado do sétimo dia foi estabelecido apenas por uma ordem especial de Deus.

A psicologia pode nos ensinar que seres humanos funcionam melhor e são mais saudáveis por repousarem um dia entre os sete da semana.9 Mas não pode nos dizer que o melhor dia para repousar seja o sétimo dia. Assim, ao observar o sábado como santo dia do Senhor, revelamos um sinal especial de submissão à amorável autoridade de Deus. No sábado, criação, amor e autoridade estão juntos em um expressivo símbolo de adoração.

Como adventistas, não cremos que sejamos salvos por causa da observância do sábado. Mas, cremos que essa observância é um reconhecimento especial da autoridade divina, em contraste com a autoridade humana, seja ela expressa pela tradição, por um magistério ou pela vontade da maioria. O ecumenismo formal tende a dizer, pelo menos na prática, que as coisas importantes para a maioria devem ser importantes para todo o mundo. Assim, a autoridade do grupo tende a determinar quais são as doutrinas importantes e de que maneira elas são definidas.

Acaso, não é assim que todas as declarações de crenças são formuladas? É verdade. Porém, à mesa adventista permanece o compromisso de tratar as Escrituras como autoridade final, a norma pela qual todas as reivindicações da razão, da História e da experiência são julgadas. Ao observarmos as denominações cristãs de hoje, vemos uma variedade de abordagens de autoridade doutrinária e ensino. Há diferentes pontos de vista sobre o papel da tradição, a importância do ensinamento do magistério, e métodos de estudo da Bíblia, como o método crítico superior, que os adventistas colocam abaixo da autoridade escriturística.

Autoridade bíblica

Para os adventistas do sétimo dia, a autoridade das Escrituras provém de Deus, falando através do Espírito Santo a uma comunidade comprometida em observar o memorial semanal de Sua soberania. Isso nos faz relutantes em nos unirmos a grupos para os quais a autoridade final se encontra na tradição, nos credos, em um sacerdócio ou magistério, ou em algo como maioria na comunidade cristã.

O movimento milerita, como exemplo de um verdadeiro movimento ecumênico bíblico, deve ser aplaudido. Ele estava fundamentado na busca da verdade bíblica, comprometido com a autoridade final das Escrituras, conforme executada pelo Espírito Santo na comunidade de crentes. Cremos que esse movimento ecumênico, universal, ocorrerá novamente antes da segunda vinda de Cristo e que ele incluirá “toda nação, tribo, língua e povo” (Ap 14:6).

Oremos para que minha igreja, sua igreja e muitas outras igrejas tenham humildade a fim de que sejam parte desse movimento. Enquanto isso, compartilhemos nossos dons, aproximemo-nos de outros cristãos e pastores, não em busca de unidade superficial, imposta por homens, mas a unidade genuína, biblicamente fundamentada, de acordo com o “assim diz o Senhor!”

 

Tempo de oportunidade

“Ninguém recebeu até agora o sinal da besta. Ainda não chegou o tempo de prova. Há cristãos verdadeiros em todas as igrejas, inclusive na comunidade católico-romana. Ninguém é condenado sem que haja recebido iluminação nem se compenetrado da obrigatoriedade do quarto mandamento.”

“Mas ninguém deverá sofrer a ira de Deus antes que a verdade se lhe tenha apresentado ao espírito e consciência, e haja sido rejeitada. Há muitos que nunca tiveram oportunidade de ouvir as verdades especiais para este tempo. A obrigatoriedade do quarto mandamento nunca lhes foi apresentada em sua verdadeira luz. Aquele que lê todos os corações e prova todos os intuitos, não deixará que pessoa alguma que deseje o conhecimento da verdade seja enganada quanto ao desfecho da controvérsia.”

“Deve-se dispensar o mais prudente e mais firme trabalho aos pastores que não pertencem à nossa fé. Muitos há que não sabem nada melhor do que serem desviados por pastores de outras igrejas. Orem e trabalhem obreiros fiéis, tementes a Deus e fervorosos..., orem e trabalhem, digo, pelos pastores sinceros que foram ensinados a interpretar mal a Palavra da Vida. Muitos pastores que agora pregam o erro hão de pregar a verdade para este tempo”.

 

Linha divisória

“Os poderes da Terra, unindo-se para combater os mandamentos de Deus, decretarão que todos, ‘pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos’, se conformem aos costumes da igreja, pela observância do falso sábado. Todos os que se recusarem a se conformar serão castigados pelas leis civis, e se declarará finalmente serem merecedores de morte. Por outro lado, a lei de Deus que ordena o dia de descanso do Criador, exige obediência, e ameaça com a ira divina todos os que transgridem seus preceitos.”

“O sábado será a pedra de toque da lealdade; pois é o ponto da verdade especialmente controvertido. Quando sobrevier aos homens a prova final, será traçada a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não O servem. Ao passo que a observância do sábado falso em conformidade com a lei do Estado, contrária ao quarto mandamento, será uma declaração de fidelidade ao poder que se acha em oposição a Deus, é a guarda do verdadeiro sábado, em obediência à lei divina, uma prova de lealdade para com o Criador. Ao passo que uma classe, aceitando o sinal de submissão aos poderes terrestres, recebe o sinal da besta, a outra, preferindo o sinal da obediência à autoridade divina, recebe o selo de Deus”.

*Nicholas P. Miller é professor associado de História na Universidade Andrews, Estados Unidos.

 

Referências:

1. Nisto Cremos, p. 211. 2

 2. Ibid.

3. Ellen G. White, Evangelismo, p. 234.

4. Herbert Douglas, A Mensageira do Senhor, capítulo 12.

5. Ellen G. White, Evangelismo, p. 562.

6. ___________, O Grande Conflito, p. 603-605. 7 F. L. Cross e E. A. Livingstone, editores, The Oxford Dictionary of the Christian Church(Oxford: Oxford University Press, 2005);

7. George Knight, Historical Sketches of Foreign Missions (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2005), p. 18-26.

8 George H. Williams, The Radical Reformation (Kirksville, MO: Truman State University Press, 2000), p. 272; Bryan Ball, The SeventhDay Men (Oxford: Clarendon Press, 1994), p. 37; W. L. Emerson, The Reformation and the Advent Movement (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1983), p. 73-75; para descrição do aprisionamento, julgamento e condenação de adventistas do Sétimo dia, no século 19, por causa da observância do sábado, ver William A. Blakely, American State Pages and Related Documents on Freedom in Religion (Washington, DC: Review and Herald, 1949), p. 457-512).

9. Neil Nedley, Proof Positive (Amore, OK: Neil Nedley, 1999), p. 504.

 

FONTE: Ministério jul-ago 2014, p. 17-20.

domingo, 9 de outubro de 2022

LAR, ENFIM


 Alberto R. Timm*

O Horizonte Perdido, de James Hilton,1 descreve o acidente de um avião que, sem combustível, é obrigado a pousar à noite entre as montanhas do Tibete. Com o impacto da aterrisagem, o piloto acaba morrendo, mas os quatro passageiros sobrevivem e são conduzidos por um grupo de tibetanos ao mosteiro lamaísta de Shangri-La. Naquele lugar, não existe o mal, a vida cresce em amor e sabedoria, e as pessoas são longevas. Mesmo alheio ao conceito bíblico de que toda a criação precisa ser “redimida do cativeiro da corrupção” (Rm 8:21), esse romance expressa uma das mais profundas aspirações do ser humano – o anseio por um mundo melhor.

Em contraste com a utopia de Shangri-La, a esperança cristã de “novos céus e nova Terra” (2Pe 3:13) se fundamenta na Palavra de Deus. (Ap 21:1-4).

Mas o acesso ao novo céu e à nova Terra de perene felicidade passa pelo caminho da cruz (Mc 8:34); pois “somente pela graça imerecida de Cristo alguém pode ter entrada na cidade de Deus”.2 Por isso, toda mensagem bíblica aponta para o Cristo crucificado, cujo sangue vertido na cruz no Calvário abriu um “novo e vivo caminho” de acesso a Deus (Hb 10:20), para todo o que nEle crê (Jo 3:16).

Preparo

Pela cruz, o pecador é libertado “do império das trevas” e transportado “para o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1:13). Como cidadão do reino da graça, ele vive no mundo sem ser do mundo (Jo 17:15, 16), aguardando “uma pátria superior” (Hb 11:16). Seu maior prazer é viver “em Cristo” (2Co 5:17), tendo “a mente de Cristo” (1Co 2:16), e familiarizando-se nesta vida com os heróis de Deus que serão seus companheiros por toda eternidade. Aqueles que serão levados para o Céu “educam sua mente de modo a estar preparados para entoar os cânticos do Céu”.3 Vivem tão familiarizados com a atmosfera celestial que o próprio Céu não lhes será um lugar estranho; pois os que “querem ser santos no Céu precisam ser primeiro santos na Terra”.4

Em Sua oração sacerdotal, Cristo orou: “Pai, a Minha vontade é que onde Eu estou, estejam também comigo os que Me deste” (Jo 17:24). Virá o glorioso e tão esperado dia em que Cristo despontará nas nuvens para a salvação eterna dos Seus filhos. Os justos mortos serão ressuscitados e se unirão aos justos vivos em um grande cortejo que ascenderá à nova Jerusalém. “A cidade de Deus abrirá suas portas de ouro para receber aquele que, enquanto na Terra, aprendeu a se apoiar em Deus quanto à direção e sabedoria, conforto e esperança, por entre perdas e aflições. Os cânticos dos anjos hão de festejar-lhe a entrada ali, e para ele dará seus frutos a árvore da vida.”5

Novo mundo

A filosofia grega gerou na cultura ocidental uma concepção dicotômica da realidade, contrastando a vida presente, neste mundo material e tangível, e a vida futura, no suposto mundo imaterial e etéreo das ideias. Para muitos, ainda hoje, a cruz de Cristo é “escândalo” e “loucura” (1Co 1:23); e um Céu literal, com um santuário literal, não passa de mera utopia. Em contraste com o pensamento grego, a Palavra de Deus descreve o novo Céu e a nova Terra de uma perspectiva tão real e concreta como o mundo em que vivemos, mas sem as limitações impostas pelo pecado. Ali, “nessas pacíficas planícies, ao lado daquelas correntes vivas, o povo de Deus, durante tanto tempo peregrino e errante, encontrará um lar”.6

Livres da maldição e da influência do pecado, os remidos viverão em um ambiente perfeito, onde flores não mais murcharão e animais não mais serão ferozes (Is 65:17-25). Deus enxugará “toda lágrima” (Ap 21:4), e nunca mais se ouvirá na cidade de Deus “nem voz de choro nem de clamor” (Is 65:19). Ali “não haverá lembrança das coisas passadas” (Is 65:17), não no sentido de absoluta amnésia, mas de lembranças negativas que roubem a felicidade dos remidos. O cântico dos remidos traz à lembrança o juízo divino sobre “a grande meretriz que corrompia a Terra com sua prostituição” e a forma pela qual Deus “vingou o sangue dos Seus servos” (Ap 19:1-3).

No Céu, “os remidos conhecerão como são conhecidos.7 Mesmo não se casando nem se dando “em casamento” (Mt 22:30), os vínculos familiares e de amizade não serão desfeitos. É-nos assegurado que, na manhã da ressurreição, criancinhas serão “levadas pelos santos anjos aos braços de suas mães” e “amigos há muito separados pela morte, reúnem-se, para nunca mais se separarem”.8 Ali estarão reunidos os salvos de todas as épocas e todos os lugares.

No diálogo entre os remidos, surgirão expressões de gratidão àqueles que os conduziram a Cristo. Alguns dirão: “‘Eu era pecador, sem Deus e sem esperança no mundo; e você se aproximou de mim, e atraiu minha atenção para o precioso Salvador, como minha única esperança. E eu cri nEle. Arrependi-me de meus pecados, e foi-me dado assentar juntamente com Seus santos nos lugares celestiais em Cristo Jesus.’ Outros dirão: ‘Eu era pagão, em terras pagãs. Você deixou seu lar confortável e veio me ajudar a encontrar Jesus, e a crer nEle como o único Deus verdadeiro. Destruí meus ídolos e adorei a Deus, e agora O vejo face a face. Estou salvo, eternamente salvo, para ver perpetuamente Aquele a quem amo. Então eu O via apenas com os olhos da fé, mas agora vejo-O como Ele é. É-me dado agora expressar Àquele que me amou, e me lavou dos pecados em Seu sangue, minha gratidão por Sua redentora misericórdia.’”9

Então, “todo remido compreenderá a atuação dos anjos em sua própria vida. Que maravilha será entreter conversa com o anjo que foi o seu guardador desde os seus primeiros momentos, que lhe vigiou os passos e cobriu a cabeça no dia de perigo, que o protegeu no vale da sombra da morte, que assinalou seu lugar de repouso, que foi o primeiro a saudá-lo na manhã da ressurreição, e dele aprender a história da interposição divina na vida individual, e da cooperação celestial em toda a obra em favor da humanidade”.10

Nenhuma estrutura terrestre pode ser comparada ao santuário celestial (Hb 8:2; Ap 11:19), onde está o trono de Deus. É-nos dito que os salvos adorarão “diante do trono de Deus”, servindo-O “de dia e de noite no Seu santuário” (Ap 7:15; cf. Ap 21:22). Ellen White acrescenta: “Oh! Que felicidade desfrutaremos nós, reunidos em volta do trono, envoltos nas vestes brancas da justiça de Cristo. Não mais tristeza, não mais separação, e, sim, habitar em paz, habitar em felicidade, habitar em glória por todos os intermináveis séculos da eternidade!”11

Mas o supremo privilégio dos salvos será ver o próprio Deus face a face. O apóstolo João afirma que, “quando Deus Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo com Ele é” (1Jo 3:1-3); e que os servos de Deus “O servirão” e “contemplarão a Sua face” (Ap 22:3, 4). Cristo assegurou: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5:8).

Explorando o Universo

Os remidos de Deus terão o privilégio de explorar o infinito Universo. “Todos os tesouros do Universo estarão abertos ao estudo dos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão voo incansável para os mundos distantes – mundos que fremiram de tristeza ante o espetáculo da desgraça humana, e ressoaram com cânticos de alegria ao ouvir as novas de uma pessoa resgatada. Com indizível deleite os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não caídos. Participam dos tesouros do saber e entendimento adquiridos durante séculos e séculos, na contemplação da obra de Deus. Com visão desanuviada olham para a glória da criação, achando-se sóis, estrelas e sistemas planetários, todos na sua indicada ordem, a circular em redor do trono da Divindade.”12

Os mistérios da vida serão estudados em maior profundidade. Mas o objeto supremo de estudo será o amor de Deus revelado no plano da salvação. “A cruz de Cristo será a ciência e cântico dos remidos por toda a eternidade… Jamais será esquecido que Aquele cujo poder criou e manteve os inumeráveis mundos através dos vastos domínios do espaço, o Amado de Deus, a Majestade do Céu, Aquele a quem querubins e resplendentes serafins se deleitavam em adorar – humilhou-Se para levantar o homem decaído; que Ele suportou a culpa e a ignomínia do pecado e a ocultação da face de Seu Pai, até que as misérias de um mundo perdido Lhe quebrantaram o coração e aniquilaram a vida na cruz do Calvário. O fato de o Criador de todos os mundos, o Árbitro de todos os destinos, deixar Sua glória e Se humilhar por amor do homem, despertará eternamente a admiração e a adoração do Universo.”13

Todas as evidências demonstram que “o grande conflito vai se aproximando do fim. Toda notícia de calamidade em terra ou mar é testemunho do fato de que está às portas o fim de todas as coisas. Guerras e rumores de guerra o declaram… Haverá um só cristão cuja pulsação não se acelere ao prever os acontecimentos que se iniciam perante nós? O Senhor vem. Ouvimos os passos de um Deus que Se aproxima!”. 14

 

Referências:

1. James Hilton, Horizonte Perdido (Rio de Janeiro: Record, s/d).

2. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 394.

3. __________, Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 265.

4. __________, Eventos Finais, p. 295.

5. __________, O Maior Discurso de Cristo, p. 100.

6. __________, O Grande Conflito, p. 675.

7. Ibid., p. 677.

8. Ibid., p. 645.

9. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 311.

10. __________, Educação, p. 305.

11. __________, Este Dia com Deus (MM 1980), p. 331.

12. Ellen G. White,O Grande Conflito, p. 677, 678.

13. Ibid., p. 651.

14. Ellen G. White, Maranata – O Senhor Vem! (MM 1977), p. 360

 

*Alberto R. Timm – Diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, na sigla em inglês), órgão da Associação Geral da IASD.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

VOLTA DE JESUS: A ÊNFASE ESQUECIDA


 por Rubens Lessa*

Quando se prega ou escreve sobre a volta de Jesus, a tendência é girar em torno de assuntos periféricos

Quando eu era criança, quase todas as pregações sobre a volta de Jesus me deixavam assustado e com medo. E pensava: "Quando eu me tornar adulto, esse temor vai desaparecer." Ledo engano. Na adolescência e juventude, fui perseguido pelo mesmo sentimento: expectativa, sensação de despreparo, ideia de perigo à vista.

Tenho pensado muito sobre isso, ultimamente, e noto que a maioria das pessoas de minha faixa etária passou pela mesma experiência.

Por quê?

Ao buscar uma resposta que me pudesse convencer, fiz duas coisas: puxei gavetas do arquivo da memória e examinei exemplares antigos da Revista Adventista e de O Atalaia. Examinei também as edições mais recentes de nosso órgão denominacional. Conclusão: a ênfase dos artigos publicados em nossas revistas e dos sermões que tenho ouvido ao longo do tempo, recai num chavão: sinais e iminência da volta de Jesus.

Mas o leitor deve estar perguntando: Não devemos falar sobre esses aspectos? Sim, devemos, mas sem nos esquecermos da ênfase que a volta de Jesus merece.

Relembrando

Em setembro de 1917, quando a Primeira Guerra Mundial estava em andamento, a Revista Mensal, precursora da Revista Adventista, publicou um artigo de F. S. Spies, intitulado: "Acaso não virá logo?" O autor conta que, numa campal realizada na América do Norte, estava presente um idoso irmão que havia durante quase toda a sua vida cooperado na proclamação da terceira mensagem. Ele estava triste e abatido, sentado no fundo de sua barraca. Ao passar por ali, um dos dirigentes perguntou-lhe: "Que tem o irmão? Parece triste e desanimado."

- Sim - respondeu o velho. - Já há quase 50 anos que estou a pregar a este povo que Jesus logo virá. Esta verdade tem esforçado minha alma nas lutas e tentações. Ainda creio nela tão firmemente como nunca antes. Mas estou ficando cada dia mais velho e mais fraco. Eu contava que havia de ver a Jesus vindo nas nuvens do céu, sem primeiro morrer, mas esta esperança vai-se desvanecendo. E isto que me faz abatido e triste. Ah , acaso não virá logo?

Um pouco antes de estourar a Segunda Guerra Mundial, em 1939, L. H. Christian escreveu um artigo na Revista Adventista, sobre "Sinais do dia por vir". Ele menciona os marcos proféticos, os sinais que proclamam a proximidade do fim e "nossa relação com o Céu". No segundo parágrafo, adverte: "A humanidade vive hoje uma atmosfera de intensa expectação. Por toda a parte o povo diz: Alguma coisa vai suceder, algum grande acontecimento tem que ocorrer', mas não sabe qual é."

Em maio de 1942, J. E Wright fez veemente apelo aos leitores de nossa Revista, ressaltando as palavras de Jesus: "Estai vós apercebidos". O artigo, de forte conteúdo espiritual, alertava: "Oh, se pudéssemos avaliar, na íntegra, compreender profundamente a solenidade da hora presente! Estamos na hora do juízo; a tríplice mensagem está atingindo agora os remotos confins da Terra. Estamos mais próximos do fim, do que pensamos."

"Está chegando a hora zero", foi o título de um artigo escrito por Valdemar R. da Silva, em O Atalaia de julho de 1944. Esse título, na verdade, é uma frase dita por Churchill, referindo-se à invasão da Europa pelos aliados. O Pastor Silva diz inicialmente: "Isto nos leva a pensar seriamente numa outra 'hora zero', decisiva para toda a humanidade, e que rapidamente se aproxima: a 'hora zero' para o mundo, a qual está mais próxima do que pensam muitos descuidados e procrastinadores."

O assunto da volta de Jesus sempre teve espaço nobre em nossas publicações. O Atalaia de setembro de 1939 trazia na página 7: "Prepara-te para te encontrares com o teu Deus"; Revista Adventista: "Quando vem Jesus?" (março de 1940); "Guarda, que houve de noite?" (outubro/1940); "Por que desejo a volta de Jesus" (dezembro/1940); "Jesus voltará" (maio/1943).

Todos os artigos publicados por nossas revistas, durante as duas guerras mundiais, são interessantes, mas o único a dar a ênfase adequada foi o de dezembro de 1940. N . P. Nielsen começa dizendo: "Alguém me fez a pergunta: Por que o senhor deseja que Jesus venha outra vez?"

Qual foi a resposta? Bem, controlemos nossa curiosidade por alguns instantes...

Ênfase recente

No dia 9 de julho de 1990, na cidade de Indianapolis, o Pastor Enoch de Oliveira, de saudosa memória, pregou eloquentemente sobre o tema: "Nos O veremos no cumprimento da profecia". Antes do apelo, disse: "A hora está avançada. Dias de tribulação há muito preditos acham-se diante de nós. O dia eterno em breve raiará. O que fazemos, temos de realizar depressa. Se perdermos este sentido de urgência, perderemos a própria essência do adventismo." Numa assembleia daquela natureza, a mensagem foi oportuna. Eu estava presente. Senti-me comovido.

Explorando outro ângulo, Francisco Lemos afirmou na Revista Adventista de novembro de 1991: "É lastimável que continuemos a vincular o preparo para o segundo Advento com as nossas obras e nosso esforço próprio". Na mesma edição, Paulo Pinheiro analisou "como a igreja vê a volta de Jesus". Várias crianças de uma escola adventista foram entrevistadas.

Alguns trechos:

"Se Ele vier hoje, não estarei preparado para um lugar tão bonito como aquele" (Bruno, 10 anos).

"Se Jesus vier hoje, não vou estar preparado, porque há muitas coisas para fazer e não as fiz ainda" (Daniel, 10 anos).

"Eu espero Jesus feliz, alegre, contente e, às vezes, triste" (Eliane, 10 anos).

"Jesus pode vir hoje, amanhã, qualquer dia; mas que vou com Ele, eu vou" (Felipe 10 anos).

E o que pensam os adultos? Na Casa Aberta de 1991, uma pesquisa realizada em nome da Revista Adventista, mostrou as tendências de nosso povo. Dos 455 entrevistados:

• 83,8% disseram que o assunto da volta de Jesus lhes causa alegria;

• 94,2% afirmaram que somente Deus sabe o dia;

• 95,7% acharam que Cristo não veio porque a igreja não está preparada como deveria;

87,6% disseram que crer em Cristo e depender inteiramente dEle é a condição para estar preparado.

Luz no final do túnel

Outro artigo que despertou minha atenção para o enfoque que precisamos dar ao tema da volta de Jesus, foi escrito por Lester Bennett, na edição de janeiro de 1988. Logo no início, ele afirma: "Vejo na Igreja Adventista não apenas uma crença na Segunda Vinda, mas uma fascinação a respeito do tempo em que ela deverá ocorrer."

Aqui está o nó górdio. Precisamos desatá-lo, sob pena de continuarmos no mesmo diapasão. Nosso erro é o seguinte: falamos mais sobre o tempo, ou a iminência do evento, do que sobre a "bendita esperança". Foi por isso que, na infância, adolescência e juventude, eu ficava com medo e assustado. A volta de Jesus era apresentada como um dia de juízo. Além disso, os pregadores salientavam muito a perseguição, as pragas, o tempo de angústia. Passei a depositar minha fé nos "sinais", e não em Cristo e Suas promessas. O fato é que ouvi muito pouco sobre a promessa: "Virei outra vez" (João 14:3). Por que se prega tão pouco sobre João 14:1-3?

Quando meu pai descansou em Cristo, a volta de Jesus passou a ter mais significado para mim. O desejo de rever esse ente querido, que me inspirou a trabalhar na obra do Senhor, despertou em mim outras expectativas. Passei a falar menos sobre os acontecimentos que precederão a volta de Jesus, para falar mais e mais sobre o encontro com Ele. Sim, os sinais são ainda importantes para mim, pois foram preditos pelo próprio Jesus, mas Jesus é mais importante do que os sinais! É importante saber que Jesus está às portas, mas será muito mais significativo encontrá-Lo na nuvem de glória.

Cumprindo o que prometi linhas atrás, volto agora à pergunta dirigida ao Pastor Nielsen: "Por que o senhor deseja que Jesus venha logo?" Sua resposta foi sublime e inteligente: "Porque Ele é meu Amigo. Perdoou os meus pecados. Ele me ama e aprendi a amá-Lo. Desejo vê-Lo como Ele é. Ouvi a Seu respeito, mas quero contemplá-Lo face a face e estar em Sua presença. Doces são as histórias de Seu maravilhoso amor, e elas me cativaram a alma. Quero vê-Lo em toda a Sua formosura e deleitar-me nos sorrisos de Seu amor. Sim, alegro-me de que Ele virá outra vez, pois é meu Amigo."

Meus irmãos, o encontro com Jesus é o assunto que deve conquistar todas as nossas afeições, e não questões periféricas. Neste sentido, Paulo deixou-nos um grande exemplo. Se, diante do carrasco, o apóstolo tivesse posto os olhos na espada que ia decepar sua cabeça, teria sucumbido. Notemos, porém, o que ele fez: "O apóstolo estava a olhar para o grande além, não com incerteza ou terror, mas com esperança gozosa e anelante expectativa. Ao encontrar- se no lugar do martírio, não vê a espada do carrasco ou a terra que tão “logo lhe há de receber o sangue; olha, através do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno” (Atos dos Apóstolos, p. 511 e 512).

Muitos adventistas estão sucumbindo porque só olham para os "sinais". O que os sinais lhes dizem? Que haverá perseguição, fome, angústia e sofrimento, antes da volta de Jesus. Ao pensarem nessas coisas, perdem a visão do Salvador e do feliz companheirismo com Ele, através da eternidade. Essa maneira de encarar os acontecimentos do fim é obra de Satanás, que, com astúcia, leva muitos adventistas a desenvolver uma perspectiva pessimista quanto aos temas escatológicos.

O que é mais importante para noivos que verdadeiramente se amam: os preparativos para o casamento, ou o momento a partir do qual estarão juntos para sempre?

Na casa paterna

Se o filho pródigo, ao tomar a decisão de retornar à casa paterna, tivesse pensado nos perigos do caminho e duvidasse da possibilidade de o pai recebê-lo com alegria, teria permanecido na "terra longínqua". Ele, no entanto, estava convicto de que o pai estava ansioso por sua volta.

"O pai disse aos seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lhe, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se" (Lucas 15:22-24).

A volta de Jesus será a maior festa de todos os tempos. Doenças, defeitos físicos e mentais, tristezas e angústias, guerras e desavenças, desigualdades e injustiças, sofrimento e morte - tudo estará no passado. Na presença do Rei dos reis, haverá alegria eterna.

Quando passarmos a falar mais do encontro com nosso Redentor, entenderemos os sinais como avisos de que nosso Amigo está às portas. E, com alegria, anunciaremos ao mundo esta empolgante notícia.

Que o Dono e Anfitrião da festa seja a nossa paixão suprema, a nossa esperança, a alegria e motivação de nossa vida! "Ora vem, Senhor Jesus" (Apoc. 22:20).

 

*Rubens da Silva Lessa, editor da Revista Adventista

 

FONTE: Revista Adventista, maio 1997, p. 08-10.