Teologia

sexta-feira, 27 de junho de 2014

POR QUE OS ADVENTISTAS NÃO ASSISTIRÃO O JOGO DO BRASIL NO SÁBADO?



Ricardo André

O jogo do Brasil nas oitavas de final está marcado para ocorrer no dia 28 de junho, às 13h00. Se passar para a fase seguinte, o jogo se realizará no dia 04, às 17h00. Seriam dois jogos comuns como foram os três jogos anteriores da fase de grupos, não fosse o fato de ser realizado no sábado e o outro na sexta-feira no pôr-do-sol. Os Adventistas do Sétimo Dia não vão assistir os jogos da Seleção brasileira nesses dois dias. Por quê? Existem boas razões bíblicas para isso. Vejamos: De acordo com a Bíblia Sagrada, o sábado é o santo dia do Senhor, dia de guarda, e ele deve ser santificado a partir do pôr-do-sol de sexta-feira, que é o dia de preparação para o Sábado, até o pôr-do-sol de Sábado. Na Bíblia, um novo dia começa a ser contado no pôr-do-sol e não depois da meia-noite (Gn 2:1-3; Êx 20:8-11; Gn 1:5; Lv 23:32). Neste dia os adventistas dedicam-se as atividades religiosas e filantrópicas, como visitar uma pessoa doente ou necessitada, ir à igreja, uma vez que participar de programações espirituais nos coloca em íntima ligação com Deus (Levítico 23:3; Lc 4:16).

 "Deus deu aos homens seis dias nos quais trabalhar, e exige que seus trabalhos sejam feitos nos seis dias destinados a isso. Atos necessários e misericordiosos são permitidos no sábado; os doentes e sofredores em todo o tempo devem ser tratados; mas o trabalho desnecessário deve ser estritamente evitado. (...) E o mandamento inclui todos dentro de nossas portas. Os que convivem na casa devem durante as horas sagradas pôr de parte suas ocupações mundanas. Todos devem unir-se a honrar a Deus por meio de um culto voluntário em Seu santo dia" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 307 e 308).

Deus pede que direcionemos nossa atenção para assuntos espirituais neste dia. Em Isaías 58:13 e 14 encontramos a melhor explicação da forma de guardar o Sábado. O texto diz: “Se você vigiar seus pés para não profanar o sábado e para não fazer o que bem quiser em Meu santo dia; se você chamar delícia o sábado e honroso o santo dia do Senhor, e se honrá-lo, deixando de seguir seu próprio caminho, de fazer o que bem quiser e de falar futilidades, então você terá no Senhor a sua alegria, e Eu farei com que você cavalgue nos altos da terra e se banqueteie com a herança de Jacó, seu pai” (NVI).

Portanto, não devemos tomar as horas sagradas do sábado para atividades seculares. Realizar qualquer atividades relacionadas “aos nossos interesses” neste dia,  é roubar um tempo que pertence a Deus. Ele afirma categoricamente que o sábado é o Seu santo dia. Logo não temos o direito de fazer e/ou falarmos o que quisermos neste dia.  Esta é sempre uma ocasião apropriada para falarmos sobre Deus, o céu, a vida eterna, o amor de Jesus Cristo, o Seu perdão sem igual, etc. Esse tipo de diálogo, diferente das conversas que temos durante a semana, é bom para melhorar o convívio com a família e agradável para a roda de amigos.Assistir partidas de futebol no sábado não condiz com o espírito do sábado, pois o mesmo desvia nossa atenção para o objetivo do sábado, que é a devoção a Deus.

Por conta disso, os Adventistas do Sétimo Dia não vão prestigiar a Seleção Brasileira nas horas sagradas do sábado. Em nosso lar já tomamos a nossa decisão. Não obstante gostar muito de futebol, especialmente da Copa do Mundo, vamos nos abster de assistir e comemorar, por entendermos, com base na Bíblia, que essa representa a vontade Deus. A observância do sábado é um claro princípio bíblico, e para nós, cristãos adventistas, princípios são inegociáveis.

Qual é a importância da nossa decisão? Primeiro, que abstendo-nos de assistir os jogos nesse dia estaremos aproveitando a oportunidade de colocar o sábado no lugar em que Deus quer que ele esteja. Na realidade, é uma boa oportunidade para testemunharmos do sábado como "Um Dia de Esperança", bem como para fortalecermos o nosso compromisso com a observância do sábado.

Segundo, nos ajudará a fortalecer nossa fidelidade a Deus. Jesus afirmou: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito (...)” (Lc 16:10). Portanto, as “pequenas” decisões de hoje estão nos preparando para as grandes decisões de amanhã – quando teremos que proclamar nossa fé ao custo da própria vida. O exercício de fazer a vontade de Deus, ainda que a nossa seja outra, vai nos acostumando a fazer o que é certo, não com base em nossos sentimentos e desejos, mas com base em nossa decisão de agradar a Deus e na confiança de que Ele sabe o que é melhor para nós. Preferimos fazer a vontade de Deus do que a nossa.

Estamos dispostos a manter, a qualquer preço, o compromisso com a guarda do sábado? A abrir mão de privilégios, ou mesmo aparentes necessidades, para ser fiéis ao "dia do Senhor" (Ap 1:10)? Quero desafiar você a guardar e proclamar o dia de sábado da maneira que Deus quer. Esse é o tempo em que precisamos renovar, de maneira profunda, nosso compromisso com sua observância. É o momento de abandonar hábitos, concessões, desculpas, interesses e tudo que possa estar enfraquecendo o sinal de Deus (Ez 20:20) em sua vida. Por outro lado, "A mensagem do terceiro anjo requer a apresentação do sábado do quarto mandamento, e esta verdade tem de ser levada perante o mundo..." (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 383). Precisamos nos unir e torná-la mais conhecida.



quinta-feira, 26 de junho de 2014

O DOM DE LÍNGUAS: UMA CUIDADOSA EXEGESE BÍBLICA

William H. Albach

“A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes” – 1 Cor. 12:1.

A prática das assim chamadas manifestações de “línguas estranhas” no cristianismo, não só está em aumento, mas expande-se à partir dos círculos dos outrora humildes pentecostais no rumo do seio dos luteranos, episcopais, católicos e outras denominações mais. O movimento do século XX está se infiltrando por toda parte e trazendo consigo confusão, dúvidas, contendas e discórdia.  Grande parte da cristandade aguarda perdida, no que se refere a que medidas tomar com respeito ao movimento, esperando, junto com Gamaliel (Atos 5: 38,  39), que não seja de Deus e que, por isso, fracasse ao final. Em minha opinião, essa não é a solução do problema. O que se necessita é um esforço diligente para instruir os cristãos sobre o assunto a fim de que estejam capacitados a enfrentá-lo com sabedoria e entendimento.

Há mais de trinta anos, quando era um seminarista, passei um feriado em Chicago. Estando aborrecido, saí a caminhar naquela tarde em busca de algo excitante. Encontrei-o a menos de dois quarteirões de onde me hospedava—numa antiga sinagoga judaica, usada então por um grupo de pentecostais. Havia um culto em andamento e a curiosidade me fez entrar. O auditório de tamanho considerável abrigava um grupo disperso. Sobre a plataforma estava o pregador sentado. Tomei posição de observador junto ao balcão. Não havia ordem no culto. O pregador pregava ou orava num tom de voz alto e monótono. Outro começava a cantar um hino bem ritmado e o restante da congregação o acompanhava. Aplaudiam e batiam com os pés no chão. Os períodos ruidosos eram interrompidos às vezes por absoluto silêncio. Já estava ali por uma meia hora quando, interrompendo um dos períodos de silêncio, levantou-se uma mulher falando com sons ininteligíveis.  Aquela foi minha introdução ao dom de línguas. Embora nesse tempo eu fosse bastante jovem, pareceu-me que todo o culto havia sido manipulado para ressaltar as emoções e o que eu havia testemunhado não era um dom do Espírito de Deus, mas uma intoxicação emocional ou de histeria.

John L. Sherrill, em seu livro They Speak in Other Languages [Falam em outras línguas], relata a sua investigação do movimento de línguas. Como jornalista, conduz uma investigação bem minuciosa do movimento, aparentemente livre de preconceitos. Descreve sua primeira experiência num culto pentecostal, e, apesar do fato de que sua experiência se deu em Nova York, não era difícil convencer-me de que ele teria assistido ao mesmo culto que eu. Contudo, experiências  posteriores com os pentecostais e outros grupos reavivalistas me convenceram  de que todos empregam as mesmas técnicas; jogando com as emoções até que a pessoa débil, ou espontaneamente, se rende às manifestações de intoxicação emocional ou de histeria. Não quero parecer desrespeitoso para com a mulher cristã ou o feminismo em geral quando digo que outra evidência disso se acha  também no fato de que as mulheres têm um papel destacado nesse movimento, e são mais prontas a responderem a essas técnicas do que os homens. As mulheres simplesmente se inclinam mais do que os homens às emoções.

Histórico do Fenômeno Em Sua Versão Moderna

O movimento de falar em línguas do século XX teve seu começo no princípio do século, quando no ano de 1900 Charles F. Parham, um jovem ministro metodista, sentiu que havia algo mau em sua vida espiritual e se dispôs a buscar uma solução para o seu problema espiritual. Reuniu uma comunidade de cerca de quarenta “estudantes da Bíblia”—homens, mulheres e crianças—numa mansão abandonada em Topeka, estado de Kansas, EUA. Ele sabia que direção os seus estudos deviam tomar e finalmente o grupo chegou à conclusão de que necessitavam do “batismo do Espírito”, manifestado no dom de línguas. Na véspera do ano novo, para  1900, o grupo de reuniu e orou desde o crepúsculo até a tarde pedindo o dom de línguas, mas em vão. No final, uma jovem mulher se lembrou que no livro de Atos, em duas ocasiões (e Sherrill diz “freqüentemente”), o dom de línguas seguia-se à imposição de mãos. Segundo Sherrill, ele pediu a Parham que lhe impusesse as mãos sobre ela enquanto orava pedindo pelo dom. E enquanto ele o fazia, imediatamente ela começou a falar numa língua desconhecida.

Sempre que Sherrill informa em detalhes o que sucede no momento em que  a pessoa recebe o dom surgem características comuns: (1) A pessoa não está satisfeita com sua vida espiritual, (2) sua busca de satisfação espiritual a leva ao livro de Atos, (3) convence-se de que a solução para o seu problema é o batismo do Espírito, manifestado através do dom de línguas, (4) ora durante horas intermináveis pelo dom, (5) fala com articulações extáticas, ininteligíveis, mesmo para si própria. Muito mais se pode dizer acerca disso, mas notemos simplesmente em outros termos só os denominadores comuns: o dom parece ser de mais fácil acesso aos que se acham perturbados espiritualmente, emocionalmente abalados, esgotados física e emocionalmente, ou que são especialmente espontâneos à sugestão, auto-sugestão ou auto-hipnose. Notemos, além disso, que eles diagnosticam invariavelmente sua própria enfermidade espiritual, prescrevem o remédio para sua cura e bombardeiam o trono de Deus com orações até que Ele se dê por vencido e lhes conceda o que insistem em obter.

Concede realmente o Espírito Santo a habilidade de falar em línguas  desconhecidas às pessoas? Não podemos negar que a princípio o Espírito concedeu tal dom aos discípulos no primeiro Pentecoste cristão, levando-os a falar em línguas desconhecidas para si próprios, contudo inteligíveis aos estrangeiros reunidos na cidade de Jerusalém. Não podemos negar que mesmo hoje seja possível que o Espírito conceda esse mesmo dom. Mas não li nem ouvi prova convincente alguma de que hoje em dia o Espírito conceda o dom de línguas. Oh, sim, ouvi e li muitos relatos estranhos de pessoas que contam de suas experiências pessoais, ou de pessoas que relatam de segunda mão a história das experiências  que outros reivindicam ter vivenciado. Por exemplo, John Sherrill narra o  caso de certo homem que tendo recebido o dom, se apressou à rua e falou numa língua desconhecida a um estrangeiro. O estrangeiro respondeu em uma língua desconhecida—desconhecida para o homem do dom—e finalmente perguntou ao que lhe falava como conseguia falar em polonês de modo tão perfeito, sem poder entendê-lo por si mesmo.

Também se registra outra história de outro homem que, recebendo o aludido dom, fala em língua desconhecida a uma menina num parque e recebe a informação de que se acha falando em árabe antigo. Mas, invariavelmente, os dois ou três testemunhos pelos quais se pode estabelecer a veracidade de tais histórias não estão disponíveis; a identidade do polonês e da garota no parque não são dadas a conhecer. Os esforços de Sherrill por registrar a ação de falar em línguas e a reprodução dessas gravações perante especialistas em linguística não revelaram língua conhecida alguma m muitas horas de gravação.

O Pentecoste Original

O acontecimento escriturístico da manifestação de falar em línguas de maior documentação detalhada é a dos discípulos no primeiro Pentecoste cristão. Eles testificaram de Jesus Cristo, nosso Salvador, em línguas desconhecidas  a fim de que as pessoas de idioma estrangeiro na cidade pudessem conhecer  as obras maravilhosas de Deus em Jesus para a salvação do mundo. Hoje em dia, não se fala mais o dom de línguas como um veículo de comunicação do evangelho para os que não podem entender nossa própria língua, mas como de um dom especial divino que dá ao orador a segurança espiritual e emocional de que recebeu o dom do Espírito—uma experiência puramente subjetiva e emocional. Pelo menos em sua história original, os pentecostais insistiam em que, quando usado em público, o dom de línguas era acompanhado do dom de interpretação—dom especial que algum outro recebia capacitando-o a interpretar o que era dito na língua desconhecida. Sherrill anota em sua investigação que viu isso suceder, mas observa ao mesmo tempo  que não existia relação entre a quantidade de palavras faladas pelo orador e a quantidade de palavras pronunciadas pelo intérprete em sua tradução. Além disso, assinala, a interpretação vem sempre envolvida em palavras e fraseologia da versão bíblica “King James”.

Os que falam em línguas afirmam que a Bíblia menciona frequentemente o dom de línguas, especialmente no livro de Atos. No que toca ao livro de Atos, isso não é mencionado com frequência. Adicionalmente ao relato do primeiro Pentecoste cristão, é mencionado especificamente duas vezes: (1) Na história da conversão de Cornélio; e os que haviam vindo com Pedro estavam surpresos porque, segundo Atos 10:46, “os ouviam falando em línguas e engrandecendo  a Deus”. (2) Por ocasião da chegada de Paulo a Éfeso, onde encontrou discípulos que não sabiam nada sobre o Espírito Santo, tendo sido batizados apenas no batismo de João. Ali Paulo lhes falou de Jesus, e a seguir nos é dito em Atos 19:5, 6: “Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam”. Notamos que em ambas as passagens  a implicação é de que as línguas faladas não eram alocuções extáticas, mas, à semelhança do primeiro Pentecoste cristão, línguas conhecidas; porque nos é dito que naquele momento os que falavam estavam “engrandecendo a Deus”; no outro texto se diz que “profetizavam”.

O Problema em Corinto

Para obter luz a respeito do movimento de línguas, devemos volver-nos  à mais pormenorizada declaração que há na Bíblia no que tange a esse tema, a saber—1 Coríntios 12, 13 e 14. Esta é a seção que mais citam os pentecostais em favor do movimento; contudo, estranhamente esses trechos não foram escritos  para apoiar o dom de línguas, mas para colocar o dom de línguas, como empregado naquele tempo, em seu devido lugar e perspectiva propícios. Paulo estava escrevendo a uma congregação com problemas, respondendo-lhes uma carta na qual haviam indagado a respeito de alguns problemas, entre os quais se achava o dom de línguas. Está bastante claro que naquela ocasião, tal como hoje, o dom de línguas se havia transformado num elemento que causava muita divisão na igreja de Corinto. Os que o possuíam, não só se sentiam superiores, como ainda pretendiam assim ser aos que não possuíam tal dom. Naquela época, como hoje, havia disputa, dissensão e aparente desamor quando se tratava do assunto—desamor de ambos os lados, mas que afetava especialmente os que supunham haver recebido o Espírito Santo em seus corações e vidas. É ao responder a uma pergunta específica sobre o tema que Paulo escreve: “não quero, irmãos, que sejais ignorantes sobre os dons espirituais”. Agora, destaquemos somente aqueles pontos salientes dessa seção.

Quem recebeu o Espírito Santo? Paulo declara: “. . . ninguém pode dizer: Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo” (12:3). Noutras palavras, todo o que crê em Jesus como Senhor e Salvador pode estar seguro de que foi batizado no Espírito. Não necessita de qualquer manifestação especial da presença do Espírito em sua vida. E esta é uma das coisas tristes do movimento pentecostal.  Não só fomenta uma comunidade cristã dividida em duas classes (os que têm o dom, e os que não o têm), como ainda levanta a dúvida de ser ou não cristão verdadeiro, na mente de muitos dos que não possuem o dom.

Paulo depois assinala que há uma variedade de dons do Espírito, todos dados pelo mesmo Espírito (12:4-11) e que estes são concedidos para o bem comum (12:7). Ele enumera esses dons do Espírito, como segue: (1) a palavra da sabedoria, (2) a palavra da ciência, (3) a fé, (4) os dons de cura, (5) a operação de milagres, (6) a profecia, (7) o discernimento de espíritos, (8) a variedade de línguas e  (9) a interpretação de línguas. Note-se que entre os nove dons, o falar em línguas e a interpretação de línguas são enumeradas ao final e como os menores dentre todos. Não posso crer que essa haja sido uma enumeração acidental por parte de Paulo, porque mais adiante, em outra declaração sua, no capítulo 12, verso 28, Paulo começa a lista de dons em outra fraseologia: “A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? Ou todos profetas? São todos mestres? ou operadores de milagres? Têm todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?” Em resumo, creio que Paulo trata de diminuir com muito tato o dom de línguas entre todos os dons que o Espírito concede. Ele o diminui mediante o uso de débil louvor.

Na próxima seção de 1 Coríntios 12 Paulo emprega sua ilustração da igreja como corpo de Cristo, no qual cada membro, com seu dom particular dado pelo Espírito, contribui para o bem-estar de todo o corpo. Sendo tratado geralmente fora de seu contexto, meramente como uma descrição dos membros da igreja que trabalham juntos em Cristo, esta passagem, quando utilizada em seu contexto, revela algo do problema que os coríntios experimentaram e, além do problema que se experimenta em congregações modernas ao entrar nelas o movimento das línguas. Sintetizando esta seção, Paulo diz que é propósito do olho ver, do ouvido ouvir, da língua falar, etc. Se todos os membros do corpo tivessem a mesma função, então o próprio corpo não poderia funcionar. Portanto, o olho não pode menosprezar o pé por este não poder ver, nem deve a língua gloriar-se sobre o nariz, por este não poder falar. Deus, declara Paulo, construiu o corpo sabiamente “. . . para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (12:25). Contudo, achamos no movimento de falar línguas uma tendência por parte do elemento pentecostal de menosprezar como cristãos incompletos os que não possuem o dom, se pensam serem superiores a todos os demais, e que o seu dom é o mais importante do corpo de Cristo. Essa atitude, talvez mais do que qualquer outra coisa no movimento de línguas, é responsável pela oposição emocional e rejeição do movimento por parte dos que não têm o dom. Paulo não tem essa elevada opinião do dom de línguas. Após enumerar pela segunda vez os dons do Espírito com o dom de línguas ao final da lista, conclui o capítulo dizendo: “Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons” (12:31).

Com isto Paulo embarca em seu maravilhoso capítulo sobre o amor—amor  tão aparentemente ausente na situação de Corinto—um dos três dons maiores de Deus (fé, esperança e amor), o maior dos três. Aqui devemos comentar que não podemos fazer outra coisa senão orar para que todos os cristãos possam inquietar-se com a condição espiritual e que procurem uma melhoria da mesma.  Não podemos omitir o comentário de que a cura do problema espiritual é conhecida e que não é o dom de línguas, mas o amor. Também não podemos evitar ter que dizer que não são os inquietos espirituais os que prescrevem obter de Deus o dom de línguas como remédio, mas que se deve buscar de Deus um aumento de amor para com Ele e com o semelhante mediante o poder interior do Espírito de Deus.

Edificando a Igreja

É em 1 Coríntios que Paulo faz sua declaração mais significativa a respeito do tema do dom de línguas: “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis” (verso 1),--não que tenhais o dom de línguas, mas que profetizeis—que tenhais a habilidade de ensinar, exortar, admoestar, consolar e edificar uns aos outros em vosso amor e fé cristãos. “Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala em mistérios. Mas o que profetiza, fala aos homens, edificando, exortando e consolando. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja. Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas; muito mais, porém, que profetizásseis; pois quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a igreja receba edificação”.  Os pentecostais encontram aqui uma motivação para falar em línguas, mas ignoram o fato de que Paulo considera superior o dom de profetizar. Encontro aqui o apóstolo Paulo falando sutilmente para diminuir uma prática da congregação coríntia que não é comum à igreja cristã, mas adotada em Corinto à partir das misteriosas religiões helenistas.

Em que contribui o dom de línguas para o reino de Cristo? Os que têm o dom lhes dirão quão maravilhosamente os faz sentir-se; como aumentou as dimensões de sua vida espiritual. Sim, lhes concede zelo evangelístico—para propagar sua forma pentecostal de religião. Conduze-os a esquadrinhar as Escrituras—para delas filtrar o que, segundo seus pressupostos, lhes apoia o seu interesse pelo dom de línguas. O zelo evangelístico e o amor pelo estudo  bíblico, de forma adequada e bem empregados, são coisas que deveríamos desejar ver mais e mais entre os cristãos. Então estariam menos propensos a se deixarem levar por todo erro passageiro e névoa religiosa, como se dá com o movimento de línguas.

Em que contribui o falar em línguas para a igreja? Paulo declara:

Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em que vos aproveitarei, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? É assim que instrumentos inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem distintos, como se reconhecerá que se toca na flauta, ou cítara? Pois também se a trombeta der som incerto, quem se preparará para a batalha? Assim vós, se, com a língua, não disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? Porque  estareis como se falásseis no ar. Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim. Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir, para a edificação da igreja (versos 6-12).

Dificilmente se faz necessário comentar mais do que isto, exceto para assinalar que Paulo estabelece que nosso propósito em tudo o que façamos no corpo de Cristo, ou na igreja, deve ser para a sua edificação, a salvação daqueles que ainda não receberam o evangelho, a edificação da fé, do conhecimento,  do amor e das vidas dos que foram trazidos à comunhão da igreja mediante o poder do Espírito e a pregação do evangelho.

Crescei!

A próxima seção de 1 Coríntios 14 contém palavras citadas frequentemente pelos pentecostais. Paulo diz: “Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós”. Percebe-se que Paulo falava em línguas. Contudo, ele não diz que pronunciava alocuções extáticas, como se dá com os pentecostais. Como homem educado e grande viajante, não duvido que Paulo pudesse dizer isso literalmente referindo-se a línguas conhecidas do mundo nos quais estava versado. Mas concedamos que ele falava línguas no sentido pentecostal. Então atentemos às palavras do contexto:

Pelo que, o que fala em outra língua, ore para que a possa interpretar.  Porque se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera. Que farei, pois? Orarei como espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente. E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? Visto que não entende o que dizes; porque tu de fato dás bem as graças, mas o outro não é edificado. Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas mais do que todos vós. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua (versos 13-19).

Os pentecostais pensam ter alcançado a maturidade espiritual ao adquirirem o dom de línguas. Isso os torna superiores às crianças espirituais que ainda não receberam o dom. Como avalia Paulo o dom com relação à maturidade espiritual? Ele prossegue dizendo: “Irmãos,  não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (v. 20). Isto é uma repreensão! Ele se dirige aos que falam em línguas de Corinto: Estão se comportando como crianças! Cresçam! E deixou a mesma coisa implícita em 1 Cor.13:11: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas de próprias de menino”.

Paulo prossegue explicando o propósito do dom de línguas na igreja cristã primitiva, assim como no primeiro Pentecoste cristão:

Na lei está escrito: Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas constituem um sinal, não para os crentes, mas  para os incrédulos; mas a profecia não é para os incrédulos, e, sim, para os que creem. Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura, que estais loucos? Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido, e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e, assim, prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós (versos 21-25).

Os defensores do falar em línguas empregam a profecia de Isaías 28:11 como uma antecipação da prática da glossolalia—o que, porém, não corresponde aos fatos. A ênfase nessa passagem recai sobre o pensamento de que todo o falar em língua ininteligível não converterá a ninguém: “. . . mas não quiseram ouvir”. Como foram escritas originalmente, as palavras não são outra coisa senão um pronunciamento de juízo sobre  Israel. O povo de Israel não dava ouvidos aos profetas enviados por Deus. E Deus trouxe invasões e opressores estrangeiros sobre a nação. Contudo, nem mesmo esses que falavam em línguas estranhas persuadiram Israel a que ouvisse os preceitos de Deus.

No primeiro Pentecoste cristão, os que falavam em línguas desconhecidas para eles próprios converteram 3.000 à fé no Senhor Jesus. Mas as línguas faladas eram conhecidas para os estrangeiros reunidos em Jerusalém. E o poder convertedor não residia no fato de que os discípulos falavam em línguas estranhas para eles próprios, mas no fato de que proclamavam a obra maravilhosa de  Deus mediante o Senhor Jesus Cristo para a redenção do mundo do pecado e da maldição eterna. Falar numa enunciação ininteligível só pode antagonizar o incrédulo e em nada contribui para o crescimento espiritual do crente. Os crentes se beneficiam, e os incrédulos se convertem, mediante o dom da profecia, que proclama o Senhor Jesus Cristo como a única esperança do mundo para a salvação.

Do modo como praticado em Corinto, o dom de línguas era uma prática  confusa e perturbadora, porque os que reivindicavam possuir o dom, aparentemente  competiam entre si mostrando o seu dom em público. Aqueles que reivindicavam  os dons “inferiores” também se encontravam aparentemente envolvidos nesta questão de demonstrá-los. É por isso que Paulo continua declarando:

Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro doutrina, este traz revelação, aquele outro língua, e ainda outro interpretação. Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete. Mas, não havendo intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus. Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados. Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas; porque Deus  não é de confusão; e, sim, de paz (versos 26-33).

Notamos anteriormente que as mulheres haviam desempenhado um papel destacado no movimento de línguas; que elas deixam levar-se mais facilmente por suas emoções, sendo mais prontas a responder às técnicas dos que promovem o dom de línguas. Em todo caso que conheço pessoalmente, é a mulher que levou o esposo e/ou seu lar ao movimento de línguas, e ela tem sido a primeira em receber o dom. Também este era aparentemente o caso em Corinto. É no contexto da declaração da questão das línguas que Paulo fala as palavras que durante muito tempo têm sido usadas fora do contexto para opor-se ao direito da mulher desempenhar um ofício na igreja. Numa sociedade menos liberal que a nossa, quando as mulheres eram pouco mais do que bens e serviçais dos varões da espécie, as mulheres de Corinto aparentemente encontraram no dom de línguas  uma oportunidade para impor-se e mostrar que podiam sobrepujar os homens—pelo  menos em questões religiosas e espirituais. E Paulo diz nesse contexto: “Como em todas as igrejas dos santos, conservem-se as mulheres caladas nas igrejas” (versos 33, 34).

Observações Finais

 As observações finais do capítulo e da seção incluem estas palavras: “Portanto, meus irmãos, procurai com zelo o dom de profetizar, e não proibais o falar em outras línguas. Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (vs. 39, 40). Posso entender o conselho de Paulo na situação dos coríntios.  A objeção implacável e proibição de falar em línguas sob as circunstâncias de Corinto poderiam ter agravado a situação e endurecido a atitude dos que falavam em línguas.

Recordo-me daqueles dias antigos quando o sul dos Estados Unidos estava  repleto de pequenos grupos de “santidade”, conhecidos como os santos rodopiantes, os santos choradores, os santos risonhos e os santos aplaudidores. Qualquer coisa que o grupo particular considerasse como evidência do batismo do Espírito Santo ou de “obter maior religiosidade” era a manifestação que se via em seu reavivamento. Conseguir maior religiosidade ou receber o Espírito Santo fazia com que os santos rodopiantes girassem sobre o solo, que os santos choradores chorassem, que os santos risonhos rissem e que os santos aplaudidores aplaudissem. E onde quer que o falar em línguas fosse considerado uma manifestação  do Espírito Santo e evidência necessária de que uma pessoa é cristã integral, haverá quem fale em línguas.

Quisera que todos aprendêssemos com os que se desviaram pela tangente  nisso. Muitos começaram preocupando-se com sua apatia espiritual, indiferença e frieza—e esta é uma preocupação de que todos deveríamos compartilhar; porque certamente não estamos acesos no Espírito, nossas vidas não irradiam o amor,  o interesse e a dedicação a Deus e a nosso próximo no grau que deveriam. Os pentecostais buscam erroneamente a solução de seus problemas no dom de línguas. Oram pelo dom de línguas para sua segurança pessoal de salvação. Devíamos orar para que essa segurança de salvação—que possuímos só e exclusivamente pela fé que Deus nos concede no Senhor Jesus Cristo—nos possua de tal forma mediante o poder do Espírito, que produza em nós todos os maravilhosos frutos do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,  benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gál. 5:22, 23). O interesse deles é promover,  fazer proselitismo e infiltrar em todas as partes o seu erro pentecostal. Nosso interesse, porém, deve ser o de propagar, fazer proselitismo e infiltrar no mundo inteiro o precioso evangelho de salvação mediante o sangue expiatório de nosso Senhor. Amém.

[Transcrito de Pregonero de Justicia, Vol. 4, no. 5, pp. 4-23.]

Comentários adicionais:

Além da excelente análise contextual e dos aspectos exegéticos muito precisos abordados pelos autores acima, há outras considerações adicionais que podem enriquecer o exame da matéria.

Fica claro de uma leitura cuidadosa dos capítulos 12 a 14 de 1 Coríntios que o problema abordado por Paulo tinha que ver com comunicação eficaz. O uso de língua estranha, se não comunicasse devidamente, não seria de nenhum valor, como o apóstolo deixa claro, especialmente nos versos 6-11, 21-24.

Contudo, os pentecostais têm por base um texto, realmente fundamental  para o seu entendimento da prática de “falar em línguas”, o qual merece uma exegese mais profunda. É o velho problema do “texto fora do contexto que vira um pretexto”: 1 Cor. 14:2 –“Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”.

Inicialmente é bom esclarecer que a maioria dos pentecostais entende que a experiência dos apóstolos em Atos 2, quando falaram em línguas que foram entendidas pelas várias pessoas de diferentes etnias no dia de Pentecoste, foi algo único, inigualável, irrepetível, e que a experiência de “falar em línguas” que adotam é a de 1 Coríntios 14, especialmente o vs. 2, que se trataria de “língua dos anjos” (numa referência um tanto forçada de 1 Coríntios 13:1)—uma língua espiritual, misteriosa, manifesta como dom especial de Deus e prova de que o que a pronuncia foi “batizado no Espírito”. É mais provável  neste texto que ele indique que não a falaria (“ainda que eu fale. . .).

Como dissemos no artigo “Para Entender Justificação Pela Fé” (no. 42 de nosso “Catálogo” de temas):

O dom do Espírito é o selo, o juramento e a garantia de que fomos justificados  (Efé. 1:13, 14;   Rom. 8:14-16).  Isto contradiz  a  noção  de  que  o Espírito é concedido como uma “segunda bênção” posterior e superior à  justificação, que produz manifestações sobrenaturais como garantia de que o indivíduo não só confirma,  mas  aprimora  sua  aceitação diante de Deus. O evento glorioso da imputação da justiça, baseada na experiência de Cristo, jamais pode ser superado por quaisquer experiências que o homem desfrute, mesmo as de caráter religioso.

Estaria Paulo em 1 Cor. 14:2 falando de alguém que “em espírito fala em mistérios”, ou seja, fala numa língua incompreensível aos ouvidos humanos, mas essencialmente espiritual, elevada, que revela uma ligação especial e muito espiritual com Deus por parte de quem a emite? Noutras palavras, esta passagem é tida como por si só justificando toda a contradição evidente da prática pentecostal com as claras instruções no restante do capitulo de como NÃO se deve empregar o dom de falar em línguas estranhas no culto congregacional, como nos vs. 23-28.

Há várias posições a respeito deste texto de interpretação aparentemente difícil. Alguns entendem que Paulo está realmente dizendo que os que falam em línguas, sem que haja intérprete (fato comum no meio carismático), se edificam sozinhos pela simples dotação individual de um poder espiritual que o fenômeno de origem divina lhes propicia. Todavia, tudo indica que Paulo está falando em termos hipotéticos, sendo até irônico. Ele quer dizer que de nada valeria a pessoa falar numa língua misteriosa se não for entendida, pois estaria falando consigo mesma ou com Deus, por Ele entender certamente todos os idiomas do mundo (o que também significaria uma sugestão para essa pessoa ficar calada, orando e/ou meditando, cf. vs. 28).

Ou Paulo poderia estar recorrendo a fina ironia no vs. 2, como fez ao  tratar do problema dos judaizantes que requeriam a circuncisão de todos, chegando a dizer, segundo alguns especialistas em grego, que os que insistiam no rito da circuncisão para os conversos cristãos, fariam melhor se, em lugar de somente terem removida uma pequena parcela de tecido do órgão genital masculino (o prepúcio), cortassem tudo de uma vez (ver Gál. 5:12—“se mutilassem”, do grego ’apocópsontai,  palavra derivativa do verbo com o sentido de “emascular-se”, “castrar-se”). O apóstolo Paulo caracteriza-se às vezes como bastante irônico.

Por fim, se o fenômeno carismático moderno é manifestação do Espírito Santo, como ficam os textos de 1 Cor. 12:4, Efés. 4:4, 12, 13 que falam que o Espírito é concedido para união, fraternidade, edificação da igreja como um todo? Já se viu grupo mais desunido do que as várias corporações pentecostais protestantes, acrescida nestas últimas décadas do segmento católico para dividir ainda mais os vários grupos que reivindicam posse especial do Espírito de Deus? Disse Jesus: “Por seus frutos. . .”

E se tal fenômeno é evidência do derramamento da “chuva serôdia” (Atos 2:17ss), por que, após tantas décadas, ainda não se superou a “vergonha da tarefa inacabada”—a evangelização mundial prevista em Mat. 24:14 pelas várias corporações que teriam esse poder espiritual superior? Ademais, em Efésios 4 Paulo não estabelece como regra que as línguas deveriam ser dom único ou necessariamente atribuído a todos, pois os dons são vários, e variadamente concedidos: ver Efés. 4: 11, 1 Cor. 12:8-11. – Prof. Azenilto G. Brito.

FONTE: http://www.azenilto.com

 





A EFEMERIDADE DA VIDA



Ricardo André

A expectativa de vida, também chamada de esperança de vida ao nascer, consiste na estimativa do número de anos que se espera que uma pessoa possa viver. Atualmente, a expectativa de vida da população brasileira é de 72,5 anos, sendo que as mulheres vivem, em média, 76 anos e os homens, 69 anos.

Os países que apresentam as maiores expectativas de vida do planeta, são: Japão: 86,3 anos; Mônaco: 85 anos; França: 84,5 anos; Espanha: 84,3 anos; Suíça: 84,2 anos; Itália: 83,9 anos; Austrália: 83,9 anos; Islândia: 83,5 anos; Liechtenstein: 83,5 anos e a Suécia: 83,2 anos. Não obstante esses países apresentarem uma elevada esperança de vida, a existência humana é muito curta e efêmera. Quão rápidos passam nosso dias aqui na Terra! Parece que nos damos conta disso, apenas quando somos surpreendidos pela notícia da morte de alguém, próximo de nós.

Essa efemeridade de nossa vida é provada cada dia. Recordo, por exemplo,  a morte de minha mãe. No dia 25 de junho completou uma década de seu falecimento, aos 53 anos de idade. Será que compreendemos realmente quão passageira é a nossa vida? Muitas vezes, ao caminhar pelas ruas do centro de Recife, olhando as pessoas correndo de um lado para o outro, me faço a pergunta: Será que pensam na eternidade? O que será que estão buscando: honra, poder, fama, posição, prazer, fortuna? O homem pós-moderno age muitas vezes como Pionius, de Esmirna, que disse: “Não estamos sujeito à morte, mas à vida. O paraíso que buscamos não é aquele das ruas de ouro, mas dos sacos de ouro. Nossos alvos são temporais e não eternos. O céu que buscamos é aquele da segurança financeira, com conforto e folga como um dos marcos da vida. Não queremos nem pensar na morte”.

“(...) No empreendimento da vida eterna (...) procedem com tanta indiferença como se não fossem agentes morais, como se outro estivesse jogando a partida da vida por eles” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, vol. 1,  p. 158).

 Mas de acordo com a Palavra de Deus nossa vida é apenas um vapor, como a névoa que passa, como o orvalho da manhã que se dissipa com os raios de sol. Nossa vida é tênue e frágil, como a neblina da manhã. O relógio eterno não para! Cada badalada significa um passo mais perto da eternidade. O patriarca Jó afirmou: "Os meus dias são mais velozes do que a lançadeira do tecelão" (Jó 7:6).


O grande herói da Fórmula 1, Ayrton Senna, citado na Revista Veja, edição especial de 03 de março de 194, disse em outubro de 1991: “Eu sou feliz! Serei plenamente feliz, talvez, se chegar com sabedoria aos 60 anos. De qualquer forma, ainda tenho muita vida pela frente!” Que lástima que não chegou aos 60 anos como almejara! Morreu aos 34 anos. E nós, caros amigos? Que certeza temos que alcançaremos 60, 70 ou 80 anos de idade? Alguns conseguem até mais, porém, com dores, sofrimento ... de um corpo que decai diariamente.

Querido leitor, estamos preparados para a eternidade? Confiamos em Jesus, nosso Salvador, que nos pode levar para o reino eterno e nos dar uma vida eterna? Devemos ter garantido o nosso seguro de vida com Jesus. Ora, se a vida é efêmera e a gente não sabe por quanto tempo estaremos vivos, se desconhecemos o que nos sucederá amanhã, é mister que tomemos a importante decisão pessoal de servir a Jesus hoje. Precisamos entregar a nossa vida a Cristo sem reserva e incondicionalmente hoje.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

A PREDESTINAÇÃO BÍBLICA: COMO HARMONIZAR A LIBERDAE HUMANA COM A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO?



Antes do estudo do tema da Predestinação é necessário e muito útil o conhecimento de algumas ideias calvinistas e da contestação que Armínio e seus seguidores lhes fizeram.

Vamos transcrevê-las do livro dos adventistas – Questions on Doctrine, pág. 402 e seguintes, também traduzidas no Ministério Adventista, janeiro/fevereiro, 1970, págs. 19-21.

Cinco pontos da Predestinação Calvinista

Em 1537, na obra Instruction in Faith (Paulo T. Fuhrmann, 1949, pág. 36), João Calvino declarou: “Ora, a semente da Palavra de Deus só se enraíza e produz frutos nas pessoas que o Senhor, por Sua eleição eterna, predestinou para serem filhos e herdeiros do reino celestial. Para todos os outros (que pelo mesmo conselho de Deus foram rejeitados antes da fundação do mundo) a clara e evidente pregação da verdade só pode ser um cheiro de morte para morte.”

Em 1610 foram apresentados aos Estados Gerais da Holanda os famosos cinco pontos essenciais na teologia calvinista, expostos da seguinte maneira:

1) Que Deus (como alguns asseveraram), por um decreto eterno e irrevogável, ordenou alguns dentre os homens (a quem Ele não considerava criados; muito menos caídos) para a vida eterna; e alguns (que eram por grande diferença a maior parte) para a perdição eterna, sem qualquer consideração a sua obediência ou desobediência, a fim de manifestar tanto a Sua justiça como a Sua misericórdia; de tal modo que as pessoas por Ele destinadas à salvação devem forçosa e inevitavelmente ser salvas, e as demais devem forçosa e inevitavelmente ser condenadas.

2) Que Deus (como outros ensinaram) considerou a humanidade não só como criada, mas também como caída em Adão, e, conseqüentemente, sujeita à maldição; tendo Ele determinado livrar alguns dessa queda e destruição e salvá-los como exemplos de Sua misericórdia; e deixar outros, até mesmo filhos do concerto, sob a maldição, como exemplos de Sua justiça, sem qualquer consideração a crença ou descrença. Com essa finalidade, Deus usou também certos meios pelos quais os eleitos fossem necessariamente salvos e os réprobos fossem necessariamente condenados.

3) Que, por conseguinte, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, não morreu por todos os homens, mas somente pelos que foram eleitos de acordo com a primeira ou a segunda forma.

4) Que, portanto, o Espírito de Deus e Cristo atuaram nos eleitos com força irresistível a fim de compeli-los à crença e à salvação, mas que aos réprobos não foi dada necessária e suficiente graça.

5) “Que aqueles que uma vez obtiveram verdadeira fé jamais poderiam perdê-la por completo ou terminantemente”. A. W. Harrison, The Beginnings of Arminianism (1926), págs. 149 e 150.

Esse ponto de vista, porém, não se originou com Calvino. Mil anos antes, de acordo com G. F. Wiggers, Agostinho expressou a mesma ideia: “Agostinho introduziu no sistema eclesiástico diversas idéias inteiramente novas. . . . Entre elas encontravam-se a graça irresistível, absoluta predestinação e a limitação aos eleitos da redenção por meio de Cristo”. – An Historical Presentation of Augustinism and Pelagianism, pág. 368.

Refutação Elaborada Pelo Arminianismo

Em oposição e esses pontos de vista, Armínio e seus colaboradores elaboraram uma refutação que apresenta cinco argumentos contrários. Mais tarde eles se tornaram a síntese do que se conhecia por arminianismo. Eram os seguintes:

1) Que Deus, por meio de um decreto eterno e imutável em Cristo, antes de existir o mundo, determinou eleger para a vida eterna dentre a caída e pecaminosa raça humana os que por intermédio de Sua graça crêem em Jesus Cristo e perseveram na fé e na obediência; e, pelo contrário, resolveu rejeitar os impenitentes e descrentes, para condenação eterna (S. João 3:36).

2) Que, em consequência disto, Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos os homens, de modo que obteve, pela morte na cruz, reconciliação e perdão do pecado para todos os homens; de tal forma, porém, que só os fiéis a desfrutaram em realidade (S. João 3:16;1 S. João 2:2).

3) Que o homem não podia obter fé salvadora por si mesmo ou em virtude de seu próprio livre arbítrio, mas precisava da graça de Deus por meio de Cristo para renovar-se em pensamento e vontade (S. João 15:5).

4) Que essa graça constitui a causa do início, do desenvolvimento e da conclusão da salvação do homem; de maneira que ninguém poderia crer ou perseverar na fé sem essa graça cooperante, e, consequentemente, que todas as boas obras devem ser atribuídas à graça de Deus em Cristo, Todavia, quanto à sua maneira de operar, essa graça não é irresistível (Atos 7:51).

5) Que os verdadeiros crentes possuíam suficiente poder, mediante a graça divina, para batalhar contra Satanás, o pecado, o mundo, sua própria carne, e alcançar a vitória sobre eles; mas, para que pela negligência não apostatassem da verdadeira fé, perdessem a felicidade de uma boa consciência e fossem privados dessa graça, deveriam investigá-la mais cabalmente em conformidade com a Escritura Sagrada, antes de começar a ensiná-la.” – Harrison, op. cit., págs. 150 e 151.

Essa controvérsia, que foi ativada por Armínio em 1603, atingiu o ponto culminante no Sínodo de Dort, em 1618 e 1619, e teve amplas consequências.  Os seus efeitos se fizeram sentir não somente na igreja holandesa, mas as divisões alemã, suíça, escocesa, inglesa e francesa, da igreja cristã, também participaram dessa controvérsia ou se dividiram por sua causa. Desde então, o arminianismo se tornou o termo usado para exprimir conceitos teológicos contrários ao calvinismo. Entretanto, os seguidores de Armínio foram mais além em suas declarações do que o seu próprio mestre. Com efeito, ele ficaria surpreso e até indignado se pudesse ler as interpretações teológicas de alguns que têm sido classificados como arminianos. E o mesmo se pode dizer no tocante aos adeptos de Calvino. Parece até que o calvinismo atual sofreu maiores modificações que o arminianismo.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia não é calvinista nem totalmente arminiana em sua teologia. Reconhecendo os méritos de ambos esses sistemas, procuramos assimilar o que nos parece ser o claro ensino da Palavra de Deus. Embora creiamos que João Calvino foi um dos maiores reformadores protestantes, não adotamos a idéia de que algumas pessoas “são predestinadas para a morte eterna sem qualquer demérito de sua parte, simplesmente por causa da soberana vontade de Deus” (Calvino, Institutes, Livro 3, cap. 23, § 21). Ou que os homens “não são todos criados com o mesmo destino; mas a vida eterna é preordenada para alguns, e, para outros, a condenação eterna” (Idem, Livro 3, cap. 21, § 5).

Pelo contrário, cremos que a salvação é acessível a todo e qualquer membro da raça humana, pois “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (S. João 3: 16). Exultamos com o apóstolo Paulo porque “antes da fundação do mundo” (Efés. 1:4) Deus resolveu suprir a necessidade do homem, se ele pecasse. Esse “eterno propósito” abrangia a encarnação de Deus em Cristo, a vida sem pecado e a morte expiatória de Cristo, Sua ressurreição dentre os mortos e o Seu ministério sacerdotal no Céu, o qual culminará nos grandiosos aspectos do julgamento.

Cremos que nosso ensino a respeito do assumo do julgamento está inteiramente de acordo com a Bíblia e é a conclusão lógica e inevitável de nosso conceito acerca do livre arbítrio. Temos a convicção de que, como indivíduos, cada um de nós é responsável perante Deus. Declara o apóstolo Paulo: “Todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Como está escrito: Por Minha vida, diz o Senhor, diante de Mim se dobrará toco joelho, e toca língua dará louvores a Deus. Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.” Rom. 14:10-12.

Livre Arbítrio e Predestinação

Afirma a Bíblia que há livre arbítrio, liberdade de escolha e ao mesmo tempo predestinação?

Que a palavra de Deus declara que o homem é livre para escolher ninguém duvida, mas se ela também fala em predestinação, é necessário saber a que predestinação se refere.

A Bíblia não se contradiz, não pode apresentar doutrinas antagônicas, portanto não pode ensinar o livre arbítrio e a predestinação calvinista.

Que é livre arbítrio?

Livre arbítrio é um princípio escriturístico que declara que o homem é livre para tomar decisões, para decidir a questão do seu destino.

Que é predestinação?

Predestinação pode ser definida no sentido geral e no sentido bíblico.

No consenso do povo é crer que Deus traçou um plano para a nossa vida e devemos segui-lo sem o direito da escolha. Em outras palavras – somos autômatos, desempenhando um papel previamente estabelecido por Deus.

Calvino, ampliando ideias já antes defendidas por Santo Agostinho, afirmou que desde a antiguidade Deus estabeleceu dois decretos: Um selecionando um grupo para a salvação ou vida eterna e um outro decreto selecionando aqueles que serão destruídos. O próprio Calvino qualificou-o como terrível decreto de Deus.

Estaria este ensino em harmonia com as doutrinas bíblicas? De modo nenhum. Porque a dupla predestinação ensina que se não fomos arbitrariamente escolhidos para a salvação, não há esperança, mesmo que almejemos ardentemente esta graça. A Bíblia não diz isto.

Predestinação bíblica, seria o decreto de Deus que possibilita a salvação a todos os que aceitarem a Cristo.

Os adventistas não temos pregado e escrito o suficiente sobre este magno assunto. Creio ser nosso dever compreendê-lo melhor e expô-lo com clareza aos outros, embora reconhecendo, que ele é complexo, e em alguns aspectos transcende a nossa limitada compreensão.

Disse Russel Norman Champlin em O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo: “As questões relativas à predestinação e à eleição não podem ser explicadas por raciocínio humanos.”

Concordamos – Elas são explicadas pelo raciocínio divino, isto é, pela Palavra de Deus.

“A doutrina da predestinação de uns para o bem e a felicidade e de outros para a mal e a infelicidade, parece ter nascido da necessidade de alguns teólogos de conciliarem a misericórdia com a Justiça Divina. Deus é justo com os que predestina ao mal e misericordioso com os que predestina para a salvação. As passagens de Isaías 1:27 e Rom. 3:25 negam que a misericórdia e a justiça sejam atributos divinos distintos; Deus não é metade misericórdia e metade justiça, mas inteiramente misericórdia e inteiramente justiça.” – Hans K. LaRondelle, Apostila Predestinação Bíblica.

Em que passagens e fatos bíblicos se baseiam os defensores da predestinação divina para a perdição?

As passagens mais enfáticas para eles são: Prov. 16:4; Rom. 9:18; 8:29 e 30; Efés. 1:5,11. Leitores apressados da Bíblia, deslocando, às vezes, estas passagens do seu contexto, concluíram, que Deus arbitrariamente predestinou algumas pessoas para serem salvas e outras para se perderem.

Dentre os fatos mais citados estes se destacam:

O endurecimento do coração de Faraó.

Judas predestinado para trair a Jesus.

A declaração de Rom. 9:13: “Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú.

A palavra predestinação não aparece na Bíblia, mas o verbo predestinar, em grego prooridzo, é empregado quatro vezes, isto é, em Rom. 8:29 e 30; Efés 1:5 e 11. (Alguns manuscritos o trazem também em Atos 4:28 e 1 Cor. 2:7). A palavra é formada de (pró), antes e o verbo (horidzo) – definir, limitar. Este verbo é usado em português na palavra horizonte, como círculo limitante do campo da nossa observação. Prooridzo pode ser traduzido por demarcar de antemão, ser determinado anteriormente.

A Hermenêutica e a Predestinação

Três úteis princípios hermenêuticos ou interpretativos nos ajudarão a compreender o problema da predestinação.

1º) É a regra áurea da interpretação, chamada por Orígenes de “Analogia da Fé”. O texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de passagens isoladas. Não podemos basear uma doutrina numa só passagem.

2º) Para compreender bem uma passagem é precisa consultar as passagens paralelas. São aquelas que tratam do mesmo assunto.

3º) Observar bem o contexto. Ver o que vem antes e depois para saber de que autor está tratando.

Ilustremos com exemplos bíblicos estes princípios, visando elucidar o assunto que estamos apresentando.

1º) Prov. 16:4 – “O Senhor fez todas as coisas para determinados fins, e até o perverso para o dia da calamidade.”

Ecles. 7:29 – “Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.”

Deus de modo algum é o originador do mal, mas os que se tornam malvados por sua livre vontade, Deus os destruirá.

2º) O segundo princípio pode ser ilustrado com Rom. 9:18 que declara: “Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz.”

Colocando ao lado as passagens paralelas de Sal.18:25 e 26 e      Isa. 55:7 sabemos com quem Deus quer ser misericordioso e com quem age com dureza. Estas passagens nos afiançam que com os benignos Ele é benigno, mas destruirá os perversos e impenitentes.

Êxodo 4:21 e 7:3 afirmam que Deus endureceu o coração de Faraó. Estas passagens são citadas pelos defensores da predestinação. Temos aqui um idiomatismo hebraico, ou seja o verbo usado não para expressar a execução de algo, mas a permissão para fazer isso. Confira Êxo. 5:22 – “Ó Senhor, por que afligiste a este povo?” (isto é, toleraste que fosse afligido).

Ademais as passagens paralelas de Êxodo 7:13, 22 e 8:32 nos mostram que foi Faraó que endureceu o seu próprio coração.

3º) O contexto das passagens de Romanos e Efésios que falam da predestinação é claro em nos mostrar que todos fomos predestinados para a salvação. Paulo nos diz que Deus através de Cristo nos predestinou para que fôssemos seus filhos por adoção.

Os gentios ficaram admirados por serem atingidos pelo evangelho. Eles perguntavam: Por que só agora lhes fora revelado este privilégio? Paulo lhes diz claramente que eles já tinham sido destinados ou predestinados para serem participantes do evangelho.

Deus tem um propósito para este mundo e para cada pessoa individualmente. Este propósito é que todos cheguem ao conhecimento da verdade e se salvem. “Deus não deseja que alguém se perca” II Ped. 3: 9.

Alguns afirmam: estava predestinado que Judas trairia a Cristo, por isso ele não era livre para escolher.

A Bíblia não diz que estava predestinado que Judas o trairia. Embora a morte de Cristo fosse pré-ordenada, Pilatos e Judas não precisariam ter sido instrumentos dessa morte, eles eram livres para aceitá-lo ou colaborarem na sua condenação,

O Espírito de Profecia declara: “O Salvador lia o coração de Judas; sabia as profundezas de iniqüidade a que, se o não livrasse a graça de Deus, havia ele de imergir. … Abrisse ele o coração a Cristo, e a graça divina baniria o demônio do egoísmo, e mesmo Judas se poderia tornar um súdito do reino de Deus.” – O Desejado de Todas as Nações, pág, 294.

Outra passagem muito citada pelos calvinistas para a dupla predestinação é Rom. 9:13 – “Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú.” Afirmam: Antes do nascimento, um é predestinado para a Salvação e outro para a condenação. Esta é uma conclusão simplista e antibíblica.

Devemos atentar para estes dois pontos:

1º) Esta citação de Paulo foi tirada de Malaquias 1: 2-3, escrita mais ou menos 1.000 anos depois que eles viveram, portanto não é uma profecia, mas sim fato histórico.

2º) Malaquias não está falando de Esaú e Jacó como duas pessoas, mas de dois povos distintos: israelitas e edomitas. Jacó está representando o povo do concerto e Esaú os incrédulos e inimigos de Deus. O aborrecimento de Deus por Esaú – ou melhor pelos seus descendentes – foi após um milênio de paciência.

Paulo declara que Jacó foi escolhido para uma função, para representar um papel de destaque na história do povo de Deus. Rom. 9:11-12.

Os versos 34 e 41 de Mat. 25 contradizem frontalmente a dupla predestinação de Calvino.

Verso 34 – “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” Isto sugere predestinação para a Salvação.

Verso 41 – “. . . Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos.” Se houvesse a dupla predestinação a afirmativa de Cristo seria – preparado para vós desde a fundação do mundo. O fogo foi preparado para o diabo e seus anjos, não para o homem.

Outra declaração importante de Paulo, que precisa ser bem compreendida é a de Rom. 9:22 e 23.

O verso 22 fala dos vasos de ira preparados para a perdição, mas que Deus os suportou com muita longanimidade.

No verso 23 há o relato dos vasos da glória preparados previamente, O comentário do Púlpito em inglês chama-nos a atenção para uma palavra muito importante ao interpretar estes versos, isto é, previamente.

A Bíblia nos prova de maneira inequívoca que os vasos da ira não foram feitos por Deus para a destruição. Basta ler as passagens paralelas de Romanos 2:4 e 5 onde Paulo nos fala que Deus trabalha para a Salvação do homem, mas o próprio homem endurece o seu coração para o dia da ira.

Em Adão todos são predestinados para a perdição. I Cor. 15:22.

Em Cristo todos são predestinados para a salvação. S. João 1:12.

Provas Bíblicas Contra a Predestinação Calvinista

Dentre as múltiplas citações escriturísticas, que contradizem o ensino satânico de Deus haver predestinado pessoas para a perdição, as 10 seguintes devem ser destacadas, por sua objetividade e clareza ímpar:

1ª) 1 Tim. 2:4 – “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.” O relato de Paulo aqui não admite divagações. Sua declaração nos leva a afirmar: ninguém foi designado para a perdição.

2º) II Ped. 3:9 – “. . . não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.”

É impossível, harmonizar – Deus não deseja que alguém se perca, com a idéia de Ele escolher pessoas para serem destruídas.

3ª) Apoc. 22:17 – “. . . quem quiser receba de graça a água da vida.”

Todos têm a oportunidade, graças a Deus. Aqui entra em cena a vontade pessoal. Querer é um verbo que indica vontade, portanto a pessoa escolhe; não aparece a imposição.

Maravilhoso é o livre arbítrio concedido por Deus.

4ª) São João 3:16 – “. . . todo aquele que nele crê. . .” Deus decretou que todos os que aceitarem a Cristo se salvem. Não decretou que todos devem aceitar a Salvação que Ele oferece. Deus não força a vontade de ninguém.

5ª) Ezeq. 18:32 – “Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus, Portanto convertei-vos e vivei.”

Deus tem prazer na salvação, nunca na perdição.

6ª) Mat. 7:21 – “Nem todo o que me diz : Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.”

Muitos não serão salvos, porque não aceitam as condições da salvação.

7ª) Jer. 21:8 – “. . . Eis que ponho diante de vós o caminho da vida e o caminho da morte.”

Para que dois caminhos se a sorte de cada um já está traçada antes?

8ª) Apoc. 2:10 – “. . . Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.”

Vejam que a salvação também depende de nós. Depende da nossa perseverança. Heb. 3:14.

9ª) Atos 17:30 – “. . . agora, porém notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam.”

O convite a todos para que se arrependam seria um escárnio ao nome de Deus se os homens não se pudessem arrepender. Paulo declara em Tito 2:11 que “a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.”

10ª) I Tes. 5:9 – “Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo.”

Esta declaração é muito significativa e seria suficiente para desmoronar o frágil edifício dos calvinistas.

Após a leitura destas passagens a nossa conclusão só pode ser esta: Deus não predestinou que pessoa alguma se perca.

Eleição e Vocação

Intimamente relacionadas com a predestinação se encontram a eleição e a vocação.

Vocação é o chamado.

Eleição é a escolha.

A Bíblia está repleta de exemplos, de que a eleição, tanto de um povo, como de indivíduos é para o serviço, para o desempenho de um papel no plano da salvação, para ser uma bênção aos outros e não simplesmente como um privilégio. Veja Gên. 12:2.

Israel foi eleito como um povo para um especial serviço. Deut. 4: 37; 7:6-8.

Exemplos bíblicos de pessoas eleitas para a execução de um trabalho especial:

Moisés – Êxodo 3.

Os Sacerdotes – Deut. 18:5.

Os reis –I Sam. 10:24.

Os profetas – Jer. 1:5.

Os apóstolos – S. João 6:70

Três verdades não podem ser olvidadas quanto à eleição:

1ª) A eleição de Deus inclui todo o mundo. PP 207, 208; DTN 615; I Tim. 2: 4, 6; II Cor. 5:14-15.

Deus não elegeu ou predestinou apenas aqueles que eram dignos de Sua graça. Mas elegeu o indigno, Ele elegeu o iníquo, Ele elegeu os seus inimigos. Rom. 5: 6.

2ª) Deus nos escolhe para o serviço na base do caráter e não em bases pessoais. Nós nos elegemos, quando pelo poder de Cristo atingimos o padrão que ele estabelece. Patriarcas e Profetas, 208; SDABC, Vol. VI1, pág. 944.

3ª) A escolha de uma pessoa, não significa a rejeição de outras. A escolha de Israel não significou a rejeição dos gentios. Ao escolher Israel Deus desejava que por seu intermédio outras nações pudessem ser participantes de sua graça.

Berkouwer, em seu notável livro, Divine Election, escrito com a finalidade principal de combater a dupla predestinação calvinista, nos informa que aprendeu nas Escrituras que o termo bíblico para eleição não implica necessariamente na rejeição de outros.

Há um duplo propósito na eleição:

Para a salvação dos eleitos – Rom. 11:7-11; II Tes. 2:13.

Para a glória de Deus – Efés. 1:6, 12, 14,

Ilustração

A historieta de um velho preto, membro leigo, de parcos conhecimentos teológicos, nos informa da nossa parte no problema da salvação: “Bem, há uma eleição onde Deus está votando a nosso favor e o diabo votando para a nossa perdição, do lado em que pusermos o nosso voto esse ganhará a eleição.”

Comentando esta declaração o famoso evangelista Wilbur Chapman declarou: “Tenho feito um curso de teologia, sou graduado num seminário teológico, mas nunca ouvi uma explicação tão boa como esta”.

Por que Condenamos a Predestinação Calvinista?

Além das provas bíblicas já apresentadas podem ainda ser adicionadas: A debilidade da doutrina da predestinação consiste em que ela destrói o livre arbítrio, que é uma doutrina fundamental ensinada na Bíblia.

Atos 10:34 e 35 – afirma que Deus não faz acepção de pessoas. Se predestinasse alguns para se salvarem e outros para se perderem estaria fazendo acepção de pessoas.

Se em Cristo há plena possibilidade de salvação para todos, cai por terra a doutrina gnóstica e calvinista da redenção limitada.

Ellen G. White faz bem claro em Conflito dos Séculos pág, 279 – Que a doutrina calvinista do duplo decreto divino havia conduzido muitos à rejeição virtual da lei de Deus.

Na conhecida Conferência Geral de Mineápolis, em 1888 este assunto foi discutido e por orientação divina chegou-se à conclusão seguinte: a predestinação calvinista não é defensável pela Bíblia, deve ser rejeitada, desde que o homem é livre para escolher.

Deus decretou que todos os que aceitarem a Cristo se salvem. Não decretou que todos devem aceitar a salvação que ele oferece.

Podemos fazer a escolha Segundo a nossa vontade. I Ped.1:2

“Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito para a obediência. . .”

A salvação é nossa em Cristo. É preciso aceitar a Jesus Cristo para receber a salvação. I João 5:11.

Os que estão com Ele são chamados os escolhidos, os fiéis. Apoc. 17: 14.

Conclusão:

Os adventistas cremos: “Que o homem é livre para escolher ou rejeitar o oferecimento da salvação por meio de Cristo; não cremos que Deus tenha predestinado que alguns homens sejam salvos e outros perdidos” – Questions on Doctrine, pág. 23.

Compreendida em seu sentido positivo e bíblico a predestinação é algo sublime, é confortadora para cada cristão, mas em seu sentido negativo, antibíblico, calvinista pode levar ao fracasso na carreira cristã.

Passagens bíblicas que falam de predestinação nos afirmam que fomos predestinados para a Salvação, por meio de Jesus Cristo. Rendamos sempre louvores a Ele por este sublime privilégio, que nos é oferecido graciosa mente.

FONTE: Livro Explicação de Textos Difíceis da Bíblia, de Pedro Apolinário