Teologia

domingo, 30 de dezembro de 2018

REFLEXÃO DE FIM DE ANO


Ricardo André

Mais um ano que se finda. Como foi para você? O que significou este ano para sua vida particular, para sua religião, para sua fé? É óbvio que nem tudo foi bonança e tranquilidade. Por certo houve momentos de tristeza, dores, desânimo, de lutas mas houve também horas de alegria, de felicidade, de paz. Nossa vida neste mundo é formada por altos e baixos, por vitórias e fracassos, por dias de luminosidade e por períodos de nuvens escuras. É assim, mesmo em se tratando da vida cristã. O importante é não perder o rumo, não deixar que a desesperança se aposse de nós e nos derrote. Eis a preciosa promessa da Palavra de Deus: “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e ele deleita-se no seu caminho. Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com a Sua mão” (Sal. 37:23 e 24).

A vida do patriarca Jó reconhece que pôr-do-sol e amanhecer, nuvens escuras e céu brilhante, lágrimas de pesar e sorrisos de satisfação são apenas pequenos momentos na jornada da vida. Em todo este tempo, a fé e a oração precisam brilhar e fazer-nos confessar: “Eu sei que o meu Redentor vive e por fim Se levantará sobre a Terra” (Jó 19:25).

Apesar das aparências em contrário, Deus está sempre conosco. Mesmo nas circunstâncias mais escuras, somos confortados por Sua presença. Nosso desafio é manter isto em mente, e continuar a busca-Lo.

No ano que está chegando ao fim, pode ser que você teve êxito em seus empreendimentos, em seus estudos, em sua vida familiar. Mas pode acontecer também que você esteja findando o ano com um certo sentimento de frustração por metas não alcançadas, por algum insucesso, por não ter conseguido o que desejava em sua vida profissional, ou afetiva, ou mesmo espiritual. Mas pense: há muitos motivos de celebração também. A própria vida, preservada em meio a tantos perigos! Vivos, temos oportunidade de escolher a quem servimos e onde passaremos a eternidade quando o Senhor voltar pela segunda vez. Podemos ainda celebrar a esperança que ilumina o coração. A fé no futuro glorioso que nos espera, pela certeza da salvação em Cristo. Os amigos sinceros. As muitas realizações conseguidas, embora almejássemos alturas mais elevadas.

O saudoso cartunista Henrique de Souza Filho, mais conhecido como Henfil, escreveu em algum lugar o seguinte pensamento: “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente”. Terminemos, pois, o ano, com um coração agradecido. Como nas palavras do hino nº 244, do Hinário Adventista do Sétimo Dia: “Conta as bênçãos! Conta quantas são, recebidas da divina mão: uma a uma, dize-as de uma vez! Hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez!”

Um ano se passou! 365 dias mais perto do lar Celestial. Continuemos vivendo com Cristo e com esperança até que nos chame para o descanso, ou O vejamos aparecer em glória e majestade. Continue com Deus rumo ao Lar Celestial, pois cada dia que passa em nossa vida, estamos mais perto do encontro com o nosso Senhor, quando nos levará para o Céu, e viveremos para sempre com Ele (1Ts 4:13-18).

Termino nossa reflexão com um lindo pensamento da escritora cristã Ellen G. White:

“Estamos a caminho do lar. Só um pouco e a luta terá fim. Que nós, imersos no calor do conflito, sempre mantenhamos em mente a visão das coisas que não se veem – do momento em que o mundo será banhado pela luz do Céu, os anos passarão em alegria, quando a cena das estrelas da manhã cantarão juntas e os filhos de Deus exclamarão de júbilo, enquanto Deus e Cristo Se unirão a proclamar: ‘Não haverá mais pecado, nem morte’. ‘Esquecedo- [nos] das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de nós estão', prossig[amos] para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de deus em Cristo Jesus (Fp 3:14)” (A Caminho do Lar [MD 2017], p. 14).

Caro leitor, obrigado por acompanhar nosso Blog durante o ano de 2018! Que Deus guarde você, por todo os seus dias.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

OS EMISSÁRIOS DO REINO


Dr. José Carlos Ramos

É surpreendente ver as alterações que os ensinos das Testemunhas de Jeová têm sofrido ao longo dos anos.

Elas podem ser vistas indo de porta em porta ou interceptando pessoas nos movimentados centros urbanos, para oferecer as edições mais recentes de Despertai! e A Sentinela. Independente de idade, sexo e situação socioeconômica e cultural, todas são motivadas pelo dever comum de comunicar aquilo que supõe m ser as novas do "Reino de Jeová " reveladas a elas através da Sociedade Torr e de Vigia de Bíblia s e Tratados, sediada no Brooklin, em Nova Iorque, EUA. Elas sã o as chamadas Testemunhas de Jeová, que hoje somam aproximadamente quatro milhões no mundo e umas trezentas mil no Brasil.

Segundo alguns estudiosos, as Testemunhas formam um dos movimentos religiosos de crescimento proporcional mais rápido em todo o mundo. Elas dobraram o número de adeptos nos últimos dez anos.

A que se deve tamanho ímpeto missionário? Talvez a este simples fato: As Testemunhas consideram-se o povo exclusivo de Deus, comissionadas por Ele para o cumprimento de uma obra especial no mundo, antes que a impendente batalha do Armagedom seja travada. Esse pensamento infunde-lhes um notável senso de missão. Estimuladas por um forte sentimento de que receberam de Jeová uma mensagem que precisam comunicar ao mundo para não porem em risco a própria salvação, são compelidas a um intenso programa de ação, caracterizado por um persistente contato com o público. Milhões de pessoas são visitadas cada ano e milhares doutrinadas nos postulados da Sociedade.

História

Embora as Testemunhas reportem o início de seu trabalho aos tempos de Abel, o filho de Adão e Eva, a fundação do movimento deve, na realidade, ser tributada a Charles T. Russell (1852-1916), filho de um comerciante de Pittsburgo, Pensilvânia. Presbiteriano de início e congregacionalista a seguir, Russell acabou imergindo no agnosticismo ainda em sua adolescência. Aos 18 anos, porém, assistiu a algumas exposições bíblicas feitas por Jonas Wendell, pregador adventista não do sétimo dia, as quais, citando as palavras do próprio Russell, foram suficientes "sob a direção de Deus, para restabelecer minha fé vacilante na inspiração da Bíblia e para mostrar que os registros dos apóstolos e dos profetas se acham indissoluvelmente ligados". — Qualificados para ser Ministros, pág. 276.

Em lugar de se unir a Wendell, Russell organizou sua própria classe de estudo da Bíblia. Uma congregação foi formada ao longo de cinco anos, durante os quais certas posições doutrinárias foram adotadas, entre elas a volta invisível de Jesus e a oportunidade de salvação após a ressurreição (teoria conhecida como segunda chance). Em 1876 o grupo de Russell se uni u ao grupo de um tal N. H. Barbour, de Rochester, NY, por sustentarem opinião semelhante quanto à maneira da volta de Jesus. Um livro intitulado The Three Worlds (Os Três Mundos) foi publicado por Barbour e Russell, onde afirmavam que Jesus voltara invisivelmente em 1874 e que no transcurso dos quarenta anos seguintes, ou seja, até 1914, ocorreria a "grande tribulação", os judeus seriam restaurados, o poder dos gentios seria quebrantado, os reinos do mundo passariam a pertencer a Deus, e a era do julgamento seria introduzida.

Barbour, todavia, discordava da teoria da segunda chance, e a coligação durou apenas dois anos. Em 1879 Russell lançou o primeiro número de A Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo, hoje A Sentinela, cuja disseminação contribuiu para o surgimento de novas congregações. Em 1881 criou a Sociedade de Tratados da Torre de Vigia de Sião, legalizada em 1884 e mudada para Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados em 1896. A partir dessa época Russell publicou muitos artigos e discursos, e uma série de seis volumes conhecida como Studies in the Scriptures (Estudos nas Escrituras), precursores das atuais publicações das Testemunhas.

Deixando de lado a questão da validade das posições bíblicas assumidas por Russell, e o não cumprimento de suas profecias (algumas oriundas de cálculos baseados na extensão dos corredores da Grande Pirâmide do Egito), é difícil não considerar o primeiro presidente da Sociedade Torre de Vigia uma figura, no mínimo, controvertida. Se, por um lado, ele foi um ardoroso defensor e disseminador das conclusões a que chegou, por outro não viveu uma vida inteiramente compatível com a mensagem bíblica. O processo de divórcio em que esteve envolvido, o "conto " do trigo milagroso, a farsa do seu conhecimento da língua grega, e outros incidentes que lhe valeram alguns processos na Justiça, não deixam dúvida a respeito.

Formado em Direito, foi fácil par a Joseph F. Rutherford (1869-1942), sucessor de Russell, reformular os estatutos da Sociedade, agora em Nova Iorque, e obter-lhe qualidade legal definitiva. Foi inegavelmente um homem de grande visão administrativa. Criou o slogan "Anunciai o Rei e o Reino", incrementando o trabalho de campo e dando novo impulso ao movimento. Foi ele quem iniciou o programa de visitação de casa em casa, até hoje seguido pelas Testemunhas, e a prática de congressos regionais e periódicos, com a concentração de grande número de adeptos em estádios e outros locais adequados.

Revelou-se um prolífero escritor, escrevendo em média um livro por ano. Acredita-se que acima de trezentos milhões de cópias de suas obras foram distribuídas durante sua gestão. Alterou diversos pontos doutrinários estabelecidos por Russell, o que trouxe revolta e divisão, resultando na formação de movimentos paralelos, dois dos quais ainda permanecem: Dawn Bible Students Association, e Layman's Home Missionary Movement. Os emissários da Sociedade, que até 1931 eram conhecidos como Russelitas, Estudantes Internacionais da Bíblia, e Auroristas do Milênio, passaram a se chamar pelo seu nome atual: Testemunhas de Jeová.

Embora de forma muito mais intensa, Rutherford seguiu de perto o estilo de trabalho de Russell, escrevendo artigos e fazendo novas previsões proféticas tão temerárias quanto às do seu predecessor. Exemplo desse fato é o slogan que ele criou para uma campanha de pregação levada a efeito de 1918 a 1921, Milhões que Agora Vivem Jamais Morrerão, que serviu de título para um livro lançado em 1920. O estabelecimento do Reino era previsto para 1925, e o mundo deveria muito logo testemunhar a ressurreição de Abraão, Isaque, Jacó e outros "príncipes". Em 1929 foi construída em San Diego a mansão Beth Sarim, destinada a abrigar os ressurretos vultos bíblicos. Foi vendida em 1942, logo após a morte de Rutherford.

Nathan H . Knorr (1905-1977), o terceiro presidente, estabeleceu escolas de treinamento para as Testemunhas. O movimento desfrutou de considerável avanço em sua gestão, crescendo em recursos e adesões, apesar das baixas verificadas logo após 1975, quando o Armagedom era aguardado e não veio. O atual presidente, Frederick W. Franz, tem se preocupado em aprimorar o pensamento teológico da Sociedade. É tido pelas Testemunhas como um erudito em Hebraico, embora em 1954 tenha sido desacreditado nesse ponto num tribunal da Escócia. Muito provavelmente esteve à frente da comissão que preparou a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. Por outro lado, tem enfrentado séria s dificuldades com o problema de dissidência na alta cúpula da Organização. O próprio sobrinho, Raymond Franz, não somente resignou o cargo, mas abandonou a fé.

A Obra no Brasil

Segundo pesquisa realizada pelo universitário Amarildo Gusmão, a mensagem da Torre de Vigia penetrou no Brasil em 1920, através de alguns marinheiros brasileiros que haviam sido abordados por Testemunhas em Nova Iorque. O primeiro missionário chegou ao Brasil em 1922.

A revista Torre de Vigia foi publicada em nosso idioma pela primeira vez em 1923, tendo o nome sido alterado para A Atalaia, em 1940. Era a época da guerra e o primeiro nome não comunicava bem. Todavia, o segundo também não pôde permanecer devido a uma outra publicação homônima. Em 1943 recebeu definitivamente o nome de A Sentinela. Outra revista, Consolação, começou a circular na década de 40. Mais tarde passou a ser chamada Despertai!

Vez por outra têm as Testemunhas enfrentado sérios problemas com as autoridades civis e religiosas em virtude de seu comportamento agressivo. No tempo de Getúlio Vargas as publicações foram interrompidas e os trabalhos da Sociedade proibidos oficialmente.

O Brasil ocupa o terceiro lugar em número de adeptos, perdendo apenas para os Estados Unidos e o México. Mas a julgar pelas cifras de 1989, poderá em breve ocupar a segunda posição. Foram aqui batizadas 23.937 pessoas, mais do que em qualquer outro lugar do mundo, exceto os Estados Unidos, com 48.358 novas adesões.

Organização e atividades

As Testemunhas de Jeová não constroem templos, mas se reúnem nos conhecidos "Salões do Reino" formando as congregações locais, cujos líderes sã o chamados "servos de congregação". Cada congregação possui uma área geográfica onde deve atuar. Várias áreas formam um circuito, que recebe a assistência de um líder, o "servo de circuito". Vários circuitos formam um distrito, supervisionado por um "servo de distrito". Finalmente vários distritos determinam a obra num país, conhecida como ramo, e geralmente liderada por uma filial ou sede local. As diferentes filiais no mundo respondem diante da sede mundial nos Estados Unidos. Isto inclui o envio de relatórios das atividades de cada congregação.

Não são feitas coletas nas reuniões. Todas as despesas são cobertas por contribuições voluntárias dos membros mais o lucro advindo da literatura vendida. Existem nos lugares de reunião caixas ou urnas apropriadas para a entrega dos donativos.

Cada pessoa batizada é considerada um ministro ordenado de Jeová Deus, para participar da obra de expansão do Reino. Se alguém pode devotar pelo menos cem horas de atividade por mês é considerado um pioneiro. Os que atingem 145 horas são chamados pioneiros especiais. A principal atividade é testemunhar de casa em casa, o que naturalmente envolve a venda de literatura; os que fazem isto são chamados publicadores. As reuniões nos salões do Reino visam ao estudo das doutrinas mediante a análise dos temas preparados pela Sociedade em Nova Iorque. Reuniões de treinamento são feitas frequentemente, onde são discutidas técnicas de oratória, de aproximação com o público, de doutrinamento, e de procedimento e argumentação em debates com não-Testemunhas.

Duas cerimônias são realizadas: o batismo por imersão nas águas, e a ceia da comemoração (ceia do Senhor). O batismo é administrado somente a pessoas que foram suficientemente instruídas para entender o que uma Testemunha crê, como deve viver e agir. Naturalmente é esperado que cada neófito amadureça espiritualmente mediante o contínuo estudo e aprendizagem. A ceia é oferecida apenas uma vez ao ano, na data da morte de Jesus. É esperado que apenas uma pequena minoria participe, exatamente aqueles que sintam fazer parte dos 144 mil de Apocalipse 7 e 14. Em 1989, apenas 8.734 pessoas em todo o mundo tomaram a ceia.

Pessoas desligadas da congregação são tratadas com o máximo rigor. "Ninguém da congregação deve cumprimentar tais pessoas quando se encontra com elas em público, nem deve acolhê-las nos seus lares. Até mesmo parentes consanguíneos, que não moram no mesmo lar, dando mais valor às relações espirituais, evitam contato com tais ao máximo possível. E os que são membros da mesma família do desassociado cessam de ter associação espiritual com o transgressor." — Lâmpada Para o Meu Pé é a Tua Palavra, pág. 180.

O que creem

As Testemunhas de Jeová se destacam por suas crenças peculiares, as quais, em diferentes áreas do ensino bíblico, se resumem no seguinte:

Teologia — Sã o unitarianos e esposam um monoteísmo absoluto. Rejeitam a Santíssima Trindade não aceitando a plena divindade de Jesus nem a personalidade do Espírito Santo, para elas a simples energia divina. Demonstram profundo interesse pelo nome Jeová, e atribuem-no exclusivamente ao Pai. Este criou o Universo usando o Filho como instrumento.

Cristologia — Antes de nascer, Cristo vivia no Céu. Foi a primeira criação de Jeová e Seu nome era Miguel. Devido à Sua posição, era considerado "um deus", mas não igual a Jeová. Veio ao mundo nascendo de uma virgem, sem contudo ocorrer a encarnação do Filho de Deus. Cristo foi nada mais que um homem perfeito. Morreu numa estaca e não numa cruz, e Sua ressurreição não foi corporal, mas espiritual e invisível, aparecendo aos discípulos em corpos materializados para este fim. Reintegrado à esfera celestial, voltou a ser o anjo Miguel.

Salvação — A morte de Cristo não é considerada o sacrifício expiatório que salva o pecador, mas o pagamento do resgate que outorga ao homem uma segunda chance de ser leal a Jeová e labutar pela vida eterna. A aceitação do resgate é apenas um item entre outros a serem cumpridos por alguém que espera ser salvo. Consequentemente o benefício do resgate não é para todos, mas apenas para os que são "dignos entre os filhos de Adão". — Do Pa raíso Perdido ao Paraíso Recuperado, pág. 143. Maior ênfase é dada à sobrevivência na batalha do Armagedom do que à salvação do pecado.

O ser humano — O homem não possui uma alma imortal que vai, imediatamente após a morte, para o Céu, para o purgatório, ou para o inferno. A condição de uma pessoa na morte é de absoluta inconsciência. Com respeito ao destino eterno, a humanidade está dividida em três grandes grupos: os justos, aqueles que reconhecem o governo de Jeová e fazem Sua vontade acatando as orientações da Sociedade Torre de Vigia e preparando-se para sua recompensa no Céu ou na Terra; os ímpios, os que se rebelam contra o governo de Jeová, e que, consequentemente, ao morrerem são aniquilados, isto é, não têm perspectiva de ressurreição; e os injustos, que nesta vida não obtêm um correto conhecimento da vontade de Jeová, e que, portanto, ressuscitarão no transcurso do milênio para terem uma segunda oportunidade.

Povo de Deus — A Igreja é constituída por apenas 144 mil membros, reunidos a partir do dia de Pentecostes do ano 33 AD. Naturalmente os líderes da Sociedade participam desse grupo, conhecido também como "classe ungida", ou "pequeno rebanho". Deus tem ainda "outras ovelhas", em quantidade inumerável, que formam a "grande multidão". Expressões bíblicas como "justificação pela fé", "novo nascimento", "estar em Cristo", "morrer e ressuscitar com Cristo", "batismo com o Espírito Santo", etc, definem experiências desfrutadas apenas pelos 144 mil. Estes têm sua recompensa com Cristo no Céu. Para tanto, necessitam sacrificar sua vida terrena, como Cristo fez. Ressuscitam espiritualmente, então, e sobem para o Céu. A ressurreição espiritual dos 144 mil começou em 1918 e prossegue a cada instante em que um eleito morre. O grupo será completado algum tempo depois do Armagedom, o que significa que algumas Testemunhas terão de morrer durante o milênio. Os participantes da "grande multidão" viverão eternamente na Terra.

Últimos eventos — O fim do mundo é na realidade o fim do atual "sistema de coisas". A volta de Jesus ocorreu em 1914. Foi um evento espiritual e, portanto, invisível aos mortais. Não se deu o retorno literal de Jesus à Terra, mas Sua posse na direção do Reino, no Céu. Por isso as Testemunhas falam mais na "presença" de Cristo do que na Sua vinda. A geração de 1914 não passará sem que venha o Armagedom, quando os reinos do mundo perderão o domínio. No fim do milênio ocorrerá o julgamento final de todos os que estiverem vivos sobre a Terra. Serão julgados segundo o que praticaram, não na presente existência, mas na existência que terão durante o milênio. Satanás e os derradeiros rebeldes serão então para sempre aniquilados.

Ética — As Testemunhas de Jeová são incentivadas a manter um comportamento ético exemplar no meio em que vivem. Todavia, agem de forma inusitada em diferentes circunstâncias: recusam cumprir serviço militar, não cantam o hino nacional nem prestam deferência à bandeira, rejeitam transfusão de sangue, não participam de celebração alguma, cívica ou religiosa, não comemoram qualquer tipo de natalício, não vestem luto, não guardam qualquer dia semanal, não respeitam qualquer feriado, não se envolvem em qualquer assunto de natureza política, civil e filantrópica, e desaconselham os jovens a perseguirem cursos universitários. O que creem e o que fazem, dizem, é por fidelidade à Bíblia.

Conclusão

Não nos cumpre aqui avaliar, o ponto de vista bíblico, suas posições s doutrinárias. Muita coisa tem sido dita e escrita a esse respeito, e continuará a sê-lo. Todavia, uma consideração adicional e final deve ser feita. As Testemunhas de Jeová se julgam o povo da Bíblia. Um simpatizante do movimento afirmou: "Provavelmente a característica mais notável das Testemunhas de Jeová é seu apelo à autoridade das Escrituras para tudo o que pensam e fazem." — Marley Cole, Triumphant Kingdom, pág. 37. Por sua vez, a Sociedade Torre de Vigia não hesita em afirmar seu monopólio da verdade. Somente as Testemunhas possuem a verdadeira fé cristã e cumprem a vontade de Deus. Qualquer outra religião é falsa.

Deve-se lembrar, porém, que essa tem sido a pretensão do movimento desde a sua origem. Russell declarou em seus Studies in the Scriptures que seria melhor ler seus estudos sem ler a Bíblia do que ler a Bíblia e ignorar seus estudos. Disse também: "Pessoas não podem ver o plano divino ao estudar a Bíblia por ela mesma." A ideia era que a Bíblia devia ser estudada à luz do que Russell ensinava; caso contrário, o estudante seria antes desencaminhado do que conduzido à verdade. — Watch Tower, 15/09/1910, pág. 298. Pretensão idêntica foi reivindicada em relação aos ensinos de Rutherford e aos escritos posteriores da Sociedade.

Hoje não é diferente. As Testemunhas continuam considerando a Sociedade Torre de Vigia o único instrumento ou canal usado por Jeová para instruir Seu povo na Terra. Para se confirmar esse fato, basta notar que seus "estudos bíblicos" são na realidade estudos de suas publicações. É difícil escapar à impressão de que não é a Bíblia que normatiza os ensinos da Sociedade e sim os ensinos da Sociedade que normatizam a compreensão da Bíblia.

Mais surpreendente ainda são as alterações que esses ensinos têm sofrido ao longo dos anos. William J. Schnell, uma ex-Testemunha, informa que em apenas onze anos, de 1917 a 1928, a Sociedade mudou suas doutrinas 148 vezes, e que mudanças têm ocorrido "muitas vezes de lá para cá". — Into the Light of Christianity, pág. 13. Isto é muito sério para uma entidade que alega ter o monopólio o da verdade.

As Testemunhas se defendem dizendo que o conhecimento da verdade é progressivo. Mas a ampliação do conhecimento da verdade jamais é feita em detrimento da verdade já revelada. Se ontem as Testemunhas, através da instrução de Jeová, faziam certas afirmações que hoje, igualmente pela instrução de Jeová, reputam como erro, não somos deixados senão com duas alternativas possíveis: ou Jeová não está seguro daquilo que revela, o que é uma impropriedade, ou a instrução não provém dEle.

Ademais, determinadas posições doutrinária s foram descartadas e substituída s por outras, tão-somente para serem readmitidas tempos depois. Quem então pode garantir que as "verdades" anunciadas hoje pelos emissários da Sociedade, continuarão "verdades" amanhã?

FONTE: Revista Adventista, Janeiro de 1993, p. 29-31

domingo, 23 de dezembro de 2018

ELLEN WHITE E SEUS CRÍTICOS


Leonard Brand

Deus dá informações a seres humanos? Alguém ousaria questionar a crença de que Deus falou com Seus profetas? Novas informações publicadas num livro recente, The Prophet and Her Critics, procura responder a essas questões.

Ellen White foi líder, oradora e escritora de destaque nas primeiras décadas da denominação adventista do sétimo dia. Seu ministério estendeu-se desde 1844 até sua morte em 1915. Os adventistas do sétimo dia acreditam que ela foi porta-voz de Deus, recebendo informações através de visões, para o benefício dos adventistas e de outros. Ela registrou essas informações em livros e artigos, o que a tornou uma das autoras mais publicadas da história.

Os críticos têm questionado suas reivindicações acerca da recepção de comunicação divina, sustentando que, em vez disso, ela copiava suas ideias de outras fontes. Porções de seus escritos, de fato, mostram alguma similaridade com o que é encontrado em livros de outros autores que ela conhecia e lia. A questão é se esses autores eram a fonte de suas ideias ou, como ela própria dizia, a leitura desses livros apenas a ajudava a expressar melhor os conceitos que recebia da parte de Deus.

É correto questionar um profeta de Deus como fazem esses críticos? I Tessalonicenses 5:20-21, Deuteronômio 18:22 e Mateus 7:15-20 indicam claramente que existiriam verdadeiros e falsos profetas, e temos o direito e a responsabilidade de distinguir uns dos outros. Também somos compelidos a avaliar criticamente o trabalho daqueles que alegam haver julgado um suposto profeta, e achado que eles deixaram a desejar.

Propus-me a avaliar o trabalho dos críticos de Ellen White, juntamente com Don McMahon, um médico, que concluiu novas pesquisas para determinar se os princípios de saúde dessa senhora procederam de Deus, como ela alega, ou da abundante literatura do século dezenove produzida por outros reformadores de saúde. Essa pesquisa oferece o que parece ser a primeira evidência científica sobre a natureza da inspiração.

Os críticos de Ellen White

Minha avaliação de três conhecidos críticos de Ellen White, Walter Rea, Jonathon Butler e Ronald Numbers, concentrou-se na qualidade de sua pesquisa. Será que eles utilizaram um método de pesquisa adequado? Coletaram seus dados de forma apropriada? Esses dados apoiam suas conclusões? Se tivessem apresentado seus trabalhos como teses de pós-graduação, teriam sido aprovados?

A alegação básica de Walter Rea é que frases ou mesmo séries de sentenças dos livros de Ellen White são idênticas ou muito similares a outros livros de sua biblioteca particular. Ele argumenta que isso refuta a reivindicação que ela faz de haver sido divinamente inspirada, e mostra que ela copiou suas ideias de outros. Porém, há muitas razões por que as evidências apresentadas por Rea não lhe sustentam as conclusões. Em primeiro lugar, o grau de semelhança não é tão grande quanto ele faz parecer. Isso pode ser determinado mediante uma análise cuidadosa dos exemplos citados em seu livro. Segundo, ele cita dois argumentos contra suas próprias conclusões, e seus esforços para refutar esses argumentos não convencem. Os dados que ele usa não podem provar tais argumentos. Terceiro, a principal linha de pensamento do livro todo está baseada numa lógica equivocada. Ele, de fato, apresenta evidência que refuta a alegação de que os escritos da Sra. White eram todos originais, ou de que eram verbalmente inspirados ou ditados por Deus. O problema é que ele então salta diretamente para a conclusão de que não pode ter havido uma comunicação divina.

Esse raciocínio rígido, no entanto, falha em considerar uma explanação intermediária, que pode ser encontrada na descrição que ela mesma apresenta sobre como escreveu seus livros. Sua reivindicação é de que Deus lhe falou, dando-lhe princípios os quais escreveu com suas próprias palavras. Ela esclarece que muitas vezes se sentia incapaz de expressar adequadamente esses conceitos, mas era instruída de que poderia fazê-lo se lesse outros livros no assunto. Essa explanação é consistente com todos os dados de Walter Rea e, por isso, ele falha em não apresentar qualquer evidência que possa negar o papel da inspiração divina nos escritos de Ellen White. Assim é requerido outro tipo de evidência para testar sua reivindicação de inspiração.

Um artigo publicado num periódico, alegando que a compreensão de Ellen White acerca dos eventos finais da história terrena proveio de acontecimentos correntes em seus dias, também peca pela lógica equivocada e inadequada evidência. Não discutiremos esse artigo aqui. Vamos, porém, direto ao livro Prophetess of Health, de Ronald Numbers. Numbers pretende mostrar que Ellen White extraiu todos os princípios da reforma da saúde das obras de outros reformadores de seus dias. Havia vários deles no século dezenove, os quais publicaram muitos livros e artigos, sendo que alguns faziam parte da biblioteca particular de Ellen White e foram por ela sublinhados.

A principal visão de saúde que Ellen White teve ocorreu em junho de 1863, e no ano seguinte ela escreveu os princípios de um viver saudável no livro Spiritual Gifts. Ela afirmou não ter lido as obras de outros reformadores da saúde, senão após haver escrito a seção sobre saúde do Spiritual Gifts. Contudo, depois de escrever essa obra, a Sra. White surpreendeu-se ao encontrar muitos conceitos similares aos seus. Numbers não leva em conta a afirmação de Ellen White, e diz que antes da visão de 1863 “os adventistas do sétimo dia já dispunham dos elementos básicos da mensagem da reforma da saúde”.

A história desses eventos provida por Numbers é instrutiva, mas seu uso da narração para determinar se os princípios de saúde foram revelados por Deus a Ellen White, está repleto de erros de lógica e evidência inadequada. Em primeiro lugar, uma pesquisa assim deve estar baseada numa listagem completa de seus princípios de saúde e também dos princípios de saúde de suas supostas fontes. Eles devem ser compilados com base nos mesmos critérios, a fim de proporcionar uma série de dados imparciais. Então, todos esses princípios podem ser comparados com as descobertas médicas modernas, visando a determinar quais deles foram cientificamente comprovados. De fato, o conhecimento médico está constantemente avançando e mudando diante de novas descobertas, de modo que essa regra não é absoluta. Entretanto, esse não é um problema muito sério, porque permite uma comparação do relativo grau de exatidão dos diferentes reformadores da saúde. Isso é adequado aos nossos propósitos. Numbers nem chega perto de fazer isso, mas usou evidência anedótica — uma comparação de uns poucos princípios de saúde — sem qualquer indicação de como escolheu esses exemplos, em vez de muitos outros que não discutiu.

Segundo, Numbers se concentrou nas semelhanças entre os princípios de Ellen White e os de outros reformadores, mas não discutiu as importantes diferenças existentes entre eles. Isso não é apropriado, pois um plano imparcial de pesquisa deve comparar tanto as similaridades quanto as diferenças.

Terceiro, Numbers não tentou analisar objetivamente a hipótese da inspiração divina, mas declarou explicitamente sua suposição de que os dados deveriam ser avaliados sem recorrência a essa hipótese. Mas um estudo mais culto visando a determinar se uma hipótese é verdadeira, não pode começar supondo que tal hipótese seja falsa.

Em resumo, os planos de pesquisa usados por esses críticos são igualmente insatisfatórios e não apresentam dados para apoiar suas alegações. Muitos livros foram escritos em resposta a esses críticos. Minha avaliação é que essas obras ajudam, mas não representam estudos meticulosos e objetivos, os quais são necessários para testar a hipótese da comunicação divina como fonte dos escritos de Ellen White. Não obstante, um novo estudo de seus escritos sobre saúde usou o plano de pesquisa apropriado, e oferece possibilidades de testar a comunicação divina dos princípios de saúde. Essa investigação foi feita por Don McMahon, um médico com larga experiência no estudo e divulgação de princípios médicos modernos de um viver saudável.

Testando a hipótese da inspiração divina

McMahon compilou uma lista de todos os conceitos de saúde contidos nos escritos de Ellen White e de outros destacados reformadores da saúde seus contemporâneos. A mesma abordagem foi usada para compilar cada uma dessas listas. Então esses conceitos foram todos comparados com a ciência médica moderna, e cada um deles avaliado como confirmado ou não pela medicina atual. Cada conceito de saúde foi então categorizado como um princípio de saúde ou uma explanação fisiológica de um princípio de saúde. Por exemplo, “beba muita água” é um princípio, uma declaração do que fazer. Uma explanação fisiológica não diria o que fazer, mas por que fazer. McMahon chamou os princípios de “ques”, e as explanações de “porquês”. Finalmente, a opinião médica contemporânea também foi utilizada para decidir se cada princípio de saúde (“que”) deve ter efeito pequeno ou significativo sobre a saúde.

Isso propiciou um banco de dados para o teste que havíamos estado procurando. Portanto, estamos prontos para testar duas hipóteses: (1) “os conceitos de saúde de Ellen White podem ser satisfatoriamente explicados como tendo sido tomados emprestados de outros reformadores da saúde seus contemporâneos”, e (2) “os escritos de saúde de Ellen White contêm informações que não podem ser explicadas como originárias dos conceitos de saúde disponíveis em seus dias; eles demonstram que ela deve ter recebido informação de uma fonte extra-humana”.

Na década de 1950, a opinião médica era claramente contrária aos princípios de saúde de Ellen White, mas as novas pesquisas realizadas na segunda metade do século vinte mudaram isso. De 46 “ques” em Spiritual Gifts, 96% foram confirmados pela medicina moderna, sendo 70% deles significativos para a saúde, e 26% como tendo efeitos menores. Em contraste, os princípios de saúde (“ques”) de cinco outros reformadores da saúde estudados tiveram apenas de 35-45% de confirmação. Mas não é só isso. Quando comparamos a lista dos princípios não-confirmados de todos esses reformadores, a diferença entre Ellen White e eles é ainda maior. Dois princípios de Ellen White em Spiritual Gifts, considerados por McMahon como não-confirmados, são os seguintes: não use fermento no pão, e em geral tome apenas duas refeições por dia. Em contraste, eis uma amostra dos princípios não-confirmados de outros reformadores: não aqueça sua casa; se quiser comer carne, coma-a crua; não console as crianças, pois chorar lhes faz bem; não deixe as crianças comerem frutas; não beba água, apenas coma frutas que a contenham; não use sal; use pouca roupa quanto está frio; não use sabão; tome apenas dois banhos por semana; a atividade sexual entre marido e mulher é prejudicial à saúde; as crianças não devem comer batatas; e evite odores fortes (mesmo os agradáveis, como o perfume das flores).

Uma vez que Ellen White tinha pouca educação formal, e certamente nenhuma formação médica, como sabia ela que não deveria utilizar aqueles princípios que podem até ter parecido válidos 150 anos atrás, mas que hoje são reconhecidamente muito equivocados? E onde foi que ela conseguiu os muitos princípios que os outros reformadores de saúde jamais defenderam? Esse último ponto é particularmente importante, porque os princípios que lhe são exclusivos têm um grau de precisão muito maior do que os princípios encontrados em seus escritos e nos de um ou mais dos outros reformadores da saúde. A precisão de seus princípios de saúde não pode ser derivada de nenhuma fonte disponível em qualquer época da vida dela. Isso parece refutar a hipótese número 1 acima, e é consistente com a hipótese de número 2 — comunicação de uma fonte extra-humana. Alguém tem outra explicação?

Após escrever Spiritual Gifts, Ellen White diz que leu as publicações de outros reformadores, e usou parte desse material. Isso pode explicar porque seu percentual de princípios de saúde confirmados no livro Princípios de Saúde, publicado em 1905, caiu de 96% para 87%. Mesmo assim, os princípios não-confirmados no Princípios de Saúde são idéias discutíveis, mas que não incluem qualquer dos princípios estranhos defendidos por outros reformadores da saúde.

Até agora tenho discutido os “ques”, mas os “porquês” apresentam um quadro diferente que revela algo acerca da natureza da inspiração. Os “porquês” de Ellen White não são mais corretos que os “porquês” de outros reformadores, e por isso eles parecem vir de uma fonte de informação diferente. Parece que Deus nos deu os princípios de um viver saudável que haverão de melhorar nossa qualidade de vida, mas deixou que encontrássemos por nós mesmos as explicações fisiológicas. E, de fato, teria quase sempre sido impossível dar explicações fisiológicas corretas para muitos dos princípios de saúde no século dezenove, usando terminologia médica e conceitos que não se tornaram conhecidos senão na segunda metade do século vinte.

Princípios de saúde como “beba muita água” ou “não beba álcool” são fáceis de comunicar e entender em qualquer momento da história, embora não se conheça as razões corretas para eles. Nossa vida e relacionamento com Deus serão beneficiados se seguirmos os princípios de vida que Ele nos deu, mesmo que não lhes entendamos as razões.

Ellen White e os princípios das relações sexuais

Os críticos de Ellen White argumentam que ela defendeu conceitos desequilibrados sobre as relações sexuais entre marido e mulher, mas isso parece estar baseado numa leitura desatenta de seus escritos. Em seus dias, era comum os reformadores da saúde defenderem uma restrição do contato sexual a uma vez por mês. Contrariamente ao que Numbers dá a entender, Ellen White nunca defendeu tal coisa. Ela, de fato, discute problemas causados por “paixões animais”, esposos “piores que os brutos” e defende que as esposas devem tentar desviar a mente de seus maridos da “gratificação das paixões pecaminosas”. Para entender o que ela está condenando, temos de saber que tipo de relação descreve. Está ela condenando as relações sexuais normais entre cônjuges que se amam de forma altruísta, carinhosa e com mútua compreensão? Ou estará ela descrevendo o comportamento insensível de esposos egoístas, exigentes ou talvez até mesmo algum tipo de comportamento abusivo?

Ela escreveu numa época em que assuntos sexuais não eram discutidos tão abertamente como hoje, mas um estudo cuidadoso de seus escritos demonstra claramente que as “paixões animais” que ela condena estão na segunda categoria acima descrita. Quando comparamos as descrições de um relacionamento no qual o marido é governado pelo verdadeiro amor, com as características ou resultados de “paixões animais” ou maridos “piores que brutos”, há uma diferença dramática entre as duas listas. Ela está falando da qualidade do relacionamento conjugal e não da freqüência do sexo. Um homem tentou obter a aprovação de Ellen White para um tratado que defendia a idéia de que sexo deveria se limitar à procriação. Assim que ele terminou de falar, ela disse apenas: “Vá para casa e seja um homem”. Ele entendeu o recado e não publicou seu tratado.

Conclusões

Deus nos permite fazer escolhas e aceitar suas consequências. Isso inclui as que cada um de nós faz acerca de nossa visão da inspiração. Todavia, se uma pessoa questiona a Bíblia ou os escritos de Ellen White, temos o direito de esperar que tal questionamento esteja baseado numa pesquisa acadêmica de alta qualidade. Os críticos de Ellen White aqui discutidos basearam seu trabalho em métodos de pesquisa inadequados e numa lógica equivocada, e temos o direito de não concordar com suas ilações.

A pesquisa de Don McMahon, de longe a mais cuidadosa e objetiva sobre esse assunto, indica que a alegação de que os princípios de saúde de Ellen White foram copiados de outros reformadores, não é nem um pouco realista. Seguir esses princípios é mostrar nossa gratidão ao Criador, que Se interessa não apenas pela nossa salvação, mas também quer ajudar-nos a levar uma vida mais saudável e feliz. Esses dons divinos são outorgados livremente por Sua graça. A exatidão que vemos nos princípios de saúde dados por Deus pode também nos encorajar a confiar em outros assuntos por Ele revelados — ouvir e crer na comunicação de Deus a nós por meio de Seus mensageiros. Em Sua bondade, Ele tem enviado mensagens que nos impedem de ser enganados pelo inimigo da raça humana.

Leonard R. Brand (Ph.D. pela Cornell University) é professor de Biologia e Paleontologia na Universidade de Loma Linda, Loma Linda, Califórnia, EUA. Seu e-mail: lbrand@llu.edu.

REFERÊNCIAS

1. Leonard Brand and Don McMahon, The Prophet and Her Critics (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2005).

2. Ibid; Don S. McMahon, Acquired or Inspired? Exploring the Origins of the Adventist Lifestyle (Warburton, Australia: Signs Publishing Co., 2005). Includes a CD with all the authors’s research data and interpretations.

3. Walter Rea, The White Lie (Turlock, California: M & R Publications, 1982).

4. Jonathon Butler, “The World of E. G. White and the End of the World”, Spectrum, 10 (2): 2-13 (1979).

5. Ronald Numbers, Prophetess of Health: A Study of Ellen G. White (New York: Harper and Row, Publishers, 1976).

6. Ellen G. White, The Great Controversy, Introduction (Mountain View, California: Pacific Press Publ. Assn., 1911).

7. Butler.

8. Numbers, pp. 80, 81.

9. Brand and McMahon, p. 41.





A VERDADE SOBRE “THE WHITE LIE” (A MENTIRA BRANCA)


Introdução

No final de 1980, uma pesquisa foi realizada por especialistas para descobrir, entre outras coisas, as diferenças entre a atitude e o comportamento cristãos de adventistas dos sétimo dia que leem regularmente os livros de Ellen G. White e daqueles que não os leem.1 Os resultados foram muito reveladores. Daqueles que leem os livros de Ellen White, 85% indicaram que têm um relacionamento íntimo com Cristo, comparado a 59% dos que não leem. Dos leitores, 82% têm a certeza de estarem “em paz com Deus”, enquanto que apenas 59% dos não leitores afirmaram isso. O estudo pessoal e diário da Bíblia foi apontado como sendo um hábito por 82% dos que leem regularmente os livros de Ellen White, enquanto que apenas 47% dos que não liam Ellen White estudavam a Bíblia regularmente. E assim prossegue categoria após categoria. Aqueles que regularmente tomavam tempo para ler os escritos de Ellen White sentiam-se melhor preparados para o testemunho cristão, envolviam-se mais no testemunho, sentiam-se mais à vontade com os demais membros da igreja, oravam mais, doavam mais para o trabalho evangelístico local, estavam mais dispostos a auxiliar seus vizinhos com problemas pessoais e também faziam o culto familiar mais regularmente. Resumindo, sua experiência religiosa era mais forte, mais ativa e mais positiva.

Os resultados dessa pesquisa apresentam um quadro totalmente diferente daquele descrito por Walter Rea em seu livro The White Lie (A Mentira Branca).2 Na contracapa da edição encadernada, o autor compara o respeito dos adventistas do sétimo dia pelo dom profético de Ellen White ao trágico fascínio dos habitantes de Jonestown pelo seu demoníaco líder, Jim Jones. O livro passa então a descrever o que chama de “as profundezas das extensas ramificações daquela seita (o adventismo) ao longo dos últimos 140 anos e os milhões de almas que ela tem afetado.” De fato, o livro diz ser “exatamente tão chocante no que iria expor quanto a horrível tragédia de Jonestown, onde apenas algumas centenas de pessoas estavam envolvidas e morreram.” Como esta, muitas das afirmações do autor são tão carentes de consistência, ou tão rudes e sarcásticas que não têm peso algum. Ellen White não é o único alvo de ataque em The White Lie. Ministros de todas as denominações são repetidamente caracterizados como “super-vendedores” ou “vendedores do sobrenatural.” Esse tema permeia o livro: Todos os super-vendedores vendem as vantagens das marcas que representam. No caso dos cultos e seitas é a marca do santo deles e o que é requerido por esse santo para a salvação. Nas maiores e mais antigas formas de religião, é o Plano da Cúpula, a religião da mãe, a fé dos pais, a verdadeira luz.3 Crenças cristãs são ridicularizadas: Quem nos etiquetou com o pecado? Teria sido Deus, ou aquela serpente que veio até Adão quando ele estava no paraíso? Ou o herdamos de nossos ancestrais de eras passadas? Ou será que o diabo, como Papai Noel, é nosso pai?4 O Céu é ridicularizado no trecho: Em religião não se lida com muita frequência (se é que alguma vez se lida) com a verdade pura, seja ela pequena ou grande. Lida-se com a verdade da forma que ela é filtrada, expandida, diminuída, limitada ou definida pelos “eu vi” de todas as Ellens da cristandade com uma grande ajuda dos líderes religiosos. O que emerge de tudo isso é que o mapa para essa vida e para a vindoura, se é que ela virá, é traçado pela cúpula – e assim se torna o Plano da Cúpula. O Céu torna-se o portão principal para o isolamento, onde tudo o que é mau, segundo o nosso conceito (o que, no caso da humanidade, significa os outros) é deixado de fora, e só nós, os bonzinhos, entramos. Assim formamos nosso próprio gueto.5 A religião é avaliada como sendo um pouco mais que um jogo de palavras: Em muitas bibliotecas, a Religião está inserida na seção de Filosofia – e é isso o que ela é, a definição e redefinição de termos e ideias que têm desafiado as definições por séculos.6 A maneira como Deus trata com Seu povo é também desprezada: Livres-pensadores sempre se meteram em apuros. No tempo de Moisés, se alguém fizesse uma fogueira por conta própria para preparar uma xícara de chá quente no sábado, era apedrejado, mas não no sentido moderno da palavra. Se perambulasse pela feira local no sábado nos dias de Neemias, corria o risco de ter sua barba arrancada ou sua cabeleira danificada. Mesmo nos tempos do Novo Testamento, se Ananias guardasse algumas moedas do dízimo para pagar o aluguel, o líder religioso local lhe diria que caísse morto – o que de fato ocorreu.7 Todavia, a despeito dos ataques de cunho emocional contra Ellen White, contra a Igreja Adventista do Sétimo Dia e contra as crenças cristãs de forma geral, o livro provê uma oportunidade para iluminar alguns recantos interessantes da história do adventismo do sétimo dia. Por causa do rápido crescimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sempre há muitos novos membros que não estão bem familiarizados com a vida de Ellen White. Eles apreciarão ter respostas precisas para as perguntas levantadas pelo livro. E também, visto que o livro recebeu atenção na mídia secular dos Estados Unidos, nossos irmãos de outras denominações merecem uma calma e justa avaliação do livro. Aqueles que conhecem Ellen White através de uma ampla leitura de suas obras geralmente não precisarão mais do que provar um pouquinho da amargura de The White Lie para perceber quão distante ele é do espírito de Cristo, que tanto permeia os escritos de Ellen White. E, contudo, eles também poderão tirar proveito de informações adicionais sobre a vida e obra dela. Não é nossa intenção aqui defender os atuais líderes da igreja, embora muitos deles tenham sido difamados no livro. E em relação a defender Ellen White, sugerimos que seus próprios escritos oferecem a melhor defesa. Mas aproveitamos essa ocasião para discutir as questões mais importantes levantadas pelo livro The White Lie e relatar os resultados de pesquisas feitas em vários campos que estão relacionados a estas questões.

O uso de fontes literárias – Um olhadela em The White Lie revela muitas páginas com paralelismos entre os escritos de Ellen White e obras de outros autores. O quanto Ellen White emprestou de outras fontes?

Em 1982, quando The White Lie foi publicado, havia mais de 70 livros de Ellen White impressos, somando-se mais de 35.000 páginas.8 Embora haja algumas repetições nos livros, há também 50.000 páginas datilografadas de cartas, sermões, diários e manuscritos arquivados no Patrimônio White e nos oito centros de pesquisa ao redor do mundo. Assim, em comparação com o volume total dos escritos de Ellen White, a quantidade de material que ela emprestou ainda parece ser bem pequena. Por outro lado, representantes da igreja declararam que a quantidade de empréstimos era maior do que tinham tido conhecimento anteriormente.9 No Patrimônio White, pesquisas sistemáticas têm sido feitas sobre esse assunto, e de tempos em tempos, mais paralelismos são encontrados. A revista Ministry (Ministério), uma publicação voltada para o corpo ministerial da igreja, recentemente dedicou um número especial para um resumo amplo e honesto sobre a questão do uso de fontes por Ellen White.10 No entanto, a quantia de empréstimos não é a questão mais importante. Um paralelo esclarecedor é encontrado na relação entre os evangelhos. Mais de 90% do evangelho de Marcos tem paralelismo com passagens de Mateus e Lucas. Mesmo assim, estudiosos contemporâneos de crítica bíblica têm chegando à conclusão de que embora Mateus, Marcos e Lucas tenham usado materiais em comum, cada um pode com justiça ser considerado um autor distinto dos outros.11 Desse modo, até os expoentes da “alta crítica” têm uma abordagem mais analítica do estudo de fontes literárias do que o livro The White Lie. Numa certa época, na infância da crítica textual, os expoentes da alta crítica achavam que os escritores dos evangelhos não passavam de meros plagiadores que copiavam e colavam uns dos outros. Agora os estudiosos da crítica textual percebem que o estudo literário não está completo até que eles ultrapassem a mera catalogação de passagens paralelas e passem para a questão mais significativa de como o material emprestado foi utilizado por cada autor para fazer seu próprio relato singular. Esperamos que o estudo dos empréstimos literários de Ellen White vá além da mera anotação de paralelos literários e da discussão de que quantidade de empréstimos literários é aceitável, para a questão mais importante dos usos singulares que a Srª White, sob a direção do Espírito Santo, deu aos materiais que ela adaptou.

As pessoas do século 19 teriam concordado com a opinião do livro The White Lie sobre os empréstimos literários de Ellen White constituírem num roubo “por atacado”?12

 Alguns teriam, especialmente os críticos. Por exemplo, em 1889, os pastores protestantes de Healdsburg, Califórnia, convidaram D. M. Canright, um ministro adventista recém-apostatado, para ir ao Michigan e fazer algumas palestras contra os adventistas e Ellen White. Nessas palestras, Canright levantou a acusação de plágio contra Ellen White; os pastores adventistas William Healey e J. N. Loughborough responderam à acusação, mostrando onde Canright tinha exagerado em sua exposição. Quando o debate terminou, os pastores opositores publicaram sua versão da história no jornal local, acusando Ellen White de plágio.13 Mas esses pastores dificilmente agiram como juízes imparciais. Por séculos, a acusação de plágio tem sido a arma favorita contra líderes religiosos – John Bunyan e John Wesley foram ambos vigorosamente acusados.14 No século 19, o plágio era conhecido e condenado, mas a paráfrase sem dar o crédito do autor era amplamente utilizada. O humorista americano Mark Twain certa vez cogitou se haveria “em qualquer pronunciamento humano, oral ou escrito, algo além de plágio!”15 Edgar Allan Poe não agiu tão calmamente sobre esse assunto. Ele causou um alvoroço considerável ao acusar Longfellow de plágio. Ironicamente, estudiosos modernos descobriram que o próprio Poe também plagiou.16 Empréstimos literários são muito mais facilmente definidos e condenados na teoria do que evitados na prática real. Ainda mais próximo de Ellen White estava Urias Smith, que condenou o plágio do poema de sua irmã Annie,17 enquanto em seus próprios escritos sobre profecias fez livre uso de palavras parafraseadas de George Storrs e Josias Litch.18 Smith não estava com isso sendo hipócrita. Ele, assim como outros escritores do século 19, simplesmente traçavam a linha entre o plágio e o legítimo empréstimo literário num ponto diferente do que muitos traçariam hoje em dia.

Há rumores de que Ellen White foi ameaçada de processo por causa de seus empréstimos literários do livro de Conybeare e Howson, Life and Epistles of the Apostle Paul. O que há de real nisso?19

 Apesar da lembrança equivocada de A. G. Daniells em relação a isso, Ellen White nunca foi acusada de plágio pelos autores ingleses Conybeare e Howson, não foi ameaçada de processo, nem seu livro foi recolhido por causa das críticas sobre o uso de fontes. Na década de 1890, uma carta foi escrita para a editora Review and Herald por uma das muitas editoras norte-americanas de Conybeare e Howson, a T. Y. Crowell Co. de Nova Iorque, perguntando sobre a obra Sketches From the Life of Paul. Grandes quantias do livro de Conybeare e Howson tinham sido adquiridos anteriormente da Crowell Co. para serem dadas como prêmio para aqueles que fizessem assinaturas da revista Signs of the Times. W. C. White, a única fonte de informação a respeito dessa carta, ressaltou que ela foi escrita com um “espírito amigável”, e não continha “nenhuma ameaça de processo nem qualquer reclamação sobre plágio”.20 Quando a companhia Crowell foi interpelada sobre a questão 30 anos depois, eles responderam: Publicamos o livro de Conybeare Life and Epistles of the Apostle Paul, mas o mesmo não é protegido por direitos autorais, portanto não teríamos nenhuma base legal para mover uma ação contra seu livro, e não achamos que jamais tenhamos levantado qualquer objeção ou feito qualquer alegação como essa que vocês mencionam.21 Assim como muitos livros de Ellen White, Sketches From the Life of Paul ficou esgotado por algum tempo enquanto ela trabalhava na ampliação da obra para formar o livro The Acts of the Apostles (Atos dos Apóstolos), mas colocando de lado especulações maldosas e lembranças equivocadas, não há evidências de que isso tenha algo a ver com qualquer suposta crítica do uso por Ellen White de Conybeare e Howson. Sobre a questão da legalidade do empréstimo literário, o advogado Vincent Ramik, que não é adventista do sétimo dia, investigou o uso de fontes por Ellen White de acordo com as leis e casos relacionados a direitos autorais no século 19. Ele concluiu que o uso por Ellen White não constituiria pirataria literária, mesmo que todos os livros de onde ela extraiu trechos tivessem legalmente direitos autorais.22

E sobre similaridade entre a estrutura e títulos de capítulos da obra de Ellen White Patriarcas e Profetas e a de Alfred Edersheim, Old Testament Bible History?23

É fácil criar uma falsa impressão olhando para similaridades superficiais. Um exame mais detido mostra que de 73 títulos de capítulos de Patriarcas e Profetas, apenas nove deles são, ou idênticos aos do livro de Edersheim, ou apenas diferem pelo acréscimo ou exclusão do artigo “o”/“a”. Além disso, nesses nove incluem-se títulos muito comuns, como “A Criação”, “O Dilúvio”, “A Destruição de Sodoma”, “O casamento de Isaque” e “A Morte de Saul”. A natureza enganosa da comparação é até mais óbvia quando se descobre que no livro de Edersheim não existem títulos de capítulos como tais. Em vez disso, há até meia dúzia ou mais frases de resumo indicando o assunto de cada capítulo. E é a partir dessas frases de resumo que foram tirados os supostos “títulos” paralelos. Além disso, a ordem dos capítulos é realmente estabelecida pela ordem em que as histórias aparecem no Antigo Testamento.

E quanto às ilustrações da obra de Wylie, History of Protestantism, que a Pacific Press publicou sem dar crédito à Companhia Cassell?24

Este é um caso em que The White Lie recicla uma acusação feita na década de 1930 pelo ex-adventista E. S. Ballenger em seu periódico, The Gathering Call.25 Na época, a acusação foi sepultada ao se salientar que W. C. White trocou extensa correspondência com a companhia britânica Cassell, Petter e Galpin, a fim de adquirir os direitos autorais das ilustrações em questão. Uma carta escrita para Henry Scott em 7 de abril de 1886 mostra o típico cuidado de W. C. White com relação a esse assunto. Ele aconselhou Scott, que estava publicando literatura adventista na Austrália, a entrar em contato com o agente da Companhia Cassell em Melbourne, a fim de comprar os direitos das ilustrações pertencentes àquela companhia. “Quando se coloca os créditos de onde as ilustrações foram tiradas, como tem sido feito pela Present Truth (o periódico adventista britânico), eles dão um desconto de 40%”. No entanto, ele continuou dizendo, “Eu não gosto da ideia de prometer colocar crédito em cada figura.” Fica claro, dessa forma, que ele era a favor da compra definitiva dos direitos autorais das ilustrações. Embora todos os registros das negociações da Pacific Press com os editores tenham sido destruídos pelo incêndio de 1906, eles certamente estavam dentro dos seus direitos se seguiram a preferência de W. C. White a respeito desse assunto. Não podemos chegar a conclusão alguma partindo do fato de que as iniciais do artista aparecem em algumas ilustrações da obra de Wyllie e não constarem no livro O Grande Conflito, porque não sabemos de que maneira a Pacific Press recebeu as gravuras da Companhia Cassel. É perfeitamente possível que a Companhia tenha removido as iniciais do artista em razão de algum acordo prévio com o próprio artista antes do envio do material à Pacific Press.26

E quanto ao uso que Tiago e Ellen White fizeram dos escritos de J. N. Andrews e Urias Smith?27

W. C. White sintetizou habilmente o ponto de vista dos pioneiros sobre esse assunto: Todos sentiam que as verdades a serem apresentadas eram de propriedade comum, e no que um pudesse auxiliar o outro ou obter auxílio do outro na expressão das verdades bíblicas, era considerado algo correto fazer isto. Consequentemente, houve muitas declarações excelentes da verdade presente copiadas de um autor por outro. E ninguém dizia que o que ele escreveu era exclusivamente seu.28 Ellen White explicou seu próprio uso de outros autores adventistas na introdução da obra O Grande Conflito, onde ela diz que “narrando a experiência e perspectivas dos que levam avante a obra da Reforma em nosso próprio tempo” ela havia feito uso dos escritos deles de uma maneira semelhante ao uso feito com a linguagem dos historiadores.29 Dessa forma, Tiago White utilizou Urias Smith, assim como Ellen White utilizou Tiago White. Fora do círculo adventista, o famoso escritor histórico Charles Adams utilizou o historiador Merle D’Aubigne, assim como Ellen White utilizou Charles Adams.30

Ellen White fazia alguma tentativa de esconder dos adventistas seu empréstimo literário?31

Não, pelo contrário, ela incentivava livremente a leitura dos mesmos livros dos quais ela fazia empréstimos: Considero The Life of St. Paul de Conybeare e Howson uma obra de grande mérito e de extrema utilidade para o sério estudante da História do Novo Testamento.32 Em outra ocasião ela escreveu: Forneça algo para ser lido durante estas longas noites de inverno. Para quem puder obter, a obra History of the Reformation de D’Aubigne será tanto interessante quanto vantajosa.33 Fica claro que a Srª White não tentou esconder nada, ou não teria recomendado os próprios livros de onde, na época, ela estava escolhendo material.

Por outro lado, ela em geral não chamava atenção especial para seu uso de outros autores, exceto no periódico da década de 1870 Health Reformer, onde, ao escrever sua coluna mensal e selecionar material para republicação destinado a um público não-adventista, ela regularmente citava outros autores, dava crédito a eles e até recomendava que os leitores lessem esses livros.34

A Srª White achava que lhe era permissível parafrasear a linguagem de outros?

Sim, de fato, em uma carta a sua secretária, Fannie Bolton, ela uma vez deu uma ilustração esclarecedora de seu conceito sobre a posse da verdade. Fannie, de tempos em tempos, sentia que a Srª White não lhe havia dado o devido crédito pelo trabalho que ela havia feito editando os materiais da Srª. White no processo de prepará-lo para publicação. Em visão, Ellen White viu “Fannie apanhando frutas, algumas maduras, as melhores, algumas ainda verdolengas. Ela as punha em seu avental e dizia ‘Isso é meu. É meu’. Eu disse, ‘Fannie, certamente você está reivindicando a posse daquilo que não é seu. Essas frutas pertencem àquela árvore. Qualquer um pode apanhá-las e desfrutar delas, mas elas pertencem àquela árvore.’”35 Esse conceito da árvore sugere que Deus é o autor e proprietário de toda a verdade, assim como a árvore é a autora e proprietária de seus frutos. Deus indistintamente provê a verdade a todos que irão recebê-la e utilizá-la.  A Srª White explicou o uso similar que Cristo fazia de conceitos familiares: Ele foi o originador de todas as antigas gemas da verdade. Através da obra do inimigo, essas verdades haviam sido deslocadas do engaste…. Cristo as resgatou do entulho do erro, deu-lhes uma nova força vital e ordenou-lhes que brilhassem como joias, e ficassem firmes para sempre. Cristo poderia utilizar ele mesmo qualquer uma dessas antigas verdades sem emprestar a menor partícula, pois Ele as havia originado a todas.36 Nos últimos anos de sua vida, quando ela soube que estavam sendo levantadas questões quanto a se o fato de ela ter copiado de outros autores era uma infração dos direitos autorais deles, ela perguntou: “Quem foi prejudicado?37 Significativamente, essa era a mesma pergunta que era feita pelos tribunais de seu tempo para determinar se o empréstimo era correto.38 Se ela estivesse escrevendo nos dias de hoje, talvez sua abordagem fosse diferente, mas ela deve ser julgada pelos conceitos de propriedade literária e legalidade correntes em seus dias.

E quanto às declarações onde a Srª White parece reivindicar uma fonte divina exclusiva para o que ela escreveu?39

Essa é uma pergunta pertinente e muito importante. Em 1867 ela escreveu: “Minhas visões foram escritas independentemente de livros ou da opinião de outros.”40 Mas quando a declaração é colocada dentro de seu contexto, encontrado na Review and Herald de 8 de outubro de 1867, descobre-se que ela estava se referindo a seus escritos iniciais sobre saúde. Após esses escritos, ela nos diz, neste mesmo artigo, que leu livros de vários reformadores da saúde e então começou a publicar trechos deles no Health: or How to Live. Por quê? Ela diz que foi para mostrar como as informações dadas a ela em visão foram também compreendidas por outros hábeis escritores do assunto. Foi também no contexto daqueless escritos iniciais sobre saúde que ela disse: Embora eu seja tão dependente do Espírito do Senhor para escrever minhas visões como para recebê-las, todavia as palavras que emprego ao descrever o que vi são minhas…41 Nesse trecho fica claro que ela está fazendo uma distinção entre as palavras que ela tem de arranjar e as que são divinamente ditadas. Uma vez que ela descreveu sua visão a respeito do comprimento apropriado para roupas femininas com diferentes linguagens em diferentes ocasiões, algumas mulheres questionaram sua visão. Ela teve então de explicar que, com exceto em raros casos, as visões não forneciam as palavras exatas para ela descrever o que havia visto. Em outra parte ela escreveu: Não escrevo um artigo sequer, na revista, expressando meramente minhas próprias idéias. Eles são o que Deus me revelou em visão – os preciosos raios de luz que brilham do trono.42 Essa declaração foi feita em um longo artigo em resposta a acusações procedentes de Battle Creek de que suas advertências à igreja eram meramente opiniões baseadas em boatos que ela havia ouvido. A Srª White negou essa acusação de forma franca e direta. Ela afirmou sua profunda convicção de que as mensagens que dava eram mensagens do Céu. Isto não exclui o fato de que elas ocasionalmente poderiam conter conceitos ou palavras provenientes daquilo que ela lia; mas mesmo em tais casos, era o Espírito Santo que a convencia da verdade e do valor daquilo que ela estava lendo. Ainda em outra ocasião ela escreveu: Não tenho tido o hábito de ler qualquer artigo doutrinário publicado na revista, para que minha mente não tenha qualquer compreensão das idéias e conceitos de ninguém, e para que o molde das teorias de qualquer homem não tenha conexão alguma com aquilo que escrevo.43 Mais uma vez, o contexto é essencial para a compreensão. Essa carta foi escrita no período em que G. I. Butler e E. J. Wagonner estavam engalfinhados num debate acirrado a respeito do significado de “lei” em Gálatas. Nesse ponto crucial, em que ela deveria aconselhar a ambos, Ellen White evitava ler os artigos de natureza doutrinária na revista [The Signs of the Times] para que seu conselho não tivesse o molde nem das teorias de Wagonner nem das de Butler. As declarações da Srª White sobre a fonte de seus escritos referem-se consistentemente à autoridade última por quem ela fala, e não às “muitas maneiras” pelas quais o Senhor se comunicou com ela, nem à ajuda que recebeu para expressar as verdades divinas. Por que ela não disse mais sobre seu uso de fontes? Talvez porque tenha percebido o quanto as pessoas eram inclinadas a ver os elementos humanos em seus escritos como prova de que esses escritos eram apenas a opinião dela, e não mensagens divinas. The White Lie é um testemunho eloquente da dificuldade contínua que muitas pessoas têm em reconhecer a união dos elementos humano e divino nos escritos inspirados.

Como pode ser que a Srª White tenha empregado palavras de outros autores ao descrever o que ela via em suas visões?44

Provavelmente a Srª White lia uma passagem impressiva num livro e mais tarde, enquanto em visão, o Senhor chamava sua atenção para a mesma verdade, aplicando essa verdade a uma necessidade específica em sua própria vida ou na vida da igreja. Em tais casos, ela poderia facilmente expressar uma parte do que lhe foi mostrado utilizando uma linguagem parafraseada de outro autor. Sabemos de cerca de seis casos onde isso parece ter ocorrido.45 Uma experiência semelhante ocorreu ligada à visão do “iceberg”. A Srª White leu a respeito do acidente de um navio que se chocou com um iceberg. Então, vários anos depois, durante uma visão, um navio tornou-se o símbolo da igreja e o iceberg o símbolo da oposição e das heresias do Dr. John Harvey Kellogg e de seus partidários.46 Assim como nos casos em que a Srª White utilizou palavras de outros autores para descrever, em parte, o que havia visto em visão, aqui um evento dramático sobre o qual ela havia lido proporcionou ao Senhor um veículo simbólico para transmitir a ela a verdade.

É válida a comparação entre o uso de fontes literárias na Bíblia e nos escritos de Ellen White?47

Sim, se discernimos o que está em questão. O empréstimo literário que autores bíblicos faziam não tem nenhuma relação com o fato de os empréstimos literários serem ou não eticamente apropriados no século 19, pois os conceitos de propriedade literária eram diferentes nos tempos bíblicos. No entanto, o empréstimo literário na Bíblia refere-se à questão da inspiração. Em outras palavras, se a pergunta é se escritores genuinamente inspirados podem empregar fontes literárias não-inspiradas, então podemos olhar para a Bíblia em busca de resposta para essa pergunta. E quando o fazemos, descobrimos que os escritores bíblicos usaram fontes ao escreverem sob a direção do Espírito Santo.48 The White Lie argumenta invalidamente que se os escritores dos evangelhos tivessem feito tantos empréstimos literários quanto Ellen White eles teriam emprestado cada um dos versos escritos nesses livros. Esse argumento é baseado na declaração de que o leitor encontraria “mais de 400 referências a 88 escritores no livro O Grande Conflito”.49 Quando W. C. White forneceu esses dados, ele estava se referindo à edição revisada de 1911 de O Grande Conflito. Na época, Ellen White instruiu suas assistentes literárias a procurar na referida obra citações de outros autores e colocar as referências correspondentes. As assistentes literárias não tentaram com isso especificar a origem das citações utilizadas pela Srª White, mas sim onde os leitores mais recentes poderiam encontrá-las. Na realidade, a Srª White extraiu de menos autores do que o número de referências parece sugerir, pois em muitos casos, um único autor utilizado por ela já havia ele mesmo utilizado diversas outras fontes anteriormente.50

OS PIONEIROS E A PROFETISA

Que tipo de autoridade os pioneiros da igreja adventista atribuíam a Ellen White? Eles acreditavam que ela era inspirada?51

Em realidade, os próprios pioneiros deveriam falar por si mesmos. Dos 16 “testemunhos” trazidos por The White Lie, dois são declaração feitas por outros indivíduos (Andrews e Clough), um não tinha conhecimento direto a respeito do que estava falando (House) e muitos não expressam ou sequer deixam implícita alguma descrença na inspiração de seus escritos (Starr, Lacey e Tiago e Ellen White). Um estava simplesmente errado (Colcord) e quanto aos porta vozes da Associação Ministerial de Healdsburg, eles se demonstraram oponentes hostis desde o princípio. Fannie Bolton fez diversas declarações conflitantes e A. G. Daniells e Urias Smith são mal representados porque seus “testemunhos” consistem apenas de comentários isolados. Contrariamente à afirmação do livro The White Lie de que esses indivíduos foram “na maioria dos casos” cortados da igreja após terem feito estas declarações, não mais que três dos 16 foram excluídos por razões relacionadas às suas crenças.

Nem os pioneiros, nem qualquer outra pessoa jamais afirmou que cada linha escrita por Ellen White era inspirada. Ela mesma disse que o “sagrado” e o “comum” deveriam ser distinguidos e que havia ocasiões em que precisava escrever sobre assuntos cotidianos e relacionado a negócios.52 De forma consistente com a declaração da Srª White de que estava escrevendo, somente com base em sua memória, o esboço autobiográfico, Spiritual Gifts, vol. 2, já foi dito que a Srª White “não afirmou ter recebido auxílio divino ao tentar reconstruir a história da sua vida ou ao recontar os acontecimentos que tiveram lugar em sua casa ou durante as suas viagens”.53

Urias Smith teve alguns períodos de dúvida quanto ao dom profético de Ellen White?

Sim. Um deles é refletido numa carta escrita a D. M. Canright.54 Mas mesmo enfrentando algumas lutas ao ser reprovado, ele levou a sério as advertências e logo tomou firme posição sobre a integridade e valor dos escritos da Srª. White. Em uma ocasião ele explicou aos adventistas de toda parte como ele quase resvalou, mas conseguiu se firmar: Tem sido bastante comentado, creio, em alguns lugares, o fato de que o editor da Review tem estado perturbado com a questão das visões, não está seguro sobre o assunto, e certa vez chegou bem perto de rejeitá-las. Isso me parece pouca coisa para ser tido em muita conta – “chegou bem perto de rejeitá-las” – mas não o fez! Eu também, em certa ocasião, cheguei bem perto de ser atropelado pelos carros e me transformar em gelatina; mas não fui, e por isso estou vivo até hoje. Alguns passaram por esta catástrofe. A diferença entre eles e eu é que eles foram atropelados, e eu, não. Alguns rejeitaram as visões. A diferença entre eles e eu é a mesma – eles rejeitaram, e eu, não.55 Smith reconheceu que houve épocas em que as “circunstâncias pareciam muito confusas”, mas o peso da evidência em sua mente nunca “pendeu para o lado da rejeição” e ele afirmou sua posição de confiança nas visões.

Dizem que J. N. Andrews duvidou do dom profético de Ellen White porque ele percebeu algumas similaridades entre o poema épico de Milton, Paradise Lost (O Paraíso Perdido) e os escritos dela. Teria Ellen White feito empréstimos dessa obra? E J. N. Andrews duvidou do dom profético?56

Em 1858, após ouvir um relato de Ellen White sobre sua visão do grande conflito, J. N. Andrews perguntou se ela já tinha lido o poema épico de Milton. Ela assegurou que não, e então ele a presenteou com uma cópia do livro. Isso não era uma atitude incomum. Em diversas ocasiões o intelectual Andrews ofereceu livros como presente à família White. Significativamente, embora o livro The White Lie alegue vez após vez que Ellen White fez empréstimos de Milton, o livro não provê evidência palpável para tal afirmação. Estudos de especialistas notaram alguns pensamentos similares, mas nenhuma dependência literária.57 Quanto a J. N. Andrews, logo no início de sua experiência ele percebeu que seus pais e os familiares de sua esposa eram críticos de Tiago e Ellen White, e, numa confissão comovente, disse: Minha influência contra as visões não tem consistido numa multiplicidade de palavras contra elas. … Mas confesso que não as tenho defendido e dado testemunho em seu favor.58

Mais tarde, após ter passado algum tempo no lar da família White e visto a angústia e as lágrimas com as quais eram escritos os conselhos e advertências, ele escreveu: Minhas convicções de que os Testemunhos da irmã White são de origem celeste foram fortalecidas pela oportunidade que tive de observar a vida, a experiência e os labores desses servos de Cristo.59 Pouco tempo depois ele escreveu sobre a importante contribuição dada pelos testemunhos: A obra deles é unir o povo de Deus num mesmo pensamento e numa mesma compreensão sobre o significado das Escrituras. O simples julgamento humano, sem instrução direta do Céu, nunca pode trazer à superfície a iniquidade escondida, nem resolver as sombrias e complicadas dificuldades da igreja, nem impedir interpretações diferentes e conflitantes das Escrituras. Seria realmente muito triste se Deus não pudesse mais conversar com Seu povo.60 Como todos nós, os pioneiros eram pessoas que, em sua fraqueza humana, às vezes lutavam com o orgulho e a dúvida, assim como fazemos hoje, mas, com raras exceções, aqueles que conheceram melhor Ellen White passaram a crer firmemente em sua inspiração.

A. G. Daniells aparentemente foi criticado em seu tempo por não ter sido um defensor muito forte do ministério de Ellen G. White. Qual era a atitude dele?61

A fé e a confiança do Pr. Daniells permaneceram inabaláveis até a hora de sua morte. Na Assembléia da Associação Geral de 1922 ele foi de fato criticado por alguns que acreditavam que a inspiração de Ellen White era verbal e inerrante, mesmo nos menores detalhes.62 Daniells não tinha esta visão rígida. Ele ficou muito magoado pelo que consideravam ser críticas falsas e infundadas sobre sua posição com relação a Ellen G. White. Pouco antes de sua morte em 1935, ele relembrou a experiência que ocorreu em março de 1903, um dia ou dois antes da abertura da Sessão da Conferência Geral em Oakland, Califórnia. Ele se referiu à crise em Battle Creek e a sua agonia de alma ao orar a Deus em busca de evidências de Seu apoio na “terrível batalha que estava diante de nós”. Ele relatou a luta mental pela qual passou naquela noite: Finalmente, caíram sobre mim essas palavras: “Se você permanecer ao lado da Minha serva até que o sol dela se ponha num céu brilhante, Eu estarei ao seu lado até a última hora do conflito. …” Eu virei para o lado e não pude mais falar com Deus. Eu estava vencido. E embora eu tenha cometido erros, Deus tem permanecido ao meu lado, e eu nunca rejeitei aquela mulher ou questionei sua lealdade, que eu saiba, daquela noite até hoje. Oh, essa foi para mim uma feliz experiência, que me ligou ao maior caráter que já viveu nesta dispensação. Isso é tudo o que posso dizer.63

Qual foi o papel de H. Camden Lacey na preparação do livro O Desejado de Todas as Nações?64

Lacey começou a afirmar que ele foi o primeiro adventista a advogar enfaticamente a idéia de que o Espírito Santo era uma pessoa, e que foi por meio de sua influência que Ellen White passou a se referir ao Espírito Santo como “He” (ele, usado para pessoas) ao invés de “it” (ele, usado para objetos, animais, seres inanimados). Lacey estava errado nesse ponto, pois a Srª. White usou o pronome pessoal “He” para referir-se ao Espírito Santo na primeira edição do Caminho a Cristo, publicado em 1892, ocasião em que Lacey ainda era um estudante em Battle Creek e bem antes da Srª White ou suas assistentes literárias se familiarizarem com ele.65 Na época em que o Desejado de Todas as Nações estava sendo preparado, Lacey estava com 25 anos; ele estava na Escola de Avondale como professor, não de Bíblia, mas de matemática, ciências naturais e elocução.66 Ele próprio, em resposta a uma pergunta, escreveu que sua única contribuição na preparação de O Desejado de Todas as Nações foi ajudar no arranjo das sentenças ou parágrafos, ou na escolha de alguma palavra mais apropriada nos primeiros dois ou três capítulos: Nunca, em tempo algum, ocorreu alguma alteração do pensamento, ou a inserção de alguma ideia que já não estivesse expressa no texto original. O texto resultante era sempre submetido à irmã White para que ela desse sua aprovação final. O texto total de O Desejado de Todas as Nações como está agora impresso, afirmo que é, portanto, produto da mente e do coração da irmã White, guiada pelo bom Espírito de Deus. E a “edição” foi meramente técnica.67 Em outro trecho da carta ele deixa claro seu entendimento a respeito do livro: Alegremente e de todo o meu coração aceito O Desejado de Todas as Nações como um livro inspirado; de fato, eu o considero a mais espiritual biografia de Cristo, fora dos evangelhos, que já foi dada à Sua igreja… Tenho dezenas de trechos extraídos desse maravilhoso livro e de outros escritos da Srª White. Eu os avalio como sendo produto do mesmo “Espírito de Profecia” indicado nas Escrituras. E milhares dos meus ouvintes nas igrejas e salas de aula podem dar testemunho disto.68

Será que a falha em compreender a verdadeira natureza da inspiração foi uma das razões pelas quais algumas pessoas no passado questionaram se era correto o uso que Ellen White fez de fontes literárias e o fato de ela haver feito revisões em seus escritos?69

Cristãos conservadores têm mantido duas visões gerais em relação à natureza da inspiração. A mais comumente utilizada – chamada de inspiração verbal – prende-se ao princípio de que o Espírito Santo inspira as palavras exatas da mensagem enviada por Deus. Para muitos, isso significaria que um escritor verdadeiramente inspirado não recorreria a fontes não-inspiradas nem teria a necessidade de fazer revisões na mensagem, pois, no conceito deles, uma mensagem ditada pelo Espírito estaria na forma exata preferida por Deus. Outros cristãos acreditam que o conteúdo da Bíblia indica que o Espírito Santo inspira a pessoa, e só em algumas ocasiões especifica as palavras que ela deve usar. O Espírito Santo imbui a mente do escritor com os pensamentos ou mensagens que deseja transmitir (2Pe 1:21). Este ponto de vista é às vezes descrito como inspiração de ideias. Sob a guia contínua do Espírito, o profeta fala ou escreve com suas próprias palavras, de acordo com sua habilidade, o que lhe foi comunicado (cf. 1Sm 3:11-18) ou mostrado (cf. Ap 1:10-11). Dessa forma, ele pode ser levado a extrair de escritos de outras pessoas para expressar de maneira mais eficiente o significado da mensagem (cf. Tt 1:12, 13). Às vezes ele pode até reescrever ou reformular uma mensagem anterior para torná-la mais clara e mais vigorosa (cf. Jr 36:32). Este ponto de vista sobre o processo da revelação-inspiração era defendido pelos pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia. No entanto, uma falha em captar as implicações desta posição levou alguns obreiros posteriores a entender mal os procedimentos utilizados por Ellen White na produção de seus escritos. Uma visão mais ampla da doutrina bíblica da inspiração teria evitado a perplexidade deles naquela época, e a evitará hoje, para os membros atuais da igreja. Declarações de W. C. White, que auxiliava sua mãe no trabalho de publicação, expressam tanto a posição de Ellen White quanto a da igreja, sobre inspiração: Minha mãe nunca fez reivindicações à inspiração verbal, e não vejo que meu pai, ou o Pastor Bates, Andrews, Smith ou Waggoner as fizessem. Caso houvesse inspiração verbal ao ela escrever seus manuscritos, por que haveria de sua parte o trabalho de acréscimo ou de adaptação? Verdade é que Mamãe muitas vezes toma um de seus manuscritos e o lê atentamente, fazendo acréscimos que desenvolvem ainda mais o pensamento.70 Você se refere à declaração que lhe enviei relacionada com a inspiração verbal. Essa declaração [p. 7] feita pela Conferência Geral de 188371 estava em perfeita harmonia com as crenças e posições dos pioneiros em relação a esse assunto, e era, imagino, a única posição defendida por nossos ministros e professores até que o Prof. [W. W.] Prescott, diretor do Battle Creek College [1885-1894], apresentou vigorosamente outra idéia – a ideia mantida e apresentada pelo Prof. Gausen [provavelmente Louis Gaussen, um clérigo suíço (1790-1863) que defendia que a Bíblia foi verbalmente inspirada.] A aceitação dessa ideia pelos estudantes do Battle Creek College e por muitos outros, incluindo Haskell, trouxe para nós questionamentos e perplexidades sem fim e que estão sempre aumentando. A irmã White jamais aceitou a teoria de Gausen acerca da inspiração verbal, quer da maneira aplicada a sua própria obra, quer da maneira aplicada à Bíblia.72

Onde podemos encontrar um bom exemplo do ponto de vista dos pioneiros a respeito do dom profético de Ellen White?

No Adventist Book Center (www.adventistbookcenter.com) está disponível o livro The Witness of the Pioneers Concerning the Spirit of Prophecy, uma reimpressão fac-símile de artigos de periódicos e panfletos escritos pelos contemporâneos de Ellen G. White.

ELLEN WHITE E A BÍBLIA

Os adventistas do sétimo dia fazem de Ellen White o padrão final e infalível de toda fé e prática adventista?73 A Igreja mudou sua posição sobre o assunto em anos mais recentes?

A Igreja não mudou sua posição, a despeito da imprecisão de alguns indivíduos na tentativa de explicar a posição da Igreja. A Igreja hoje mantém a mesma posição defendida pelos pioneiros. Na Sessão da Conferência Geral de Dallas em 1980, foi adotada uma Declaração de Crenças Fundamentais que diz o seguinte: Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é um sinal identificador da Igreja remanescente, e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e autorizada fonte de verdade que proporciona conforto, orientação, instrução e correção à Igreja. Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo ensino e experiência. (ênfase acrescentada)

A declaração acima coloca claramente a Bíblia como o padrão e norma da fé e prática adventista. Os escritos de Ellen White devem ser julgados por esse padrão.

Os adventistas consideram Ellen White “canônica”?

Não. O “cânon” é a coleção de livros que compõe a Bíblia. Os adventistas do sétimo dia creem que o cânon foi encerrado com o último livro do Novo Testamento. Ellen White se expressou muito claramente sobre o assunto:

1. Durante os primeiros vinte e cinco séculos da história humana não houve nenhuma revelação escrita.

2. O preparo da Palavra escrita iniciou-se no tempo de Moisés.

3. Esse trabalho prosseguiu durante o longo período de mil e seiscentos anos.

4. Esse trabalho prosseguiu . . . até João, que registrou as mais sublimes verdades do evangelho.

5. A conclusão do Antigo e Novo Testamentos marca o encerramento do cânon das Escrituras.74

Em conexão com as declarações acima, Ellen White também observa como o Espírito Santo fala fora do Cânon Sagrado: Durante os séculos em que as Escrituras do Velho Testamento bem como as do Novo estavam sendo dadas, o Espírito Santo não cessou de comunicar luz a mentes individuais, independentemente das revelações a serem incorporadas no cânon sagrado. A Bíblia mesma relata como mediante o Espírito Santo, os homens receberam advertências, reprovações, conselhos e instruções, em assuntos de nenhum modo relativos à outorga das Escrituras. E faz-se menção de profetas de épocas várias, de cujos discursos nada há registrado. Semelhantemente, após a conclusão do cânon das Escrituras, o Espírito Santo deveria ainda continuar a Sua obra, esclarecendo, advertindo e confortando os filhos de Deus.75 Podemos dizer de maneira inequívoca que a Igreja nunca considerou os escritos de Ellen White como canônicos e não acredita nisso hoje. Afirmamos, por outro lado, que ela falou sob a mesma inspiração do Espírito Santo que os escritores da Bíblia tiveram. Os pioneiros falaram a respeito desse ponto repetidas vezes:

Tiago White: A Bíblia é uma revelação perfeita e completa. É nossa única regra de fé e prática. Mas isso não é razão para que Deus não mostrasse o cumprimento passado, presente e futuro de Sua palavra nestes últimos dias por meio de sonhos e visões, de acordo com o testemunho de Pedro. Visões verdadeiras são dadas para nos guiar a Deus e à Sua Palavra escrita.76

Urias Smith: O princípio protestante de “A Bíblia, e a Bíblia somente” é em si mesmo bom e verdadeiro; e estamos fundamentados nele tão firmemente quanto podemos; mas quando ele é reiterado em conexão com denúncias abertas das visões, tem uma aparência enganosa para o mal. Assim usado, ele contém uma insinuação dissimulada, eficientemente calculada para torcer a opinião dos incautos, fazendo-os acreditar que crer nas visões é abandonar a Bíblia, e que apegar-se à Bíblia é descartar as visões. … Quando afirmamos estar fundamentados na Bíblia e na Bíblia somente, nos comprometemos a receber, inequívoca e plenamente, tudo o que a Bíblia ensina.77

A inspiração de Ellen White é igual à da Bíblia?

Sua inspiração é igual em qualidade [p. 8] à inspiração da Bíblia, mas a função e propósito da inspiração de Ellen White são diferentes dos da Bíblia. Um paralelo é encontrado nas Escrituras. O profeta Natã era tão completamente inspirado quanto o rei Davi, mas a inspiração de Natã tinha uma função diferente da de Davi. Os escritos inspirados de Davi tornaram-se parte do cânon das Escrituras. A inspiração de Natã não resultou em algum escrito canônico.

Alguém pode não fazer diferença na qualidade da inspiração porque a inspiração ou está presente ou ausente, dessa forma várias manifestações dela não podem ser distinguidas por graus. O Espírito Santo foi tão cuidadoso na superintendência das mensagens inspiradas de Natã quanto dos escritos de Davi, mesmo que, em harmonia com o propósito divino, apenas estes últimos fossem incorporados ao cânon. Os escritos de Ellen White não funcionam como um padrão ou norma de doutrina. A Bíblia exerce essa função. Nesse sentido, Ellen White não tem autoridade doutrinária igual à da Bíblia.

A QUESTÃO DA INFABILIDADE

Diz-se que Ellen White cometeu vários erros. Nós afirmamos que ela é infalível?

Não, e nem Ellen White reivindicou ter “infalibilidade”. Por exemplo, quando ele foi criticada por ter falado o número errado de quartos em um sanatório – 40 ao invés de 38 – ela disse: Nunca me foi revelado o número exato de quartos de qualquer de nossos sanatórios; e o conhecimento que tenho obtido dessas coisas, tive indagando dos que se esperava que soubessem. Em minhas palavras, quando falando acerca desses assuntos comuns, não há nada que leve os espíritos a crer que recebo meu conhecimento em visão do Senhor e o estou declarando como tal.78

Ellen White também reconheceu que não era infalível em seu comportamento pessoal. Ela escreveu certa vez a seu esposo: Quero que o eu esteja oculto em Jesus. Quero que o eu seja crucificado. Não reivindico infalibilidade ou mesmo perfeição de caráter cristão. Não estou livre de erros e equívocos em minha vida. Se eu tivesse seguido meu Salvador mais de perto, não precisaria lamentar tanto minha falta de semelhança com Sua querida imagem.79

Relacionada a isto, encontramos na Bíblia uma experiência digna de nota em Atos 21. O apóstolo Paulo foi especialmente chamado a pregar entre os gentios. Pelo fato de ele não incluir a lei cerimonial judaica em sua pregação, havia alguns cristãos judeus que olhavam para ele com suspeita. Ao retornar a Jerusalém após uma bem-sucedida viagem missionária entre os gentios, ele foi persuadido a emprestar sua influência para a observância de certos ritos cerimoniais que não eram mais requeridos, a fim de apaziguar seus críticos. Ellen White fez o seguinte comentário significativo, que ela sem dúvida aplicaria também a si mesma:

Ele não foi autorizado por Deus para fazer tal concessão. Essa atitude não estava em harmonia com seus ensinos, nem com a firme integridade de seu caráter. Seus conselheiros não foram infalíveis. Embora alguns desses homens escrevessem sob a inspiração do Espírito de Deus, quando não estavam sob sua influência direta, às vezes cometiam erros.80

W. C. White não reivindicou infalibilidade para sua mãe em relação a detalhes históricos e datas: Nalgumas das questões históricas, como as que são realçadas em Patriarcas e Profetas, Atos dos Apóstolos e em O Grande Conflito, as partes principais foram tornadas muito claras e evidentes para ela, e quando passou a  escrever sobre esses assuntos, teve de estudar a Bíblia e a História, a fim de obter datas e relações geográficas e completar sua descrição dos pormenores.81 W. C. White também escreveu: Quanto aos escritos de minha mãe e seu uso como autoridade sobre pontos de História e cronologia, Mamãe nunca desejou que nossos irmãos os considerassem como autoridade no tocante a pormenores da História ou de datas históricas.82 Em suma, Ellen White não reivindicou estar acima de erros ao escrever sobre assuntos comuns ou de negócios que não envolviam conselhos e mensagens do Senhor. Ela reconheceu que não era infalível em sua vida pessoal e seu filho não pensava que ela deveria ser usada como uma autoridade sobre detalhes incidentais em seus escritos históricos. É verdade evidentemente que ela nunca usou o termo “infalível” para referir-se a si mesma ou a seus escritos em qualquer contexto, mas reivindicava que as mensagens que dava lhe eram dadas pelo Senhor.83 Que dizer de erros que se diz que ela teria cometido, não apenas em história, mas em ciências, saúde, teologia e exegese?84 Dificilmente compreendemos como era a situação mais de cem anos atrás, quando Ellen White escreveu nas áreas de saúde, ciência e nutrição.85 Quando ela falou de malignidade em relação ao fumo em 1864, alguns reformadores de saúde concordaram com ela, mas alguns médicos estavam receitando, para moléstias do pulmão, que se fumassem charutos. Como ela soube que posição tomar? Quando ela falou sobre os profundos efeitos da influência pré-natal em termos semelhantes aos pronunciamentos da ciência hodierna, a ciência sabia pouco ou nada sobre o assunto. Enquanto ela estava enfatizando a prática de exercícios físicos e ar puro para os inválidos, muitos médicos estavam receitando quartos fechados e repousos prolongados. Seus conselhos em relação à poluição do ar, ao efeito da dieta na circulação sanguínea, ao uso do sal, ao álcool, à relação mente-corpo e a outros assuntos, têm sido vindicados pelas pesquisas modernas. Todas estas declarações foram consideradas por alguns críticos como erros quando ela os escreveu. Por causa de dificuldades e discrepâncias, há aqueles que se opõe à moderna voz profética. E há também aqueles que procuram “erros” na Bíblia. Sobre este assunto, Ellen White encontrou uma valiosa gema da verdade num sermão de Henry Melvill. Sob a guia do Espírito Santo, ela resgatou aquela gema e a preservou para nós: Mesmo todos os erros não causarão dificuldade a uma alma, nem farão tropeçar os pés de alguém que não fabrique dificuldades da mais simples verdade revelada.86 Tentar provar que todos os supostos “erros” nos escritos de Ellen White não são realmente erros, não é um exercício muito proveitoso. Se um crítico a acusa de dez erros, e se prova que esses dez não são erros, o crítico encontrará outras 15 alegações. Cada um deve decidir por si mesmo se o peso da evidência sustenta ou derruba a reivindicação que Ellen White faz de possuir o dom profético. No estudo de passagens difíceis, tanto da Bíblia quanto de outros escritos inspirados pelo Espírito Santo, é bom fazer as seguintes perguntas: Realmente compreendo o contexto, significado e importância da declaração do autor inspirado? Compreendo plenamente as evidências que estão em aparente conflito com a declaração inspirada? Podem as duas informações ser harmonizadas? Posso razoavelmente [p. 9] esperar que virá uma compreensão melhor a partir de mais estudos, experiências ou iluminação divina? A questão pode ser deixada sem solução? Para aqueles que escutam, o Espírito Santo fala claramente por meio dos escritos inspirados, a despeito de ocasionais dificuldades que podem parecer surgir.87

AS VISÕES
A Srª White sofreu um ferimento na cabeça na infância e ataques de enfermidades durante toda a sua vida. Suas visões poderiam estar relacionadas com seus ferimentos ou doenças? Elas poderiam ter sido causadas por hipnose, mesmerismo ou epilepsia?88

A tentativa de desacreditar a obra do Espírito Santo atribuindo as visões a causas naturais é tão antiga quanto a própria Bíblia. Afinal de contas, os milagres do Pentecostes foram atribuídos à embriaguez. Se alguém rejeita a crença numa fonte divina para as visões, é de se esperar que sejam buscadas explicações naturais. Cedo na experiência de Ellen White, alguns acharam que suas visões eram resultado de mesmerismo, uma forma primitiva de hipnotismo. Ela estava apenas começando seu trabalho como mensageira do Senhor, e a próxima vez que ela sentiu o poder de Deus vindo sobre ela, ela começou a duvidar e resistir à visão. Ela foi reprovada e ficou muda por 24 horas. Na visão seguinte foi-lhe mostrado seu “pecado de duvidar do poder de Deus”, e lhe foi dito que esta era a razão de ela ter ficado muda. “Após isso”, diz ela, “nunca mais duvidei ou por um momento resisti ao poder de Deus, não importasse o que outros pensassem a meu respeito”.89 Alguns que questionaram suas visões, começando com D. M. Canright em 1887, atribuíram-nas a ataques epiléticos, notando que havia similaridade entre ambos. Quando as visões começavam, ela perdia a força; mais tarde, no decorrer da visão, ela a recuperava, exibindo às vezes força sobre-humana. Durante as visões ela não respirava. Seus olhos ficavam abertos, mas ela não reconhecia as pessoas ao redor. Porque essas experiências físicas lembram remotamente ataques epiléticos, os críticos têm sugerido que suas visões não eram realmente visões.

F. D. Nichol, em seu livro Ellen G. White and Her Critics, faz a seguinte pergunta: “Como um profeta deve se comportar em visão?” Ele nota que, pelo fato de os profetas serem pessoas, possuem sistema físico e nervoso, e como uma visão não é um estado normal, é de se esperar que certas experiências fora do normal ocorram.90 Daniel experimentou uma perda de força, e depois uma grande força. Ele ficou mudo e não havia fôlego nele (Dn 10). Balaão entrou em um “transe”, tendo seus “olhos abertos” (Nm 24). O efeito sobre João foi que ele “caiu como morto” (Ap 1:17). Quando Saulo de Tarso teve sua primeira visão ele “[caiu] por terra” (At 9). Após uma visão, Zacarias, pai de João Batista, ficou “mudo” (Lc 1). Às vezes os críticos da Bíblia também têm tentado explicar as visões como sendo o resultado de doença mental.

Um aspecto característico de ataques epiléticos contínuos é a chamada “diminuição da capacidade mental”. Simplificando, a mente fica enfraquecida com essas ocorrências repetidas. Estima-se que Ellen White teve por volta de 200 visões públicas e cerca de 1800 sonhos proféticos. As visões públicas nos primeiros anos foram acompanhadas por fenômenos físicos. Se não fossem visões, mas ataques epiléticos, esperaríamos uma deterioração mental ao longo dos anos. Não encontramos nenhuma evidência desse tipo. Pelo contrário, houve um desenvolvimento observável das capacidades dela. Ela fala de saúde melhor em anos posteriores do que na sua juventude. Milhares de páginas de material manuscrito não contêm nenhuma evidência de um declínio progressivo de sua capacidade.

Além disso, onde encontramos um único exemplo de alguém cujos frequentes ataques epiléticos o habilitaram a guiar uma igreja tão sabiamente e aconselhar as pessoas de maneira tão útil? O que realmente importa, afinal de contas, é a mensagem transmitida pelas visões, não a maneira específica na qual Deus transmite a mensagem.

Qual a relação entre as primeiras visões de Ellen White e as que foram dadas a William Foy e Hazen Foss?91

William Ellis Foy (1818-1893) e Hazen Little Foss (1819-1893) também receberam visões antes do Desapontamento de 1844. Ambos viveram para ouvir Ellen White relatar suas primeiras visões e reconheceram que o que ela descreveu eles haviam visto também. Ellen White, quando jovem, tinha ouvido um sermão de Foy em Portland, Maine, em algum ponto entre 1842 e 1844. Não se sabe muito sobre ele, embora pesquisas recentes confirmem que ele foi um negro criado próximo de Augusta, Maine. Ele é freqüentemente confundido com Foss, mas, diferentemente de Foss, Foy contou suas visões e publicou as duas primeiras num panfleto. Ele nunca sentiu que havia ofendido o Espírito de Deus, e continuou a trabalhar como um ministro da Igreja Batista Livre por muitos anos. Uma pequena biografia pessoal foi publicada junto com o relato das duas primeiras visões em 1845, em um panfleto intitulado The Christian Experience of William E. Foy Together with the Two Visions He Received in the Months of Jan. and Feb. 1842. De acordo com J. N. Loughborough, foi uma terceira visão, em 1844, que Foy não conseguiu compreender, e que ele mais tarde ele ouviu Ellen White relatar. Tanto quanto se sabe, essa terceira visão nunca foi publicada. Hazen Foss, de forma similar, recebeu uma visão antes do Desapontamento, mas se recusou a relatá-la. Quando lhe foi dito que a visão lhe fora tirada, ele temeu as consequências e convocou uma reunião na qual tentou recordar a visão, mas não conseguiu. Ele ouviu Ellen White relatar a mesma visão em princípio de 1845 e declarou a ela sua experiência. Embora se tenha pensado por muitos anos que Foss era parente do cunhado de Ellen White,92 foi apenas por volta de 1960 que a exata relação tornou-se conhecida por meio de registros genealógicos.93 Hazen era o irmão mais jovem de Samuel Hoyt Foss, que se casou com a irmã mais velha de Ellen White, Mary, em 1842. Tanto Hazen Foss como William Foy reconheceram as visões dadas a Ellen White como sendo as mesmas que eles receberam, e desde que o Senhor pretendia originalmente que um desses homens fosse Seu mensageiro profético para a igreja remanescente, haveria, com certeza, paralelos entre as visões deles e as de Ellen White. Embora algumas dessas semelhanças possam ser vistas entre as visões publicadas de Foy sobre o céu, e as de Ellen White, existem tantas diferenças marcantes que a alegação do livro The White Lie de que suas visões são “quase uma cópia carbono” das de Foy é um grande exagero.

A Srª White prometeu responder às perguntas dos Drs. Stewart, Sadler e outros, e então, após receber as perguntas, “convenientemente” teve uma visão instruindo-a a não fazer isso?94

Em 30 de março de 1906, a Srª White [p. 10] escreveu um testemunho dirigido “Àqueles que Estão Perplexos Quanto aos Testemunhos Relacionados à Obra Médico-missionária”.95 Nele, ela diz que foi dirigida pelo Senhor a solicitar àqueles que tivessem perplexidades e objeções em relação aos testemunhos, que os escrevessem e os entregassem àqueles que desejavam remover as perplexidades.

Em 3 de junho de 1906, a Srª White escreveu a respeito de uma visão que tinha recebido alguns dias antes, na qual estava falando perante um grupo de pessoas, respondendo a perguntas sobre sua obra e escritos. Ela declarou: Fui instruída por um mensageiro celestial para não assumir o fardo de acolher e responder a todas as questões e dúvidas que estão sendo colocadas em muitas mentes.96

Essas duas declarações, escritas com mais ou menos dois meses de diferença, são utilizados como evidência de que as “revelações” da Srª White poderiam com frequência ser convenientemente arranjadas com o propósito de proteger seus interesses. Um exame dos eventos daquele período, no entanto, lança uma luz considerável sobre a aparente reversão do convite da Srª White para que fizessem perguntas. Após receberem o testemunho da Srª White, muitas pessoas reagiram à solicitação dela e enviaram suas perguntas ao seu escritório. Uma revisão da correspondência de Ellen White nos meses seguintes dá evidências de que ela realmente levou essas perguntas a sério. As perguntas variavam do ridículo e trivial àquelas que mereciam uma resposta cuidadosa e estudada. Em uma carta dirigida a amigos em 15 de junho de 1906 ela escreveu: Cartas cheias de perguntas estão continuamente se abarrotando sobre nós. … Se eu puder apresentar às pessoas os fatos do caso, como são, isso pode salvar alguns de naufragarem na fé. As mais frívolas perguntas me têm sido enviadas em relação aos Testemunhos dados a mim por Deus.97 Os arquivos do Patrimônio White contêm mais de 30 cartas escritas por Ellen White entre abril e outubro de 1906, lidando com questões levantadas a respeito das várias fases de sua obra. Além destas, foram publicados artigos na Review and Herald.98 Algumas das cartas e declarações feitas são aqui relacionadas: Carta 170, 13 de junho de 1906, em relação às palavras “eu”, “nós”, etc., nos testemunhos; Carta 206, 14 de junho de 1906, sobre o que é inspirado (cada palavra? Cada letra?); Palestra (DF 247, 26 de junho de 1906, sobre o relacionamento de W. C. White para com a obra de Ellen White; Carta de 28 de junho de 1906, sobre o título “profetisa”; Carta 225, 8 de julho de 1906, sobre a redação e envio dos testemunhos. Pode-se notar que todas essas respostas, de fato, 80 por cento das que estão no arquivo, foram escritas após a visão de 25 de maio, na qual ela foi instruída a não responder a tudo o que se dizia e às dúvidas.99 A Srª White outra vez recapitulou a questão dos prédios de Chicago,100 embora já tivesse tratado deste assunto em 1903. Nem todas as perguntas foram respondidas pela Srª White. Algumas foram encaminhadas para sua equipe, a quem ela orientou que procurassem declarações passadas sobre os assuntos para responder às críticas. W. C. White escreveu em 13 de julho de 1906:

Por muitos dias o irmão Crisler tem estado vasculhando o que foi escrito em anos passados em relação a contratos e acordos. Penso que ele será capaz de submeter à minha mãe sua coleção de manuscritos no início da próxima semana.101 Isso estava em plena harmonia com o convite original da Srª White onde ela pede que “tudo seja escrito e enviado àqueles que desejam remover as perplexidades.”102 (ênfase acrescentada). Duas pessoas que enviaram um grande número de perguntas foram o Pr. William S. Sadler e o Dr. Charles E. Stewart. As perguntas do Dr. Stewart acabaram sendo publicadas sob o título A Response to an Urgent Testimony from Mrs. Ellen G. White, mais tarde mencionado como “O Livro Azul.” Escrevendo ao Dr. Stewart sobre seu conjunto de objeções, W. C. White explicou a razão pela qual algumas perguntas não receberam resposta pessoal da Srª White:

Mas aquela porção do documento dirigida a ela que toma a forma de um ataque à sua integridade e obra, ela encaminhará aos irmãos para que a respondam, porque por muitos anos ela tem sido instruída de que não é parte legítima de seu trabalho responder aos inúmeros e violentos ataques que têm sido feitos a ela por seus críticos e pelos inimigos de sua obra.103 Essa foi a atitude consistente da Srª White desde o início de seu ministério.104 Uma razão pela qual algumas questões nunca foram respondidas pelo escritório de Ellen White é que a Comissão da Associação Geral havia publicado recentemente (maio de 1906) uma refutação das acusações feitas por A. T. Jones contra o Espírito de Profecia, detalhando as respostas a muitas das mesmas questões.105 O fato de que a Srª White se ocupou em responder a objeções após receber a visão de 25 de maio, indica que aquela instruções não cancelavam sua solicitação anterior. O que então quer dizer a segunda visão? Exatamente o que ela diz: Fui instruída por um mensageiro celestial para não assumir o fardo de acolher e responder a todas as questões e dúvidas que estão sendo colocadas em muitas mentes. (ênfase acrescentada.) Ellen White não devia sentir que era seu dever se esforçar para responder às infindáveis perguntas de questionadores que não aceitariam respostas. Referindo-se ao mesmo conselho divino, ela escreveu em 17 de julho de 1906: Fui agora instruída de que não devo ser atrapalhada em minha obra por aqueles que se envolvem em suposições relacionadas à natureza desta, cujas mentes estão lutando com tantos problemas intrincados relacionados à suposta obra de um profeta. Minha tarefa inclui a obra de um profeta, mas não termina aí. Inclui muito mais que as mentes daqueles que estão semeando as sementes da descrença podem compreender. Em resposta ao trabalho do inimigo na mente humana, devo semear a boa semente. Quando forem levantadas perguntas sugeridas por Satanás, eu as removerei se puder. Mas aqueles que se apegam a coisas sem importância fariam melhor em educar a mente e o coração para se apegar as grandes e salvadoras verdades que Deus deu por meio da humilde mensageira, em vez de se tornar canais por onde Satanás pode comunicar dúvidas e questionamentos.

Permitir que sejam criados espantalhos que têm de ser atacados é uma das coisas mais inúteis que alguém pode fazer. É possível alguém se educar para tornar-se agente de Satanás, passando adiante suas sugestões. Tão logo uma dessas sugestões é afastada, outra é proposta. Fui instruída a dizer: “O Senhor não deseja que minha mente seja assim empregada.”106 Ellen White finalizou a carta com uma declaração sugerindo que os problemas que cercavam sua obra eram resultado da concentração nas palavras, em vez de na mensagem de seus escritos – a mesma dificuldade em relação ao uso dos escritos inspirados que é vista em nossos dias: “Cada vez mais quero apresentar a mensagem ao povo na linguagem das Escrituras. Então, se alguém apresentar objeções, o problema dessa pessoa vai ser com a Bíblia.”107 [p. 11]

A PORTA FECHADA

Por um período os pioneiros acreditaram que a porta da graça tinha sido fechada em 1844. Foi mostrado à Ellen White uma visão específica de que isso era verdade?108

O período conhecido como da porta fechada na história adventista é ao mesmo tempo fascinante e complexo. Para compreendê-lo realmente é necessário um conhecimento completo dos eventos de 1844 e dos anos seguintes a essa data. O fato de que os primeiros adventistas a princípio concluíram que a porta da graça tinha se fechado para o mundo em 22 de outubro de 1844 e que a primeira visão de Ellen White parecia sustentar este conceito tem sido utilizada por mais de cem anos contra ela por pessoas que procuram prejudicar a confiança em seu trabalho.

Imediatamente após a passagem da data em 1844, os adventistas que acreditavam que a profecia tinha se cumprido só puderam concluir que o período de graça para o mundo tinha se encerrado em 22 de outubro. As zombarias sacrílegas e o sarcasmo das pessoas mundanas deram credibilidade a essa conclusão. Mesmo que a jovem Ellen Harmon aparentemente cresse a princípio que suas visões confirmavam a posição da porta fechada, ela mais tarde percebeu que este não era o caso. No entanto, ela continuou afirmando consistentemente que a porta fora fechada para aqueles que resistiram às suas convicções honestas rejeitando a mensagem de advertência. Enquanto isso, referências feitas aos 144.000 logo em sua primeira visão deram ampla pista sobre um avanço evangelístico ainda futuro.

Em 1874, em reposta às acusações feitas a esse respeito, ela declarou: “Nunca, porém tive uma visão de que não se converteriam mais pecadores.”109 Os escritores pioneiros também foram claros a esse respeito. Dessa forma, Uriah Smith escreveu dois anos depois: As visões nunca ensinaram o fim do tempo da graça no passado ou o encerramento do dia da salvação para os pecadores, chamado por nossos oponentes de doutrina da porta fechada.110  O raiar da luz, no princípio de 1845, a respeito da mudança no ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial ocorrido em 1844, proveu uma solução para o problema. Os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, procurando a luz, viram uma porta que se fechou e outra que se abriu quando Cristo assumiu seu ministério no Lugar Santíssimo do santuário celestial. Esta verdade que se desdobrava permitiu que nossos precursores mantivessem sua confiança na liderança de Deus em sua experiência passada, captando o conceito da grande missão que ainda estava à sua frente. Ellen White, que passou pela experiência, explicou esta transição da compreensão no seu livro de 1844, The Spirit of Prophecy, vol. 4, no capítulo intitulado “Uma porta aberta e uma fechada” e em O Grande Conflito, publicado alguns anos mais tarde, no capítulo intitulado “No Santo dos Santos”. Ler o capítulo 22, “Profecias Alentadoras”, e no capítulo 23, “O Santuário Celestial, Centro de Nossa Esperança” nos fornece um contexto esclarecedor a respeito do tema. Ellen White também deu explicações úteis em 1883 num documento reproduzido em Mensagens Escolhidas, livro 1, capítulo 5, “Explicação de Antigas Declarações”.

ASSISTENTES LITERÁRIOS

Com mais de 1000 livros em sua biblioteca na época de seu falecimento, como poderia ter a Srª White lido e feito empréstimos de todos eles? Não teriam seus assistentes literários feito alguns dos empréstimos por ela?111

O fato é que neste estágio da pesquisa sobre este projeto, há menos de 100 livros dos quais existam evidências sólidas de empréstimo literário. Em muitos casos a evidência envolve apenas uma única breve passagem. The White Lie fornece ou alega paralelos com apenas cerca de 35 fontes específicas. Porém, não há simplesmente nenhuma razão para supor que Ellen White fosse incapaz de ler todos os livros dos quais se alega que ela fez empréstimos. É fato que ela era muito ocupada, mas fazia bom uso do seu tempo. Além do mais, não existe nenhuma evidência de que os assistentes literários tenham sido responsáveis por colocar materiais de outros autores nos escritos de Ellen White. “Existe uma coisa que nem mesmo o mais competente editor pode fazer,” escreveu Marian Davis, “e é preparar um manuscrito antes que seja escrito”.112 É verdade que algumas sentenças de James Wylie aparecem no capítulo sobre Huss no livro O Grande Conflito, que não se encontram no rascunho manuscrito. Ellen White extraiu extensivamente de Wylie naquele rascunho manuscrito, mas não sabemos quantos estágios escritos a mais foram feitos naquele capítulo. Além disso, o manuscrito editado foi enviado imediatamente a Ellen White para sua aprovação.

Ellen White faleceu antes que o livro Profetas e Reis fosse completado. Não seria esse livro um exemplo de onde os assistentes literários fizeram empréstimos por ela?

De maneira alguma. Em seu artigo “A história de Profetas e Reis113 Arthur L. White cita extensivos trechos da correspondência de Clarence Crisler, que prestou assistência literária a Ellen White para o livro Profetas e Reis. Essas cartas, escritas na ocasião em que a obra estava em andamento, indicam que nestas questões espirituais a mente da Srª White permaneceu lúcida até o fim. Os dois últimos capítulos que ainda não estavam totalmente terminados por ocasião de seu falecimento, foram completados, não recorrendo a outros autores, mas a partir de manuscritos que a própria Srª White havia escrito anteriormente e deixado arquivados.

Alguns dos assistentes literários de Ellen White voltaram-se contra ela e a criticaram?114

A única assistente literária a criticá-la foi Fannie Bolton. Todos os documentos e cartas conhecidas relacionadas a sua experiência com Ellen White estão agora publicadas sob o título The Fannie Bolton Story: A Collection of Source Documents. Ellen White ficou preocupada com a imaturidade espiritual da Srta. Bolton desde a primeira vez que a empregou. Durante o período em que trabalharam juntas, sua experiência foi muito instável. Fannie criticou a Srª White e depois, em mais de 12 ocasiões, escreveu “confissões” sobre seu procedimento errado. Apesar de tudo isso, a paciência da Srª White era tão grande que ela continuou empregando Fannie durante muitos desses ciclos de críticas e confissões, e nas ocasiões em que de fato a despediu, acabou contratando-a de novo. Até que por fim, Fannie deixou de trabalhar com a Srª White por sua própria escolha.

A alegação de que a Srª White também foi criticada por Mary Clough, outra de suas assistentes literárias, não tem fundamento em documentos da época, mas é baseada unicamente numa declaração de memória feita por G. B. Starr muitos anos depois do ocorrido. Mary Clough era sobrinha de Ellen White, mas [p. 12] não era adventista do sétimo dia. Ela deixou o trabalho com Ellen White não por causa de qualquer crítica, mas porque escolheu não seguir as normas da casa na observância do sábado.

Marian Davis foi uma das mais importantes assistentes literárias de Ellen White. Como ela via essas questões?

Marian ouviu certa vez que Fannie Bolton disse haver recebido instruções para “preencher lacunas” num testemunho de Ellen White, de forma que o testemunho era virtualmente da Srta. Bolton. Marian respondeu: Não posso imaginar que alguém que tenha estado ligado ao trabalho da Srª. White pudesse fazer tal declaração. Não consigo imaginar que alguém familiarizado com a maneira de escrever da Srª White possa acreditar nisso. O peso que ela sente quando o caso de uma pessoa lhe é apresentado, a pressão intensa sob a qual trabalha, muitas vezes levantando-se à meia-noite para escrever as advertências que lhe são dadas, e muitas vezes por dias, semanas, ou até mesmo meses, escrevendo vez após vez a esse respeito, como se não pudesse se libertar do senso de responsabilidade por aquela alma – ninguém que tenha conhecido algo dessas experiências poderia acreditar que ela confiaria a outra pessoa a tarefa de escrever um testemunho. Por mais de 20 anos tenho estado ligada ao trabalho da Srª White. Durante esse tempo ela nunca me pediu nem para escrever um testemunho a partir de instruções orais, nem parra preencher lacunas no que ela já havia escrito.115

Qual era o trabalho dos assistentes literários? Eles simplesmente corrigiam a ortografia e a pontuação?

W. C. White respondeu a essa questão numa carta de uma mulher que estava em dúvida quanto a se os pensamentos e expressões que ela lia nas obras publicadas de Ellen White eram realmente de sua autoria: As secretárias e copistas que preparam os escritos de Mamãe para o prelo removem repetições para que o conteúdo possa caber no espaço designado. Corrigem a gramática e acertam o texto para publicação. Algumas vezes também deslocam os melhores pensamentos de um parágrafo para outro, mas não introduzem seus próprios pensamentos ao conteúdo. Os pensamentos e expressões que você menciona são realmente de Mamãe.116 Certa vez a Srª White se referiu a Marian Davis como a sua “compiladora de livros” e então explicou: Ela realiza seu trabalho desta maneira: Toma meus artigos que são publicados nas revistas e cola-os em livros em branco. Também possui uma cópia de todas as cartas que escrevo. Ao preparar um capítulo para um livro, Marian se lembra de que eu escrevi alguma coisa sobre esse ponto especial, que talvez torne o assunto mais convincente. Ela começa a procurá-lo, e se, ao encontra-lo, percebe que isso tornará o capítulo mais claro, acrescenta-o a ele. Os livros não são produções de Marian, porém minhas, tirados de todos os meus escritos.117 Contrariamente ao que diz The White Lie, a Srª White estava no controle de seus escritos e do que era publicado em seu nome. Ela disse: Leio do princípio ao fim tudo que é copiado [de seus rascunhos escritos a mão], para cuidar que tudo esteja como deve estar. Leio todo o original do livro antes de ele ser enviado para o prelo.118 As muitas cartas pessoais trocadas entre os assistentes literários, W. C. White, e Ellen White, não deixam dúvidas de que essa era de fato a maneira como as obras da Srª White eram preparadas para publicação. 119

NORMAS DE PESQUISA DO PATRIMÔNIO WHITE

The White Lie está repleto de críticas a respeito das normas restritivas de pesquisa do Patrimônio White. O que tem sido feito para facilitar a pesquisa e quais as restrições impostas?120

Em 1982, quando da publicação de The White Lie, a pesquisa em materiais não publicados de Ellen White era orientada pelas normas dos “manuscritos liberados”. Essas normas cumpriam três propósitos: Familiarizavam os líderes da igreja com os materiais que entravam em circulação geral; Davam a certeza de que a carta ou a porção dela requisitada para liberação fosse acompanhada de um contexto suficiente para tornar claro o seu significado; Protegiam a privacidade dos pioneiros da obra e membros da igreja cujos erros ou pecados pudessem estar revelados nas mensagens confidenciais que Deus deu a Sua mensageira para ser transmitidas a eles. Trabalhando sob essas normas, a pesquisa nas cartas e manuscritos de Ellen White era realizada por centenas de estudantes a cada ano. Todo mês a Comissão de Depositários do Patrimônio White aprovava a “liberação de manuscritos” a pedido de estudantes do seminário e de outros ao redor do mundo. Seis Centros de Pesquisas Ellen G. White operavam em várias partes do mundo, encorajando o estudo nos materiais não-publicados de Ellen White. Ao longo de todos estes anos, desde 1930, quando pela primeira vez educadores adventistas iniciaram cursos de pós-graduação, a equipe de trabalho do Patrimônio White tem encorajado e auxiliado as pesquisa daqueles que estão desenvolvendo suas dissertações de mestrado e teses doutorais. O reconhecimento disto pode ser encontrado nas páginas introdutórias de dezenas de tais documentos. A partir de 1982, mais nove Centros de Pesquisas Ellen G. White foram estabelecidos em várias partes do mundo e uma terceira filial do White Estate foi aberta no Oakwood College em Huntsville, Alabama. (O Centro de Pesquisas da Universidade de Loma Linda tornou-se uma filial do White Estate em 1985.) Para facilitar a pesquisa nos materiais não-publicados, o White Estate está em vias de disponibilizar todas as cartas e manuscritos em CDROM, assim como foi feito com todas as suas obras publicadas.

Por que o estudo de McAdams sobre Huss não foi liberado? E quanto ao estudo similar de Ron Graybill sobre o material que a Srª White escreveu a respeito de Martinho Lutero?121

A obra de Ron Graybill, Analysis of E. G. White’s Luther Manuscript, foi anunciada no catálogo de documentos disponíveis do Patrimônio White e foi publicado para distribuição geral bem antes de The White Lie ser publicado. O estudo feito pelo Dr. McAdams do capítulo sobre Huss no livro O Grande Conflito também está disponível. O que não foi liberado para publicação foram várias das páginas do rascunho escrito por Ellen White do manuscrito de Huss que foi transcrito pelo Dr. McAdams. [p. 13] Esse material foi enviado a todos os Centros de Pesquisa Ellen G. White, onde podem ser examinados por qualquer pesquisador responsável. A razão pela qual não foi publicado é que ele foi preparado às pressas por Ellen White num período em que ela definitivamente não estava bem. Esse rascunho à mão é talvez o pior exemplar disponível de seus documentos escritos à mão. Se publicado, poderia dar uma visão distorcida da qualidade do seu trabalho. O trabalho dela no manuscrito sobre Lutero é mais representativo e assim foi publicado tanto em fac-símile como em transcrição datilografada no estudo de Graybill.

Alega-se que o Patrimônio White e a igreja tentaram “encobrir” o empréstimo literário da Srª White. O que era conhecido no passado sobre esse assunto e o que tem sido compartilhado com a igreja?

Em 1933, W. C. White e D. E. Robinson, do White Estate, prepararam o documento “Brief Statements Regarding the Writings of Ellen G. White” (Breves Declarações Sobre os Escritos de Ellen G. White), que falava francamente sobre o uso de fontes por parte de Ellen White, até onde estas fontes eram conhecidas na época. Na Escola Bíblica Avançada, em 1935, W. C. White novamente discutiu o assunto, mencionando várias fontes. É interessante que foi realizada uma pesquisa entre os ministros e professores que estiveram presentes a esta sessão de 1935.122 Foi perguntado a eles que críticas feitas a Ellen White na época pareciam mais importantes. Quase todos eles queriam respostas para a acusação de que alguns de seus primeiros escritos haviam sido “tirados de circulação”123 e também quase o mesmo número estava preocupado com a predição de 1856 de que alguns dos que estavam vivos na ocasião seriam transladados.124 Só metade do grupo achava que seria importante responder à acusação de plágio. Se estas atitudes representavam a tendência geral, elas indicam que a questão dos empréstimos literários de Ellen White não constituíam uma prioridade tão elevada na igreja como hoje em dia.

Centenas de ministros que assistiram às aulas de Orientação Profética dadas por A. L. White no Seminário Teológico Adventista entre 1956 e 1971, e por Paul Gordon desde esse tempo ouviram o assunto discutido em classe. Mais recentemente o panfleto de 1933, “Brief Statements,” foi largamente distribuído como suplemento da Adventist Review e atualmente se encontra à disposição através do White Estate; o mesmo ocorre com as palestra de W. C. White dadas na Escola Bíblica Avançada.

Três volumosos capítulos sobre “Empréstimos Literários” foram publicados em 1951 no livro de F. D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics. Até recentemente, contudo, a extensão dos empréstimos literários não era conhecida dos depositários do Patrimônio White. Embora o assunto não fosse enfatizado, de tempos em tempos o que era conhecido era comunicado à igreja, e novas informações continuarão a ser colocadas à disposição.

AS QUESTÕES BÁSICAS

Como uma pessoa deve decidir se crê no livro The White Lie ou se aceita Ellen G. White como uma genuína receptora do dom profético?

Quando a Majestade do Universo criou os homens e as mulheres, dotou-os do poder de escolha. O que está em jogo é: como eles fazem essa escolha? A escolha deve estar baseada, não numa exibição passageira de retórica, mas no peso da evidência. No assunto em consideração enfrentamos, por um lado, alguns fatos misturados com muitas afirmações e acusações sem fundamento; por outro lado, temos o quadro bem documentado do desenvolvimento de uma igreja fundamentada na Palavra de Deus e nutrida, guiada e protegida pelo Espírito Santo através do dom de profecia manifestado na obra de Ellen G. White, que fez parte do grupo de seus fundadores e pioneiros. Todo adventista do sétimo dia, do passado ou do presente, já teve de lidar com a seguinte pergunta: Ellen White realmente falou da parte de Deus, como ela própria e a igreja afirmam? Aceitar esta afirmação nem sempre é fácil. Afinal de contas, há preceitos e conselhos nos livros de Ellen White que conclamam a uma mudança na maneira de viver e pensar. Há diretrizes para uma boa saúde. Há conselhos sobre como desenvolver um caráter que represente corretamente o Cristo que nos salvou e nos prometeu o poder transformador de Seu Santo Espírito. O pecado é apontado e reprovado. Não é fácil ou agradável mudar nosso modo de vida. Mas os profetas de Deus, ao comunicarem Suas mensagens, também não reprovavam sempre o pecado e chamavam Seu povo a um padrão de vida mais elevado?

Da mesma forma que com a Bíblia, há coisas nos Escritos de Ellen White que são “difíceis de entender”! Mas as evidências da inspiração de Ellen White brilham por toda parte.

Que evidências há da inspiração de Ellen White?

A Palavra de Deus nos chama a examinar as reivindicações de alguém que professe falar da parte de Deus, e estabelece vários testes. Entre os principais está: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mat. 7:16). Ao olharmos para os frutos do ministério de Ellen White, o que vemos na vida dela e na vida dos que levaram a sério as reivindicações dela? Quais são os frutos? Vemos um povo, no início da experiência da igreja, que recebeu certeza, foi estabilizado e unificado na compreensão de profecias cumpridas e em posições doutrinárias – posições baseadas na Palavra de Deus, mas atestadas pelo Espírito. Através da visões o Senhor esclareceu a verdade e apontou o erro. Vemos um povo levado a compreender o grande conflito dos séculos entre Cristo e Satanás e a ver o lugar que ocuparão nas cenas finais e a recompensa que herdarão por sua fé e lealdade a Cristo. Vemos uma igreja emergindo com ensinos e organização unificados em todo o mundo, e um acelerado senso de responsabilidade em atividades de publicação, médicas e educacionais, culminando com uma distinta visão de responsabilidade na pregação do evangelho e uma dedicação financeira incomparável para cumpri-la. Vemos um povo feliz em seu conhecimento maduro do plano da salvação, confiante de sua aceitação em Cristo, e ciente do significado do ministério de nosso Senhor em nosso favor no santuário celestial.

O que motivou Ellen White a servir como mensageira de Deus? Foi riqueza ou fama?

Não. Ela viveu uma vida de abnegação. Conquanto se mantivesse e mantivesse sua obra com o salário de um ministro e com os modestos royalties de seus escritos, não considerava sua renda como lhe pertencendo. Tudo o que não era usado para suas necessidades, ela colocava na causa à qual servia. Por ocasião de sua morte não deixou grande patrimônio. Até hipotecou a renda potencial de suas produções literárias, que somava quase cem mil dólares, a fim de ter meios para publicar seus últimos livros e promover a causa de Deus. De sua experiência financeira, ela escreveu certa vez: “O Senhor viu que podia nos confiar seus recursos. Ele continuou vertendo, e nós continuamos deixando extravasar.”125 Era notoriedade ou fama que ela buscava? Não. Ela achava a vida pública difícil. Sobrecarregada com a responsabilidade de apresentar testemunhos pessoais de advertência e reprovação, ela declarou certa vez: “Tem sido difícil para mim o dar as mensagens que Deus me deu para aqueles que amo.”126 Em outro momento de seu ministério ela declarou que se fosse dada a escolha de ter outra visão ou ir para a sepultura, ela escolheria a sepultura. Ela provou a experiência mencionada pelo Mestre, de que “não há profeta sem honra senão na sua terra” (Mat. 13:57). Qual então era sua motivação? Era seguir o mandado do Senhor e servir como Sua mensageira, sem considerar custos ou recompensas, sempre ansiosa para salvar almas para o reino de Deus. Era ouvir afinal as palavras: “Bem está.”

E o que dizer das produções literárias de Ellen White, suas qualidades e seus frutos?

Elas se encontram no mais alto plano. Sobre este ponto, Urias Smith, um editor e companheiro de obra, declarou: 1. Eles se inclinam para a mais pura moralidade. Desabonam todo vício, e exortam à prática de toda virtude. 2. Eles levam a Cristo. Como a Bíblia, apresentam-no como a única esperança e o Salvador da humanidade 3. Eles nos levam à Bíblia. Apresentam esse Livro como a inspirada e inalterável Palavra de Deus. 4. Têm trazido conforto e consolo a muitos corações. Têm fortalecido os fracos, encorajado os débeis, despertado os desanimados. Têm trazido ordem à confusão, retificado os caminhos tortuosos, e lançado luz no que era sombrio e obscuro.127

Como é que centenas têm sido levados ao Salvador através da leitura de O Desejado de Todas as Nações, Caminho a Cristo e O Grande Conflito? Como é que o livro A Ciência do Bom Viver, publicado em 1905, nunca teve de ser revisado, enquanto que os livros médicos sobrevivem apenas uma década ou duas? Por ocasião da morte de Ellen White, o sério jornal semanal, The Independent, publicado na cidade de Nova Iorque, traçou os pontos altos da experiência de Ellen White num artigo intitulado “Uma Profetisa Americana”. Então, falando dos frutos de seu ministério da igreja adventista do sétimo dia, o jornal declarou: Estes ensinos foram baseados na mais exata doutrina das Escrituras. O Adventismo do Sétimo Dia não podia ser obtido de nenhuma outra forma. E o dom de profecia devia ser esperado conforme fora prometido à “igreja remanescente” que se havia apegado firmemente à verdade. Esta fé deu grande pureza de vida e zelo incessante. Nenhuma corpo de cristãos os excede em caráter moral e fervor religioso.128

Que dizer do ministério público de Ellen White?

Os registros mostram que ela era uma oradora pública muito requisitada, tanto dentro quanto fora das fileiras adventistas. Ela era frequentemente a oradora do sábado de manhã nas sessões da Associação Geral, dirigindo-se a milhares de pessoas, colocando-se diante delas sem anotações, e era uma oradora favorita nas reuniões campais, sessão após sessão. Em reuniões evangelísticas na América e além-mar ela conservava o auditório, frequentemente composto em grande parte por não-adventistas, encantado por uma hora ou uma hora e meia, quase sempre falando sem anotações. Em 1876, antes da era dos microfones, ela se dirigiu a cerca de vinte mil pessoas que se reuniram numa reunião campal em Groveland, Massachussets, e conseguiu que o auditório a ouvisse. No encerramento da reunião, ela foi convidada a ir a uma cidade próxima na noite seguinte para falar numa reunião de temperança num auditório público.

Que dizer de Ellen White como conselheira requisitada?

Dirigentes da igreja, desde o presidente da associação local e os diretores de instituições até o presidente da Associação Geral, por carta ou pessoalmente, vinham a ela em busca de conselhos e orientações para o cumprimento de suas responsabilidades e para a tomada de importantes decisões. Ela não tinha nenhum livro para consultar. Os assuntos discutidos variavam grandemente. Mas eles nunca foram desapontados nos resultados de seguirem o conselho que receberam da pena ou dos lábios dela. Após narrar novamente uma experiência de prosperidade que veio à obra ao serem seguidos os conselhos do Senhor dados através de Ellen White, A. G. Daniells, que foi por muitos anos presidente da Associação Geral, exclamou: Em tudo isto vemos o grande valor do Espírito de Profecia às pessoas na causa de Deus. Ele dá luz e compreensão que vão muito além da compreensão humana. Leva-nos a grandes empreendimentos dos quais fugiríamos porque não vemos o futuro nem a plena importância do que somos chamados a fazer.129

O Pastor Daniells, próximo ao final de sua vida, deu este solene testemunho: Neste presente ano do Senhor de 1935, a Srª White já está no repouso há vinte anos, enquanto eu continuo labutando. Passei 23 anos observando diretamente a obra de sua vida. Desde sua morte tenho tido 20 anos a mais para cuidadosa reflexão e estudo daquela vida e de seus frutos. Agora, em idade avançada, tendo a obrigação de expressar apenas a verdade sóbria e honesta, posso dizer que tenho a profunda convicção de que a vida da Srª White transcende em muito a vida de qualquer pessoa que eu já tenha conhecido ou com quem tenha estado associado. Ela era uniformemente agradável, alegre e corajosa. Nunca era descuidada, frívola, ou de alguma forma vulgar em sua conversa ou maneira de viver. Ela era a personificação do sério fervor quanto às coisas do reino. Nem uma só vez a vi gabar-se do Grã cioso dom que Deus havia conferido a ela, ou dos maravilhosos resultados de seus esforços. Ela com certeza se regozijava nos frutos, mas dava toda a glória Àquele que operava através dela.130

A ESCOLHA É NOSSA

E assim, tendo o poder de escolha que Deus nos concedeu e as evidências diante de nós, precisamos, como adventistas do sétimo dia, fazer nossa decisão. O Senhor dá evidência suficiente para todos os que desejam conhecer a verdade, mas nunca irá compelir ninguém a crer. Devemos ponderar cuidadosamente as palavras: Deus não Se propõe a remover toda ocasião para descrença. Ele dá evidências, que devem ser cuidadosamente investigadas com uma mente humilde e espírito disposto a aprender, e todos devem decidir a partir do peso das evidências. Deus dá evidências suficientes para que a mente honesta creia; mas aquele que volta as costas para o peso das evidências porque há algumas coisas que não estão claras a seu entendimento finito será deixado na fria e enregelante atmosfera da descrença e dos questionamentos duvidosos, e naufragará na fé.131 George I. Butler resumiu a influência positiva das visões de Ellen White na igreja: Elas sempre foram tidas em alta estima pelos mais zelosos e humildes dentre nosso povo. Elas têm exercido uma influência orientadora sobre nós desde o princípio. Elas chamaram primeiro a atenção, antecipadamente, para todos os avanços importantes que fizemos. Nossa obra de publicações, o movimento de saúde e temperança, o Colégio e a causa da educação avançada, o empreendimento missionário, e muitos outros pontos importantes, devem sua eficiência em grande parte a esta influência. Descobrimos através de uma longa, variada e, em alguns casos, triste experiência, o valor do conselho proporcionado por elas. Quando demos ouvidos a elas, prosperamos; quando fizemos pouco caso delas, sofremos grande perda.132

Referências:

1 Des Cummings, Jr. and Roger L. Dudley, “A Comparision of the Christian Attitudes and Behaviors Between Those Adventist Church Members Who Regularly Read Ellen White Books and Those Who Do Not,” abril de 1982. Disponível no Patrimônio White. ↑

2 Walter T. Rea, TheWhite Lie (Turlock, CA: M & R Publications, 1982), 409 pp. ↑

3 Ibid., p. 191. ↑

4 Ibid., p. 32. ↑

5 Ibid., p. 35. ↑

6 Ibid., p. 38. ↑

7 Ibid., p. 45. ↑

8 Ver “Ellen G.White Book and Pamphlet Titles,” abril de 1982. Disponível no Patrimônio White. ↑

9 Ver Neal C. Wilson, “This I Believe About Ellen G. White,” Adventist Review, 20 de março de 1980, pp. 8-10. ↑

10 Ministry, junho de 1982, pp. 4-19. ↑

11 Ver Robert M. Fowler, “Using Literary Criticism on the Gospels,” The Christian Century, 26 de maio de 1982, pp. 626-629.

12 The White Lie, p. 136. ↑

13 The White Lie, p. 203, menciona a acusação, mas não o contexto histórico. Ver Ron Graybill, “D. M. Canright in Healdsburg: The Genesis of the Plagiarism Charge,” Insight, 21 de outubro de 1980, pp. 7-10. ↑

14 Com relação a Bunyan, ver William York Tindall, John Bunyan: Mechanick Preacher (New York: Russell & Russell, Inc., 1964), pp. 194ff. Com relação a Wesley, ver Donald H. Kirkham, “John Wesley’s ‘Calm Address’: The Response of the Critics,” Methodist History, outubro de 1975, pp. 13-23. ↑

15 Citado em Joseph P. Lash, Helen and Teacher (New York: Delacorte Press/Seymour Lawrence, 1980), p. 146. ↑

16 Ver George Hatvary, “Notes and Queries,” American Literature, novembro de 1966, pp. 365-372. ↑

17 The White Lie, p. 224. Ver [Uriah Smith], Review and Herald, 6 de setembro de 1864, p. 120. ↑

18 Ver Merwin R. Thurber, “Uriah Smith and the Charge of Plagiarism,” Ministry, junho de 1945, pp. 15, 16. ↑

19 The White Lie, pp. 110, 112. ↑

20 D. E. Robinson e W. C. White, “Brief Statements Regarding the Writings of Ellen G. White” (St. Helena, CA, escritório de “Elmshaven”, agosto de 1933, reimpresso, 1981), p. 11. Reimpressão disponível no Patrimônio White. ↑

21 Citado em Francis D. Nichol, Ellen G. White and Her Critics (Washington, D.C.: Review and Herald, 1951), pp. 455-457.

22 Ver “Was Ellen G. White A Plagiarist?” uma reimpressão de artigos publicados na Adventist Review de 17 de setembro de 1981. Disponível no Patrimônio White. Ver também nota 38 abaixo. ↑

23 The White Lie, pp. 77-81.

24 Ibid., pp. 147-161. ↑

25 E. S. Ballenger, ed., The Gathering Call, setembro de 1932, pp. 19, 20. ↑

26 Ver Ron Graybill, “Did The Great Controversy Contain Stolen Illustrations?” Disponível no Patrimônio White. ↑

27 The White Lie, pp. 136, 137, 200, 222-224, 363-365, 371-373. ↑

28 “Brief Statements,” p. 7.

29 Ellen G.White, O Grande Conflito, p. xiv.

30 Ron Graybill, “Analysis of E. G.White’s Luther Manuscript,” p. 1. Disponível no Patrimônio White. ↑

31 The White Lie, pp. 112, 120, 127, 167, 200. ↑

32 Ellen G.White, “Testimonials,” Signs of the Times, 22 de fevereiro de 1883, p. 96. ↑

33 Ellen G. White, “Holiday Gifts,” Review and Herald, 26 de dezembro de 1882, p. 789.

34 Ver por exemplo Ellen G. White, “Proper Education,” The Health Reformer, julho de 1873, p. 221, onde ela diz: “Fico satisfeita em encontrar o seguinte na inestimável obra do Rev. Daniel Wise, intitulada The Young Lady’s Counselor, A.M.; e pode ser obtida em qualquer livraria metodista [sic].”

35 Carta 7, 1894. ↑

36 Manuscrito 25, 1890. ↑

37 Brief Statements,” p. 8. ↑”

38 Ver Vincent L. Ramik, “Memorandum of Law: Literary Property Rights, 1790-1915,” pp. 5-7. Em Greene versus Bishop (1858) a decisão da corte declarou que todas as autoridades … afirmam a doutrina de que, se for extraída uma porção tal que faça com que o valor do original seja sensível e materialmente diminuído, ou se os esforços do autor original forem substancialmente apropriados por outra pessoa num grau prejudicial, tal extração ou apropriação é suficiente, do ponto de vista legal, para manter a ação judicial. O relatório completo de Ramik pode ser obtido no Patrimônio White.

39 The White Lie, pp. 50, 70, 115. ↑

40 Manuscrito 7, 1867, ver também Ellen G. White, “Questions and Answers,” Review and Herald, 30 (8 de outubro de 1867), p. 260.

41 Ibid. ↑

42 Ellen G.White, Testemunhos Para a Igreja, vol. 5, p. 67.

43 Carta 37, 1887. ↑

44 The White Lie, pp. 53, 391. ↑

45 Ron Graybill, “The ‘I Saw’ Parallels in Ellen White’s Writings,” Adventist Review, 29 de julho de 1982, pp. 4-6. ↑

46 Arthur L. White, Ellen G. White: The Early Elmshaven Years (Washington, D.C.: Review and Herald, 1981), p. 301. ↑

47 The White Lie, pp. 46, 139. ↑

48 Ver The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, pp. 706, 708; Robert W. Olson, One Hundred and One Questions on the Sanctuary and on Ellen White, pp. 105-107. ↑

49 The White Lie, p. 139. ↑

50 Ver W. C. White, “O Grande Conflito – Edição de 1911,” em Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, pp. 433-440; Ron Graybill, “How Did Mrs. White Choose and Use Her Historical Sources,” Spectrum, verão de 1972, pp. 49-53. ↑

51 The White Lie, pp. 200-204. ↑

52 Ellen G.White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 39. ↑

53 Arthur L. White, The Ellen G. White Writings (Washington, D.C.: Review and Herald, 1973), pp. 46, 47; Comprehensive Index to the Writings of Ellen G. White, vol. 1 (Mountain View, Calif.: Pacific Press, 1962), p. 182. ↑

54 The White Lie, pp. 200-201. ↑

55 Uriah Smith, “Personal,” Review and Herald Extra, 22 de novembro de 1887, p. 15. ↑

56 The White Lie, pp. 33, 66, 133, 200. ↑

57 Elizabeth Burgeson, “A Comparative Study of the Fall of Man as Treated by John Milton and Ellen G. White” (Dissertação de Mestrado, Pacific Union College, 1957). Burgeson notou a similaridade entre Ellen White e John Milton a respeito de informação extra-bíblica, e se perguntou como dois autores que teriam vivido com cem anos de diferença um do outro, poderiam concordar entre si. Mas mesmo sendo demonstrada uma dependência literária direta, não se pode dizer que a Srª White realmente tenha lido o poema de Milton. As idéias de Milton, o grande poeta puritano, permeou a teologia da Nova Inglaterra por gerações. O fato de a Srª White utilizar uma frase de Milton em sua obra Educação, p. 150 [como notado por A. L. White, “Supplement to the Reprint Edition: Ellen G. White’s Portrayal of the Great Controversy Story,” em Ellen G. White, Spirit of Prophecy, vol. 4 (Washington, D.C.: Review and Herald, 1969 reimpresso), p. 536], não faz disso um indicativo de dependência literária, uma vez que frases memoráveis de Milton eram tão correntes em seu tempo quanto as de Shakespeare. ↑

58 J. N. e Angeline Andrews para James e Ellen White, 2 de fevereiro de 1862, citado em Ron Graybill, “John Nevins Andrews as a Family Man,” p. 16.

59 J. N. Andrews, “The Labors of Bro. and Sr. White,” Review and Herald, 3 de março de 1868, p. 184. ↑

60 J. N. Andrews, “Our Use of the Visions of Sr.White,” Review and Herald, 15 de fevereiro de 1870, p. 65. ↑

61 The White Lie, pp. 114, 202. ↑

62 Ver “Veteran Chief of Adventist Attacks Foes,” e “Acrid Debate Change [sic] Leader,” San Francisco Chronicle, c. 23 de maio de 1922; Claude Holmes para A. G. Daniells, 1o de maio de 1922 (carta aberta); “An Interview With J. S. Washburn,” 4 de junho de 1950, Document File #242; J. S. Washburn para A. L. White, 7 de outubro de 1948; “General Conference Proceedings: Seventeenth Meeting,” Review and Herald, 24 de maio de 1922, p. 228. ↑

63 “Parting Interview Between W. C. White and A. G. Daniells,” 20 de março de 1935, Document File #312-C.

64 The White Lie, pp. 119, 203. ↑

65 O Espírito Santo exalta e glorifica o Salvador. Sua missão é apresentar a Cristo.  . . . Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 91. ↑

66 The White Lie, p. 203, identifica Lacey como um professor de Bíblia em cinco escolas adventistas. No entanto, ele não era o professor de Bíblia em Avondale na ocasião em que esses fatos ocorreram. ↑

67 H. C. Lacey to Samuel Kaplan, 24 de julho de 1936. ↑

68 Ibid. ↑

69 The White Lie, p. 199. ↑

70 Uma declaração feita por W. C. White antes do Concílio da Associação Geral em 30 de outubro de 1911, citado em Ellen G.White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 437. ↑

71 Acreditamos que a luz dada por Deus a Seus servos é pela iluminação da mente, comunicando assim os pensamentos, e não (exceto em raros casos) as próprias palavras nas quais as ideias devem ser expressas…. Review and Herald, 27 de novembro de 1883, p. 741. ↑

72 W. C. White para L. E. Froom, 8 de Janeiro de 1928, citado em Mensagens Escolhidas, vol. 3, pp. 454, 455.

73 The White Lie, pp. 124, 34, 59, 96. ↑

74 Ellen G.White, O Grande Conflito, pp. V, VII. ↑

75 Ibid., p. x. ↑

76 Tiago White, A Word to the Little Flock (1846), p. 13. ↑

77 Urias Smith, “Do We Discard the Bible by Endorsing the Visions?” Review and Herald, 13 de janeiro de 1863, p. 52. Smith passa então a provar que a Bíblia ensina a continuação dos dons nos últimos dias, obrigando-nos a aceitar tais manifestações genuínas se desejamos realmente nos firmar sobre a Bíblia e a Bíblia somente.

78 Ellen G.White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 38. ↑

79 Carta 27, 1876. ↑

80 Ellen G.White, Sketches from the Life of Paul, p. 214.

81 W. C White como citado em Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 462. ↑

82 W. C.White, Ibid., p. 446 ↑

83 Ellen G.White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, pp. 48-86. ↑

84 The White Lie, pp. 32, 34, 37, 57, 138, 141, 164, 271. ↑

85 Ver a Ciência Médica e o Espírito de Profecia (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1973), para mais informações sobre esse assunto.

86 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 16; cf. Henry Melvill, Sermons (New York: Stanford and Swords, 1844), p. 131. ↑

87 Ron Graybill, “Ellen G.White’s LiteraryWork: An Update,” pp. 31, 32. ↑

88 The White Lie, pp. 170, 208, 211-213. ↑

89 Ellen G.White, Life Sketches, p. 89. ↑

90 Nichol, op. cit., pp. 57, 58. ↑

91 The White Lie, p. 47. ↑

92 Ver W. C. White, “Sketches and Memories of James and Ellen G. White,” Review and Herald, 14

de março de 1935, p. 10; A. W. Spalding, Origin and History of Seventh-day Adventists, vol. 1

(Washington, D.C.: Review and Herald, 1961), p. 78, nota 13. ↑

93 George Thomas Little, The Descendants of George Little (Auburn, Me.: The Author, 1882), pp. 290, 291. ↑

94 The White Lie, pp. 60, 170. ↑

95 Carta 120, 1906. ↑

96 Manuscrito 61, 1906. ↑

97 Carta 180, 1906. ↑

98 Ver Ellen G.White, “A Messenger,” Review and Herald, 26 de julho de 1906, pp. 8, 9; “Hold Fast

the Beginning of Your Confidence,” Ibid., 9 de agosto de 1906, p. 8; “Correct Views Concerning the Testimonies,” Ibid., 30 de agosto de 1906, pp. 8, 9, e 6 de setembro de 1906, pp. 7, 8.

99 Manuscrito 61, 1906. ↑

100 Manuscrito 33, 1906. ↑

101 Carta deW. C. White para os pastores Daniells, Prescott and Irwin, 13 de julho de 1906. ↑

102 Carta 120, 1906. ↑

103 Carta de W. C. White para C. E. Stewart, 9 de junho de 1907.

104 Ver Ellen G.White, “Our Present Position,” Review and Herald, Aug. 28, 1883, pp. 1, 2. ↑

105 “A Statement Refuting Charges Made by A. T. Jones Against the Spirit of Prophecy and the Plan of Organization of the Seventh-day Adventist Denomination” (Washington, D.C.: General Conference Committee, maio de 1906). ↑

106 Carta 224, 1906. ↑

107 Ibid. ↑

108 The White Lie, pp. 37-43. ↑

109 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, livro 1, p. 74. ↑

110 Uriah Smith, “‘Wroth with the Woman.’ Rev. 12:17.” Review and Herald, 17 de agosto de 1876, p. 60. ↑

111 The White Lie, p. 281.

112 Carta de Marian Davis para W. C.White, 9 de agosto de 1897.

113 Arthur L.White, “The Story of Prophets and Kings,” Adventist Review, 25 de junho de 1981, pp. 10-13.

114 The White Lie, pp. 116, 201, 202. ↑

115 Carta de Marian Davis para G. A. Irwin, 23 de abril de 1900. ↑

116 Carta deW. C. White para Julia Malcolm, 10 de dezembro de 1894. ↑

117 Ellen G.White, Mensagens Escolhidas, livro 3, p. 91. 118 Ibid., p. 90. ↑

119 Veja “How The Desire of Ages wasWritten,” para uma extensa coleção de tais correspondências. Disponível pelo Patrimônio White. ↑

120 The White Lie, pp. 32, 59, 84, 87, 163, 197, 198, 200, 205, 218. ↑

121 The White Lie, pp. 84, 85, 164. ↑

122 Tim Poirier, “Results of a Survey Conducted at the 1935 Advanced Bible School.” Disponível pelo Patrimônio White. ↑

123 As acusações sobre tirar de circulação, na década de 1930, estavam particularmente relacionadas a Spiritual Gifts, vol. 1, e A Word to the Little Flock. Estas duas publicações antigas foram desde então reimpressas e estão à disposição nos Adventist Book Centers. ↑

124 Ellen White fornece uma solução para esta dificuldade em Mensagens Escolhidas, livro 1, pp. 66-69.

125 Manuscrito 3, 1888. ↑

126 Carta 59, 1895. ↑

127 Uriah Smith, “The Visions–Objections Answered,” Review and Herald, 12 de junho de 1866, p.9. ↑

128 The Independent, 23 de agosto de 1915, pp. 249, 250. ↑

129 A. G. Daniells, The Abiding Gift of Prophecy (Washington, D.C.: Review and Herald, 1936), p. 321.

130 Ibid., p. 368. ↑

131 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 5, pp. 675, 676. ↑

132 George I. Butler, “The Visions,” suplemento da Review and Herald de 14 de agosto de 1883, pp. 11, 12, citado em Witness of the Pioneers Concerning the Spirit of Prophecy (Washington, D.C.: Review and Herald, 1961), p. 48.

Fonte: Este documento foi preparado pela equipe do Patrimônio White em cooperação com o Instituto de Pesquisas Bíblicas e a Associação Ministerial da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia.
Primeira publicação em agosto de 1982, revisado em janeiro de 1999.