A Igreja Católica,
baseada em algumas passagens bíblicas, como Mateus 3:6, Lucas 5:21, 7:49,
destacando-se João 20:23, instituiu a confissão auricular.
Autoriza a Bíblia esta
doutrina? Vejamos o que ela diz sobre a confissão.
Alfredo Vaucher, em
L’Histoire du Salut, diz:
“Parte alguma da
Escritura designa os guias espirituais como encarregados de receber as
confissões dos fiéis e conceder ou recusar absolvição”.
Nenhuma passagem da
Bíblia autoriza a confissão auricular como afirmam teólogos católicos.
João 20:23: “Se de
alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são
retidos”.
Alguns exegetas afirmam
que os verbos perdoar e reter deste verso se equivalem a ligar e desligar que
aparecem em Mateus 16:19 e 18:18. A exegese de Mateus não pode ser aplicada
neste contexto de João.
A interpretação
eclesiástica católica defende que os apóstolos na qualidade de representantes
de Cristo podiam, na realidade, perdoar ou reter os pecados dos homens no
sentido literal, através da administração do confessionário. Sendo que a
transferência apostólica, no seu entender, foi feita para os sacerdotes
católicos, eles se sentem no direito de ter hoje este privilégio. Essa
transferência se baseia única e exclusivamente na tradição eclesiástica, e não
em qualquer declaração bíblica ou na autoridade das Escrituras.
As passagens bíblicas
que falam em confissão e perdão de pecados, de modo nenhum autorizam a
confissão auricular e muito menos lhe dão o direito de perdoar pecados. É
desarrazoada a crença de que uma criatura possa perdoar pecados cometidos por
outra criatura contra o Criador.
Mateus 3:6 é uma
referência a João que batizava os que se arrependiam e confessavam os pecados.
Mas a quem eles confessavam? Naturalmente a Deus e aos semelhantes a quem eles
haviam ofendido.
De acordo com a Bíblia
temos três espécies de confissões:
a) A confissão feita a
Deus, de todos os nossos pecados;
b) A confissão
recíproca às pessoas, que ofenderam e foram ofendidas;
c) A confissão pública
de pecados que se tornaram públicos e trouxeram escândalo à igreja.
De maneira nenhuma
podemos aceitar que, em João 20:23, Cristo instituísse a confissão auricular.
Nesta passagem Cristo reconhece que Sua Igreja está investida de autoridade. Os
atos da legítima igreja de Deus na Terra, em matéria de disciplina imposta aos seus
membros, são ratificados pelo céu como concluímos da leitura de Mateus 18:18.
De acordo com o relato
inspirado, somente Deus pode perdoar pecados (Neemias 9:17; Salmos 32:1;
Romanos 4:6-8), porque Ele esquadrinha o nosso coração e nos cerca com Sua providência
(Salmos 139:1-18; Jeremias 17:10).
O comentário que o
insigne exegeta metodista Adam Clarke fez sobre João 20:23 não pode ser
ignorado por nós:
“É certo que Deus,
unicamente, pode perdoar pecados; e seria não somente uma blasfêmia, mas também
crasso absurdo dizer que qualquer criatura pudesse perdoar a culpa de uma
transgressão cometida contra o Criador. Os apóstolos receberam do Senhor a
doutrina da reconciliação e a doutrina da condenação. Os que, em consequência
de sua pregação, cressem no Filho de Deus, tinham perdoados os seus pecados; e
os que não cressem, permaneciam na condenação”.
É uma sublime
esperança, a declaração bíblica da disposição divina em nos perdoar, conforme
relata o profeta Isaías (55:7). De outro lado, devemos exercer para com nosso
próximo a mesma misericórdia que esperamos de Deus (Mateus 6:14; 18:23-25;
Marcos 11:25).
Deus nos perdoa em
Cristo por ter Ele vertido o Seu sangue pelos pecadores (Efésios 4:32; 1Pedro
1:18-19).
A declaração paulina de
1Timóteo 2:5 é muito enfática, em nos assegurar que o ser humano não necessita
confessar os seus pecados a um sacerdote: “Porquanto há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem”.
Cristo deu a Sua vida
pela nossa redenção; aceitando-O pela fé, receberemos a remissão dos pecados
(Atos 13:38; 26:18).
Outra passagem que
mereceria ser destacada, no contexto de confissão e perdão de pecados é Tiago
5:16, por aconselhar: “Confessai, pois, os nossos pecados uns aos outros…”.
Não encontramos nesta
exortação a ideia de que devemos confessar os pecados a uma terceira pessoa,
porém, está ele recomendando a reconciliação entre o ofensor e o ofendido, além
da confissão a Deus, que em última análise foi também ofendido.
João 20:23 proclama
esta sublime verdade: a mensagem de reconciliação trazida e perdão aos que a
recebem, mas resulta em condenação e permanência da culpa com os que a
rejeitam.
Segue-se o que diz o
Comentário Bíblico Adventista sobre João 20:23:
“Aqueles a quem
perdoardes os pecados. Jesus fala aqui aos discípulos como representantes de
Sua igreja na Terra, à qual, atuando na capacidade de corporação, havia Ele
confiado a responsabilidade de cuidar dos interesses e necessidades espirituais
de seus membros individualmente. Jesus já lhes havia explicado plenamente como
tratar com membros errantes: em primeiro lugar, pessoalmente (veja Mateus
18:1-15, 21-35), e, então, com a autoridade da igreja (ver os versos 16-20).
Reitera Ele agora o conselho dado naquela ocasião anterior.
“A igreja deve trabalhar
fielmente para a restauração de seus membros errantes, encorajando-os a
arrependerem-se e se volverem de seus maus caminhos. Quando há evidências de
que as coisas foram acertadas com Deus e os homens, a igreja deve aceitar o
arrependimento como genuíno, liberar o errante das acusações trazidas contra
ele (“perdoar” seus “pecados”), e recebê-lo de volta em plena comunhão. Tal ato
de perdoar pecados é ratificado no céu; em realidade, Deus já aceitou e perdoou
ao penitente (veja Lucas 15:1-7). Ensinam expressamente as Escrituras, porém,
que a confissão do pecado e o arrependimento por havê-lo praticado devem ser
feitos diretamente ao trono da graça no céu (veja Atos 20:21; 1João 1:9), e que
a liberação da alma do pecado vem apenas pelos méritos de Cristo e Sua mediação
pessoal (1João2:1). Esta prerrogativa jamais foi delegada por Deus a errantes
mortais, que tão frequentemente necessitam eles próprios da divina misericórdia
e graça, muito embora sejam líderes nomeados da igreja. Veja O Desejado de
Todas as Nações, 769-770; Mateus 16:19.
“Lhes são retidos.
Quando não há evidências de genuíno arrependimento, as acusações trazidas
contra um membro errante devem ser “retidas”. O céu reconhecerá a decisão da
igreja, pois nenhum homem pode estar em condição satisfatória para com Deus
quando deliberadamente está em desavença com seu próximo. Aquele que despreza o
conselho dos representantes de Deus nomeados na Terra não pode esperar
desfrutar do favor de Deus. Para uma ilustração da operação deste princípio na igreja
primitiva leia Atos 5:1-11″.
Livro: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia, de
Pedro Apolinário.
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