O fio vermelho, ou o fio azul. Quem irá ter peito para cortar
o fio e evitar a explosão?
O “Projeto” Nova Semente foi trazido ao Brasil pelo Pr.
Kleber Gonçalves, um especialista em missiologia urbana, e tinha por intenção
promover uma nova abordagem de evangelismo para com pessoas de mente
secularizada e totalmente avessas a ideia de se filiarem a uma igreja
institucionalizada. Tais pessoas são produto do pós-modernismo. Em grande
maioria elas sentem necessidades espirituais, porém não recorrem às igrejas por
não se adequarem a sua cultura e visão de mundo. Normalmente são pessoas de bom
nível acadêmico ou de famílias bem resolvidas em termos financeiros.
O método da Nova Semente para alcançar seu público alvo é o
seguinte: Aliviar ao máximo a carga “igrejeira” das reuniões. Um Espaço que não
pareça Igreja, um linguajar que não remeta a “fala de crente”, um culto bem
vivo e uma mensagem que sempre concilie uma discussão culta á espiritualidade.
Os temas das Mensagens são profundamente espirituais procurando evitar ao
máximo os “não pode” ou os “não deve”. A ideia é quebrar a visão preconceituosa
de pessoas secularizadas que acham que ser religioso é seguir normas rígidas de
conduta que os escravizariam. A recepção aos visitantes é feita com muito
esmero e carinho pelos membros para que eles se sintam muito bem. Esse é o
enfoque, fazer de tudo para pessoas que não se sentem bem em Igreja possam
enfim se sentir.
Creio que um projeto evangelístico que seja eficaz para
alcançar diversos tipos de pessoas é de muita valia, afinal precisamos alcançar
todos para Cristo. Porém quando o projeto virou Igreja, ou melhor, comunidade
(como eles se julgam), a bomba-relógio começou a fazer “TIC”. A verdade é que a
IASD no Brasil é, majoritariamente, uma igreja conservadora. O conceito
“conservador” aqui utilizado foi escrito no sentido de apontar uma valoração ás
regras de conduta privada quanto ao vestuário, hábitos e lazer e de conduta
pública da membresia quanto às formas de adoração e louvor. São veementemente
condenadas por algumas igrejas, por exemplo, o uso de calças para mulheres nos
cultos, o uso de adornos e maquiagem forte, o frequentar cinemas e teatros, e
uso de baterias e outros instrumentos que remetam à estilos de música
considerados mundanos. Em algumas igrejas, inclusive, essas práticas são
passíveis de disciplinamento (punição eclesiástica).
Não é propósito meu
questionar a validade ou não dessas regras de conduta, porém é lógico que
algumas delas se tratam de normas engessadas e dissociadas culturamente de seu
principio bíblico, outras, porém são ensinadas como crenças básicas da Igreja,
como o não uso de joias. Só que a Nova Semente como Igreja não tem como foco
essas normas, haja vista que se trata de práticas que pessoas de mente
secularizada não se coadunam. Ou seja, tais práticas conservadoras não são
ensinadas aos novos membros que se converteram pela Nova Semente. A mesma
instituição que não trabalha para a superação de normas que não tem mais
validade cultural, implanta uma Igreja em que o que não se pode lá se pode cá.
É aí que a bomba-relógio criada pela própria “Velha Semente” faz “TAC”. Cria-se
uma distinção cultural. E cultura religiosa, por vezes inadequadamente, é vista
como principio moral.
Essa ruptura, criada administrativamente, possui duas nuances
problemáticas: Primeiramente, os membros da Nova semente não se sentem a
vontade nas ditas, por eles mesmos, igrejas adventistas tradicionais. Falam
eles, que sua igreja é para pessoas de mente mais aberta e mais moderna. Um
adventismo ligth, mais liberal, talvez um Neo adventismo. Eles não se sentem,
em termos culturais, identificados com os membros tradicionais ou com as formas
de culto tradicionais. Em segundo lugar, as práticas secularizadas de adoração,
vestuário e conduta provocam escândalo e estranhamento nas igrejas
tradicionais. Nessas igrejas existem dois tipos de reação quanto ás práticas da
Nova Semente, ou daquelas de irmãos mais antigos que forçam a continuação da
validade de suas práticas e que julgam os neófitos liberais como mundanos ou
daquelas de irmãos que já lutam pelo avanço equilibrado de uma forma de
adoração e de vestuário mais condizente com a cultura presente e que se veem de
mãos amarradas em suas igrejas e não entendem como que na Nova Semente essas
mudanças não são um problema, visto se tratar da mesma religião.
A criação
dessa “Igreja Adventista 2.0” está a jogar os próprios irmãos uns contra os
outros. E membros têm sido perdidos dos dois lados. Exemplo disso é o da
cantora Daniela Araújo que, antes assembleiana, ao se relacionar com seu
marido, o cantor Leonardo Gonçalves, conheceu a IASD através da Nova Semente.
Porém mesmo sendo membro da IASD, não deixou de usar suas joias e de possuir um
vestuário mais liberal porque era da Nova Semente. Como pessoa pública, começou
uma onda de julgamentos e condenações e dúvidas sobre sua instituição
religiosa. Resultado: hoje ela frequenta uma Igreja Batista, um lugar que não a
julga. É claro que, em primeiro lugar, nossos irmãos não tem dado exemplo de
cristianismo com tais críticas. Porém, em segundo lugar, não culpo totalmente
os irmãos escandalizados. Culpo a administração da Igreja que não está atenta à
bomba-relógio que ela soltou em seu próprio seio. Se for preciso ter novos
métodos para alcançar pessoas secularizadas, (sinceramente, quem não é
secularizado no nosso mundo ocidental?), que se faça isso de forma institucional
e que abranja todas as igrejas para que os novos membros quebrem realmente os
preconceitos quanto á vida na Igreja e que os antigos membros possam avançar em
suas práticas, principalmente no quesito “amor ao próximo”.
O que acontece hoje
com a convivência mútua de duas culturas distintas e conflitantes é a
existência de uma hipocrisia institucionalizada em que aqueles que estão á
frente e que apoiam esse “Projeto” serão responsabilizados. É preciso uma
atitude. Será que alguém com coragem irá conseguir acabar tal conflito? Acho
difícil, haja vista que o conceito da Nova Semente tem sido copiado em outras
regiões. Porém tal negligência poderá levar a IASD á um colapso identitário. O
fio vermelho, ou o fio azul. Quem irá ter peito para cortar o fio e evitar a
explosão?
FONTE: Photo Jornalismo (http://leniojornalismo.blogspot.com.br/2014/03/a-bomba-relogio-da-velha-semente-quem.html?spref=fb&m=1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário