Teologia

domingo, 30 de março de 2014

OS HORRORES DOS PORÕES DA DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL: UMA REFLEXÃO BÍBLICA



Ricardo André

'Quantos morreram? Tantos quanto foram necessários', disse o coronel reformado Paulo Malhães sobre a ditadura, na última terça-feira (25/03) na Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em depoimento de mais de duas horas, ele admitiu que torturou, matou e ocultou cadáveres de presos políticos que lutaram pelo retorno da democracia em nosso país. Disse ter torturado "uma quantidade razoável" de pessoas, ter matado “alguns” e confirmou ter mutilado corpos para impedir sua identificação caso fossem encontrados.

"Naquela época não existia DNA. Quais são as partes que podem identificar um corpo? Arcada dentária e digitais", afirmou, explicando que portanto os dentes eram quebrados e o topo dos dedos, cortados. "Eu cumpri o meu dever. Não me arrependo", disse ele.
 
Com essas declarações esse assassino tornou-se o novo símbolo da ditadura militar brasileira. Seu depoimento chocou o povo brasileiro ao admitir que torturou, matou e ocultou corpos, e ainda assim, disse friamente que não se arrepende pelo que fez.

Durante todo o período da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), centenas de jovens estudantes e políticos que faziam oposição ao regime foram presos, torturados e mortos nos porões da ditadura. A partir de 1968, a tortura começou a ser amplamente utilizada, para conseguir confissões das pessoas envolvidas na militância contra o governo militar. Foi o período em que muitos agentes da ditadura pareciam haver perdido o caráter de homens e assumido o dos demônios malignos e bestas selvagens, e extirparam a vida dos jovens que lutaram por um mundo mais justo e democrático. O assassinato de pessoas por órgãos militares virou rotina, a tortura aos presos passou a ser algo normal. O total de desaparecidos durante os anos de ditadura, até hoje não se sabe ao certo, o certo é que muitas famílias viram seus entes queridos serem presos por motivos fúteis e nunca mais voltarem para casa. Muitas mulheres foram violentadas nos porões da repressão militar só por serem filhas de acusados de traidores do regime. Muitos pais confessaram crimes jamais cometidos apenas para não verem seus filhos serem torturados. 

Nos entristece ouvir pessoas dizendo: “tempos bons eram os tempos da ditadura”. São pessoas totalmente desinformadas, que só sabiam o que o governo permitia que fosse divulgado. A imprensa em geral vivia amordaçada, sem poder publicar noticias que divulgassem a maldade e os atos criminosos dos militares. Apesar disso, nenhum torturador foi punido, pois o Congresso Nacional aprovou, em 1979, a Lei da Anistia. Com ela, as pessoas envolvidas em crimes políticos seriam perdoadas pela justiça, inclusive os torturadores.

Punição aos Torturadores e Assassinos da Ditadura

Diante de crimes horríveis cometidos pelo senhor Paulo Malhães e por tantos outros agentes da ditadura, naturalmente, sentimos que, a bem da JUSTIÇA, algo deveria ser feito. O Estado deveria punir todos esses que cometeram violação aos direitos humanos durante esse período sombrio da nossa história.

As Sagradas Escrituras nos informam que as autoridades governamentais “são ministros de Deus, vingadores, para castigar o mal” (Rm 13:4). A justiça exige que o governo exerça sua autoridade, ponha fim a atos maus e cruéis e puna os transgressores.
 
Quando Caim assassinou o seu irmão, Abel, ousadamente negou sua culpa, pensando cegamente que poderia ocultar de Deus o seu crime. A Bíblia afirma: “E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra” (Gênesis 4:10).

“O trêmulo homicida percebeu que o Deus que tudo vê e tudo sabe via sua alma desnuda. Como podia Aquele que nota a queda de um pardal, que é o autor da vida, ficar surdo ao silencioso clamor do primeiro mártir (ver Sl 116:15)? O sangue é vida, e como tal é precioso para o grande Doador da vida (Gn 9:4). Contra toda desumanidade do homem para com o homem, em todas as eras, o clamor de Abel ascende a Deus (Hb 11:4). (Comentário Bíblico adventista do Sétimo Dia, vol. 1, p. 227). 

Portanto, a monstruosa desumanidade dos assassinos de centenas de jovens que resistiram a ditadura militar exige punição, “clama a Deus” por vingança.
Porém, se o Estado não fizer justiça aos que foram injustiçados pelo regime militar, podemos esperar pacientemente, sabendo que, se é preciso fazer justiça, Deus cuidará disto no tempo certo. Deus sabe que a transgressão não punida leva a iniquidade (Eclesiastes 8:11). Ele não permitirá que os homens maus empedernidos e impenitentes oprimam as pessoas para sempre.  No passado longínquo, Caim descobriu que as pessoas não podem esconder nada de Deus (Gn 4:9, 10) e que o divino Soberano endireitará todas as injustiças.

Por este motivo, o apóstolo Paulo nos aconselhou: “Meus queridos irmãos, nunca se vinguem de ninguém; pelo contrário, deixem que seja Deus quem dê o castigo. Pois as Escrituras Sagradas dizem: “Eu me vingarei, eu acertarei contas com eles, diz o Senhor.” (Rm 12:19, NVI). Deveras, a Bíblia fala sobre um dia de vingança da parte do Criador.

O Dia de Vingança de Deus

O profeta Isaías fala sobre  “ apregoar o ano aceitável do Senhor” e também sobre “o dia da vingança do nosso Deus” (Is 61:2). Em breve esse dia chegará, quando Cristo raiar nas nuvens do Céu com poder e grande glória (Mt 24: 29-31). O apóstolo Paulo mostrou por que Cristo ainda não veio: “O Senhor não demora a fazer o que prometeu, como alguns pensam. Pelo contrário, ele tem paciência com vocês porque não quer que ninguém seja destruído, mas deseja que todos se arrependam dos seus pecados” (2 Pd 3:9, NVI).

Portanto é urgente estudar as Escrituras Sagradas, aplicar seus ensinos, entregando-nos sem reservas a Cristo, desta forma preparando-nos agora o dia glorioso da volta de Jesus, em que Ele fará um ajuste de contas. Isto nos ajudará a acatar as palavras do salmista: “Não fique com raiva, não fique furioso. Não se aborreça, pois isso será pior para você. Aqueles que confiam em Deus, o Senhor, viverão em segurança na Terra Prometida, porém os maus serão destruídos” (Sl 37:8, 9).




Nenhum comentário:

Postar um comentário