Hans
K. LaRondelle
“Então, os três
espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom”
O termo “Armagedom”
ocorre apenas uma vez no livro do Apocalipse: “Então, os três espíritos os
reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom” (Ap 16:16). Os
intérpretes costumam traduzir esse nome como “Montanha de Megido”, mas isso não
indica o real significado da palavra Megido ou Magedon (Mageddon), como os
manuscritos gregos do Apocalipse o fazem. A versão grega do Antigo Testamento,
a Septuaginta, transcreve o nome da cidade de Megido como Mageddo (2Cr 35:22;
Jz 1:27; Js 12:21). Mas em uma ocasião ela parafraseia a expressão “a planície
de Megido” como “a planície da matança” ou destruição (Zc 12:11).
O nome Har-Megedon, no
original grego de Apocalipse 16:16, indica a natureza do evento que terá lugar
quando os espíritos demoníacos reunirem todos os poderes políticos do
anticristo contra Deus e o povo de Cristo. Segundo a providência de Deus, seu
destino será a extinção. Por isso, Isbon T. Beckwith conclui: “Ele é então um
nome imaginário para designar a cena da grande batalha entre o anticristo e o
Messias.”1
Robert H. Mounce vê o
Armagedom como o clímax da história da salvação: “Seja onde ocorrer, o
Har-Magedon é simbólico da subversão final de todas as forças do mal pelo poder
de Deus. O grande conflito entre Deus e Satanás, Cristo e o anticristo, o bem e
o mal, que está por trás do desconcertante curso da História, findará na luta
em que Deus sairá vitorioso e levará consigo todos os que nEle puseram sua fé.”
2
Figuras
do Armagedom
Com relação ao fundo
histórico da cidade de Megido, os expositores se referem principalmente à
histórica guerra de Israel contra os reis de Canaã, comemorada no cântico de
Débora (Jz 5). Quando a situação de Israel era sem defesa e sem esperança
contra Sísera (Jz 4:13), o Senhor interveio do Céu mediante chuva torrencial,
de forma que “o rio Quisom os levou” (Jz 5:19-21). Leon Morris e outros veem
essa vitoriosa guerra de Jeová como “um símbolo da derrota final de todas as
forças do mal por um Deus todo-poderoso”.3
Isso levanta a questão
de quão importantes são as guerras de Jeová na Bíblia hebraica. Se o Armagedom
é a luta divina final contra Seus inimigos declarados, então as batalhas
prévias de Jeová funcionam como tipos ou prefigurações de Seu conflito
apocalíptico. Os atos divinos de juízo e salvação são basicamente um em
natureza e propósito em todos os tempos. O cântico de Débora apontou para o
futuro, quando concluiu com uma passagem contendo perspectiva apocalíptica:
“Assim, ó Senhor, pereçam todos os Teus inimigos! Porém os que Te amam brilham
como o sol quando se levanta no seu esplendor” (v. 31).
Porém, o Armagedom será
diferente de seus tipos no Antigo Testamento porque toda a população mundial se
dividirá entre aqueles que são o povo do novo concerto e aqueles que são seus
inimigos declarados.
Contexto
apocalíptico
“Então, vi sair da boca
do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos
semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais,
e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do
grande dia do Deus Todo-poderoso. Eis que venho como vem o ladrão.
Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu,
e não se veja a sua vergonha. Então, [os três espíritos] os ajuntaram no lugar
que, em hebraico, se chama Armagedom” (Ap 16:13-16).
Essa seção registra uma
visão distinta, que parece interromper o fluxo entre a sexta e a sétima pragas.
Podemos entender o interlúdio com uma descrição de como os espíritos demoníacos
preparam o mundo para a última guerra divina. Visões subsequentes explicam mais
especificamente que o Armagedom é a confrontação final entre a Babilônia dos
últimos dias e o Messias (ver Ap 17:14; 19:11-21).
Mounce explica que “os
espíritos imundos procedem das bocas do ímpio triunvirato, sugerindo uma
propaganda enganadora e persuasiva que, nos últimos dias, levará os homens a um
comprometimento incondicional com a causa do mal”.4
O texto diz: “Eles se
dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do
grande dia do Deus Todo-poderoso” (Ap 16:14). Alguns entendem que essas
palavras predizem um conflito mundial entre as nações do Oriente e do Ocidente.
Tal especulação pode ser defendida apenas quando se retira a passagem de seu
contexto.
O clímax do Apocalipse
trata de um mal muito mais sério à vista de Deus: forças religiosas apostatadas
levarão todos os poderes políticos da Terra a se unir numa causa comum, movendo
guerra contra o povo de Deus! Essa é “a causa do mal” que provocará o
envolvimento de Deus e o juízo de Sua guerra santa contra Babilônia. Guerra
contra Deus é guerra contra Seu povo. Essa sempre foi a experiência do Israel
de Deus nas Escrituras e a razão da intervenção divina para livrar o povo fiel
do concerto. O fato de o povo de Cristo estar no centro da guerra apocalíptica
pode ser inferido na advertência de Jesus: “Eis que venho como vem o ladrão.
Bem-aventurado aquele que vigia guarda as suas vestes, para que não ande nu, e
não se veja a sua vergonha” (Ap 16:15).
Cristo convoca Seus
seguidores para que estejam espiritualmente preparados para o momento crítico e
final da História. Somente quando o cristão estiver revestido dos trajes da
justiça de Jesus, poderá ficar firme no derradeiro teste de fé. Beckwith
destaca a questão religiosa do Armagedom: “O ajuntamento de todas as forças da
besta para a batalha dará início à suprema crise para os santos.” 5 Inspirada
por Satanás, a união de todos os poderes políticos e religiosos volta-se contra
o povo de Cristo. Podemos ver seu significado somente à luz da batalha cósmica
entre Deus e Satanás, entre Cristo e o anticristo. Mervyn Maxwell conclui que
“a batalha do Armagedom não será a Terceira Guerra Mundial, porque no Armagedom
os reis da Terra são reunidos pelos demônios para lutar não uns contra os
outros, mas contra o Cordeiro”.6
A grande questão é:
Quem governará o Universo? A grande controvérsia começou no Céu e continuou na
Terra a partir da queda de Adão (Ap 12:7-9; Gn 3:15). Os anjos caídos
constantemente reúnem líderes políticos e militares para destruir a igreja de
Cristo. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o
Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e
fiéis que se acham com Ele” (Ap 17:14).
O
livramento
De que maneira os reis
da Terra farão guerra contra o Cordeiro de Deus? George B. Caird explica: “O
único modo pelo qual os reis terrenos podem travar batalha contra o Cordeiro é
através de Seus seguidores. A guerra é, portanto, outra referência à grande
perseguição.” 7 No início, João indicou a perseguição apocalíptica do Israel de
Deus por meio de novas leis estatais: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi
pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de
Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17).
A visão do Armagedom em
Apocalipse 19, bem como do segundo advento de Cristo, revela a resposta de Deus
à conspiração satânica contra Seu povo. Aqui o revelador representa Cristo como
o guerreiro divino, montando um cavalo branco de batalha, vindo para resgatar
Seu povo (Ap 19:11-19) e executar juízo sobre os ímpios (Sl 2:9; Is 11:4; 2 Ts
1:5 – 10 ) . O nome “ Fiel e Verdadeiro” (Ap 19:11) é a garantia de que Cristo
não falhará em retornar na hora de emergência universal. Ele é fiel e cumprirá
Suas promessas com arrebatadora magnificência e o brilho flamejante de Sua
aparência.
O Apocalipse focaliza a
real questão da grande controvérsia: “Vi a besta e os reis da Terra, com os
seus exércitos, congregados para pelejarem contra Aquele que estava montado no
cavalo e contra o Seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso
profeta… Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com
enxofre” (Ap 19:19, 20). Assim, o Armagedom é resultado da apostasia universal
contra Deus e Cristo. Nenhum conflito político ou militar entre nações
ocidentais e orientais preenche a condição fundamental para o Armagedom.
Essa será “a batalha do
grande dia do Deus Todo-poderoso”, a última praga a cair sobre Babilônia.
Aqueles que desejarem deixar a cidade sentenciada precisam fazê-lo antes que as
pragas comecem a cair e encerrar-se o tempo de graça para a humanidade. Deus,
em Sua providência, proveu um chamado final para o escape de Babilônia no tempo
do fim (Ap 18:2-4). Aqueles que obedecerem ao ultimato divino farão parte do
Seu povo remanescente. Para eles, o Armagedom será o dia do livramento!
Referências:
1 Isbon T. Beckwith, The Apocalypse of John (Grand
Rapids: Baker, 1979), p. 685.
2 Robert H. Mounce, The Book of Revelation, The New
International Commentary on the New
Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1977),
p. 302.
3 Leon Morris, The Revelation of St. John, Tyndale NT
Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1973), p. 200.
4 Robert H. Mounce, Op. Cit., p. 299.
5 Isbon T. Beckwith, Op. Cit., p. 684.
6 C. Mervyn Maxwell,
Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse (Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 1998), p. 459.
7 George Caird, The Revelation of St. John the
Divine(Nova York: Harper and Row, 1966), p. 220.
Hans K. LaRondelle –
Professor de Teologia, falecido em março de 2011. Texto publicado na Revista
Ministério de Jan/Fev-2012.
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