Teologia

sábado, 31 de janeiro de 2015

POR QUE OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA PREOCUPAM-SE EM PRESERVAR A SAÚDE DO CORPO E DA MENTE?



Ricardo André

O estilo de vida saudável dos Adventistas do Sétimo Dia (ASD) têm sido ao longo de mais de 50 anos objeto de muitos estudos. Estes revelam que os adventistas vivem mais que os não adventistas. E os resultados dos mesmos sugerem fortemente que os ASD estão vivendo mais por seguirem certos princípios dietéticos herdados a partir de suas crenças religiosas, como vegetarianismo, ênfase no consumo de grãos integrais, frutas, hortaliças e abstinência de tabaco e álcool. Um dos estudos mais notáveis foram com os adventistas californianos realizados décadas passadas. Os resultados desse grande estudo epidemiológico conduzido com a população ASD californiana evidenciou as vantagens dos vegetarianos no alcance de maior longevidade e de menor risco de câncer e doença cardíaca quando comparados com californianos não vegetarianos. Adventistas vegetarianos californianos tendem a ser menos obesos, bebem menos café, comem mais leguminosas e produtos à base de proteína vegetal. Além disso, exercitam-se com maior regularidade. Tanto a ausência de carne quanto a adição de frutas, castanhas e hortaliças parecem exercer uma grande influência na prevenção de câncer e doença cardíaca, bem como no aumento da longevidade. A longevidade dos ASD tem despertado atenção do mundo. Em anos recentes a mídia internacional e mesmo aqui no Brasil (SBT realidade, Fantástico, Revista National Geographic, entre outras) produziram matérias jornalísticas tratando do tema. Clique no link abaixo e confira a reportagem:


Existem mais de 300 artigos científicos abordando estudos sobre a saúde dos ASD publicados em periódicos científicos da Dinamarca, Holanda, Noruega, Japão, Austrália, além dos bem conhecidos estudos da Universidade de Loma Linda, Califórnia, EUA .

Mas, qual é a relação do cuidado com a saúde com o evangelho? Quais são as motivações dos Adventistas para obter um viver saudável? Existe base bíblica para a mensagem de saúde enfatizada pelos adventistas?

Deus se Interessa pela nossa Saúde

As Sagradas Escrituras revelam claramente que nosso amorável Deus tem interesse que usufruamos de boa saúde. No Antigo Testamento encontramos a seguinte recomendação divina: “dizendo-lhes: “Se vocês derem atenção ao Senhor, o seu Deus, e fizerem o que ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que eu trouxe sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor que os cura” (Êxodo 15:26, NVI).

Essa promessa de imunidade das doenças do Egito foi dada aos filhos de Israel assim que eles deixaram o cativeiro. Mas essa promessa não tinha como fonte simplesmente a intervenção sobrenatural; também dependia, talvez até especialmente, das leis naturais de saúde. Se eles seguissem o que o Senhor lhes ordenava fazer na área de saúde e saneamento, ao contrário do que faziam seus captores (por exemplo, enquanto os egípcios usavam excrementos humanos com propósitos medicinais, os hebreus deviam enterrar os seus fora do acampamento), seriam poupados das doenças que afligiam os egípcios.

Então, mesmo aqui podemos ver a preocupação de Deus não apenas pelo bem estar espiritual de Seu povo, mas também por seu bem estar físico, sua saúde. Essa ideia também é encontrada no Novo Testamento: “Amado, oro para que você tenha boa saúde e tudo lhe corra bem, assim como vai bem a sua alma” (3 João 3, NVI).

Evidentemente, é perfeitamente natural que Deus Se importe com nossa saúde física. Afinal, Ele nos criou como seres físicos. Antes do pecado, antes da queda, já tínhamos um corpo físico. Fomos feitos como seres carnais. Nossa queda não foi para a carne; foi uma queda “na” carne. Nosso corpo não é mau, a prisão da alma ou algo semelhante (como ensinam algumas religiões). Nosso corpo é o dom maravilhoso de um Deus amoroso que nos criou à Sua imagem e deseja que desfrutemos a existência física, pelo menos até onde for possível neste mundo caído.

As leis de saúde foram criadas por Deus, o mesmo que criou os Dez Mandamentos.  Como leis, ambas precisam ser obedecidas. Mas muitos seres humanos só entendem a importância das leis depois de sofrerem as consequências de as terem desrespeitado. Aqueles que descuidam do assunto da saúde estão aumentando a dificuldade para seu próprio crescimento espiritual e também sua preparação para a eternidade. Como cristãos cremos que ambos são dons de Deus  e estão muito relacionados. A ciência médica moderna prova que há uma íntima relação entre corpo e mente. Portanto, como nos sentimos fisicamente afeta nossa condição mental, e isso afeta também nossa condição espiritual. Tudo está relacionado, e não podemos negligenciar qualquer aspecto de nossa condição sem afetar também outros aspectos. Por isso que precisamos cuidar bem do nosso corpo, evitando determinados alimentos e bebidas  que são nocivos ao nosso corpo. Devemos abandonar os maus hábitos alimentares se queremos gozar de boa saúde e adorar ao nosso Criador com corpo e mente saudáveis.

A motivação Superior

Como a mente e corpo são dons de Deus, ambos destinam-se a ser preservadas nas melhores condições possíveis, para Seu serviço. Ademais, a Bíblia afirma categoricamente que nosso corpo é templo do Espírito Santo (1 Coríntios 6:19, 20). Ora, se nosso corpo é morada do Espírito Santo não podemos abusar dele, comendo e bebendo tudo aquilo que é prejudicial a ele. Como pode o Espírito Santo habitar num corpo destruído pelos maus hábitos alimentares? Esse domicílio não é só para nosso próprio benefício, pensamentos, planos e ações; nosso corpo é de fato, templo de Deus. Que privilégio e responsabilidade! Às vezes, cuidamos melhor da casa em que vivemos do que do nosso próprio corpo. Paulo enfatizou frequentemente esse tema e o expande mais, assinalando que não pertencemos a nós mesmos. "Voces não são de si mesmos; vocês foram comprados por alto preco" (I Co 6:19, 20, NVI).

Que preco foi pago para nossa redenção! Só quando contemplamos a cruz, e o que nela aconteceu. podemos começar a entender nosso valor diante de Deus. Esse pensamento só deve nos ajudar a entender a responsabilidade sagrada que temos de tomar cuidado de nós mesmos, não só espiritualmente, mas também fisicamente. 

Deus esvaziou o Céu e permitiu que o sangue de Jesus fosse derramado para nossa redenção. Não pertencemos a nós mesmos; fomos redimidos e pertencemos a Deus e Lhe devemos todo o nosso ser, inclusive a fiel mordomia no uso de nosso corpo.
 
Ellen G. White repetidas vezes mostrou claramente a direta relação existente entre os hábitos diários com a santificação: “Um corpo enfermo e um intelecto desordenado em virtude de contínua tolerância para com a nociva concupiscência tornam impossível a santificação do corpo e do espírito” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 44). Ademais, “Os que tem sido instruídos com relação aos efeitos prejudiciais do uso da alimentação cárnea, do chá e do café, bem como de comidas muito requintadas e insalubres, (...) Deus requer que o apetite seja dominado, e se pratique a renúncia. (...)É esta uma obra que tem de ser feita antes que o povo de Deus possa ser apresentado diante dEle perfeito” (Idem, p. 381).

O comprometimento dos ASD com a saúde é mais motivado pelo desejo de glorificar a Deus do que com a estética, ou com os aspectos físicos. “Paulo deixou claro que viver para a glória de Deus é o mais elevado alvo do cristão: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (1 Coríntios 10:31). Ellen White frequentemente salientava esta motivação como “a glória do abnegado amor. À luz do Calvário se patenteará que a lei do amor que renuncia é a lei da vida para a Terra e o Céu, que o amor que  ‘não busca os seus interesses’ tem sua fonte no coração de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 20) Os benefícios colaterais desta motivação superior incluem vida mais longa, menos doença, etc. Mas se a motivação superior é eclipsada, grande parte da reforma de saúde pode tornar-se egocêntrica e negligenciar o bem-estar dos outros. Cuidar da saúde é uma questão espiritual, e não apenas uma preocupação física” (Hebert E. Douglas, Mensageira do Senhor, p. 294).

A pergunta que levantamos é: Será que uma pessoa que contraiu osteoporose, insônia, nervosismo, entre outros males por causa do uso prologado do café glorifica a Deus? Evidentemente que não! Será que alguém que teve um infarto por causa do uso da coca-cola, carne, falta de exercício físico glorifica a Deus? Obviamente que não!

Conclusão

Ellen G. White, em harmonia com a Bíblia, relacionou em seus escritos coerentemente a ênfase na saúde com os aspectos do “evangelho eterno” (Ap 14:6-12) e com o crescimento espiritual,  bem como na importância de seguir princípios corretos no regime e no cuidado do corpo, e dos benefícios dos remédios da natureza – ar puro, luz do sol, exercício e o uso racional da água. Contudo, os Adventistas do Sétimo Dia ao ensinarem com base na Bíblia Sagrada e inspirados nos princípios delineados por Ellen G. White, que devemos adotar um viver saudável, cuidado do corpo, não quer dizer que ensinamos a salvação pelas obras. Longe disso! É parte da nossa crença fundamental que a salvação é somente pela fé. Cremos que nenhum de nós é suficientemente bom para merecer a salvação; ainda mais, nenhum de nós se torna bom o suficiente para merecê-la. A salvação tem que ser dom de um Deus amoroso e benevolente para com a raça caída de seres que, em seu íntimo, são corrompidos pelo pecado e que, por si mesmos, não tem nada para oferecer ao Senhor (Efésios 2:8-10). Porém essa graça salvadora, é o poder que nos habilita a obedecer a Deus. Guardamos os mandamentos de Deus, bem como as leis de saúde, não para nos salvar, pois eles não levam a vida eterna, mas é fruto de nossa relação salvífica com Deus. A obediência a Deus é fruto da fé (Tiago 2:17).



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