O matemático britânico
John C. Lennox, da Universidade de Oxford, defende com argumentos sólidos a
possibilidade de coexistência entre o conhecimento científico e a religião em
Por Que a Ciência Não Consegue Enterrar Deus. O objetivo do livro é fornecer um
amparo fortemente embasado para os cientistas, ou qualquer leitor, que sintam
necessidade de debater em favor de sua crença. Para o autor, alguns ateístas
têm um “fervor religioso” tão grande, que chegam a perseguir homens da ciência
que possuem algum tipo de fé. Em casos extremos, diz, eles não conseguem nem
aceitar que pessoas com uma crença possam ser inteligentes e construir
conhecimentos com base na realidade.
Ao longo dos capítulos,
o autor usa linguagem simples e citações de outros autores para mostrar que as
descobertas feitas pelo homem não excluem a existência de um Deus. Lennox
também expõe o que considera as fraquezas da ciência e revela que a maior parte
das respostas que ela oferece são especulações teóricas que precisam da fé da
comunidade científica para existir. Ele ainda ressalta momentos em que os
acadêmicos precisaram se desmentir e até voltar atrás com suas afirmações.
Entre os temas
discutidos estão o embate entre as cosmovisões, a organização da natureza e do
universo, a complexidade da biosfera, a origem da vida e do código genético e a
proximidade com a religião mantida por grandes cientistas como Francis Bacon,
Galileu Galilei, Isaac Newton e Clerk Maxwell.
Leia trecho inicial do
capítulo “Deus - Uma Hipótese Desnecessária?”.
A ciência tem alcançado
êxito impressionante na investigação do Universo físico e na elucidação de como
ele funciona. A pesquisa científica também levou à erradicação de muitas
doenças horríveis e nos deu esperanças de eliminar muitas outras. E a investigação
científica alcançou outro efeito numa direção completamente diferente: ela
serviu para libertar muita gente de medos supersticiosos. Por exemplo, ninguém
precisa mais pensar que um eclipse da Lua é causado por algum demônio
assustador, que necessita ser apaziguado. Por tudo isso e por inúmeras outras
coisas devemos ser muito gratos.
Porém, em algumas
áreas, o próprio sucesso da ciência tem também conduzido à ideia de que, por
conseguirmos entender os mecanismos do Universo sem apelar para Deus, podemos
concluir com segurança que nunca houve nenhum Deus que projetou e criou este
Universo. Todavia, esse raciocínio segue uma falácia lógica comum, que podemos
ilustrar como segue.
Tomemos um carro
motorizado Ford. É concebível que alguém de uma parte remota do mundo que o
visse pela primeira vez e nada soubesse sobre a engenharia moderna pudesse
imaginar que existe um deus (o sr. Ford) dentro da máquina, fazendo-a
funcionar. Essa pessoa também poderia imaginar que quando o motor funcionava
suavemente o sr. Ford gostava dela, e quando ele se recusava a funcionar era
porque o sr. Ford não gostava dela. É óbvio que, se em seguida a pessoa
passasse a estudar engenharia e desmontasse o motor, ela descobriria que não
existe nenhum sr. Ford dentro dele. Tampouco se exigiria muita inteligência da
parte dela para ver que não é necessário introduzir o sr. Ford na explicação de
funcionamento do motor. Sua compreensão dos princípios impessoais da combustão
interna seria mais que suficiente para explicar como o motor funciona. Até
aqui, tudo bem. Mas se a pessoa então decidisse que seu entendimento dos
princípios do funcionamento do motor tornavam impossível sua crença na
existência de um sr. Ford, que foi quem de fato projetou a máquina, isso seria
evidentemente falso - na terminologia filosófica ela estaria cometendo um erro
de categoria. Se nunca houvesse existido um sr. Ford para projetar os
mecanismos, nenhum mecanismo existiria para que a pessoa entendesse.
(Folha de S. Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/982331-matematico-polemiza-em-por-que-a-ciencia-nao-consegue-enterrar-deus.shtml)
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