Teologia

terça-feira, 3 de junho de 2014

INVESTIGANDO PROBLEMAS NO MORMONISMO HOJE



Wesley P. Walters

        A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias foi fundada com base nos ensinamentos do Livro de Mórmon, e a extraordinária história de sua tradução, por Joseph Smith, a partir das “placas douradas”, tem sido o ponto de principal atração do proselitismo Mórmon. Mas hoje, passados muitos anos desde que disseram que o Livro de Mórmon viera para restaurar as verdades fundamentais do Cristianismo, os líderes mórmons ainda crêem em suas declarações doutrinárias?

O Livro de Mórmon e a Doutrina Mórmon Contemporânea

        O Livro de Mórmon ensina, por exemplo, que:
(1) há um único Deus
(2) o qual é Espírito,
(3) é imutável de eternidade a eternidade (Alma 11:26-31; 2 Nefi 31:21;
Mórmon 9:9-11,19; Moroni 7:22; 8:18).


Hoje em dia a doutrina Mórmon, contrariamente, ensina que:
(1) há três deuses separados responsáveis pelo nosso planeta,
(2) dois deles têm corpos, outrora foram homens, e
(3) conquistaram o direito de se tornarem deuses através da fiel obediência ao evangelho mórmon.

Os mórmons agora também acreditam que há milhões e milhões destes deuses, cada qual tendo obtido natureza divina e criado planetas a serem regidos por eles. Homens mórmons esperam tornarem-se deuses eles mesmos, para então formarem e povoarem seus próprios mundos, com a cooperação  de suas esposas.

Joseph Smith, que originalmente ditou as palavras do Livro de Mórmon, mais tarde rejeitou seu ensinamento de que Deus é “imutável de eternidade a eternidade” (Moroni 8:18). Próximo do fim de sua vida, como relatado em Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, ele anunciou: “nós temos imaginado e suposto que Deus era Deus desde toda a eternidade. Eu irei refutar esta idéia . . . Ele uma vez já foi homem como nós” (p. 336). Os atuais deuses mórmons, portanto, são muitos, em vez de um só como criam antes, não são espírito e não são imutáveis como o próprio Livro de Mórmon ensina.

Além disso, o Livro de Mórmon insiste, plagiando o que já está na Bíblia, que toda a humanidade tenha que nascer outra vez, isto é, eles precisam ser mudados de seu estado carnal e decaído, caso contrário eles poderão de modo algum herdar o Reino de Deus. O livro proclama ainda uma necessidade de tornar-se uma nova criatura por ter nascido espiritualmente de Deus e por ter experimentado essa poderosa mudança em seus corações (Mosíah 27:24-28; Alma 5:14). No entanto, o mormonismo moderno passou a enfatizar que o batismo na água feito pela igreja Mórmon é indispensável para receber o novo nascimento, o que é totalmente inaceitável do ponto de vista bíblico.  “Ninguém pode nascer de novo sem batismo” (McConkie, Mormon Doctrine, p. 101). No próprio Livro de Mórmon, entretanto, o batismo é desnecessário para crianças e para Gentios (os que estão sem lei) porque para tal é inútil o batismo (Moroni 8:11-13, 20-22).

Novamente, o Livro de Mórmon declara que há somente dois destinos para a humanidade: felicidade eterna ou miséria eterna. Aqueles que morrem rejeitando Cristo recebem tormento eterno, sem uma segunda chance após a morte. Eles são “lançados no fogo, de onde eles não  retornam” e “vão para um lugar preparado para eles, o lago de fogo” (3 Nefi 27:11-17; Mosíah 3:24-27; 2 Nefi 28:22-23; Alma 34:32-35). Ao contrário de tudo isso, o mormonismo de hoje passou a crer que qualquer um pode usufruir de algum nível de glória, e que aqueles que já morreram podem ser resgatados da “prisão” quando os vivos realizam batismos por procuração  em favor deles.

Deste modo, o próprio Livro de Mórmon ensina haver muito pouco suporte para as pincipais doutrinas mórmons correntes. Muitas outras mudanças doutrinárias importantes envolvendo a natureza de Deus, oração, poligamia, autoridade etc. precisam ser discutidas aqui, mas o espaço é limitado.

Um Produto Do Século XIX?


Enquanto os líderes mórmons dão limitada atenção à teologia do Livro de Mórmon, seus próprios intelectuais têm tentado empregar a arqueologia americana para atribuir ao livro a aparência de uma antigüidade genuína. Seus esforços têm sido tão entusiastas que a Smithsonian Institution (seriíssima instituição científica norte-americana) achou necessário fazer um pronunciamento afirmando que o livro não  tem valor arqueológico.
Tentativas dos mórmons em estabelecer seu Livro como uma produção  antiga não tem tido grande peso diante do amontoado de evidências de que se trata realmente de uma peça de ficção  do século XIX. Dois importantes estudos apoiam essa origem humana.


As Próprias Descobertas de uma Autoridade Geral Mórmon


O primeiro deles consiste de dois manuscritos escritos por volta de 1922 pela Autoridade Geral Mórmon e apologista Brigham H. Roberts. É surpreendente saber que este defensor da fé mórmon argumentava implacavelmente que Joseph Smith teria sido, ele mesmo, o autor do Livro de Mórmon. A família de Roberts tem agora permitido exames sérios destes dois manuscritos que têm estado em sua posse desde sua morte em 1933. Eles têm sido publicados por intelectuais mórmons num livro intitulado Studies of the Book of Mormon (University of Illinois Press, 1985).

 
Roberts aborda quatro pontos principais num estudo de 375 páginas. Ele observa em seu primeiro manuscrito, “Book of Mormon Difficulties” (Dificuldades do Livro de Mórmon), que o relato do livro sobre os antigos Americanos está em conflito com o que é conhecido sobre eles a partir de recentes investigações científicas. O Livro de Mórmon os representa como pertencendo a uma cultura da Idade do Ferro, enquanto a arqueologia tem mostrado que eles haviam avançado apenas para a Idade da Pedra Polida quando da chegada do homem branco” (Studies, pp. 107-112).


A situação, ele descobriu, complicou-se mais ainda pelo fato do Livro de Mórmon declarar que os primeiros colonos chegaram ao Novo Mundo quando ele era inabitado. Os jareditas vieram para aquela parte onde o homem nunca tinha estado (Eter 2:5) e lutaram entre si até a sua extinção. Os Nefitas igualmente vieram para uma terra escolhida entre todas as outras (2 Nefi 1:5-11). Já que a chegada do último grupo é dita como tendo sido em mais ou menos 600 d.C., não  haveria tempo suficiente para o desenvolvimento dos 169 ramos conhecidos de linguagem no Novo Mundo, cada um deles com vários dialetos. Roberts confessou não  possuir quaisquer respostas para tantas discrepâncias. “Os mais recentes comentaristas autorizados”, ele disse, “deixa-nos, tanto quanto eu posso ver no momento, sem base para qualquer apelação  ou defesa—o novo conhecimento parece estar contra nós (Studies, p. 143). Até hoje a Arqueologia atual não  tem descoberto nada que contrarie as colocações de Roberts.


Havendo mostrado que o livro está em desacordo com o conhecimento científico recente, Roberts apresenta em seu segundo manuscrito, “Um Estudo do Livro de Mórmon”, que o livro combina com o conhecimento comum, aquilo que comumente se acreditava, no começo do século dezenove, sobre os aborígenes americanos. Esta crença incluía muitas idéias erradas de que os índios seriam descendentes das Tribos Perdidas de Israel e que eles teriam desenvolvido, em algum momento no passado, um alto grau de civilização.


Este conhecimento comum foi bem sintetizado, quase na forma de um livro de bolso, num livro do Reverendo Ethan Smith. Este trabalho, View of the Hebrews (Uma Visão sobre os Hebreus), estava impresso em sua segunda e ampliada edição  cinco anos antes do Livro de Mórmon ser publicado. Além disso, foi publicado na mesma cidade pequena onde Oliver Cowdery vivia. Cowdery era um primo de Joseph Smith Jr. e seu assistente na produção do Livro de Mórmon.

Numa análise ao longo de aproximadamente 100 páginas, Roberts mostra que o livro de Ethan Smith contém praticamente a “base do plano” do Livro de Mórmon (Studies, p. 240; 151-242), indicando que Joseph Smith plagiara a história fictícia de Ethan, não sendo, portanto, a revelação  de um anjo.


Ambos os livros apresentam os nativos da América como hebreus que vieram do Velho Mundo. Os dois alegam ter havido uma parte desmembrada do grupo civilizado e que se degenerou para uma condição  selvagem. A porção  selvagem teria destruído completamente a única civilizada após longas e terríveis guerras. Ambos os livros atribuem ao ramo civilizado uma cultura da Idade do Ferro. Os dois representam estes colonizadores do Novo Mundo como outrora havendo tido um Livro de Deus, uma compreensão do evangelho e a figura de um messias branco que os havia visitado. Ambos consideram os Gentios Americanos como tendo sido escolhidos por profecia para pregar o evangelho aos índios que eram remanescentes dos antigos Hebreus Americanos. Roberts, causando preocupação  a seus próprios colegas mórmons, faz perguntas incômodas concernentes a este e outros paralelos que ele encontrou: Pode tão numerosos e surpreendentes pontos de semelhança e sugestivo contato ser mera coincidência? (Studies, p. 242).


Como seu terceiro ponto principal, Roberts estabelece o fato (usando exclusivamente fontes Mórmons) de que Joseph Smith tinha imaginação suficiente para ter produzido o Livro de Mórmon. Ele descreve a criatividade de Smith como sendo tão forte e variada quanto a de Shakespeare, e não deve ser dado a suas histórias mais crédito do que o que pode ser dado ao literato inglês (Studies, p. 244).


Roberts fundamenta sua tese sobre a origem humana do Livro de Mórmon com uma discussão de 115 páginas sobre erros resultantes da mente não-treinada, contudo criativa, de Joseph Smith. Roberts aponta para a impossibilidade da jornada de três dias de Lehi de Jerusalém até a costa do Mar Vermelho uma viagem de 170 milhas a pé, com mulheres e crianças junto. Ele cita seu desembarque na América, a terra escolhida entre todas as outras, onde eles inexplicavelmente encontraram animais domesticados—“vacas, bois, asnos, cavalos, cabras, cabras monteses” (1 Nefi 18:25). Roberts encontra uma repetição amadorística do mesmo enredo da história, mudando apenas os personagens. O Livro, ele chama a atenção, tenta exceder os milagres da Bíblia e apresenta algumas incríveis cenas de batalhas. Em um momento, 2060 adolescentes lutaram em guerras por um período de mais de 4 a 5 anos sem que nenhum deles tenha sido morto (Alma 56-58). Isto levou Roberts a perguntar:


Tudo isto é uma história coerente. . . ou trata-se de um conto maravilhoso de uma mente imatura, inconsciente do quanto ele está exigindo da credulidade humana quando pede que homens aceitem sua narrativa como uma história verídica? (Studies, p. 283).


A questão surge para não ter nenhuma resposta. Roberts também mostra que o típico do reavivalismo da época de Smith são os desmaios e transes religiosos encontrados repetidas vezes no Livro de Mórmon. Neste ponto o manuscrito de Roberts cessa, mas não antes de nos tornar conscientes de como o Livro de Mórmon depende da cultura e da forma de pensamento da época em que foi escrito no que diz respeito ao conteúdo e estilo (Studies, p. 308).


A Bíblia Na Versão King James (Rei Tiago) Plagiada

Logo a seguir, bem nos calcanhares da análise de Roberts, há um estudo de H. Michael Marquardt, demonstrando, através de evidência muito forte, que a Bíblia na versão do Rei Tiago (uma das traduções mais bem aceitas e usadas em inglês) foi usada na composição do Livro de Mórmon.


Marquardt mostra que a parte do Livro de Mórmon que supostamente teria sido escrita durante o período do Velho Testamento é literalmente temperada com frases e citações da tradução  do Rei Tiago do Novo Testamento (ele lista 200 exemplos). Até as profecias que aparecem nesta parte apresentam as mesmas palavras que são usadas no Novo Testamento da Bíblia. Eis alguns dos muitos paralelos, indicando plágio: João Batista, por exemplo, é predito para vir e preparar o caminho para Um que é mais poderoso do que eu (1 Nefi 10:8/Lucas 3:16), de quem não  sou digno de desatar a correia dos sapatos (1 Nefi 10:8/João 1:27). Semelhantemente, haverá um rebanho e um Pastor (1 Nefi 22:25/João 10:16) e uma fé e um batismo (Mosíah 18:21/Efésios 4:5).

E mais, a vida e o ministério de Alma no período do Velho Testamento do Livro de Mórmon são virtualmente uma cópia da vida do apóstolo Paulo. Até as mesmas expressões tipicamente paulinas são encontrados nos lábios de Alma: fé, esperança e caridade (Alma 7:24/1 Coríntios 13:13), o poder de Cristo para a salvação  (Alma 15:6/Romanos 1:16), sem Deus no mundo (Alma 41:11/Efésios 2:12) etc.


Desarmonia Bíblica


Os que crêem no Livro de Mórmon têm tentado justificar tais anacronismos dizendo que, em traduções, quando a frase era suficientemente parecida com uma da Bíblia em inglês, Smith simplesmente empregou a frase bíblica familiar. Esta explicação não se justifica, já que não são usadas apenas frases do Novo Testamento, mas em muitos casos a interpretação neotestamentária da parte do Livro de Mórmon dita como sendo do tempo do Velho Testamento é também adotada e, ainda, aumentada.


Por exemplo, além da interpretação do Novo Testamento colocando Melquisedeque como um tipo de Cristo ter sido adotada, ainda foi aumentada, na porção do Velho Testamento do Livro de Mórmon, para incluir uma ordem inteira de sacerdotes depois da ordem de seu Filho , e uma explicação  foi adicionada sobre porque Melquisedeque foi chamado Rei de Justiça e Rei de Paz (Alma 12 e 13; cf. Heb. 7:2). Dessa forma, o material do Novo Testamento tem se tornado parte integrante do texto do Livro de Mórmon. Os conceitos do Novo Testamento, e não  somente frases ocasionais, tem sido transportados para dentro da parte do Livro de Mórmon correspondente ao Velho Testamento. Como resultado, isso não  é um caso de desdobramento gradual de doutrina como encontramos na Bíblia. No Livro de Mórmon, o Cristianismo é conhecido e maduro já desde a construção  da Torre de Babel.

Mais ainda, o Livro de Mórmon ocasionalmente comete erros graves em seu uso do material bíblico. Na Bíblia, por exemplo, em Atos 3:22 Pedro faz uma paráfrase das palavras ditas por Moisés em Deuteronômio 18:15, 18. Contudo, no Livro de Mórmon, em 1 Nefi 22:20, as palavras de Pedro são equivocadamente referidas como palavras literais de Moisés, parecendo indicar que alguém copiou o trecho de Atos para a parte do Livro de Mórmon que dizem ter sido escrita na época do Velho Testamento, em vez de copiar o trecho de Deuteronômio. O provável copista, que não  conhecia a Bíblia tão bem quanto pensava e sem se preocupar em averiguar se os termos usados por Pedro eram exatamente aqueles ditos por Moisés em Deuteronômio, acabou por comprometer a chance que ele queria de fazer com que os leitores acreditassem que aquela parte do Livro de Mórmon seria uma escritura original, antiga, do tempo do Velho Testamento. Do mesmo jeito, as palavras de Malaquias 4:1, na Bíblia, aparecem em 1 Nefi 22:15, no Livro de Mórmon. Só que, de acordo com os mórmons, 1 Nefi teria sido escrito numa época mais de cem anos anterior  . . . que Malaquias teria escrito seu livro bíblico, o que aponta para mais um caso em que o escritor do Livro de Mórmon teria copiado textos da Bíblia e que a data atribuída pelos mórmons a 1 Nefi não  pode ser verdadeira.


Na segunda parte de seu estudo, Marquardt aponta outro material recente, o qual foi usado no Livro de Mórmon. Uma variedade do patriotismo americano da Nova Inglaterra e a manifestação anti-maçônica ocorrida próxima à casa de Smith em 1827 são fatos contemporâneos que curiosamente parecem ter influenciado a redação do Livro, embora os mórmons insistam em atribuir ao mesmo uma origem antiga.


Mais evidentes ainda são os eventos da própria vida de Smith incluídos em seu trabalho. Martin Harris, uma testemunha do Livro de Mórmon, fez uma visita a intelectuais na cidade de Nova Iorque para checar a habilidade de tradução  de Smith. Tal visita aparece no Livro de Mórmon como uma predição, porém já foi provado que ela só foi realmente escrita no Livro depois de Martin retornar de sua viagem. E Smith adicionou uma profecia sobre ele mesmo como tendo sido chamado para ser o tradutor dos registros Mórmons (2 Nefi 3:11-15). Que o fácil é fazer profecias depois do evento já haver acontecido.


O Golpe Final


Talvez mais prejudicial de tudo seja a maneira como o Livro de Mórmon confunde a Velha e a Nova Aliança. O livro enfatiza que antes da vinda de Cristo os fiéis guardavam a lei de Moisés, mas também estabeleciam igrejas, ensinavam e praticavam o batismo cristão e agiam de acordo com doutrinas e eventos do Novo Testamento (2 Nefi 9:23 e Mosíah 18:17). Ora, é bíblica e historicamente comprovado que o conceito de igreja foi trazido por Jesus, e só faz sentido com Ele, já que a igreja é o corpo de Cristo e Ele é o Cabeça. As primeiras igrejas foram fundadas pelos apóstolos, e isso não  existia no Velho Testamento. O desdobramento gradual dos temas teológicos tão evidentes na Bíblia estão completamente ausentes no Livro de Mórmon. Na Bíblia a Velha Aliança é tirada para estabelecer a Nova Aliança (Hebreus 10:9). O Livro de Mórmon rompe esta ordem divina e mistura as alianças e suas ordenanças. O livro também usa linguajar típico do reavivalismo protestante e idéias contemporâneas da época de Smith. Tudo isso faz com que o Livro de Mórmon seja visto como se fosse portador de uma mensagem mais simples e mais contextualizada do que a Bíblia, mas somente para alguém que tem quase nenhum ou nenhum conhecimento das Sagradas Escrituras de Deus.


Entretanto, um exame cuidadoso deste Livro de Mórmon, cuja teologia tem sido, em grande parte, negligenciada pela própria Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, prova que realmente é uma peça de ficção sobre os primórdios da América. Através dos textos tomados emprestados da Bíblia e do material contemporâneo, e sua imitação  do estilo de linguagem da Bíblia King James, constituiu-se num poderoso atrativo para os sedentos de novidades em religião daquele tempo. Uma avaliação  cuidadosa, no entanto, mostra claramente que não  é, em nenhum sentido, uma revelação  autêntica de Deus.


É CRISTÃO O MORMONISMO?


Esta talvez pareça ser uma pergunta enigmática para muitos mórmons, bem como para alguns cristãos. Os mórmons dirão que eles incluem a Bíblia na lista dos quatro livros que reconhecem como Escrituras, que sua crença em Jesus Cristo é parte central de sua fé, e que isto é indicado pelo seu nome oficial, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.


Além disso, muitos cristãos têm escutado o Coral do Tabernáculo Mórmon cantar hinos cristãos, e ficam impressionados com a dedicação de muitos adeptos quanto às suas regras morais e sua forte estrutura familiar. Não  seria, então, por isso, o mormonismo uma religião cristã?


Para responder a esta pergunta de maneira correta e imparcial, precisamos comparar cuidadosamente as doutrinas básicas da religião mórmon com as do cristianismo bíblico, histórico. Para representar a posição mórmon nós temos recorrido aos mais bem conhecidos escritos doutrinários do mormonismo, incluindo a edição  de 1988 do livro Princípios do Evangelho, cujos direitos autorais estão em nome da Corporação  do Presidente de a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Faremos esta comparação  em dez áreas fundamentais de doutrina.

1. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que há um só Deus vivo e verdadeiro, e que além dEle não  há outros deuses (Deuteronômio 6:4; Isaías 43:10, 11; 44:6, 8; 45:21, 22; 46:9; Marcos 12:29-34).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que há muitos deuses, e que os seres humanos podem vir a ser deuses e deusas no Reino Celestial. Eles ensinam ainda que aqueles que alcançam a divindade teriam o que eles chamam de “filhos espirituais” que adorariam e orariam a eles, assim como nós adoramos e oramos a Deus Pai (o Livro de Abraão, 4:1-5:21 em A Pérola de Grande Valor; Princípios do Evangelho, pp. 9, 11, 290).

2. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que Deus é espírito (João 4:24; 1 Timóteo 6:15, 16), que não  é um homem (Números 23:19; Oséias 11:9; Romanos 1:22, 23) e que sempre (eternamente) existiu como Deus—onipotente, onipresente e onisciente (Salmo 90:2; 139:7-10; Apocalipse 19:6; Malaquias 3:6).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que Deus Pai foi um homem como nós, que progrediu até tornar-se um Deus e, mesmo nessa condição , continua a possuir um corpo de carne e osso. (“O próprio Deus já foi como nós somos agora — ele é um homem exaltado, entronizado em céus distantes!” Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, compilado por Joseph Fielding Smith, pp. 336). Em Doutrina e Convênios (D&C) 130:22 é dito que “o Pai tem um corpo de carne e ossos, tangível, como o do homem”; também a citação  famosa de Lorenzo Snow, “Como o homem é, Deus foi; como Deus é, o homem poderá vir a ser” (Regras de Fé de James Talmage, p. 389). Para completar, o mormonismo ensina que Deus tem um pai, um avô, e assim sucessivamente (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p. 365).
3. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que Jesus é o único e verdadeiro Filho de Deus; Ele tem sempre existido como Deus, e é co-eterno e co-igual com o Pai (João 1:1-14; 10:30; Colossenses 2:9). Ainda que nunca haja sido menos que Deus, no tempo indicado pôs de lado a glória que compartilhava com o Pai (João 17:4, 5; Filipenses 2:6-11) e foi feito “semelhante aos homens” para realizar a obra da nossa salvação. Sua encarnação  (não  confundir com “reencarnação”) se fez realidade quando foi sobrenaturalmente concebido pelo Espírito Santo e nasceu de uma virgem, chamada Maria (Mateus 1:18-23; Lucas 1:34, 35), conforme havia sido predito pelos profetas no Antigo Testamento (Isaías 7:14; 9:6; Mateus 2:6; Miquéias 5:2).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que Jesus Cristo é nosso irmão mais velho, e que progrediu até chegar a ser um deus, havendo primeiro sido gerado como um “filho espiritual” por meio do Pai e de uma mãe celestial, e depois concebido fisicamente pelo Pai e pela virgem Maria. A doutrina mórmon afirma que Jesus e Lúcifer são irmãos (Princípios do Evangelho, pp. 9, 15, 16, 54, 57).

4. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que o Espírito Santo é Deus e é onipresente (1 Reis 8:27; Salmo 139:7-10; Jeremias 23:24; Atos 5:3, 4).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que o Espírito Santo é um espírito com forma de homem, que não  pode estar em todas as partes ao mesmo tempo, mas apenas a sua influência é presente em todo lugar (Princípios do Evangelho, p. 34; Doutrinas de Salvação, Vol. 1, pp. 42-45, por Joseph Fielding Smith).

5. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que o Pai, o Filho e o Espírito Santo não  são deuses separados, e sim Pessoas distintas de um só Deus Triúno. Em todo o Novo Testamento o Filho e o Espírito Santo, bem como o Pai são identificados separadamente como Deus, e agem como Deus (Filho: Marcos 2:5-12; João 20:28; Filipenses 2:10, 11; Espírito Santo: Atos 5:3, 4; 2 Coríntios 3: 17, 18; 13:14); mas, ao mesmo tempo, a Bíblia ensina que existe um só Deus, e que os três são manifestações distintas do mesmo e único Deus (veja novamente o ponto no 1).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três deuses separados (Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, pp. 361-362; Mormon Doctrine, pp. 576, 577).

6. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que a queda do homem foi um grande mal, e que através disso o pecado entrou no mundo, pondo todos os seres humanos debaixo da condenação  e da morte. Assim, todos os seres humanos nascem com uma natureza pecaminosa, e serão julgados pelos pecados que cometem, individualmente (Ezequiel 18:1-20; Romanos 5:12-21).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que o pecado de Adão era “um passo necessário no plano da vida e uma grande bênção  para toda a humanidade” (Princípios do Evangelho, p. 31; Doutrinas de Salvação, Vol. 1, pp. 114, 11; Livro de Mórmon, 2 Néfi 2:25).

7. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que a obra redentora de Cristo é, antes de mais nada, a solução  provida por Deus para o problema do pecado da humanidade. Por haver tomado os pecados pessoais de todos os homens — passado, presente e futuro — em Seu próprio corpo na cruz (1Pedro 2:24), Cristo, como o prometido Cordeiro de Deus sem mancha, cumpriu totalmente as exigências da Justiça Divina, para que todos aqueles que pela fé O receberem possam ser perdoados, restaurados à comunhão com Deus e desfrutar de vida eterna com Ele para todo sempre (2 Coríntios 5:21; Apocalipse 21:1-4).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que a obra redentora de Cristo apenas garante o que ela chama de “salvação  geral”,que consiste no fato das pessoas serem ressuscitadas — acontecendo para todos, indiferente de terem aceito Jesus Cristo pela fé. Para eles, a obra redentora não  é suficiente em si mesma para dar a vida eterna. Em vez disso, seria preciso acrescentar as nossas boas obras (Princípios do Evangelho, pp. 69, 291-292; Regras de Fé, pp. 86, 88-89).

8. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que nós somos salvos do nosso pecado e morte espiritual pela provisão graciosa de Deus de perdão e vida eterna. Não  podendo ser merecida nem conquistada pelas nossas obras (Efésios 2:8, 9). Os 10 Mandamentos nos foram dados para mostrar que somos incapazes e incompetentes para cumprir os desígnios da perfeita e santa Justiça de Deus por nossos próprios esforços, evidenciando nossa fraqueza e nos fazendo reconhecer que somos inteiramente dependentes dEle (Romanos 3:20; 5:20; 7:7, 8; Gálatas 3:19). Os sacrifícios do Antigo Testamento apontavam para a provisão graciosa do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29; Hebreus 9:11-14; 10:1-14). Não  podemos contribuir praticamente em nada para a nossa salvação  porque, sem Cristo, somos espiritualmente “mortos em nossos pecados” (Efésios 2:1, 5); um novo coração , o qual deseja obedecer às leis de Deus, é resultado concreto da salvação  (entretanto, é correto que, sem evidências de mudança na conduta, o testemunho de fé em Cristo do indivíduo pode muito bem ser questionado; salvação  pela graça somente através da fé não  significa que nós podemos viver como “nos der na cabeça” — Romanos 6:1).

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que todo homem receberá a salvação, referindo-se a ela como sendo nada mais que “uma conexão inseparável do corpo e do espírito, propiciada pela expiação  e ressurreição  do Salvador” (Princípios do Evangelho, p. 359). Mas, para obter a salvação  “máxima”, que eles chamam de exaltação  e que significaria “morar na presença de Deus”, a única possibilidade é se a pessoa perseverar “em fidelidade, guardando todos os mandamentos do Senhor até o fim de sua vida terrena” (Princípios do Evangelho, p. 292). As obras seriam requisitos para se poder “morar na presença de Deus” (Terceira Regra de Fé; Doutrinas de Salvação, Vol. 2, p. 5).

9. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que a Bíblia é a única, final e infalível Palavra de Deus (2 Timóteo 3:16; Hebreus 1:1, 2; 2 Pedro 1:21) e que ela permanecerá para sempre (1 Pedro 1:23-25). A preservação  providencial, por parte de Deus, do texto bíblico tem sido maravilhosamente confirmada pela Arqueologia e pela História, a exemplo da descoberta dos Rolos do Mar Morto.

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que a Bíblia foi adulterada, tem perdido muitas de suas verdades e que não  contém o Evangelho em toda a sua plenitude (Doutrinas de Salvação, Vol. 3, pp. 190, 191; Livro de Mórmon,1 Néfi 13:26-29; Ensinamentos do Profeta Joseph Smith, p. 12).

10. A Bíblia ensina, e os cristãos evangélicos têm crido através dos tempos, que a Igreja verdadeira foi divinamente estabelecida por Jesus e por isso nunca pôde, nem jamais poderá desaparecer da terra (Mateus 16:18; João 17:11; 1 Coríntios 3:11). Os cristãos genuínos admitem que têm havido tempos de corrupção  e apostasia dentro da Igreja, mas crêem também que sempre tem existido, pela vontade de Deus, um remanescente de pessoas que guardam e propagam os princípios fundamentais da verdadeira doutrina de Cristo contida no Evangelho.

Ao contrário, a Igreja Mórmon ensina que houve uma grande e total apostasia na igreja estabelecida por Jesus Cristo; este estado de apostasia “ainda prevalece, exceto para aqueles que se voltarem para um conhecimento do 'evangelho restaurado' pela Igreja Mórmon” (Mormon Doctrine, p. 44; Princípios do Evangelho, pp. 100-101; Doutrinas de Salvação, Vol. 3, pp. 269-275).

Conclusão:


Os pontos que apareceram em itálico constituem o Evangelho normalmente crido por todos os cristãos evangélicos através dos tempos, independentemente de rótulos denominacionais. Por outro lado, algumas religiões, como o mormonismo, pretendem passar-se por cristãs em suas crenças e práticas, mas dão mais autoridade a outros escritos do que à Bíblia, ensinam doutrinas que contradizem os ensinos bíblicos, e têm crenças completamente estranhas e contrárias aos ensinos de Jesus. A maioria destas seitas se tem originado nos últimos 200 anos (a Ciência Cristã, as Testemunhas de Jeová, os mórmons etc.), e estas, sim, representam uma evidente apostasia.


Os mórmons e os cristãos evangélicos têm em comum importantes termos bíblicos e preceitos éticos. Contudo, os pontos já mencionados são alguns exemplos das múltiplas diferenças fundamentais e inconciliáveis entre o cristianismo bíblico e o mormonismo. Embora tais diferenças não  nos impeçam de termos amizade com mórmons, não  podemos considerá-los irmãos em Cristo. A Bíblia nos adverte especificamente sobre falsos profetas que ensinariam “um outro evangelho”, centrado em “um outro Jesus” e testemunhado por “um outro espírito” (2 Coríntios 11:4, 13-15; Gálatas 1:6-9). A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias afirma que seu Livro de Mórmon é “um outro testamento de Jesus Cristo”. Nós cremos que, na realidade, trata-se de um “testamento de um outro Jesus”, e que o mormonismo não  é cristão.

É dito que se alguém se diz mórmon (ou candidato a tal), mas não aceita todos os dogmas básicos do mormonismo, tais como:

* Joseph Smith foi um profeta de Deus;
* O Livro de Mórmon é verdadeiro e divinamente inspirado;
* Deus já foi um homem que progrediu até a divindade através da obediência às leis e ordenanças da Igreja de
Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias;
* a Igreja Mórmon foi divinamente estabelecida, então os demais mórmons rejeitariam sua reivindicação de ser um “santo dos últimos dias”.

Um indivíduo não  pode se dizer mórmon se não  crê cegamente nas estranhas doutrinas fundamentais que todos os mórmons crêem. Da mesma maneira, se os “santos dos últimos dias” não  crêem nas verdades bíblicas essenciais defendidas por todos os cristãos genuínos, como podem esperar que sejam aceitos como irmãos em Cristo?
Os Mórmons acreditam que os “outros” cristãos são seguidores de doutrinas apóstatas. Por que, então, querem ser considerados parte do corpo de Cristo? Há três possibilidades:
*  Para dar conforto e legitimidade a eles mesmos, pessoalmente, pelo fato de pertencerem a uma “religião legítima”.
*  Para reforçar a aparência de uma religião legítima, facilitando seu vasto proselitismo.
*  Porque crêem que os mórmons são os únicos cristãos verdadeiros.       

Se os mórmons se julgam os únicos cristãos verdadeiros, então não deveriam esforçar-se por passar-se como parte da Igreja Cristã. Em lugar disso, deveriam proclamar abertamente a todo mundo que os cristãos evangélicos são nada mais que apóstatas, e que os mórmons são os únicos e verdadeiros cristãos. Na realidade, isto é o que eles ensinam reservadamente (em particular), mas não abertamente.

Se os mórmons, especialmente sua liderança, têm consciência destas verdades, por que pretendem ser entendidos como parte integrante do que o mundo em geral considera como sendo a Igreja Cristã, quando sabem que não o são? A lógica leva-nos a concluir que sua motivação  parece ser uma combinação  das três possibilidades já mencionadas, especialmente a segunda, que é converter mais e mais pessoas à seita do mormonismo.

 



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