Teologia

domingo, 8 de junho de 2014

CUIDADO COM AS ARMADILHAS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE



Ricardo André

Estudos recentes apontam um crescimento acentuado das chamadas igrejas neopentecostais, o que tem despertado a atenção dos estudiosos do assunto. Nos últimos dez anos os pentecostais cresceram de 6% para 10,6% da população brasileira, conforme a recente publicação do Atlas da filiação religiosa e indicadores sociais do Brasil  da CNBB. A que se deve esse crescimento exponencial do neo-pentecostalismo? No meu entendimento, há diversos fatores que contribuem para esse fenômeno. Primeiro, como mostra o estudo são as condições socioeconômicas. As igrejas neo-pentecostais têm crescido bastante nas regiões metropolitanas, onde vivem as pessoas de menor renda. Segundo, a maciça utilização da mídia televisiva. Indubitavelmente, o uso cada vez maior de horários de televisão por parte dessas igrejas tem favorecido o rápido crescimento. Comentando sobre a influência da televisão na mente e no comportamento das pessoas, até mesmo em relação a Deus, Eugênio Bucci, no seu artigo “A fabricação e o consumo de Deus”, publicado na Revista Nova Escola, de 2001, p. 54, escreve:

“Estamos testemunhando (o termo é bem apropriado) a fabricação de uma nova face do divino, de um novo padrão de culto e de um novo tipo de religiosidade, que combina imagem eletrônica, entretenimento e consumo. Esse fenômeno só foi possível graças à TV, pois só nela a experiência mística pode se converter (outro termo bem apropriado) em entretenimento e, ao mesmo tempo, em objeto de desejo. Trata-se de uma nova modalidade de obscenidade. Se, como sabemos, nada pode ser mais íntimo do que a experiência mística, a transformação da fé em exibicionismo é a pior forma de escancarar a intimidade. É o suprassumo da obscenidade”.

Terceiro, a competente administração empresarial dessas igrejas é algo relevante. Todavia, acredito profundamente que a utilização da “teologia da prosperidade” seja a causa precípua desse sucesso, as outras dependem fundamentalmente dela. O movimento da Teologia da Prosperidade no Brasil tem crescido vertiginosamente, a ponto de preocupar tanto católicos como também igrejas evangélicas tradicionais. Algumas frases, costumes, jargões e formas de culto que mais se assemelham a shows, têm, inclusive, encontrado simpatizantes nos meios evangélicos mais ortodoxos.

I - O que é a Teologia da Prosperidade?

A Teologia da Prosperidade é um conjunto de princípios que afirma que o cristão possui o direito de obter felicidade integral e de exigi-la enquanto estiver vivo. Para atingir esses princípios, é preciso que confie incondicionalmente em Jesus Cristo.

O movimento da Teologia da Prosperidade originou-se na década de 1940, nos Estados Unidos, mas a efetiva introdução no meio evangélico, no Brasil se deu na década de 70, e possui um forte caráter de autoajuda e valorização do indivíduo, agregando crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da confissão da "Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para recebimento das bênçãos almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito a tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material, poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em contrapartida, dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da bênção, pois isto acarretaria em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos e ofertas e Deus cumprindo suas promessas.

Alexandre Carneiro de Souza afirma que “O discurso central dessa nova teologia é a crise econômica. A Adhonep e as igrejas em geral adeptas do culto pró-prosperidade veiculam um discurso enfático que visa especialmente àqueles que vivem crises e almejam melhores condições de vida, atrelando as mudanças positivas aos efeitos milagrosos da fé. Essa dimensão é perceptível no depoimento de um entre milhares de empresários convertidos ao pentecostalismo [...]. As pessoas que estão se deslocando para as igrejas pentecostais, são oriundas das camadas médias,  que  constituem as categorias sociais mais expostas às crises econômicas do que quaisquer outras” (Uma versão pentecostal burguesa no Brasil  Ideias Preliminares”. Revista Espaço Acadêmico, nº. 58, março de 2006, p. 1).

II - As igrejas que pregam a Teologia da Prosperidade

A primeira e principal igreja a abraçar essa doutrina e a adaptar à realidade brasileira - além de inserir metodologia e práticas próprias -  foi a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fundada pelo bispo Edir Macedo em 1977. Temas como redenção, arrependimento, santificação e cuidado do corpo são raramente tratados nas igrejas que adotam a Teologia da Prosperidade.

A Igreja Renascer em Cristo, liderada pelo casal Sonia e Estevam Hernandez, foi uma das que mais prosperou nos últimos anos. Com um início modesto em uma pizzaria, a igreja cresceu financeiramente e também em número de adeptos. Hoje a Renascer conta com cerca de 2 milhões de fiéis, tanto no Brasil quanto em outros países, sendo proprietária de várias emissoras de rádio e rede de televisão. O casal fundador da Renascer foi preso num aeroporto dos EUA, onde foram pegos entrando naquele país com dinheiro não declarado, cerca de 50 mil dólares.

Há outras igrejas neo-pentecostais que aderiram a Teologia da Prosperidade, como Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Igreja Mundial do Poder de Deus, Nova Vida, Bíblica da Paz, Cristo Salva, Cristo Vive, Verbo da Vida, Nacional do Senhor Jesus Cristo e a ADHONEP (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno) é uma entidade fundada em 1952 pelo empresário Demos Shakarian, estadunidense de ascendência de armênia, com o objetivo de fortalecer valores através da sinergia entre empresários, autoridades e homens que compartilham experiências de sucesso. No Brasil começou de forma efetiva em 1982, na liderança do empresário e presidente nacional Custódio Rangel Pires. Seu empenho e grande zelo fizeram da Associação uma grande força no país e também em toda América Latina. A ADHONEP publicou o livro Sete Chaves para torná-lo Rico. 

III – As Implicações da Teologia da Prosperidade

Todos os líderes midiáticos (falsos pastores) enriqueceram-se a custa dos membros incautos. O dízimo arrecadado serve apenas para seus deleites e manutenção de suas prerrogativas. O objetivo dessa gente é escuso, por detrás da cortina de seus "ministérios ungidos" estão motivos e compromissos materiais que os escravizaram mesmo pregando uma mensagem de liberdade. Enriqueceram-se a custa dos símplices do Evangelho (2 Pe 2.3). Distorções bíblicas, aberrações teológicas e verdadeiras loucuras são oferecidas em forma de disfarçados amuletos, unções sem fundamento, seminários de grupo fechado e tantas outras invenções para se ganhar dinheiro dos irmãos do despercebido universo religioso. Campanhas de oração, jejum, cultos de cura interior e corrente de libertação tocados à base de ofertas com valores estipulados. 

Esses pregadores da prosperidade vão as suas e igrejas, encher o povo de motivação com historias do antigo testamento, e depois no fim, pede ofertas, votos, um sacrifício para que Deus mova a mão sobre eles. Com discursos encorajadores, e com promessas de salvação ou de retorno em dobro dos bens, a máxima “é dando que se recebe” tem tomado conta das orações.

Não vejo problema algum qualquer pessoa ter a vontade de possuir bens materiais, uma vida confortável e até acredito que quem esteja em comunhão e harmonia com Deus seja contemplado com a bênção dEle, porém, pregar que quem dizima terá sua área financeira multiplicada é contraditório ao que Cristo instruiu. Isso é avareza. Até onde eu sei ele ensinou sobre uma realidade espiritual, sobre um reino espiritual, não sobre riquezas ou sobre ouro e a prata.

Uma leitura mesmo superficial dos evangelhos, mostra a total despreocupação de Jesus pelos bens materiais. Mesmo o seu reino, não era desse mundo. A quem quisesse segui-lo aconselhava a vender seus bens e dá-los aos pobres. Disse que a riqueza dificultava a entrada no reino de Deus (Mt 19:16-24; 6:19-21). Aos pobres, famintos e sofredores recomendou paciência. É evidente que essa doutrina é diametralmente oposta à teologia da prosperidade. Isso não significa que a riqueza, a saúde e o bem estar devam ser repudiados pelo cristão, pois que são necessárias, mas não pode fazer disso a razão principal da sua vida. Jesus instruiu os Seus seguidores a buscar “primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6:33).

Para os adeptos da Teologia da Prosperidade, a graça mencionada é sinônimo de bens materiais em profusão derramadas por um deus que não fica constrangido em manter uma relação comercial com seus fiéis. A pior consequência, segundo a Teologia da Prosperidade, ao que não for fiel, não é a separação de Deus e a possibilidade de ficar fora de seu reino, mas é a de não receber bênçãos materiais que lhe proporcione status e comodismo neste mundo. Nesse contexto, arrependimento, conversão e provação são temas raramente tratados nessas igrejas. Acreditamos profundamente que Deus tem propósito de conceder bênçãos, tanto espirituais como materiais aos seus filhos. Contudo, nem sempre as riquezas materiais fazem parte dos desígnios de Deus para nós. Bênçãos não são, necessariamente, sinônimo de riqueza e não significam também que sempre, em todas as coisas seremos vencedores ou conseguiremos tudo o que  queremos no momento em que queremos. Não é saudável para o cristianismo criar uma ideia de comodismo ou de conformismo, mas também não o é saudável termos uma interpretação errada das Escrituras e pensar que Deus pode e vai satisfazer todos os nossos caprichos, como se esse fosse o seu principal objetivo.

A Bíblia nos orientar a pedir as bênçãos a Deus, ou seja, aquilo que necessitamos, mas precisamos submetê-los à “vontade de Deus” (1 Jo 5:14).  

O bispo Edir Macedo, maior expoente da Teologia da Prosperidade no Brasil, descobriu a receita para abordar os fiéis de maneira eficaz e a expõe da seguinte maneira:

“Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d'Ele tudo aquilo que Ele tem prometido [...]. O ditado popular de que 'promessa é divida' se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você [...] Dar dízimos é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia [...] Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores [...] Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d'Ele aquilo que prometeu? O dizimista! [...]. Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários, como o sr. Colgate, o sr. Ford e o sr. Caterpilar” (Edir Bezerra Macedo. Vida com abundância. Rio de Janeiro: Universal Produções,1990, p. 36).

E complementa o bispo Macedo:

“Ele (Jesus) desfez as barreiras que havia entre você e Deus e agora diz volte para casa, para o jardim da Abundância para o qual você foi criado, e viva a Vida Abundante que Deus amorosamente deseja para você [...]. Deus deseja ser nosso sócio [...]. As bases da nossa sociedade com Deus são as seguintes: o que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d'Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, e tudo de bom) passa a nos pertencer” (Idem, pp. 25, 85-86).

Usar o dízimo como barganha é o cúmulo do contrassenso! Isso é apostasia!! O dízimo é bíblico e está dentro dos planos de Deus para, sobretudo, ensinar aos homens o altruísmo e o desprendimento, mas se constitui como uma devolução de algo que já pertence a Deus. Não é, portanto, uma doação e, muito menos, mercadoria de barganha ou de prática de ágio, através da qual se pode obter vantagens financeiras. Associar bênçãos a valores financeiros ou estimular o povo a trocar o material pelo espiritual não tem nada a ver com o Cristianismo bíblico e sim com charlatanismo.

Mas os teólogos da prosperidade, sobretudo os da IURD, aprenderam, desde o princípio de sua história, a explorar a fé dos fiéis fazendo apelos emocionais e até ameaças com o desprezo e o castigo divinos aos que não entregarem, não apenas o dízimo, mas em muitos casos, grandes somas de dinheiro à igreja. Torna-se impossível não evidenciar que essa relação agrega um forte simbolismo ao dinheiro: o fiel propõe trocas com Deus para conseguir a bênção desejada. Neste discurso, a soberania de Deus é compartilhada pelo fiel na relação de troca. É incentivado que o fiel se acomode ao mundo das novas tecnologias, acumule riquezas, more melhor, possua carro e não tenha sentimento de culpa por não negar o mundo; pelo contrário, a conduta ascética tem diminuído entre os pentecostais desde a década de 70.

O bispo Edir Macedo afirma ainda que “Desta feita, Deus, na IURD, é um instrumento nas mãos do fiel. Ironicamente, Ele, Deus, deve ser obediente e cumprir todas as exigências feitas pelo fiel, principalmente daquele que paga o dízimo: Tudo que fazemos, seja correntes ou campanhas, é com espírito de luta,  exigindo de Deus  aquilo que Ele nos prometeu” (Idem, 22).  . 

Que absurdo! O crente não tem nenhum direito de fazer exigências a Deus. Tem sim, a liberdade para pedir com humildade a Deus, reconhecendo que Ele é Criador e Mantenedor de tudo e de todos, e “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28). Deus é Soberano e não se submete às nossas caprichosas exigências, e nem por isso deixa de ser Fiel àquilo que prometeu.  É preciso que entendamos que qualquer bênção vinda de Deus é graça e não um direito que nós temos e que podemos reivindicar ou exigir dele. Isso é um erro crasso da Teologia da Prosperidade.

Por outro lado, afirmar que é possível uma vida de plena felicidade e abastança, é uma utopia que só será possível na eternidade, mesmo porque, enquanto aqui  vivermos, felicidade nem sempre é acompanhada de abastança e abastança não é sinônimo de felicidade.

A cruz é uma realidade na vida de todos, principalmente na vida dos que querem amar e servir ao Senhor Jesus, padecerão  perseguições (II Timóteo 3:12). Ela poderá se manifestar de diversas formas, seja pela doença, pela pobreza ou dificuldades financeiras, ou até mesmo por manifestações diretas e claras de Satanás. A Teologia da Prosperidade atua na contramão dos ensinamentos de Jesus Cristo que revela que “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33).
                                                                
Conclusão

Lamentavelmente esta teologia tem se difundido rapidamente pelo Brasil e pelo mundo. Isso é visto pela grande expansão do número de fiéis e da área de abrangência das igrejas. Apesar de até o presente só ter melhorado a vida dos seus pregadores e fracassado em fazer o mesmo com a vida dos seus seguidores, a teologia da prosperidade continua a influenciar as igrejas evangélicas no Brasil. Este estudo tem exatamente o objetivo alertar os cristãos dos perigos para a vida espiritual que esses ensinamentos podem trazer, uma vez que são contrários aos ensinamentos de Jesus Cristo registrados nos evangelhos.

As igrejas promotoras da Teologia da Prosperidade se constituem numa religião apostatada e muito distante do Cristianismo bíblico que dificilmente poderiam ser consideradas como tal. Representam um cristianismo enfermo. Até quando as pessoas vão se submeter ao mercado da fé? Pessoas humildes estão pagando caro por campanhas intermináveis. Mal termina uma e já começa outra. Assim muitos estão acreditando que conseguirão comprar a cura ou a libertação; vivem uma fé paga e práticas falsas, anti-bíblicas onde a regra é trocar o material pelo espiritual.
Nossa oração é no sentido de que os milhares de cristãos sinceros que foram enredados nesse engano dos “últimos dias”, possam se libertar pelo poder de Deus.



2 comentários:

  1. Mateus: 19:23:24

    Então disse Jesus aos seus discípulos: “Com toda a certeza vos afirmo que dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. E lhes digo mais: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”

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  2. Mateus: 19:23:24

    Então disse Jesus aos seus discípulos: “Com toda a certeza vos afirmo que dificilmente um rico entrará no Reino dos céus. E lhes digo mais: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”

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