Teologia

sábado, 9 de maio de 2020

SOMOS ESTRANGEIROS E PEREGRINOS NO MUNDO


Ricardo André

Introdução

“Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois preparou-lhes uma cidade” (Hebreus 11:13-16, NVI).

Nesse texto bíblico gostaria de destacar os dois substantivos que descreve o povo fiel de Deus: “Estrangeiros” e “peregrinos”. A Palavra de Deus diz-nos que somos estrangeiros e peregrinos neste mundo. Por que o escritor de Hebreus, o apóstolo Paulo, chama os cristãos assim? O que é ser peregrino e estrangeiro sobre a terra? O autor sagrado se referia aqui aos patriarcas, que buscavam pela fé uma pátria melhor, infinitamente superior àquela que sua peregrinação terrena conseguiria obter. O povo de Israel foi estrangeiro e peregrino, cumprindo assim a promessa feita a Abraão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão” (Gn 15:13). Davi declarou em seu coração: “(...) sou um estrangeiro contigo e peregrino, como todos os meus pais” (Salmos 39:12).

II – O que significa “peregrino” e “estrangeiro”?

Ambas são palavras de origem grega. Peregrinos no original é parepidemos, que significa “hóspedes, “estrangeiros”, “exilados”, “habitantes temporários”, “nômades”. Estrangeiros é paroikos, que significa “forasteiros”, “refere-se a pessoas que estão fora de seus países”. (Bíblia de Estudo Dake, p. 1883, 1961). Portanto, peregrino é uma pessoa que sai de casa e viaja por terras estrangeiras; por terras distantes, longínquas, com um destino, embora muitas vezes, sem saber aonde ir e como chegar (por isso o termo errante).
O peregrino anda nesta terra, mas que ao mesmo tempo, tem consciência do seu destino e do seu verdadeiro lugar. Todo peregrino não é pertencente ao lugar de sua peregrinação pois é um viajante e estará sempre de passagem em direção a terra de seus sonhos, ainda que ele leve algum tempo naquele lugar, o pensamento dele vai estar sempre onde ele quer realmente morar.

Os Cristãos são Peregrinos e Forasteiros

O desejo de permanência é comum a todos nós. Queremos nos estabelecer, criar raízes. Como cristãos, porém, sabemos que devemos nos sentir neste mundo como Abraão, o qual “pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o Arquiteto e edificador” (Hebreus 11:9 e 10). A Palavra de Deus que somos forasteiros e peregrinos neste mundo: “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma” (1 Pedro 2:11, NVI). Isto significa que este mundo não é a nossa casa. Não pertencemos a este mundo.

“Ao declararem-se ‘estrangeiros e peregrinos sobre a terra’, os notáveis antigos deixaram claro que não consideravam que este mundo atual fosse seu lar. Eles sabiam que há mais para se desfrutar viver do que o mundo atual tem a oferecer” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 515).

A figura do peregrino, do estrangeiro, povoa as páginas da Bíblia, como símbolo da vida do cristão em sua jornada para a Canaã Celestial, pois esta não é a nossa pátria. Estamos apenas acampando aqui. Em Cristo, porém, somos cidadãos do reino de Deus. “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2:19, NVI).

Como cristãos devemos viver nesta terra como se dela não fôssemos, entendendo que somos peregrinos e forasteiros numa terra estranha. Como disse Jesus: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou” (João 17:15,16, NVI). Jesus está dizendo neste versículo que estamos no mundo, mas não somos dele. Então podemos como os antigos patriarcas confessar também, que somos peregrino nesta terra.

Um dos meus hinos prediletos do Hinário Adventista do Sétimo dia baseia-se neste pensamento:

“Sou peregrino e forasteiro,
Uma noite aqui demoro e nada mais.
Não me detenhas, pois que vou indo
Pra onde há fontes sempre fluindo.

(...)

“Ó terra triste, eu vou deixar-te,
Mas um dia voltarás à perfeição.
Por Cristo foste criada linda,
E restaurada serás ainda” (Nº 334).

No sentido mais literal da palavra, este mundo não é nosso lar. Caminhamos na Terra sob o olhar de Deus e na direção de Deus rumo à nossa herança eterna.

Isso não quer dizer que vamos viver uma vida descompromissada com relação a família, trabalho e atividades sociais, mas que nessa “jornada” o alvo é Deus, ou seja a vida eterna (Jo 3:16).

Ser peregrino no sentido espiritual é não acostumar-se com as práticas erradas do mundo. E andar corretamente e crer plenamente nas promessas de Deus. É aguardar para morar numa Nova terra sem pecado. É não prender-se a nada que este mundo oferece. Um peregrino tem hábito diferente de um nativo local, tanto no comer no vestir no usar no beber e em muitas outras práticas. Seus hábitos será sempre igual do local de onde nasceu. Isso leva-los as pessoas a identifica-lo que ele é peregrino, e não um nativo.

O crente deve ter o cuidado com seus hábitos. Paulo disse 1Co 6:12, nem tudo que parece ser lícito nos convêm praticar. Há hábitos que tem que ser banidos definitivamente da vida do crente, como roupas indecentes, alimentos e bebidas que são nocivas ao corpo, palavras indecentes. Portanto se o crente que ser identificado como um servo de Deus, e não confundido como nativo do local de sua peregrinação ele terá que ter hábitos e práticas diferentes, até porque estamos aqui para influenciarmos e não vivermos na influência deste mundo.

Seu idioma é o idioma que aprendeu desde os primeiros passos de sua vida. Ele precisará de um tradutor para fazer a comunicação e ainda que ele vem peregrina já falando a língua nativa, ele vai ser identificado pelo sotaque das palavras. Com tudo podemos entender que a fala identifica um peregrino. O cristão é identificado também quando abre a boca, a sua fala será diferente ele sempre trará algo que aprendeu desde seus primeiros passos na presença do Pai (Deus). Isso levará as pessoas a perguntarem. Você é crente? Há! Identifiquei pela sua fala.

O cristão não anda falando gíria, mentira, piadas imorais, grosseria com as pessoas, e palavrões.

Verdadeiramente só seremos identificados como um cristão se falarmos um linguagem Bíblica. “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações.

Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:16, 17, NVI).

Jesus certo dia falou a seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14:1-3). Esta promessa nos lembra que somos peregrinos e que Jesus virá buscar-nos em breve.

Os patriarcas, com exceção de Enoque, morreram sem ter obtido as promessas. Mas pela fé as vislumbraram de longe. Hoje, o cristão já pode aguardar o seu cumprimento de perto.

Vivemos, hoje, como se Jesus “tarde virá”

Nas décadas de 1920-40, nossos antepassados vivam a expectativa do breve advento de Cristo, sem fazer grandes planos para esta vida e, muitas vezes, desestimulando os próprios filhos entrar para uma faculdade, simplesmente porque não haveria tempo de se formarem. Jesus voltaria antes, e o tempo a ser gasto com preparo acadêmico poderia ser melhor empregado no preparo espiritual e trabalho em favor dos perdidos.

Ellen G. White, na década de 1870, manifestava um senso de urgência ainda mais aguçado: “Visto que o tempo é breve, devemos labutar com diligência e redobrada energia. Nossos filhos talvez não ingressem numa escola superior” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 159).

“Na realidade não é prudente ter filhos agora. O tempo é curto, os perigos dos últimos dias estão sobre nós, e as criancinhas, em grande parte, serão levadas antes disso” (Eventos Finais, p. 36).

Se recuarmos nossos pensamentos até a igreja apostólica, notaremos um senso de urgência ainda maior com relação à volta de Jesus. Esta parecia tão iminente que os discípulos e demais conversos “perseveravam unânimes em oração”, vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”, e iam diariamente ao templo (At 1:14; 2:45).

Exatamente o contrário do que estamos fazendo hoje: adquirindo propriedade e deixando de ir à igreja! Pregamos e cantamos que Jesus em breve virá, mas vivemos como quem crê que “meu Senhor tarde virá”. Parece que, quanto mais nos aproximamos do dia final, menos nos preocupamos com ele. Os primeiros cristãos esperavam Jesus para muito breve, nos pais para breve e nós para algum tempo no futuro. É muito triste mas muito de nós não se consideram forasteiros e peregrinos.

Nossos pais morreram sem ter visto o cumprimento das promessas. Mas talvez elas se cumpram em nosso tempo. Não podemos esmorecer. Cristo vem!

Que momento maravilhoso não será quando Jesus nos levar à pátria celestial. Há alegria e júbilo nos Céus. Que dia glorioso quando nos encontrarmos com o nosso Pai celestial, quando contemplarmos a nova cidade e passearmos pelos outros planetas! Há tanta gente para conhecer! Há tantos novos irmãos...

Caro amigo leitor, já é tempo de voltarmos ao lar! Preparemos nossa vida e nossa família para aquele grande encontro com o Senhor. Devemos ser um peregrino e forasteiro neste mundo e não devemos nos prender a nada que nos separe de Deus. Um dia estaremos no reino eterno de Deus!



Nenhum comentário:

Postar um comentário