Ricardo
André
Introdução
“Todos estes ainda
viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas
de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e
peregrinos na terra. Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se
estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Em
vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por
essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois
preparou-lhes uma cidade” (Hebreus 11:13-16, NVI).
Nesse texto bíblico
gostaria de destacar os dois substantivos que descreve o povo fiel de Deus: “Estrangeiros” e “peregrinos”. A Palavra de Deus diz-nos que somos estrangeiros e
peregrinos neste mundo. Por que o escritor de Hebreus, o apóstolo Paulo, chama
os cristãos assim? O que é ser peregrino e estrangeiro sobre a terra? O autor
sagrado se referia aqui aos patriarcas, que buscavam pela fé uma pátria melhor,
infinitamente superior àquela que sua peregrinação terrena conseguiria obter. O
povo de Israel foi estrangeiro e peregrino, cumprindo assim a promessa feita a
Abraão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra
alheia, e será reduzida à escravidão” (Gn 15:13). Davi declarou em seu coração:
“(...) sou um estrangeiro contigo e peregrino, como todos os meus pais” (Salmos
39:12).
II
– O que significa “peregrino” e “estrangeiro”?
Ambas são palavras de
origem grega. Peregrinos no original é parepidemos, que significa
“hóspedes, “estrangeiros”, “exilados”, “habitantes temporários”, “nômades”. Estrangeiros
é paroikos,
que significa “forasteiros”, “refere-se a pessoas que estão fora de
seus países”. (Bíblia de Estudo Dake, p.
1883, 1961). Portanto, peregrino é uma pessoa que sai de casa e viaja por terras
estrangeiras; por terras distantes, longínquas, com um destino, embora muitas
vezes, sem saber aonde ir e como chegar (por isso o termo errante).
O peregrino anda nesta
terra, mas que ao mesmo tempo, tem consciência do seu destino e do seu
verdadeiro lugar. Todo peregrino não é pertencente ao lugar de sua peregrinação
pois é um viajante e estará sempre de passagem em direção a terra de seus
sonhos, ainda que ele leve algum tempo naquele lugar, o pensamento dele vai
estar sempre onde ele quer realmente morar.
Os
Cristãos são Peregrinos e Forasteiros
O desejo de permanência
é comum a todos nós. Queremos nos estabelecer, criar raízes. Como cristãos,
porém, sabemos que devemos nos sentir neste mundo como Abraão, o qual “pela
fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas
com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a
cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o Arquiteto e edificador” (Hebreus
11:9 e 10). A Palavra de Deus que somos forasteiros e peregrinos neste
mundo: “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês
se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma” (1 Pedro 2:11,
NVI). Isto significa que este mundo não é a nossa casa. Não pertencemos
a este mundo.
“Ao declararem-se
‘estrangeiros e peregrinos sobre a terra’, os notáveis antigos deixaram claro
que não consideravam que este mundo atual fosse seu lar. Eles sabiam que há
mais para se desfrutar viver do que o mundo atual tem a oferecer” (Comentário
Bíblico Adventista, v. 7, p. 515).
A figura do peregrino,
do estrangeiro, povoa as páginas da Bíblia, como símbolo da vida do cristão em
sua jornada para a Canaã Celestial, pois esta não é a nossa pátria. Estamos
apenas acampando aqui. Em Cristo, porém, somos cidadãos do reino de Deus. “Portanto,
vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e
membros da família de Deus” (Efésios 2:19, NVI).
Como cristãos devemos
viver nesta terra como se dela não fôssemos, entendendo que somos peregrinos e
forasteiros numa terra estranha. Como disse Jesus: “Não rogo que os tires do mundo,
mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou”
(João 17:15,16, NVI). Jesus está dizendo neste versículo que estamos no
mundo, mas não somos dele. Então podemos como os antigos patriarcas confessar
também, que somos peregrino nesta terra.
Um dos meus hinos
prediletos do Hinário Adventista do Sétimo dia baseia-se neste pensamento:
“Sou peregrino e
forasteiro,
Uma noite aqui demoro e
nada mais.
Não me detenhas, pois
que vou indo
Pra onde há fontes
sempre fluindo.
(...)
“Ó terra triste, eu vou
deixar-te,
Mas um dia voltarás à
perfeição.
Por Cristo foste criada
linda,
E restaurada serás
ainda” (Nº 334).
No sentido mais literal
da palavra, este mundo não é nosso lar. Caminhamos na Terra sob o olhar de Deus
e na direção de Deus rumo à nossa herança eterna.
Isso não quer dizer que
vamos viver uma vida descompromissada com relação a família, trabalho e
atividades sociais, mas que nessa “jornada” o alvo é Deus, ou seja a vida
eterna (Jo 3:16).
Ser peregrino no
sentido espiritual é não acostumar-se com as práticas erradas do mundo. E andar
corretamente e crer plenamente nas promessas de Deus. É aguardar para morar
numa Nova terra sem pecado. É não prender-se a nada que este mundo oferece. Um
peregrino tem hábito diferente de um nativo local, tanto no comer no vestir no
usar no beber e em muitas outras práticas. Seus hábitos será sempre igual do
local de onde nasceu. Isso leva-los as pessoas a identifica-lo que ele é
peregrino, e não um nativo.
O crente deve ter o
cuidado com seus hábitos. Paulo disse 1Co 6:12, nem tudo que parece ser
lícito nos convêm praticar. Há hábitos que tem que ser banidos definitivamente
da vida do crente, como roupas indecentes, alimentos e bebidas que são nocivas
ao corpo, palavras indecentes. Portanto
se o crente que ser identificado como um servo de Deus, e não confundido como
nativo do local de sua peregrinação ele terá que ter hábitos e práticas
diferentes, até porque estamos aqui para influenciarmos e não vivermos na
influência deste mundo.
Seu idioma
é o idioma que aprendeu desde os primeiros passos de sua vida. Ele precisará de
um tradutor para fazer a comunicação e ainda que ele vem peregrina já falando a
língua nativa, ele vai ser identificado pelo sotaque das palavras. Com tudo
podemos entender que a fala identifica um peregrino. O cristão é identificado
também quando abre a boca, a sua fala será diferente ele sempre trará algo que
aprendeu desde seus primeiros passos na presença do Pai (Deus). Isso levará as
pessoas a perguntarem. Você é crente? Há! Identifiquei pela sua fala.
O cristão não anda
falando gíria, mentira, piadas imorais, grosseria com as pessoas, e palavrões.
Verdadeiramente só
seremos identificados como um cristão se falarmos um linguagem Bíblica. “Habite
ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros
com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com
gratidão a Deus em seus corações.
Tudo o que fizerem,
seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio
dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:16, 17, NVI).
Jesus certo dia falou a
seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois
vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo
14:1-3). Esta promessa nos lembra que somos peregrinos e que Jesus virá
buscar-nos em breve.
Os patriarcas, com
exceção de Enoque, morreram sem ter obtido as promessas. Mas pela fé as
vislumbraram de longe. Hoje, o cristão já pode aguardar o seu cumprimento de
perto.
Vivemos,
hoje, como se Jesus “tarde virá”
Nas décadas de 1920-40,
nossos antepassados vivam a expectativa do breve advento de Cristo, sem fazer
grandes planos para esta vida e, muitas vezes, desestimulando os próprios
filhos entrar para uma faculdade, simplesmente porque não haveria tempo de se
formarem. Jesus voltaria antes, e o tempo a ser gasto com preparo acadêmico
poderia ser melhor empregado no preparo espiritual e trabalho em favor dos
perdidos.
Ellen G. White, na
década de 1870, manifestava um senso de urgência ainda mais aguçado: “Visto
que o tempo é breve, devemos labutar com diligência e redobrada energia. Nossos
filhos talvez não ingressem numa escola superior” (Testemunhos Para a Igreja,
v. 3, p. 159).
“Na realidade não é
prudente ter filhos agora. O tempo é curto, os perigos dos últimos dias estão
sobre nós, e as criancinhas, em grande parte, serão levadas antes disso”
(Eventos Finais, p. 36).
Se recuarmos nossos
pensamentos até a igreja apostólica, notaremos um senso de urgência ainda maior
com relação à volta de Jesus. Esta parecia tão iminente que os discípulos e
demais conversos “perseveravam unânimes em oração”, vendiam as suas
propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém
tinha necessidade”, e iam diariamente ao templo (At 1:14; 2:45).
Exatamente o contrário
do que estamos fazendo hoje: adquirindo propriedade e deixando de ir à igreja!
Pregamos e cantamos que Jesus em breve virá, mas vivemos como quem crê que “meu
Senhor tarde virá”. Parece que, quanto mais nos aproximamos do dia final, menos
nos preocupamos com ele. Os primeiros cristãos esperavam Jesus para muito
breve, nos pais para breve e nós para algum tempo no futuro. É muito triste mas
muito de nós não se consideram forasteiros e peregrinos.
Nossos pais morreram sem
ter visto o cumprimento das promessas. Mas talvez elas se cumpram em nosso
tempo. Não podemos esmorecer. Cristo vem!
Que momento maravilhoso
não será quando Jesus nos levar à pátria celestial. Há alegria e júbilo nos
Céus. Que dia glorioso quando nos encontrarmos com o nosso Pai celestial,
quando contemplarmos a nova cidade e passearmos pelos outros planetas! Há tanta
gente para conhecer! Há tantos novos irmãos...
Caro amigo leitor, já é
tempo de voltarmos ao lar! Preparemos nossa vida e nossa família para aquele
grande encontro com o Senhor. Devemos ser um peregrino e forasteiro neste mundo
e não devemos nos prender a nada que nos separe de Deus. Um dia estaremos no
reino eterno de Deus!
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