Ricardo
André
Introdução
Quero nesta mensagem
refletir e extrair importantes lições espirituais da vida de um dos discípulos
de Jesus que pouco se fala e prega a respeito dele: Mateus. No evangelho que
ele mesmo escreveu (Mateus 9:9-13)
encontramos uma pequena narrativa a respeito do seu chamado para seguir a
Jesus. Assim ele contou a sua própria história: “Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na
coletoria, e disse-lhe: "Siga-me". Mateus levantou-se e o seguiu.
Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos publicanos
e "pecadores". Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos
dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e ‘pecadores’?
"Ouvindo isso, Jesus disse: "Não são os que têm saúde que precisam de
médico, mas sim os doentes. Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo
misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores”
(NVI).
Mateus também chamado
Levi (Mc. 2:14; Lc. 5:27). Uma vida destacada no Novo Testamento. Talvez não
seja tão brilhante como a dos apóstolos Pedro e Paulo, mas um homem singular na
sua profissão, conversão, um discípulo de Jesus, um apóstolo. A biografia deste
servo de Deus pode nos inspirar nos passos da vida cristã; pode nos levar mais
perto de nosso amado Salvador para uma vida de utilidade no Reino eterno.
Traços
biográficos de Mateus
Entre os doze com
certeza a conversão de Mateus foi a que mais gerou polêmica, isso porque Mateus
era publicano (Mt 10:3). O que era um publicano? Era um “judeu que cobrava
impostos para o governo romano. Era desprezado por trabalhar para um dominador
estrangeiro e por ser geralmente desonesto” (Dicionário da Bíblia de Almeida, p. 132). De acordo com o contexto
histórico da passagem, é possível que Mateus estivesse sob as ordens de Herodes
Antipas, o tetrarca da Galiléia. Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo
Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas entre o grupo dos
discípulos de Jesus.
A maioria dos judeus
desprezavam os publicanos e os odiavam, não somente porque representavam o
poder romano, não somente porque colaboravam com os inimigos romanos, mas
também porque “extorquiam por sua própria conta, aproveitando-se de sua
autoridade oficial para oprimir e defraudar as pessoas” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 633). Obtinham muito lucro
exigindo a mais alta coleta possível. Com isso, muitos publicanos enriqueciam
explorando seu próprio povo e atraindo o ódio deles para si. Eles também enriqueciam
o império romano e empobreciam a população. Isso revoltava o povo trabalhador. Socialmente,
entre os não religiosos era um emprego rendoso e de prestígio. Porém, ainda que
os seres humanos olhem para a aparência exterior, Deus olha para o coração.
Embora Mateus fosse um desprezado, o Senhor olhou para o coração dele e o
escolheu para ser discípulo. “As pessoas o julgavam com base em seus prejuízos
e pelo que Mateus fazia. Jesus conhecia o que ele pensava e o que desejava em
seu íntimo. Não o pré-julgou. Buscou-o para salvá-lo” (Mário Veloso, Mateus: Contando a História de Jesus Rei, p. 117).
Em virtude de sua
profissão, para Levi dinheiro não faltava até sobrava. Festas, muita gente.
Possuía muitos amigos. A importância da pessoa dele era ressaltada em toda a
região. Fazia orgia, determinava. Para quem via, era o mais feliz dos homens;
bem vestido, usufruindo a modernidade. Desconfiados, os milionários lhes
contavam de Jesus. “Esse homem sabe muito além, muito além do que todos sabem!”
Um dia gostaria de conversar com Ele. Um dia ficava para outro dia. Até que um
dia na frente do seu escritório, ou seja, na alfândega, nas proximidades de
Cafarnaum, na porta olhando para dentro está Jesus. Levi emocionou-se. Era
Jesus. O seu olhar denunciava bondade, competência, honestidade. Mateus olhou
para Jesus. Jesus olhou para Mateus. Esta maneira de olhar que Jesus tem é, por
assim dizê-lo, revolucionária porque está carregada de compaixão e
misericórdia. O diálogo sem palavras. E surgiu o convite sonoro: “Levi,
Segue-me, venha comigo. Venha ser feliz na simplicidade”. Não calculou a perda
material que resultaria do abandono de suas atividades lucrativas. Não deu
importância para o que tinha tampouco para o que era. “Ele se levantou e O
seguiu”, diz Mateus, contando sua própria história. Ao aceitar o convite sua
vida mudou. Segundo o Dr. Mário Veloso, Mateus “já tinha ouvido falar a
respeito de Jesus e lhe tinham contado, também, o que ensinava. Por influência
do Espírito Santo, sentia uma forte atração por esse Mestre chegando mesmo a
pensar em Lhe pedir ajuda. Mas tinha medo. Habituado ao tratamento que lhe
dispensavam os dirigentes do povo e o próprio povo, temia sofrer a mesma
rejeição” (Ibdem).
Mateus renunciou à vida
que tinha antes, em troca de uma nova vida em Jesus. Sua certeza de felicidade
era tanta, que de felicidade convidou ilustres personalidade (fariseus e
publicanos) e gente do povo para comemorar a sua mudança de vida, sua vocação
ministerial. De acordo com Ellen G. White, “a festa foi oferecida em honra a
Jesus, e Este não hesitou em aceitar a gentileza dando uma festa a Jesus” (O Desejado de todas as Nações, p. 274).
O Dr. Mário Veloso descreve a festa nesses termos: “Uma grande mesa foi
preparada. Só uma mesa para todos. Jesus e seus discípulos com publicanos e
pecadores Eles queriam estar perto de Jesus. De qualquer forma, era um quadro
pouco comum, para não dizer, raro. Na verdade, não acontecia. Um dirigente
religioso reunir-se com pecadores para atender seus interesses? Impossível.
Muito menos com publicanos. Mas Jesus não fazia distinção. Podia ir à casa dos
pecadores. Não discriminava ninguém e oferecia salvação a todos” (Mário Veloso, Mateus: Contando a História de
Jesus Rei, p. 118).
Assim, Mateus passou a
seguir seu Senhor. Culto, preparado, Mateus teve lugar importante naquele grupo
de gente simples (Lc 6:12-16), porque importante são todos os que se dedicam a
fazer outros felizes. Preservou um registro dos acontecimentos, e um dia daria
algo valioso ao seu povo e ao mundo: sua dádiva não seria um recibo de
impostos, mas um precioso relato da vida de Jesus, que nas suas próprias
palavras: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi” (Mt 1:1,
NVI). Ou seja, um “livro da genealogia” dos ascendentes de Jesus. “O que contou
não era um conto. Não era um livro sobre uma pessoa com muitas histórias
inventadas, como as histórias de As Mil e
Uma Noites. Não era uma novela. Era uma história. Mateus contou a história
de Jesus” (Ibdem, p. 21).
Mateus entendeu que o
que Jesus, o Mestre, falava e ensinava não se poderia esquecer e passou a
anotar fatos e palavras. Suas anotações fazem parte da Bíblia e alegram os
ricos que não são felizes. Pela ansiedade que o dinheiro nãos pode dar e se
completam na felicidade de ter de usufruir a simplicidade que Jesus veio
mostrar.
O traço principal da
sua personalidade vem ser obediência, o
homem que seguiu a Jesus.
Mateus
– o homem que seguiu a Jesus
1) Seguiu a Jesus na
obediência
Há, sem dúvida alguma,
variados modos de seguir a Jesus, como por exemplo:
a) na aparência. Há
muitos cristãos que vivem um cristianismo de aparência, de fachada, vivem uma
religião de aparência. Têm uma vida incompatível com a Palavra de Deus. Não
basta proclamar a fé; precisamos vive-la! Falar de Jesus é ineficaz se a vida
não está em harmonia com os princípios do evangelho. O testemunho cristão não
consiste apenas em palavras; ele é um sistema de vida que demonstra o poder de
Cristo.
Um antigo provérbio
latino declara o seguinte: “As palavras ensinam; os exemplos atraem”. Não
importa qual seja nossa idade, precisamos viver para Deus e manifestá-Lo para o
mundo, só assim evitaremos comentários como os de Gandhi, o qual disse que
creria no cristianismo se encontrasse um cristão que o praticasse.
b) À distância. O
evangelista Lucas registra em seu evangelho que era assim que Pedro seguiu a
Jesus até a Sua crucificação: “Então, prendendo-o, levaram-no para
a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância” (Lc 22:54, NVI). À
semelhança de Pedro, muitos seguem a Jesus à distância. Seguir a Jesus à
distância, é não dar a conhecer sua verdadeira identidade e assumir ar de
indiferença, como fez Pedro junto ao fogo que fora aceso no pátio, naquela
quinta-feira, em que Cristo fora preso. Há muitos cristãos modernos que se
incomodam ao serem identificados como Adventistas do Sétimo Dia.
c) Eventualmente. Isto
é, em tempos de maré alta, porém quando vem a tempestade da vida desistem. “O
tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa
suportar o cansaço, a demora e a fome - fé que não desfaleça ainda que
severamente provada”, disse Ellen G. White. (O Grande Conflito, p. 621).
Caro amigo leitor, de
que modo estamos seguindo a Jesus? Levi Mateus, seguiu a Jesus com sinceridade,
com amor, com desprendimento, com fidelidade e com alegria. Nunca recuou,
sempre ao lado de seu querido Mestre. É desse modo que devemos seguir a Jesus,
nas horas alegres, bem como nos dias de sombrios, na bonança ou na tempestade,
sempre e sempre nos diz: “Não tenha medo do que você está prestes a sofrer.
Saibam que o diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês
sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a
coroa da vida” (Ap 2:10, NVI).
2) Seguiu a Jesus na
renúncia.
Lucas
5:28
acrescenta que Mateus “deixou tudo” (NTLH) para seguir a Jesus. Ele renunciou a
tudo neste mundo que o impedia de seguir a Jesus e deixou-nos exemplo sublime
de cortarmos tudo o que nos impede, nos embaraça de seguirmos a Jesus.
Para Mateus, seguir a
Jesus queria dizer abandonar as práticas desonestas. Era uma maneira de vida
inteiramente diversa. Queria dizer que daí por diante ele andaria como andava
seu Mestre. Também implicava o aprofundamento da experiência espiritual. Sua
associação diária com o Deus do Céu em carne humana operou uma mudança em seu
caráter. Similarmente o mesmo acontece com cada um. Quando Jesus chega em nossa
vida, um novo tempo começa.
Conclusão
À semelhança de Mateus
e muito milhares de homens e mulheres da Bíblia, Deus também nos chama onde
estamos, no trabalho, na escola, na nossa casa, na igreja, na rua, entre
outros. Cristo nos chama “para Sua maravilhosa luz” (1Pd 2:9). Ele nos diz: “Eis
que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei
e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3:20, NVI). A expressão “estou a porta e
bato” revela o interesse e urgência de Deus em nos salvar. Ele continua a
buscar-nos e permanece à porta do nosso coração, querendo entrar. A grande
pergunta é: Permitiremos que Ele entre?
Jesus não força a entrada.
Ele diz ao que Lhe abre à porta: “Entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. Ele
bate à porta do nosso coração, mas a chave está do lado de dentro e em nosso
poder. Enquanto a porta da graça estiver aberta, Cristo não desistirá de bater
à porta de seu coração. Ele deseja formar uma união pessoal com cada um de nós.
Ele deseja a nossa “companhia” – morar em nosso coração, cada momento de cada
dia. Essa união nos permitirá assentarmos com Jesus e o Pai nos tronos do Céu
(Ap 3:21).
Façamos como Pedro que
aceitou o conselho de Jesus. Façamos como Levi que aceitou o convite de Jesus. Quando
Jesus entra em nosso coração começamos uma nova vida. Ele se trona real em
nossa vida.
Seja essa a nossa
experiência hoje: “A verdadeira felicidade é ter Cristo no coração. Ele que é a
esperança da glória” (Ellen G. White, Caminho
a Cristo, p. 47).
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