Teologia

sábado, 2 de maio de 2020

LEVI MATEUS: O HOMEM QUE ENCONTROU FELICIDADE EM SEGUIR A JESUS



Ricardo André

Introdução

Quero nesta mensagem refletir e extrair importantes lições espirituais da vida de um dos discípulos de Jesus que pouco se fala e prega a respeito dele: Mateus. No evangelho que ele mesmo escreveu (Mateus 9:9-13) encontramos uma pequena narrativa a respeito do seu chamado para seguir a Jesus. Assim ele contou a sua própria história: “Passando por ali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe: "Siga-me". Mateus levantou-se e o seguiu. Estando Jesus em casa, foram comer com ele e seus discípulos muitos publicanos e "pecadores". Vendo isso, os fariseus perguntaram aos discípulos dele: "Por que o mestre de vocês come com publicanos e ‘pecadores’? "Ouvindo isso, Jesus disse: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores” (NVI).

Mateus também chamado Levi (Mc. 2:14; Lc. 5:27). Uma vida destacada no Novo Testamento. Talvez não seja tão brilhante como a dos apóstolos Pedro e Paulo, mas um homem singular na sua profissão, conversão, um discípulo de Jesus, um apóstolo. A biografia deste servo de Deus pode nos inspirar nos passos da vida cristã; pode nos levar mais perto de nosso amado Salvador para uma vida de utilidade no Reino eterno.

Traços biográficos de Mateus

Entre os doze com certeza a conversão de Mateus foi a que mais gerou polêmica, isso porque Mateus era publicano (Mt 10:3). O que era um publicano? Era um “judeu que cobrava impostos para o governo romano. Era desprezado por trabalhar para um dominador estrangeiro e por ser geralmente desonesto” (Dicionário da Bíblia de Almeida, p. 132). De acordo com o contexto histórico da passagem, é possível que Mateus estivesse sob as ordens de Herodes Antipas, o tetrarca da Galiléia. Considerando o ofício que desempenhava, o apóstolo Mateus provavelmente era uma das pessoas mais cultas entre o grupo dos discípulos de Jesus.

A maioria dos judeus desprezavam os publicanos e os odiavam, não somente porque representavam o poder romano, não somente porque colaboravam com os inimigos romanos, mas também porque “extorquiam por sua própria conta, aproveitando-se de sua autoridade oficial para oprimir e defraudar as pessoas” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 633). Obtinham muito lucro exigindo a mais alta coleta possível. Com isso, muitos publicanos enriqueciam explorando seu próprio povo e atraindo o ódio deles para si. Eles também enriqueciam o império romano e empobreciam a população. Isso revoltava o povo trabalhador. Socialmente, entre os não religiosos era um emprego rendoso e de prestígio. Porém, ainda que os seres humanos olhem para a aparência exterior, Deus olha para o coração. Embora Mateus fosse um desprezado, o Senhor olhou para o coração dele e o escolheu para ser discípulo. “As pessoas o julgavam com base em seus prejuízos e pelo que Mateus fazia. Jesus conhecia o que ele pensava e o que desejava em seu íntimo. Não o pré-julgou. Buscou-o para salvá-lo” (Mário Veloso, Mateus: Contando a História de Jesus Rei, p. 117).

Em virtude de sua profissão, para Levi dinheiro não faltava até sobrava. Festas, muita gente. Possuía muitos amigos. A importância da pessoa dele era ressaltada em toda a região. Fazia orgia, determinava. Para quem via, era o mais feliz dos homens; bem vestido, usufruindo a modernidade. Desconfiados, os milionários lhes contavam de Jesus. “Esse homem sabe muito além, muito além do que todos sabem!” Um dia gostaria de conversar com Ele. Um dia ficava para outro dia. Até que um dia na frente do seu escritório, ou seja, na alfândega, nas proximidades de Cafarnaum, na porta olhando para dentro está Jesus. Levi emocionou-se. Era Jesus. O seu olhar denunciava bondade, competência, honestidade. Mateus olhou para Jesus. Jesus olhou para Mateus. Esta maneira de olhar que Jesus tem é, por assim dizê-lo, revolucionária porque está carregada de compaixão e misericórdia. O diálogo sem palavras. E surgiu o convite sonoro: “Levi, Segue-me, venha comigo. Venha ser feliz na simplicidade”. Não calculou a perda material que resultaria do abandono de suas atividades lucrativas. Não deu importância para o que tinha tampouco para o que era. “Ele se levantou e O seguiu”, diz Mateus, contando sua própria história. Ao aceitar o convite sua vida mudou. Segundo o Dr. Mário Veloso, Mateus “já tinha ouvido falar a respeito de Jesus e lhe tinham contado, também, o que ensinava. Por influência do Espírito Santo, sentia uma forte atração por esse Mestre chegando mesmo a pensar em Lhe pedir ajuda. Mas tinha medo. Habituado ao tratamento que lhe dispensavam os dirigentes do povo e o próprio povo, temia sofrer a mesma rejeição” (Ibdem).

Mateus renunciou à vida que tinha antes, em troca de uma nova vida em Jesus. Sua certeza de felicidade era tanta, que de felicidade convidou ilustres personalidade (fariseus e publicanos) e gente do povo para comemorar a sua mudança de vida, sua vocação ministerial. De acordo com Ellen G. White, “a festa foi oferecida em honra a Jesus, e Este não hesitou em aceitar a gentileza dando uma festa a Jesus” (O Desejado de todas as Nações, p. 274). O Dr. Mário Veloso descreve a festa nesses termos: “Uma grande mesa foi preparada. Só uma mesa para todos. Jesus e seus discípulos com publicanos e pecadores Eles queriam estar perto de Jesus. De qualquer forma, era um quadro pouco comum, para não dizer, raro. Na verdade, não acontecia. Um dirigente religioso reunir-se com pecadores para atender seus interesses? Impossível. Muito menos com publicanos. Mas Jesus não fazia distinção. Podia ir à casa dos pecadores. Não discriminava ninguém e oferecia salvação a todos” (Mário Veloso, Mateus: Contando a História de Jesus Rei, p. 118).

Assim, Mateus passou a seguir seu Senhor. Culto, preparado, Mateus teve lugar importante naquele grupo de gente simples (Lc 6:12-16), porque importante são todos os que se dedicam a fazer outros felizes. Preservou um registro dos acontecimentos, e um dia daria algo valioso ao seu povo e ao mundo: sua dádiva não seria um recibo de impostos, mas um precioso relato da vida de Jesus, que nas suas próprias palavras: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi” (Mt 1:1, NVI). Ou seja, um “livro da genealogia” dos ascendentes de Jesus. “O que contou não era um conto. Não era um livro sobre uma pessoa com muitas histórias inventadas, como as histórias de As Mil e Uma Noites. Não era uma novela. Era uma história. Mateus contou a história de Jesus” (Ibdem, p. 21).

Mateus entendeu que o que Jesus, o Mestre, falava e ensinava não se poderia esquecer e passou a anotar fatos e palavras. Suas anotações fazem parte da Bíblia e alegram os ricos que não são felizes. Pela ansiedade que o dinheiro nãos pode dar e se completam na felicidade de ter de usufruir a simplicidade que Jesus veio mostrar.

O traço principal da sua personalidade vem ser obediência, o homem que seguiu a Jesus.

Mateus – o homem que seguiu a Jesus

1) Seguiu a Jesus na obediência
Há, sem dúvida alguma, variados modos de seguir a Jesus, como por exemplo:

a) na aparência. Há muitos cristãos que vivem um cristianismo de aparência, de fachada, vivem uma religião de aparência. Têm uma vida incompatível com a Palavra de Deus. Não basta proclamar a fé; precisamos vive-la! Falar de Jesus é ineficaz se a vida não está em harmonia com os princípios do evangelho. O testemunho cristão não consiste apenas em palavras; ele é um sistema de vida que demonstra o poder de Cristo.

Um antigo provérbio latino declara o seguinte: “As palavras ensinam; os exemplos atraem”. Não importa qual seja nossa idade, precisamos viver para Deus e manifestá-Lo para o mundo, só assim evitaremos comentários como os de Gandhi, o qual disse que creria no cristianismo se encontrasse um cristão que o praticasse.

b) À distância. O evangelista Lucas registra em seu evangelho que era assim que Pedro seguiu a Jesus até a Sua crucificação:Então, prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância” (Lc 22:54, NVI). À semelhança de Pedro, muitos seguem a Jesus à distância. Seguir a Jesus à distância, é não dar a conhecer sua verdadeira identidade e assumir ar de indiferença, como fez Pedro junto ao fogo que fora aceso no pátio, naquela quinta-feira, em que Cristo fora preso. Há muitos cristãos modernos que se incomodam ao serem identificados como Adventistas do Sétimo Dia.

c) Eventualmente. Isto é, em tempos de maré alta, porém quando vem a tempestade da vida desistem. “O tempo de agonia e angústia que diante de nós está, exigirá uma fé que possa suportar o cansaço, a demora e a fome - fé que não desfaleça ainda que severamente provada”, disse Ellen G. White. (O Grande Conflito, p. 621).

Caro amigo leitor, de que modo estamos seguindo a Jesus? Levi Mateus, seguiu a Jesus com sinceridade, com amor, com desprendimento, com fidelidade e com alegria. Nunca recuou, sempre ao lado de seu querido Mestre. É desse modo que devemos seguir a Jesus, nas horas alegres, bem como nos dias de sombrios, na bonança ou na tempestade, sempre e sempre nos diz: “Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. Saibam que o diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2:10, NVI).

2) Seguiu a Jesus na renúncia.

Lucas 5:28 acrescenta que Mateus “deixou tudo” (NTLH) para seguir a Jesus. Ele renunciou a tudo neste mundo que o impedia de seguir a Jesus e deixou-nos exemplo sublime de cortarmos tudo o que nos impede, nos embaraça de seguirmos a Jesus.

Para Mateus, seguir a Jesus queria dizer abandonar as práticas desonestas. Era uma maneira de vida inteiramente diversa. Queria dizer que daí por diante ele andaria como andava seu Mestre. Também implicava o aprofundamento da experiência espiritual. Sua associação diária com o Deus do Céu em carne humana operou uma mudança em seu caráter. Similarmente o mesmo acontece com cada um. Quando Jesus chega em nossa vida, um novo tempo começa.

Conclusão

À semelhança de Mateus e muito milhares de homens e mulheres da Bíblia, Deus também nos chama onde estamos, no trabalho, na escola, na nossa casa, na igreja, na rua, entre outros. Cristo nos chama “para Sua maravilhosa luz” (1Pd 2:9). Ele nos diz: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3:20, NVI). A expressão “estou a porta e bato” revela o interesse e urgência de Deus em nos salvar. Ele continua a buscar-nos e permanece à porta do nosso coração, querendo entrar. A grande pergunta é: Permitiremos que Ele entre?

Jesus não força a entrada. Ele diz ao que Lhe abre à porta: “Entrarei e cearei com ele, e ele comigo”. Ele bate à porta do nosso coração, mas a chave está do lado de dentro e em nosso poder. Enquanto a porta da graça estiver aberta, Cristo não desistirá de bater à porta de seu coração. Ele deseja formar uma união pessoal com cada um de nós. Ele deseja a nossa “companhia” – morar em nosso coração, cada momento de cada dia. Essa união nos permitirá assentarmos com Jesus e o Pai nos tronos do Céu (Ap 3:21).

Façamos como Pedro que aceitou o conselho de Jesus. Façamos como Levi que aceitou o convite de Jesus. Quando Jesus entra em nosso coração começamos uma nova vida. Ele se trona real em nossa vida.

Seja essa a nossa experiência hoje: “A verdadeira felicidade é ter Cristo no coração. Ele que é a esperança da glória” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 47).


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