BARAQUE: LÍDER MILITAR, GANHOU A GUERRA E PERDEU A GLÓRIA
Ricardo
André
Neste artigo quero
meditar na vida de um personagem bíblico ilustre quase desconhecido, que viveu no
período dos juízes em Israel: o líder militar que ganhou a guerra e perdeu a glória.
Isso mesmo, Baraque é o nome dele. O
relato sobre a experiência dele, em Juízes
4 e 5, ensina-nos importantes lições espirituais.
Depois de 80 anos de
paz o povo de Israel novamente tornou-se descuidado espiritualmente e abandonou
a Deus (Jz 2:19). Como resultado, o Senhor permitiu que Jabim, descrito como
“rei de Canaã, que reinava em Hazor” (Jz 4:2), devastasse o território do Norte
de Israel e colocasse a nação novamente sob domínio estrangeiro. Sísera era o
general responsável por comandar todo esse exército (Juízes 4:13).
Durante vinte anos as
poderosas forças dos cananeus tinham oprimido os israelitas. Após esse período
de opressão (Jz 4:2), O senhor suscitou uma profetiza e juíza por nome Débora,
que atendia em algum local entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim
(v. 5), a fim de livrar o povo de Deus da opressão. “Ela é a única de quem se
diz possuir o dom de profecia” (Comentário
Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 2, p. 337). Certamente na ocasião a
inspiração divina era necessária.
A
convocação de Baraque
Assim, Débora mandou
chamar Baraque, que vivia cerca de 140 km ao norte, em Quedes de Naftali
(atualmente Tell Qades). Baraque foi intimado para liderar o
exército de Israel na guerra por uma profetiza. Na verdade, ele fora escolhido
pelo Céu para enfrentar as forças de Sísera, no monte Tabor, aceitou o dom
profético de Débora e creu que Deus poderia usá-lo para livrar Israel (Hb
11:32, 33).
O desafio era vencer
Jabim, rei dos cananeus, que possuía 900 carros de ferro, cujas rodas estavam
equipadas com mortíferas foices de ferro. Débora esclareceu que Deus libertaria
a Israel dali até às planícies junto ao ribeiro de Quisom (v. 7). Ora, uma
coisa é professar crer no dom profético, porém é muito diferente crer nele a ponto
de colocar toda a reputação e futuro na inspiração. Mas Baraque fez exatamente
isso. Foi e recrutou dez mil homens das tribos de Naftali e Zebulom como foi
instruído. Mas, para ele e seu exército ir à batalha, impôs a seguinte
condição: "Se você for comigo, irei; mas, se não for, não irei" (4:8).
Ao dizer isto, Baraque estava pedindo que Débora arriscasse sua vida e fizesse
aquilo que ele próprio deveria fazer. Pedir a uma mulher que se colocasse numa
situação de perigo mortal, como ir a uma batalha, era completamente contrário
aos costumes da época. E o mais curioso é que ela aceitou (v. 9). Débora
poderia ter hesitado e falado de sua importante posição e da necessidade de
permanecer ali debaixo da palmeira. Mas confiava implicitamente na voz do Céu e
foi à batalha. Sua coragem, baseada na absoluta confiança na Palavra de Deus,
foi espantosa.
Há quem diga que, ao
pedir para Débora ir para a batalha, e que se ela se recusasse ele não iria,
Baraque estava sendo covarde ou com falta de fé. Eu não acredito nessa
abordagem. Penso que simplesmente desejava que estivesse presente alguém que
pudesse dar orientação e ajuda divina para uma ocasião tão importante como a
peleja contra o exército de Jabim.
Sobre isso, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia,
v. 2, p. 338, afirma: “Provavelmente Baraque percebeu que, sozinho, não
sustentaria a disposição de ânimo dos hebreus. A presença de Débora deixaria
claro que o empreendimento era de Deus. Ele possivelmente desejaria que todos
vissem que quem iniciou a campanha foi a profetisa, e não ele. O fato de
Baraque seguir a orientação profética num empreendimento perigoso o dignificou”.
Curioso é que, ao
concordar em ir à batalha, Débora afirmou: "Está bem, irei com você. Mas
saiba que, por causa do seu modo de agir, a honra não será sua; porque o Senhor
entregará Sísera nas mãos de uma mulher" (4:9). A primeira impressão é que
Débora estava se referindo a ela mesma como a pessoa que venceria Sísera. Mas,
não, referia-se a Jael, uma nômade, camponesa do povo queneu, que adquirira
parentesco com os israelitas através de Moisés (4:11 e 17). A glória pela
vitória na batalha seria dela e não de Baraque. Por quê? Por que ela matou
Sísera, comandante das tropas dos cananeus, após ele ter fugido da guerra e ter
sido escondido por Jael na sua barraca (4:18-22). Jael foi uma heroína. Ela
precisou de muita coragem e força física para fazer o que fez.
Muitas pessoas acham
que a ação dela contra Sísera foi enganosa e traiçoeira. Mas, note o seguinte
pensamento de Ellen G. White: “A princípio, Jael ignorou a identidade do seu
visitante e resolveu lhe dar guarida; mas, depois, ao saber que era Sísera, o
inimigo de deus e de Seu povo, mudou de ideia. E, enquanto ele jazia adormecido
diante dela, Jael dominou sua natural relutância de um ato como aquele e o
matou, cravando-lhe uma estaca na fronte que o prendeu a terra. Quando Baraque,
em perseguição ao inimigo, passou por aquele caminho, foi convidado por Jael a
contemplar o jactancioso capitão morto, a seus pés – morto pela mão de uma
mulher” (Ibdem, p. 1107).
É importante ressaltar
também que suas ações não foram motivadas pela maldade; foram atos punitivos,
ordenados por Deus, sobre pessoas para quem a porta da graça se havia fechado
(Jz 5:24-27; At 5:1-11; Hb 10:26-31).
Baraque,
um herói da fé
Ao final da guerra com
a vitória do povo de Israel devido a intervenção de Deus, Baraque e Débora
entoaram um cântico de louvor a Deus, chamado de o “cântico de Débora” onde atribuem
a vitória ao Senhor Deus (Jz 5). Além disso, o cântico também diz que sem a
dedicação integral do povo de Deus, Ele não lhes teria dado a vitória. A união
dinâmica entre a cooperação humana e o livramento divino exige nossa
consideração, caso também queiramos vencer nas batalhas da vida.
Baraque tornou-se
referência de um vencedor para o profeta Samuel, anos depois. “Então o Senhor
enviou Jerubaal, Baraque, Jefté e Samuel, e os libertou das mãos dos inimigos
que os rodeavam, de modo que vocês viveram em segurança”, disse Samuel (1Sm
12:11, NVI). E mais: na famosa galeria dos heróis da fé, de Hebreus, capítulo
11, lá está o nome de Baraque. É citado como exemplo de um homem de fé (v. 32,
33).
Lições
para nós
Caro amigo leitor, nós
estamos sendo a cada dia sacudidos pela mesma batalha espiritual, hoje. Ellen
G. White escreveu: “A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi
ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer luta;
mas a alma tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada em santidade”
(Caminho a Cristo, p. 43).
Temos que aprender que
os esforços humanos não transforma nosso coração, nem o coração dos outros: “A
educação, a cultura, o exercício da vontade, o esforço humano, todos têm sua
devida esfera de ação, mas neste caso são impotentes. Poderão levar a um
procedimento exteriormente correto, mas não podem mudar o coração; são
incapazes de purificar as fontes da vida. É preciso um poder que opere
interiormente, uma nova vida que proceda do alto, antes que os homens possam
substituir o pecado pela santidade. Esse poder é Cristo. Sua graça, unicamente,
é que pode avivar as amortecidas faculdades da alma, e atraí-la a Deus, à
santidade. Disse o Salvador: "Aquele que não nascer de novo"- não
receber um novo coração, novos desejos, propósitos e motivos, que conduzem a
uma nova vida - "não pode ver o reino de Deus." João 3:3” (Ibdem, p. 18).
Não é pelo nosso poder
ou sabedoria que faremos a obra do Senhor. Somente o coração consagrado pode
entrar no campo de batalha com a segurança da vitória. “Tudo depende da reta
ação da vontade. O poder da escolha deu-o Deus ao homem; a ele compete
exercê-lo. Não podeis mudar vosso coração, não podeis por vós mesmos consagrar
a Deus as vossas afeições; mas podeis escolher servi-Lo. Podeis dar-Lhe a vossa
vontade; Ele então operará em vós o querer e o efetuar, segundo a Sua vontade”
(Ibdem, p. 47).
Que o exemplo de
Baraque, um homem que só foi para a guerra sabendo que o Senhor Deus estaria
com ele através da palavra e presença profética, nos inspire nas atividades e
lutas diárias. Conseguiremos a vitória na guerra contra o eu, contra o pecado e
suas armadilhas, se levarmos na mente e no coração a certeza de que o Deus dos
exércitos está ao nosso lado em cada passo, em cada decisão que precisaremos
tomar. É preciso também que nos rendamos a Ele, e com Ele cooperamos, Sua
atuação em nós “efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com
a boa vontade dele” (Filipenses 2:13, NVI). Então será possível dizer “tudo
posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). A
força que sustinha o apóstolo Paulo, a força locomotora de sua vida era Cristo!
Ele nos ensina que como cristãos somos fortes em Cristo Jesus. Em sua fraqueza
diante dos inimigos espirituiais o cristão confia na força de Jesus. Apesar das
vicissitudes, das enormes dificuldades, não somente o cristão recebe o alento,
o bálsamo que necessita, o perdão e a paz, mas a força e o ânimo para enfrentar
novas lutas.
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