Teologia

quinta-feira, 23 de abril de 2020

HAZEN FOSS – PRECURSOR DE ELLEN G. WHITE QUE “ENDURECEU O CORAÇÃO”


Ricardo André

Deixar para fazer amanhã o que se pode ser feito hoje é um traço característico comum da natureza humana. Todas as pessoas, em maior ou menor grau, têm um lado procrastinador. Lembro-me que quando estudava, pra mim o maior problema eram os infinitos trabalhos da faculdade. Quem trabalha e estuda sabe como é difícil ter gás para sentar à frente do computador após um dia cheio. Algumas vezes tinha que sentar para preparar os trabalhos acadêmicos, a fim de não deixar para depois e perder prazos. Outras vezes protelava a realização desses trabalhos. O ato de procrastinar pode trazer uma série de problemas para quem sofre com o costume de deixar tudo para depois. No entanto, em assuntos espirituais é fatal adiar a decisão de aceitar o oferecimento da salvação, ou rejeitar o chamado do Espírito de Deus. Por isso é que a Palavra de Deus afirma: “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Hebreus 3:7,8, NVI). “Ou seja, não rejeiteis nem negligencieis o apelo misericordioso da voz de Deus” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 442).

A palavra chave aqui é “hoje” e não amanhã ou outro dia. O que significa o “hoje” desse texto sacro? Hoje é o agora de Deus. Isso pressupõe a ideia de que, quando chamados a aceitarmos a graça divina ou o chamado para fazermos algo para Deus, não devemos procrastinar nossa decisão, tampouco rejeitar seu convite de amor. Nossa decisão não deve ser adiada para uma “ocasião conveniente” (At 24:25). Hoje denota urgência e é um desafio para imediata consideração e resposta. Portanto, “hoje” se constitui ao mesmo tempo uma advertência e um convite.

Endurecer o coração traz consequências eternas

As Sagradas Escrituras estão repletas de exemplos de pessoas que permitiram que seus corações fossem endurecidos ante a voz do Espírito Santo. O autor do livro de Hebreus ao alertar para a necessidade de ouvirmos a voz de Deus e sermos obedientes a ela. Ele cita o exemplo dos hebreus no deserto, que ouviram a voz do Senhor mas preferiram seguir o pecado. Judas, um dos Doze apóstolos do Senhor, é um outro exemplo clássico dessa rejeição a voz do Espírito. Durante três anos Cristo ensinou-lhe com terno amor os princípios do evangelho, afim de transformar o caráter de Judas. “Cristo estava diante dele, exemplo vivo do que se devia tornar, caso colhesse o benefício da mediação e ministério divinos; mas lição após lição caiu desatendida aos ouvidos de Judas” (O Desejado de Todas as Nações, p. 295). Nesse texto do Espírito de Profecia fica claro que a razão que levou Judas ceder à tentação de trair conscientemente o Senhor Jesus foi não dar ouvidos a voz do Espírito Santo, permanecendo com seu egoísmo e cobiça. O livro de Atos refere-se a sua ação infeliz como à iniquidade de Judas (At 1:18). Por sua permissão, “entrou nele Satanás” (Jo 13:27).

Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “O Salvador lia o coração de Judas; sabia as profundezas de iniquidade a que, se o não livrasse a graça de Deus, havia ele de imergir. Ligando a Si esse homem, colocou-o numa posição em que poderia ser dia a dia posto em contato com as torrentes de Seu próprio abnegado amor. Abrisse ele o coração a Cristo, e a graça divina baniria o demônio do egoísmo, e mesmo Judas se poderia tornar um súdito do reino de Deus”.

Quando o ser humano rejeita o apelo de Deus, não há absolutamente nada que Deus possa fazer Seu imenso poder torna-se paralisado diante da rejeição. A história de Judas é o gélido e sinistro exemplo de que todo aquele que rejeita a oferta da graça caminha para a própria destruição.

Hazen Foss – o homem que naufragou em sua experiência cristã por ter rejeitado o chamado divino

Encontramos na história inicial do adventistmo do sétimo dia o nome de Hazen Little Foss, que, tragicamente sucumbiu no encapelado mar da incredulidade, por ter resistido a voz de Deus.

Hazen Foss era um visionário milerita. Estava entre aqueles que esperaram a volta de Jesus em 22 de outubro de 1844. Antes dessa data, ele fora chamado por Deus para ser Seu mensageiro mediante uma visão. Nela, Deus mostrou-lhe os mileritas caminhando rumo à Terra Prometida, bem como diversas advertências para o povo de Deus. Ele foi instruído a tornar conhecida essa visão juntamente com mensagens específicas de advertência. Todavia, “entendendo que qualquer um que alegasse ter uma visão de Deus seria desprezado, Foss se recusou a comunicar o que havia visto” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 413). Após o Desapontamento de 1844, Deus concedeu-lhe uma segunda visão, em que foi instruído “que não se recusasse a relatar a mensagem do Senhor; pois se o fizesse, o dom lhe seria tirado e dado a alguém menos capaz, para a mais fraca dentre as fracas” (Ibdem). Não obstante ser um privilégio tornar-se um mensageiro do Senhor e falar por Ele, temendo ser ridicularizado e rejeitado por seus companheiros mileritas, Foss se recusou novamente a dar testemunho da parte de Deus. Ele rejeitou o chamado de Deus e quando tentou relatar sua experiência sentiu que o Espírito Santo o havia deixado.

A Enciclopédia Ellen G. White destaca que, por conta da sua recusa em obedecer a voz de Deus, “sobrevieram-lhe imediatamente sensações estranhas, e uma voz disse: ‘Entristeceste o Espírito do Senhor’. Horrorizado, convocou uma reunião para relatar a visão. Contou sua experiência; mas, ao tentar descrever o que havia vista, não conseguiu se lembrar de nada. Tentou várias vezes comunicar a revelação, mas tudo o que pode dizer foi: ‘Desapareceu. Não consigo dizer nada. O Espírito do senhor me abandonou’. Os que presenciaram o fato afirmaram que essa foi a reunião mais terrível da qual haviam participado” (p. 413).

A advertência de Deus a ele se cumpria. Pouco tempo depois dessa terrível experiência, em dezembro de 1844, a adolescente Ellen G. Harmon recebeu sua primeira visão. Em janeiro de 1845, Ellen fora convidada para falar na casa da Sra. Mary Foss (sua irmã mais velha e casada com o irmão de Hazen Foss, Samuel Foss) em Poland, Maine. Ali, numa reunião milerita, ela deu seu testemunho a respeito do que tinha vista na visão de dezembro. Embora não estivesse participando da reunião, Foss, de um quarto próximo, ouviu atentamente Ellen Harmon contar sua primeira visão e percebeu que as coisas maravilhosas que Deus tinha mostrado a ela, tinham sido mostradas a ele em primeiro lugar. No dia seguinte lhe disse “haver recebido um sonho semelhante ao dela”, porém tinha se recusado a relatá-lo. Em seguida confessou:

“De agora em diante, serei como um morto para as coisas espirituais. [...] Creio que as visões foram tiradas de mim e dadas a você. Não se recuse a obedecer a Deus, pois isso seria colocar em perigo a própria alma. Sou um homem perdido. Você é a escolhida de Deus; seja fiel ao realizar a obra do Senhor, e a coroa que eu poderia ter tido, você receberá” (Ibdem).

Foi um momento de partir o coração, mas também de medo. Depois desse triste episódio, Foss perdeu a esperança em Jesus. Até o dia da sua morte, ocorrida em 1893, ele não mais mostrou nenhum interesse nas coisas espirituais. Isso aconteceu porque ele ouviu a voz do Espírito Santo, endureceu seu coração, se recusando a compartilhar o que ele havia sido mostrado em visão.

As palavras – “não se recusasse a relatar a mensagem do Senhor; pois se o fizesse, o dom lhe seria tirado e dado a alguém menos capaz, para a mais fraca dentre as fracas” – cumpriram-se com assombrosa precisão.

Conclusão:

As histórias de Judas e de Hazen Foss são exemplos melancólicos de que todo aquele que rejeita o chamado divino caminha para a própria destruição. A palavra de Deus é clara para você ao falar que é HOJE e não amanhã o dia de você ouvir a voz de Deus que está te chamando. Hoje é o melhor dia de todo o restante de sua vida para aceitar o Salvador Jesus, e começar uma caminhada de nova aliança com Ele, de decidir fazer o melhor para Deus. Há um velho e belo hino do Hinário Adventista, nº 168, cujo coro diz: "Meu amigo, hoje tu tens a escolha: vida ou morte, qual vais aceita? Amanhã pode ser muito tarde, hoje Cristo te quer libertar". Devemos aproveitar o momento, o dia de hoje para decidir ser fiel ao chamado que Deus colocou em nossa vida, pois não sabemos se teremos um amanhã. Lembre-se de Hazen Foss.  

Caro amigo leitor, sabemos que se calarmos até as pedras clamarão (Lucas 19:40). Espero que possamos nós, a sua igreja, ser fiéis a Deus em nossa missão e dizer como o profeta Samuel "Fala Senhor que o teu servo ouve", a fim de que em breve possamos ouvir as palavras: “Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor” (Mateus 25:21, NVI). Que saibamos aproveitar os últimos momentos da história do mundo antes que seja tarde demais. Não endureça o seu coração a fim de que a palavra pregada da salvação te alcance!

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