Teologia

terça-feira, 14 de abril de 2020

“FICA CONOSCO” – UMA SÚPLICA HISTÓRICA


Ricardo André

No evangelho de Lucas 24:13-35 encontramos um incidente na vida de Cristo que sempre inspira o coração do crente. É a história conhecida como “Os dois discípulos a caminho de Emaús”. Jerusalém tinha sido palco de tristes e solenes acontecimentos: Jesus tinha sido preso na quinta-feira; foi crucificado na sexta-feira; o sábado foi o mais triste que tiveram desde que os apóstolos e seguidores de Jesus O conheceram. Naquele sábado, Jesus não estava na Sinagoga porque estava no sepulcro.

No primeiro dia da semana, domingo, correu a notícia da ressurreição do Mestre (Mc 16:10). Mas foi tão cruel a crucificação de Cristo na sexta-feira que os judeus, temendo o povo, inventaram tantos fake news para confundir as autoridades e os outros (Mt 28:11-15). As fake news tinham conseguido embotar a mente dos discípulos e amargurar os sentimentos das mulheres (Lc 24:37). A morte de Cristo e Sua ressurreição trouxe discussões e até polêmica entre os discípulos que, apavorados, criam e descriam em tudo o que diziam acerca de Jesus, a ponto de Tomé que só creria se visse e colocasse a mão nas chagas de Cristo (Jo 20:25).

Nesse mesmo domingo memorável, dois discípulos de Jesus, que não faziam parte do grupo dos Doze, caminhavam em direção a Emaús, pequena vila situada a 60 estádios, cerca de 12 km de Jerusalém (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 973). De repente, enquanto Cleopas e seu companheiro, cujo nome não é identificado, palmilhavam a estrada de Emaús, um estranho se aproxima deles. Estavam tão absortos em sua melancolia, sem ânimo e sem esperança por causa dos eventos do último fim de semana, que não se aperceberam de que o estranho peregrino, que os alcançou no caminho, era o Mestre Jesus Cristo, o Nazareno ressuscitado. Ficaram surpresos de que o estranho não estivesse informado dos últimos acontecimentos. Fizeram uma descrição dos eventos (Lc 24:21-24). Mas, para surpresa dos dois desalentados discípulos, o Senhor começa através das Sagradas Escrituras a desvendar diante de seus olhos estupefatos que a salvação não foi um acidente, foi um plano divino. Que a estrada da cruz não era um desvio, mas sim uma grande estrada que nos leva à Canaã Celestial. “Começando por Moisés”, Jesus “explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lucas 24:27, NVI).

Mas, por que Jesus não Se revelou de imediato para aqueles desesperançosos discípulos? O Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 974, sugere que, “caso o fizesse, os dois discípulos ficariam tão entusiasmados que não conseguiriam apreciar as importantes verdades que Ele estava prestes a transmitir, nem se lembrar bem dela. Era essencial que compreendessem as profecias messiânicas do AT, junto com os acontecimentos históricos e ritos sagrados que apontavam para Cristo. Somente isso poderia lhes prover um alicerce sólido para a fé. Uma suposta fé em Jesus que não se encontre embasada nos ensinos das Escrituras não é capaz de permanecer em pé quando as tempestades aparecem [...]. Cristo dirigiu a atenção daqueles dois homens para o cumprimento do AT nos eventos registrados no NT”.

Jesus caminha sempre ao nosso lado

Enquanto percorreram aqueles 12 km desde Jerusalém, a tristeza dos dois discípulos ia gradualmente cedendo lugar à esperança à medida que Jesus lhes abria as Escrituras. Algumas vezes, ao olhar atentamente para Ele, não podiam senão pensar como Suas palavras soavam tão semelhantes àquelas que Jesus teria usado. Porém, não lhes ocorreu que Ele mesmo estivesse caminhando ali ao seu lado.

A experiência dos dois discípulos é um espelho da nossa vida. Todos, como eles, tem seus bons momentos e seus momentos ruins. Todos passamos por experiências parecidas. Há ocasiões em nossa vida que somos esmagados por uma grande tristeza causada pela perda de um ente querido, pela dificuldade financeira, conflitos no lar, pelo desemprego, etc. São nessas ocasiões que Jesus está mais perto do que pensamos. Ele sabe quando andamos tristes, e deseja nos consolar.

Não são poucas as vezes em que assumimos o lugar do discípulo sem nome e participamos daquela caminhada ao lado de Cleopas, onde motivados por circunstâncias difíceis ou acontecimentos tristes e inesperados que não conseguimos compreender ou absorver, posicionamos nossas frustrações, desesperanças e decepções e as lançamos contra  Aquele que erroneamente imaginamos morto, ou distante de nós, ou preso ao nosso passado, enquanto na verdade Ele está vivo, bem perto, presente e caminhando conosco estrada fora, ouvindo e assistindo com paciência, graça e amor nossos irracionais e desajustados desabafos e justificativas, e através da Sua palavra exortando nossa incredulidade, sem jamais nos descartar ou colocar-nos de lado, mas ao contrário disso, sempre nos atraindo pelo desejo de com Ele estar, mesmo que seja no declinar de um dia de caminhada difícil, que terminará, mais uma vez, com Ele Se revelando a nós e curando nosso ferido coração, que em momento algum deixou de arder.

Apesar das aparências em contrário, Deus está sempre conosco. Mesmo nas circunstâncias mais escuras, somos confortados por sua presença. Embora não possamos sentir Sua presença, nosso desafio é manter isto em mente e apegar-nos a Ele em oração e pela fé nas promessas de Sua Palavra.

A escritora cristão Ellen G. White escreveu esse lindo pensamento: “Quando densas nuvens de trevas parecem pairar sobre o espírito, é ocasião para fazer com que a fé viva penetre as trevas e dissipe as nuvens” (Vida e Ensinos, p. 125).

A fé a todo custo em Deus nos capacita a orar: “Em meio a nenhuma esperança, devo ter esperança. A fé faz leve cada fardo, alivia cada fadiga” (Profetas e Reis, p. 175).

Aqueles dois discípulos haviam perdido a esperança e encontraram o Doador da esperança. Estavam desanimados e encontraram a Fonte de energia. Estavam perdidos na estrada e encontraram o Caminho. Estavam incrédulo, mas encontraram a verdade. Pesarosos, choravam a morte de Jesus, em quem haviam centrado suas mais suspiradas esperanças, e tiveram um encontro com a vida.

O maravilhoso convite dos discípulos: “Fica conosco”

Era já a hora crepuscular, quando chegaram a Emaús. Ao se aproximarem de casa, o precioso momento chegara. O Senhor expressou o desejo de seguir adiante, mas eles Lhe dirigiram uma súplica plena de significados: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando” (Lucas 24:29, NVI). E entrou para ficar com eles. Ele sempre fica quando pedimos.

Caro amigo leitor, há muitas lições nesta narrativa bíblica. Comentando sobre esse convite feito pelos dois discípulos para que Jesus ficasse aquela noite com eles, Ellen G. White escreveu: “Houvessem os discípulos deixado de insistir no convite e não teriam ficado sabendo que seu companheiro de viagem era o Senhor ressuscitado” (O Desejado de Todas as Nações, p. 595). “O motivo para insistir que Jesus permanecesse com eles era o desejo profundo de receber mais das instruções preciosas que vinha lhes dando durante as últimas horas. Somente os que têm fome e sede de uma compreensão mais profunda das coisas de Deus podem esperar receber um amplo suprimento da luz celestial” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 976).

Nó podemos também, hoje, convidar Jesus para ser nosso Hóspede, precisamos insistir com Deus e caminhar ao lado dEle e ouvir a Sua mensagem e entender o que o Senhor nos ensina: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?" (Lucas 24:32, NVI), diziam os dois apóstolos. Se formos demasiados indiferentes para pensar em Jesus, ou pedir-Lhe que neles habite, Ele passa, e perdemos a oportunidade de viver uma vida ditosa e cheia de alegrias.

Conclusão

Vivemos uma hora da História carregada de ansiedades e incertezas. As trevas descem sobre a Terra. Por causa de acontecimentos assustadores, a exemplo da pandemia do coronavírus que está matando a cada dia milhares de pessoas ao redor do mundo e gerando uma crise econômica global, causando pavor nas pessoas. O medo talvez seja a maior emoção na vida das pessoas. Elas temem a guerra, o crime, a poluição, as doenças, a crise econômica e muitas outras coisas que ameaçam sua segurança e sua própria vida. Muitas pessoas parecem agora dominadas pela psicose do medo. Quão apropriado é repetirmos a súplica dos discípulos: Senhor, por favor, fica conosco, faze-nos companhia, porque já é tarde e as densas trevas da noite nos circundam.

Amigo, quer você que Jesus fique com você para sempre e lhe encha o coração de alegria e felicidade? Quer você desfrutar plenamente o gozo da experiência cristã, permitindo que Jesus seja o Hóspede celestial em seu coração?

Que o Cristo Ressurreto abençoe sua vida!

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