Ricardo
André
Teciliane Maria estava
a menos de quatro meses de seu 17º aniversário quando sua mãe, familiares e
amigos receberam a indesejável notícia de que ela havia falecido. Ela era bem jovem e estudava no Colégio
Estadual Sílvio Romero. A enfermidade de Teciliane era linfoma, uma enfermidade
grave. Enquanto escrevo, vem a minha memória o sofrimento terrível de Teciliane
desde que descobriu a doença. Lutou contra o câncer vários meses. Infelizmente
as inúmeras tentativas em vencer a doença não produziram os resultados
esperados, vindo assim a falecer na tarde do dia 28 de julho de 2014.
Por que Teciliane Maria
sofreu tanto? Por que inocentes sofrem? Poderíamos aceitá-lo se o sofrimento só
afetasse malfeitores, mas gente boa sofre. Por quê? É a vontade de Deus?
Deveria a mãe de
Teciliane, demais parentes e amigos dar ouvidos àqueles que sugerem que seu
linfoma e sua consequente morte foi a vontade de Deus? Ao atribuírem sua doença
à vontade de Deus, estão indicando que Deus a quis doente e, depois morta.
Dizer: "É a vontade de Deus" é simplesmente outro modo de dizer:
"Deus o deseja."
Estamos sempre prontos
a culpar alguém pela dor, pelo sofrimento e miséria do mundo ao nosso redor. E
geralmente culpamos a Deus – é quase automático. Quando vemos alguém passando
por alguma dor, perguntamos: “Por que Deus permitiu isso?” Se somos nós que
sofremos, a pergunta é a mesma: “Por que Deus permitiu?”
Por que culpamos a
Deus? Seria Ele o responsável pelo mal?
Segundo Hebreus
10:7, Jesus assim falou do propósito de Sua encarnação: "Vim
para fazer, ó Deus, a Tua vontade." Jesus veio para fazer o que
Deus queria - ou desejava.
E que fez Jesus?
Infectou Ele alguém com lepra? Feriu Ele alguém com cegueira? Não, em diversas
ocasiões Ele abriu os olhos do cego. Fez Ele as pessoas ficarem surdas? Não,
Ele curou os surdos.
Num sábado Jesus
encontrou uma mulher aleijada na sinagoga. Durante 18 anos essa mulher tinha
estado entrevada. Jesus parou no meio do sermão e contemplou-a com dó e disse: "Não
se devia livrar deste cativeiro em dia de sábado esta filha de Abraão, a quem
Satanás trazia presa há dezoito anos?" (Lucas 13:16).
Você notou a quem Jesus
culpou pela condição da mulher? Satanás a tinha aleijado durante 18 anos. Mas
Jesus veio para mostrar-nos o que Deus quer. E Ele curou a mulher.
Certamente podemos
garantir a mãe de Teciliane e seus parentes e amigos que Deus é a fonte de toda
boa dádiva, mas Ele, decididamente não é a causa de coisas más. Como poderemos
jamais detestar a miséria que achamos em nosso planeta se continuarmos a lançar
sobre Deus a causa de tudo?
Aqueles
a quem Deus ama Ele disciplina
Cristãos bem
intencionados têm dito a pessoas como Teciliane: "Você deve ser muito
especial para Deus. Deus não desperdiça Seus esforços em material inútil. Deus
quer aperfeiçoá-la. Quando seu Pai celeste tiver completado Sua obra, você será
como ouro provado no fogo."
Eliú, um amigo de Jó,
disse praticamente o mesmo. Deus, segundo Eliú, envia o sofrimento não como
castigo (como os outros amigos tinham insistido) mas como disciplina (ver Jó
33:15-22, 29-30).
Que tal?
A mãe de Teciliane,
certamente tinha notado imperfeições nela, e como todos os bons pais e mães a
tinham disciplinado para que crescesse para ser uma honra ao nome da família e
um benefício para a sociedade. É isto o que Deus está fazendo para Teciliane
enquanto sofria com sua doença?
Suponhamos por um
momento que o linfoma de Teciliane tenha aperfeiçoado a sua alma. É esta uma
causa apropriada para o efeito desejado? Ellen White escreveu certa vez: "Deve
o corpo ser mantido em estado saudável a fim de a alma estar sã."1
Sendo este o caso, como
pode o linfoma de Teciliane aperfeiçoar sua alma? Um corpo doentio não é o
caminho para a santificação.
Se o linfoma de
Teciliane veio como uma disciplina divina, por que devia ela submeter-se à
quimioterapia numa tentativa de curá-la? Longe da mãe de Teciliane contrariar a
disciplina divina na vida de sua filha! Não devem agir contrariamente ao
propósito divino. Com efeito, se desastre, doença ou morte vêm para nos
aperfeiçoar, todo cristão sincero, em vez de aliviar a dor, devia ajudar Deus
em Sua obra de aperfeiçoamento causando dor sempre que possível!
Será que Teciliane
quando estava viva conseguiu amar mais profundamente essa espécie de Deus? Soa,
porém, como a espécie de Deus em cuja existência Satanás gostaria que crêssemos.
Afinal, que melhor maneira de torcer nosso conceito de Deus do que retratá-Lo
como um pai abusivo!
Apanhados
na grande experiência
Parece tudo tão sem
sentido, tão absurdo. Mas em face desta loucura, os defensores de Deus têm
proposto a metáfora de uma experiência cósmica entre o bem e o mal como modo de
fazer sentido daquilo que parece incrivelmente sem sentido.
Teciliane sabia que
Deus não criou o mal; Ele criou só aquilo que é bom. Lúcifer (também conhecido
como o diabo, ou Satanás, em seu estado após a Queda) inventou o mal. O seu
coração se rebelou contra Deus, trazendo então o pecado ao mundo (Ez 28:13-15;
Is 14:13, 14).E ela compreendeu que segundo o conceito do grande conflito
cósmico, Deus poderia ter destruído Lúcifer ao primeiro sinal de rebelião, mas
então o Universo teria servido a Deus por temor
- não por amor. Assim Ele
permitiu que Lúcifer embarcasse numa grande experiência de maldade.
Teciliane cria que
quando o Universo todo se convencer de que Deus tem razão e que Satanás está
errado, então Deus porá fim à experiência. Entrementes ela e milhões de outros
penam uma existência torturada neste globo
- como muitos ratos brancos num laboratório.
O que está acontecendo
dentro deste laboratório não é agradável, mas contribui para algum bem maior.
Sim, ela reconheceu
tudo isso, mas pode você imaginar como tudo soou a Teciliane enquanto vivia?
Provavelmente algo assim: Deus dispôs-Se a provar algo - Ele mesmo. Satanás
disse que Deus é egoísta, arbitrário, exigente, não realmente bom. Assim Deus
dá a Satanás a oportunidade de Se defender.
E a verdadeira natureza
de Satanás torna-se visível. Vêmo-lo nos desastres, nas doenças e nas mortes ao
nosso redor.
Claramente, o tema do
grande conflito tem muita capacidade explanatória. De todas as explicações para
a existência do sofrimento, é provavelmente a mais convincente. Mas não devemos
permitir que ela nos faça complacentes.
Se aceitamos o tema do
grande conflito como uma das melhores explicações para o mal que tem infectado
nosso planeta, não podemos ignorar o sofrimento experimentado por Teciliane
como algo aceitável porque apoia uma boa causa - a vindicação do caráter de Deus.
Além disto, parece
egoísmo da parte de Deus permitir todas as atrocidades deste mundo infligidas a
bilhões de Suas criaturas por milhares de anos somente para provar que Ele tem
razão e que Satanás está errado. Que espécie de Deus permitiria o que se passou
nas últimas 24 horas - para não dizer nos últimos 6.000 anos - simplesmente
para demonstrar que Ele - não outro - tem razão?
Quando apelamos à
grande controvérsia para vindicar a Deus em face de doenças como a que matou
Teciliane, simplesmente não podemos passar por alto este sofrimento com um
palavreado floreado. Se o fizermos, estaremos usando de métodos diabólicos,
fazendo a obra do diabo.
Então,
qual é a última palavra sobre o mal?
É preciso reconhecer
que a existência do sofrimento é tão inexplicável como a existência do pecado.
A maioria dos cristãos crê que o desastre, a doença e a morte de algum modo
seguem ao pecado. Não é fácil detectar uma relação direta de causa e efeito
entre comer um simples pedaço de fruta no Éden e os eventos calamitosos que
diariamente mancham a existência em nosso planeta. Mas se há uma relação - como a tradição afirma - então
a resposta à pergunta: Por que o pecado? devia lançar alguma luz sobre a
questão: Por que o sofrimento?
O problema é que o
pecado não tem uma explicação lógica. É por isso que as Escrituras o chamam um
mistério - o mistério da iniquidade (II Tessalonicenses 2:7). "O
pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar (...) Se para
ele se pudesse encontrar desculpa, ou mostrar-se causa para a sua existência,
deixaria de ser pecado."3 Com efeito, o mal físico ao nosso redor
é tão bizarro como o mal moral que tem devastado nosso planeta. Queiramos ou
não, nosso planeta tornou-se um teatro do absurdo. Se somos honestos conosco,
com outros e com as Escrituras, precisamos admitir que nossas explicações
carecem de convicção. O mal é um enigma que desafia explicação.
Quando
Deus derrama lágrimas
Mas o que dizer sobre o
Deus da Bíblia? Onde estava Ele durante o tempo de sofrimento trágico de
Teciliane? Que estava Ele fazendo?
Temos uma pista na
experiência de Maria e Marta quando seu irmão Lázaro morreu. Onde estava Jesus?
Vêmo-Lo de pé junto ao sepulcro de Lázaro. E "Jesus chorou" (João 11:35).
À porta do sepulcro de
Lázaro, Deus (em Jesus) uniu-Se a Maria e Marta, seus vizinhos e conhecidos
derramando lágrimas. Encontramos conforto em saber que, quando se pôs à
sepultura de Seu amigo Lázaro, “Jesus chorou”. Um dos versículos mais curtos da Bíblia tem um
enternecedor significado. Mas, por que Jesus chorou? “Seu coração pungiu-se pelas penas
da família humana de todos os tempos e em todas as terras. Pesavam-Lhe
fortemente sobre a alma as misérias da pecadora raça. E rompeu-se-Lhe a fonte
das lágrimas no anelo de lhes aliviar todas as aflições”2
Achamos a mesma
situação no Antigo Testamento. "Então Se arrependeu o Senhor de ter feito
o homem na Terra, e isso Lhe pesou no coração" (Gênesis 6:6).
Isaías registra que
"em toda angústia deles foi Ele angustiado" (Isaías 63:9).
Jeremias registra a
mesma reação da parte de Deus: "Por isso uivarei por Moabe, sim gritarei
por todo o Moabe; pelos homens de Qir-Heres lamentarei; chorarei por ti, como
Jazer chora" (Jeremias 48:31-32).
Não só nossa aflição
comove a Deus, mas também somos encorajados a lançar "sobre Ele toda a vossa
ansiedade; porque Ele tem cuidado de vós" (I Pedro 5:7). E Paulo é
enfático: "Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem vida, nem
anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem
altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8:38-39).
A doença de Teciliane
não significa que Deus a abandonou. Em sua dor não deveria imaginar que Deus
estava aborrecido. "Frequentemente vosso espírito se poderá nublar por causa do
sofrimento. Não busqueis pensar então. Sabeis que Jesus vos ama. Ele compreende
vossa fraqueza. Podeis fazer Sua vontade com o simples repousar em seus
braços."3
Vendo Teciliane sofrer,
Deus mesmo derramou lágrimas. Jesus chora por todos nós que sofremos em várias
ocasiões e por muitos motivos. As lágrimas de Jesus junto à sepultura de Lázaro
são apenas um microcosmo da dor que Ele tem experimentado ao obsevar a
sofredora raça humana. Assim, se você, caro amigo, está passando agora por um
momento difícil, lembre-se das lágrimas de Jesus. Ele suportou a cruz a fim de
poder sentir empatia e compaixão por você.
Isto é confortador, mas
é isto tudo que Deus faz? É Ele um Deus compassivo mas impotente que torce Suas
mãos em frustração ao chorar em simpatia? Não.
Volvamos a Maria, Marta
e Lázaro. Disse Jesus: "Tirai a pedra" (João 11:39).
Então depois de breve oração, Jesus, que é Deus encarnado, comandou:
"Lázaro, vem para fora!" (verso 43).
E "saiu aquele que estivera
morto" (verso 44).
Deus não só derramou
lágrimas. Ele repeliu a morte.
Nossas aflições comovem
a Deus, mas também O movem a revelar Seu propósito. Nem sempre veremos a
evidência de Seu poder hoje ao enfrentarmos desastre, dor e morte. Podemos, ao
contrário, apenas sentir Suas lágrimas. Não obstante, o Novo Testamento torna
claros os propósitos de Deus. Por fim, Deus fará novas todas as coisas
(Apocalipse 21:5).
Ela morreu, mas levou
consigo a ESPERANÇA de ser ressuscitada na manhã da ressurreição, pois ela era
cristã Adventista do Sétimo Dia, Bairro Estação. O apóstolo Paulo, na sua carta
aos Tessalonicenses 4:13-18 nos consola com a agradável esperança de uma
reunião feliz e eterna com aqueles que morreram, a exemplo de Teciliane, quando
o Senhor Jesus aparecer em glória. Na ocasião, ocorrerão dois dos
acontecimentos mais esperados pelos cristãos de todas as eras: a ressurreição
dos santos mortos e a transformação dos santos vivos. Como é bom ser cristão
adventista e crer na volta de Jesus. O quadro pintado por Paulo será a
concretização de todos os que creram e que creem em Jesus e que, vivos ou
mortos, aguardam ansiosos por Sua segunda vinda à Terra. Para eles, a morte não
é o fim de todas as coisas; é simplesmente um sono de espera pela ressurreição
e a vida eterna.
Teciliane está dormindo
no Senhor agora. Esta separação que nos causa tanta dor não será eterna. Quando
nosso querido Jesus voltar em glória e Majestade poderemos reencontrá-la, se
crermos em Jesus. Esta ESPERANÇA está baseada sobre um sólido e indestrutível
fundamento... Sim, ela se baseia na realidade de um Cristo vivo (v.14). A
ressurreição do Senhor é o fundamento de nossa esperança (I Ped. 1:3. 2). Assim
como Deus, o Pai, trouxe Jesus, nosso Salvador, dentre os mortos na manhã de
Sua ressurreição no jardim, fora dos muros de Jerusalém, assim com Ele também
trará nossos queridos mortos à vida novamente, quando voltar a segunda vez. Ela
também está fundamentada no prometido e esperado retorno do Senhor à Terra (I
Tes. 1:10; Atos. 1:10, 11).
Haverá, então uma feliz
e eterna reunião! Viveremos por toda a eternidade sem fim com todos os remidos
de todos os tempos. No Mundo do Amanhã que Deus trará para todos os que crerem
nele não haverá mais morte. Ele nos promete: “Ele enxugará de seus olhos toda
lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas." (Ap 21:4).
E ao enxugar Deus as
lágrimas de nossos olhos, imagino que Ele enxugará os Seus uma vez mais. Então
o Deus que derrama lágrimas jogará fora para sempre Seu lenço divino.
Referências:
1. White,
Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1978), pág. 261.
2. White,
O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa publicadora Brasileira, 2004),
p. 534.
3. White,
A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), pág.
251.
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