George
T. Javor
Criacionismo não é algo
para pusilânimes! O criacionismo se baseia em uma afirmação feita há mais de
3.500 anos, que se encontra na Bíblia: "No princípio criou Deus os céus e
a terra" (Gênesis 1:1). A maior parte dos cientistas contemporâneos, entretanto,
acredita que a vida resultou de uma grande explosão de matéria primordial, há
bilhões de anos. Assim, crer na criação é remar contra a maré!
"Nada na
Biologia", escreveu Dob-zhansky, "tem sentido senão à luz da
evolução".1 Os editores da revista Science, apresentando um número
especial dedicado à Evolução, afirmaram há não muito tempo: "Os conceitos
intelectuais surgidos do nosso entendimento da evolução têm enriquecido e
mudado muitos outros campos de estudo".2 No mesmo número da revista, escreveu
Stephen Jay Gould: "A evolução orgânica ... [é] um dos fatos mais
firmemente validados até hoje pela ciência".3
A resposta criacionista
tradicional para essas declarações é apontar para falhas nos argumentos
evolucionistas. Porém, os criacionistas se destacam quando mostram que suas
explanações são melhores que as dos evolucionistas. Seu objetivo deve ser
desenvolver seu paradigma tão bem que as pessoas sejam levadas a admitir que
"nada na Biologia tem sentido senão à luz do criacionismo".
Tendo esse pano de fundo,
consideremos alguns aspectos do criacionismo ainda válidos para os pensadores
cristãos no século XXI.
1.
O criacionismo é um paradigma com motivação religiosa?
Sim. Esforços para
apresentar o criacionismo sob um manto secular distorcem sua motivação central.
No próprio centro do criacionismo está o Criador. A Bíblia ensina que o Criador
está intimamente relacionado com a natureza, embora não fazendo parte dela.
Segue-se que a religião não pode ser divorciada da ciência. Embora a ciência
possa ser praticada sem qualquer referência à religião, a interpretação desses
esforços pode ser falha.
Dentre as grandes
civilizações, foi a da Europa Ocidental que deu origem à ciência moderna, com
ênfase na experimentação e em formulações matemáticas.4 Várias culturas da
Antigüidade, dentre elas as da China e da Arábia, produziram níveis de
conhecimento e tecnologia mais elevados do que a Europa medieval. Não obstante,
foi na Europa que nasceu a ciência moderna. Para isso contribuiu grandemente a
fé judaico-cristã, com sua confiança nas leis da natureza.
O suposto conflito
entre religião e ciência é uma invenção recente, e uma distorção da realidade
histórica feita por uma classe de historiadores (conduzida por John Williams
Draper e Andrew Dickson White), cujo objetivo era destruir a influência
eclesiástica. O secularismo atualmente popular na ciência pode ser apenas um
desvio na história da ciência.
2.
Quais são os comprometimentos perceptíveis do criacionismo?
a. O criacionismo foi
originado em um mundo pré-científico, no qual abundavam mitos. A história
bíblica da criação é freqüentemente comparada com as histórias da criação
existentes em Babilônia e noutros países da antigüidade.
b. O criacionismo
baseia-se na noção de que existe um ser sobrenatural, que não pode ser
investigado cientificamente. Além disso, se isso é verdade, nosso mundo está
sujeito aos caprichos de forças sobrenaturais, e a ciência não está capacitada
a estudar um mundo assim.
c. O criacionismo
restringe o campo susceptível de pesquisa, pois por definição não há como
estudar a origem da vida ou o relacionamento entre os organismos.
d. O criacionismo
implica em responsabilidade. Então o ser humano não é a suprema autoridade
neste mundo.
Respostas a essas
observações:
a. O fato de existirem
histórias da criação em diferentes culturas da Antigüidade sugere uma fonte
comum para elas.
b. O Ser Supremo
revelado na Bíblia criou um mundo com leis que foram expressas, ou que podem
ser descobertas. Os seres humanos receberam a ordem de exercer domínio e zelar
pela criação utilizando-se dessas leis. Não parecem existir caprichos na
operação rotineira da natureza.
Não obstante, o
paradigma criacionista permite a intervenção divina na natureza, quando leis
naturais conhecidas são superadas. Os criacionistas creem que no passado
intervenções divinas de grande significado foram dadas a conhecer à humanidade
mediante revelações especiais. A ciência moderna desencaminhou-se ao descartar
informações reveladas sobrenaturalmente, que são relevantes à própria ciência.
c. Se o paradigma
criacionista é restritivo ou não, depende da perspectiva de cada um. A
compreensão da realidade de cada um é que ditará o âmbito de suas indagações.
3.
A ciência foi ajudada ou dificultada pelo criacionismo?
A visão de mundo
criacionista foi um forte fator motivador para os cientistas estudarem a
natureza - para realmente fazerem experimentos e descobrirem como Deus dirige o
mundo. Foram estes os cientistas "voluntaristas", que se opuseram aos
aristotélicos (que sustentavam que o Universo e tudo o que nele existe tinha de
ser construído pelas leis da lógica que o próprio Aristóteles descobrira).
Dentre os mais proeminentes cientistas "voluntaristas" destacam-se
Van Helmont, Robert Boyle e Isaac Newton.
A doutrina bíblica da
criação nos assegura que vivemos em um mundo sujeito a leis estabelecidas pelo
Supremo Legislador. Isto contrasta fortemente com a visão pagã de mundo, na
qual a natureza era vista como viva e sendo movida por forças misteriosas. Portanto,
a doutrina da criação foi um fator positivo, e possivelmente decisivo, que
contribuiu para a origem da ciência moderna.
4.
Existe potencial para explicações no criacionismo?
Em grande parte a
ciência compõe-se de explicações. O teste crucial quanto ao valor de um
paradigma baseia-se no seu potencial para explicações. Eis alguns exemplos:
Elementos de desígnio
observados em todos os níveis na natureza, resultam naturalmente do criacionismo.
A grande diversidade
existente entre os organismos pode ser entendida como reflexo da ilimitada
imaginação do Criador.
A interação e o apoio
mútuos entre organismos é testemunho de um desígnio altruísta.
Deixa de existir
dificuldade para explicar como a matéria veio à existência. Do mesmo modo a dificuldade
de elaboração de complexas árvores filogenéticas.
O criacionismo é
coerente com a excepcional fidelidade da reprodução genética, bem como com o
intervalo bastante limitado de possíveis alterações que possam ocorrer por
mutações. (Atualmente foi mostrado, por exemplo, que a bactéria E. coli
permanece inalterada no decorrer de milhares de gerações em laboratório).
Nem todas as
manifestações da biosfera têm a ver com os valores da sobrevivência. A vida tem
a ver com muito mais do que a mera sobrevivência. Se a sobrevivência fosse o
único critério, teríamos um mundo muito mais despovoado e desolado. Com o
criacionismo, deixa de existir dificuldade para explicar por que existem
organismos unicelulares e multicelulares, bem como por que existe uma exigência
absoluta para a coexistência de dois gêneros distintos de organismos (machos e
fêmeas).
Características comuns
entre os organismos são entendidas como provenientes de um mesmo Projetista.
Semelhanças nos caminhos metabólicos, por exemplo, geram necessidades
metabólicas comuns que podem ser satisfeitas por fontes comuns de alimento.
Características diversas proporcionam capacidade para os organismos preencherem
diferentes nichos e preservarem sua identidade. As diferenças entre os
organismos também refletem a predileção óbvia do Projetista pelas variações.
Ao invés de se indagar como um organismo pode
ser bem-sucedido para conseguir seu próprio nicho, pergunta-se como pode a
espécie contribuir para o bem da biosfera.
Fica resolvido o
problema da galinha e do ovo. A galinha surgiu primeiro.
A razão da existência,
dos átomos para cima, é entendida como a expressa vontade do Criador. O
entendimento da criação pelos adventistas enfatiza que o Criador não dependeu de
matéria pré-existente, que a matéria não é infinitamente antiga, ela foi
criada.
Uma das características
de uma entidade projetada é que o seu todo é maior do que a soma de suas
partes. Projeto e organização possibilitam aos componentes de sistemas complexos
cooperarem para a expressão de novas funções. Níveis de realidade podem ser
dispostos de maneira a mostrar o aparecimento de novas funções em cada nível
sucessivo. (Ver Figura 1.)
Predação, plantas
tóxicas, vírus, sofrimento e morte de organismos não vegetais não se ajustam a
um esquema concebido por um sábio Criador onisciente. O paradigma criacionista
atribui isso à obra de um poder maligno na natureza. Esse conceito é de maior
valia ao considerarmos a imensa sofisticação existente na operação da matéria
viva, tudo parecendo conduzir a nada - isto é, à subsequente morte do
organismo.
5.
Podemos fazer predições cientificamente testáveis utilizando o paradigma
criacionista?
O criacionismo tem sido
criticado por não levar a predições testáveis. Paradigmas incorretos, porém,
podem levar a sugestões testáveis, mas isso não as torna necessariamente boas
hipóteses. Simplesmente as torna hipóteses testáveis.
Quando a predição de um
paradigma é testada e o resultado é diferente do predito, às vezes o paradigma
é alterado, mas frequentemente os resultados do teste são reinterpretados, de
maneira a permitir a continuação da validade do paradigma. Quando a Missão
Viking ao planeta Marte não encontrou evidências de vida no solo da superfície
de Marte, embora tivesse sido predita a existência de vida microbiana pelo
paradigma químico evolutivo, foi feito o reajuste postulando a existência de
organismos vivos no subsolo.
O paradigma
criacionista sugere que, em vez de ter criado apenas algumas poucas espécies, o
Criador tenha gerado uma rica variedade de organismos vivos, por isso não seria
surpreendente descobrir planetas povoados somente por microorganismos.
Outras predições que
resultam da posição criacionista são:
A biosfera está completa. Não se espera que
surja alguma nova ordem de organismos. (O paradigma criacionista, entretanto,
admite novas espécies surgindo dentro da mesma ordem.) Todos os organismos
atuais têm ancestrais reconhecíveis.
Nenhum organismo vivo
surgirá abioticamente. O registro fóssil sugere uma rica variedade de
organismos coexistindo desde o princípio.
6.
Consequências teológicas do criacionismo
A ciência não pode
dissociar-se da religião. Os teólogos não devem deixar o âmbito da realidade
física inteiramente a cargo dos cientistas. Os teólogos podem não ser capazes
de contribuir para a compreensão de como as realidades físicas atuam na
natureza, mas eles têm a séria responsabilidade de assessorar os cientistas com
relação ao significado mais claro da informação sobrenatural, que tem a ver com
a ciência.
Para ilustrar isso,
podemos imaginar um cientista proveniente de alguma outra parte do Universo,
que tenha vindo visitar a Terra uma semana após sua criação. Não tendo tido
notícia sobre o recente evento da criação, e observando animais maduros e
árvores bem desenvolvidas no Jardim do Éden, esse cientista muito bem poderia
concluir que a Terra tivesse existido já por algum tempo. O conflito relativo à
idade da Terra resulta do fato de que as técnicas de datação desprezam
totalmente a possibilidade de uma Terra madura ter aparecido de súbito.
A humanidade é
responsável perante o Criador pela maneira como utiliza os recursos naturais.
A sabedoria e o
requinte do Criador estão documentados em incontáveis exemplos na natureza. É
preciso enfatizar que Ele é não somente o Projetista do mundo, onde objetos e
organismos integram-se em um conjunto coerente, como também foi Ele que trouxe
tudo à existência, tendo também sustentado tudo no decorrer dos milênios. Compare
isso com os famosos experimentos da biosfera, que mostraram quão difícil é
estabelecer o equilíbrio de sistemas ecológicos.
Embora não tenhamos
completa compreensão de como nosso mundo se ajusta ao restante do Universo, nem
de que tipo de contribuição poderemos fazer a ele, não pode haver dúvida de que
a existência de nosso mundo tem um propósito.
A visão adventista de
mundo baseia-se no profundo tema do grande conflito entre Cristo e Satanás. A
Bíblia afirma que nos últimos dias Satanás trabalhará poderosamente para
enganar o mundo. Um dos pilares deste engano pode ser a teoria da evolução.
Conclusão
O criacionismo é um
paradigma robusto, plenamente capaz de sustentar o empreendimento científico no
novo milênio. A aceitação mais ampla do Criacionismo pela comunidade científica
no futuro dependerá em parte de quão bem poderão os teólogos convencer os cientistas
do inapreciável valor da informação revelada. Além disso, essa abordagem
ganhará maior credibilidade à medida que mais cientistas efetuarem pesquisas
com base na perspectiva criacionista.
George
T. Javor (Ph.D., pela Columbia University) leciona e faz
pesquisas no Departamento de Bioquímica da Escola de Medicina da Universidade
Loma Linda, Loma Linda, Califórnia, EUA.
Notas e referências
1. T.
Dobzhansky, The American Biology Teacher 35 (1973): 125.
2. B. Hanson,
G. Chin, A. Sugden, e E. Culotta, Science 284 (1999): 2105.
3. S. J. Gould, Science 284 (1999): 2087.
4. N. R.
Pearcey e C. B. Thaxton, The Soul of Science. Christian Faith and Natural
Philosophy (Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1994).
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