Sean
D. Pitman
Deus é real? A Bíblia é
verdadeira? O que dizer das impressionantes histórias narradas na Bíblia?
Especificamente, o que dizer das histórias do Gênesis? Criou Deus realmente o
mundo e tudo o que nele há em uma semana literal? Essa criação teria ocorrido há
uns 10.000 anos? Como podem ser verdadeiros todos esses relatos bíblicos, se
tantos renomados cientistas advogam o contrário?
Descobrindo
o problema
Podem me chamar de
curioso ou tão-somente importuno, porém incomodei-me com perguntas como essas
desde bem criança. Meus pais fizeram o melhor possível para responder às minhas
perguntas. Durante muito tempo pareceu-me que eles fizeram um bom trabalho.
Porém, logo cheguei a um ponto em que eles não mais podiam apresentar respostas
satisfatórias às minhas questões. Entretanto, eu agradeço a eles. Ninguém mais
poderia fazê-lo também.
Lembro-me de que na 5ª
ou 6ª série, pensando comigo mesmo se pequenas mudanças podiam ocorrer no
decorrer do tempo, como na lenta hibridização de uma roseira que produzia rosas
vermelhas até passar a produzir rosas purpúreas ou até negras, por que a
evolução não poderia ser verdadeira? Perguntei a meu pai a respeito disso, e
ele me assegurou que, embora pudesse ocorrer uma “microevolução” como a mudança
de cor de uma rosa ou a aparência de um cachorro, não poderia acontecer a
macroevolução como a transformação de um cachorro em gato ou de um porco em
vaca. Perguntei-lhe, então, por que isso não poderia ocorrer, se fosse dado
tempo suficiente? Ninguém, nem mesmo meu pai parecia ser capaz de me explicar
isso.
Fiz as mesmas perguntas
no curso fundamental, no curso médio, na faculdade e até na Escola de Medicina,
e repetidamente recebi a mesma resposta básica. Finalmente, após terminar o
curso de medicina, decidi um dia que iria pesquisar por mim mesmo para ver se o
que eu estava lendo na Bíblia realmente fazia sentido à luz da aparentemente
razoável teoria da evolução.
Mudando
sem mudanças
Após alguns anos de
pesquisa séria, ficou-me claro que as coisas podem mudar sem realmente mudar.
Há algum tempo eu sabia desse interessante fenômeno, porém nunca dantes o havia
conectado com as noções de evolução “micro” e “macro”. A propósito, um famoso
monge, Gregor Mendel (1822-1884), contemporâneo de Darwin (1809-1882),
descobriu algo bastante impressionante ao estudar as ervilhas.1 Infelizmente,
entretanto, as descobertas de Mendel permaneceram totalmente desconhecidas até
bem depois de a teoria da evolução de Darwin haver-se tornado popular.
Estou certo de que
mesmo Darwin teria se surpreendido bastante ao saber que muitos de seus mais
famosos exemplos da evolução nada mais eram do que variações mendelianas. Mas,
o que dizer sobre todos aqueles diferentes bicos de tentilhões sobre os quais
escreveu Darwin? Bem, na realidade eles não eram o resultado de algo “novo”. Em
outras palavras, os bicos mudavam de forma sem nenhuma informação genética nova
ser introduzida no “pool” gênico. O conjunto de opções permanecia exatamente o
mesmo. Todas as opções para as diferentes formas de bico já existiam de antemão
ou, por assim dizer, eram pré-programadas. O mesmo vale para muitas das maiores
diferenças significativas entre diferentes raças de cães, galinhas, vacas,
peixes, etc. Todo ser vivo que se reproduz sexualmente tem a capacidade de
mudar aspectos individuais do “pool” gênico de sua “espécie”, sem alterações no
próprio “pool”.
Assim, agora que eu
sabia que poderiam ocorrer alterações sem haver mudanças, comecei a pensar o
que deveria acontecer para que o “pool” gênico subjacente mudasse.
Mudanças
verdadeiramente novas
O “pool” gênico
basicamente é um livro de instruções com muitos códigos distintos para
diferentes tipos de sistemas funcionais, usados na construção do ser vivo. Se a
soletração de “palavras” num código for alterada, a função desse código ou
“palavra” pode também ser modificada ou até destruída. Essas mudanças
funcionais são o que se poderia chamar de “evolução real”. Acontecem em todo
tempo. Realmente elas existem. A evolução é um fato. Porém, não é exatamente o
fato que a maioria dos cientistas atualmente pensa que ela seja.
Considere a seguinte
sequência de palavras: amo/ano/ato/aro/ajo/avo/ovo/oro. É uma sequência
evolutiva que, partindo de amo e mudando só uma letra de cada vez chega-se a
oro através de passos possíveis e com significado. Fácil, não?! Mas por que é
tão fácil fazer isso?
Bem, cada sistema linguístico
existente no mundo tem maior concentração de sequências definidas ou com
significado, à medida que diminui o número de letras (o mesmo acontecendo
quando se comparam palavras, frases, sentenças, parágrafos, etc). Por exemplo, na
língua inglesa existem cerca de 676 sequências possíveis com duas letras.
Dessas, cerca de 100 são definidas como significativas, o que resulta numa
proporção de cerca de uma sequência significativa para cada sete não
significativas. Ora, existem quase dez vezes mais palavras e frases
significativas com três letras – cerca de 980 – porém 26 vezes mais palavras
possíveis (17.576), resultando a proporção de uma sequência significativa para
cerca de 18 não significativas. Essa proporção é de um em 250.000, para o caso
de palavras e frases com sete letras.
O modelo torna-se óbvio
e é essencialmente o mesmo para todas as línguas. Com o aumento de comprimento
da sequência mínima de qualquer mensagem codificada, em qualquer sistema linguístico
(incluindo códigos de computação e línguas), o isolamento daquela mensagem com
relação a outras potencialmente significativas aumenta exponencialmente.
Então, o que acontece
quando forças evolutivas irracionais tentam atingir um nível superior de
complexidade de informação? O que acontece quando um código sequencial salta de
sua ilha de significação e mergulha no oceano das sequências sem significado?
Cego
conduzindo cego
O problema é que a
seleção natural é tida como força impelente para a mudança evolutiva. De fato,
a seleção natural, como força real, somente pode ver mudanças de soletração
genética que resultam em modificações significativas no código de sequências. A
natureza não pode ver modificações de soletração (ou mutações genéticas) reais.
Ela pode somente reconhecer as diferenças de função que podem ou não resultar.
Por exemplo, qual a
diferença entre as sequências “quiziligook” e “quiziliguk”? Essas duas sequências
não apresentam qualquer significado, certo? Portanto, a mudança de uma delas na
outra não seria detectável por um sistema seletivo como o da seleção natural.
Entretanto, o que dizer sobre a diferença de significados entre as sequências
“vacaria” e “vocaria”? Elas têm somente uma letra diferente, mas significados
bastante distintos. Um sistema de seleção baseado em função seria capaz de
facilmente distinguir entre essas duas sequências, certo? Então, o que dizer
sobre “vacaria” e “vucaria”? Essa também seria uma mudança de significado
detectável, pois o sentido de “vacaria” seria perdido se a sequência fosse
mudada para “vucaria”, e essa perda de significado poderia ser considerada como
benéfica ou deletéria.
Observe-se, entretanto,
que a destruição de algo é sempre mais fácil do que a criação de alguma coisa
nova, pois há muitas maneiras de destruir em comparação com as relativamente
poucas maneiras de criar. Por exemplo, há muitas maneiras de desarrumar a
função da palavra “vacaria”, mas relativamente poucas para descobrir uma nova
seqüência significativa de comprimento equivalente. Logicamente, então, seria
muito fácil para um “pool” gênico livrar-se de uma função pré-estabelecida, mas
relativamente difícil para ganhar um novo tipo de função.
Exemplos
de evolução em ação na vida real
Bem, tudo isso é muito
bom no papel, mas e na vida real? Pelo que examinei com algum detalhe até aqui,
parece que a evolução opera da mesma maneira que descrevi com relação ao
desenvolvimento das sequências na linguagem. Ela é capaz de originar
“micromudanças”, mas não “macromudanças”, por aquilo que costumo chamar de “problemas
do hiato neutro”. Em níveis bastante baixos de complexidade de informação, a
evolução opera muito bem. Entretanto, ao se subir a escada da complexidade de
informação, a evolução começa a perder sua força de maneira exponencial até
que, para funções que exigem o mínimo de algumas centenas de caracteres muito
bem especificados, ela não consegue operar nem mesmo ao longo de trilhões de
trilhões de anos. Nesse nível de complexidade, ela somente vagueia cegamente e
sem propósito.
Considere-se, por exemplo,
o famoso caso da resistência bacteriana a antibióticos como exemplo de evolução
em ação. Mutações funcionais no “pool” gênico subjacente realmente são
responsáveis pela resistência das bactérias aos efeitos desse ou daquele
antibiótico. Em meu livro, esse é um exemplo real de evolução.
Certamente, outras
formas de resistência a antibióticos ocorrem nos níveis mais baixos de
complexidade funcional. De fato, a maioria das formas de resistência a
antibióticos resulta da ruptura de uma interação pré-estabelecida do
antibiótico com um alvo específico no interior da bactéria. Basta que mudem um
ou dois caracteres na sequência dos alvos, para que o antibiótico não mais se
projete ao alvo. E eis que a função da resistência a antibióticos evoluiu
exatamente dessa maneira. Isso é rápido e fácil na vida real, porque existem
muitas maneiras de romper a interação entre o antibiótico e o alvo. Essa é a
razão pela qual a evolução da resistência a antibióticos é um problema tão
grande hoje nos hospitais. Ela acontece rápida e de modo fácil com praticamente
todas as populações microbianas em presença de quase qualquer antibiótico.2
Porém, o que acontece
quando subimos um degrau na escala de complexidade? O que acontece quando
tentamos evoluir uma sequência nova que não esteja baseada na destruição de uma
função ou interação pré-estabelecida?
De maneira
interessante, existem na vida real muitos exemplos desse tipo de evolução.
Alguns desses exemplos envolvem a evolução de novas sequências de proteínas com
funções protéicas verdadeiramente novas. Essas proteínas são compostas de
filamentos de “resíduos de aminoácidos” bastante parecidos com sequências de
letras nos sistemas de linguagem humana. Diferentes sequências e formas
traduzem diferentes funções, como em qualquer sistema linguístico. Mas,
exatamente como em qualquer sistema linguístico, nem toda sequência ou forma
potencial tem significado, e muito menos função benéfica. Entretanto, para
funções que exijam somente sequências curtas de proteína, a densidade das sequências
potencialmente benéficas é suficientemente alta no espaço de sequências
(conforme discutido anteriormente para palavras de três letras), para que a
evolução possa acontecer (e realmente acontece) nesse nível de complexidade
funcional, em ordem relativamente curta num ambiente apropriado.
Um exemplo
impressionante de evolução protéica pode ser visto na obra de Barry Hall sobre
as bactérias E.colli. O que Hall fez foi deletar os códigos genéticos, ou genes
que produzem a enzima lactase na E.colli. Essa enzima desdobra o açúcar lactose
em glucose e galactose, os quais então são usados para provimento de energia à
bactéria. Hall assim procedeu para ver se essas bactérias mutantes fariam
evoluir um novo gene para produzir uma nova enzima lactase, visando substituir
a que foi perdida quando em ambiente rico em lactose. As bactérias
desenvolveram rapidamente uma enzima inteiramente nova, que não continha
anteriormente a função lactose. De alguma forma, isso só aconteceu como uma
mutação pontual a partir de um código de lactose funcional, no espaço de sequências.3
Surpreendente! De fato
é aí que termina a maioria das descrições do experimento de Hall como, por
exemplo, a que está no livro de Kenneth Miller, Finding Darwin's God. (4)
Entretanto, ainda é mais interessante o que aconteceu em seguida. Hall deletou
o gene recém-evoluído para ver ser algum outro gene evoluiria...e nada
aconteceu! A despeito de dezenas de milhares de gerações de observações, essas
bactérias mutantes-duplas jamais evoluíram numa sequência com a função lactose
benéfica. Frustrado, Hall descreveu essas bactérias mutantes-duplas como tendo
“potencial evolutivo limitado”. Porém, o que exatamente “limitou” o “potencial
evolutivo” das bactérias de Hall?
Como se sabe, o
comprimento mínimo da sequência necessária para a enzima lactase mais básica, é
cerca de 400 resíduos de aminoácidos. Com 20 diferentes opções de resíduos, o
número total de sequências potenciais se eleva a 20400. Certamente podem
existir muitas sequências utilizáveis de lactase dentro desse enorme espaço de
sequências, mas sem dúvida a grande maioria dessas sequências não é de lactases
utilizáveis, senão as bactérias mutantes de Hall teriam encontrado muitas delas
rapidamente, mediante um simples percurso no acaso cego. O fato de as bactérias
mutantes-duplas de Hall não terem prosperado constitui evidência muito clara de
que é extremamente baixa a proporção de lactase em comparação com não-lactases,
no espaço de sequência mínima dentro desse nível de complexidade funcional. A
natureza simplesmente não poderia escolher entre todas as sequências inúteis de
forma suficientemente rápida, para achar outra sequência de lactase mesmo ao
longo de dezenas de milhares de gerações no decorrer do tempo.
Os
limites externos do potencial evolutivo
Além desse nível de
complexidade, nada evolui. Simplesmente não existe na vida real nenhum exemplo
evolutivo de qualquer nova função, que exija mais de cerca de um milhar de
“partes” de aminoácidos operando juntas numa ordem bem especifica. Por outro
lado, existem muitos sistemas de função, mesmo em formas de vida supostamente
“simples” (como bactérias), que nunca operarão sem uma grande quantidade de
informação genética e com um mínimo altamente especificado. Tome-se, por
exemplo, a motilidade bacteriana. O sistema flagelário da motilidade exige pelo
menos 10.000 resíduos de aminoácidos muito bem especificados, operando numa
ordem bem peculiar, sem o que a função da motilidade flagelária simplesmente
jamais funcionará. A evolução de uma função com tal nível elevado, jamais foi
demonstrada em laboratório ou outro local qualquer.
A
assinatura de Deus
Assim, a microevolução
acontece, mas a macroevolução não. A razão para isso parece muito simples –
hiatos neutros expandindo-se exponencialmente. Bastante simples, realmente. Até
mesmo “elementar”, como diria Sherlock Holmes. Entretanto, que grande diferença
esse entendimento fez para a minha fé a respeito de Deus como Criador, cuja
assinatura óbvia e contínuo interesse e cuidado acham-se inscritos ao redor de
todo o mundo e dentro de cada um de nós. Em realidade, encontrei muitas outras
evidências abrangentes para crer em Deus e em Sua palavra, a Bíblia, porém a
descoberta da questão do hiato neutro certamente foi uma das principais.
Sean
Pitman (M.D. pela Loma Linda School of Medicine) é
patologista e participante do programa de hematologia no City of Hope National
Medical Center. Para maiores informações e referências sobre a questão do hiato
neutro e muitos outros tópicos relativos às teorias da evolução e do
planejamento inteligente, acessar o site: www.DetectingDesign.com. O seu e-mail
é Seanpit@gmail.com
Referências
1. Gregor Mendel, Experiments in Plant Hybridization.
1865.
2. Sean Pitman, “Antibiotic Resistance,” (
http://www.detectingdesign.com/antibioticresistance.html) December, 2004.
3. Barry G. Hall, “Evolution on a petri dish: The
evolved b-galactosidase system as a model for studying acquisitive evolution in
the laboratory,” Evolutionary Biology 15 (1982):85-150.
4. Kenneth Miller, Finding Darwin's God (New York:
Harper Collins, 1999).
5. BLAST Search: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST
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