Teologia

segunda-feira, 23 de março de 2015

SÁBADO - UM DIA PARA LEMBRAR



Ricardo André

No fim da semana da criação, quando o mundo e seu reino animal, bem como seus dois habitantes humanos tinham saído com absoluta perfeição da mão do Criador, Deus estabeleceu o sábado (Gn 2:1-3). A observância do sábado não era desconhecida antes da entrega da lei no Sinai, como supõem muitos cristãos. Êxodo 16:4, 5 e 13-31 descreve a guarda de um sábado no deserto, antes da experiência do Sinai. O dia da semana foi assinalado especificamente, e a maneira como deveria ser guardado foi definida claramente. “Por meio do milagre do maná, lhes ensinou em termos concretos quão importante era à Sua vista o descanso no sétimo dia” (Nisto Cremos, p. 333). “Adão e Eva, em sua criação, tinham o conhecimento da lei de Deus. Ela fora impressa em seus corações, e compreendiam o que ela exigia deles” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 1, p. 1216). Portanto o sábado já era conhecido, guardado e muito apreciado no Éden. O casamento e o sábado são instituições que existem desde a Criação.

O quarto mandamento da lei declara: "Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Êxodo 20:8-11, NVI).

De acordo com o mandamento, o sábado é um monumento no tempo e eterno da obra de Deus como Criador e Salvador da humanidade. Como símbolo mais importante de nossas origens, o sábado ajuda a dizer quem somos, por que estamos aqui, e aonde estamos indo. O senhor quer lembrar-nos, cada semana, que estamos aqui não por acaso, mas porque Ele nos criou. Assim o sábado, a cada semana, nos lembra de quem somos realmente. Um dia para ser focado em quem você realmente é, alguém feito à imagem de Deus, para ser Sua alma gêmea.

O sábado é esse lembrete semanal. Se o guardarmos da maneira como Ele quer, nunca estaremos em perigo de esquecermos nossas raízes. Tão importante é essa mensagem que somos solicitados a dedicar um sétimo de nossa vida a lembrar-nos disso. A discussão sobre o sábado não trata de um dia; trata de sermos lembrados – cada semana! – da verdade mais fundamental e mais básica de nossa existência – somos seres criados por Deus com um propósito.

O sábado não é uma instituição privativa dos judeus. Considerando que o sábado é um memorial da criação, e visto que todos os seres humanos, qualquer que seja sua nacionalidade, existem como resultado dessa Criação, por que o Senhor iria limitar esse memorial para um só povo? Se fosse possível achar um grupo cuja origem não viesse do Éden, talvez esses não precisassem guardar o sábado. Mas, como não existe um grupo assim, é lógico que o sábado é para todos aqueles que Deus criou. O filósofo judeu Martin Buber escreveu que, tendo “suas raízes na origem do próprio mundo”, o sábado “é propiedade comum de todos, e todos devem desfrutá-lo sem restrições”.

Isaías 56:1-7 nos mostra que um relacionamento de salvação com o Senhor não estava limitado só aos judeus. A salvação é aberta a todos os que “se chegam ao Senhor”. Isaías mostra que a justiça, a salvação e a vida eterna também eram destinadas aos gentios. E, se a salvação é para todos,  o sábado também é para todos.

Sábado é prazer

Na sexta-feira da semana da Criação, Deus fez Adão. Ele despertou, olhou ao seu redor e percebeu que estava sozinho. Então Deus criou Eva e lhes deu o dom que chamamos de sexualidade, que envolve mais do que o ato físico, sobretudo, o apoio mútuo e o amor entre o casal.

Mas eis aqui o problema: todo mundo gosta de sexo. Mas Deus deu-lhes mais um presente naquela sexta-feira à tarde. O sábado! Por que todo mundo fala sobre um dos presentes e não do outro? O sexo foi designado para o prazer e para a família, assim como o sábado! Isaías 58:13 chama o sábado de deleitoso! As pessoas me perguntam: “Temos ainda de guardar o sábado? O sábado ainda é obrigatório para os cristãos?” Que tipo de perguntas são essas? Ninguém pergunta aos pastores: “Ainda podemos ter sexo? O sexo é obrigatório?” O sábado é considerado como uma incrível dádiva, a melhor que Deus poderia conceder para nosso benefício e prazer.

Jesus disse à mulher samaritana: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede” (João 4:13, 14). Aquela mulher havia tido cinco maridos e não estava satisfeita; continuava à procura da felicidade. E Jesus lhe disse que deveria encontrar satisfação somente tendo relacionamento com Ele. Eis por que guardamos o sábado. Deus deu o sábado a Adão e Eva como um dia em que pudesse manter mais íntima comunhão com Ele. Esse nível mais elevado de companheirismo era o supremo objetivo da criação da humanidade. Não fomos criados para ter meramente amizade somente com animais e seres humanos, mas para manter comunhão com Deus, o Pai Eterno de todos nós.

Sim, Ele o tornou um mandamento. Mas também era um presente – um dia para desfrutar e ser lembrado pelas gerações futuras. “O sábado foi feito por causa do homem” (Marcos 2:27). Ele já era um dom centenas de anos antes de se tornar mandamento.

Um dia para estar com Cristo

Apocalipse 3:20 diz que Cristo está batendo à porta, esperando que a abramos e permitamos que Ele entre. O sábado é, afinal, uma abertura para o nosso relacionamento com Deus. Se você estiver entediado com o sábado, isso é um claro sinal de que está enfadado de Deus. Se o sábado não for um prazer, provavelmente é porque o deleite não faz parte de sua concepção de Deus. “Tenho-vos chamado amigos”, disse Jesus (João 15:15). A essência da amizade é o prazer.

É claro que o sábado tem seu prazer intrínseco, mesmo sem Cristo. Não trabalhar é muito bom! Sair com a família e os amigos é agradável. Os jantares de sábado podem ser muito aprazíveis! Mas o propósito do sábado é a amizade com Cristo!

O sábado é apenas uma parte do ser cristão, um seguidor de Cristo – para viver como Ele, amar como Ele e servir como Ele. Isso é o que deveríamos fazer todos os dias e muito mais no sábado. É o dia de Cristo. É um “templo no tempo,” como Abraham Joshua Heschel notou. Jesus o fez. É um dia para estar com Ele e torná-Lo conhecido. Ele guardou o sábado e assim também devemos fazer (Lc 4:16, 31).

Um gosto de Céu

Há mais de 30 anos que guardo o sábado porque ele me traz um gostinho do Céu. O sábado é o memorial da Criação: “Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êxodo 20:11). O Céu oferecerá tudo do modo como era na Criação. O sábado aponta para o futuro, tanto quanto ou mais que para o passado.

Desfrutar aqui a alegria do sábado de Cristo é, na realidade, um antegozo se sua celebração com Ele no povir. No Céu estaremos com Deus o tempo todo. Não trabalharemos aos sábados e estaremos livres para estar com Deus em tempo integral. Ali adoraremos a Deus. Por isso vamos à igreja aos sábados para adorar a Deus. Caminhamos pela natureza, descansamos, comemos com nossa família e amigos, porque essas são as coisas que faremos no Céu. Ali o tempo passará lentamente porque nós o teremos em abundância. E assim, no sábado, reduzimos a velocidade de tudo, em protesto contra a loucura de nossa vida diária. “O sábado rompe com a frenética rotina da vida, permitindo que o ser humano disponha de tempo para a comunhão com Deus, o convívio com a família e os amigos, bem como para ajudar os necessitados” (Alberto R. Timm, O Sábado na Bíblia – Por que Deus faz questão de um dia, p.108).

Isso significa que se você de fato quer ter uma regra definitiva para o que pode fazer no sábado, aqui está: se é certo fazê-lo no Céu, também é próprio fazê-lo no sábado. Daí se conclui que o sábado tem gosto de Céu.

Mas isso realmente importa?

Qual o dia que realmente importa? Vamos ver se esta ilustração ajuda:

Bandeira – você pode pegar alguns retalhos e limpar seus móveis ou esfregar o carro com eles. Mas no momento em que você os costura para fazer a bandeira de seu país, algo acontece. Agora você não pode polir seus sapatos com eles. Eles se tornaram “sagrados”. Pessoas morreram por essa bandeira.

Assim diz Deus: “Trabalhe nos outros seis dias, mas o sétimo dia é o dia de descanso do Senhor seu Deus.” (Êxodo 20:11–BV). Deus o tornou um dia santo, sagrado. Isso representa alguma coisa, semelhantemente ao que a bandeira significa. Ela faz uma declaração de quem você é e de suas lealdades supremas.


Você está pronto para tomar uma posição?

Em Daniel, capítulo 6, lemos que o rei fez uma lei obrigando todos a dirigirem orações somente a ele. Muitas pessoas foram correndo para ver se Daniel mudaria seu modo de adoração. Cremos que algum dia alguém fará outra lei e todos observarão se você ou eu mudaremos nosso dia de adoração.

Mesmo Deus estava no céu observando o que Daniel faria: iria ele orar dentro do armário ou abriria as janelas e oraria do mesmo modo que sempre fizera? Deus observou como Daniel subiu os degraus, e foi até o topo, passou pelo armário e abriu as janelas. E Deus disse: “Sim!” Daniel recusou-se a mudar seu modo de adoração. Algum dia Deus estará observando para ver se iremos recusar mudar nosso dia de adoração.

Caro amigo leitor, você está disposto a ser como Daniel e decidir que Deus é digno de irmos diretamente para a janela, e escancará-la adorando-O no sábado legítimo, sem qualquer vergonha, orgulhosos de tomar uma posição ao lado de Deus?






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