Teologia

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

ESPERANÇA DA SEGUNDA VINDA: A PRESENÇA DO FUTURO


 Ricardo André

“E eu vi um novo céu, e uma nova terra; porque o primeiro céu e a primeira terra haviam passado, e não havia mais mar. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, descendo do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. E eu ouvi uma grande voz do céu, dizendo: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, e ele habitará com eles, e eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus enxugará todas as lágrimas de seus olhos; e não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem haverá mais dor; porque as coisas antigas são passadas. E aquele que está assentado sobre o trono disse: Eis que eu faço novas todas as coisas. E ele disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis” (Ap 21:1-5, BKJ Fiel 1611).

Esse texto representa uma das mais emocionantes passagens do Apocalipse. Na ilha de Patmos, João, o amado, então idoso, teve esta extraordinária visão. A visão é sobre um mundo renovado e recriado cheio de gozo, nossa gloriosa herança! A visão é tão vasta que sobrecarrega a nossa imaginação; surpreende, cativa e nos emociona. Assim, esta visão de um reino futuro e renovado é capaz de transformar as nossas vidas agora na nossa existência presente. Toda esperança sorri diante dessa certeza: Jesus voltará em breve, para nos colocar no Éden restaurado! Essa não é uma utopia. É uma certeza que arde em meu peito e de todos os filhos de Deus. Quando revelou isso a João, Jesus afirmou categoricamente: “Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança” (Ap 21:5, NVI). Ele assegura que suas promessas se cumprirão. O apóstolo João celebra as maravilhas da volta de Jesus nos dois últimos capítulos da Bíblia Sagrada. Percebe-se nitidamente o esforço que ele faz para tentar colocar tudo isso em palavras.

Ellen G. White comenta que essa promessa é “uma das verdades mais solenes, e não obstante mais gloriosas, reveladas na Escritura Sagrada, é a da segunda vinda de Cristo, para completar a grande obra da redenção. Ao povo de Deus, por tanto tempo a peregrinar em sua jornada na “região e sombra da morte” (Mateus 4:16), é dada uma esperança preciosa e inspiradora de alegria, na promessa do aparecimento Daquele que é “a ressurreição e a vida” (João 11:25), a fim de levar de novo ao lar Seus filhos exilados” (O Grande Conflito [Tatuí, SP: CPB, 2006], p. 299).

Você já parou para pensar longa e seriamente sobre o Céu? Tentar imaginar o que será morar na Nova Terra é uma verdadeiro desafio à imaginação. Mas esse lugar é real. Ele existe. O próprio Senhor Jesus Cristo prometeu um lugar para cada crente fiel quando afirmou: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas mansões; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Eu vou preparar-vos um lugar. E quando eu for e vos preparar um lugar, eu voltarei novamente, e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, ali possais estar vós também” (Jo 14:1-3, BKJ Fiel 1611). Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “Imagine-se no lar dos remidos e lembre-se de que ele será mais glorioso do que a mais brilhante imaginação pode pintar. Nos variados dons de Deus que a natureza apresenta só conseguimos ter um pálido reflexo de sua glória” (Caminho a Cristo, p. 86, 87).

“A primeira coisa observada por João na nova Terra foi que não havia mar, o que é especialmente interessante. O fato de João ter se referido “[ao] mar” (com o artigo definido) mostra que ele provavelmente tivesse em mente o mar que o cercava em Patmos, que havia se tornado um símbolo de separação e sofrimento. Para João, a ausência desse mar na nova Terra significava a ausência da dor causada por sua separação daqueles a quem amava” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trim. de 2019, ed. de Professor, p. 166).

Todos nós conhecemos pessoas que nos fazem sentir melhores, pelo simples fato de estarem próximos a nós. O verso 3 afirma que “o próprio Deus estará com eles, e será o seu Deus”. É justamente a presença permanente do amado Deus na nova Terra que garantirá a libertação da dor e do sofrimento que experimentamos nesta vida. Não haverá mais lágrimas, morte, tristeza, choro nem dor, que são consequências do pecado. Com a erradicação do pecado, “as coisas antigas” terão passado (v. 4). “Na tua presença há plenitude de alegria; à tua mão direita há prazeres para sempre”, disse Davi no Salmo 16:11. Então haverá música, louvor e gratidão e nunca mais haverá lágrimas! Não haverá mais cemitério, hospitais nem prisões. Nunca mais haverá pandemias, roubos ou assassinatos. Não haverá cortejos, cerimônias fúnebres. Todos os salvos viverão eternamente felizes e livres de qualquer ameaça de morte.

Fui ancião durante 17 anos, em duas igrejas da cidade de Lagarto, em Sergipe. Oito anos na Igreja Lagarto I e nove na Igreja Central. Como ancião, ao longo desses anos, quando o pastor distrital não pôde estar presente, preguei mensagens de conforto e esperança em dezenas de funerais de irmãos e irmãs que foram ceifados pela morte, e foi nesses funerais que vi essa visão transformadora de João “chegar”, e inúmeras vezes observei pessoas com o coração partido pela dor se imaginarem reunidas com seus entes queridos em uma terra nova e refeita. De alguma forma, há um poder nesta visão que transforma a nossa dor atual. Mesmo que não elimine toda a dor do presente, torna possível enfrentar outro dia.

VISÃO DO FUTURO

No dia 28 de novembro de 2023, minha esposa, Ana Claudia, precisou submeter-se a uma cirurgia por conta de que sofreu uma perfuração intestinal, quando realizava um exame de colonoscopia. No dia 27 de dezembro teve que submeter-se a uma nova cirurgia por conta da formação de uma fístula intestinal pós-operatória. Dos 17 dias que ficou no Hospital de Cirurgia, em Aracaju, fiquei como acompanhante dela durante 14 dias. Foram dias muito difíceis, tristes, de incertezas e sofrimento. Passamos, inclusive, pela primeira vez o Natal num hospital. Foi o Natal mais triste da nossa vida.

Antes da segunda cirurgia, minha esposa ficou internada cinco dias na Emergência do IPES Saúde. Notei que ao lado do leito da minha esposa havia uma paciente idosa chamada Delza. Todos a chamavam de “Vó”. Ela era a paciente mais velha da enfermaria, 95 anos. Ela era acompanhada por seus filhos. A pesar de bem debilitada, dona Delza era engraçada, descontraída e tinha um maravilhoso senso de humor.

Uma dia, enquanto estava ao lado do leito da minha esposa, percebi que dona Delza havia dormido a maior parte do dia, o que me fez parar um pouco para observá-la. Então percebi o enorme contraste entre ela e eu. Lembro-me de ter pensado: um dia serei parecido com dona Delza, no sentido de que serei um idoso também; algum dia precisarei de uma pessoa jovem para me ajudar e cuidar de mim. Vez por outra eu me pego pensando na velhice. Ela me assusta.

Naquela dia, ao comtemplar “Vó”, vislumbrei o futuro, imaginando-me aos 95 anos. A minha “visão do futuro” fez-me de fato pensar de forma bastante diferente sobre o presente. Um olhar para o futuro transformou a forma como eu via o presente.

JOÃO VISLUMBRA O FUTURO

De uma forma muito mais dramática, João, o vidente de Patmos, teve o mesmo tipo de experiência. Ele não viu apenas o envelhecimento de um indivíduo, viu o envelhecimento e a restauração da Terra! Ele olhou para o futuro e o que viu transformou o seu presente.

O futuro tornou-se tão real, tão presente na sua própria experiência que mudou não só a forma como ele via o mundo, mas como ele reagiu a esse mundo. Transformou, também, a forma como ele partilhava a sua fé, a forma como apelava aos outros para verem o mundo.

Enquanto os contemporâneos de João olhavam para um mundo dominado pelo Império Romano, um mundo onde o poder vencia todas as discussões, a visão de João permitiu-lhe ver uma realidade diferente.

João poderia ter visto apenas um mundo em que aqueles que proclamaram Jesus eram uma seita pequena e aparentemente insignificante, aparentemente à beira da extinção. Essa foi a “realidade” que outros viram naquele primeiro século turbulento. Mas eles não tiveram a visão. Em vez disso, este homem banido do convívio social, preso na ilha de Patmos, velho e sozinho e prestes a morrer, viu um mundo onde aqueles que proclamam Jesus como o Cristo seriam vitoriosos.

Em vez de um mundo onde César era o senhor e Cristo parecia pouco ou nada, João viu um mundo onde o Deus santo está sentado no trono com "toda criatura que está nos céus, e na terra, e debaixo da terra" prestando-Lhe adoração efusivamente. (Ap 5:13, BKJ Fiel).

O SEGUNDO ADVENTO ESTÁ PRESENTE AGORA

Em Apocalipse 4, João nos diz que viu uma porta aberta no Céu! O Céu é uma das palavras mais doce e mais sublime das Sagradas Escrituras. É uma palavra que concretiza a esperança e a promessa dos filhos de Deus de todas as épocas. O Céu é também uma palavra mágica que desperta esperança no coração humano, que faz vibrar todas as cordas do peito humano. Ela satisfaz os mais sagrados anseios da alma humana e os mais altos propósitos de Deus para com o homem. Por quê? Porque representa o nosso lar, a volta do homem ao lar eterno.

Na mesma visão, João vê ainda quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prestando adoração do Deus santo e, na experiência da adoração, esse Deus está presente. Deus não está distante no tempo e no espaço, mas está presente na adoração. Aquele que é o Todo-poderoso, aquele que é o Deus de todos os tempos, “que era, que é e que há de vir” (v.8), o Deus de toda a criação (v. 11), está presente com João e com todos os crentes que o adoram hoje.

Este Deus caminha entre os castiçais e recebe as pessoas na sala do trono, no centro do universo. Esta música proclama a presença do futuro. Todos os que cantam os cânticos do Apocalipse proclamam a experiência de Deus no presente.

O primeiro cântico do livro do Apocalipse é cantado pelos quatro seres viventes dia e noite sem cessar: “Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, que é e que há de vir”.

Esta canção, assim como a própria experiência de adoração, nos chama a abraçar uma realidade diferente daquela que vemos. A palavra Apocalipse significa “descobrir” ou “algo revelado” (Dicionário Bíblico Adventista [Tatuí, SP: CPB, 2016], p. 80); implica uma revelação das coisas como elas realmente são, não como o mundo as retrata. A adoração sempre nos chama para ver o que é real e então agir de acordo.

Tal adoração tem esse poder de transformar o nosso presente. Aqueles que adoram a Deus, que vivem em Jesus antecipam um novo céu e uma nova terra. Logo, o Céu começa aqui e a glorificação, por ocasião da volta de Jesus, será o ápice do Céu, quando receberemos a tão almejada vida eterna (1 Co 15:50-55). Sobre isso, Ellen G. White, escreveu: “Quando por meio de Jesus, entramos no repouso, o Céu começa aqui. Atendemos-Lhe ao convite: Vinde, aprendei de Mim; e assim fazendo começamos a vida eterna. O Céu é um contínuo aproximar-se de Deus por intermédio de Cristo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 331). Portanto, o futuro entra no nosso presente agora, e vivemos agora como viveremos no futuro.

Como o futuro de Deus será uma terra “onde habita a justiça” (2 Pd 3:13), os adoradores agora buscam justiça. Porque o futuro de Deus trará paz à terra, os adoradores agem agora pela paz. Porque o futuro de Deus será uma terra com abundância para todos, os adoradores agem agora para acabar com a fome. Porque o futuro de Deus será uma existência sem lágrimas, os adoradores agem agora para confortar e curar. Como o futuro de Deus será vida sem morte, os adoradores agem agora para combater doenças e morte.

À medida que nós, mediante comunhão com Deus, antecipamos um novo céu e uma nova terra, o futuro entra no nosso presente, transformando-nos e chamando-nos a viver agora como queremos num novo céu e numa nova terra.

INCORPORANDO A ESPERANÇA DO ADVENTO

Enquanto elucubramos sobre o novo Céu e a nova Terra, precisamos nos lembrar da vida curta, mas produtiva de Annie Rebekah Smith (1828-1855), irmã de um importante líder pioneiro da igreja, Uriah Smith, a quem sua experiência ajudou a levar para o Senhor, no final do ano de 1852. Ela “foi uma talentosa escritora, editora e artista que dedicou suas habilidades ao trabalho inicial de publicação do que viria a ser a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ela contribuiu com numerosos artigos e poemas para os periódicos nascentes da igreja durante o início da década de 1850 e escreveu vários poemas que seriam usados ​​em hinos, alguns dos quais estão incluídos no atual hinário da denominação” (Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia).

José Bates estava realizando uma série de conferências próximo da casa de Annie. Sua mãe insistiu em que ela assistisse as reuniões, mas a filha não se interessou muito. Todavia, talvez para agradar a mãe, Annie concordou em ir. Na noite anterior à reunião, “a jovem teve um sonho segundo o qual entrava em uma sala onde um estranho estava pregando. Bates, por sua vez, sonhou que, enquanto estava pregando, uma jovem comparecia a sua reunião. Quando Annie foi a série evangelística dirigida por Bates, ambos reconheceram o cumprimento exato do que haviam sonhado. Depois de frequentar as palestras por três semanas, ela aceitou o sábado [...]” (Enciclopédia Ellen G. White [Tatuí, SP: CPB, 2018], p. 560). Em 1851, ela escreveu o poema “Não temas, pequeno povo” e, enviou-o para Tiago White. “Impressionado com o talento da moça, convidou-a para participar da equipe da Review, em Saratoga Springs, Nova York. A princípio, Annie recusou devido a um problema de vista; porém, acabou aceitando. Depois de ser ungida e de orarem por ela, sua visão melhorou” (Idem). Estava empolgada em participar da obra do Senhor, a fim de ajudar outros a aprender sobre o reino vindouro. Lá ela se apaixonou pelo belo e jovem pregador John N. Andrews, que parecia corresponder a seus sentimentos, mas não se casou com ela mas escolheu se casar com Angeline Stevens, deixando-a decepcionada e com o coração partido.

Annie trabalhou com Tiago White por três anos, quando “em novembro de 1854, ela voltou para casa com tuberculose, e alguns meses mais tarde, aos 27 anos, Annie Smith morreu” (Idem). Meses antes de sua morte, quando sua força diminuía gravemente, ela e a mãe passaram a conversar abertamente sobre sua morte.

Numa terça-feira de manhã, 24 de julho de 1855, Annie escreveu seu último poema:

Ó, não derrames uma lágrima no lugar onde eu dormir;

Aos vivos, não aos mortos o choro deves dirigir;

Por que lamentar pelos cansados que repousam docemente,

Livres na sepultura dos fardos e os ais da vida justamente?

Annie morreu em paz dois dias depois, em 26 de julho de 1855. Um dia antes de sua morte, escreveu o prefácio do poema “Lar Aqui e Lar no Céu”, agradecendo a Deus a obra que Ele lhe concedera aqui, mas com os olhos voltados para o Céu, à medida que seus dias “deixaram de fluir”. Apesar de toda a dor emocional e do sofrimento físico, esse último poema de Annie confirma que ela terminou seus dias em paz com Deus. Conforme bem expresso em alguns de seus escritos anteriores, a jovem aguardava o glorioso dia no qual Deus “enxugará dos olhos toda lágrima” de Seus filhos sofredores. Que bendita esperança nós temos!

A vida de Annie pode ter sido curta, mas sua influência abençoou a igreja, sobretudo por meio de seus hinos inseridos no primeiro Hinário Adventista. Ela encarnou aqueles que cantavam diante do trono de Deus visto pelo profeta João, bem como aqueles cuja esperança no futuro transforma o seu presente. Era como se ela estivesse dizendo: Agora vou cantar, porque um dia erguerei do pó e verei meu Salvador claramente. Adoro e canto agora, porque cantarei “Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, que é e que há de vir”.

Caro amigo leitor, deseja você viver para sempre no lar celestial com Jesus? “Foi-me revelada a glória do mundo eterno. Quero dizer-vos que vale a pena alcançar. Deve ser o objetivo de vossa vida habilitar-vos para o convívio dos remidos, dos santos anjos, de Jesus, o Redentor do mundo” (Ellen G. White, Maranata, o Senhor Vem [MM, 1977], p. 353). “E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E aquele que ouve diga: Vem. E que aquele que tem sede, venha; e aquele que quiser, que tome gratuitamente da água da vida” (Ap 22:17, BKJ Fiel 1611). Esse “aquele que quiser” incluiu a você e a mim! Sendo que Jesus nos ama o suficiente para preparar-nos um lar na Nova Terra, o mínimo que podemos fazer é amá-Lo o suficiente para aceitar um lugar ali. Parece inimaginável que alguém rejeite o oferecimento de um lugar no esplêndido mundo do amanhã de Jesus. Suponha que esse lugar existisse no mundo atual. Iríamos correndo até lá, não é? Corra, então, na direção do Céu – agora! Permita que o Senhor comece a instalar, desde já, o Céu no seu viver. É claro que a esperança do Advento se concentra no futuro, mas está aqui – agora!

 

 

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