Teologia

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

CARLOS FITCH: PASTOR MILERITA QUE PARTIU ANTES DA DECEPÇÃO DE 1844

Ricardo André

“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Tm 4:7,8, NVI).

Quando o apóstolo Paulo escreveu a segunda carta a Timóteo, seu querido filho na fé (1 Tm 1:2; 2 Tm 1:2), por volta de 66 d. C., estava em seu segundo e último aprisionamento em Roma, aguardando o julgamento e possível condenação (Dicionário Bíblico Adventista [Tatuí, SP: CPB, 2016], p. 1329, 1330). Depois de tão grande labuta, depois de perseguido, açoitado e encarcerado, para não ser julgado pelo injusto tribunal da Judeia, onde sua morte seria certa, mas prematura, apelou para o imperador César, sendo enviado para Roma a fim de ser julgado por Nero, o mais tirano dos imperadores romanos. Ele Encontrava-se sozinho com Lucas, seu amigo e médico pessoal. Todos os demais já haviam ido. Vários já haviam morrido. Outros estavam presos. Um, por nome Demas, já havia apostatado da fé. Paulo estava abandonado, em cadeias na prisão Marmetina. Ele sabia que a sua vida estava no fim.

Aquela terrível prisão fica perto do Coliseu, no centro de Roma. Era considerada a mais terrível das prisões de sua época: sem luz, sem ar, úmida e paredes que filtram no inverno. Qualquer pessoa que visita a prisão Marmetina nunca vai esquecer o que Paulo sofreu naquele lugar.

Depois de ter cumprido sua missão em Roma, o velho soldado de Cristo encontrava-se em sua reclusão final e dela só sairia para a morte. Ele sabia disso. Tanto é que ele afirmou: “Porque já estou pronto para ser oferecido, e o tempo da minha partida está próximo” (2 Tm 4:6, BKJ 1611).

Paulo já era idoso. Seus olhos estavam ofuscado pela velhice, mas ele via com os olhos da fé. Ele via “mais além do Sol”, como expressa um dos hinos favoritos de muitos adventistas. Seu corpo estava frágil, enfermo. Sua voz estava trêmula, fraca, mas ele foi capaz de dizer: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2 Tm 4:7,8, NVI).

Mesmo em circunstâncias adversas, preso e abandonado por muitos em sua condenação, o idoso e esgotado apóstolo “guardou a fé”, e não deixou de demonstrar ao mundo e a todos os cristãos a esperança que tinha em seu Salvador. Em outras palavras, ele disse: Eu amei o Mestre, amei a sua vinda e estou pronto para morrer, e se O amares e esperares com amor por Ele, receberás a coroa da vida” Quão abençoada tinha sido a experiência do grande apóstolo dos gentios! O amor era o eixo central de sua vida. Ele amava a vinda de Jesus.

Ao final de sua carreira, ele oferece sua vida, seu corpo como um sacrifício vivo ao Senhor. E reafirma categoricamente que Cristo virá para aqueles que O esperam com amor no coração. A NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje) diz: “a todos os que esperam, com amor, a sua vinda”. A versão da Bíblia Viva diz: “E não só a mim, mas a todos aqueles cujas vidas mostram que eles estão aguardando ansiosamente a sua vinda outra vez”.

AMANDO A SUA VINDA

O que significa amar a vinda de Jesus? Sempre pensei que esta expressão “a todos os que amam a Sua vinda” se referia àqueles cristãos que tinham sentimentos piedosos e amáveis a respeito da vinda do Senhor e, por conta disso seriam recompensados com uma coroa de justiça, porque os seus corações ardiam quando pensavam no advento. Contudo, indubitavelmente, a expressão significa mais do que isto.

A palavra “amam” empregada pelo apóstolo Paulo, no original grego é agapaõ. “A palavra sugere muito mais do que um mero impulso, exige que toda a vida, todos os estágios do pensamento e da ação sejam orientados em direção à pessoa amada. A jubilosa perspectiva do segundo advento controla a maneira dos cristãos usarem o tempo e o dinheiro, afeta a escolha de seus amigos e provê um poderoso incentivo para eliminar os defeitos de caráter e se tornarem mais semelhantes a Cristo” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 368). Portanto, amar a Sua vinda significa desejar ardentemente que ela aconteça logo, semelhante a um casal de noivos que se amam e estão prestes a se casarem. A vida de ambos em grande parte será determinada pelo pensamento de que o casamento está para acontecer. O tempo todo eles estarão fazendo preparativos.

Amar a vinda de Jesus significa viver à luz do Seu iminente retorno, comportar-se como se Ele viesse hoje. Amar a Sua vinda significa viver em pureza moral. Pois como João nos exorta: “E qualquer homem que tem nele esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro.” (1 Jo 3:3, BKJ 1611). É educar-se para a eternidade. Significa não enredar-se nas coisas desta vida. Devemos fixar o nosso amor e a nossa atenção nas coisas “lá do alto”, não nas da terra (Cl 3:2), como fazem aqueles que não amam a vinda de Jesus, que querem mais é “curtir a vida” de forma desregrada.

O amor pela vinda de Jesus deve ser também um amor que testemunha. Nossa espera não deve ser passiva, mas há um sentido muito real em que devemos “trabalhar” para que ele venha logo, cooperar com Deus para o dia da vinda de Jesus. O apóstolo Pedro escreveu: “Esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor” (2 Pd 3:12, NVI). Note que Pedro nos instrui não somente aguardar a vinda de Jesus, mas também apressar, ou seja, de alguma forma cooperar para que este dia chegue em breve. Como podemos apressar a vinda de Jesus? O melhor modo de cooperarmos, apressando o dia de Jesus é anuncia a Sua vinda. Neste sentido, aquele que ama a Jesus sai em busca de almas perdidas por quem Ele morreu. Ellen G. White escreveu: “Se vos conservais no amor de Deus, a alma será circundada por uma influência que será um aroma de vida para vida. Deveis velar pelas almas como quem deve prestar contas” (Este Dia com Deus [MM 1980], p. 363). Portanto, não basta ter pensamentos afáveis a respeito da vinda do Salvador. A coroa de justiça está reservada para aqueles que a amam o suficiente para permitir que essa verdade transforme radicalmente as suas vidas. Não é suficiente sustentar a verdade a respeito da Sua vinda; essa verdade precisa levar-nos a uma mudança de vida e a vencer nossos defeitos.

CARLOS FITCH AMAVA A VINDA DE JESUS

No movimento milerita do século XIX, nos EUA, que deu origem a Igreja Adventista do Sétimo Dia, encontramos um servo de Deus que, à semelhança de Paulo, demonstrou um imenso amor pela vinda de Jesus. O nome dele é Carlos Fitch (1804-1844), primeiro pastor da Igreja Congregacional de Boston “a aceitar o milerismo, em 1838, depois de ler por seis vezes o livro Evidence From Scripture (“Evidência a Partir das Escrituras”), de Guilherme Miller” (Enciclopédia Ellen G. White [Tatuí, SP: CPB, 2018], p. 412). Naquele período um grande grupo de cristãos de várias denominações, estimado entre 50 a 100 mil pessoas, e entre 700 a 2 mil pastores, creram nas pregações de Guilherme Miller e se uniram a ele na proclamação da breve volta de Jesus para 22 de outubro de 1844, dando forte impulso ao “movimento milerita” (C. Mervyn Maxwell. História do Adventismo, p. 19). Entre esses pastores que apoiaram Guilherme Miller, para que suas pregações sobre a volta de Jesus alcançassem as cidades grandes e tomassem âmbito nacional estava Carlos Fitch.

Em 22 de outubro de 1844, há 179 anos, aqueles que haviam aceitado essa mensagem aguardavam com ardente expectativa e com alegria a vinda de Jesus. Eles interpretaram de forma equivocada a profecia dos 2 300 dias de Daniel 8:14. O cálculo do período profético estava correto, mas o acontecimento estava errado, porque Cristo não voltaria a Terra nesse dia, mas entraria no Lugar Santíssimo do santuário celestial, como nosso Sumo Sacerdote, para iniciar o Juízo Investigativo ou o Juízo Pré-Advento, como parte do processo de expiação do Seu povo, tal qual fazia o sumo sacerdote no santuário terrestre, no dia da expiação, 10º dia do 7º mês do calendário judaico (Hb 8:1-5; Lv 16).

Como sabemos, foi uma grande decepção para os mileritas que aguardavam o fim da dor nessa data. Jesus não veio no dia que marcaram. Um dos fatos mais impactantes foi justamente o do pastor Carlos Fitch, de 30 anos. A vida dele é um exemplo de fé e esperança na volta de Jesus. Ele sentia grande alegria ao ver pessoas se entregando ao Senhor. No início de outubro de 1844, Fitch não teve medo de permanecer por um longo período na água para batizar. Realizou três cerimônias batismais. Como ele, milhares de pessoas estavam convencidas de que Jesus voltaria no fim daquele mês. Por isso, entendiam a necessidade do batismo a fim de estar prontas para ter o encontro com o Senhor. Fitch batizou todos que o procuraram naquele dia. O frio era intenso no nordeste dos EUA, e a água estava quase congelada. Fitch não teve medo de adoecer ou morrer, pois sua esperança era viva e, para ele, se materializaria em questão de semanas.

Porém, oito dias antes da data marcada para a volta de Jesus, o pastor faleceu na segunda-feira do dia 14 de outubro, acometido por uma pneumonia, contraída em decorrência da exposição ao frio naqueles batismo extenso. “O periódico milerita Midnight Cry relatou que “sua viúva e filhos órfãos estão agora em Cleveland, aguardando confiantemente a vinda de nosso Senhor para reunir os membros espalhados de Sua família em alguns poucos dias. ‘A irmã Fitch está...sorridente e feliz’.”  (C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo, p. 35 e 36).

Após o funeral de Carlos Fitch, seus dois filhos, em meio às lágrimas, pergunta a sua mãe: “Mamãe, nós veremos papai novamente?” “Sim, queridos”, respondeu corajosamente a Sra. Fitch. Em poucos dias, quando Jesus retornar, Ele despertará papai e seus irmãos adormecidos também, e então seremos uma família completa e feliz outra vez, para sempre!” (Idem)

Sua resposta revela que ela estava segura de que ele seria ressuscitado em uma semana. Mas o Senhor não veio. A Sra. Fitch fez parte do grupo de adventistas que viu a doce esperança da segunda vinda de Jesus, aguardada para o dia 22 de outubro de 1844, ser revertida em amargo desapontamento. Carlos Fitch continua descansando em seu leito poento. Quando o Senhor aparecer nas nuvens dos céus, erguerá do pó o pastor Carlos Fitch para dar-lhe a “coroa da justiça”.

Em sua primeira visão, Ellen G. White viu o pastor Fitch na Nova Terra, debaixo da árvore da Vida. Ela escreveu: “Todos nós fomos debaixo da árvore, e sentamo-nos para contemplar o encanto daquele lugar, quando os irmãos Fitch e Stockman, que tinham pregado o evangelho do reino, e a quem Deus depusera na sepultura para os salvar, se achegaram a nós e nos perguntaram o que acontecera enquanto eles haviam dormido. Tentamos lembrar nossas maiores provações, mas pareciam tão pequenas em comparação com o peso eterno de glória mui excelente que nos rodeava, que nada pudemos dizer-lhes, e todos exclamamos - "Aleluia! é muito fácil alcançar o Céu!" - e tocamos nossas gloriosas harpas e fizemos com que as arcadas do Céu reboassem. (Primeiros Escritos [Tatuí, SP: CPB, 1988], p. 17).

CONCLUSÃO

Após o desapontamento de 22 de outubro de 1844, um grupo de milerita sinceros, mesmo sem entender por que Jesus não havia voltado, perseveraram no estudo da Bíblia e na oração. Entenderam o erro de tentar datar o retorno do Senhor. Perceberam o equívoco de sua interpretação profética, mas não abandonaram sua crença na Segunda Vinda de Cristo, ou a convicção de que o seu movimento era de origem divina. Renovado interesse no estudo da Bíblia resultou em mais clara compreensão da profecia. “Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra”, escreveu Ellen G. White (Mensagens escolhidas, v. 2, p. 206). Foi desse espírito de oração e sincero exame das Sagradas Escrituras que surgiu a Igreja Adventista do Sétimo Dia. A breve volta de Jesus tornou-se uma grande certeza para Ela. Essa igreja foi estabelecida com a missão mundial de avisar ao mundo de que Cristo voltará (Ap 10:8-11; 14:6-12).

Fundaram-se instituições médicas e educacionais em muitas partes do Globo. Foram erigidas igrejas, escolas, hospitais e casas publicadoras para ajudar a levar o evangelho eterno a toda nação, tribo, língua e povo. Os Adventistas do Sétimo Dia consideram sua vocação um cumprimento da profecia bíblica. Eles devem desempenhar uma parte muito importante no soar da sétimo trombeta (Ap 11). Encaram com seriedade a ordem de Ap 10:11: “Importa que profetizes outra vez acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”.

A esperança da volta de Jesus é viva e logo se cumprirá. Vislumbrando aquele grande dia, Ellen White escreveu: “Dentro de pouco tempo Jesus virá para salvar Seus filhos e dar-lhes o toque final da imortalidade. Este corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade, e este corpo mortal se revestirá da imortalidade. As sepulturas se abrirão, e os mortos sairão vitoriosos, clamando: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?" I Cor. 15:55. Os nossos queridos, que dormem em Jesus, sairão revestidos da imortalidade. E, ao ascenderem os remidos aos Céus, abrir-se-ão os portais da cidade de Deus de par em par, e neles entrarão os que observaram a verdade. Ouvir-se-á uma voz mais bela que qualquer música que já soou aos ouvidos mortais, dizendo: "Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo." Mat. 25:34. Então os justos receberão sua recompensa. Sua vida correrá paralela à vida de Jeová. Lançarão suas coroas aos pés do Redentor, tangerão as harpas de ouro e encherão todo o Céu de bela música” (Conselhos Sobre Mordomia, p. 350).

Que dia será aquele, quando Jesus abrir todos os cemitérios do mundo! Erguerá os mortos e nos unirá pela eternidade como os nosso queridos. Jesus promete tanto aos ressuscitados quantos aos vivos: “(...) voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (João 14:3, NVI). Vidas solitárias e frustradas despertarão para a amizade com Jesus através dos tempos eternos.

Caro amigo leitor, em pouco tempo Jesus restaurará todas as coisas e dará vida eterna aos Seus escolhidos. Você está pronto?

 

 

 

 

 

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